BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
165: (25.06.2015) Boa Tarde para Você, Maria de Fátima Ferreira Torres
A municipalidade juazeirense acaba de sancionar uma lei que declara a arte da xilogravura patrimônio imaterial de nossa cultura, através da Lei nº 4492, de 15.06.2015, e que foi publicada na edição do Diário Oficial do Município da sexta feira passada. Em referido ato, o Governo Municipal considera a Lei Orgânica do Município de Juazeiro do Norte, para que fiquem declarados como Patrimônio Cultural e Imaterial do povo juazeirense, a arte de fazer xilogravura e o fazer do cordel literário. Cumprimento-a, vereadora Mara Torres, por esta sua tão expressiva atenção e iniciativa em considerar a xilogravura, como é realizada, “através de técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado.” Desejo também relevar que este mesmo dispositivo legal trata do cordel como de fato é, “Gênero Literário popular, escrito de forma metrificado e rimado, poético e impresso em folheto e quase sempre ilustrado com xilogravura.” Pode não parecer, mas este ato significa em princípio o resgate de um longo esquecimento mais que centenário para um dos valores culturais mais arraigados à nossa existência, uma vez que esta manifestação já estava presente no nosso primeiro jornal, ainda em 18.07.1909. Juazeiro do Norte, tão decantado em prosa e verso pela cultura popular, credita à literatura de cordel e à xilogravura que aqui se faz, alguns dos seus grandes momentos e a riqueza de um sem número de grandes artistas, a partir de nomes como Mestre Noza e José Bernardo da Silva. Na história conjunta destas artes, tão ricamente entrelaçadas pela beleza de suas produções, emergem centenas de outros grandes artistas, grandes mestres do versejar e do entalhe na imburana em várias gerações que continuam proliferando ao nosso lado, na maioria gente quase anônima. Minha caríssima vereadora Mara, eu sou daqueles que ainda tem algo a lamentar, pois em tudo isto que concerne a cordel e xilogravura, quanto tempo o poder público perdeu por não ter vindo em nosso socorro para proteger estes mestres, suas artes e seus trabalhos. Ainda hoje temos grande queixa da Universidade Regional do Cariri, completamente perdida no fato de não dar a devida atenção ao que gira em torno da Lira Nordestina, da herança que recebeu de mão beijada da família de José Bernardo da Silva, do povo juazeirense e do governo do Estado.
Temos perdido um tempo precioso na valorização disto que só nos tem engrandecido, e que poderia ter sido completado com este reconhecimento que tardou, sem falar no que viria a reboque com uma Biblioteca Nacional de Cordel e com um grande Museu da Xilogravura. Mas, felizmente, este momento não é apenas para lamentar o que ainda não foi feito, a ponto que esqueçamos a trajetória percorrida e que presentemente ainda se configura nas atividades de todos estes poetas, cada vez mais férteis e criativos e na existência de dezenas de xilógrafos. Notável tem sido o papel de algumas instituições no fomento de suas atividades, como o SESC Cariri e o seu SESC Cordel, bem como o prestígio e o patrocínio do BNB e seu Centro Cultural, aos quais ainda falaremos com grande prazer de instituições culturais deste CRAJUBAR. Vejo com alguma tristeza, vereadora Mara Torres, que o seu gesto magnânimo é atitude solitária no ato formal, pois não se vê ninguém mais ao firmá-lo como coautor ou a subscrevê-lo, nem que fosse um gesto simbólico dos seus pares, tão mais habituados às louvações na liturgia do cargo. Menos mal! Estamos felizes porque vossa senhoria o fez, lavando a alma nesta expectativa que agora se anima para que de fato esta Lei possa agregar desdobramentos de proteção a cargo da Secretaria de Cultura e de outras instâncias que se solidarizem aos seus propósitos. Temos que insistir para que tanto o Parlamento, quanto o Executivo Municipal sejam atenciosos, diligentes e generosos no sentido de criar condições para que estas manifestações deixem à vala comum da indigência pública, gerando mecanismos para que suas produções atinjam a Escola. Faz-se necessário insistir no fato de que o nosso município esqueça esta contramão da indiferença por fatores culturais tão relevantes para reconhecê-los como agentes de desenvolvimento. Se é que posso, Mara Torres, por este seu gesto, agradeço-lhe em nome do povo juazeirense.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 25.06.2015)
CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI
CINE ELDORADO (JN)
O Cine Eldorado (Rua Padre Cícero, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no próximo dia 3, sexta feira, às 20:00 horas, o filme Sindicato de Ladrões (On the water front), (EUA, 1955), dirigido por Elia Kazan.
Elenco: Marlon Brando (Terry Malloy); Abe Simon (Barney); Anne Hegira (Mrs. Collins); Arthur Keegan (Jimmy); Barry Macollum (Johnny's banker); Dan Bergin (Sidney); Don Blackman (Luke); Edward McNally (Bit part); Eva Marie Saint (Edie Doyle); Fred Gwynne (Slim); James Westerfield (Big Mac); Jere Delaney (Bit Part); John F. Hamilton (John Hamilton); John Heldabrand (Mutt); Johnny Seven (Longshoreman); Karl Malden (Father Barry); Lee J. Cobb (Johnny Friendly); Leif Erickson (Glover); Martin Balsam (Marty Balsam); Michael V. Gazzo (Bit); Mike O'Dowd (Specs); Nehemiah Persoff (Cab driver); Pat Henning Timothy J. ('Kayo' Dugan); Pat Hingle (Jocko); Robert Downing (Bit); Rod Steiger (Charley 'the Gent' Malloy); Rudy Bond (Moose); Scottie MacGregor (Mother of a Longshoreman); Tami Mauriello (Tullio); Thomas Handley (Tommy Collins); Tiger Joe Marsh (Longshoreman); Tony Galento (Truck). Sinopse:Johnny Friendly (Lee J. Cobb) é um gângster que atua nas docas de Noa Yorl. Ele é também o chefe do sindicato, sendo assessorado por Charley Malloy (Rod Steiger), um vil advogado. Os dois usam um ex-boxeador, Terry Malloy (Marlon Brando), que é irmão de Charley, para atrair Joey Doyle (John F. Hamilton) até o telhado, onde dois capangas de Friendly o empurram para a morte. O motivo do assassinato era que assim ele nada falaria para a comissão do crime, ou seja, era um delator, e para aqueles que controlavam o sindicato merecia morrer. Terry atraiu Joey com uma certa dose de inocência, pois acreditava que os capangas iam só dar uma "prensa" nele. Edie Doyle (Eva Marie Saint), a irmã do homem assassinado, demonstra toda a sua revolta quando o padre Barry (Karl Malden) dava os últimos sacramentos para Joey. No dia seguinte Glover (Leif Erickson) e Gillette (Martin Balsam), dois membros da comissão que investiga o crime nas docas, quer interrogar Terry, mas ele diz que não tem informação para lhes dar. Logo Terry conhece Edie e começa a se sentir responsável pela morte de Joey. O padre Barry cede os fundos da igreja para os portuários se reunirem com segurança e para ver o que está acontecendo. Charley diz a Terry para que vá à reunião e lá o padre pergunta quem matou Joey Doyle. O medo faz todos silenciarem. Não tendo conseguido nada e estando prestes a encerrar a reunião, os capangas de Johnny começam a quebrar os vidros da igreja. Os poucos que tiveram coragem de ir eram atingidos por golpes de canos ou tacos de beisebol, quando saiam da igreja. Barry jura para "Kayo" Dugan (Pat Henning), um dos portuários com maior representatividade, que não irá se intimidar com tal agressão. Paralelamente nada acontece com Edie, que foi retirada da igreja por Terry. Os dois conversaram, mas o pai dela odiou saber que sua filha estava com o irmão de Charley. Ele está ansioso para que sua filha volte para o colégio, mas ela diz que não partirá até a morte do irmão ser esclarecida. Edie reencontra Terry e, apesar de ter várias coisas nele que a desagradem, há algo que não consegue definir. Porém algo deixa a situação muito tensa, pois Dugan coopera com a comissão mas, enquanto trabalhava, um engradado "acidentalmente" cai em cima dele, matando-o.
CINE CAFÉ (CCBNB, JN)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no dia 4, sábado, às 17:30 horas, o filme Alien, o Oitavo Passageiro (Alien), EUA/Reino Unido, 1979, 117min). Elenco: Tom Skerritt, Sigourney Weaver, Veronica Cartwright, Harry Dean Stanton, John Hurt, Ian Holm, Yaphet Kotto. Sinopse: A nave espacial rebocadora Nostromo está em sua viagem de volta de Thedus para a Terra, rebocando uma refinaria e 20 milhões de toneladas de minério, carregando sete tripulantes em estase. Ao receber uma transmissão de origem desconhecida de um planetóide vizinho, o computador da nave acorda a tripulação. Agindo sob ordens de seus empregadores, a tripulação desanexa a Nostromo da refinaria e aterrissa no planeta, danificando a nave. O Capitão Dallas, o Primeiro Oficial Kane e a Navegadora Lambert saem para investigar a origem do sinal, enquanto a Subtenente Ripley, o Oficial de Ciências Ash e os Engenheiros Brett e Parker ficam para trás para monitorar seu progresso e consertar a nave. Dallas, Kane e Lambert descobrem que o sinal está vindo de uma nave alienígena abandonada. Dentro eles encontram os restos de uma enorme criatura alienígena, cujas costelas parecem ter explodido de dentro para fora. Enquanto isso, o computador da Nostromo parcialmente decifra o sinal da transmissão, que Ripley determina como algum tipo de aviso. Kane descobre uma grande câmara contendo vários ovos, um dos quais lança uma criatura que se prende a seu rosto. Dallas e Lambert carregam Kane para a Nostromo. Ash permite que eles entrem contra as ordens de Ripley para seguir o protocolo de quarentena da nave. Eles sem sucesso tentam remover a criatura do rosto de Kane, descobrindo que seu sangue é um ácido extremamente corrosivo. Eventualmente a criatura se solta sozinha e morre. Com a nave consertada, a tripulação continua sua viagem para a Terra. Kane acorda, aparentemente ileso, porém, durante uma refeição antes de voltarem para estase, ele começa a engasgar e ter convulsões até que uma criatura alienígena sai de seu peito, matando-o e fugindo pela nave. Sem armas convencionais, a tripulação tenta localizar e capturar a criatura criando sensores de movimento, aguilhões elétricos e lança chamas. Brett segue o gato da tripulação até uma grande sala onde o agora crescido Alien o ataca e desaparece com seu corpo pelo sistema de ventilação. Dallas entra no sistema de ventilação tentando forçar o Alien para uma eclusa de ar onde ele possa ser expelido da nave, porém ele é emboscado pela criatura. Lambert implora para que o resto da tripulação escape na nave auxiliar da Nostromo, porém Ripley, agora no comando, explica que a nave auxiliar não vai suportar quatro pessoas. Acessando o computador da nave, Ripley descobre que Ash recebeu ordens de retornar o Alien para os empregadores da Nostromo, mesmo que isso custe a vida de toda a tripulação. Ash a ataca, porém Paker intervém e corta sua cabeça com o lança chamas, revelando que Ash era um andróide. Antes de Parker incinerá-lo, Ash prevê que o restante da tripulação não vai sobreviver. As três pessoas restantes planejam ativar a sequência de autodestruição da Nostromo e escapar pela nave auxiliar, porém Parker e Lambert são mortos pelo Alien enquanto reúnem os suprimentos necessários. Ripley inicia a sequência de autodestruição e vai para a nave auxiliar com o gato da tripulação, porém o Alien bloqueia seu caminho. Ela tenta, sem sucesso, abortar a sequência de autodestruição. Ripley retorna e descobre que o Alien sumiu, escapando no último minuto da explosão da Nostromo. Enquanto ela se prepara para entrar em estase, Ripley descobre que o Alien está abordo da nave auxiliar. Ela coloca uma roupa espacial e abre a escotilha, causando uma descompressão explosiva que força o Alien a sair pela escotilha aberta. Ela atira com uma arma de gancho, porém a arma sai de sua mão e fica presa na porta, amarrando o Alien a nave. A criatura tenta ir para um dos motores, porém Ripley os ativam e o Alien é jogado para o espaço. Ela então vai para a estase junto com o gato, continuando sua viagem até a Terra. (Wikipédia)
CINE CAFÉ VOLANTE (BARBALHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Barbalha (Parque da Cidade), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 3, sexta feira, às 19 horas, o filme Rainha Cristina (Queen Christinna) EUA, 1933, 99min, dirigido por Rouben Mamoulian. Elenco: Greta Garbo (Rainha Christina), John Gilbert (Don Antonio), Ian Keith (Magnus), Lewis Stone (Oxenstierna), Elizabeth Young (Condessa Ebba Sparre), C. Aubrey Smith (Aage), Reginald Owen (Charles), Georges Renavent (Chanut), David Torrence (Arcebispo), Gustav von Seyffertitz General), Ferdinand Munier (Dono da hospedaria). Sinopse: Christina (Greta Garbo) é uma mulher determinada que busca sua liberdade, só que ela vive na corte sueca do século XVII, e tem de obedecer à vontade dos outros, muito por causa das restrições à mulher na época. Quando seus conselheiros pedem que ela se case com Carlos de França, ela resolve fugir da corte, e vestida como homem. É assim que ela encontra o embaixador espanhol Antonio (John Gilbert), que no início a confunde com um rapaz, e por quem ela se apaixona intensamente. O problema central é que ele é católico e ela protestante.
ARTIGO
Recebi dou publicidade este interessante artigo de um velho amigo, colega de bancos escolares na UFC, o Eng. Químico Jairo Costa, com respeito a Pe. Cícero e José Lourenço.
O QUE DÁ PRÁ RIR DÁ PRÁ CHORAR
JAIRO COSTA (Rio de Janeiro, 22.06.2015)
Falam que o boi mansinho foi endeusado pelo povo do beato Zé Lourenço e que por isso aquele povo não matou sua fome com ele e que o mesmo foi usado para manipular a fé de um povo sofrido. Outros dizem que aquele povo não estava com fome e por isso não o mataram e o tinham como garanhão para cobrir as vacas, entretanto tinha carinho, pois o mesmo foi dado pelo padim Ciço, enfeitavam o bicho que era tratado como uma pessoa e não como um santo (1). Onde está a verdade? A verdade está de acordo com as nossas convicções, nossos valores e a informação que dispomos. Vamos supor que o povo do José Lourenço estivesse mesmo adorando e endeusando o boi mansinho. Qual a diferença em adotar esta crença da que é adotada através dos dogmas das outras religiões transformadas em fé. Posso citar desde o incestuoso começo do mundo das religiões abraâmicas, passando pela existência e reencarnações de Krisna, indo pelo fantástico mundo do reino de Olorum, da criativa mitologia Grega até a mitologia de todos os povos indígenas, crenças politeísta ou monoteísta ou ainda o colegiado da santíssima trindade. Ao ler um pouco mais sobre o Baixa Dantas/Caldeirão e a questão religiosa de juazeiro do Norte iremos encontrar outro Padre Cícero que certas pessoas e as autoridades teimam em santificar ou coloca-lo como populista e manipulador da fé. Sabemos que, à revelia de Roma o padim Ciço já está canonizado! Neste aprofundamento iremos ver a correlação das forças que lutavam para manter a hegemonia não só no Cariri como em todo Nordeste e observaremos também que as contradições deste homem foram necessárias para amenizar o sofrimento deste povo largado à sua própria sorte, e que quando encontram um caminho criado por eles à margem do sistema vigente são destruídos sumariamente de uma forma covarde justificada na falácia e manipulação. O padre do Horto fez uma obra impressionante amalgamada na fé e política sendo por isso cheias de contradições justificadas. As contradições do Pe. Cícero ficam bem evidentes no episódio da expulsão do beato José Lourenço do sítio Baixa Dantas sem indenização alguma pelas benfeitorias (2) realizadas por lá, pelas oligarquias da região. Nesta ocasião o Pe. Cícero o conduziu para uma de suas terras na região conhecida como o Caldeirão dos Jesuítas, região procurada pelos jesuítas fugindo das perseguições pombalinas. Para entender o “latifundiário” Pe. Cícero é necessário estudar a obra do Pe. Ibiapina (3) que em sua missão usava o parabólico argumento cristão de que é mais fácil um camelo passar pelo furo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus, com isto angariava fundos para realizar seus projetos. Da mesma forma, sem usar diretamente este argumento, o padre Cícero ganhava muitas coisas tal como ganhou o boi (mansinho) do industrial Delmiro Gouveia. Assim está justificado a aquisição do Caldeirão que cederia ao Beato para continuar sua empreitada após sua saída (expulsão) do sítio Baixa Dantas, contrariando o poder local. Talvez o Pe. Cícero estivesse ciente de que, caso passasse estas terras para o nome do beato as elites cearenses poderiam toma-las com interpretações das leis que nestas ocasiões são sempre favoráveis aos poderosos de plantão e sempre atropelando o estado de direito. Assim o padre deu para a ordem dos Salesianos (4) que como ele sabia, era uma instituição com ações solidárias e sociais na Europa (Na Europa!). Como instituição seria mais respeitada. Aqui está a grande contradição do padre que ficou patente; como o Zé Lourenço homem de sua estima e parceiro da sua obra missionária, não mereceu por parte do Pe. Cícero a confiança de passar para o seu nome as terras do Caldeirão? Já ouvi de muita gente que leu a biografia do Pe. Cícero, escrita pelo Lira Neto e mudar de opinião sobre o referido Padre, que teve seus equívocos também. O Padre acumulou riquezas, mas não para si e sim para num momento oportuno lançar mão como no caso da doação do Caldeirão para o beato, sabia que o sistema vigente além de só reconhece efetivamente o TER e valoriza o SER apenas no discurso sofismático, só faz obras assistenciais que em hipótese alguma ameaçará o status quo. Se esta história não tivesse tido um trágico fim como o que teve, com o uso até de aviões ( Pela segunda vez o estado brasileiro usava aviões, a primeira foi no conflito do Contestado, entretanto aqui não teve conflito e sim extermínio) e a infantaria do exército de Caxias armado com metralhadoras e fuzis na destruição covarde deste povo desarmado e pacífico, não caberia estas colocações sobre o “abilolado” beato como assim é chamado na sinopse da escola de samba para o seu carnaval de 2016. Achamos que faltou um pouco de sensatez talvez por desconhecer a história da comunidade criada pelo beato, que desiludido morreu num pequeno sítio em Pernambuco. Num comentário sobre a postagem da escola de samba por um membro da SRZD é sugerido que o Padre Cícero seja mostrado como populista e de direita, o termo populista merece uma discussão a parte, partindo do que se entende por populismo. Agora dizer que o padre é de direita é estranho visto que ele deixou surgir sob sua batina a comunidade do Caldeirão considerada na época, por toda elite brasileira como uma comunidade onde o beato praticava sem saber um “marxismo prático” (5). Também chamar o beato de “beato abilolado” vide a sinopse da escola de samba é seguir na linha da imprensa da época que, como relata as pesquisadoras do IUPERJ, Adriana Ribeiro de Figueiredo e Simone Lisboa Marques em trabalho apresentado no XXVII Simpósio Nacional de História em 2013, mostra uma imprensa tendenciosa e empenhada em preparar a opinião pública para uma intervenção militar com o intuito de destruir a comunidade liderada pelo beato. Aliás, como aconteceu. Esta mesma linha tinha a finalidade de ignorar e desconsiderar o sofisticado sistema de produção implantado, pelo beato e seus seguidores, após o domínio da agricultura (6). Cabe salientar que esta comunidade enfrentou a seca de 1932, (após ter enfrentado a seca de 1915 em Baixa Dantas) já na localidade do Caldeirão prescindindo da ajuda dos governos federal e estadual, além de receber os flagelados que escaparam dos “campos de concentração” criados pelo estado brasileiro para conter pela força os milhares de camponeses sem trabalho como solução para o flagelo da seca (7). Segue abaixo a sinopse da escola de samba justificando seu enredo, as observações acima só foram feitas em respeito à memória dos que foram sumariamente fuzilados e mortos sem defesa pelas balas do estado brasileiro (8). Mas como diz o samba do grande William Blanco Abrunhosa Trindade (Billy Blanco) em seu samba CANTO CHORADO; o que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida, problema de hora e lugar, mas tudo são coisas da vida....! Não queremos com isso reagir na forma de embate e sim aproveitar este caso para mostrar o que foi a experiência do negro e beato José Lourenço, em um estado que até hoje boa parte de suas elites se orgulham por não ter negros por lá, para entender a cruel e covarde destruição do seu inovador intento nas terras cariri que como diz a música “ O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto” de Dudé Casado e Hélio Ferraz :
...A esperança
Que eu tive em minha vida
Eu botei toda naquela terra
Esperava colhe-la sem guerra
Esta era a minha intenção...
Encerrando o assunto, sabemos também, que a fé tem sido manipulada em todas as religiões para manter um povo sempre a serviço dos que a dirigem, com o beato foi diferente visto que pelos relatos e a forte reação a este modelo e em que pese suas limitações serviu para libertar um povo de um sistema em que muitos trabalham para poucos, lá o beato ia pra roça também. Também cabe salientar que este assunto foi mantido até pouco tempo desconhecido seguindo naturalmente à forte censura imposta pela ditadura do Estado Novo, ficando livre apenas os “causos” criados para justificar sua destruição e manter o esquecimento de sua verdadeira natureza.
Notas:
(1). FARIAS, Airton de. História do Ceará, 6ª Edição, Fortaleza, armazém da Cultura 2012. Capítulo 25 página 342.
CASIMIRO, Renato, ANTES QU’EU M’ESQUEÇA, ABC Editora, Fortaleza, Volume 3 página 87, 2000 - (Artigo publicado no Jornal do Cariri, 18/11/1998)
WIKIPÉDIA:...Com o intuito de pôr a comunidade em descrédito, espalhou-se um boato de que os membros idolatravam o boi Mansinho como a um deus.
(2). GOMES, Antônio MÁSPOLI de Araújo. A DESTRUIÇÃO DA TERRA SEM MALES, Revista da USP, São Paulo, página 60, 2009.
(3). BARROS, LUITGARDE Oliveira Cavalcanti de. A TERRA DA MÃE DE DEUS, Rio de Janeiro, Francisco Alves Editora S.A. Página 102, 1988.
(4). Idem, GOMES, Antônio MÁSPOLI de Araújo, página 62.
(5). Idem, FARIAS, Airton de, página 348.
(6). SILVA, Edison – CARVALHO, Marcos J.M. A SANTA CRUZ DO DESERTO, Resenha publicada na Revista CLIO, Nº 25.2, Recife, EDUPFE, 2007.
(7). FIGUEIREDO, Adriana Ribeiro de - MARQUES, Simone Lisboa (IUPERJ- RIO), O CALDEIRÃO DE SANTA CRUZ DO DESERTO SOB A PERSPECTIVA DA IMPRENSA CEARENSE, Trabalho apresentado no XXVII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, Natal, 2013. Página 7.
(8). Idem, Gomes, Antônio MÁSPOLI de Araújo, página 64.
Meu professor Renato Casimiro um historiador que ama Juazeiro do Norte, um homem que escreve e documenta a Meca do Cariri, para ele eu tiro o chapéu.
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