sábado, 24 de março de 2018



UMA CAMPANHA DE DIFAMAÇÃO
(Por Floro Bartholomeu da Costa)
PRIMEIRA PARTE: A MORTE DO CAPITÃO J. DA PENHA
A título de contribuição ao documentário das questões políticas e sociais, ao longo da história de Juazeiro do Norte, passaremos a transcrever um texto contido na edição de Gazeta de Notícias (RJ), de 19.04.1921, publicação que segundo o periódico procura desfazer “acusações apaixonadas”. Ao iniciar, o jornal firma que são declarações que o próprio Floro faz, “a propósito das acusações que tem sido arguidas contra o sr. Floro Bartholomeu, candidato diplomado à deputação pelo 2º distrito eleitoral do Ceará. s. sia. para desfazê-las”. neste primeiro segmento, o deputado trata da morte do Capitão José da Penha Alves de Souza (*São José de Angicos, RN: 13.05.1875; +Miguel Calmon,CE: 22.02.1914). Vamos ao texto.
“- Tenho acompanhado a campanha de difamação levantada contra mim por um vespertino, e não é sem repugnância que vou me prestar a responder as perguntas da entrevista gentilmente solicitada pela ilustrada redação da “Gazeta de Notícias”. Como sabe, o redator chefe daquele vespertino é sobrinho do falecido Capitão J. da Penha, morto em combate, em Miguel Calmon, no Ceará, em Fevereiro de 1914, quando comandava as forças que o presidente Franco Rabello mandara ao encontro das forças revolucionárias vindas de Joazeiro. Iludido na sua boa fé por exploradores políticos que se querem aproveitar de seu jornal para os seus fins tendenciosos, aquele jornalista está convencido de que eu fui responsável pela morte do seu inditoso parente. A mais ligeira exposição dos fatos será bastante para fazer ver o erro em que laboram... Antes de tudo, é preciso dizer que eu não comandava em pessoa os contingentes revolucionários que, pela última vez, bateram em Miguel Calmon a polícia do Estado, porquanto eu me achava, naquele momento, na cidade de Joazeiro, a quarenta léguas do local da ação. Exerciam, por delegação minha, o comando dos revolucionários, naquela sangrenta refrega, o Coronel Pedro Silvino de Alencar, então deputado estadual e atual prefeito do município de Araripe, e o Dr. José de Borba Vasconcellos, professor da Faculdade de Direito de Fortaleza, e atualmente candidato do partido do Dr. Belisário Távora à representação federal, e neste momento presente nesta capital para contestar o diploma do Dr. Marinho de Andrade. Mas, assim posta de parte a minha responsabilidade pela morte do brioso militar, é justo acrescentar que nem mesmo sobre esses meus então companheiros de luta pôde recair a menor odiosidade ou ressentimento por parte da família do Capitão J. da Penha, pois a sua morte foi o resultado, como adiante narrarei, da sua imprevidência, aliás peculiar aos homens dignos e destemidos como ele o era. O fato ocorreu do seguinte modo. Na tarde de 24 de Fevereiro de 1914, os referidos chefes revolucionários fizeram seguir, de Affonso Penna para Miguel Calmon, o reduto do Capitão J. da Penha, um grande contingente, dividido em grupos, sob o comando de diversos subordinados, acompanhados de um guia. Sucedeu que, alta noite, em meio caminho, esse guia, fosse traição ou covardia, fugiu abandonando os grupos que guiava. Estes, palmilhando um terreno completamente desconhecido, marcharam na escuridão da noite, sem rumo certo. Ao amanhecer do dia seguinte, um domingo, cerca de seis homens, quando menos esperavam, os primeiros grupos, a meia légua de distância das ruas de Miguel Calmon, toparam com os inimigos em uma das trincheiras ali levantadas, travando-se imediatamente forte tiroteio. Nesta ocasião, outros comandados do Capitão Penha abandonaram outra trincheira onde se achavam, e foram em auxilio dos seus companheiros em luta. Ao mesmo tempo, um grupo de cinco homens de nossas forças, que na marcha se tinha desgarrado dos outros, vindo por lado diferente, chegava à trincheira abandonada, e ali parava, ignorando onde se achava à espera de outros companheiros. Pouco depois, viram aqueles homens, aproximando-se dessa trincheira, o Capitão Penha, fardado, a cavalo, desacompanhado. Os aludidos cinco homens, vendo-o, julgaram ser um soldado qualquer, e prepararam-se para disparar contra ele as suas armas. Ato contínuo, o Capitão Penha saltou do cavalo perto deles, e sacando de uma pistola de uso militar, disse: “Não me atirem, que não sou um canalha!” ou “Não me atire, canalhas!” recebendo neste momento os tiros que infelizmente o mataram. Então, os homens tiraram-lhe o “capote” que vestia, e encontrando em um dos bolsos a quantia de um conto e cem mil reis, dividiram entre eles a importância achada. Pela farda, reconheceram ser um oficial, mas não supuseram tratar-se de J. da Penha. E porque já era intenso o fogo em outros pontos, abandonaram a trincheira e dirigiram-se para o local da luta. Pouco depois da saída deste grupo que o vitimou, sobreveio um outro maior que, encontrando o cadáver, retirou do bolso da blusa, uma “chatelaine” de ouro e duas cartas, uma do Dr. Paula Rodrigues e outra do Coronel Costa Souza, então secretário da fazenda – cartas essas que foram publicadas no “Unitário” (jornal do Coronel João Brígido) – e de um dos dedos do morto, um anel de aliança. Recrudescendo o combate, que foi renhido, cada grupo de revolucionários tomou rumo diferente, conforme exigiam as circunstâncias da luta, e só no dia imediato, segunda feira, encontraram-se todos novamente em Affonso Penna, cinco léguas distante do lugar do combate, para onde voltaram durante a noite, depois de terminada a luta com o recuo dos inimigos. À noite, em Miguel Calmon, não aparecendo o Capitão Penha, os seus amigos sobressaltados resolveram procura-lo, sendo o seu cadáver finalmente encontrado, pela madrugada, no referido ponto onde falecera. Conduzido para o povoado, foi transportado depois em trem especial para a Fortaleza. E foi somente neste dia, segunda feira, que o Coronel Pedro Silvino e o Dr. José de Borba, em Affonso Penna, tiveram pelo telefone conhecimento da lastimável morte do malogrado oficial. Na terça-feira, seguiram as forças revolucionárias para Miguel Calmon, já então abandonado pelas forças governistas, e dali, não tendo mais com quem lutar, foram ocupando sem resistência as localidades que marginam a Estrada de Ferro de Baturité. Depois da Intervenção, quando voltaram ao Joazeiro as forças revolucionárias, foram-me entregues a “chatelaine” e o anel do Capitão J. da Penha pelos indivíduos que deles tinham apoderado, e pelos mesmos relatada minudentemente toda a ocorrência, inclusive a distribuição entre os mesmos da importância encontrada, e a entrega da pistola do Capitão Penha ao Coronel Pedro Silvino de Alencar. Os dois objetos que me foram entregues, por minha vez restitui-os, em Fortaleza, ao sogro do Capitão J. da Penha, por intermédio de amigos seus, dos quais tenho recibo. Portanto, meu caro amigo, em vista do que acabo de lhe historiar, e que é a verdade nua e crua, que responsabilidade posso ter eu pela morte deste moço, para ser tão selvagemente atacado pelo jornal de seu parente? Hão de convir todos os que me lerem que a imprevidência e a temeridade de Capitão J. da Penha foram as verdadeiras causas de sua morte: se ele, em vez de se destacar andando a cavalo, fardado de oficial, sem acompanhamento em pleno campo de luta, tivesse usado das precauções que eu usei em diversas conjunturas perigosas daquela campanha, adotando o traje comum dos combatentes, “até mesmo o de cangaceiro” (circunstância pela qual sou agora tão absurdamente incriminado) talvez a sua vida tivesse sido poupada. Finalmente, se o redator-chefe do “Rio-Jornal” está de boa fé, tão somente iludido pelas informações de dois inimigos pessoais que tenho a felicidade de possuir, o Dr. Antonio Xavier de Oliveira, autor do livro “Beatos e Cangaceiros” e o coronel José Francisco Alves Teixeira, ex-negociante do Crato, presente nesta Capital, não terá mais o direito de agredir-me pelo seu jornal. Se porém apesar desta minha afirmativa, continuar no mesmo diapasão de insultos, não mais lhe será lícito alegar que o móvel de sua irritante atitude contra mim seja justificável por uma questão de sangue, de família, pela morte enfim do seu estremecido parente, cuja memória muito respeito.” 

Observações: 1) O local da morte do Capitão J. da Penha era originalmente denominado São Bento. Posteriormente, em homenagem ao engenheiro construtor da estação ferroviária no local, o distrito passou a ser chamar de Miguel Calmon, e em 23.09.1907 foi anexado ao município de Senador Pompeu. Hoje é denominado de Ibicuã. 2) Quem foi identificado como o executor de J. da Penha foi o jagunço José Pinheiro. 3) A expressão “chatelaine” usada no texto, objeto muito típico na Europa, entre os séculos XVI e XIX, era um pingente decorativo usado na lapela, do “capote” que J. da Penha vestia, quando faleceu. 

(Na próxima Coluna, em 31.03, a continuidade do texto, tratando da intriga com o Dr. Antonio Xavier de Oliveira).

O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI

CINE GOURMET (FJN, JUAZEIRO DO NORTE)
A Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) agora também está incluída no circuito alternativo de cinema do Cariri. As sessões são programadas para as terças feiras, de 13:30 às 15:30h, no Laboratório de Informática do Bloco I, na Rua São Francisco, 1224, Bairro São Miguel, dentro do seu Projeto de Extensão denominado Cine Gourmet, sob a curadoria de Renato Casimiro. Informações pelo telefone: 99794.1113. No próximo dia 27, terça feira, estará em cartaz, o filme 
COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE (Como agua para chocolate, México,1992, 123min). Direção de Alfonso Arau; Sinopse: Tita (Lumi Cavazos) nasceu na cozinha do rancho de sua família, quando sua mãe (Regina Torné) estava cortando cebolas. Logo em seguida seu pai morre de um ataque cardíaco fulminante, por ter sua paternidade questionada. Com isso Tita é vítima de uma tradição local, que diz que a filha mais nova não pode se casar para que cuide da mãe até sua morte. Ao crescer Tita se apaixona por Pedro Muzquiz (Marco Leonardi), que deseja se casar com ela. Sua mãe veta o matrimônio, devido à tradição, e sugere que ele se case com Rosaura (Yareli Arizmendi), a irmã dois anos mais velha de Tita. Pedro aceita, pois apenas assim poderá estar perto de Tita.

CINE CAFÉ VOLANTE (COMUNIDADE DO SÍTIO MONTE,
CARIRIAÇU)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café Volante, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no dia 27, terça feira, às 19 horas, na Comunidade do Sítio Monte, em Caririaçu, o filme WALL-E (Wall-E, EUA, 2008, 98min.). Direção de Pixar Animation Studios. Sinopse: Após entulhar a Terra de lixo e poluir a atmosfera com gases tóxicos, a humanidade deixou o planeta e passou a viver em uma gigantesca nave. O plano era que o retiro durasse alguns poucos anos, com robôs sendo deixados para limpar o planeta. Wall-E é o último destes robôs, que se mantém em funcionamento graças ao autoconserto de suas peças. Sua vida consiste em compactar o lixo existente no planeta, que forma torres maiores que arranha-céus, e colecionar objetos curiosos que encontra ao realizar seu trabalho. Até que um dia surge repentinamente uma nave, que traz um novo e moderno robô: Eva. A princípio curioso, Wall-E logo se apaixona pela recém-chegada.
TRADIÇÃO
CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, 158, Centro, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe na quintas feira, dia 29, às 19:30 horas, dentro da Mostra de CINEMA, acatando SUGESTÕES dos frequentadores, o filme QUANDO FALA O CORAÇÃO (Spellbound, EUA, 1945, 118min). Direção de Alfred Hitchcock. Sinopse: A dra. Constance Petersen (Ingrid Bergman) trabalha como psicóloga em uma clínica para doentes mentais. O local está prestes a mudar de direção, com a substituição do dr. Alexander Brulov (Michael Chekhov) pelo dr. Edward (Gregory Peck). Ao chegar o dr. Edwards surpreende os médicos locais pela sua jovialidade e também por seu estranho comportamento. Logo Constance descobre que ele é na verdade um impostor, que perdeu a memória e não sabe quem é nem o que aconteceu com o verdadeiro dr. Edwards.
CINE CAFÉ VOLANTE (CASA GRANDE, NOVA OLINDA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Nova Olinda (Fundação Casa Grande), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 30, sexta feira, às 19 horas, o filme O ILUMINADO (The shining, EUA, 1980, 146min). Direção de Stanley Kubrick. Sinopse: Durante o inverno, um homem (Jack Nicholson) é contratado para fi car como vigia em um hotel no Colorado e vai para lá com a mulher (Shelley Duvall) e seu fi lho (Danny Lloyd). Porém, o contínuo isolamento começa a lhe causar problemas mentais sérios e ele vai se tornado cada vez mais agressivo e perigoso, ao mesmo tempo que seu fi lho passa a ter visões de acontecimentos ocorridos no passado, que também foram causados pelo isolamento excessivo.
CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, 158, Centro, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe na sexta feira, dia 30, às 19:30 horas, dentro da Mostra de CINEMA, acatando SUGESTÕES dos frequentadores, o filme INDIANA JONES E OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA (Raiders of thew lost ark, EUA, 1981, 118min). Direção de Steven Spielberg. Sinopse: Em 1936, o arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford) é contratado para encontrar a Arca da Aliança, que segundo as escrituras bíblicas conteria "Os Dez Mandamentos" que Deus revelou a Moisés no Monte Horeb. Mas como a lenda diz que o exército que a possuir será invencível, Indiana Jones terá um adversário de peso na busca pela arca perdida: o próprio Adolf Hitler.
IMAGENS ESQUECIDAS (VII)
Um dos problemas identificados na busca de registros fotográficos de Juazeiro do Norte é a inversão da então negativa, quando da sua reprodução. É o que se verifica nessa imagem, cujo fotógrafo, segundo o depositário (CPDOC/FGV, RJ) seria o sr. Ildefonso Simões Lopes, em 1922. A foto como está arquivada é a da esquerda, veja-se pela logomarca. Contudo, ela só seria a imagem da realidade, conforme a inversão, da direita. Trata-se de um pequeno trecho do início da Rua São José, onde se vê o que poderia ter sido o Palácio Episcopal, do planejado Bispado do Ceará, sonhado pelo Pe. Cícero, e junto uma moradia construída anexa, na mesma época. Aí residiu por algum tempo os padres salesianos e franciscanos que vieram se instalar em Juazeiro, bem como foi morada para a família do escultor Agostinho Balmes Odísio. A terceira construção serviu nos anos 30 para o Instituto Dom Vital e depois Instituto Salesiano, primeira instalação do atual Colégio Salesiano.
IMAGENS ESQUECIDAS (VIII)
Esta foto também integra um pequeno álbum de fotografias da viagem do deputado paulista Paulo de Moraes e Barros, nas companhias de Ildefonso Simões Lopes e do General Cândido Rondon. Nela a igreja no seu aspecto original, quando da construção pelo Pe. Cícero, em substituição a velha capelinha, do tempo do Brigadeiro Leandro Bezerra. De original, o aspecto lateral esquerdo da igreja, pois em fotografias outras, desta mesma época, não se tinha a visão da construção lateral, em dois pavimentos. Uma reforma posterior levou a construção neste local da capela do Santíssimo Sacramento, que já foi decorada pelo escultor Agostinho Balmes Odísio. Logo em seguida, mais ao fundo, são vistas as construções da futura casa paroquial (ainda sem a vizinhança com o Círculo Operário) e mais ao fundo se vê a residência da família de Dirceu Inácio de Figueiredo.
IMAGENS ESQUECIDAS (IX)
Nessa imagem está reproduzida como era o canto das ruas do Brejo com a Rua Pe. Cícero, com estreita passagem para a rua de trás, a São José. Nessa época, a passagem para o Salgadinho e o acesso da estrada para São Pedro da Serra (Caririaçu) estava mais para a direita, e oculta na imagem. Note-se que ao fundo se vê a elevação da serra do Catolé, com algum destaque para o volumoso casarão do Pe. Cícero em seu topo. A origem é a mesma das anteriores, pelo fotógrafo Ildefonso Simões Lopes, em 1922. Ildefonso Simões Lopes era um gaúcho de Pelotas, deputado federal por seu Estado. Foi ministro de estado dos negócios de Agricultura, Indústria e Comércio, no governo de Epitácio Pessoa, entre 1919 e 1922. Esteve em Juazeiro pouco depois que deixou o ministério, integrando uma comissão de estudos no Nordeste, na companhia do marechal Rondon, políticos e técnicos.

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