BOA
TARDE
Dou continuidade à publicação nesta
página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio
Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e
sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
099: (24.12.2014) Boa Tarde para Você, Francisco
de Assis Sobreira Quintino
Quando lhe disse ontem à noite da minha
imensa alegria em revê-lo, depois de várias décadas que passaram sem os nossos
abraços fraternos, você me disse, quase filosofando: “Voltar é uma forma de
renascer. E na volta, a gente nunca se perde...” Quem assim sentenciou, você
mesmo me disse que nunca soube. Mas lhe asseguro que foi o notável José Américo
de Almeida, aquele paraibano extraordinário, certamente em um destes momentos
nos quais se sente que um filho pródigo retorna ao seu chão amado. Naquele
instante, ao nos abraçarmos, eu estava com a edição mais recente do jornal
Folha de Juazeiro, a de número 314, a tiragem deste mês de dezembro, em mais de
45 anos de existência, onde se lia na sua cabeça, “...fundado em 17.08.1969,
por Jackson Pires Barbosa e Assis Sobreira”. Você estava ali, Assis, mais uma
vez, na fidelidade irretocável deste jornal e no compromisso social de grande mérito,
mantido a duras penas pela exemplar reverência de José Bernardo da Silva Neto e
de sua mãe, Zuzinha Barbosa, e disso quase choramos juntos. Não deixa de ser um
tanto melancólico ver suas edições mais recentes, tão minguadas em até somente
Quatro páginas por mês, para ao lado disto sentir o conforto daquilo que é
lutar bravamente para que esta terra continue tendo nele um dos seus
porta-vozes. Fruto disto é encontrar na cena matutina deste dia de hoje, o
Bernardo Neto, com enorme bolsa a tiracolo, amanhecendo no bairro de Santa
Teresa, e distribuindo seus exemplares na mão de cada leitor, como se cada um
fosse uma nova esperança no revigoramento ou na ressureição de tantos e
permanentes ideias, e no fortalecimento de uma imprensa formadora de opinião. É nesta paisagem que você, Assis, está de
volta, na primeira página de um dos seus jornais e o tempo nos guardou você, e
não se incomodou que daqui você tenha ido por aí, por São Paulo, por Viçosa,
por Carnaíba, por Fortaleza, vencendo léguas tiranas e trabalhando firme e
forte em anos sem fim. Cá o temos de volta, como herdeiro das memórias de seus
pais, Edite e Amâncio Quintino, e dos seus irmãos, especialmente de Almery e do
Alcely, nas graças do eterno, e a testemunho vivo de Aldemir e Célia, em Fortaleza,
e de Amaury, em Russas, como parte das heranças da juventude que nos viu
passar. Recebemos hoje a sua visita, no dia do seu aniversário, em data tão
feliz desta nossa cristandade, para também nos dar a oportunidade de celebrar e
darmos graças a Deus pelo dom de sua vida. É assim que nos cabe lembrar e
reverenciar com tanto afeto todos aqueles de quem sabemos que daqui saíram e
para cá voltaram um dia, nos dizendo, como você, com a alma lavada e enxaguada
em tanto amor: “...quando fui embora, foi comigo o Juazeiro e tantos anos fora,
mas o Juazeiro jamais saiu de dentro de mim...” Por isso, me avexei em lhe dar
noticias breves destes tempos corridos, lembrando o Beco de Catarina, a saudade
de tantos amigos, alguns dos quais exilados na eternidade, dos tempos da CELCA,
dos velhos colégios, da praça e dos namoros, do Centro Estudantal Juazeirense,
do Tibério, da AJI, daquela imprensa dos idos do Pioneiro, do Tribuna, de
jornalistas e de oficinas. Parabéns, Assis, e que o dia de hoje, na mesma data
em que sempre celebrávamos o dia dos seus anos, lhe reserve as gratas alegrias
do reencontro com parte de sua família, com os amigos que nunca se esqueceram
de você e lhe tributam um preito de afeto e gratidão, manifestando votos de um
Feliz Natal e de um Ano Novo muito próspero. Seja bem vindo, Assis Sobreira,
para este congraçamento tão ansiosamente aguardado e muito obrigado por parte
de sua obra que aqui ficou a nos dizer que enquanto foi possível, um filho teu
não fugiu à luta.
(Crônica
lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 24.12.2014)
100:
(26.12.2014) Boa Tarde para Você, Aguinaldo Carlos de Sousa
Na última oportunidade em que nos
encontramos, estávamos tristes pela memória dos nove anos da morte do nossos
amigo Pe. Francisco Murilo Correia de Sá Barreto, e não deixamos de rememorar a
grandeza moral e espiritual do amigo que perdemos. E tem sido assim, quando vez
por outra, por estas lembranças, nos deixamos revelar impressões pessoais de
nossa vivência pela fé que professamos, pelos missionários que admiramos, pela
Igreja que vivemos. Deve ter sido impactante, também para você, Aguinaldo, este
mais recente pronunciamento do Papa Francisco, diagnosticando perante a Cúria
Romana, as quinze doenças que lhe parecem enfraquecer o serviço pastoral da
nossa Santa e pecadora Igreja. Digo-lhe isto porque sei o quanto esta
preocupação também lhe diz respeito, como receio daquilo que observamos à
distância, em resposta aos escrúpulos que nos cabem na hora de duros juízos que
fazemos. O Papa Francisco, como se tornou de hábito, nos surpreende ainda mais
pela franqueza, pela determinação de não ser aquele morno que encontramos no
capitulo 3 do Apocalipse: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.” Não é fácil reconhecer, Aguinaldo, mesmo por estes tempos de tantas
surpresas, um pontífice vir à frente dos seus mais próximos para dizer que,
feito o exame de consciência, quanto já seria belo pensar nesta Igreja, por sua
Cúria, mas também por todos os cristãos, dioceses, comunidades, congregações,
paróquias e movimentos eclesiais, em harmonia consigo próprios e com o próprio
Cristo. Então, diz ele, padecemos todos, hierarquia e povo de Deus, de quinze
mazelas, quantificadas sistematicamente, doenças ou tentações que até nos
impedem de viver plenamente a data presente, deste grande sinal que foi o filho
de Deus nascer pobre e humildemente para nos ensinar algo que corações duros
insistem em não aprender. Recomendo a você, a leitura de todo este
pronunciamento marcante que nos serve também para que não se estabeleça nenhuma
dicotomia, nenhuma segregação ao juízo intempestivo de que somos uns, de outras
doenças orgânicas e há, à margem disto, uma Igreja de ministros que sofre por
outras angústias. O Papa Francisco também nos adverte, Aguinaldo, o quanto nos
parece que somos suficientes a ponto de sequer fazer a sua própria autocrítica;
o quanto mais nos preocupamos com o trabalho, sem tempo para ouvir a mensagem;
o quanto somos homens de dura mentalidade e que se perdem sem serenidade
interior; o quanto somos excessivamente pragmáticos no que planejamos e
contabilizamos materialmente; o quanto nem parece, mas padecemos de uma certa
diminuição progressiva das nossas faculdades espirituais, vivendo num estado de
absoluta dependência de pontos de vista, muitas vezes imaginários; o quanto
somos pelo excessivo valor da aparência, que nos leva a ser falsos e a viver
uma falsa mística; o quanto estamos doentes e vitimados por uma vida dupla,
fruto da hipocrisia e da vivencia de um progressivo vazio espiritual ao buscar
em títulos o sentido de nossas vidas. É oportuna uma boa reflexão do que nos
diz Francisco, Aguinaldo, especialmente para sinalizar com que indiferença
reagimos à vida comunitária, pela perda da sinceridade e calor nas relações
humanas; o quanto por medo ou insegurança deixamos de ser pessoas que se
esforçam em cortesia, serenidade e entusiasmo; e o quanto por esta insegurança
somos levados a acumular riquezas na tentativa de preencher um vazio
existencial no coração, por vezes vivendo em pequenos grupos, pelo exibicionismo da lucratividade mundana,
absolutamente desonesta. Diante destas considerações de tão boa hora, espero
logo reencontrá-lo para esticar esta conversa, ao tempo que a vida vai me
proporcionar a agradabilíssima oportunidade de abraça-los, você Aguinaldo,
Fátima e seus filhos e netos, exatamente porque, assim parece ser o plano de
Deus.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde,
da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 26.12.2014)
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