quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O EFEITO SANTA MARIA



A tragédia foi imensa. E a repercussão sobre a nação não foi menor. Não lhes falo da comoção que cada um experimentou, entre lágrimas e prantos, para não aumentar mais o trauma, vendo cenas televisivas do acontecido, ou nos dias subseqüentes, assistindo cada drama, mostrado em meio a imagens de uma juventude linda, imolada por chamas e gases tóxicos. O efeito Santa Maria, de como o sentimos, veio pela mobilização e pelas primeiras providências mais rigorosas com inquérito e revisões de procedimentos com segurança para tal tipo de estabelecimento, alastrando-se pelo país. Em certos aspectos, lamentavelmente, exibindo a mesma lenga-lenga para fazer o certo, mas só depois que o ladrão entrou e fez o estrago que se viu. Triste esta pantomima que não nos convence, como se tudo fosse um fato novo, pois não é, na hora de lamentar perdas e danos, muito para lá de irreparáveis. As estatísticas brasileiras, de há muito, são exuberantemente mais negras que a fumaça dos fatos. Em meio a estas coisas agora assistidas, eu me voltei, ainda com certa angústia, na lembrança pela frustração pessoal, em um momento que vivenciei, a partir de novembro de 2009. Naquela oportunidade, havia assumido a presidência da Fundação Memorial Padre Cícero, especialmente para prover-lhe objetivamente de uma reforma que era necessária, pois antes como hoje, o Memorial reclama. Quando o setor competente da gestão revolucionária disponibilizou pessoal e boa vontade, (cito exemplarmente a dedicação dos drs. Mário Bem e Nilo Lima), foi providenciado um projeto, embora emergencial, dentro dos tais parcos recursos, que contemplava, inclusive, uma eficiente saída de emergência, na parede leste do auditório, com rampa e acessibilidade adequadas. Isto até hoje não foi feito, embora se tenha alinhavado uma reforma, vendida como se coisa de primeira. Eu já não era mais o gestor e nenhuma providência foi feita para os grandes eventos do Centenário. Num destes momentos, eu estava lá para presenciar a grande homenagem a diversas pessoas, inclusive o Pe. Reginaldo Manzotti. Entrei lá como observador e verifiquei que, a grosso modo, havia mais que o dobro do que o auditório poderia comportar, de bom senso, além dos que ocupavam corredores, museu, sala de espera e outras dependências. Havia, inclusive, cadeirantes. Felizmente, tenho certeza, um santo muito forte estava ali de plantão para impedir qualquer tumulto ou algo que conspirasse com aquela aparente tranqüilidade, em meio a este potencial dramático que era o desejo de estar próximo ao “pop star”. Mas, haverá sempre este plantonista, anônimo e benemérito? As instalações do Memorial, bem o sei, são antigas, frágeis e perigosas. É preciso assumir isto e colocar o fato na pauta dos novos gestores. E esta pauta não é estranha. Ela, na essência, é exatamente idêntica ao que se pode fazer por uma instalação pública, na cena possível de acidentes de qualquer grandeza. Noutro dia, ainda durante celebrações do Centenário, todo o sistema de ar condicionado entrou em colapso, porque se acenderam mais luzes que o possível. Um dos mais trágicos acontecidos no Brasil começou por problema elétrico num “insignificante” aparelho de ar condicionado. Este, para mim, é um dos pontos críticos da cidade. Algo que clama por uma pronta e responsável atenção, antes que tenhamos de enfrentar coisas desagradáveis, como as que nos roubam vidas preciosas. Algum recado nos foi dado. E que tenhamos juízo, ao recebê-lo.

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