quarta-feira, 7 de novembro de 2012

POETISAS (I) ADELINA MARIA ROCHA MESQUITA



Nasceu em Juazeiro do Norte, num dia 26 de junho. Filha de José Neri Rocha e Doralice de Figueiredo Rocha. De uma família de mais quatro irmãos (Carlos, Frederico, Júlia, e Célia). Cirurgiã Dentista graduada pela UFC. Funcionária da Assembléia Legislativa do Ceará.

O SORRISO DO PADRE CÍCERO
Adelina Mesquita

Terminada a cerimônia,
o sacerdote despe os paramentos.
Beija a estola, por hábito,
Antes de dobrá-la, com cuidado,
E tudo guarda no seu alforje.
Toma a montaria e, vagarosamente,
Dirige-se para a estreita vereda
Que conduz à estrada:
À estrada de Juazeiro.

Seus ombros curvam-se levemente,
A cabeça pende e os olhos.
Esses olham sem ver a vegetação baixa
Que margeia a vereda.

Bem que poderia, pensa o padre,
Esquecer tudo, interromper um sonho.
Um pesadelo que me divide
Entre a obediência e a verdade.
Negasse eu o milagre, tudo passaria.
Seis meses, um ano e estaria
Tranqüilo, com minhas ovelhas,
Meus filhos e irmãos de Juazeiro,
Santa missão que me ordenou Jesus.

Neste momento, a dolorida angústia
E a premonição da árdua luta
Que se prolongaria indefinidamente,
Comprime-lhe o peito e ele chora.
São lágrimas grossas, pesadas,
Vindas da profunda solidão daqueles
Que se sentem vítimas da injustiça.

E o visionário ergue os olhos
Para implorar, dos céus, ajuda.
Neste momento, como cai um raio,
Tão rápido e real, vê as imagens
Formarem-se nítidas: uma cidade.

Parece-lhe, por instante, uma alucinação.
Algo futurístico, projetado
Por sua mente atormentada.
Fortaleza ou Recife recriadas
Em novas avenidas, luzes coloridas,
Veículos brilhantes, pessoas apressadas.
Um cinturão de arcos, o pátio de uma igreja,
Onde formigam inúmeros fiéis
Que tentam vislumbrar o interior repleto,
No qual um sacerdote reza a missa.

E no altar, luminosa e impávida,
Sob a coroa de celeste Rainha
A sua tão querida Mãe das Dores.

Esvai-se a visão e o sacerdote
Desempena-se na sela, estufa o peito.
Vê-se, então, surgir por trás das lágrimas
O mais rico e deslumbrante dos sorrisos.

Fortaleza, 24 de março de 2000


Nenhum comentário:

Postar um comentário