Recebi o agradabilíssimo telefonema do
desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará, Durval Aires de Menezes Filho,
que me comunica o lançamento de dois livros de seu avô, Otávio Aires de
Menezes, jornalista militante em Juazeiro do Norte, até novembro de 1966,
quando faleceu. Os originais de pelo menos um destes dois livros já havia sido
consultado por Ralph della Cava, por ocasião de sua pesquisa, que redundou na
belíssima tese de doutoramento, depois impressa nos Estados Unidos com o título
de Miracle at Joaseiro (1970), e finalmente, em 1977 traduzida para o português
sob o título de Milagre em
Joaseiro. Em verdade, na relação de manuscritos não
publicados, della Cava cita os textos “O Joaseiro e Seu Legítimo Fundador Padre
Cícero Rumão Batista (Juazeiro do Norte, 1963) e “Col. Franco Rabelo e a
Revolução do Joaseiro (Juazeiro do Norte, 1964). Os dois livros que serão
lançados no Ideal Clube, no próximo dia 11 de dezembro, às 19:30h, são:
Juazeiro e Seu Legítimo Fundador o Padre Cícero
Romão Batista, história da cidade;
Joaseiro Antigo, história do Padre Cícero, seu
povo e sua cultura.
Bem recentemente, sob a coordenação de Felipe
Caixeta, foi publicado um pequeno livro de Otávio Aires de Menezes, sob o
título de Dias de Reis no Juazeiro de Outrora (2008).
O organizador destas duas obras, neto do autor
das duas obras é um intelectual que herdou de seu pai, Durval Aires de Menezes,
jornalista e membro da Academia Cearense de Letras, o gosto pela vida
literária, sendo pessoa atuante no meio cearense e fora dele. Presentemente ele
é candidato ao preenchimento de uma das vagas existentes na Academia Cearense
de Letras. Eis o que ele nos diz de seus antecedentes, de si e da sua
contribuição intelectual:
“O alto da
torre começa no solo, diz um provérbio, o que, noutras palavras, quer dizer que
ninguém chega a algum lugar sem uma base. Pois bem, estimulado por um grupo de
escritores, a minha decisão de concorrer a uma vaga da Academia Cearense de
Letras, parte de uma decorrência natural: primeiro, minha descendência;
segundo, puxado por esta origem, a vocação. Aliás, minha família caririense
sempre foi ligada às letras. Meu terceiro avô, o deputado provincial Aristides
Ferreira de Menezes (tio do grande Djacir Menezes), produziu muitos discursos e
peças jurídicas. Foi Promotor de Justiça junto a Comarca do Crato, certamente,
uma forte influência na minha carreira de Desembargador. Na mesma linha, sou
trineto do tenente-coronel José Joaquim Lobo, o famoso "Lobo de
Joaseiro", uma personalidade ativa que defendeu intransigentemente o Padre
Cícero Romão Batista. Fundou ligas religiosas, produziu documentos de defesa,
(uma dessas peças, por sinal, foi recolhida pelo pesquisador Ralph della Cava),
angariou fundos, vendeu propriedades suas, e reuniu recursos para que o
Patriarca de Juazeiro pudesse se defender em Roma, no famoso processo canônico,
que sociólogos nominaram de "Questão Religiosa".
Meu avô
Otávio Aires de Menezes foi escritor atuante. Além de ter produzido centenas
crônicas para serem lidas na Rádio Educadora de Juazeiro, deixou duas obras
inéditas: O Juazeiro e seu legítimo fundador o Padre Cícero Romão Batista e O
Joaseiro Antigo, história da cultura. Recebido de minha avó esses dois
originais, depois de ler e reler os manuscritos, passando para o mundo virtual,
acabo de publicá-los, com uma edição cuidadosa, por conta da Contemporânea e
LCR, com capa do artista plástico Sérgio Lima, e lançamento previsto para o
início de dezembro. Na verdade, uma reunião de textos que contribui com o tema,
como avalisa Felipe Caixeta: "a crônica de seu Otávio Aires reaparece,
assim, não como um retrato de um espetáculo que passou, mas como uma
colaboração para aprofundar as ações práticas do presente". Aliás, o
próprio Ralph della Cava aguardava a iniciativa editorial, pois "sempre
achava que os escritos dele (Otávio Aires), também mereciam publicação. Dou
chapéu ao senhor por tê-la publicado", avisa em postagem recente o
renomado sociólogo da Universidade de Columbia.
Meu pai, o
jornalista Durval Aires de Menezes, foi grande escritor, ocupou a cadeira n 27.
Publicou quatro novelas: Barra da Solidão; Os Amigos do Governador; Uma Estrela
da Manhã e o Manifesto de Agosto. Depois de sua morte, essas narrativas foram
agrupadas em um volume que recebeu o título de "Ficção Reunida",
levada a lume pela editora da UFC, passando a integrar a programação editorial
Casa de José de Alencar, com a apresentação do escritor Dimas Macedo (Para ler
Durval Aires), e iniciativa do próprio Reitor Antônio Martins Filho. Apenas
para ativar a memória, Durval trabalhou com Carlos Drumond de Andrade.
Pertenceu aos jornais Diário do Povo (dirigido pelo poeta Jáder de Carvalho e
dona Margarida Sabóia de Carvalho); O Democrata, de orientação marxista, ao
lado de Aníbal Bonavides (irmão do laureado professor Paulo Bonavides), e quase
todos os grandes impressos aqui na terra alencarina, desde o matutino Tribuna
do Ceará, passando por Gazeta de Notícias, O Povo e Diário do Nordeste.
Vale
mencionar: com essas novelas publicadas, meu pai obteve reconhecimento
nacional. Os Amigos do Governador, por exemplo, ganhou uma resenha publicada no
jornal O Estado de São Paulo, assinado por Lívio Xavier. Recordo-me que o
crítico havia comparado Durval com o escritor Jorge Amado, mas com salto de
superação em qualidade estética. Pensei que fosse simples argumento. Quando
ofertei essa coletânea a Leopoldo Serran (escritor e roteirista das melhore
séries da televisão brasileira), ele ficou impressionado com a forma diferente
de escritura. Moacir C. Lopes, o grande autor de A Ostra e o Vento, ao ler
essas novelas, não se conformou em não ter conhecido o meu velho, porque eram
da mesma geração. Como meu pai trabalhou, em suas ficções, o tempo em diversas
possibilidades, o Moacir abordou uma outra vertente, adotando o tempo eterno,
absoluto, o que, com certeza, demandaria entre ambos, muita conversa sobre
exercício literária.
Quanto a
mim, desenvolvi e publiquei vários ensaios literários e contos, colaborando em
suplementos dos principais jornais da terra. O conjunto desse trabalho me
rendeu a qualidade de jurado no Prêmio Goeth de Literatura, quando escolhi,
conjuntamente com outros membros, o escritor Rubem Fonseca, para representar o
Brasil na Feira Internacional do Livro em Frankfurt. Antes
desse tempo, trabalhei como jornalista no Jornal O Povo, na época dos saudosos
Demócrito Dummar e José Raimundo Costa. Aliás, meu primeiro editor em
literatura não foi o jornalista Carlos Augusto Viana, mas o sempre lembrado
Rogaciano Leite Filho, quando publicou um conto meu que havia sido vencedor em
um concurso no BNB. A mesma curta estória (Uma Nova Pauta como o Diabo), vale
registrar, consta da coletânea O Cravo Roxo do Diabo, o Conto Fantástico no
Ceará, organizado pelo escritor Pedro Salgueiro, com supervisão da maior
referência em História da Literatura do Ceará, o professor Sânzio Azevedo. Por sinal,
lembrando o pesquisador, é tradição da ACL privilegiar a estirpe, a vocação
literária em caráter genético. Assim, Rafael Sânzio de Azevedo era filho do
acadêmico Otacílio de Azevedo, que foi artista plástico e poeta. Monsenhor
Francisco Manfredo Ramos, filho de Ribeiro Ramos. Como ele, Cid Sabóia de
Carvalho é filho do poeta Jáder de Carvalho, além da família Maia, pois
Luciano, Napoleão e Virgílio são irmãos e todos pertencentes a Academia
Cearense de Letras.
Em 2008,
vencedor de um projeto para o Ministério da Cultura, publiquei O Homem do Globo
e outros contos, pela editora Fundação José Boiteux, do sul do país, com
orelhas assinadas por Moacir C Lopes e Tarcísio Holanda. Posteriormente, o
livro foi contemplado com uma resenha do poeta Francisco Carvalho, então
publicado no Diário do Nordeste. No momento, tenho um livro de contos inédito,
tendo publicado uma dessas narrativas no Jornal de Poesia, organizado pelo
poeta Soares Feitosa. Portanto, como me animou, anos atrás, Moacir C Lopes, a
literatura está na minha memória genética, constitui parte de mim. É com esses
credenciais, senhores acadêmicos, juntando-se ao incentivo de um pequeno grupo
de intelectuais que fazem parte da mesma ACL, que postulo uma vaga e assento de
uma cadeira que compõe a mais antiga academia de letras do país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário