segunda-feira, 14 de abril de 2014

José Wilker

 JOSÉ WILKER (1)
Com a prematura morte de José Wilker, o Diário do Nordeste republicou uma entrevista exclusiva com o ator, publicada REVISTA GENTE, em março de 2013: Um cearense daqueles que tem orgulho da terra natal, sem, no entanto, deixar de ser cosmopolita no sentido mais amplo que a palavra permite. Ator e diretor de televisão, cinema e teatro, José Wilker recebeu a Revista Gente, em sua casa, no Rio de Janeiro, em março de 2013. Cidadão do mundo, José Wilker queria ser tudo quando criança, menos ator. Talvez a curiosidade que o acompanhou desde sempre, assim como o afã pela independência, levaram-no a se encantar com a vida artística. Aos poucos, o cearense construiu uma galeria de tipos e personagens que conquistaram admiradores no Brasil e em outros países. O sucesso é resultado da valorização de suas raízes, do trabalho árduo e vontade de dar sempre o melhor de si. São quase quatro décadas de carreira, muitas viagens, experiências no teatro, cinema e televisão, vivências que o tornam mais ciente dos propósitos da existência e disposto a dividir um pouco do que aprendeu. Segundo as próprias palavras, devemos viver com desprendimento e com a obrigação de acharmos, cada qual, a nossa fórmula da felicidade.  



São quase 40 anos dedicados à arte da atuação, sendo referência na teledramaturgia. Sempre que é escalado, o público já espera mais um personagem memorável. Você se sente satisfeito por ter conquistado o seu espaço na TV ou continua em processo de constante autoaprendizado?
José Wilker: Bom, a pior coisa que pode acontecer para um artista, seja lá o que ele faça, é ter uma espécie de funeral. Então, prefiro me sentir, sinceramente, uma pessoa sempre começando. Não sou alguém de planejar, é claro. A minha carreira foi uma sucessão de acasos. Jamais sonhei, na minha infância, e, digamos, começo de juventude, em ser ator. Eu queria ser tudo, menos ator. Queria ser piloto de avião, engenheiro, físico; minhas expectativas eram nesse sentido. Adoro matemática; queria fazer algo ligado a isso e, de repente, quando pensei em conseguir um emprego, tipo, uma coisa qualquer para ter uma certa independência, aconteceu que, em Recife, na televisão, ofereciam teste pra locutor. Resolvi fazer, mas fui reprovado. E o cara que me aplicou o teste ficou muito acabrunhado por ter me reprovado e falou assim: “tem vaga pra ator, quer?” E eu peguei a vaga. Claro, tinha feito alguma coisa ligada a teatro na escola, nos Salesianos de Juazeiro e nos Salesianos de Recife. Então, fui fazer teatro e lembro que a minha estreia foi na televisão, na TV Rádio Clube. Em seguida, tive outra chance de fazer teatro na Festa da Mocidade, que acontecia numa praça, onde eu tinha que atravessar o palco puxando uma lata de goiabada. Eu até hoje não sei pra quê. Acho que era uma experiência moderna porque, se alguém fizer isso hoje, vão achar ser alguma experiência pós-moderna. Eu sei que tinha que fazer isso e eu fiz isso durante duas semanas. Então, trabalhar como ator, é sempre uma espécie de recomeço, de reinvenção, de recriação. A cada trabalho, descubro que você pode olhar pro ato de representar de forma nova e diferente, ou se não nova, pelo menos diferente. Pra ser ator, pra representar, ou seja, pra você fazer alguma coisa que de alguma maneira toque o coração das pessoas, que de alguma maneira contribua para que você promova, do ponto de vista da emoção, algum crescimento, você tem de estar permanentemente antenado. Mas, resumindo, se eu for medir o que me falta, eu diria que falta tudo.

Você sente que assim, de certa forma, é bom estar nesse patamar de excelência, mas também se sente pressionado conforme um personagem tem de ir de acordo com essa expectativa das pessoas?
JW: Não me sinto pressionado porque eu não posso, de maneira alguma, não acho que deva, colocar esse peso nas costas dos outros. Recentemente, fui fazer ‘Gabriela’. Tinha participado da primeira versão. Quando a gente fez ‘Gabriela’ (1975), vivia no Brasil sob uma ditadura militar e, ‘Gabriela’, na versão do Walter George Durst e Walter Avancini, precisava privilegiar, de alguma maneira, um símbolo qualquer, um sinal qualquer de protesto com relação à repressão sob a qual a gente vivia. O trilho de ‘Gabriela’ era muito em cima do protesto e, como na época eu me sentia muito inclinado a protestar, mas sempre na segurança de ‘vou protestar e ninguém vai me encanar’, portanto ‘tô à vontade, protestando via televisão’, que era um lugar privilegiado, eu aproveitei o meu temperamento do momento e aproveitei tudo isso para fazer o meu personagem, o Mundinho Falcão, que digamos, era o novo, entre aspas, porque era o ‘novo’ que, no correr da história, ia se adaptando, às circunstâncias de velhice que ele queria combater. 

E na nova versão, quando viveu o coronel Jesuíno ....
JW: De repente, fazia o oposto. E fiquei pensando, ‘como é que eu vou transitar nisso?’. Fiquei olhando as elevações e vendo de que maneira estava sendo conduzida a adaptação, pela cenografia, pelo figurino, pela escolha do elenco, pela maneira que a gente estava sendo dirigido etc. Então, de repente escolhi um outro caminho. Tanto naquele quanto nesse, eu sou absolutamente responsável pelas minhas escolhas. Qualquer equívoco é um equívoco que eu atribuo plena e totalmente a mim. Qualquer acerto também. É muito importante que a gente tenha a adesão do público para o qual se dirige, que o respeite, que tenha, com relação ao seu trabalho, esse compromisso de respeito e reciprocidade porque, na medida em que te admiram, você tem uma dívida enorme a pagar por essa admiração.

Jesuíno teve ótima aceitação. Começou como o vilão que matou a esposa, em nome da honra,  mas foi se redimindo porque amava aquela mulher. Foi ganhando essa dimensão humana que o público compreendia, não que aceitava. Você esperava que ele conquistasse essa empatia toda, mesmo sendo tão árido?
JW: Eu queria que as pessoas se reconhecessem nele. Se reconheceram tanto que ele passou a ser usado em ‘n’ circunstâncias, muitas vezes aparentemente de brincadeira, muitas vezes de verdade. Antes de começar a trabalhar, eu fiquei olhando o noticiário e pra minha história familiar e descobri coisas tais como “Nós do Brasil temos hoje uma lei chamada Lei Maria da Penha”. Por que existe essa lei? Porque foi necessária pra coibir um crime. Crime esse que ocorria em 1920, no interior da Bahia, no interior do Ceará e ocorre, hoje, aqui no Rio de Janeiro e em São Paulo. E, pior que isso, muitas vezes ocorre e ninguém nem se dá conta, porque as pessoas têm vergonha de publicamente reconhecer que esse tipo de coisa acontece. De um lado, investiguei isso e, por outro, a enorme capacidade que um certo tipo de formação que existia, e ainda existe e dificulta para os homens, para os machos, o exercício da ternura, do carinho, a exibição da própria fragilidade, da própria carência e assim por diante. Ainda é, por exemplo, educativo por parte das famílias dizer que “homem não chora”. Quer dizer, fui juntando uma porção de informações e achei que, independentemente de concordar ou não com aquela pessoa, com o coronel Jesuíno, era preciso que tivesse, com relação a ela, uma certa compreensão, que passava pela compreensão da própria personalidade, do seu caráter, passa por você. Quer dizer, você se reconhece naquilo. 

Mas o coronel Jesuíno também teve sua veia cômica, fazendo muito sucesso... 
JW: Evidentemente, também quis que fosse engraçado porque, se aquilo fosse pura e simplesmente a pedra bruta quebrada, talvez não atraísse a atenção. Então, também fui brincar, tentar trabalhar o lado do humor da personagem. Agora, quando eu falo esse monte de coisa, tem que dar um desconto de que a gente faz muita teoria a respeito disso ou daquilo, de representar, de se relacionar com as pessoas, mas eu não sei como é que é a ponte dessa teoria para a prática, entende? Mas eu tenho ‘n’  informações de histórias familiares que me alimentam pra esse tipo de personagem e que eu costumo usar.

A cultura nordestina e a questão da tradição ajudam na construção desses personagens...
JW: É, pode ser que tenha a ver... Eu digo o seguinte. Não vivo no Ceará desde 1963. Desde 63 que eu moro no Rio. Mas é evidente que 90% daquilo que é o meu temperamento é porque nasci no Ceará. Eu seria outra pessoa sem o Ceará. Ou, como aquela brincadeira, “você pode sair do Ceará, mas o Ceará não sai de você”. Quando os americanos chegaram à Lua, tinha um cearense lá vendendo ouro (risos).

Como você analisa a teledramaturgia contemporânea? Ainda acompanha novela?
JW: Não. É muito tarde pra mim. Não, não é só isso não, quer dizer, quando a gente está gravando, antigamente era aqui do lado da minha casa, eu descia a pé, voltava pra almoçar em casa, acabava de gravar e voltava pra casa. Eram quatro quadras da Globo. Era aqui do lado. Agora, eu gasto duas horas e meia pra chegar lá. Eu acabo de gravar por volta das 9 horas da noite. Chego em casa às 10h30, 11 horas da noite. Já acabou a novela. Não tenho saco de gravar pra assistir depois. Quando descobri o VHS, descobri que eu tinha um canal de televisão na minha casa que podia programar. Sem intervalo comercial, com os programas que queria. Minha prática com a televisão era essa. Ver os filmes que queria. E, durante um tempo, quando eu era de esquerda, não via. Porque achava, ridiculamente, imbecilmente, que a TV era veículo da ditadura, era só janela pra divulgar e esconder, de um lado as qualidades e de outro, os crimes.

Mas você já trabalhava em televisão nessa época?
JW: Já. Mas não tinha vontade de ver. Mas acho que a gente, agora, está em um momento muito legal de dramaturgia em televisão. De conviver lá dentro, acaba vendo, claro. Eu não tenho hábito de acompanhar, mas vejo. Teve uma época de ouro, que durou até meados dos anos 1980. Depois, passou por um período de readaptação, de reinvenção, com a chegada da TV a cabo, das outras mídias, dos novos sistemas, a televisão foi precisando se rearrumar. Ela passou por várias fases. O que era quando ela foi implantada no Brasil? Era rádio com imagem. A gente transportou tudo o que se fazia no rádio para a televisão. A linha de show, as novelas, os noticiários. Aí, de repente, no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, ela começou a encontrar linguagem própria. Com o tempo, passou a fazer uma coisa que foi usar técnicas de cinema porque a gente passou a trabalhar com câmeras muito menores. Isso libertou a novela do confinamento em estúdio, do “caixotão de palco”, e a gente foi evoluindo.  

Wilker, se fosse para eleger um filme, um personagem, que estreou esse reconhecimento nacional, qual escolheria?
JW: ‘Dona Flor’ (filme baseado na obra de Jorge Amado, no qual interpretou o Vadinho). Preferia que fosse o Tiradentes, de ‘Os Inconfidentes’, de Joaquim Pedro de Andrade, mas foi ‘Dona Flor’, um filme que não acreditava que fosse fazer sucesso. Aliás, tinha certeza absoluta que iria ser um fracasso. Pensava que um filme erótico-espírita jamais poderia dar certo. E ‘Dona Flor’ não é um filme que projetou a gente apenas internamente; é um filme que teve repercussão no Taipei (capital de fato e maior cidade da República da China), Itália, Estados Unidos, Argentina, Japão. É um acontecimento até hoje.

Você ganhou notoriedade como crítico de cinema e tem um diferencial dos outros especialistas, que são mais acadêmicos, por se comunicar de maneira mais objetiva com o público. O fato de ser ator ajuda?
JW: Há uns anos, no Telecine, tinha um programa chamado “Cineview”, e eu era amigo da diretora do programa na época, Nice Benedicts. Um dia, a gente conversando aqui em casa – eles exibiam o Oscar – nessa época a premiação não era exibida em TV aberta – isso faz uns 15, 20 anos – e ela disse que sentia um buraco na transmissão, que era o intervalo comercial. Não tinha anunciante nos canais a cabo ainda. Aí ela me perguntou se eu não queria, por gostar de cinema, falar da cerimônia. E eu disse: “acho que vale a pena falar se a gente puder falar como a gente fala aqui, como sendo uma conversa e não uma coisa técnica. Que deve ser chato pra cacete para o telespectador”. Então, durante cinco, seis anos, fazia isso. Era como se tivesse conversando aqui em casa, na mesa do bar, com as pessoas. Nessa época, pintou de eu escrever para jornal. Ao invés de escrever de forma acadêmica, fazia como se estivesse falando em voz alta. Isso foi ficando, ficando e hoje não me sinto confortável com a coisa técnica porque acho que ela afasta, mas também me expõe porque acabo dando a cara à tapa. Já ouvi barbaridades. Quando você pega e diz que não gosta, todo mundo se sente agredido. O que é uma bobagem, eu digo, porque já li coisas a respeito do meu trabalho de uma agressividade monumental. Acho a crítica essencial, devo a minha carreira à crítica. Me sinto mais confortável quando recebo uma crítica do que um elogio. A crítica que me afeita, me promove, me provoca, me desafia. O elogio me deixa tranquilo, o meu ego alimentado, é legal, eu sou “gostoso”. Mas tem o limite. 

Como você analisa o atual cenário do cinema brasileiro? 
JW: O primeiro grande prêmio que o Brasil precisa ganhar é a adesão do seu público. Esse é o melhor prêmio que a gente merece e deve ganhar. O Oscar...não sei se é tão importante. Não muda porra nenhuma. Nosso problema era de produção. Aí, até como forma de censura, o governo resolveu que ia estimular a produção. Ele estimulou, mas não equipou o País para consumir esse produto. Então, a gente tem, nesse momento exato, 200 filmes prontos, pelo menos. E 200 filmes na prateleira, invisíveis. Nossa produção, há 30 anos, ocupava 25% de market share. Hoje, nos anos bons, chega a 10%. Em 2011 foi bom, e tivemos entre 10 e 11%. Em 2012, perdemos 4% desses dez e produzimos mais filmes que o ano anterior. Então, a gente já resolveu a questão da produção, mas não a do consumo dessa produção. O Brasil tem menos salas que Manhattan, um bairro de Nova York,  menos que a Argentina, um país de 30 milhões de habitantes. Somos 190 milhões e temos 2.400 telas. Por outro lado, a gente fala português, faz filmes em português, então, o nosso mercado é aqui. Os filmes são feitos para serem consumidos no mercado nacional. Senão, as chances dele fora são muito pequenas. A gente tem grandes problemas a serem encarados. Viramos as costas para a América Latina, que é, potencialmente, o melhor mercado pra gente trocar. O que o Brasil sabe do cinema da América Latina? Só o da Argentina e porque somos inimigos da Argentina. Então, importa para não gostar e acaba se deparando com bons filmes. Agora, o que sabemos do cinema do Chile, Peru, Venezuela, Equador, México, Caribe, do cinema em si feito em língua espanhola? Nada. Eles não chegam aqui.

Como avalia a qualidade do cinema brasileiro?
JW: Muito boa. A gente está fazendo filmes muito bons. Do ponto de vista técnico, há filmes tão bons quanto de qualquer outro país. Até porque a técnica não é mais propriedade de nenhum país. O que usa no Brasil é o mesmo que os caras usam em Hollywood. Eles só têm mais dinheiro. 
Que diretores brasileiros têm feito um trabalho interessante?
JW: O Breno Silveira, o Wagner Assis, o Beto Brant, o Cacá Diegues, o Bruno Barreto, o pessoal de Recife, o Kleber Mendonça Filho, que fez um belíssimo filme, ‘O Som ao Redor’, não um filme para multidões, mas um belo de um filme que honra qualquer cinema do mundo. Tatá Werneck, Tatá Amaral, Sandra Werneck, pô não dá pra citar, teria que citar cem nomes. O Brasil, nos últimos anos, lançou mais de 150 novos diretores, e todos eles muito talentosos, formados em boas escolas de cinema. Tem uma gente muito boa, do ponto de vista técnico. De repente, a gente se dá o luxo de exportar fotógrafos. A gente não tem é dinheiro. Não tem dinheiro porque não tem mercado.  O Brasil tem filmes, não tem cinema ainda. 

Você tem a curiosidade de acompanhar o que está sendo criado no cinema nordestino?
JW: Sim, sim. O Karim Aïnouz (cearense) é um cara que eu acompanho desde o primeiro filme dele. Eu estava em Cannes quando ele o exibiu. É uma das minhas tristezas até hoje não ter feito um filme com ele. Lembro em parte o que foi o ‘Madame Satã’. Que maneira de filmar especial. Agora, estou querendo fazer um trabalho, já escrevi, mas é meio iconoclasta a minha leitura da história do Juazeiro. Não sei quando vou fazer. Quero fazer no cinema. É centrado no beato José Lourenço, que foi para o Caldeirão. Uma coisa terrível. Pouca gente sabe disso. Só há a referência em um livro, de Rui Facó, o ‘Cangaceiros e fanáticos’, no qual conta como liquidaram com o Caldeirão. Há a história do boi santo também. E a primeira peça que fiz aqui e abriu a minha carreira no Rio foi uma peça sobre Juazeiro do Norte, ‘O som dos penitentes’. Estava desempregado e li que ia ter uma peça sobre o Juazeiro. Me candidatei. Pensei: “ninguém conhece mais o assunto que eu”. Mentira. Fui aceito para fazer uma ponta como assistente de direção. Foi quando comecei a sobreviver de teatro aqui.

Apesar de ter saído há bastante tempo do Ceará, ainda tem algum costume regional? 
JW: Meu costume permanentemente está ligado à alimentação. Aqui em casa a gente tem, pelo menos, uma vez por mês, um baião de dois, que é uma coisa que a minha mãe fazia e da qual não abro mão. Baião de dois com queijo de coalho e uma carne de sol, não dá pra não ter. Por que eu leio? Porque aprendi a ler em Juazeiro, com o meu tio professor de Português. A minha curiosidade pelo mundo é uma curiosidade que é cearense. O melhor restaurante de comida vietnamita de Paris é dirigido por um cearense, que faz a melhor sopa de pequi do mundo. Na China,  depois de ficar uma semana comendo pato, fui a um catálogo telefônico e vi “brazilian cuisin”. Aí, liguei e falei: “alô”. Era um cearense que estava lá, na única churrascaria de Pequim. Sócio de um alemão. Uma mistura maluca. O alemão criava os bois, e o cearense administrava a churrascaria.  Era muito ruim a churrascaria, mas estava indo muito bem. 

E sua relação com Juazeiro?
JW: Quando morava lá, não tinha luz elétrica durante uma época, que eu me lembre. Depois, a luz funcionava por um período de duas horas por noite. Tinha um negócio chamado, Centro Regional de Publicidade. Havia uns alto-falantes pela cidade, uns quatro ou cinco. Um locutor anunciava o comércio local e tinha o momento em que tinha música “de mim para você”, “eu ofereço essa canção”, aquela coisa. E era um mundo que me fascinava. Isso era um lado. De outro lado, tinha a casa das minhas tias – a minha mãe, meu pai e meus irmãos já moravam em Recife – eu ia e voltava várias vezes. Hoje, vou muito pouco ao Ceará. Porque não dá tempo. Férias de ator é desemprego.  Meu apego à leitura, à música, à magia (em Juazeiro tem essa mística especial), vem do Ceará. Eu via aquelas pessoas que passavam na frente da minha casa, deixando um rastro de sangue, pois estavam vindo de joelhos desde de não sei onde, pagando promessa. Achava uma coisa absurda. Na Semana Santa, a gente era confinado à noite, porque havia uns penitentes que se flagelavam nas ruas, com capuz, tipo ‘Ku Klux Klan’.  Afora isso, eu, pra me vingar, de ter que ceder a minha cama, durante as romarias para os romeiros, vendia pedaços de roupas de luto das minhas tias como relíquia da batina do padre (Padre Cícero). Deve estar fazendo milagre até hoje por aí. Tem toda uma história que é fascinante. Meu gosto, meu olhar pra arte, aprendi lá.  

Você acha importante esse processo de viver em vários lugares ao mesmo tempo em que preserva suas raízes?
JW: Tem que ter uma base. Só a partir dela  se constrói o resto. Se eu não tivesse tido os bons professores que tive de Francês, de Português, de História, de Desenho, em Juazeiro, eu dificilmente teria evoluído para algum lugar. Não estou dizendo com isso que eu evoluí pra algo genial. Não. Eu só evoluí um pouquinho. Mas eu tive um professor de Francês, que me chamou a atenção, pra todo o Romantismo Francês de Voltaire, Diderot, Descartes, Chateaubriand. Quando fui morar em Paris, eu sabia falar, não o francês do cotidiano, que só vivendo lá que se aprende, mas eu me entendia. E foi lá, em Juazeiro, que minha curiosidade em relação à História me foi despertada por um professor de História bom que eu tinha. Da mesma forma que o Desenho. A Matemática. Eu tinha um professor que era um padre polonês, nos Salesianos, que me chamou a atenção pra Matemática de um jeito que não é aquele que faz as pessoas odiarem a Matemática. Eu passei a gostar de Equação do 2º grau, Números Complexos, com os caras. Coisa fascinante.

E neste ano, você está gravando um programa para o Canal Brasil?
JW: É um programa de entrevistas com atores. Estou de férias da TV, da Rede Globo, por enquanto. E comecei a  dirigir uma peça chamada ‘Rain Man’, adaptação para o teatro do filme com o Dustin Hoffman e o Tom Cruise. Depois, vou fazer, no segundo semestre, Virginia Woolf no teatro. Nesse meio-tempo, tenho que lançar o meu filme em abril, ‘Giovanni Improtta’ (o qual é diretor) e tem mais um monte de coisas aí. É aquela coisa de acasos. Como não tem aquela indústria, a gente nunca tem certeza do que a gente vai poder fazer. Tenho certeza dessas duas, três coisas porque isso já foi captado. A gente já tem teatro, elenco, já pagou tudo, então a gente vai fazer. Mas eu quero filmar esse filme sobre Juazeiro, não sei quando vou poder. Depois do ‘Improtta’, fiz três filmes. ‘Os Velhos Marinheiros’, ‘A Casa da Mãe Joana 2’, com o Hugo Carvana, ‘Isolados’ (de Tomás Portella). Esses não têm previsão de estreia. Ah, participei também de ‘A Hora e a Vez de Augusto Matraga’, em que fiz o papel de Joãozinho Bem-Bem. Ele foi premiado no Festival do Rio 2011.

Você já fez vários personagens que marcaram, mas, se você pudesse, riscaria da sua lista algum personagem que se arrependeu de ter feito?
JW: Não, não. Eu posso contar nos dedos de uma mão as coisas que eu fiz que são ruins. Mas eu nego que fiz. Eu tive muita sorte. Eu acho que tem umas três, quatro coisas que fiz muito mal, muito mesmo. Tem umas novelas que fiz mal, mas eu nego que fiz (risos).

Quem é o homem por trás do artista? Como você se definiria?
JW: Eu tenho um olhar pra vida muito irônico, muito debochado. Não me levo muito a sério. Não consigo brigar com ninguém. Dificilmente me irrito. Eu gosto de me divertir, ser feliz. É uma coisa que talvez tenha herdado da minha mãe. Ela  dizia assim: “eu tive seis filhos e apontava pra mim e falava: o único esquisito é esse”. E o meu pai, que nunca tinha me visto fazer nada,  foi me ver fazer uma peça de teatro no Centro de Convenções, em Olinda. Um troço enorme, cinco mil pessoas. Quando terminou o espetáculo, falei assim: “quero dedicar o espetáculo de hoje a uma figura muito importante que está aqui presente, o meu pai”. Pedi pra ele levantar, ele levantou. O pessoal aplaudiu muito. Aí, ele foi no camarim e me falou a seguinte frase: “tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas, me diga uma coisa: quando é que você vai tomar vergonha na cara e começar a trabalhar?”. Então, não tenho com o que me preocupar. Eu sei de onde eu vim, entendeu? Muitos colegas meus, de escola, dizem que Deus é injusto porque não deu pra eles a mesma coisa que deu pra mim. Mas Ele não me deu nada. Essas coisas a gente vai ganhando com o trabalho, com o empenho, a autocrítica ou com o teu desapego. Sem pretensão. Quando você, de repente, começa a se achar melhor  que os outros, não dá certo. Nós somos todos iguais.  Temos a obrigação de encontrar uma forma de ser feliz. Sendo que, com isso, a gente não deve abusar do espaço de ninguém. O teu espaço é sagrado e você vai ser feliz com ele assim. 
Créditos:Entrevista por Juliana Colares; Fotos Gustavo Pellizzon

JOSÉ WILKER (2)
A primeira e única vez que tive oportunidade de conversar com Wilker foi no início da noite do dia 28.07.2009, durante a inauguração da livraria saraiva no Shopping Center Iguatemi, Fortaleza. Muito antes eu conhecia Wilker como uma pessoa qualquer, residente na casa de suas tias, na rua Pe. Cícero, ao tempo em que ele cursava o antigo ginasial, no Instituto Salesiano São João Bosco. Nesse ano, 2009, eu participava da comissão que tratava do centenário de Juazeiro do Norte. Sugeri, foi julgado conveniente e neste dia eu tratei com Wilker da possibilidade de que ele viesse a Juazeiro para esta celebração. Na conversa objetivamente, tratamos de uma agenda da para sua participação numa programação para o 22.07.2011. Havia tempo de sobra para tudo. mas, como sabemos, a Administração Santana  tinha outros embrulhos a resolver e se tornou incompetente para brindar o povo de Juazeiro com uma grande festa centenária. e deu no que deu. Naquela noite, no Iguatemi, três coisas foram faladas: 1. Wilker estaria presente para um encontro com seus conterrâneos, no palco do Memorial, quando falaria de sua vida e de suas obras (teatral, literatura, cinema, tv e jornalismo); 2. No Memorial aconteceria uma mostra dos seus melhores filmes, como Bye, Bye Brasil, etc.; 3. Mais remotamente, ele se dispunha a trazer do Rio uma montagem de um espetáculo com um texto seu, ou sob sua direção. Voltei muito animado com estas possibilidades.O tempo me mostrou outra realidade e as comemorações do centenário de Juazeiro do Norte foram um fiasco. E isto só me entristeceu muito até este momento em que lembro do que planejávamos para rever Wilker entre nós. Agora transferido para outra ocasião, enquanto ele descansa em paz.

NOVAS EDIÇÕES
As duas novas publicações da Editora 309, Cariri Revista (número 15) e Casa Cariri (número 3), já estão sendo distribuídas. Como das vezes anteriores, trazendo matérias muito importantes e em acabamento gráfico primoroso. Não deixe de lê-las.


BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
#11.(Dia 07.04.2014) BOA TARDE PARA VOCÊ, EDNALDO DANTAS RIBEIRO.
VOCÊ TALVEZ SE SURPREENDA, EDNALDO, QUE NESTE CUMPRIMENTO TAMBÉM DESEJE LHE FAZER UM AGRADECIMENTO PÚBLICO. PENA QUE ELE VENHA COM ENORME ATRASO. DEVO-LHE ISTO, ALIÁS, DEVEMOS ISTO A VOCÊ, MUITOS ESTUDANTES GINASIANOS, DO ENTÃO GINÁSIO SALESIANO DE 1964, OS QUE COMPLETAVAM SEUS ESTUDOS, HÁ EXATOS 50 ANOS. NAQUELE TEMPO QUERIAMOS GANHAR O MUNDO, SAIR POR AÍ, E IR AO RIO DE JANEIRO JÁ ERA UMA BOA REFERÊNCIA. VOCÊ NOS AJUDOU A CHEGAR LÁ. NAQUELA ÉPOCA PRECISÁVAMOS DE DINHEIRO PARA EMPREENDER A EXCURSÃO E ALI FICARMOS UNS 15 DIAS, CONHECENDO A CIDADE MARAVILHOSA. MEMÓRIAS ETERNAS, COISAS INESQUECÍVEIS. VOCÊ DIRIGIA A ENTÃO LDJ – LIGA DESPORTIVA JUAZEIRENSE E UMA COISA QUE PROMOVEMOS ENTRE 1963 E 1964 FOI REALIZAR, EM TARDES DOMINGUEIRAS NO VELHO CAMPO DA LDJ, ALGUMAS PARTIDAS DE FUTEBOL PARA ANGARIAR FUNDOS. LEMBRO, POR EXEMPLO, QUE ESTA ERA A FASE QUE MARCARA O NASCIMENTO DO ICASA. E LÁ ÍAMOS PARA O CAMPO VER ICASA E GUARANI, LEVANDO MAIS GENTE, VENDENDO INGRESSOS PARA O ENTÃO DESCONFORTO DA LDJ. MAS, O ENTUSIASMO ERA ENORME PARA ALI TAMBÉM CONVIVER COM ESSA GENTE QUE TANTO FEZ PELO NOSSO FUTEBOL, COMO VOCÊ EDNALDO, DARIM, MASCOTE, PATÚ, PRAXEDES, FEIJÓ, DORO GERMANO, LUIZ DE SOUSA, E TANTOS OUTROS. VOCÊ NOS EMPRESTOU ESTA CONFIANÇA MOTIVANDO AQUELES GAROTOS A SE ESFORÇAR PARA VENDER INGRESSOS ANTECIPADOS E CONTRIBUIR PARA O SUCESSO DO NOSSO ESPORTE. GANHAMOS NÓS QUE CONSEGUIMOS O QUE QUERIAMOS, A SONHADA EXCURSÃO À GUANABARA DE CARLOS LACERDA. TAMBÉM O ESPORTE JUAZEIRENSE DEVE TER GANHO, EM ALGUMA COISINHA, POIS ERA COMUM O QUE SEU EMPENHO JÁ ASSEGURAVA. QUERO ME CONGRATULAR COM VOCÊ POR ESTA FOLHA ENORME DOS SEUS SERVIÇOS AO ESPORTE, MAS TAMBÉM PELO EMPRESÁRIO QUE FOI COM SEU SEMPRE LEMBRADO ARMAZEM PRIMEIRO DE MAIO, EM ENDEREÇO TÃO TRADICIONAL, DESTINO CERTO E DIÁRIO DE UMA LEGIÃO DE AMIGOS QUE PARTILHAVAM DAS MESMAS PREOCUPAÇÕES COM O ESPORTE DA TERRA, DESDE OS TEMPOS EM QUE VOCÊ DIRIGIA A LDJ E O GUARANI. SEMANALMENTE PODEMOS ESTAR JUNTOS NA RODA ANIMADA DAS MANHÃS DE DOMINGO, NA PRAÇA PADRE CÍCERO. É UM ENCONTRO FRATERNO QUE SE RENOVA A CADA VEZ, EM PARTE POR SUA PRESENÇA ALEGRE, UM TANTO TÍMIDA, MAS SEMPRE BEM HUMORADA E FELIZ COM A VIDA. DEUS LHE CONSERVE ASSIM, EDNALDO DANTAS RIBEIRO. TENHO A DESCONFIANÇA DE QUE ELE NÃO LHE QUER POR LÁ, TÃO CEDO. E ASSIM FICAMOS NÓS MAIS FELIZES POR LHE TER, BEM CONSERVADO AQUI, ENTRE FAMÍLIA E AMIGOS, COM O NOSSO AFETO E BEM QUERER.

#12.(Dia 09.04.2014) BOA TARDE PARA VOCÊS, SOCORRO E GERALDO MILITÃO.
O TEMPO CORRE E JÁ ESTAMOS A UNS SESSENTA DIAS DA COPA DO MUNDO. E CADA VEZ QUE ME VEJO TÃO PRÓXIMO DESTE EVENTO, MINHAS LEMBRANÇAS SE VOLTAM PARA A INESQUECÍVEL CONQUISTA DA PRIMEIRA TAÇA, A DE 1958. FOI A PRIMEIRA DA SÉRIE JULES RIMET, QUE ACABOU UM DIA, DESGRAÇADAMENTE, ROUBADA E DESTRUIDA. PARECE-ME INCRÍVEL, SOCORRO E GERALDO, QUE JÁ SE VÃO 56 ANOS QUE OS CONHEÇO. ÉRAMOS VIZINHOS NA RUA SÃO JOSÉ E EM MEIO A AQUELES JOGOS MEMORÁVEIS, ESCUTADOS EM RÁDIOS BARULHENTOS, E COM TANTOS CHIADOS, VOCÊS NOS ENSINAVAM, E DEPRESSA APRENDÍAMOS E RECITÁVAMOS SEM ERRO OS ONZE DO ESCRETE NACIONAL: GILMAR, DJALMA SANTOS, BELLINI, ORLANDO, NÍLTON SANTOS, ZITO, GARRINCHA, DIDI, VAVÁ, PELÉ E ZAGALLO. ISSO MESMO, JAMAIS ESQUECI. PRINCIPALMENTE ESSE QUINTETO INSUPERÁVEL: GARRINCHA, DIDI, VAVÁ, PELÉ E ZAGALLO. DE GÊNIO E DE ARTE, QUASE VIROU ESTROFE POÉTICA. E SEM ERRO E UFANISMO, JUSTO NAQUELE DIA DE SÃO PEDRO DE 1958, DOS 5X2 SOBRE A SUÉCIA. DESTE FATO, AINDA HOJE NÃO QUER CALAR AOS MEUS OUVIDOS A INTENSA ALGAZARRA NA CIDADE, OS FOGOS QUE ESPOCÁVAMOS E TANTAS CELEBRAÇÕES EM FOLGUEDOS DE RUA, COM A GAROTADA LIVRE, LEVE E SOLTA, SEM MEDO DE SER FELIZ. FOI NESTA OCASIÃO, CERTAMENTE, MEUS QUERIDOS AMIGOS, SOCORRO CANSANÇÃO E GERALDO MILITÃO, QUE MAIS ESTREITAMOS A NOSSA RELAÇÃO COMO VIZINHOS. E DAÍ A AMIZADE QUE PASSOU DE UM SÉCULO PARA OUTRO. EU, UM MOLEQUE QUE NEM CHEGARA AOS NOVE ANOS, ACOLHIDO POR VOCÊS, NAS GRAÇAS E AFETOS QUE JÁ SELAVAM GRANDE ADMIRAÇÃO E RESPEITO ENTRE NOSSAS FAMILIAS. ESTE ANO, COMO EM 58, ESPERO MUITO PODER CELEBRAR TODAS ESTAS LEMBRANÇAS PARA TAMBÉM LHES DESEJAR MUITAS FELICIDADES, AGRADECENDO-LHES PELO GESTO FRATERNO QUE ME CONQUISTOU PELO ESPORTE. SEGURAMENTE, ESTAREMOS TODOS COMO REFERIU TÃO BEM NELSON RODRIGUES – A PÁTRIA DE CHUTEIRAS – DISPOSTOS A SOLTAR O GRITO PRESO NA GARGANTA. E, NOVAMENTE, VOU ME LEMBRAR DE TANTOS FOGOS QUE ÍAMOS COMPRAR NAS BARRACAS DA RUA SÃO JOÃO, ENQUANTO A BOLA ROLAVA NOS CAMPOS DA SUÉCIA. SEM DÚVIDA ALGUMA, NA RELEMBRANÇA DESTAS CENAS, VAI ESTAR FALTANDO AQUELA MORENA LINDA, O CHARME IRRESISTÍVEL DA GENI, A AMIGUINHA QUE UM DIA, TÃO RECENTEMENTE, PARTIU PARA MAIS LONGE DE NÓS. PROVAVELMENTE, AO LEMBRÁ-LA, NOVAMENTE UMA LÁGRIMA PERDIDA ME ESCORRA PELA FACE. NÃO SERÁ DIFÍCIL, PELA SAUDADE IMENSA QUE SENTIMOS POR SUA AUSÊNCIA. POIS É NESSAS HORAS QUE SE SABE QUE LÁGRIMA É EXATAMENTE AQUILO QUE SAI PELOS OLHOS, QUANDO SE APERTA O CORAÇÃO. 

#13.(Dia 11.04.2014) BOA TARDE PARA VOCÊ, DONA MARIETA CRUZ ALENCAR.
DEPOIS DE AMANHÃ, DIA TREZE, A SENHORA CHEGA AOS NOVENTA ANOS. DO POUCO QUE SEI A SEU RESPEITO, E ATÉ LAMENTO, POSSO ME TRANQUILIZAR. SEI QUE POR SEU ESPÍRITO ALEGRE, E TÃO CORDIAL, ESTA DATA SE CELEBRA EM GRANDE ESTILO PELO AFETO FAMILIAR. E A PROPÓSITO, ME DESCULPE SE A DECLARO. MAS, TALVEZ A SENHORA SEJA DOS QUE REPETIRAM COM O GRANDE CONTERRÂNEO QUE TIVEMOS NO CARIRI, O ESCRITOR JOÃO BRÍGIDO DOS SANTOS, AO DIZER: “HOJE FAÇO 90 ANOS. SE É FEIO DIZÊ-LO, MUITO MAIS FEIO SERÁ NEGÁ-LO.” AO LADO DE MINHAS FRUSTRAÇÕES, COMO ESTA, DE NÃO TÊ-LA BEM POR PERTO, POIS RESIDE AÍ NA ILHA DE SÃO LUIZ DO MARANHÃO, NÃO QUERO QUE ESTA DATA SE ATRAVESSE SEM UMA MEMÓRIA PÚBLICA SOBRE SUA EXISTÊNCIA. QUE SEJAM, ENTÃO, ESTAS MAL TRAÇADAS, UM CERTO REPERTÓRIO ACANHADO DO MEU ENCANTO POR SUA PESSOA, DONA MARIETA, ESPECIALMENTE DESDE 1998, QUANDO VIAJAMOS JUNTOS PELA EUROPA. ME PERDOE, SE ASSIM VASCULHO UM POUCO DE SUA BIOGRAFIA. PRETENSO HISTORIADOR, EU ME FARTO COM ESTA INVASÃO DE PRIVACIDADE PARA ENCONTRAR, EXUBERANTES, OS ITINERÁRIOS DE VIDAS, DE PESSOAS COMO A SENHORA. COMEÇARIA POR RECORDAR SUAS ORIGENS, DENTRE ESTAS RAIZES FUNDAS DO CHÃO SAGRADO CARIRIENSE, DE FAMILIAS DESBRAVADORAS ENTRE OS SÉCULOS 18 E 19. FUI LENDO, AQUI E ACOLÁ, EM PARALELOS QUE FUI TRAÇANDO, QUE SEU PAI, JOSÉ GERALDO DA CRUZ – PERSONALIDADE DESTA TERRA, TÃO ENDIVIDADA, TEVE NAQUELE 1924, A NOVENT´ANOS DE SUAS LUZES, UM DOS ANOS MAIS EXPRESSIVOS DE SUA VIDA. RECEBÊ-LA NOS BRAÇOS, SEGURAMENTE, DEVE TER SIDO UM MOMENTO COMOVENTE PARA AQUELE HOMEM. VEIO A SENHORA, DO VENTRE E DA ALMA DE MARIA ESTÁCIO DA CRUZ, PARA SE JUNTAR À PRIMOGÊNITA TARCILA, EM ANTEVÉSPERA DE PROLE NUMEROSA. AQUELE 1924 DE SUA CHEGADA, DESDE LOGO, NO PRIMEIRO DIA DO ANO, JÁ FÔRA PARA ESTA FAMILIA A PROVA DE FOGO DA SUA COMBATIVIDADE E DO AMOR À TERRA. QUANDO DO SEU NASCIMENTO, A EBULIÇÃO POLÍTICA NO LUGAR ERA VIVIDA ÀS CUSTAS  DA TRUCULÊNCIA DE FLORO BARTHOLOMEU CONTRA OS MACEDISTAS, LIDERADOS POR ZÉ GERALDO. SUA VIDA SE INICIAVA COM ESTES EMBATES QUE DETERMINARAM, POR EXEMPLO, A CRIAÇÃO, POR SEU PAI, DA NOSSA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL. FOI TAMBÉM UM ANO DOLOROSO PARA O JORNAL O IDEAL, ATÉ O SEU EMPASTELAMENTO AQUI NA RUA SÃO JOSÉ, EM 30 DE AGOSTO, EM PROPRIEDADE DA FAMILIA. E QUANTAS OUTRAS ANGÚSTIAS NÃO VIVERAM, COMO O EXÍLIO DA FAMÍLIA, FORA DO JOASEIRO. SOMENTE ISTO JÁ SERIA SUFICIENTE PARA CARACTERIZAR A ADVERSIDADE QUE CONSPIRARIA CONTRA A SUA PRÓPRIA EXISTÊNCIA, AINDA TÃO FRÁGIL, NOS BRAÇOS DOS PAIS. CONTUDO, MERCÊ DESTA GARRA, TÃO CARACTERISTA DOS ELEVADOS IDEIAS DE CIDADANIA DESTA FAMILIA, VOCÊ CRESCEU DETERMINADA, ILUSTROU SUA FORMAÇÃO ACADÊMICA, CONSTITUIU FAMILIA, PRESTOU SERVIÇOS E SE CONSAGROU DENTRE AQUELES QUE FORMARAM A NOSSA RESERVA PROFISSIONAL, ÉTICA E MORALMENTE EXEMPLAR. POR ISTO MESMO, ME APRESSO EM SAUDÁ-LA, DONA MARIETINHA, ALMEJANDO QUE SUA VIDA AINDA SE ALONGUE POR MUITOS MAIS ANOS, PARA QUE NÃO NOS FALTE ESTE TESTEMUNHO DE FIDELIDADE QUE SUA VIDA SE DECLARA, POR SEUS IDEIAS DE CIDADANIA, PELA FAMILIA QUE NUTRE OS SEUS ALENTOS E PELA GRANDEZA DE SUA TERRA QUE SÓ PODE SE SENTIR MUITO AGRADECIDA.
(Obs.: Estes textos são lidos, originariamente, durante o Jornal da Tarde, da Rádio Pe. Cícero, FM 104,9, de Juazeiro do Norte, na voz do jornalista João Hilário Coelho Correia )

O INJUSTIÇADO PADRE CÍCERO
Com este título, o jornalista Barros Alves membro da Academia Cearense de Hagiologia e da Sociedade Cearense de Geografia e História, fez publicar o seguinte artigo no jornal O Povo, Fortaleza,edição de 06.04.2014, que abaixo se transcreve.
No dia 24 de março passado relembrou-se os 170 anos de nascimento do Padre Cícero Romão Batista, o profeta do povo sertanejo, que incompreendido, injustiçado, foi duramente maltratado a seu tempo, justamente por aqueles que deveriam assomar como paladinos da Caridade cristã. As maldades cometidas contra o Padre Cícero chegaram, em alguns momentos, ao vilipêndio. Nascido no Crato, depois de ordenado padre Cícero foi designado para cuidar das pouquíssimas almas na localidade de Juazeiro, encravada em lugar hostil da região caririense. Ali chegado, como que por predestinação divina, de logo entendeu – segundo ele por sonho – que daquela localidade não mais sairia e que os desejos de ser missionário em outras terras, antes aventados, sumiram totalmente de sua vontade por decisão de forças transcendentes. Em 1889 ocorreram fatos extraordinários envolvendo a Beata Maria de Araújo e o então jovem Padre Cícero. O chamado “Milagre da Hóstia”, não agradou à cúpula da Igreja no Ceará. Começou aí o calvário do vigário daquele lugarejo de gente pobre e sofrida. A hierarquia da Igreja, liderada em fins do século XVIII pelo Bispo Dom Joaquim José Vieira, não poupou o vigário da então pequenina Vila de Juazeiro, de grandes constrangimentos e muitas agruras. Ele sofreu as maiores agressões por parte de altos dignitários da própria Igreja, os quais, paradoxalmente, deram munição a posicionamentos de figuras interessadas na destruição do próprio rebanho do Cristo. Mas, “Meu Padim Ciço”, apesar de tudo, está consagrado como santo pela devoção do povo nordestino. Mesmo sem ter ascendido à glória dos altares por decreto canônico da Cúria Romana, é venerado pelas imensas multidões de sertanejos que a cada ano acorrem ao Juazeiro do Meu Padim Ciço em romarias em homenagem ao Taumaturgo do Nordeste. Por outro lado, foi escolhido o “Cearense do Século” em disputa com figurões da Política e da Economia em nosso Estado. Passados quase cem anos de sua morte, apesar dos de muitos “sábios e entendidos” da hierarquia da Igreja Católica ainda titubearem na aceitação da santidade do Padre Cícero em razão de uma burocracia atrasada, não poucos são aqueles que compreendem a importância do homem religioso que ele foi, sobretudo de sua postura de obediente servidor da Igreja, que soube comportar-se com dignidade eclesiástica, não obstante as muitas perseguições de que foi alvo. Mais do que isto, compreende-se hoje nos meios eclesiais e fora deles que a atuação política de Cícero, em vez de prejudicá-lo configura um dado que o beneficia em um processo de reabilitação junto ao Vaticano. Ele foi essencialmente um pacificador numa terra de conflitos sangrentos entre coronéis que se digladiavam por poder político e dominação econômica. A atuação política do padre fez parte da ação pastoral que lhe coube por vocação e determinação que vem do Alto. Padre Cícero foi profeta completo. Soube governar, soube admoestar, soube rezar, soube conduzir as levas de homens rudes dos adustos sertões nordestinos aos pés da Mãe de Deus das Dores. É importante, destarte, compreendermos essa mensagem de fé, de esperança e de decisão do Padre Cícero em servir ao seu povo não apenas por intermédio da oração, mas da ação concreta na sociedade de seu tempo. (Barros Alves)

AEROPORTO DE JUAZEIRO DO NORTE
Um novo barulho na praça envolve o sofrido Aeroporto de Juazeiro do Norte: agora se fala na sua privatização. Ou seja, a Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) já está divulgando a possibilidade de incluir nosso aeroporto na relação dos que passariam à iniciativa privada. E nisto aí, muitas incertezas, principalmente a questão da sua infraestrutura básica, inacabada. Enquanto isto, o aeroporto segue a sua trajetória vitoriosa, espelho de uma região emergente de grande expressão para o mercado de serviços, como a questão do transporte aéreo. Voltamos aos dados mensais que são divulgadas como estatísticas da Infraero em sua página na internet. A partir deste mês, mas retroativo aos primeiros 3 meses de 2014, a empresa passou a divulgar os dados de uma maneira diferente. Por isso, de algum modo, nossas referências passam a ser como são divulgadas em suas tabelas de passageiros e pousos/decolagens, tanto no mês em questão, quanto no ano. Como vínhamos divulgando a série nos últimos 12 meses, e não na acumulada dos meses do corrente ano, prosseguimos como já estávamos fazendo. Por estes resultados, na última tabela, onde apresentamos os dados consolidados para Brasil e Região Norte-Nordeste, o nosso aeroporto continua exibindo uma excelente performance. Desta, o mais expressivo é o fato que continua ocupando a oitava posição dentre os 21 aeroportos domésticos do interior do país. Não é pouca coisa.