BOA
TARDE
Dou continuidade à publicação nesta
página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio
Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e
sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
096:
(17.12.2014) Boa Tarde para Você, Vanderlúcio Lopes Pereira
A primeira
coisa que desejo dizer-lhe, Vandinho Pereira, é que neste ano que estamos
encerrando, frequentemente eu estive à frente da televisão para vê-lo conduzir,
e com tal entusiasmo, o Ceará Diverso, e estas foram oportunidades de grande
enlevo, a partir das quais me tornei seu admirador. Pouquíssima coisa desta
nossa televisão, e lamentavelmente da produção local, se assemelha em cuidados
e conteúdos como o programa que você vem apresentando na Tv Verde Vale, há pelo
menos sete anos. Isto necessita ser bem visto e
assistido, pois não há como esconder que vivemos numa região de grandes
predicados culturais e populares, algo que está permanentemente exigindo apoio
e oportunidade de divulgação para fortalecê-los como legítimas e valiosas
manifestações artísticas. O que mais me chama a atenção, Vandinho, é o modo
como a partir da cantoria, especialmente, você tem feito uma grande animação cultural
pela mídia televisiva, talvez a mais importante que ora se realize
cotidianamente, dada a frequência de como ela acontece através do programa e de
outras atividades como festivais de cantadores e noites de violas. Há na sua
agitação, uma riqueza que se espalha pelos mais diversos ambientes, itinerante
por tantas comunidades e centros culturais, para realizar programações que
contemplam lançamentos de cordéis, CDs e DVDs, livros e apresentações de um sem
número de cantadores e mestres desta cultura popular. Mas é isto
mesmo, Vandinho, pois a cultura que você nos apresenta nesta diversidade de
Ceará, que é um ótimo espelho de Nordeste e de Brasil, é a consequência
inevitável da mais ampla interação entre o povo e o seu ambiente, e que se
manifesta por crenças, pela arte, pela linguagem, pelos hábitos, pelas
tradições, pelo folclore, pelo artesanato e por seus costumes. O seu programa é
rico nesta diversidade, desde a boca de cena que o ambienta e segue pelo
roteiro no qual se inserem personagens, artistas e circunstâncias da mais
expressiva riqueza cultural de nossa gente. Assisti-lo, pelo menos para mim, é
experimentar um sensação gratificante que nos coloca ao lado de um gênero que
ainda padece de largo preconceito, como se o verso popular fosse a imagem do
arcaico e do ultrapassado, algo como a arte de um analfabeto, como nos adverte
Pedro Ernesto Filho, no seu mais recente e belo trabalho sobre a Cantoria. O
seu notável esforço, Vandinho, é parte desta cruzada pela desmistificação
destes conceitos e preconceitos, principalmente para não estender uma polêmica a partir de uma segregação desinteligente e que
estabelece confrontos desnecessários, como se tivéssemos polos de cultura de
elite e polos de cultura popular. O que o Ceará Diverso nos mostra a cada dia
está verdadeiramente impregnado de uma genialidade construída por tradições e
costumes e que resiste à mais leviana insinuação de que se trata de algo
superficial, não deixando de contribuir para fortalecer tantos artistas na sua
própria profissão. Desejo também enaltecer este espírito que sua ação exerce
frente a este programa, promovendo em suas edições o esclarecimento, o
conhecimento pedagogicamente apresentado para suportar uma mensagem que nos
assegura o quanto esta cultura nos deleita, mas principalmente nos enriquece.
Eu o cumprimento com entusiasmo, Vandinho Pereira, porque neste mister você
também se tornou um grande mestre.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM
Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 17.12.2014)
ARTIGO: CORONEL CÂNDIDO DO PAVÃO
O Coronel Cândido Ribeiro Campos (Cândido Fernandes da
Silva), conhecido em seu tempo por Cândido do Pavão, era natural do sítio Antas
em Aurora. Filho de Matias Fernandes da Silva (pedreiro que trabalhou na
ampliação da Capela do Senhor Menino Deus em 1864) e Antônia da Encarnação
Monteiro, substituiu o sobrenome Fernandes da Silva por Ribeiro Campos, por
ocasião de “qualificar-se”, para tirar o título eleitoral. Foi um dos mais
importantes chefes políticos do Cariri em sua época, e pai de prole numerosa,
sendo o Padre Januário Campos, o filho de atuação mais marcante. Casou-se com
Ana Maria de Jesus (Naninha), instalando-se no sítio Martins, de seu tio
materno João Monteiro. Transferiu-se em 1902 para o sítio Pavão, antiga
propriedade do mosteiro de São Bento, de Olinda, à época, em poder do padre
Cícero Romão Batista, que a havia comprado. Era encarregado da cobrança dos
dízimos dos que ocupavam as terras sob o domínio eclesiástico, as quais mediam
três léguas de comprimento por uma légua de largura, de ambos os lados do rio
Salgado, estendendo-se do riacho dos Mocós até o riacho do Juiz. Tornou-se, por
força da arrecadação das alíquotas, de grande confiança do Padre Cícero Romão
Batista, o que lhe conferiu notoriedade, ocupando cargos importantes em Aurora,
como o de suplente de Juiz substituto, presidente da Câmara e Prefeito
Municipal, cargo, este último, ocupado em face aos fatídicos episódios de 1908,
onde, com a deposição do coronel Totonho do Monte Alegre, assume ele, Cândido
do Pavão, o cargo de Intendente Municipal de 1908 a 1914, e posteriormente, de
1921 a 1926. Em carta do Padre Cícero ao Cel. Cândido do Pavão, datada de 13 de
outubro de 1916, observa-se referências sobre a situação de perda de seu
rebanho bovino, ora localizado em suas terras em Aurora. Segue trecho do
lançamento:
“... A paz de Deus o guarde e família. Tendo precisão de
fazer minha criação de gado e animais nesta propriedade que comprei aos padres de
S. Bento, mandei lá José Xavier e o meu vaqueiro e disseram-me eles que o lugar
que presta é o Pavão. Havia passado procuração bastante ao Sr. José Xavier para
tratar de qualquer negócio com qualquer um que estivesse no lugar mais
apropriado, e resolver, como fosse justo. O Pavão foi o melhor que acharam.
Portanto, não estranhe em exigir para estabelecer-me que boto aí, eu perco o
resto da criação que está mal colocada. Portanto, lhe aviso que não posso mais
arrendar aí, e em janeiro mandarei o José e o vaqueiro para aí. A respeito de
sua casa, cercados, indenizo por preço razoável. Eu lhe digo com pena porque
lhe desejo a si e a todos todo bem que posso desejar, porém não tenho outro
lugar que se preste para a criação que já estou perdendo. É muito melhor que
compre uma propriedade onde firme seus trabalhos e deixe sua família colocada
em propriedade sua. Reflita bem que verá que é mais justo e melhor. De seu
amigo e compadre. P. Cícero Romão Batista”.
Participante no famoso episódio do "Pacto dos Coronéis",
representando o município de Aurora, Cândido atuou de forma ativa na truculenta
briga pelo litígio do poder no Cariri, figurando em diversas cenas do
coronelismo regional, como na "Questão do Coxá", Ataque de 8 em
Aurora, Morte de Izaías Arruda, entre outros. Veio a falecer aos 24 de julho de
1936.
ARTIGO: BENJAMIN ABRAHÃO POR FREDERICO PERNAMBUCANO
Batista de Lima
Conheci Frederico Pernambucano de Mello através de
seus escritos, especialmente, "Guerreiros do sol: violência e banditismo
no Nordeste do Brasil". Recentemente, no entanto, chegou-me às mãos e aos
olhos "Benjamin Abrahão: entre anjos e cangaceiros". Esse recente
contato livresco traz o prefácio com o crivo de Eduardo Diatahy Bezerra de
Menezes, professor de Sociologia da Universidade Federal do Ceará. Nesse
prefácio o professor da UFC lembra o "teor solene e heráldico" com
que Frederico ilustra a escritura de seus livros, entre eles, "Estrelas de
couro: a estética do cangaço", de 2010, minha próxima leitura. Para essas
leituras é importante que nos transportemos para as décadas de 1920 e de 1930. Esse
foi o período em que mais atuou no Nordeste o imigrante sírio Benjamin Abrahão.
Mesmo não chegando a ir além dos 37 anos de idade, sua vida foi marcada por
impressionante dinamismo. Foi da confiança do Padre Cícero. Tão próximo que
chegou a cuidar das finanças do Padre. Isso o levou a cair na desconfiança da
Beata Mocinha e de Floro Bartolomeu. Entretanto, sua grande façanha foi filmar
Lampião. Para isso contou com o respaldo técnico da Aba-Film cearense, da
família Albuquerque. Foi tão marcante esse Abrahão que a gente lamenta sua
morte prematura. Esse livro de Frederico Pernambucano de Mello lança um olhar
sobre um Nordeste brasileiro em que o Cangaço, a Coluna Prestes, as volantes
policiais e o Batalhão Patriótico se tornaram tão contundentes para o
nordestino do campo quanto as grandes secas que devastaram a região. O
resultado dessas demandas foi o êxodo rural e o abandono das pequenas
propriedades. As cidades cresceram e o campo passou para o domínio dos grandes
proprietários que podiam manter verdadeiras milícias de jagunços sob sua
proteção. Foi nesse contexto que Benjamin Abrahão Calil Botto teve seus dias de
glória e sua decadência. Segundo Frederico Pernambucano de Mello, Benjamin
Abrahão chegou ao Brasil pelo porto do Recife em 1915. Possuía parentes na
Capital pernambucana. Nascera em 1901 na mesma região em que Jesus veio ao
mundo. Disso se aproveitou em muitas ocasiões para fantasiar suas histórias
como conterrâneo de Cristo e angariar a atenção dos nordestinos do Sertão. Com
pouco tempo depois estava chegando a Juazeiro do Norte e conquistando a
confiança do Padre Cícero, que lhe cedeu a máquina fotográfica que recebera de
presente. A partir dessa aproximação do sírio com o Patriarca do Juazeiro, o
pesquisador começa a mostrar a ascensão do conterrâneo de Jesus, e sua saga
pelo Nordeste de fanáticos e cangaceiros. Daí que a figura do biografado passa
a um segundo plano, e o personagem principal do livro chega a ser o Nordeste.
Isso porque Frederico Pernambucano, como pesquisador da Fundação Joaquim
Nabuco, tem estudado essa nossa região, rastreando os ingredientes principais
que a tornam um caldeirão antropológico riquíssimo ainda não explorado
suficientemente. Dessa mina de perfis humanos curiosos, vão desfilando Padre
Cícero, Floro Bartolomeu, Beata Mocinha, Beato José Lourenço, Benjamin Abrahão,
Lampião, Agamenon Magalhães, Severino Tavares, João Martins de Athayde e
Getúlio Vargas. Essa apenas a relação principal, porque como coadjuvantes vão
surgindo beatos, cangaceiros, fanáticos, coronéis, volantes, jagunços,
penitentes, tudo assentado numa região em que há mais secas que invernos.
Violeiros, mascates e comunistas também se misturam nessa fauna humana de tipos
propícios a uma análise profunda para se entender essa convivência sociológica.
Nesse palco de variadas personas, Benjamin prospecta uma ascensão social.
Procura então contato com o tipo mais arisco e mais representativo, talvez, do
choque dessas naturezas variadas. Lampião é seu objeto de pesquisa, montado que
é numa problemática provocada pelo entrechoque dessas diferentes tendências.
Daí conseguir entrevistar o Rei do Cangaço, fotografá-lo e filmá-lo nos seus
momentos de descanso na caatinga. Consegue o que polícias de sete estados, por
20 anos, não conseguiram, prender Lampião e seus homens em imagens que nos
chegam até hoje. Benjamin Abrahão conseguiu com seu grande feito, mexer com os
brios do aparelho policial do Nordeste e com os políticos do mais alto escalão
do País. Foi exatamente esse grande feito do sírio o ponto culminante da
escritura de Frederico Pernambucano de Mello. Se não fossem as inexplicáveis
subjetividades guardadas no coração, Benjamin Abrahão não teria sido
assassinado na noite de 7 de maio de 1938, aos 37 anos de vida. Se não fora
essa paixão não correspondida por uns olhos negros já compromissados, o irrequieto
Benjamin muito ainda teria feito neste país de nordestinados, e Frederico
Pernambucano de Mello ainda teria muito que garimpar de sua vida e de seus
feitos.
(Diário
do Nordeste, Fortaleza, 16.12.2014)
ESTACIONAMENTO
ROTATIVO ELETRÔNICO
O Diário Oficial do Município de
Juazeiro do Norte publicou no dia 16, ontem, um Aviso de Licitação para
Concorrência Pública, como providência para a Implantação, Operação, Manutenção
e Gerenciamento do Sistema de Estacionamento Rotativo Eletrônico Pago de
Veículos Automotores nas Vias e Logradouros Públicos da Cidade, denominado de “Estacionamento
Rotativo De Juazeiro Do Norte”. Eis os seus termos: AVISO DE LICITAÇÃO.
CONCORRÊNCIA PÚBLICA Nº 2014.11.18.01. ESTADO DO CEARÁ – PREFEITURA MUNICIPAL
DE JUAZEIRO DO NORTE – AVISO DE CONCORRÊNCIA PÚBLICA Nº 2014.11.18.01. O
Presidente da CCL do Município de Juazeiro do Norte/CE torna público para
conhecimento dos interessados que, no próximo dia 19 de Janeiro de 2015, às
09:00 hs na Sede da Comissão Central de Licitação localizada na Praça Dirceu de
Figueiredo, s/n, Bairro Centro, Juazeiro do Norte/CE, estará realizando sessão
para recebimento e abertura dos envelopes de Documentos de Habilitação e
Propostas de Preços para o objeto: CONCESSÃO ONEROSA, PARA A IMPLANTAÇÃO, OPERAÇÃO,
MANUTENÇÃO E GERENCIAMENTO DO SISTEMA DE ESTACIONAMENTO ROTATIVO ELETRONICO PAGO DE VEÍCULOS
AUTOMOTORES NAS VIAS E LOGRADOUROS PÚBLICOS DA CIDADE, DENOMINADO DE
“ESTACIONAMENTO ROTATIVO DE JUAZEIRO DO NORTE”. O edital e seus anexos
encontram-se disponíveis no endereço acima, das 8:00 às 17:00 horas. Juazeiro
do Norte/CE, 15 de Dezembro de 2014. José Wilson Marques Junior – Presidente da
CCL.
(Obs.: A ilustração que pusemos é uma
foto recente do jornal A Imprensa (Mato Grosso) divulgando a implantação deste
serviço naquela capital. O sistema, sem dúvida alguma, é mais avançado do que o
atual sistema de Zona Azul, e deverá ser totalmente automatizado, dispensando a
comercialização de talões, por ser eletrônico. O serviço a ser terceirizado é,
como diz o Aviso, na condição de Concessão Onerosa.)
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