BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
158: (03.06.2015) Boa Tarde para Você, dona Rosinha do Horto
Eu cresci sabendo que esta gente romeira que vive no Juazeiro, como a minha própria família vinda de Alagoas e da Paraíba, tem muitas histórias de vida para contar, e também como diz dona Rosinha do Horto, se escritas fossem dariam um grande romance. Tardei um pouco a subir a Colina do Horto e parar naquele velho caminho, para entrar na casa tão simpática desta dona Rosinha, para ouvir-lhe uma narrativa esticada de histórias que remontam aos anos 20, quando veio para cá com sua família. Eu a havia reencontrado no ano passado, em meio ao 4º Simpósio sobre os temas de Juazeiro, quando por grande inspiração a Irmã Annette Dumoulin, havia inserido na programação um depoimento de dona Rosinha que encantou muita gente estudiosa e reunida. Próximo a completar os seus 95 anos, dona Rosinha é de nos causar inveja pela vitalidade que exibe, pela saúde que só lhe causa pequenos achaques, pela disposição de uma juventude que parece não se esgotar, pela memória privilegiada para sua idade e pela fé inabalável que este mundo, na graça de Deus, ainda tem jeito, sim. Foi neste clima que eu me armei de toda a curiosidade para ouvir as histórias desta alagoana, Rosalva da Conceição Lima, nascida em 23 de dezembro de 1920, primeira filha do casal João Nicolau da Silva e Constância Maria da Conceição, gente de vida rural, das cercanias de Palmeira dos Índios. Ainda solteiro, o João Nicolau já se acertara algumas vezes no caminho do Juazeiro e para cá viera em algumas romarias, até que em 1926 ele convenceu Constância a juntar a mobília e vir com os três primeiros filhos, Rosalva, Pedro e Antonio, para morar definitivamente na terra do meu padim. A família poderia ter crescido muito, pois do seu primeiro casamento com Constância, João gerou 15 filhos, e destes apenas Rosinha atingiu a idade adulta e ajudou a criar esta enorme prole, até quando pôde, porque faleceram todos em tenra idade.
João, o pai, casaria uma segunda vez e outros oito filhos geraria, mas lamentavelmente apenas um deles se criaria. Quando chegaram ao Juazeiro, e como era de praxe, foram visitar o Pe. Cícero para lhe fazer aquela pergunta tão conhecida deste tempo: - Meu padrinho, o senhor me dá licença de vir morar aqui no Juazeiro, trazendo minha família? “Seu padre” os acolheu, recomendou uma vida de oração e trabalho, com muito mais paciência que algum dinheiro e determinou que fossem viver da agricultura em sua propriedade da Baixa Dantas. Tempos difíceis aqueles, quando se precisava até de salvo conduto para transitar e ter proteção da polícia, para não ser confundidos com marginais ou até mesmo como gente do Caldeirão, já destruído. Em 1930, Rosinha e sua família visitaram o Pe. Cícero em sua casa da Rua Nova, quando foram lhe pedir a bênção, e por várias vezes depois o encontrariam na missa dominical da Matriz de Nossa Senhora das Dores, em cenário edificante para tantos quantos o admiravam. Rosinha guarda ainda com muita nitidez as cenas daquele 20 de julho de 1934 quando ele faleceu, lembrando a correria do povo pelas ruas, a tristeza imensa das pessoas, as lamentações diante daquelas incertezas de uma gente que se reconhecia por não ter mais o pastor a quem recorrer, a quem pedir, com quem se aconselhar. Recorda ainda emocionada a sua visão do padre morto, exposto na janela da casa da Rua São José durante o velório, a ansiedade do povo para tocar-lhe e beijar uma ponta dos paramentos que pendiam do caixão, e a sofrer outro tanto no cortejo que o levaria ao campo santo do Socorro. Rosinha não tinha ainda quinze anos e casou com Manoel Roberto de Lima, em 26.11.1935, jovem que vivia também em Baixa Dantas e por lá se criaram próximos, até que em 1938, com o suor do rosto e os poucos dinheiros das safras agrícolas, compraram casa e foram morar no São Miguel. Rosinha e Manoel Roberto tiveram 5 filhos: três que se chamaram Marias, Lenira e um José, todos falecidos, não chegando a 5 ou 6 anos. Em 1962, o casal foi morar na Rua do Horto e dai para continuar o trabalho na agricultura de milho, fava, andu e algodão do Sítio Maroto, de propriedade da família de Maria e Manoel Germano. Durante muitos anos e até hoje, Rosinha do Horto é a própria imagem de uma criatura de Deus, entregue ao permanente voluntariado, dedicada a tantos serviços que a fizeram a alma santa de uma das últimas carpideiras de que se tem notícia, por cuidar de pessoas moribundas e de defuntos que a tiveram como o anjo bom da morte, por serviços e zelo. Devota fervorosa, de grande fé, de dedicação inexcedível a serviços paroquiais, como circulista, dizimista, senhora da caridade, zeladora do Apostolado da Oração, catequista e missionária, e ainda assim me diz que não é mulher de muita reza, a não ser por esta sua grande disposição e o amor aos Sagrados Corações, de Jesus e de Maria.
Quando lhe pergunto sobre o que é para si o futuro, às vésperas de completar 95 anos, ela me olha com um sorriso ingênuo para me dizer que tudo isto a Deus pertence, e que por esta crença, espera ter a paciência para alcançar a graça de sua proteção e o perdão de seus pecados. A vida de dona Rosinha do Horto é para todos nós nesta Nação Romeira, um exemplo autêntico de uma missionária, no sentido mais cristão da palavra, para expressar a existência de um ser iluminado que se não tivesse existido neste Juazeiro do Pe. Cícero, precisaria ter sido inventado e muito imitado.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 03.06.2015)
ANIMAIS ABANDONADOS
Através de um dispositivo legal, lei municipal, a prefeitura municipal atende a muitos que reclamam do abandono de animais por logradouros da cidade. Veja como ficou a Lei: LEI Nº 4479, de 21.05.2015: Proíbe o abandono de animais domésticos ou domesticados em logradouros públicos ou áreas particulares e dá outras providências. O PREFEITO DO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE, Estado do Ceará. FAÇO SABER que a CÂMARA MUNICIPAL aprovou e eu sanciono e promulgo a seguinte Lei: Art. 1º – Em consonância com a Lei Federal nº 9605/1998, fica proibido o abandono de animais domésticos e/ou domesticados em logradouros públicos ou de uso público e em áreas particulares, sejam elas desabitadas ou vazias. Parágrafo único – As áreas particulares referidas neste artigo abrangem: I – residências vazias desabitadas e inabitadas: II – terrenos; III – fábricas; IV – galpões; V – estabelecimentos comerciais; VI – campus universitário de faculdades particulares. Art. 2º – A inobservância ao disposto nesta Lei acarretará ao infrator multa no valor de 100 (cem) UFIRM – Unidade Fiscal de Referência do Município de Juazeiro do Norte. Art. 3º – No caso de reincidência da conduta: I – sendo o infrator pessoa física, o valor da multa será duplicado e o processo será encaminhado à Procuradoria Geral do Município – PGM para as providências criminais cabíveis, conforma a Lei Federal nº 9605/1998; II – sendo o infrator pessoa jurídica, o valor da multa será aplicado por cabeça de animal abandonado, procedendo-se a cassação do Alvará de Funcionamento do estabelecimento. Art. 4º – Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após sua publicação. Palácio Municipal José Geraldo da Cruz, em Juazeiro do Norte, Estado do Ceará, aos 21 (vinte e um) de maio de dois mil e quinze (2015). DR. RAIMUNDO MACEDO, PREFEITO DE JUAZEIRO DO NORTE.
JUAZEIRO, POR AÍ
Há muitos anos atrás eu me animei por revelar aquilo que ia encontrando sobre juazeirense que eram notícias por toda a parte, no interior do país, em grandes cidades e capitais e até pelo exterior. É ocaso deste Cícero que encontro em matéria na internet, cuja vida em parte se pode saber aqui.
“Cearense radicado em Natal divide rotina de vendedor com a produção de réplicas de veículos pesados, paixão que o acompanha desde a infância. Rebento de família pouco abastada, criado no interior e batizado com o nome do famigerado padre-santo de Juazeiro, Cícero tem desde a infância a alma do caboclo sonhador sertanejo. O menino que tirava da cabeça engenhocas de madeira e borracha para se divertir com as outras crianças da cercania onde morava cresceu com o sonho de ganhar a vida a fazer seus carros de brinquedo. “A minha meta é viver dessa arte”, diz. Cícero é vendedor de peças de caminhão, mas queria mesmo era trabalhar fazendo réplicas de veículos automotores. Ele nasceu em Juazeiro do Norte, no Ceará, e aos sete anos de idade começou a confeccionar suas primeiras miniaturas. “Um pai para dar um brinquedo ao filho era difícil, não tinha recursos. Então a gente fazia nossos próprios brinquedos”, lembra. A paixão pelas réplicas o acompanhou também pela adolescência, quando começou a fazer reproduções de modelos de aviões da 2ª Guerra Mundial junto com um amigo que o auxiliava nas peripécias lúdicas de fabricar miniaturas. A ideia dos aviões de guerra veio junto com o interesse pelo próprio acontecimento histórico. Cícero recorda que já com quase 15 anos confeccionou um B17, imponente aeronave de combate americana, todo de cartolina. “E ele voava. A gente amarrava um cordão e puxava pela rua. O nosso B17 tinha hélices que o faziam voar quando a gente corria com ele”, conta. A alegria do garoto de Juazeiro do Norte era ver o avião no ar, enquanto os vizinhos também paravam para olhar o brinquedo das crianças fazer manobras coordenadas pelo cordão. Mas a paixão maior do menino Cícero sempre foi os caminhões, brinquedo que mais gostava de confeccionar durante a infância em Juazeiro. A criança cresceu sem perder o encantamento. Aos 22 anos, em 1988, Cícero Rodrigues veio para a capital potiguar. A ideia era passar alguns dias e visitar uma irmã que havia se mudado para essas bandas. Só que ele conseguiu um trabalho e resolveu fixar moradia. Por coincidência, foi contratado para ser vendedor de uma loja de peças automotivas para caminhões, função que exerce até hoje em uma outra empresa. No emprego ele produziu o primeiro caminhão nos moldes que confecciona atualmente: com mais ou menos um metro de comprimento por 70 centímetros de altura. “Era um Wolksvagen. Inclusive o pessoal da fábrica gostou e ficou com a miniatura”, recorda. Todavia a correria diária o afastou das produções de seus carros de brinquedo. Cícero precisava ganhar a vida da forma mais convencional, pois nunca pensou que a arte pudesse um dia lhe pagar as contas, como ainda não paga. Nessa época o passa-tempo de Cícero consistia basicamente na produção de brinquedos para o filho Gabriel. Há oito anos, quando foi trabalhar em uma outra loja, ainda vendendo peças de caminhão, recebeu uma proposta. O proprietário do estabelecimento queria uma miniatura de caminhão. “A ideia era fazer um motor de tamanho original para facilitar a explicação do funcionamento na hora da venda”. Coube a Cícero atender ao pedido. “Eu peguei um motor real, limpei, pintei, cortei, fiz umas janelas que a pessoa via ele dentro, funcionando. Fiz o caminhão, coloquei uma prancha, com três eixos e o motor ficou em cima, coberto por uma cúpula de acrílico”. A reaproximação com o hobbie fez com que Cícero Rodrigues depositasse mais crédito na possibilidade de usar o talento para conseguir um dinheiro extra. De lá para cá, ele tem destinado o tempo que consegue à atividade, entretanto ainda não dá para mergulhar de cabeça no seu mundo de brinquedo. A rotina dupla e a falta de capital para investimento em maquinário ainda são um impedimento.
A brincadeira quer virar negócio
A princípio, Cícero Rodrigues fazia as réplicas só por diversão, sem o intuito de comercializá-las. Mas de repente as encomendas começaram a chegar e ele viu ali a chance de realizar o seu maior sonho: viver de sua arte. A riqueza nos detalhes das miniaturas começou a chamar a atenção de clientes em potencial. Cícero levou um de seus caminhões, o mais recente produzido, para a loja em que trabalha atualmente e por lá, ainda sem querer, começou a atrair uma pequena clientela. Ele conta que o caminhão ficou exposto no estabelecimento e um homem que viu a réplica foi procurá-lo para que confeccionasse uma igual. “Ele também pediu para que eu fizesse uma L200”. Recentemente, o vendedor também recebeu proposta de uma revendedora de Parnamirim, na Região Metropolitana da capital, para produzir mais um caminhão. O problema agora é conseguir tempo para dar conta dos pedidos. Uma réplica demora entre dois e três meses para ser finalizada. Os caminhões de Cícero têm em média um metro de comprimento, 70 centímetros de altura, contados na cabine, e aproximadamente 20 quilos. O brinquedo de gente grande custa em torno de R$ 1,5 mil, valor que varia de acordo com a complexidade do projeto. Os carros são feitos de madeira, plástico, borracha e metal, frutos de descartes de sucatas e serrarias. Cícero diz que poderia comprar o material, porém acredita que o reuso seja uma opção mais viável no que diz respeito à responsabilidade ambiental. O primeiro passo do artesão no processo de criação é pegar a planta do veículo que será replicado. Cícero observa o desenho e faz uma projeção, ampliando a escala da planta, para obter as medidas corretas do carro. “E aí eu aumento na escala que eu quero”, reforça. Quando não é possível conseguir o croqui do veículo, ele recorre a outros meios, como a internet, para juntar o maior número de informações possível acerca do objeto desejado pelo cliente. Como é o caso de um carro norte-americano sobre o qual começou a debruçar os primeiros esforços. Cícero não lembra do nome do modelo, mas já recorreu a vários sites para conseguir entender a dinâmica da máquina de quatro rodas. O pedido é de um pai de um garoto altista. O homem conseguiu o e-mail de Cícero (cicerolift@hotmail.com) e entrou em contato para atender a um desejo do garoto. “O menino assistiu a um filme em que esse carro aparece e ficou louco por ele. Então me procuraram para que eu reproduzisse. Até esse filme eu já assisti”, conta. A maior dificuldade enfrentada pelo vendedor artista atualmente é a falta de ferramentas de trabalho. “Esse caminhão aí foi feito só com um teco-teco (pequena serra), um compressor e uma serra”, disse Cícero, apontando para o exemplar que levou para ser exibido na empresa em que trabalha. A produção ainda tímida no que diz respeito à quantidade de caminhões construídos é reflexo da falta de maquinário. Ele estima que, caso tivesse mais máquinas para fazer as miniaturas, o tempo de confecção cairia pela metade e as réplicas sairiam muito mais bem elaboradas. Porém falta dinheiro para investir. “Estou comprando as coisas aos poucos”. Por enquanto, na tentativa de otimizar o máximo possível o seu tempo, Cícero divide o dia entre o trabalho da revendedora de peças e as tarefas de artesão. Ele sai de manhã cedo de casa e só volta no início da noite. Aí já começa a produção dos carros, entrando a madrugada. “Não tem descanso. Final de semana é quando trabalho mais, pego das 6h às 23h no sábado e no domingo”. Sem pressa, o menino de Juazeiro, hoje com 48 anos, vai alçando voos, que nem o seu B17 adolescente, rumo à conquista do sonho.”
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