sábado, 17 de setembro de 2016


BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.

239: (06.09.2016) Boa Tarde para Você, Jaqueline Freitas
Cumprimento-a nessa tarde, Jaqueline, para em parte celebrarmos juntos os ditos e assinalados dezenove anos do Jornal do Cariri, transcorridos ontem, e rememorados hoje na sua edição dois mil setecentos e sessenta. Lembro com grata felicidade quando naquele início de setembro de 1997 eu recebi a notícia do próprio Demócrito Rocha Dummar – então presidente de O POVO, em cujas oficinas nascia o mais novo jornal me fazendo integrante do seu Conselho Editorial. Naquela formação original, eu fui acolhido ao lado de figuras notáveis como Antonio Martins Filho, Cícero Pereira de Sousa, Geraldo Menezes Barbosa, Francisco Gilmar Cavalcante de Carvalho, Francisco Huberto Esmeraldo Cabral, José Boaventura de Souza, José Roberto Barreto Celestino, Napoleão Tavares Neves, Pe. Gonçalo Farias Filho, Pe. Francisco Murilo de Sá Barreto e Raimundo de Oliveira Borges. E foi imensamente prazeroso, Jaqueline, especialmente nas suas primeiras 500 edições diárias ainda no formato de tabloide, participar dessa empreitada, vendo de perto na redação jornalistas da maior grandeza como Socorro Ribeiro, Elisete Cardoso, Fabíola Nascimento e Elizângela Santos, na primeira sede da Teófilo Siqueira, em Crato. Com esse título, o primeiro jornal caririense foi o Jornal do Cariry, com y, e circulou em Barbalha, a partir de 23.11.1904, editado pela Empresa Tipográfica Caririense, fundada em 01.05.1903 por José Joaquim Telles Marrocos – presidente, Manuel Soriano de Albuquerque – secretário e José Bernardino Carvalho Leite – tesoureiro. Suas oficinas, inicialmente, funcionavam em Crato, na Rua do Comércio, e o programa editorial do Jornal do Cariry visava a defesa dos interesses da agricultura, do comércio, da indústria, das artes e de tudo que pudesse servir à sociedade, à religião e à pátria. Seu lema era: “Terá de tudo para todos; só exclui o partidarismo político.” Com o afastamento de Soriano de Albuquerque, para Fortaleza (1905) e a morte de José Marrocos, em Juazeiro (1910) o Jornal do Cariry, sob a responsabilidade de José Bernardino (em Barbalha) teria circulação irregular, até que sua redação teria sido saqueada e o prelo trazido para Juazeiro, durante a Sedição de 1914. Há referências históricas a este mesmo título, sendo usado por um jornal que circulou em Lavras da Mangabeira, sem confirmação de data. Em Juazeiro do Norte, imagino que você também saiba Jaqueline, o atual Jornal do Cariri é o quinto empreendimento, e no meu arquivo eu tenho as edições desses jornais efêmeros, liderados por Dr. Antonio Conserva Feitosa e Aderson Borges de Carvalho, em 1950; por Aldemir Sobreira e Abraão Batista, em 1963; por Antonio Alves Nobre, em 1968, e por Wellington Balbino, em 1979. Apesar da distância desses 112 anos da existência desse título, os Jornais do Cariri não circularam mais que 24 anos, sendo este nosso último, o maior com seus 19, depois de diversas fases, por administrações, redações, oficinas e projetos gráficos. Importa-me dizer-lhe, Jaqueline, que ele está vivo – assim o sentimos, a ponto de que isso nos assegure que esta etapa que vive o Jornal do Cariri é fruto de uma determinação para dotar a região de um jornal permanente, com circulação que deveria retornar à periodicidade diária, como já fora. A região merece, embora não tenha feito muito para viabilizá-lo, tanto quanto seria necessário, como instrumento de sua cidadania e do seu multifacetado desenvolvimento. Quanto a mim, seu colaborador desde as primeiras águas, ora como pesquisador, ora como articulista, ora até como editorialista, sempre participante na sua divulgação, como me conservo ainda hoje, tenho a lamentar a pouca crença da região no seu veículo de jornalismo impresso. Posso até concordar com a reflexão que seu editorial faz hoje pelo avanço das novas mídias, diante dos jornais de folhas, mas ainda nos cabe um grande esforço, entre lideranças e setor produtivo, para que esse canal não ceda às tentações demoníacas impostas pelos cemitérios de jornais. Felicidades a todos vocês, Jaqueline Freitas, e toda a sua equipe de devotados operários por uma imprensa livre e transformadora, a serviço de um Cariri mais próspero e feliz. (Essa Crônica já deveria ter lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, desde 06.09.2016, mas até agora estamos esperando uma boa oportunidade para sua leitura, mesmo que a motivação do texto, em parte, já tenha sido superada.)

O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI
CINE SESC (CRATO)
O Teatro Adalberto Vamozi, SESC, Rua André Cartaxo, 443, Crato), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 19, segunda feira, às 19 horas, o filme OSLO, 31 DE AGOSTO (Oslo, 31, august, Noruega, 2011, 96min). Direção de Joachim Trier. Sinopse: Anders (Anders Danielsen Lie) é está se recuperando do vício em drogas numa clínica de reabilitação em Oslo. No dia 30 de agosto ele ganha a permissão para sair da casa de tratamento, visitar seu amigo Thomas (Hans Olav Brenner) e ir em uma entrevista de emprego no centro da cidade. Durante seu dia e noite na cidade, Anders será confrontado com seus erros do passado e irá refletir sobre sua própria existência.
ARTE RETIRANTE (CARIRIAÇU)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil - Cariri promove sessões de cinema, dentro da programação SESSÃO CURUMIM, na E.E.F. Julita Farias, em Caririaçu, exibindo no próximo dia 20, terça feira, o filme O GALINHO CHICKEN LITTLE (Chicken Little, EUA, 2005, 81min). Direção de W. Disney. Sinopse: No Filme Online O Galinho Chicken Little, conheça um mundo eletrizante e repleto de ação com o novo animado da Disney. O céu é o limite para tanta diversão e aventura. Quando o céu começa a cair de verdade e o desespero toma conta da cidade, quem poderá salvar o dia? Junto com seus amigos esquisitos e desajeitados, Chicken Little terá que criar um plano para salvar o planeta da grande tragédia e provar que um galinho pode se tornar o maio herói do mundo.
CINE SESC (JUAZEIRO DO NORTE)
O Teatro Patativa do Assaré, SESC, Rua da Matriz, 227, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 21, quarta feira, às 19 horas, o filme QUANDO MEUS PAIS NÃO ESTÃO EM CASA (Ilo, Ilo, Singapura, 2013, 99min). Direção de Anthony Chen. Sinopse: Singapura, 1997. A rotina da família Lim é modificada com a chegada de Terry, empregada doméstica que foi para a cidade sonhando com uma vida melhor. Encarregada de cuidar do filho do casal, ela desenvolve uma relação íntima com o menino.

CINE CAFÉ VOLANTE (MISSÃO VELHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil - Cariri, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Missão Velha (Auditório da SETAS - Secretaria do Trabalho e Ação Social (Antigo CSU), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 22, quinta feira, às 19 horas, o filme TAXI DRIVER (Taxi Driver, USA, 1976, 113min). Direção de Martin Scorsese. Sinopse: Em Nova York, um homem de 26 anos (Robert De Niro), veterano da Guerra do Vietnã, é um solitário no meio da grande metrópole que ele vagueia noite adentro. Assim começa a trabalhar como motorista de taxi no turno da noite e nele vai crescendo um sentimento de revolta pela miséria, o vício, a violência e a prostituição que estão sempre à sua volta. Perde bastante noção das coisas quando leva uma bela mulher (Cybill Sheperd), que trabalha na campanha de um senador, para ver um filme pornô logo no primeiro encontro, mas tem momentos de altruísmo ao tentar persuadir uma prostituta de 12 anos (Jodie Foster) para ela largar seu cafetão, voltar para a casa de seus pais e ir para a escola. Porém, em contra-partida, compra quatro armas, sendo uma delas um Magnum 44, e articula um atentado contra o senador (que planeja ser presidente) e para quem sua amiga trabalha.
CINE CAFÉ VOLANTE (NOVA OLINDA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil - Cariri, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Nova Olinda (Fundação Casa Grande), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 23, sexta feira, às 19 horas, o filme NEM SANSÃO NEM DALILA (BRA, 1954, P&B, 88min). Direção de Carlos Manga. Sinopse: O barbeiro Horácio chega ao serviço mais uma vez atrasado e se explica com o patrão, o senhor Artur. O primeiro cliente é Chico Sansão, lutador conhecido como "gorila humano". Ao deixar o homem careca quando se distrai flertando com a manicure Dalila, Horácio é perseguido e foge num jipe do entregador de fogos de artifícios. O amigo Hélio tenta impedir que Sansão bata em Horácio e os três estão no jipe quando atravessam uma parede e entram numa máquina do tempo no exato momento em que o inventor, professor Incognutus, a testava. Horácio, Hélio e o professor acordam no Reino de Gaza, muitos anos antes de Cristo. Enquanto Hélio e o professor são capturados pelos guardas do rei, Horácio que ficara vigiando o jipe conhece o famoso Sansão. O herói bíblico conta a Horácio que sua força descomunal vinha de uma "milagrosa” peruca. Ao trocar a tal peruca de Sansão por um isqueiro, Horácio transforma-se num homem forte e poderoso e parte para o Reino para libertar seus companheiros, conhecendo no caminho as irmãs Dalila e Miriam. Depois de uma rápida luta, ele passa a reinar em Gaza como um ditador bonachão. 

CINE CAFÉ VOLANTE (BARBALHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil - Cariri, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Barbalha (Auditório do Centro de Esportes e Artes Unificados Mestre Joaquim Mulato, Parque da Cidade, Parque da Cidade), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 23, sexta feira, às 19 horas, o filme UM DIA DE CÃO (Dog Day Afternnon, EUA, 1975, 120min). Direção de Sidney Lumet, Sinopse: Em agosto de 1972 um assalto em um banco no Brooklyn chama a atenção da mídia e transforma-se em um show com uma enorme audiência. Era um roubo que teoricamente duraria apenas dez minutos, mas após várias horas os assaltantes, Sonny (Al Pacino) e Sal (John Cazale), ainda estão com reféns. Enquanto tudo se desenrola a multidão apóia e aplaude as declarações de Sonny e fica contrária ao comportamento da polícia.

SESSÃO CURUMIM (CCBNB, JUAZEIRO DO NORTE)
O Centro Cultural BNB – Cariri, promove atividades infantis com exibição de cinema, na sua Sessão Curumim, no Auditório (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita, exibe no próximo dia 24, sábado, às 15 horas, o filme VALENTE (Brave, EUA, 2012, 93min). Sinopse: Merida é uma habilidosa e impetuosa arqueira, filha do rei Fergus e da rainha Elinor. Determinada a trilhar seu próprio caminho, ela desafia um antigo costume considerado sagrado pelos ruidosos senhores da terra: o imponente lorde MacGuffin, o carrancudo lorde Macintosh (voz de Craig Ferguson) e o perverso lorde Dingwall. Involuntariamente, os atos de Merida desencadeiam o caos e a fúria no reino e, quando ela se volta para uma velha feiticeira, em busca de ajuda, Merida tem um desejo mal-aventurado concedido. Os perigos resultantes a forçam a descobrir o significado da verdadeira valentia para poder desfazer o brutal curso dos acontecimentos antes que seja tarde demais.

CINE CAFÉ (CCBNB, JUAZEIRO DO NORTE)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 24, sábado, às 17:30 horas, o filme O CELULÓIDE SECRETO (The celluloid closet, França/Alemanha/EUA/Reino Unido,1995, 102min). Direção de Rob Epstein e Jeffrey Friedman. Sinopse: O filme é um documentário sobre como a homossexualidade foi abordada no cinema americano desde seus primórdios, assim como referências GLS nos filmes que nem você imaginava que existissem. Instigante e completo, o filme foi premiado no Sundance Festival, e daí começou sua carreira de sucesso em festivais por todo o mundo.

CINE CAFÉ VOLANTE (VÁRZEA ALEGRE)


O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões programadas, com entrada gratuita na Associação Comunitária do Sítio Caiçara, Várzea Alegre, exibindo no próximo dia 24, sábado, às 18 horas, o filme MAMONAS PARA SEMPRE (Brasil, 2011, 90 min.). Direção de Cláudio Kahns.  
CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no próximo dia 23, sexta feira, às 20 horas, um lançamento recente da cinematografia, mas o título não foi divulgado.

NOVAS DENOMINAÇÕES DE VIAS
A Câmara Municipal decretou e já aconteceu a sanção da municipalidade para diversas leis que nomeiam novas ruas da cidade, de acordo com os seguintes termos legais:

LEI Nº 4651, de 06.09.2016: Art. 1º – Denomina de RUA TACIANO MENDES BARBOSA, a rua projetada leste à rua Abnadabe Bezerra Júnior, início na rua Coronel José Gonçalves de Santana e término na rua Dão Almeida, sentido norte/sul, no bairro Lagoa Seca, nesta cidade. Autoria: Vereador Danty Bezerra Silva. Coautoria: José Nivaldo Cabral de Moura. 

LEI Nº 4657, de 08.09.2016: Art. 1º – Fica autorizado o prolongamento da RUA ANTÕNIO ELIOMAR FÉLIX, primeira rua paralela a oeste à Rua José Matias, com início na Avenida Valdelice Leandro de Menezes Figueiredo e término na rua Antônio Damasceno, sentido norte/sul, no bairro Aeroporto, nesta cidade. Autoria: Cícero Claudionor Lima Mota. Coautoria: Danty Bezerra Silva. 

LEI Nº 4658, de 08.09.2016: Art. 1º – Fica denominada de RUA LUIZ ANTÔNIO DE Souza (Construtor Luiz Catolé), a rua projetada B, com início ao norte, com a Avenida Paizinho Sabiá, ao sul, com a rua projetada D; ao leste, com a rua projetada C e ao oeste, com as Quadras B e A, no bairro Campo Alegre, nesta cidade. Autoria: Paulo José de Macedo e Maria de Fátima Ferreira Torres.

LEI Nº 4659, de 08.09.2016: Art. 1º – Fica denominada de RUA MANOEL JOSÉ DAMASCENO, a rua projetada D, com início ao oeste, na rua projetada B, ao norte, com as quadras C e D e término ao leste na rua Antônio Alexandrino das Chagas, no bairro Campo Alegre, nesta cidade. Autoria: Paulo José de Macedo e Maria de Fátima Ferreira Torres. 

LEI Nº 4660, de 08.09.2016: Art. 1º – Fica denominada de RUA MÁRIO VIDAL DA LUZ, a rua projetada A, com início ao oeste, com término ao leste com a rua projetada B, paralela a Avenida Paizinho Sabiá, no bairro Campo Alegre, nesta cidade. Autoria: Paulo José de Macedo e Maria de Fátima Ferreira Torres. 

LEI Nº 4661, de 08.09.2016: Art. 1º – Fica denominada de RUA LUIZ GONZAGA CORDEIRO (Luiz Cariri), a rua projetada C, com início ao norte, com a Avenida Paizinho Sabiá, ao sul com a rua projetada D, ao leste com a rua Antônio Alexandrino das Chagas e ao oeste, com a rua projetada B, no bairro Campo Alegre, nesta cidade. Autoria: Paulo José de Macedo e Maria de Fátima Ferreira Torres.

RECONHECIMENTO PÚBLICO
Através da LEI Nº 4662, de 08.09.2016 a municipalidade juazeirense proclamou: Art. 1º – Fica reconhecida de utilidade pública a ASSOCIAÇÃO AMIGOS DA COMUNIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE – ARTE CIDADÃ, fundada em 27 de dezembro de 2006, com sede e foro no município de Juazeiro do Norte, como sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos, apartidária e filantrópica, de caráter socioassistencial, de segurança alimentar e nutricional, esportivo e cultural, de duração indeterminada, regendo-se por seus estatutos sociais, bem como pelas leis, usos e costumes nacionais. Autoria: José Nivaldo Cabral de Moura.

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ARTIGO (I)


ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A CONSAGRAÇÃO COMPOSTA PELO PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA A NOSSA SENHORA

CÔN. JOSÉ WILSON FABRÍCIO DA SILVA, CRL.

No decorrer da história do cristianismo a devoção a Virgem Maria foi crescendo conforme o avanço da sistematização teológica sobre o plano divino da salvação. No século VII, já tínhamos além do reconhecimento da Maternidade Divina dado em 431, também constatamos uma liturgia celebrada em honra do nascimento da filha de São Joaquim e Santa Ana no mundo Oriental. Na Idade Média vimos surgir diversos homens e mulheres que se debruçaram sobre a teologia, extraindo um suave perfume chamado de nascimento da mariologia sistemática, tendo como representantes São Leão I[1] e o famoso monge São Bernardo de Claraval. Tais práticas de amor tributados à Mãe de Jesus se generalizaram em todo o orbe católico. Na Idade Moderna e Pós-Moderna começaram a aparecer devotos críticos e escrupulosos, tachando os piedosos atos de reverência à Mãe de Jesus de “indiscretos” ou “exagerados”. Na França, os jansenistas chegaram a distribuir vários panfletos contendo “advertências" contra os “excessos" de amor à Maria. Igual a algumas objeções encontradas nos dias de hoje. Para defenderem suas objeções, tinham como base a chamada “purificação do cristianismo”. Esses críticos diziam que o próprio Jesus tratou com desprezo sua mãe, pois a chamava de “mulher”. Nada mais falso! Se é verdade que o Filho de Maria quis humilhá-la, por que a quis escondê-la durante a vida para favorecer a sua humildade, como testemunham as próprias Escrituras[2]? Quer dizer, os Evangelhos falam pouco de Maria, porque seu objetivo não era fazer da mãe a verdadeira razão da Mensagem escrita, mas apresentar o “Filho da Mulher” como Senhor e Salvador do mundo. Também é certo que, após ascender aos céus, por vontade própria desejou ter ao seu lado aquela que o gerou na carne. Isto atestamos na imagem do Apocalipse no capítulo doze, onde vemos Maria como Imagem da Igreja já glorificada, como atesta a nossa fé. Fixar nossa atenção sobre a teologia mariana é chegar à conclusão de que cumpriu-se a profecia do Magnificat: “Doravante, todas as gerações hão de chamar-me bem-aventurada"[3]. Em algumas datas marcantes do ano, Juazeiro do Norte se transforma em um dos lugares de peregrinação católica mais visitados do Brasil. Dentre elas, citamos os dias vinte de cada mês, dia dois de fevereiro, quinze de setembro e dois de novembro. Qual movedor principal que atrai devotos de todo o Nordeste brasileiro e curiosos de diversas partes do mundo? Dizemos que é a fé na intercessão de Nossa Senhora implantada por Padre Cícero Romão Batista. Este sacerdote tornou-se no final do século XIX, um segundo Cura de Ars para o cariri cearense, chamando-os à conversão e a praticar a religião católica com seriedade. Nosso trabalho tem como objetivo, analisar a singela oração de consagração à Virgem Maria que vem atravessando gerações, chegando aos nossos dias com todo vigor, presente no coração da “Nação Romeira”. Existe algum problema para a teologia católica em interpretar e corrigir tal composição? Qual visão mariológica tinha o Padre Cícero ao propagar as devoções a Senhora das Dores e ao rosário, tão utilizado pelos fiéis católicos no século XX? Entremos nestas questões com um sentimento cristão, encarnando a vivência da devoção popular.

Oração de Consagração composta pelo Padre Cícero

“Mãe de Deus, Mãe Soberana, Mãe Poderosa, Nossa Senhora das Dores.De hoje para sempre eu me entrego a vós como filho e servo. Consagro ao vosso serviço o meu corpo, minha alma e tudo que me pertence. Abençoa a minha família, os meus trabalhos e meus haveres. Sede minha protetora na vida e conduzi-me ao céu para viver por toda a eternidade. Amém!”

Por que os católicos se consagram a Maria, se a verdadeira consagração é feita a Deus? 

Consagrar-se vem do latim cum sacrare e significa “tornar sagrado”. Uma pessoa ou um objeto se torna sagrado quando se dedica à Deus ao se oferecer e lutar por pertencer ao Senhor. Cada criatura humana batizada em nome da Trindade Santíssima se torna “propriedade do Divino”. Então, quer dizer, que se já somos exclusividade de Deus, “não precisamos mais nos consagrar a Maria?” Assim podem pensar alguns cristãos, e não estão errados. Porém, a Igreja ouvindo a manifestação de carinho de seus filhos e conhecendo a santidade e o lugar que a Virgem Santíssima ocupa no coração de Deus, não se manifesta contrária à tal prática devocional em nenhum período da história do cristianismo, porque foi o próprio Jesus que fez João receber Maria por mãe, e toma-la como propriedade em sua casa (Jo 19, 27).

"Consagração" é o nome curto dessa devoção, cujo nome completo é 'consagração a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, pelas mãos de Maria'. Para entendermos melhor o que vem a ser este ato de entrega filial dos católicos à Mãe de Jesus, é de fundamental importância conhecer a obra “Tratado a Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria” de São Luiz Grignion de Montfort. O santo mariano deixa bem claro que “consagração" é o nome curto dessa devoção, cujo nome completo é “consagração a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, pelas mãos de Maria". Ou seja, quando nos consagramos à Nossa Senhora, a entrega é feita a Cristo, por meio de Sua mãe. Podemos até fazer uma consagração diretamente ao Senhor, mas como ele inaugurou esta via segura que pode ser uma segunda opção de tocar profundamente o seu Santíssimo Coração, por meio de sua santa Mãe, nossa entrega não se perderá no caminho do céu. Isto jamais diminui a mediação de Jesus, Esposo da Igreja. Sendo assim, os cristãos se entregam de modo total a Maria de Nazaré (ou de Jerusalém, da Palestina, Lurdes, Fátima, Lujan, Ráquira, Aparecida, Belém, Juazeiro, Passira, etc.), repetindo o que também foi o lema do pontificado de São João Paulo II: Totus tuus ego sum, Maria, et omnia mea tua sunt – “Sou todo teu, Maria, e tudo o que é meu pertence a ti”. O Padre Cícero tinha consciência de que consagrar-se a Maria não significava apenas se colocar nas mãos daquela que gerou, alimentou, “educou”, e, desde o nascimento de seu Filho, soube contemplar os mistérios que sua razão não compreendera[4]. Mas, entendia que esta “total entrega” à Mãe de Deus resultaria em um meio seguro e eficaz de união com o Salvador da humanidade que a tem por “cuidadora especial”. O “Padrinho do Juazeiro” não duvida de que, aquela que acolheu e “conservou em seu coração”[5] a manifestação de Deus, pode também receber o pedido de pertença dos cristãos e colocar-se do lado deles, porque tem consciência que o pecado enfraquece a relação que o povo tem com o Filho, e, como mãe do “Juiz e do réu”, também pode assumir o papel de “advogada” entre ambos, apelando pela misericórdia do Justo e a conversão do injusto. A Virgem Maria tanto doa um pouco de nós para Deus, como doa tudo de Deus para nós. Isto pudemos constatar na sua visita a Santa Isabel: “Logo que a tua saudação chegou a meus ouvidos, a criança pulou de alegria em seu ventre; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo”.[6]Observem a palavra: “E Isabel ficou cheia”, repleta, foi tomada pelo Espírito de Deus, pelo simples e grandioso fato da visita inesperada da Mãe do Senhor em sua casa. Esta cena reclama de nós o silêncio! Não falemos, apenas contemplemos a alegria de João Batista ainda no ventre de Isabel e meditemos nas palavras proclamadas debaixo do teto da casa de Zacarias. Acreditamos que Maria está sempre aconselhando os “membros do corpo de Cristo” para “fazer o que Jesus deseja”[7]. E quando por vontade própria alguém decide cumprir seu mandato seguindo seu exemplo, ela procura incutir em sua consciência de que esta consagração só será perfeita se tiver como finalidade o alcance da santidade desejada por Deus: “Sede santos, como o Senhor vosso Deus é Santo”[8]

A concepção mariológica presente nas palavras do Padre Cícero

Padre Cícero sabia que ninguém melhor do que a Virgem Maria pode ser modelo

Padre Cícero sabia que ninguém melhor do que a Virgem Maria pode ser modelo, depois de Jesus, para todo o povo eleito tomar por seguimento em caminho de santificação. Ele crer que ela é a Theotókos[9] e Poderosa, não por méritos próprios, mas devido a missão de colaboração no Plano Divino da Salvação e pelos méritos exclusivos de Cristo. Pois, sem Jesus, Maria não teria tanta significância para o “novo povo de Deus”. Ao chamar Nossa Senhora de “Soberana”, não a quis colocá-la no mesmo patamar do verdadeiro Soberano de toda criatura. Mas, vivendo em um país onde o governo brasileiro ainda era Imperial, quer dizer, baixo a coroa da família real portuguesa, o Padre do Juazeiro equiparava a solicitude da Mãe de Jesus com a imagem da “Imperatriz” reinante no Brasil, porém, sendo a Senhora das Dores, mulher incomparável em graça e infinitamente em virtudes. Também acreditava o Padrinho Ciço, bem antes de ser promulgado, o Dogma da Assunção de Nossa Senhora, e, consequentemente, como reza o quinto mistério glorioso, a “coroação da Mãe do Cristo como Rainha”. Quer dizer, chamar Maria de “Soberana” é acreditar que ela já vive agora na Eternidade. Padre Cícero de uma forma bem humilde se coloca diante da Mãe de Cristo como um “filho e servo”. Ao se dispor com filiação significa afirmar que por ser um batizado e membro da Igreja, é bem mais significativo nunca se esquecer que mesmo sendo ministro ordenado, jamais deixou de ser filho da Igreja. Isto nos faz lembrar da passagem da Carta aos Hebreus no capítulo cinco, quando diz: “Todo sumo sacerdote é escolhido do meio do povo e constituído para representar este mesmo povo diante de Deus. Sua missão é oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Ele sabe ter compaixão dos que estão no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza”[10]. Nesta afirmação lembramos o grande Santo Agostinho que nunca se orgulhou de seu ministério colocado sempre a serviço dos necessitados. O Doutor da Graça certo dia afirmou: “Para vocês eu sou o Bispo, com vocês eu sou cristão”, recordando assim, que o ministro também necessita de salvação. Aqui, o padre do Juazeiro deixa resplandecer o seu lado devoto. Aquele que sempre está com as mãos estendidas para o céu, porque é de lá que vem o seu socorro. Também reconhece o padre, quão é necessário reclamar a maternidade de Maria e ao mesmo tempo declarar-se “servo” dela. Ser servo não por “idolatria”[11], mas por amor filial capaz de fazer morrer em si próprio suas vontades, para que o Reino de Deus chegue a todos, inclusive a quem lhe é dado por direito e dever: os pobres. São eles os “bem-aventurados”! Como dizia São Lourenço Mártir, “são os pobres o tesouro da Igreja”. Esta ideia de servidão estará plenamente fundamentada logo na introdução do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem de São Luís aqui já afirma: “Foi por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por meio dela que ele deve reinar no mundo”.[12]Este é o verdadeiro motivo que leva Padre Cícero olhar para a Mãe das Dores com total reserva, porque ela atrai a todos para Cristo, o único e suficiente Salvador do mundo. Padre Cícero entrega a Nossa Senhora “sua família, seus trabalhos e haveres”, porque sabe que quando vier a faltar o vinho[13] da alegria, do amor, da graça de Deus e da unidade, a Mãe de Jesus pode vir em seu socorro, porque tudo a ela foi entregue, para que vele como uma guardiã diante de Deus e dos homens, bem como for necessário. Logo em seguida, conclui sua consagração dizendo: “Conduzi-me ao céu para viver por toda a eternidade”. Aqui encontramos a concepção mais centralizada da mariologia, quando apresenta qual finalidade tem a Virgem Maria na vida da Igreja. Sua missão é atrair e conduzir a todos para Cristo, pois é ele a verdadeira “Porta das ovelhas”[14], onde se pode entrar para viver na eternidade. A Mãe de Jesus não descansará enquanto não ver todos os seus filhos agasalhados na casa do Pai, nossa morada definitiva (Jo 14, 2).

Continua:

Côn. José Wilson Fabrício da Silva, crl (Membro da Academia Marial de Aparecida)

[1] São Leão I é o primeiro Pontífice que apresenta um discurso elaborado em nome da Igreja após o Concílio de Éfeso de 431. Informações encontramos documentadas em: DOCTRINA PONTIFICIA IV: Documentos Marianos. Madrid: BAC, 1956.
[2]Mt 19, 16-19.
[3]Lc 1, 48; Ap 12, 1.
[4]Lc 1, 29.
[5]Lc 2, 51.
[6]Lc 1, 41.
[7]Jo 2, 5.
[8]Lv 20, 7; I Pd 1, 15.
[9]Theotokos é composta de duas palavras gregas, Θεός (Deus) e τόκος (parto). Literalmente, isso se traduz como portadora de Deus ou a que dá à luz Deus. O último título é composto de uma palavra distinta em grego, Μήτηρ του Θεού (transliterado Mētēr tou Theou). Outras palavras gregas poderiam ser usadas para descrever "Mãe de Deus", como Θεομήτωρ (transliterado Theomētor; também escrito Θεομήτηρ, transliterado como Theomētēr) e Μητρόθεος (transliterado Mētrotheos), que são encontradas em textos patrísticos e litúrgicos. As letras gregas ΜΡ e ΘΥ são abreviaturas utilizadas para os termos gregos de "Mãe de Deus", consistindo das letras inicial e final de cada palavra, a sua utilização é uma prática comum na iconografia ortodoxa para referir-se à Maria.
[10]Cf. Hb 5, 1-2.
[11]Idolatria tão condenada por Padre Cícero em suas lutas. Idolatria da ganância e do poder.
[12]MONTFORT, São Luís Grignion de. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Petrópolis: Vozes, 1949, p. 17.
[13]Jo 2, 3.
[14]Jo 10, 7.

ARTIGO (II)

PADRE CÍCERO, MODELO DOS PROPAGADORES DA DEVOÇÃO À VIRGEM MARIA NO BRASIL CÔN. JOSÉ WILSON FABRÍCIO DA SILVA, CRL. 


Não podemos seguir adiante com nossa reflexão, sem deixar de trazer aqui as consoladoras palavras da Igreja sobre o serviço apostólico do mais ilustre filho do Brasil, o grande Padre Cícero Romão Batista. Para os que não conhecem a verdadeira história do Vigário de Juazeiro, alguns Papas se ocuparam em conhecê-lo e acolhe-lo como verdadeiro amante da Igreja. Desde o Papa Leão XIII[15] que o recebeu pessoalmente para ouvir de sua própria boca os relatos que o envolvia, até os papas Bento XVI e Francisco que se interessaram por este servo de Deus, chegando a reconhecer no ilustre filho do Nordeste sua influência positiva, afirmando ser o Padre Cícero aquele que “continua a exercer junto aos romeiros, um papel educador da sensibilidade católica”[16]. Dentre tantas palavras expressas neste reconhecimento da Igreja, trazemos aqui a mais marcante citada: “É necessário, neste contexto, dirigir nossa atenção ao Senhor e agradecê-lo por todo o bem que ele suscitou por meio do Padre Cícero”.[17] Ali o povo não estava sozinho! A Mãe de Jesus, estava com ele.


A devoção propagada por este servo de Deus a Nossa Senhora das Dores, tocou profundamente o ser de todos os filhos do Sertão Nordestino do Brasil que passou a ver a vida com mais esperança, em meio a tanto sofrimento causado pela seca e pelos desmandos da política da época. Ali o povo não estava sozinho! A Mãe de Jesus, estava com ele. A forma mais concreta de se sentir próximo de Nossa Senhora, seria por meio da reza do Santo Rosário, da prática do Evangelho que deveria ser traduzida em boas obras. O próprio Padre Cícero não cansava de pedir aos fiéis que não deixasse de ter em casa duas coisas: “Um oratório e uma oficina”, traduzindo as palavras de Santo Agostinho em forma prática aquilo que deveria ser a vida cristã pautada na “Oração e no Trabalho”[18], tão fundamentais na vida do homem. É muito interessante vermos este contexto histórico, geográfico e político em que o “Padrinho” está situado. A pequena igreja de Nossa Senhora das Dores era para o povo a casa da Mãe. Vejamos o que diz Megale sobre esta devoção: Até a reforma litúrgica determinada pelo Concílio Vaticano II, a Igreja celebrava duas festas em homenagem a Nossa Senhora das Dores; a primeira, na sexta-feira da semana que chamavam “da paixão”, antes do Domingo de Ramos, e a outra no dia 15 de setembro. Na semana da Paixão, homenageava-se a fortaleza e a paciência com que a Santíssima Virgem suportou os sofrimentos de seu Divino Filho, ocasião em que seu coração de Mãe foi trespassado por uma espada de dor, conforme profetizava o velho Simeão. 

Na segunda festa das Dores de Maria (em setembro), que é hoje a única existente na liturgia romana, comemorava-se todos os seus sofrimentos, especialmente as sete dores principais que a Virgem teve durante a vida, paixão e morte de Jesus. 

Por esse motivo, a Imagem de Nossa Senhora das Dores, cuja invocação é relativamente recente, pois data do século XVIII, aparece algumas vezes com o coração trespassado por uma espada, outras, por sete punhais, mas em todas a sua fisionomia exprime agonia e resignação.[19] Padre Cícero, com seu amor de pai e pastor, não desanimou em meio a tanta dificuldade sofrida e sentida na pele, pelo simples fato de que Deus e o povo humilde tem prioridade na vida de todos. E em todos os lugares. A Virgem Maria, respassada com uma espada, tão devotada e propagada por este eminente sacerdote, para fazer parte da vida do povo, multidões vão a Juazeiro porque ali tinha um padre que poderia acolher a todos debaixo do manto de Nossa Senhora, mãe da Vida. Ir a Juazeiro, segundo os romeiros, pode renovar a esperança de quem sofre, por isto todos querem chegar lá, levando seus pesados fardos, depositá-los nos pés da Virgem das Dores, e voltar para suas casas com a coragem recebida, afim de mudar a realidade de morte deixada em suas terras de origem. Esta ação praticada pelos mais pobres nos faz lembrar da magnífica explicação do mariólogo espanhol José Paredes, quando vem dizer o seguinte: A espada que atravessará a alma evoca a espada de que fala com certa frequência o profeta Ezequiel: a espada da discriminação de que Deus se serve para dividir a seu povo em duas partes: os que caíram e os que formaram o resto dos sobreviventes. Evoca também o Servo de Jahweh, ao qual, chamado desde o seio de sua mãe, Deus lhe concedeu uma boca como espada afiada (cf. Is 49, 1-2). Também na linguagem neo-testamentária, a espada é símbolo da revelação divina, que atua ao mesmo tempo como juiz e obriga aos homens a manifestar as intenções ocultas de seu coração, produzindo neles uma divisão. Jesus mesmo dizia: “Eu não vim trazer paz, senão a espada” (Mt 10, 34) ... Na caída e levantamento de muitos em Israel, Maria figurará entre o reduzido número dos que se levantaram, pertencerá a este punhado de pessoas, como uma companhia dos crentes (At 1, 12-15).[20] Aqui nós vemos o sentimento mais eminente que estava presente no coração do Padre Cícero! Ao mesmo tempo podemos identificar algo misterioso que faz parte da mariofania tão estudada pela teologia mariana. Que lugar tem Maria, a mãe de Jesus, no pensamento deste amado filho cearense? Um lugar simultaneamente discreto e importante, sempre associado à pessoa, obra e missão de seu Filho, Jesus. Discreto, porque tudo gira e centra-se em torno do Coração de Jesus, da Sua pessoa e missão. Jamais encontramos nas palavras do Padre Cícero examinadas aqui, algum exagero que aos olhos da teologia fosse inadmissível. Podemos dizer que nas expressões do Vigário de Juazeiro identificamos uma manifestação de carinho de um povo para com a maternidade de Maria. Tal demonstração de amor é depositada sobre uma simples imagem de aproximadamente um metro e vinte de altura que atrai gerações de todas as partes do Nordeste para esta cidade do Juazeiro, transformando assim este lugar em um centro de peregrinação, capaz de chamar a atenção do mundo para a contemplação dos mistérios da Paixão, morte e ressurreição do Senhor.

Padre Cícero em Juazeiro, aponta para a Virgem Maria e para o Sagrado Coração de Jesus.

Esta devoção hoje em dia, ainda conserva a fé, irradia a misericórdia de Deus e reacende no coração do povo o desejo de continuar sua caminhada rumo ao céu. A mariologia não pode se calar frente a este ato devocional iniciado pelo Padre Cícero que a cada dia que passa só vem crescendo com uma força muito grande. A devoção a Virgem das Dores não é fruto de uma invenção do misticismo que a Igreja procurou sempre corrigir, mas nasceu do desejo da conformidade do povo cristão em unir-se à Via Sacra do Filho de Deus, em meio a tantos sofrimentos vividos. “Maria é mãe, passou por isto e conhece a minha dor”, assim expressa um devoto de Nossa Senhora educado pelo Padre Cícero. O doce Vigário tão citado aqui, ao escrever seu testamento, faz transparecer um forte amor pela Virgem Maria, citando-a por quinzes vezes, do começo ao fim. Dentre elas, duas nos chamaram a atenção quando diz: “Afirmo que nunca fiz mal a ninguém, nem a ninguém votei ódio, sem rancor e que sempre perdoei, por amor a Deus e a Virgem Maria”. E ainda: “Venerando e amando sempre a Virgem Santíssima Mãe de Deus, único remédio de todas as nossas aflições”.Nestas palavras somos impactados, não por seu forte teor devocional, mas por sua confiança filial na Senhora vista como um oásis em meio a dura realidade vivida pelo povo. Padre Cícero foi um promotor da justiça e da paz, sem falar muito, mostrou ser um verdadeiro homem de fé, procurando ser um imitador das virtudes da Mãe do Senhor. Para entender melhor esta afirmação, recordamos algumas palavras de um artigo publicado pela Academia Marial de Aparecida sobre a “imitação da Virgem Maria”, vejamos:

Imitar a Maria é nunca perder de vista o nosso fim último (o céu), procurando aplicar-se nas práticas virtuosas; Imitar a Maria é nunca perder de vista o nosso fim último (o céu), procurando aplicar-se nas práticas virtuosas, nas quais ela mesma nos deu o exemplo: O serviço da Caridade para com o próximo (Lc 1, 39), a prática da Oração que denunciava sua fé inabalável (At 1, 14), a Escuta da Palavra que demonstra seu terno amor a Jesus Cristo (Lc 2, 19) e viver em estado de Humildade profunda (Lc 1, 38), procurando sempre ser submisso à vontade de Deus em uma vida simples e silenciosa.[21]; Concluímos dizendo que o Padre Cícero traduziu da melhor maneira possível a grandeza de Maria para um povo simples. Concluímos dizendo que Padre Cícero traduziu da melhor maneira possível a grandeza de Maria para um povo simples, fazendo os mais humildes entenderem que Nossa Senhora “das Dores” é a mulher ícone do Mistério, mas ao mesmo tempo é Mãe; não somente de Jesus, o Cristo, mas de todos aqueles que a invocam. A devoção fomentada pelo “Padrinho” aparece como incentivo para a fé e amor a Jesus, permitindo a todos os que desejam entregar “suas vidas” e também “seus haveres” àquela que tem uma igrejinha “santuário” no meio do estado do Ceará da Federação Brasileira, possam recebam proteção nesta vida e descanso na glória futura.

Côn. José Wilson Fabrício da Silva, crl (Membro da Academia Marial de Aparecida)

[15]Padre Cícero teve um encontro com o Papa Leão XIII, do qual resultou na alegria de poder seguir exercendo seu ministério sacerdotal em “terras brasilienses” sem nenhuma restrição. Este encontro se deu no dia 06 de outubro de 1898. GUIMARÃES, Trerezinha Stella/ DUMOULIN, Anne. O Padre Cícero por ele mesmo. 2ª. ed. Fortaleza: Inesp, 2015, p. 147.
[16] Carta do Papa Francisco ao Sr. Bispo da Diocese do Crato – CE.
[17] FRANCISCO. Carta dirigida a Sua Excelência Reverendíssima Dom Fernando Panico – Bispo Diocesano de Crato. Congregazione per la Doutrina dela Fede. Protocolo 319/ 14-48388, de 27 de outubro de 2014. 

[18] Este lema tornou-se por meio da Regra de São Bento algo bem conhecido em todo o mundo, porém a origem dessas ações já foi registrada na obra de Santo Agostinho chamada “O trabalho dos Monges”, quase dois séculos antes de São Bento.

[19] MEGALE, Nilza Botellho. 112 Invocações da Virgem Maria no Brasil: história, folclore e iconografia. 2ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1986, p. 146.

[20] PAREDES, José Cristo Rey Garcia. Maria en la Comunidad del Reino: Síntesis de Mariogía. Madrid: Claretianas, 1988, pp. 105-106. Tradução livre.

[21] SILVA, José Wilson Fabrício da. A Imitação da Virgem Maria. Disponível em:http://www.a12.com/santuario-nacional/formacao/detalhes/a-imitacao-da-virgem-maria


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