BOM DIA!(I)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (V)
Por Renato Casimiro
Por Renato Casimiro
Esse modesto relato sobre a grandeza da vida e da obra de Lourival Marques de Melo não vem seguindo uma disciplina no rigor sobre a narrativa mais típica de uma biografia. Preferi fazê-lo, face a aparente escassez de fontes, ditada pela emoção de encontrar um personagem riquíssimo na história oral de minha terra, imerso em fragmentos de registros documentais e publicações esparsas porque para mim, pelo menos, isso se reveste de um encanto particular, algo que aprendi, não academicamente, sem seguir nenhuma receita. Assim, volta e meia, vamos rever etapas anteriores para detalhar fatos relevantes sobre suas origens e demais condicionantes dessa existência. Recomeço por agradecer a imensa gentileza com que o Pe. Francisco Roserlândio de Sousa, titular do Departamento Histórico Diocesano Pe. Gomes (DHDPG) da Diocese de Crato que, revendo velhos livros de assentamento de atos religiosos referente ao Joazeiro, encontrou e me remeteu a imagem do registro do batismo de Lourival. Ele está nos seguintes termos: “Lourival – Aos nove de Abril de mil novecentos e dezesseis na Capella do Joazeiro, desta freguesia do Crato, deste bispado, batizei solennemente o párvulo Lourival, nascido a cinco de novembro de mil novecentos e quinze, filho legítimo de Sebastião Marques dos Santos e Maria da Conceição. Foram padrinhos Floro Bartholomeu e Roza Esmeraldo. Para constar lavrou-se este assento que assigno. Pe. Pedro Esmeraldo da Silva.” Há muito tempo me persegue uma expressão segundo a qual elaborar um texto, sem seu devido contexto, pode virar pretexto, que é a forma declarada para escamotear a verdadeira razão do que se pretende dizer, uma desculpa, um subterfúgio, uma alegação inconsistente que, quando descamba para as entrelinhas, assume o caráter de uma ficção perversa em torno do fato histórico. Procuro fugir disso com o mesmo medo com que o demônio foge da cruz, por ser caminho fácil para entronizar pequenas inverdades, graves mentiras e até trágicas interpretações. A história do Joazeiro, por exemplo, tem diversos desses exemplos. A esse respeito, esse primeiro documento da certidão de batismo de Lourival Marques, faço algumas observações à luz desse assentamento. Lourival nasceu no ano terrível da seca de 1915. Dizem os historiadores que a rigor a seca sob o Ceará se iniciou com o péssimo inverno de 1914, atingiu o ápice durante todo o 1915, quando as precipitações pluviométricas estiveram em torno de 50% abaixo da média histórica do Estado. E se estendeu perversamente até o início de 1916 que, felizmente, foi de um copioso inverno, também no Joazeiro. Lourival é um cristão novo na Páscoa de 1916, sob essa esperança de que o pior já tinha mesmo passado. Era o domingo, o dia de Ramos, no ciclo da Páscoa do Senhor, no tempo da Quaresma, com a leitura solene da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, na missa dominical da Capella do Joazeiro, a menos de um ano antes para se tornar Paróquia, com a égide do Bispado de Crato, sob o zelo pastoral do primeiro bispo, D. Quintino. A Capela de Joazeiro, antes de Paróquia, era zelada pelo Pe. Pedro Esmeraldo da Silva (Gonçalves, assim aparece em biografia livresca), o mesmo que seria titulado primeiro pároco, em janeiro de 1917. A data do fato, e pela imagem das duas páginas do documento que me foi franquiado, indica que a Capella estava em ritmo de regularidade, pois há assentamentos de batismos nos dias 8, 9, 10, 11 e 12. Houve tempo, em decorrência das sanções eclesiásticas sobre os Factos Extraordinários do Joazeiro, em que isso só acontecia mensalmente e em muitas outras ocasiões na Paróquia de Nossa Senhora da Penha, em Crato. Quando batizado, Lourival tinha a idade de 5 meses e quatro dias de vida, ou 156 dias de nascido. A praxe documental aplicava-lhe o termo párvulo, de origem espanhola que quer dizer se tratar de um menino, ou menina, muito pequeno, com idade entre 84 dias e 5 anos e 11 meses, na etapa de pré-escolaridade, antes de ir para a escola básica. Nessa cerimônia, habitualmente após a missa, foram batizadas oito crianças, 3 meninas, 5 meninos - Lourival uma delas. Da relação, reconheci também João, filho do velho bodegueiro Firmino Teixeira Lima, conhecido de minha infância na Rua São José, amigo de meus pais, pois ele, pai de Elísio e Plácido, das fraternas amizades juvenis de Luiz Casimiro. Pelo lado materno, Lourival vinha de dois profundos troncos da genealogia cratense, entre Esmeraldo e Mello. Sua mãe, Maria da Conceição, ao que nos parece, descende de José Ribeiro da Silva que, por motivos ignorados passou a se assinar José Esmeraldo da Silva e é o fundador do numeroso clã que se estende muito pelo Cariri e não pouco pelo pais. Lamentavelmente, por enquanto, vou ficar devendo uma menção mais consistente sobre dona Maria da Conceição (Esmeraldo) Marques Melo porque não foi possível encontrar menção sobre si no ótimo trabalho do traçado genealógico de Pancrácio Esmeraldo, contido na web. É provável que dona Conceição é do ramo Esmeraldo que por longo tempo residiu no Sítio São José. Pela mesma lamentável razão, se estica a dívida para com os Marques dos Santos, de Sebastião. Nesse termo de batismo, além do que foi mencionado para os pais e o celebrante, duas outras menções devem ser feitas, nas pessoas dos padrinhos do garoto, Floro Bartholomeu (da Costa) e Roza Esmeraldo (da Silva). Floro é uma figura histórica extremamente importante e sobre ele muito já se escreveu o que anda disperso em centenas de livros. Quanto a Roza, certamente parenta próxima de Conceição, também é uma figura antiga e notória, já residindo em Joazeiro, filha do patriarca José Esmeraldo da Silva, o criador da família, foi a única que não se casou, uma das fundadoras da Irmandade do Coração de Jesus, em 19 de outubro de 1888, na então Capela. Outra informação é o que consta no testamento do Pe. Cícero, citando Roza como ocupante de sua casa, deixada para o patrimônio de Nossa Senhora das Dores, na execução do termo, após sua morte, em 1934. A residência de Rozinha Esmeraldo era uma grande referência para a história de Juazeiro. Essa casa serviu para abrigar a dissidência da assembleia legislativa do Estado do Ceará, no momento grave da Sedição de 1913-14, e como tal aí funcionou a sede do Governo do Estado do Ceará, de onde, inclusive, emanaram alguns documentos testemunhando este fato de exceção na vida política do Ceará. Infelizmente a casa não existe mais, apenas se guardou uma fotografia dela, aí tendo funcionado também a uma delegacia de polícia. Na juventude de Lourival, conforme me assegurou minha tia Maria Soares, Sebastião, Conceição e seus filhos moravam vizinho aos Soares, de Antonio e Eudócia, na Rua São Francisco, e aí teriam ficado até quando Lourival parte para Fortaleza e Rio de Janeiro. Depois disso, Conceição e Sebasto adquiriram uma nova casa, bem próxima de Rosa, na Rua Pe. Cícero e aí moraram por vários anos.
Na foto: Floro Bartholomeu da Costa, Rosa Esmeraldo da Silva e o velório do Mons. Pedro Esmeraldo da Silva, em Juazeiro do Norte, outubro de 1934, vendo-se o pai de Lourival, jornalista Sebastião Marques e a professora Maria de Lourdes Esmeraldo.
BOM DIA!(II)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (VI)
DEPOIMENTOS (1)
Por Renato Casimiro
DEPOIMENTOS (1)
Por Renato Casimiro
A própria imprensa contemporânea ao auge do trabalho que Lourival Marques realizava pelo rádio divulgava que seu arquivo era algo fascinante pelo conteúdo e a versatilidade com que ali se encontrava “de um tudo” para realizar as obras que concebia. Uma dessas preciosidades era o que ele mesmo denominou de Série Depoimentos. Esta série inclui o que, a nosso ver, se constitui na melhor documentação jamais reunida para servir de subsidio a quem desejar contar a verdadeira história da Rádio Nacional em particular e a do rádio em geral. Todos os depoimentos constantes desta série foram obtidos por Lourival Marques para serem utilizados nos programas que ele escreveu por ocasião das comemorações do quadragésimo aniversário da emissora. Na época foram ouvidos: José Mauro, Haroldo Barbosa, Paulo Tapajós, Radamés Gnattali, Alberto Lazzoli, Maestro Chiquinho, Luciano Perrone, Amaral Gurgel, Ghiaroni, Floriano Faissal, Saint Clair Lopes, Edmo do Valle, Silvino Neto, Brandão Filho, César de Alencar, Manoel Barcelos, Antônio Cordeiro, Ruy Rey, Jorge Veiga e Jorge Fernandes. A todos Lourival pedia inicialmente que eles falassem de si mesmos, antes de chegar a Rádio Nacional e só na parte final cada um falava de sua participação na emissora. Há casos sensacionais e passagens da maior dramaticidade e também da maior hilaridade com os humoristas entrevistados. Veja a seguir as principais informações contidas em cada um deles. Entre parênteses está registrada a duração de cada depoimento.
DEPOIMENTO DE JOSÉ MAURO (00:44:45): José Mauro foi um dos primeiros diretores artísticos da Rádio Nacional. Mais precisamente o terceiro. O primeiro foi Oduwaldo Cozzi. O segundo Celso Guimarães e finalmente o terceiro José Mauro. Veio do jornal A noite onde trabalhava como redator. Ele se destacou logo na Rádio Nacional e acabou se transformando num dos mais dinâmicos diretores da Rádio Nacional. Foi em sua gestão que surgiu a novela Em Busca da Felicidade, o programa Um Milhão de Melodias, Rádio Almanaque Kolynos, Dona Música, O Repórter Esso, Neguinho e Juracy, Aquarelas do Brasil, Aquarelas das Américas, e Aquarelas do Mundo, Instantâneos Sonoros do Brasil, de Almirante, mas com texto de José Mauro. Enfim: o homem se revelou um gênio no Rádio e por isso o Rádio lhe deve muito. Ouçam com atenção o seu depoimento. Ele faz revelações muito importantes sobre a sua passagem pela Rádio Nacional.
DEPOIMENTO DE HAROLDO BARBOSA (01:27:41): Haroldo Barbosa se notabilizou como produtor de programas radiofônicos mas começou sua carreira como contra-regra do Programa Casé. Na Rádio Nacional foi discotecário e posteriormente produtor de programas como o Cavalgada da Alegria, Casa da Sogra, Um Milhão de Melodias, Rádio Almanaque Kolynos (junto com José Mauro), Canção Romântica, (Francisco Alves) onde ele fazia as versões dos sucessos internacionais para Chico cantar, além de escrever programas humorísticos e algumas novelas. Era, talvez, o mais versátil homem de rádio daquela época pois tocava todos os instrumentos. Em seu depoimento ele fala de sua participação no controle do Repórter Esso e na sua contribuição para a criação da famosa característica musical que anunciava as edições do famoso programa jornalístico. Haroldo nos conta também sua ida aos Estados Unidos para negociar a compra do equipamento que permitiria o lançamento dos discos Nacional, idéia que foi bombardeada pelas multi-nacionais do disco, o que levou Haroldo desgostoso a deixar a Rádio Nacional. Vale a pena conhecer esse talentoso homem de rádio que é reconhecido, em todos os depoimentos, como um dos mais completos que já passaram pela radiofonia nacional. No lado 2 da segunda fita incluímos uma audição integral do programa Rádio Almanaque Kolynos, escrito por ele.
DEPOIMENTO DE PAULO TAPAJÓS (01:30:25): Paulo Tapajós nos presta um dos mais inteligentes depoimentos sobre sua participação no rádio. Começa com sua infância e a influência musical sofrida por seu pai e suas tias. Um dia Paulo aprendeu a tocar violão. Os irmãos Haroldo e Osvaldo logo se interessaram em aprender também. Paulo ensinou-os e depois passaram a brincar no terreiro cantando em trio as melodias dos Turunas da Mauriceia. Um dia, receberam a visita do Sr. Colombiano Villares, diretor artístico da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro que ouvindo o trio tocar no terreiro solicitou ao pai permissão para apresenta-los na Rádio Sociedade. E assim, em 22 de abril de 1928 - Paulo com 15 anos, Haroldo com 13 e Oswaldo com 11 tornaram-se artistas de rádio. Paulo estudou música com o maestro Lourenço Fernandes e passou por todas as etapas do aprendizado só faltando regência. Por causa deste conhecimento musical, Paulo Tapajós foi um dos mais competentes diretores artísticos da Rádio Nacional. Como cantor, formou durante muitos anos a dupla Irmãos Tapajós com Haroldo. Com a desistência de Haroldo, por volta de 1939, ele continuou cantando ora com o Trio Melodia ora com a Turma do Sereno e muitas vezes sozinho em programas da Rádio Nacional e da Rádio Tupi onde esteve durante algum tempo. Na Rádio Nacional produziu dois programas de peso: Um Milhão de Melodias (depois que José Mauro e Haroldo Barbosa deixaram o programa) e Quando Canta o Brasil que é uma espécie de continuação de Um Milhão de Melodias. Produziu também a série Quando Os Maestros se Encontram. Seu depoimento é muito rico de informações sobre o ambiente musical da Rádio Nacional, no seu tempo de diretor artístico.
Na foto: José Mauro, Haroldo Barbosa, Paulo Tapajós e Lourival Marques.
BOM DIA!(III)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (VII)
DEPOIMENTOS (2)
Por Renato Casimiro
DEPOIMENTOS (2)
Por Renato Casimiro
Dando sequencia a essa sessão, estamos reproduzindo alguns resumos do farto arquivo de Lourival Marques através de diversas entrevistas que ele realizou com artistas (cantores, regentes de orquestras, produtores, realizadores, gente do rádio como ele.
DEPOIMENTO DE RADAMÉS GNATTALI (00:58:16): Radamés Gnattali foi talvez o Maestro de maior prestígio na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Em seu depoimento ele conta detalhes de sua vida como músico, sua trajetória até chegar a Rádio Nacional onde conseguiu, graças ao grande poder de comunicação da emissora se projetar nacionalmente. Em seu depoimento ele cita os principais programas de que participou com destaque para Um Milhão de Melodias, Aquarelas do Brasil, Aquarelas das Américas e Aquarelas do Mundo. Fala de suas excursões pelo mundo e de suas principais obras musicais. Durante mais de uma hora Radamés - que era avesso a dar entrevistas e a falar de si mesmo - nos fala sobre os espetáculos de que participou e dá sua opinião sobre o panorama musical brasileiro na época da entrevista. Trata-se, portanto, de um documento da maior importância cultural e que nenhum estudioso da música e do rádio no Brasil poderá deixar de ouvir.
DEPOIMENTO DE ALBERTO LAZZOLI (02:01:43): Alberto Lazzoli era paulista da capital. Nasceu a 3 de julho de 1906 mas só foi registrado em 1º de Setembro daquele ano. Fez seus estudos normais porém ao demonstrar pendores musicais foi encaminhado ao pai de Léo Peracchi para os primeiros ensinamentos. Prosperou na música e chegou a se destacar no Oboé. Como a música não era suficiente para seu sustento estudou comércio, se formando em contador na Escola de Comércio Álvares Penteado e passou então a exercer junto com suas incursões musicais, as funções de auxiliar de escritório. Como músico tocou em todos os lugares menos em circo de cavalinhos. Assim foi se aperfeiçoando até se tornar solista de oboé na Sociedade de Concertos Sinfônicos, organizada em São Paulo. Numa das últimas vindas da famosa bailarina Ana Pavlova ao Brasil, Lazzoli teve oportunidade de acompanhá-la em um solo onde a bailarina procurava demonstrar suas habilidades. Nesse dia, o maestro pediu a Lazzoli que acelerasse o ritmo para dar mais vida a demonstração da bailarina. No final Pavlova elogiou o virtuosismo de Lazzoli confessando que quase perdera o equilíbrio. Lazzoli foi professor do Conservatório de São Paulo. Em 1934 veio para o Rio a fim de integrar a Orquestra do Teatro Municipal. Como o dinheiro era pouco completava o ordenado com aulas de música em Escolas Municipais. Em julho de 1936 passou a professor catedrático da Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro, ocupando em várias oportunidades a direção da Escola. No Rádio foi diretor musical da Rádio Mayrink Veiga no tempo de César Ladeira. Em 1946 sai da Mayrink para a Nacional onde teve a oportunidade de dirigir, durante 10 anos consecutivos a orquestra que acompanhava Francisco Alves no seu famoso programa do meio-dia: Ao soar o carrilhão. Lazzoli informa que no seu tempo a Nacional possuía 199 músicos e 18 maestros. Os programas que participou foram: Honra ao mérito, O lado claro da vida, Festivais GE substituindo o Léo Peracchi, Concertos Philips, Momentos musicais Ford, Quando os Maestros se Encontram, Paisagens de Portugal e Quando os ponteiros se encontram. Um rico depoimento.
DEPOIMENTO DO MAESTRO CHIQUINHO (01:01:31): Francisco Duarte era o seu nome de batismo, nascido aqui mesmo, na Gamboa, no Rio de Janeiro. Iniciou seus estudos de música com seu pai aos 8 anos de idade. Era muito brincalhão desde menino e isto fez dele, mais tarde, o Maestro da Simpatia Popular como era chamado por César de Alencar no seu programa semanal. Era o Maestro escalado para quase todos os programas de auditório não só pela sua alegria contagiante e sua comunicabilidade como porque era dono de uma risada engraçadíssima que era usada pelos animadores para puxar o riso do auditório. Começou como quase todos por baixo, tocando em circos, quermesses, gafieiras, etc. Participou em vários filmes brasileiros acompanhando os artistas da Rádio Nacional. Sua primeira estação de rádio foi a Rádio Club do Brasil onde se apresentava como Chiquinho e seu Ritmo. Foi lá que lançou o concurso Chiquinho a procura de alguém no qual saiu vencedora a Lenita Bruno que se tornou sua crooner em várias apresentações em boites e cassinos. Em 1 de julho de 1945 foi para o Rádio Nacional que, na época, estava associada a Rádio Guanabara e Chiquinho tocava nas duas estações. Além de Maestro e Regente de Orquestra era exímio trumpetista e como tal participava de outras orquestras da Rádio Nacional em programas como Um Milhão de Melodias, A lira de Xopotó e outros. Além disso era também compositor. É dele o famoso Mambo caçula gravado por Emilinha Borba. Tinha uma característica que era muito explorada por César de Alencar: o lenço. Por suar muito tinha sempre à mão um lenço e César às vezes o anunciava como o Maestro do Lenço. Por causa disso era obrigado a distribuir lenços entre as fãs tendo distribuído mais de mil deles. Fizeram até uma música com o nome de O lenço do Chiquinho que foi gravada pela Marlene com Chiquinho e sua Orquestra no acompanhamento. Além disso tudo participou de várias gravações da Columbia sendo a mais importante a de Orlando Silva cantando Lealdade. Foi, finalmente, convidado, em 1950, para chefiar o Arquivo Musical da Rádio Nacional e foi com lágrimas nos olhos que acompanhou a transferência desse arquivo para o Museu da Imagem e do Som. Segundo o depoimento de Chiquinho foram mais de cem mil músicas com suas partituras arquivadas em mais de 40.000 envelopes.
DEPOIMENTO DE AMARAL GURGEL (01:25:12): Amaral Gurgel era novelista. Veio de São Paulo onde nasceu na cidade de Araraquara. Filho de músico não se interessou muito pela carreira do pai. Preferiu a literatura pela qual logo se interessou passando ao atingir idade suficiente a escrever versos e mais tarde peças teatrais. Tornou-se um razoável teatrólogo e depois novelista de rádio. Começou escrevendo para o teatro, em São Paulo e quando veio para o Rio trabalhou na Rádio Nacional, tendo mesmo participado, como ator, na novela Em Busca da Felicidade. Seu depoimento não foi de improviso. Estava escrito e foi lido. Esse fato permitiu a Amaral Gurgel fazer um magnífico relato sobre a evolução do rádio no Brasil. É um dos depoimentos mais completos apresentados nesta série. Quem tiver interesse na história do rádio-teatro no Brasil, não pode deixar de ouvir esse minucioso relato de Amaral Gurgel.
Na foto: Radamés Gnatalli, Albereto Lazzoli, Maescto Chiquinho e Amaral Guergel.
BOM DIA!(IV)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (VIII)
DEPOIMENTOS (3)
Por Renato Casimiro
DEPOIMENTOS (3)
Por Renato Casimiro
O arquivo de Lourival Marques era fantástico. Ele reunia não só todo o material que lhe servia para elaborar o Dicionário da Gente do Rádio, cuja publicação se fez quinzenal ou semanalmente, através das páginas de Radiolândia, desde o primeiro número em 1953, mas também era composto por muitas gravações de depoimentos como esses que estamos publicando parceladamente. Vejamos mais alguns.
DEPOIMENTO DE LUCIANO PERRONE (01:58:27): Luciano Perrone nasceu no Rio de Janeiro em 1908. Filho do maestro Luis Perrone, chefe de bandas militares e diretor de várias orquestras do Rio de Janeiro entre 1908 e 1918. Luciano aprendeu música e canto tornando-se mais tarde baterista e como tal acabou sendo o mais famoso baterista do Brasil. Em 1927 já participava da Orquestra de Simon Bountman e fazia suas primeiras gravações na Odeon. Viajou mundo e foi muito laureado em todos os lugares onde teve oportunidade de apresentar suas habilidades. Ele mesmo conta quase tudo que fez em seu depoimento. Foi ele quem sugeriu a Radamés Gnattali aproveitar os outros instrumentos da orquestra para fazer a marcação do ritmo que antes era feita exclusivamente pelos instrumentos de percussão. Graças a esta sugestão nasceu a famosa introdução de Aquarela do Brasil criada por Radamés Gnattali. Luciano fez parte dos quadros da Rádio Nacional desde o primeiro dia da inauguração em 1936 e por isto tem muitas histórias para contar.
DEPOIMENTO DE GIUSEPPE GHIARONI (01:02:38): O depoimento de Ghiaroni está sem o início que, por defeito na fita, se perdeu. Mas dá perfeitamente para conhecer o pensamento desse notável homem de rádio, autor de vários programas de grande valor e inclusive de livros de poesia. Ele fala sobre sua trajetória antes de ingressar no rádio e, depois, tudo que fez quando trabalhou na Rádio Nacional. Cita os companheiros que com ele conviveram dando uma visão ampla do momento cultural do Rio de Janeiro do seu tempo. Foi também um dos diretores do famoso departamento de Rádio da Sidney Ross. Entrou para a Rádio Nacional em 1943 com 24 anos. Sua primeira tarefa foi traduzir para o inglês, língua que dominava razoavelmente, os programas que a Rádio Nacional transmitia em ondas curtas. Mais tarde passou a produzir seus próprios programas podendo-se destacar, entre eles: Romance Musical, Tancredo e Trancado, Programa Paulo Gracindo, Não estamos só e as novelas Um raio de luz, A gloriosa mentira, Mãe e outras. Ghiaroni é natural de Paraíba do Sul, aqui mesmo no Estado do Rio. Seu depoimento é rico de informações sobre sua época no rádio e sobre as pessoas que com ele conviveu.
DEPOIMENTO DE FLORIANO FAISSAL (01:52:49): Começou assistindo a Companhia de Revistas do Teatro São José quando foi convidado para entrar com figurante de uma peça e foi assim que tomou contato com o meio teatral. Ali fez de tudo desde figurante até ator, ensaiador, contra-regra, ponto, diretor, cenógrafo, enfim, tudo que pudesse interessá-lo no teatro. Foi Victor Costa quem o levou para a Rádio Nacional e com o tempo entregou-lhe a direção do Departamento de rádio-teatro onde pôde aplicar, então, toda a sua sabedoria e talento. Além da direção era também rádio-ator, cujo começo foi bem curioso. Victor precisava de um ator, numa emergência, para ser selecionado por um patrocinador. O candidato faltou mas Floriano estava de visita ao Victor e ele agarrou Floriano para substituir o ator faltante. Floriano protestou dizendo que não tinha prática de rádio. Victor respondeu que não tinha importância porque ele queria mesmo que o candidato fosse recusado e isto daria tempo para ele, Victor, ensaiar melhor a peça e, com calma, indicar um novo ator. Floriano fez o teste e... o Cliente o aprovou. Não houve outro jeito: Floriano foi contratado. Essa e muitas outras histórias curiosíssimas estão contadas por Floriano nas duas fitas do seu depoimento. No final acrescentamos uma audição de Neguinho e Juracy (Floriano e Ismênia dos Santos), um quadro humorístico do programa Tabuleiro da Baiana. Seu depoimento é muito rico de informações não só sobre o teatro em geral, onde ele começou, e o rádio-teatro onde ele pontificou na Rádio Nacional juntamente com Victor Costa de quem conta histórias.
DEPOIMENTO DE SAINT CLAIR LOPES (00:55:47): Saint Clair Lopes foi diretor da Rádio Nacional mas atuava como locutor, narrador e rádio-ator. Seu início foi, como de quase todos eles, muito difícil. Era um estudioso da radio-difusão no Brasil tendo mesmo escrito dois livros sobre o assunto. Sobressaiu-se, entretanto, como rádio-ator e se consagrou como o português da novela Em busca da felicidade: Benjamim Prates. Mais tarde teve papel destacado como O Sombra, um teatro trazido dos Estados Unidos por Gilberto Martins e aqui adaptado. Saint Clair tentou o rádio pela Rádio Club do Brasil no programa Horas do outro mundo, de Renato Murce. Apesar de muito elogiada a sua atuação não conseguiu o lugar. Resolveu então fazer o mesmo que Renato Murce: alugar um espaço na Rádio Educadora do Brasil onde teve destacada atuação e lançou o Original Programa. Angariava os anúncios, pagava aos artista e apresentava o programa. Durou pouco sua aventura, mas como tinha muito boa voz foi contratado para ser o locutor chefe da Rádio Educadora do Brasil. Cada estação tinha, naquela época, seu locutor chefe que caracterizava a emissora e Saint Clair passou então a ser a marca registrada da sua emissora. Isto por volta de 1934. Saint Clair Lopes trás, com este seu depoimento, uma notável contribuição para a história da evolução da radiofonia brasileira e a sua importância como fator de integração nacional. Uma verdadeira aula sobre o rádio no Brasil.
Na foto: Luciano Perrone, Giuseppe Ghiaroni, Floriano Faissal e Sait-Clair Lopes.
BOM DIA!(V)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (IX)
DEPOIMENTOS (4)
Por Renato Casimiro
DEPOIMENTOS (4)
Por Renato Casimiro
Por ter estado na Rádio Nacional, Lourival Marques diria em depoimento nos anos 70: "Todo mundo que foi alguém artisticamente nesse país, antes dos anos 60, obrigatoriamente passou pela Nacional". Daí porque o seu amplo relacionamento com o fino da arte brasileira e os frutos de sua genialidade como produtor. Nos anos 50, Lourival escrevia perfis biográficos de grandes artistas do cenário musical brasileiro para a revista Radiolândia. Esses perfis eram baseados em extensa pesquisa que realizava. Isso foi complementado com essa série de depoimentos que foram gravados na velha forma de discos de acetato, felizmente restaurados e hoje disponível para consulta. Vejamos mais algumas dessas entrevistas.
DEPOIMENTO DE EDMO DO VALLE (01:56:33): Edmo do Valle foi um dos pioneiros da contra-regra da Rádio Nacional e devido a sua dedicação e amor a emissora chegou a Diretor Artístico por volta de 1947/48. Era uma dos quatro diretores de programação e muito contribuiu para que a emissora chegasse ao elevado ponto a que chegou. Era, como Oduvaldo Cozzi, um disciplinador. Exigente e muito criativo destacou-se pela inventividade na criação de ruídos para a contra-regra do rádio-teatro. Seu depoimento revela muitos detalhes sobre a vida de vários personagens que habitaram o mundo da Rádio Nacional, além de severas críticas ao modo como hoje se faz rádio no Brasil. É a opinião de um experimentado homem de Rádio.
DEPOIMENTO DE SILVÉRIO SILVINO NETO (01:17:29): Este é o mais divertido de todos os depoimentos. Como o leitor sabe, Silvino Neto era basicamente um humorista e como tal ele conduz seu depoimento sem, contudo, deixar de contar, com seriedade o seu difícil início profissional. Seu sonho era ser cantor e assim ele iniciou suas atividades em São Paulo pelas emissoras locais. Não fazia muito sucesso embora tivesse uma voz agradável como ele mesmo demonstra durante seu depoimento cantando vários trechos de tangos - seus preferidos. Em São Paulo conheceu Oduvaldo Cozzi e achou que vindo para o Rio receberia dele uma ajuda para ingressar no rádio carioca. Veio e aqui viveu, durante algum tempo, com muita dificuldade. Um dia, enfim, falou com Cozzi. Contou sua história e pediu uma chance. Cozzi era o diretor artístico da Rádio Nacional. Para surpresa sua Cozzi respondeu que como cantor não ajudaria Silvino Neto mas que se ele quisesse ser humorista, aí sim, havia uma vaga na Rádio. Silvino quase desmaiou. Humorista ? Mas ele nunca fora humorista na vida! Que história era aquela ? Cozzi então explicou que achava extraordinária a facilidade que Silvino tinha de imitar vozes pois em várias oportunidades o ouvira contando anedotas com as tais imitações. Que remédio. O jeito era aceitar pois estava morto de fome e precisava fazer alguma coisa. Foi assim que estreou na Rádio Nacional do Rio de Janeiro "o maior humorista do Brasil" no dizer dos textos de chamada para o seu programa de estréia. No primeiro programa imitou Lamartine Babo e foi um sucesso. Daí pra frente virou humorista. No seu depoimento Silvino conta de onde ele extraiu as vozes dos seus famosos personagens: Pimpinela, Seu Acacio, Doutor Januário, Anestésio, Waldemar e outros. Ele tinha facilidade, também, para imitar as vozes dos políticos. E ele demonstra isso no seu depoimento. O de Ademar de Barros é simplesmente sensacional. Ele conta, também, com muita graça, sua aventura como vereador na Gaiola de Ouro - a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Imperdível.
DEPOIMENTO DE BRANDÃO FILHO (02:04:12): Brandão veio do teatro tendo mesmo começado no circo onde atuou com Oscarito. Suas dificuldades eram tão grandes que teve de dormir em bancos de praça, local de onde Oscarito o tirou para dividir com ele um quarto. É uma das histórias de maior dramaticidade face a sua luta para chegar onde chegou. Seu primeiro grande sucesso no rádio foi, também como Saint Clair Lopes, na novela Em busca da felicidade onde fez o papel de um pequeno ladrão chamado "Mão leve". Segundo Brandão, foi Mão leve quem o projetou e seu sucesso, na novela foi tão grande que tiveram de aumentar sua participação para que ele aparecesse mais vezes. É um depoimento longo e tranqüilo dado por uma pessoa completamente diferente do Brandão Filho que conhecemos do Tancredo e Trancado e mesmo dos programas da Escolinha do Professor Raimundo onde ele figurava. Além de Tancredo e Trancado, Brandão participou com destaque em Casa da Sogra, e no Balança mas não cai onde projetou-se mais ainda como o Primo Pobre. Em seu depoimento ele conta como nasceram todos os seus famosos personagens. Sua história é comovente e vale a pena ser escutada com todo carinho e respeito.
DEPOIMENTO DE MANOEL BARCELOS (01:17:41): Outro depoimento da maior importância para compreensão da história do Rádio. Manoel Barcelos, além de locutor e animador de programas de auditório, foi o presidente da ABR que deu ao radialista o seu Hospital. Ele conta sua luta para realizar este trabalho mas o mais importante é o que ele fazia em matéria de programas de rádio. A ousadia que empregava para animar seus programas, sendo mesmo um pioneiro do Aqui e Agora. No depoimento ele fala o que foram os Comandos Tupi chefiados por ele e assessorado por Edmar Morel e Edgar de Carvalho que invadia delegacias em busca da verdade da notícia. Ao falar dos Comandos Tupi ele ilustra com vários casos verídicos o que teve de enfrentar para desmascarar políticos, policiais e outros venais da época. Foi ele quem denunciou o Coice de Mula no famoso episódio do massacre do jornalista Nestor Moreira. Barcelos era gaúcho e foi lá, em Pelotas, que ele teve seu debut no Rádio. Começou fazendo reportagens na sua cidade natal sendo mesmo considerado, por Heron Domingues, como o pai da reportagem externa, ao vivo. De lá foi para Porto Alegre onde ficou um ano. Em seguida veio para o Rio de Janeiro tentar a vida. Aqui conseguiu um emprego mas no dia em que ia se apresentar viu em letras garrafais no Diário da Noite a notícias de um concurso para speakers da Rádio Tupi. Entrou em contato com o responsável pelo concurso e soube que seu número era o 153, total de candidatos inscritos. O concurso durou 8 dias e constou de várias provas. Foi aprovado e lá ficou quase 10 anos. Foi na Tupi que se tornou animador de auditório e criou o Programa Manoel Barcelos. Em 1944 foi para a Rádio Globo e de lá voltou para a Rádio Tupi onde ficou mais algum tempo. Desgostoso com ciumeiras ocupou o microfone e se despediu dizendo que estaria de volta, em breve, por outra emissora. Foi ouvido por Victor Costa que o convidou para a Rádio Nacional onde estreou como locutor comum. Só 6 meses depois ele se animou a fazer programas de auditório, tal o medo que a Rádio Nacional lhe inspirava. Lançou 6 meses depois o programa Variedades Manoel Barcelos e a partir daí seu sucesso não parou mais. Barcelos foi o principal competidor do Programa César de Alencar. Os dois dividiam a audiência dos programas de auditório da casa. No final da segunda fita há trechos de programas de auditório animados por ele.
Na foto: Edmo do Valle, Silvério Silvino Neto, Brandão Filho e Manoel Barcelos.
BOM DIA!(VI)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (X)
DEPOIMENTOS (5)
Por Renato Casimiro
DEPOIMENTOS (5)
Por Renato Casimiro
Com essa pequena mostra, concluímos a apresentação desse enorme acervo que formou o arquivo de Lourival Marques de Melo. Seguramente, por esse seu esforço hoje a história da Rádio Nacional é contada e recontada como um dos maiores marcos da radiofonia brasileira. Não sabemos o destino desse manancial extraordinário, após a morte de Lourival Marques. Tão somente esperamos que ele esteja preservado pois o futuro não dispensará a sua utilização pelo volume excepcional de dados que aí estão contidos, especialmente, pelas vozes dos seus realizadores.
DEPOIMENTOS DE AFRÂNIO RODRIGUES E RUBENS AMARAL (01:26:32 & 00:36:04): Afrânio Rodrigues e Rubens Amaral foram dois importantes locutores da Rádio Nacional. O primeiro lá permaneceu até o fim enquanto que o segundo esteve na BBC de Londres, na Rádio Globo e foi um dos primeiros diretores da TV-Globo. Afrânio era o locutor indicado para a maioria dos programas de auditório tendo trabalhado durante muito tempo com César de Alencar. Era o narrador oficial do programa Balança mas não cai. Era, também, o locutor enviado pela Rádio para apresentar fora da rádio os shows dos artistas da emissora pela sua facilidade de improvisação e sua simpatia. O depoimento de ambos tem várias informações preciosas para uma melhor compreensão do panorama radiofônica daquela época. Rubens Amaral, entre outras coisas, sustenta o galardão de ter sido o primeiro locutor a apresentar o Repórter Esso. É que no começo o programa era lido pelo locutor do horário e Rubens, na época, era o locutor do horário matutino da Rádio Nacional, cabendo-lhe, portanto, a leitura do primeiro Repórter Esso no horário de 8 horas da manhã. Há mais informações valiosas no depoimento desses dois expoentes da classe de locutores brasileiros.
DEPOIMENTO DE ANTÔNIO CORDEIRO (01:02:29): Antônio Cordeiro era o locutor esportivo da Rádio Nacional e por isso tinha grandes dificuldades de transmitir suas partidas de futebol face a programação de sábado, onde pontificava o Programa César de Alencar. Assim mesmo, devido as 4 estações de ondas curtas, era um dos locutores mais ouvidos do Brasil e muito respeitado entre os colegas. Em seu depoimento ele relata seus feitos à frente do Departamento Esportivo da Nacional e fala dos outros locutores da sua época.
DEPOIMENTO DE RUY REY (00:55:47): Ruy Rey era o intérprete das músicas latino-americanas na programação da Rádio Nacional. Veio de São Paulo e aqui chegou a organizar sua própria orquestra com a qual se apresentava vestido a caráter ou seja com maracas e aquela roupa enfeitada de babados usada pelos caribenhos. Fazia sucesso entre as fãs mas no seu depoimento revela que ganhava mais fazendo shows pelo interior do que como cantor da Rádio Nacional e por isso, frequentemente faltava aos programas para ganhar mais dinheiro lá fora. Isto aborrecia, principalmente ao César de Alencar em cujo programa era anunciando como "o cantor de las Américas". É bem curioso o depoimento de Ruy Rey.
DEPOIMENTO DE JORGE VEIGA (01:25:29): Jorge Veiga era carioca e neste depoimento ele fala da sua vida, sua luta para chegar ao estrelato, sua trajetória musical, seus sucessos, suas gravadoras e seus sonhos. Ao longo do depoimento ele recorda, cantando, muitos dos seus grandes sucessos cuja relação é a seguinte: A última estrofe - Garota de Copacabana - Aviadores do Brasil - Quem chorou fui eu - Reza por nosso amor - Na China - Não posso mais - Bigurrilho- Bigu - Na cadência do samba - Garota de Saint Tropez - Café Soçaite - Hino a Santa Cecília - A mãe da Faustina - Iracema\- O que é que eu tenho com isso ? - Rosalina. Durante o depoimento ele contra como nasceu a história sobre a frase Alô, Alô aviadores do Brasil que resultou numa homenagem da Força Aérea Brasileira. É um depoimento cheio de bossa.
DEPOIMENTO DE JORGE FERNANDES (00:47:53): Nascido de família tradicional, Jorge Fernandes cresceu em ambiente artístico e desde pequeno cantava músicas francesas, aprendendo piano e violão com os pais. Quando iniciou na música brasileira deu preferência para a música folclórica tornando-se um dos maiores intérpretes brasileiro, no gênero. Por isso mesmo era um dos intérpretes preferidos de Waldemar Henrique com quem gravou um LP de 10 polegadas na Sinter. Também gravou para a Sinter outro LP com a música Essa nêga fulô, calcado no poema de Jorge de Lima com este nome e musicado por Waldemar Henrique. No final do seu depoimento dá um pequeno recital com as músicas de Waldemar Henrique: Minha terra - Coco peneruê - Tamba-tajá - Boi bumbá e Foi boto, sinhá. Declamou ainda o poema Sôdade, de autoria de Luiz Peixoto. Um depoimento de um homem fino para a sensibilidade daqueles que apreciam a nossa música folclórica.
DEPOIMENTO DE CÉSAR DE ALENCAR (02:08:34): Depoimento prestado pelo radialista mais famoso como animador de auditório a Lourival Marques por ocasião das comemorações do quadragésimo aniversário da Rádio Nacional. César de Alencar presta um longo depoimento que começa com a sua vida antes de entrar para o rádio. Fala depois como chegou ao Rádio Club do Brasil pelas mãos de Renato Murce e como candidato a locutor esportivo. Explica depois como chegou a animador de auditório e daí o seu pulo para a Rádio Nacional do Rio de Janeiro inicialmente como locutor comum. Termina o seu depoimento contando todos os sucessos alcançados com o Programa César de Alencar que se tornou o mais famoso programa de auditório do Brasil.
Na foto: Ruy Rey, Joprge Veiga, Jorge Fernandes e César de Alencar.
BOM DIA!(VII)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (XI)
Por Renato Casimiro
Ao traçar esse breve itinerário de vida e trabalho de Lourival Marques de Melo, fica evidente que o seu exercício profissional na radiofonia foi um largo espaço de convivência com uma legião imensa de profissionais que gravitaram em torno do rádio brasileiro. Por estar no centro dessa produção e coincidentemente, na época, o centro do poder e de boa parte da atividade econômica do pais, a velha capital, a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, e além disso, ter estado nas mais importantes emissoras do pais em todos os tempos – Tupi, Globo, Mayrink Veiga e Nacional, para os olhos e ouvidos de Lourival Marques convergiam grande parte do bulício radiofônico do pais. De todos os fazeres, de todos os misteres, Lourival reuniu, pelos prefixos a que se dedicou, um colossal número de amigos, atores e atrizes, radiatores, produtores, cantores, diretores, comediantes, etc., aos quais, penso que, desde o momento inicial na fundação do CRP (Centro Regional de Publicidade, ele tratou de perfilar, fazendo anotações que de há muito podemos consultar. A maior parte disso, compreendendo o que ele denominou de Dicionário da Gente de Rádio, aparece como uma coluna, inicialmente quinzenal, depois semanal, a partir da segunda quinzena de dezembro de 1953. Com o primeiro número da revista Radiolândia, editada pela Rio Gráfica e Editora Ltda., Lourival Marques já figura como colaborador, assinando duas colunas a cada edição, denominadas com os títulos: Seu Criado, Obrigado (mesmo título do seu programa mais famoso) e O Dicionário da Gente de Rádio. No primeiro, cada edição reproduzia uma série de questões e as respectivas respostas do produtor, atendendo solicitações dos ouvintes sobre assuntos diversos. No segundo, ele tratou de fazer constar diversos verbetes, nos quais figuravam o nome artístico, ou nome civil, pela inversão, ou não, de sobrenome (por exemplo: Alves, Coelho; Carvalho, Joubert de; Angela Maria, etc), ou até mesmo apenas o apelido, como Garoto, Dunga, Marion, etc. Ainda não sei precisar quantas biografias ou sua iniciativa ele teve a oportunidade de produzir. O fato é que na revista Radiolândia, a única que parece ter reproduzido essa coluna, o Dicionário está contido entre a primeira edição e a de número 134, com cerca de 500 súmulas biográficas. Aliás, uma observação se faz necessário sobre esse mercado editorial de revistas dedicadas ao rádio. Entre a década de 1930 até meados dos anos 60, circulavam no Brasil diversas revistas que informavam sobre o rádio: Carioca, Promove, Vida Doméstica, A Voz do Rádio, Cine-Rádio-Jornal, Cinelândia, e Guia Azul. Em 1948 apareceu a famosa Revista do Rádio, que circulou até o final dos anos 60 (em 1969 transformou-se na revista Rádio e TV, dando conta, também, da nova mídia). Radiolândia, foi das últimas nessa relação, e circulou até 1963, com a sua edição nº 410. A revista constava, normalmente, umas 50 páginas, capa em geral com fotografias de artistas de rádio, principalmente mulheres, e seu conteúdo era dedicado totalmente a assuntos referentes ao rádio. Possuía uma série de seções, como: Questionário Indiscreto (entrevistando artistas), Cantinho do Fan (cartas e indagações), Recordando (memória do rádio), Discolândia (lançamentos de discos), e muita coisa mais sobre artistas, cinema – tudo muito ilustrado, etc. As reportagens revelavam dados interessantes da vida de artistas e radialistas, muitas matérias mostram a vida diária dos personagens. Disso praticamente não há interrupção, ou seja, mesmo sem consultar toda a coleção disponível na internet, sob a guarda da biblioteca nacional, percebe-se que raramente ele deixava de inserir a coluna. Há colunas que continham apenas um só verbete como o de Francisco Alves, o grande cantor, volumoso na narração sobre os detalhes de sua vida, e mais precisamente sobre sua discografia. Na verdade, verbete volumoso como esse, eram também outros como o do compositor Humberto Teixeira, de Luiz Gonzaga, de Adoniran Barbosa, de Lolita Rodrigues, de Waldir Azevedo, etc. Ele não dispensou os perfis de alguns dos quais ele conviveu no Ceará, entre os que estavam em Fortaleza, na PRE 9, como José Limaverde, Armando Vasconcelos, José Júlio Cavalcanti e Paulo Cabral de Araújo. Bem como também uns poucos do Juazeiro, sua primeira escola, como Coelho Alves e Francisco Monteiro. O Dicionário também contemplava verbetes para grandes artistas internacionais, como o pianista Carmen Cavallaro, o compositor Agustín Lara, e os chansoniers franceses Charles Trenet e Maurice Chevalier, dentre outros. Uma indagação pertinente, depois que se põe os olhos sobre esse incrível manancial de biografias, mesmo que parciais, pois iam sendo feitas, na grande maioria, com pessoas ativas, em pleno exercício de seus trabalhos, completadas parcialmente aos motivos frequentes das mais simples informações que lhe chegavam, é: por que Lourival não publicou uma obra densa com esse acervo? Ele não o fez, mas outros fizeram e, seguramente, com o seu esforço em reunir esses dados. Por exemplo, os cantores, tiveram a citação de todas as suas obras que foram gravadas ao longo de parte da vida. Os produtores tiveram as suas relações de obras através de programas que elaboravam para suas emissoras, etc. Em verdade, não sabemos quando isso se inicia, mas teve, seguramente, um fim com a morte de seu autor. Para finalizar, tomei como exemplo essa pequena biografia de Francisco Monteiro, elaborada por Lourival, como exemplo do conteúdo desse valioso trabalho, por ser de um artista juazeirense e quase nada ser conhecido sobre ele. Ela aparece na edição 66 da Radiolândia na data de 9 de julho de 1955. Pelos termos, Lourival conhecia muito bem o seu homenageado e não deixou de dar-lhe uma mão na sua vida profissional. Vejamos: “Monteiro, Francisco – Cantor brasileiro de música popular. Nasceu a 4 de outubro de 1932 em Juazeiro do Norte, Estado do Ceará. Começou, ainda garoto, cantando no Centro Regional de Publicidade (serviço de alto-falantes local) até que a sua voz chamou a atenção de empresários e foi convidado a realizar uma temporada em Campina Grande, na Paraíba e outra na Rádio Clube de Pernambuco, em Recife (onde cantava boleros com o nome de Rafael Ortega). Mais tarde voltou a Juazeiro e quando se inaugurou a Rádio Iracema de Juazeiro nela ingressou como cantor, exercendo simultaneamente, as funções de discotecário e cobrador. Pouco tempo depois era convidado a atuar na Rádio Iracema de Fortaleza onde realizou duas temporadas. Recusou um contrato por longo prazo na ZYR-7, porque estava de malas arrumadas para o Rio de Janeiro onde desejava tentar a sorte. De passagem por Feira de Santana , na Bahia, realizou, na emissora local, uma curta mas bem sucedida temporada, chegando ao Rio, finalmente, a 26 de setembro de 1952. A princípio foi trabalhar numa casa de peças de automóvel, mas oito meses depois ingressava na Rádio Nacional, cantando no Programa “César de Alencar” e noutros programas da emissora. Atualmente é artista dos discos “Polydor” e dentro em breve estarão na rua suas primeiras gravações.”
Na foto: O cantor Francisco Monteiro e Lourival Marques.
BOM DIA!(VIII)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (XII)
Por Renato Casimiro
Lourival Marques nasceu vocacionado para a radiodifusão e assim viveu transpirando em tudo que fez o seu desejo de que o rádio fosse o grande veículo da imprensa, a serviço da informação, da música e do entretenimento. Mas ele era absolutamente antenado para não desconhecer a força com que, ainda nos anos 50 a televisão despontava, no mundo inteiro, mas especialmente no Brasil, para ocupar um espaço mais versátil e que estava na expectativa do povo usuário do rádio, como uma nova e surpreendente mídia, cujo sucesso estava no “milagre” dessa junção desejável e imediata da voz e da imagem. Na história da Tv, em todo o mundo, o rádio foi e ainda continuará sendo, o esteio de valores que inovam, reformam, dinamiza e produzem o sucesso da televisão. A tv no Brasil nasceu da iniciativa de Assis Chateaubriand, que inaugurou a Tv Tupi de São Paulo, em 18.09.1950. Depois veio a Tv Tupi do Rio de Janeiro, em 20.01.1951. Em 1953 foi a vez da Tv Record, em São Paulo. Em 1955, foi inaugurada a Tv Rio. Em 1959 nasceu a Tv Continental do Rio de Janeiro. Assistindo a tudo isso, Lourival, enquanto diretor artístico da Rádio Nacional, era entusiasta para a criação da Tv Nacional, que se prenunciava nos bastidores. No começo de 1959, em que se tinha esta expectativa, indiscutivelmente o produtor da Nacional mais envolvido com essa possibilidade era Lourival Marques que desejou conhecer e capacitar-se para essa empreitada. Aparece, então na imprensa carioca a informação de que Lourival iria para os EUA, Canadá e Cuba, no início de maio para estudar televisão. Ele iria por sua conta própria, com a esposa, dona Luci Landim, e nos bastidores da imprensa se lamentava que uma pessoa do quilate de Lourival não fosse mandado com tudo pago, face a grande utilidade desse treinamento. A sua decisão era realizar esse intento, limitado à pequena disponibilidade de recursos. Em vários meses essa viagem foi objeto das colunas nos jornais e revistas sobre o rádio. Lourival embarcou para a América do Norte com grande euforia, e o seu tempo de permanência já era estimado em 4 meses e meio. Mas nesse tempo ele não se desligou de seus afazeres na Nacional e mesmo dos Estados Unidos remetia os escritos de suas produções, numa fase extremamente produtiva do seu trabalho. Era o caso, por exemplo, do programa Rádio Variedade, que era um dos líderes de audiência da Nacional. Lourival permaneceu nos EUA com bolsa de estudos fornecida pelo Departamento de Estado dos EUA, coisa que se estendia a outros quatro radialistas brasileiros que tinham sido convidados. Ao relatar esta experiência no seu retorno ao Brasil, Lourival informou que o treinamento durou quatro meses e trinta e cinco dias, e foi realizado em 25 cidades americanas, e também no Canadá. O curso teórico teve início no dia 29 de junho de 1959, com duração de 35 dias de aulas teóricas na Southern University of California, estendendo-se o estágio por mais quatro meses em estações de televisão, nas quais Lourival atuou desde a função de câmara até a de diretor de Tv. Num breve relato sobre a tv americana, eis o que disse Lourival: “Apenas Nova York e Los Angeles tem sete emissoras. Todas as outras cidades tem apenas 1 a 3 canais em funcionamento. Mas em todas elas, segue-se um ritmo de trabalho inalterado. ...Técnica, simplicidade e disciplina são os três fatores do sucesso estrondoso da televisão nos Estados Unidos. O respeito pela função é uma coisa fantástica. Não importam idades, nem cargos. Se o indivíduo tem capacidade, o resto não conta.” Ele dá alguns detalhes desse fazer televisivo nos EUA: “São feitos ensaios exaustivos, quase sempre durante uma semana; há rigor absoluto no tempo. Contam-se até frações de segundo, e não se ultrapassa, jamais, o tempo estabelecido. Se isto acontecer, o programa é cortado. Em muitas estações, o controle é feito automaticamente, a relógio eletrônico conjugado com a mesa de técnica. O máximo de simplicidade na montagem dos programas. Grandes shows usam apenas duas câmaras, dificilmente mais. Os detalhes exagerados não são, jamais, empregados. As transmissões esportivas raramente mostram os locutores. A maioria das emissoras apresenta seus programas filmados e gravados. Poucos são transmitidos ao vivo. O público americano tem preferência acentuada pelos grandes shows. Seguem-se, não na ordem, as comédias familiares, os programas de aventuras e os filmes. Não existe novela em tevê; nem em rádio. E poucos programas são apresentados em capítulos seriados. Também as entrevistas são das coisas mais raras. Os anúncios são mínimos, tanto quanto possível, e, às vezes, melhores do que os programas, tão bem feitos são. Não existem programas educativos à noite; somente de dia. Embora pareça incrível, são muito raros programas noturnos com prêmios. Em compensação, a grande praga da televisão são os filmes de longa metragem. Em determinados dias, chega-se a haver 55 filmes de longa metragem, nas sete estações, indo a sua apresentação até às 3 da manhã. Não há problema de material humano para a televisão nos Estados Unidos. Sobram talentos. Isto se explica mais ainda pela adesão dos astros do cinema, tais como Loretta Young, Henri Fonda, Donna Reed, Bob Hope, Desi Arnaz, Lucille Ball, e muitos outros. Explique-se também que o físico do artista jamais importa; se ele tem arte, talento é o quanto basta.” Com relação à Tv no Brasil, disse ainda Lourival: “É natural a comparação entre Brasil e EUA em matéria de televisão. O mal do Brasil é o improviso. Não se pode fazer televisão no improviso. E a grande prova disso, eu a encontrei na televisão americana, onde a grande simplicidade e a disciplina funcional conseguem atrair a atenção de multidões incalculáveis. Isso porque os norte-americanos tem completo e total respeito ao público, fazendo da simplicidade e da dedicação disciplinada o êxito da televisão. Não fazem eles nada de improviso. Tudo é estudado, medido, até os menores detalhes em busca da perfeição.” A grande repercussão dessa viagem de Lourival para os EUA até deixou em suspense uma eventual transferência sua, do rádio para a tv. A isso ele respondia: “Fui estudar televisão pensando unicamente na Rádio Nacional. O que posso vir a aplicar do que aprendi, no que acho muito difícil, depende tão somente da Rádio Nacional. Afinal, se dependesse dele, uma nova Tv, a Tv Nacional, seria formada com a capacitação de seu pessoal, desde o mais humilde ao mais graduado diretor, na Tv dos Estados Unidos. Na verdade, Lourival Marques era um severo crítico da Tv brasileira. E quando a discussão era acalorada, ele citava o que ouvira de Gary Cooper, famoso ator de Hollywood, um dos poucos que rejeitara ir para a Tv americana: “Não gosto de televisão, porque os programas são feitos por cretinos, com cretinos e para cretinos”. Lourival, “diplomado em Tv nos Estados Unidos”, assim como propagava a imprensa do Rio de Janeiro, nunca deixou o rádio para servir exclusivamente a televisão. E quando foi necessário também fazê-lo, o fez com grande competência.
Na foto: Lourival Marques atuando como diretor de tv na emissora americana, Tv WTVP (Canal 17, Decatur, Illinois, em 1959).
O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI
CINE CAFÉ (CCBNB, JUAZEIRO DO NORTE)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realiza sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro. Em outubro teremos a Mostra Especial Outubro Francês - Do Amor à Loucura que apresentará, além de uma homenagem ao cineasta Jacques Demy, um apanhado de filmes contemporâneos franceses sob o corte transversal do Amor e da Loucura. A importância desta seleção reside exatamente no ponto de vista artístico e autoral da cinematografia deste país, conforme a seguinte programação:.
Dia 07, sábado, 13h: OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR (Les parapluies de Cherbourg. França, 1964, 91min). Direção de Jacques Demy. Sinopse: Geneviève é uma jovem de 17 anos que vive com a mãe e trabalha em sua loja de guarda-chuvas. Ela é apaixonada por Guy, que deve se apresentar ao exército, ficando assim por dois anos longe da amada. Quando se descobre grávida, para surpresa de sua mãe, Geneviève não sabe se espera por Guy ou aceita a proposta de Roland, homem apaixonado por ela que a pede em casamento, mesmo sabendo da gravidez. Filme vencedor de três prêmios em Cannes, incluindo a palma de Ouro.
Dia 07, sábado, 15h: LOLA, A FLOR PROIBIDA (Lola, França, 1961, 91min). Direção de Jacques Demy. Sinopse: Em Nantes, um jovem entediado chamado Roland está deixando a vida passar por ele. Então o rapaz descobre uma chance ao reencontrar uma mulher por quem ele foi apaixonado quando adolescente: Lola, uma dançarina de um cabaré. Além de Roland, Frankie, um marinheiro americano, também é apaixonado por Lola. Mas ela, uma mãe solteira, insiste em aguardar o retorno do amor de sua vida, Michel.
Dia 07, sábado, 17h30: PELE DE ASNO (Peau d’âne. França, 1970, 90min). Direção de Jacques Demy. Sinopse: A história de uma rainha que, à beira da morte, faz com que o rei prometa se casar novamente apenas se encontrar uma mulher mais bela do que ela. Só que em todo o reino, a única pessoa que atende a esta condição é a própria filha da rainha. Desesperada, a princesa busca ajuda com sua fada-madrinha, que sugere que ela peça presentes de casamento cada vez mais difíceis de encontrar, com o objetivo de adiar ao máximo a cerimônia. Enquanto isso, a princesa consegue fugir do reino escondida sob uma pele de asno, vivendo de forma simples em uma cabana. Até que, um dia, um príncipe nota sua beleza.
CINE GOURMET (FJN, JUAZEIRO DO NORTE)
A Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) agora também está incluída no circuito alternativo de cinema do Cariri. As sessões são programadas para as terças feiras, duas vezes ao mês, de 15:00 às 17:00h, no Auditório do Bloco I, na Rua São Francisco, 1224, Bairro São Miguel, dentro do seu Projeto de Extensão denominado Cine Gourmet, sob a curadoria de Renato Casimiro. Informações pelo telefone: 99794.1113. No próximo dia 10, terça feira, estará em cartaz, o filme JULIE E JÚLIA (Julie & Julia, EUA, 2009, 123min). Direção de Nora Ephron. Sinopse: 1948. Julia Child (Meryl Streep) é uma americana que passou a morar em Paris devido ao trabalho de seu marido, Paul (Stanley Tucci). Em busca de algo para se ocupar, ela se interessou por culinária e passou a apresentar um programa de TV sobre o assunto. Cinquenta anos depois, Julie Powell (Amy Adams) está prestes a completar 30 anos e está frustrada com a vida que leva. Em busca de um objetivo, ela resolve passar um ano cozinhando as 524 receitas do livro de Julia Child, "Mastering the Art of French Cooking". Ao longo deste período Julie escreve para um blog, onde relata suas experiências.
ARTE RETIRANTE (EEF. JULITA FARIAS, CARIRIAÇÚ)
O Centro Cultural BNB promove de forma itinerante (Arte Retirante) uma sessão de cinema para crianças, denominada Sessão Curumim, com entrada gratuita, exibe no dia 10, terça feira, às 15 horas, na E. E. F. Julita Farias, em Caririaçú, o filme A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE (Charlie and the Chocolate Factory, EUA, 2005, 115min). Direção de Tim Burton. Sinopse: Baseado no conto de Roald Dahl, este cômico e fantástico filme segue o jovem Charlie Bucket e seu avô Joe. Eles se juntam a um pequeno grupo de ganhadores de uma competição, os quais vão para um passeio na mágica e misteriosa fábrica do excêntrico Willy Wonka. Ajudado por seus anões trabalhadores, Wonka esconde uma surpresa para durante o passeio.
CINE SESC (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine SESC (Teatro Patativa do Assaré, SESC, Rua da Matriz, 227, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no dia 11, quarta feira, às 19 horas, dentro da Mostra Especial Outubro Francês - Do Amor à Loucura, o filme NO OLHO DE LUIS BUÑUEL (Dans l’oiel de Luis Buñuel, França, 2013, 52min). Direção de François Lévy-Kuentz. Sinopse: Inconformado, libertário e subversivo, Luis Buñuel não se cansou de atirar bombas ao realizar seus filmes. Com entrevistas de seus atores, roteiristas e confidentes, o filme retraça a trajetória de um dos cineastas mais originais do século XX. De seu nascimento em 1900, em Aragão, uma Espanha "medieval" a seu último filme, realizado na França (Esse Obscuro Objeto do Desejo, 1977), este documentário traça o caminho de um cineasta libertário e subversivo.
CINE CAFÉ VOLANTE (CASA GRANDE, NOVA OLINDA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Nova Olinda (Fundação Casa Grande), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 13, sexta feira, às 19 horas, o filme O ADVOGADO DO DIABO (The devil’s advocate. EUA, 1998, 140min). Direção de Taylor Hackford. Sinopse: Kevin Lomax (Keanu Reeves), advogado de uma pequena cidade da Flórida que nunca perdeu um caso, contratado John Milton (Al Pacino), dono da maior firma de advocacia de Nova York. Kevin recebe um alto salário e várias mordomias, apesar da desaprovação de Alice Lomax (Judith Ivey), sua mãe e uma fervorosa religiosa, que compara Nova York a Babilônia. No início tudo parece correr bem, mas logo Mary Ann (Charlize Theron), a esposa do advogado, sente saudades de sua antiga casa e começa a testemunhar aparições demoníacas. No entanto, Kevin está empenhado em defender um cliente acusado de triplo assassinato e cada vez dá menos atenção sua mulher, enquanto que seu misterioso chefe parece sempre saber como contornar cada problema e tudo que perturba o jovem advogado.
CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, 158, Centro, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no dia 12, quinta feira, às 19h:30, dentro da programação das segundas quintas feiras de cada mes, contemplando OS FILMES CLÁSSICOS DO CINEMA NOIR, o filme PÁGINAS DA VIDA (Full house, EUA, 1952, 117min). Direção de Henry Hathaway. Sinopse: O escritor John Steinbeck nos apresenta cinco episódios baseados em contos do escritor americano O. Henry. Esse importante literato americano é conhecido por suas histórias curtas e de final surpreendente. Cada episódio é dirigido por um grande diretor: Henry Hathaway, Howard Hawks, Henri King, Kenri Kostner e Jean Negulesco.
CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, 158, Centro, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no dia 13, SEXTA FEIRA, às 19h:30, dentro da programação do Festival MAZZAROPI, o filme O GRANDE XERIFE (Brasil, 1971, 95min). Direção de Pio Zamuner. Sinopse: O carteiro de uma cidadezinha do Oeste se envolve com uma quadrilha durante um assalto. O grupo mata o delegado e, por troça, nomeia o carteiro xerife. Mas este faz tantas trapalhadas que acaba desmascarando o chefe do bando e prendendo todos os malfeitores.
CINE CAFÉ (CCBNB, JUAZEIRO DO NORTE)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realiza sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro. Em outubro teremos a Mostra Especial Outubro Francês - Do Amor à Loucura que apresentará, esse próximo sábado, dia 14, às 17h:30, o filme A VIDA DE JESUS (La vie de Jésus. França, 1997, 96min). Direção de Bruno Dumont. Sinopse: O filme aborda o contexto social numa cidade no norte da França, com jovens desocupados e agressivos com imigrantes. A intolerância é mostrada a partir do cotidiano de Freddy, um rapaz que vive com sua mãe, dona de um café, em Bailluel. Tratado num hospital especializado em epilepsia, ele passa a maior parte de seu tempo com seus amigos, jovens sem estudo e desempregados, e com a namorada Marie, que trabalha como caixa em um supermercado, até que imigrantes árabes entram em cena.
LAMPIÃO EM JUAZEIRO
Recebi com muito prazer o mais recente lançamento do amigo e grande colaborador Luiz Ruben Bonfim que esteve em visita a Juazeiro em dias passados. Trata-se do livro Lampião em 1926. Como sabemos, esse ano se tornou muito emblemático na vida do bandoleiro das caatingas, pois foi quando comprovadamente esteve pelo menos uma vez em Juazeiro, por ocasião dos preparativos para a ação do famoso Batalhão Patriótico, força que objetivava conter a passagem da Coluna Prestes através da fronteira do Ceará e do Piaui. A convite de Floro Bartholomeu da Costa, Lampião e seu bando vieram a Juazeiro e aqui, ele e alguns dos seus receberam patentes militares para serem integrados, além de armas e munições. Mas a história foi outra, em virtude da ausência de Floro, em tratamento de saúde no Rio de Janeiro, fato que o levou a óbito. Dessa passagem em Juazeiro já se escreveu muita coisa. Mas Ruben foi às fontes primeiras, através de documentos e jornais da época para recontar essa história com o rigor do tratado à moda das efemérides, com muita sistemática e propriedade. Congratulo-me com essa sua iniciativa, exatamente ele que é diligente pesquisador da história nordestina e que tem legado grandes contribuições numa proveitosa e expressiva contribuição bibliográfica. Parabéns e muito grato pelo presente que estou lendo, ou melhor, degustando com enorme prazer.
DEMÓCRITO DUMMAR, UM REENCONTRO FELIZ
Li, com muito prazer um breve escrito de Marco Antônio Feitosa (Baturité,CE) publicado na sessão de cartas do jornal O POVO, texto no qual ele relata e rememora seu conhecimento pessoal sobre uma grande figura da imprensa cearense, o jornalista Demócrito Rocha Dummar, neto do fundador do jornal, Demócrito Rocha. E isso me motivou, não só para reproduzir aqui esse texto, bem como para também fazer breve lembrança sobre dois encontros que tive com o Demócrito, também muito importantes para mim. Vamos ao texto do Marco: “Era o ano de 2007 e estava trabalhando como secretário do prefeito de Guaramiranga, morava em Baturité, onde tinha uma oficina de fabricação de réplicas e miniaturas em um galpão da velha Estrada de Ferro, bem na estrada da cidade. Um belo dia recebi a visita do arquiteto Dilson Menezes, que trazia uma fotografia tirada de um lustre em Portugal e perguntava se eu tinha condições de fabricar um igual. Ajustamos o preço e prometi entregar montado em um condomínio em Guaramiranga. No dia 15 de junho 2007, como combinado, lá estava eu subindo a serra. Iniciamos a montagem aproveitando os cavaletes, que estavam sendo utilizados na pintura da sala de visitas. E aí foi que, depois de 50 anos, me reencontrei com o querido Demócrito Dummar. Que, por muitas vezes, ficava hospedado na nossa casa em Juazeiro do Norte, acompanhando a política, quando meu pai Conserva Feitosa, era prefeito e amigo dos seus pais. Ficamos conversando o resto do dia e lembrando as nossas brincadeiras de jovens querendo ser adultos nos muitos bailes e tertúlias que íamos nas cidades do Cariri. Depois desse nosso reencontro, por muitas vezes, fui ao seu gabinete no Jornal, ele sempre alegre. Publiquei no Vida & Arte, 27 de setembro de 2007, “Sonhos na palma da mão” e na página Jornal do Leitor, 24 de julho de 2010 – “O grande açude de Orós”, onde mandamos um exemplar desta edição, para o museu JK em Brasília. O Dr. Demócrito Rocha, sempre que subia a serra, em Guaramiranga parava em Baturité na oficina e ficava algumas horas comigo, sempre demostrando a sua amizade que não esqueço nunca. Faz 10 anos do nosso reencontro feliz.”
Eu tive dois encontros com Demórtio Rocha Dummar. Não sozinho, encontro privilegiado, mas em meio a um grupo de pessoas. O primeiro foi quando nos reunimos com ele, em novembro de 1996, em seu gabinete na diretoria de O POVO para lhe apresentar os resultados de uma missão técnica à Escócia, capitaneada por empresários nordestinos, produtores de cachaça, que fomos ao Reino Unido (Inglaterra e Escócia) e também Paris, para conhecer de perto o negócio da produção de whiskey que queríamos conhecer por dentro, juntos às empresas, institutos de pesquisa e o próprio mercado. Tivemos um encontro muito bom, com o jornal aberto ao nosso relato. Disso resultou num artigo que fiz denominado Cachaça e Whisky, publicado na edição de O POVO, de 17.11.1996, e que reproduziria no primeiro volume do meu livro, Antes qu´eu m´esqueça, em 2000. A outra oportunidade foi em 1997 quando nascia o Jornal do Cariri, fui vê-lo para saber o que me competia, pois, aparentemente por ele eu tinha sido indicado para constar como membro do conselho editorial do Jornal. Tivemos uma ótima conversa sobre o que se descortinava com esse jornal que seria diário na sua primeira fase (hoje continua existindo em outras mãos, mas semanal). A indicação, realmente, partira de amigos do Cariri, assim me relatou. Por mais de um ano, indo quase diariamente ao POVO para apanhar as edições do jornal eu ainda tive a oportunidade de encontrá-lo brevemente e cumprimenta-lo, ao sabor daquele entusiasmo que havia nele para que esse jornal, autêntica bandeira de desenvolvimento pelo Cariri continuasse a existir como uma parte da sua organização. Senti muito o seu desaparecimento prematuro, em 25.04.2008.
(Na foto, Demócrito Rocha Dummar, clicado por Francisco Fontenelle, de O POVO).
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