Nasceu em Juazeiro do Norte, num dia
26 de junho. Filha de José Neri Rocha e Doralice de Figueiredo Rocha. De uma
família de mais quatro irmãos (Carlos, Frederico, Júlia, e Célia). Cirurgiã
Dentista graduada pela UFC. Funcionária da Assembléia Legislativa do Ceará.
O
SORRISO DO PADRE CÍCERO
Adelina
Mesquita
Terminada a cerimônia,
o sacerdote despe os paramentos.
Beija a estola, por hábito,
Antes de dobrá-la, com cuidado,
E tudo guarda no seu alforje.
Toma a montaria e, vagarosamente,
Dirige-se para a estreita vereda
Que conduz à estrada:
À estrada de Juazeiro.
Seus ombros curvam-se levemente,
A cabeça pende e os olhos.
Esses olham sem ver a vegetação
baixa
Que margeia a vereda.
Bem que poderia, pensa o padre,
Esquecer tudo, interromper um sonho.
Um pesadelo que me divide
Entre a obediência e a verdade.
Negasse eu o milagre, tudo passaria.
Seis meses, um ano e estaria
Tranqüilo, com minhas ovelhas,
Meus filhos e irmãos de Juazeiro,
Santa missão que me ordenou Jesus.
Neste momento, a dolorida angústia
E a premonição da árdua luta
Que se prolongaria indefinidamente,
Comprime-lhe o peito e ele chora.
São lágrimas grossas, pesadas,
Vindas da profunda solidão daqueles
Que se sentem vítimas da injustiça.
E o visionário ergue os olhos
Para implorar, dos céus, ajuda.
Neste momento, como cai um raio,
Tão rápido e real, vê as imagens
Formarem-se nítidas: uma cidade.
Parece-lhe, por instante, uma
alucinação.
Algo futurístico, projetado
Por sua mente atormentada.
Fortaleza ou Recife recriadas
Em novas avenidas, luzes coloridas,
Veículos brilhantes, pessoas
apressadas.
Um cinturão de arcos, o pátio de uma
igreja,
Onde formigam inúmeros fiéis
Que tentam vislumbrar o interior
repleto,
No qual um sacerdote reza a missa.
E no altar, luminosa e impávida,
Sob a coroa de celeste Rainha
A sua tão querida Mãe das Dores.
Esvai-se a visão e o sacerdote
Desempena-se na sela, estufa o
peito.
Vê-se, então, surgir por trás das
lágrimas
O mais rico e deslumbrante dos
sorrisos.
Fortaleza, 24 de março de 2000
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