BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que semanalmente estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de quartas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
246: (01.02.2017) Boa Tarde para Você, Jevan Siqueira Paiva
“Na alegria imensa / Que invade o coração / De saber que estou de volta / Pro meio do meu povão / Nossa querida Juazeiro / Receba do seresteiro / O mais forte abração. / Voltei para ficar / Com prazer e alegria / Rever todos os amigos / Que há tempos eu não via / Juazeiro eu te amo / Toda hora e todo dia.” Digo-lhe com sinceridade, Jevan Siqueira, que nem precisávamos ouvir esses versos para saber dessa mais pura sinceridade de um camarada como você, retornando ao torrão estimado, sua cidade adotiva, para decanta-la tanto quanto o fez pelo Cedro, seu chão nativo tão amado. Ao ter voltado recentemente, também como você, a lembrar outro poeta, “Como a ave que volta ao ninho antigo, Depois de um longo e tenebroso inverno, Eu quis também rever o lar paterno, O meu primeiro e virginal abrigo.” Creio, Jevan, que isso também lhe parece estar escrevendo um livro, a continuar na escritura, como aquele que prazerosamente degustamos tempos atrás, em capítulos que nos falavam de Cedro – o início de tudo, Juazeiro – a terra amada, Fortaleza – aquele momento e novamente aqui – o retorno. Então, esse capítulo mais recente, a postos para construir, longe está em ser um amargo regresso, senão para trazer de volta o Gosto de Saudade, abemolado por tantos CDs, sempre aos sabores da mesma saudade do menestrel incorrigível, para lembrar velhas e deliciosas canções. Tenho ao alcance do ouvido essas peças memoráveis com as quais me reencontro com o enlevo desejável da recordação que se impõe aos nossos momentos de recolhimento e onde não deve faltar a música sublime, com a voz maviosa do seresteiro notável que tanto nos encanta. Seja bem vindo a esse Juazeiro, porque é bem aplicado a você aquilo que se disse em outras circunstâncias que uma vez saído daqui, há quinze anos, enfrentou outra diversidade, sem que sentisse que tanto o Cedro como esse Juazeiro tivesse saído de dentro de si. É verdade que você e eu reencontramos um Juazeiro mais pobrezinho, e nas amizades, então, nem me fale, pois nesse intervalo do que lhe levou para as praias e esse de volta ao sertão, lá se foram amigos queridos como Assunção, Lunga e o Zé Tavares que você pranteou com tal sofrimento. Agradecemos a você, Jevan Siqueira, esse ato de extrema fidelidade a um certo compromisso amoroso que você empreende e constrói reunindo em torno de si o profissionalismo com o qual você se tornou notório, na radiofonia, desde os primeiros momentos na Voz do Progresso de Cedro. Aqui você será sempre festejado pela trajetória percorrida entre radiofonia local, em quase todos os prefixos de então, até e principalmente pela honradez de tantos encargos nos setores produtivos da cidade, reconhecido como alguém cuja leveza de espírito se fez marca evidente do grande caráter. Seja bem vindo, Jevan, digo eu porque cheguei um pouco primeiro para lhe dizer que é necessário reconhecer que muitas coisas mudaram por aqui e nós sempre esperamos que sejam essas mutações para melhor, de tanto que gostamos de festejar, desde as vésperas, a chegada dos melhores dias. Lamentamos reapresenta-lo à sua cidade amada, uma terra que se violentou e feriu de morte tantos dos seus filhos, pela desgraça dos tempos, pela desesperança nos caminhos, pela maldade que conquistou nossos jovens para retirá-los do nosso convívio entre modismos estranhos e drogas. Lamentaremos juntos, à sua atualização dessa cena urbana, a infelicidade que vivemos em tantos lugares, como no João Cabral que lhe abriga hoje, mas que lhe acolhe generosamente para lhe trazer um lenitivo à margem da folha policial sempre convulsa, ansiosa por um definitivo sinal de paz. Ao lado de tudo aquilo que cada um de nós sabe, pode e deve fazer, Jevan, a isso some-se a nossa responsabilidade social em transformar essa cidade no recanto de nossos sonhos, o virginal recôndito de nosso abrigo. Certamente, a pessoas como você e eu, reconduzidos à intimidade dessa convivência e missão, só restará a tarefa urgente e ingente de um esforço continuado para tentar reformar esse estado de coisas, a ponto de nos realinharmos com a esperança necessária para os dias vindouros.
Quero revê-lo, Jevan, qualquer hora dessas, como tantos que seguramente já estão fazendo, abrindo sorriso largo e de olhar em festa, para celebrar esse reencontro que fazemos com a felicidade que será abraça-lo, amigo dileto e festivo que nos trás canto e encanto para esse mais recente encontro.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 01.02.2017)
BOM DIA!
Continuo transcrevendo nesta coluna semanal o conjunto de sete textos que estão sendo publicados na minha página do Facebook, tratando de questões relacionadas com a atualidade da vida juazeirense, com o objetivo de fomentar uma ampla discussão sobre esses temas de nosso interesse. Os que desejarem contribuir com esse propósito, poderão dispor do espaço na rede social, ou encaminhando sua opinião para o nosso endereço. Muito grato.
BOM DIA! (29) Por Renato Casimiro
Lampião esteve na Rua São José? Tivesse sido afirmativa esta resposta aos garotos da Rua São José, naqueles idos dos anos 50-60, bem imagino o ar de surpresa que o fato teria causado. Nossas brincadeiras, do tipo mocinho x bandido não iam além dos modelos trazidos pelos concorridos filmes de faroeste, vistos no Cine Avenida, em animadas sessões dominicais, à tarde. E, por exemplo, nunca vi ninguém se fantasiar de cangaceiro. É bem verdade que o próprio cinema demorou bastante a utilizar o manancial de histórias do cangaço para produzir películas. Eu soube em casa de algumas histórias de Lampião. Meu pai me contou algumas delas, uma das quais, por depoimento próprio, de quando Lampião e seu bando estiveram em Juazeiro, em Março de 1926. Nas narrativas, tanto de meu pai, quanto de outros, os cangaceiros vieram para Juazeiro a chamado de Floro Bartholomeu da Costa. Mas nisso há uma grande controvérsia, pois muitos dizem ainda que foi a chamado de Padre Cícero. Essa, afinal, persiste ainda hoje como uma grande chaga na biografia do patriarca, com as menções frequentes de que protegia, aqui recebeu – dizem, várias vezes, dava guarida a sua família que morava na cidade, e há até fotografia de todo o clã reunido na visita do filho mais “ilustre”. A primeira hipótese é a mais admissível, não que queiramos livrar a responsabilidade do Patriarca, mas porque eles foram hospedados na fazenda do Floro, onde hoje está instalado o Orfanato Jesus, Maria, José, no bairro Santa Tereza. Por questões de segurança, aí, sim, entra em cena o Padre Cícero que os teria remetido para a hospedaria do Palácio das Águias, o sobradinho do poeta João Mendes de Oliveira, na Rua Boa Vista. Esse imóvel eu o visitei há muitos anos atrás, pois pertencia a pessoas a nós aparentada, dos Soares, de Alagoas. Hoje completamente descaracterizado, o sobradinho perdeu o charme que havia, dos tempos do poeta João Mendes. Para aquele Juazeiro dos anos 20, isto era o “arisco”, uma designação que eu usei, repetindo muito, para referir aos cantos distantes daquele núcleo mais central, em torno da Praça Padre Cícero. Recentemente, relendo alguma coisa sobre Lampião, e as questões relativas a sua permanência em Juazeiro e ao malfadado capítulo de sua patente de capitão, contidos em Frederico Bezerra Maciel – Lampião, seu tempo e seu reinado, vol. III - A guerra de guerrilhas (fase de domínio), fui encontrar detalhes do trânsito do bandido pela cidade. Prefiro transcrever os textos. Sobre o dia 05.03.1926, depois de relatar como foi a visita de Padre Cícero ao sobrado de João Mendes de Oliveira, o autor fala: “À noite, cedo, retribuiu Lampião a visita do Padre Cícero, na sua “casa velha”, sita à Rua São José n. 126. Ocasião em que recebeu a patente de Capitão comissionado na luta contra os revoltosos”. E acrescenta com uma nota: “Do sobrado da rua Boa Vista, dobrou Lampião pela rua São Paulo e por ela foi seguindo até o cruzamento com a rua Nova (hoje Av. Dr. Floro), onde quebrou a esquerda e continuou seguindo, atravessou a rua Grande (hoje Padre Cícero), e entrou no beco da Catarina, saindo na rua São José, onde dobrou à direita até à “casa velha”, hoje de n. 126, onde morava o Padre. A primeira casa em que o Padre morou, cedida por José Francisco Gonçalves, ficava onde hoje é o n. 130 da rua Padre Cícero. A “velha casa” é hoje abrigo de velhos e velhas dirigido pelas irmãs de Santa Teresa e guarda piedosas relíquias do Padre, onde viveu durante 28 anos. Depois mudou-se ele dessa casa apertada para a espaçosa “casa nova”, construída mais adiante um pouco, pela beata Mocinha e por Floro, na mesma rua n. 242, onde morou e hoje é o Museu do Padre Cícero.” O autor até ilustra sua obra incluindo o trajeto de Lampião e bando, usando um mapa mais recente da cidade de Juazeiro do Norte. Mas, comete imprecisões, pois coloca a “nova casa” do Padre Cícero (Museu), na rua Grande, em frente a Matriz. E a “velha casa” na rua São José, esquina com Cruzeiro. Em seu livro, A Derradeira Gesta – Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão, a profa. Luitgarde Oliveira Cavalcante Barros, transcreve uma entrevista que teve com meu tio José Gonçalves Casimiro, irmão de meu pai, confirmando o fato, de certa forma, nos seguintes termos: “Quando era dez horas da noite Lampião ia conferenciar com Padre Cícero, que ficava aconselhando ele a sair daquela vida.” E a única maneira de estar com o Padre Cícero era mesmo ir até sua “velha casa”, já que havia tido o primeiro contato no sobradinho de João Mendes. Em seu relato, minucioso, tio José dá detalhes da permanência de Lampião e as ações de Dr. Floro para trazer o pesado armamento que seria entregue aos cangaceiros e ao batalhão patriótico que enfrentaria a Coluna Prestes, nas cercanias de Campos Sales. Meu avô, Antonio Alves Casimiro, Tonhero, dispondo de um ônibus e um caminhão, transportou armas e pessoal, porque foi contratado por Floro para tal. Floro, antes de ter viajado para o Rio de Janeiro, para o tratamento de saúde – terminaria falecendo, teria dito ao meu avô, por conhecimento da familia: “Seu Tonhero, eu só confio aqui no senhor para passar pelo seu punho todo o material". Meu avô prestou esse serviço a Floro e o pagamento só foi feito após a sua morte, conforme está na execução do testamento do deputado. Ainda, segundo Maciel, Lampião e seu bando estiveram na rua São José, de passagem, no dia 07.03.1926, logo depois da missa das nove, celebrada pelo Padre Esmeraldo, e assistida por eles, seguindo para uma visita ao Horto. (Estranho essa afirmação de Maciel, pois Padre Esmeraldo – Pe. Pedro Esmeraldo da Silva Gonçalves, o primeiro vigário de Juazeiro, já havia deixado a cidade em 1921, indo para Pelotas no Rio Grande do Sul, ficando ali a serviço da Diocese, onde o titular era D. Melo, de família cratense). Tomaram o itinerário da rua Padre Cícero, entraram na rua do Cruzeiro (esquina de Dina e Doroteu Sobreira), passaram no cruzamento com a rua São José e foram na direção do Salgadinho, até a serra do Catolé. Num daqueles dias, em março de 1926, meu pai tinha pouco mais de 11 anos e foi com outros garotos da rua da Matriz, onde morava sua família, para conhecer, seis quadras adiante, pela rua São Paulo, o bando de Lampião. Ele me contava que a meninada ficava embaixo, enquanto o grupo estava no pavimento superior, gritando para que eles aparecessem. De vez em quando, um deles jogava moedas para adultos e crianças que estavam ansiosos pela aparição, na porta do Palácio das Águias. Numa destas, meu pai teve sorte e conseguiu apanhar um patacão. Anos mais tarde, a revelação destes fatos lhe trazia um brilho nos olhos e uma emoção que se traduzia com o entusiasmo que seu relato continha. O patacão ficou em seus guardados até que a família retornou à Paraíba, para a fazenda Carnaúba, no município de Sousa. Depois, o patacão se perdeu nos espaços das mudanças e no tempo da criança que ficou para trás. E eu ouvi meu pai me dizer muitas vezes da tristeza de ter perdido esse patacão. Mas, as histórias, como estas e tantas outras de cangaceiros, se perpetuaram com sua memória viva, em narrativas que nos enchiam de encanto, noite adentro. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 29.01.2017)
BOM DIA! (30) Por Renato Casimiro
“Cai a tarde, tristonha e serena...” (da Ave Maria, valsa-serenata, de 1924, de Erothides de Campos, na voz de Augusto Calheiros). Ao ouvir a canção pelos auto-falantes do Centro Regional de Publicidade (CRP), instalados na Praça Pe. Cícero, parecia logo que um clima de tristeza e nostalgia invadia a Rua São José. Era nestas horas, particularmente, que mais ainda lamentava as perdas e danos, da Rua e da cidade. A sonorização me trazia um clima de tristeza e melancolia. Destaco este fato para falar das dores que marcaram um menino de pouca idade, mas que já tinha firmado o seu sentimento para com estes fatos. Só eu sei quanto eles machucaram meu coração. Achei que seria necessário falar alguma coisa dos acidentes, das doenças e das mortes. Não vai aqui nenhum sentimento mórbido. Mas, a constatação de que a vida, invariavelmente, encerra este capítulo. A mais importante perda da Rua São José, em todos os tempos, foi sem dúvidas, o desaparecimento do Padre Cícero Romão Batista. Não vou relatar o que já foi dito e está escrito magistralmente por Amália Xavier de Oliveira e Lourival Marques. Amália dedicou minuciosa página em seu livro O Padre Cícero que eu conheci, e Lourival fez um belo artigo publicado em jornal e reproduzido no livro do jornalista Edmar Morel. Certamente a Rua São José jamais viveu dias mais terríveis em sua existência. Pe. Cícero morou bons anos na Rua São José. Estimo que isto tenha representado pelo menos 3 décadas de sua existência. Era comum ouvir convites de sepultamentos, ou para missas de 7º e 30º dias, ou de ano, pelo CRP. Também eles saiam pela Rádio Iracema, e havia sempre uma certa consternação ao ouvi-los. Ou porque eram precedidos de música clássica, ou porque se fazia uma leitura pausada e triste após um toque profundo de um gongo. Outro indicativo triste eram as badaladas dos sinos da igreja matriz, ou da capela do cemitério, desde a saída do cortejo da residência do finado, da cerimônia de encomendação, após a missa de corpo presente, e o andamento do cortejo para o cemitério. Aquelas duas badaladas cadenciadas marcavam muito a vida da cidade. Havia uma certa cumplicidade no movimento urbano, e o próprio sentimento dos transeuntes. Principalmente se o finado era gente muito conhecida. Na igreja havia um clima pesado, um tanto tétrico, de uma eça no centro da nave principal da matriz, como se ali fora o túmulo do falecido. Feita em madeira, recoberta de pano preto, a eça nos metia medo. Às vezes, circulando pelas áreas atrás da sacristia, onde se guardavam as peças desmontadas da eça, corríamos de medo. Para mim, e por muitos anos, aquela eça era a imagem de um velho túmulo que a gente romeira havia erigido no cemitério do Socorro, e que ruiu com o tempo. Como morador da Rua, entre os anos 50-60, também senti angustiado estes desaparecimentos dolorosos e alguns acontecimentos dramáticos. Por exemplo, a morte de um filho do nosso vizinho, Cel. José Pedro da Silva, o João, alguns dias depois do seu casamento, e o próprio pai, algum tempo depois, os falecimentos de gente querida na família, como minha avó Neném Soares, minha madrinha Maria Germano, e o acidente automobilístico com meu pai, Luiz Casimiro. Neste último, por pouco não seria também vítima de um destes momentos trágicos. Meu pai adquiriu uma Lambreta, quando este tipo de veículo se tornou moda por aqueles tempos, e a usava para ir ao trabalho. Pouco tempo de uso e ela teve de desaparecer. Num começo de tarde, indo para o Centro Elétrico (Rua São Pedro, 619) eu não o acompanhei, indo na garupa, como gostava, por não ter encontrado as alpargatas que tanto gostava de usar. Meu pai seguiu tranqüilo pelas ruas da Conceição e São Pedro, enquanto eu ficara aos prantos pelo passeio perdido. No cruzamento da Rua São Pedro com Rua Santa Luzia foi estupidamente abalroado por um caminhão que descia a Rua São Pedro em desabalada carreira. Papai foi jogado a muitos metros em violento choque. O motorista, embriagado, Newton, filho do comerciante Genario Oliveira, fugiu sem oferecer qualquer socorro à vítima. Removido para o Hospital São Lucas, foi constatado pelo médico de plantão que meu pai fraturara a clavícula, além de escoriações pelo corpo. O tratamento da época foi o de uma amarração do osso com um fio metálico e a imobilização do braço recolhido e cruzado sobre o peito, com um colete de gesso, do pescoço à cintura. Por 90 dias, acompanhamos o sofrimento de meu pai, sem trabalhar, em casa, dependente de todos e a reclamar de dores freqüentes, além dos incômodos nas horas de dormir, asseios, alimentação e deslocamentos. Após este tempo de molho em casa, e feita uma radiografia, constatou-se que não havia a consolidação da fratura. Pior, havia grassado osteomielite. O carniceiro-mor havia imposto ao meu pai, além de ridicularizá-lo no atendimento ambulatorial, uma dura prova: com um gesto brusco, puxou o braço do meu pai em sua direção provocando uma dor tão grande que por pouco não perdeu os sentidos. Nova operação foi realizada, cortando uma porção da clavícula e colocando um enxerto de osso de cabra, amarrado com um fio metálico. Novo colete de gesso e mais 90 dias de privações. Ao final, nova radiografia constataria o sumiço do pedaço do osso enxertado, que foi, certamente, absorvido pelo organismo. Meu pai e nós não agüentávamos mais tanto sofrimento. A família decidiu levá-lo para São Paulo, onde no Hospital Brigadeiro, do antigo IAPC, meu pai foi bem tratado por uma via menos traumática. Por exemplo: o colete de gesso, classificado como ato de brutalidade, foi substituído por uma faixa que satisfatoriamente promovia a imobilização do braço. Face a ocorrência de osteomielite, cerca de uma polegada da clavícula foi preenchida por uma prótese metálica de platina ou liga. E finalmente, meu pai se recuperou, guardando para sempre os sinais daqueles traumatismos que se renovavam anualmente nos meses de temperatura mais amena, com dores freqüentes, dada a presença do metal no seu corpo. Serão sempre, para mim, inesquecíveis os momentos de ansiedade em que aguardávamos notícias auspiciosas de São Paulo, como já relatei em outra ocasião. E bem assim, os instantes em que subíamos a Serra do Araripe, para no velho aeroporto de Fátima, em Crato, esperar a chegada do heróico DC-3, da Real Aerovias, nos trazendo de volta, meu pai, são e salvo. Aleluia.
Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 30.01.2017)
BOM DIA! (31) Por Renato Casimiro
Ernestina Pereira era pernambucana, de Palmares, nascida em 25.10.1911. Seus pais faleceram quando ela era ainda muito jovem. Por isto, ela veio morar em Juazeiro, com uma tia, Joaquina. À nossa família, Ernestina se aproximou pela amizade com a tia Etercília. Esta amizade cresceu e a aproximação se tornou cada vez mais estreita, com a qual se sentia tão bem que, por sua vontade própria, passou a residir em casa de Dona Neném Soares, minha avó. Seus irmãos não gostaram muito da idéia e até procuraram mudar-lhe a decisão. Minha avó resolveu ouvir a opinião insuspeita do Padre Cícero, também morador da Rua São José, levando o problema ao seu conhecimento. Ouvindo a manifesta vontade de Ernestina, Padre Cícero sentenciou e determinou: “Então, você vai ficar morando com a família de dona Neném Soares até quando você quiser”. Quando nasceu minha tia Zuleica, Ernestina já mocinha tanto se afeiçoou pela menina que literalmente se assumiu como sua babá. Hoje bem o sabemos como foi importante esta sua dedicação ajudando na criação da tia Leica, e mais ainda fortalecendo a relação de amizade, agora convertidos em permanentes laços de família. Quando conheci Ernestina foi vendo-a e ouvindo-a cumprimentar minha avó como mãe. Na sua mocidade era costume ir passear com amigos em Aurora, onde permanecia dias e férias. Ai conheceu Joaquim Fernandes, filho de Antonio Leite Fernandes e de Vicência Leite, com quem namorou e casou. Casados, moraram em Aurora, onde Joaquim tinha seu próprio negócio de sapataria. Depois foram morar em Cedro. E vieram os filhos (sete), hoje já desdobrados em netos (vinte e cinco) e bisnetos(vinte e três). Escrevo-lhes um breve traçado genealógico, para lembrar esta faceta rica e importante das vidas de Ernestina e Joaquim. Exatamente porque constituíram uma família determinada pelo trabalho, com elevado censo de responsabilidades e impregnada pela fraternidade que os mantêm unidos na alegria e na tristeza, na proximidade e na distância, no sucesso e na adversidade. Eis a relação dos descendentes do casal: F1. Milton, casado com (cc.) Vanda, pais de: N1.1. Elizabeth, cc. Hermeto, pais de: B1.1.1. Clarissa, B1.1.2. Débora, B1.1.3. Talita; N1.2. Tereza, cc. Aliomar, pais de: B1.2.4. Vanessa, B1.2.5. Tiago, B1.2.6. Gabriela; Milton casou em segundas núpcias com Tereza, sem descendentes; F2. Iraci, cc. Airton, pais de: N2.3. Angela Maria, cc. Cilênio, pais de: B2.3.7. Raíssa, B2.3.8. Ítalo, B2.3.9. Ravena; N2.4. Francisco Neto, cc. Maria da Conceição, pais de: B2.4.10. Mateus, B2.4.11. Lucas; N2.5. Marta, cc. Bonon, pais de: B2.5.12. Victor Hugo, B2.5.13. Bonon Filho; N2.6. Ricardo, cc. Angélica, pais de: B.2.6.14. Rian, B.2.6.15. Luana; N2.7. Ana Lúcia, cc. Expedito, pais de: B2.7.16. Diego, B2.7.17. Bruno, B2.7.18. Bárbara; N2.8. Airton Júnior, cc. Angelita, pais de: B2.8.19. Ígor; N2.9. Paula, cc. Juarez, pais de: B2.9.20. Roger, B2.9.21. Vitória; F3Moacir, cc. Elza, pais de: N3.10. Marcelo, N3.11. Marçal, N3.12. Marcos, N3.13. Maurício; F4Margarida, cc. Edmar, pais de: N4.14. Kelly, N4.15. Emílio, cc. Daniele, pais de: B4.15.22. Vitória; N4.16. Camila; F5Marleno, cc. Telma, pais de: N5.17. Alex, N5.18. Naiana, N5.19. Ticiana; F6Marluce, cc. Paulo, pais de: N6.20. Daniela, N6.21. Danilo, N6.22. Daniel; F7Marcelo, cc. Dulce, pais de: N7.23. Renata, cc. Abelardo, pais de: B7.23.23. Maria Helena; N7.24. Marcela, N7.25. Bruna. Das minhas lembranças da Rua São José, duas delas estão particularmente presentes na memória: as idas e vindas, entre Cedro e Juazeiro, de Ernestina, Joaquim e seus filhos, e o tempo em que Margarida, uma de suas filhas morou na casa de minha avó. Ela fazia o seu curso normal na Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte, tendo concluído com brilho. Das viagens, eles chegavam, principalmente, pelo “trem da feira”, da antiga RVC. A composição chegava logo cedinho, numa segunda feira, e eles tratavam de ir se abastecer junto aos fornecedores, no comércio local, de materiais para fabricação de sapatos, como couros, solas, aviamentos e tudo mais necessário. Nestas segundas feiras, à mesa do almoço, repassávamos as notícias da família. À tarde, pelas 15 horas, íamos para a estação ferroviária “deixar o Joaquim” (nem que fosse a Ernestina, a Iraci, o Milton, o Marleno, o Moacir, o Marcelo, a Margarida ou a Marluce). Era uma farra fazer aquela caminhada para ver de perto o trem que vinha do Crato (“comendo lenha, cuspindo brasa... comendo lenha e cuspindo brasa, tanto apita quanto atrasa...”). Cenas para o resto da vida: a fila para comprar os bilhetes, o despacho dos volumes das compras no terminal de cargas, o sino da estação batendo na aproximação, chegando na atual Av. Carlos Cruz (às vezes, da partida no Crato – ai era só contar o tempo no velho, e enorme relógio na parede), o trem chegando na curva, vomitando o tufo de fumaça, a loucura do corre-corre para assegurar um lugar nos duros bancos dos vagões, o passar, angustiado, dos pacotes pelas janelas, as lágrimas nos olhares de quem fica, de quem parte... Ao apito do inspetor, lá se ia a máquina, uma velha Maria Fumaça, devagarinho, depressa, mais depressa, até sumir depois da curva da Timbaúba. Aos poucos, e já no fim dos anos 50, os filhos de Ernestina e Joaquim foram deixando o Cedro, em troca por São Paulo. E assim, a Rua São José os viu partir, para voltarem raramente. Na seqüência foram saindo, pela ordem: Milton, Moacir, Marleno, Marcelo e depois as filhas Margarida e Marluce. Os filhos escolheram atividades no comércio paulistano, trabalhando em destacadas empresas. Ernestina e Joaquim, acompanhados de Francisco Neto, terminaram também indo para lá, morar junto aos filhos, no bairro do Itaim Bibi. No mesmo Itaim onde vários dos filhos de Antonio e Neném Soares já residiam. E ai, pelo menos para nós, a Rua São José foi ficando mais pobre sem estes visitantes mais freqüentes. Joaquim e Ernestina tentaram se adaptar a este novo modo de vida, montando fábrica de sapatos, como no Cedro. Mas, as saudades do Ceará foram maiores e decidiram retornar. De volta ao Ceará, Joaquim e Ernestina pouco residiram em Fortaleza, e vieram a falecer, respectivamente, em 18.10.1971 e 25.10.1975. Quase todos os filhos, à exceção de Moacir (hoje morando em Valinhos, SP) também voltaram ao Ceará, a partir de dezembro de 1970, passando a residir em Fortaleza, pouco antes do casamento da irmã Margarida. Cedro ficou como um retrato na parede, como a lembrança do poeta. De vez em quando sabíamos que alguém voltava para visitá-lo, e por extensão, o Cariri, vindo por outras estradas, e não mais pela antiga RVC. Já não mais pelos trens que abandonaram o sertão para só atravessá-lo levando pedras do Araripe ou derivados de petróleo, desde o Mucuripe. As famílias, por suas mais profundas relações, ao nosso sentimento mais próximo, tem sido conservadas, não bastassem estes momentos amargos quando experimentamos perdas irreparáveis, como o falecimento de Margarida, em 22.11.98. As alegrias se guardaram nas lições de vida dos velhos patriarcas, com as quais nasceram as novas gerações de netos e bisnetos. A família de Ernestina e Joaquim “mora”, hoje e eternamente, em nossas casas e em nossos corações, porque nunca caducou a sentença de “meu Padrinho”, que não se ousou desobedecer, e que, bem interpretada, nos fez irmãos para sempre. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 31.01.2017)
BOM DIA! (32) Por Renato Casimiro
O entusiasmo que sentimos a cada nova jornada de um selecionado brasileiro de futebol sempre me faz reviver aqueles momentos que experimentamos na Rua São José, em 1958. A copa do mundo, a velha Jules Rimet se iniciara em 8 de junho, e logo depois o Brasil enfrentaria a Áustria, vencendo por 3x0. A empolgação, realmente, só veio após alguns jogos, principalmente depois dos sufocos contra a Inglaterra (0x0) e Pais de Gales (1x0). O selecionado brasileiro, dirigido por Vicente Feola, era composto pelos titulares: Gilmar, Djalma Santos e Bellini, Nilton Santos, Orlando, e Zito, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo. Principalmente estes cinco últimos eram os nomes que já sabíamos de “cor e salteado”. A meninada não se cansava de repetir, decorado, esta formação que se consagrou na mais famosa da série Jules Rimet. Mas, havia grandes nomes, como Joel, a quem Pelé substituiria, De Sordi, Mauro, Oreco, Dino, Zózimo, Moacir, Dida, Pepe e Mazzola. Interessante observar que esta formação da equipe brasileira parecia seguir um lógico 2-3-5. Feola, na verdade, foi o introdutor, e o inovador, com 4-2-4, ou 4-3-3. Os resultados do seu sistema tático foram partidas memoráveis contra a URSS (2x0), França (5x2) e a finalíssima contra a Suécia (5x2), em Estocolmo, no dia 29.06.58, depois de 8 anos, lavando a honra da tragédia contra o Uruguai, no Maracanã, em 50. Assistíamos aos jogos pelo rádio, a bateria. No quarteirão, o volume dos aparelhos era considerável e podíamos ouvir a narração dos locutores das emissoras famosas de então (Tupi/RJ, Bandeirantes/SP, Sociedade/BA, etc) com a emoção de um grande fato nacional. As crianças entravam e saíam das casas ao sabor das comemorações dos gols. No jogo contra a França, se não estou enganado, o Brasil chegou a marcar 7 gols, sendo 2 anulados. Nesta partida comecei a comemorar mais intensamente, queimando fogos e bombas. Freqüentemente, e pelo período junino, tínhamos bancas de vendas de fogos, em torno do mercado. Chuvinhas e traques eram os mais indicados para o nosso “tope”. Mas, o que queríamos eram as bombas mais barulhentas, para atirar nas paredes das garagens em frente, ou as famosas “rasga-latas”. Nossos vizinhos, Socorro e Geraldo Militão, me incentivavam naquela alegria imensa e me davam dinheiro para ir comprar fogos. Eu ia a desembalada carreira para comprá-los, enquanto o jogo transcorria. Na explosão dos gols, íamos fazendo também explodí-los, extravasando todo o nosso contentamento. Felizmente, nunca houve acidente. Uma das lembranças desta copa do mundo de 1958, eu a guardo até hoje: uma miniatura da Taça Jules Rimet, em plástico dourado, com pedestal preto, com todos os detalhes do verdadeiro troféu. Ela me foi trazida de São Paulo, presente de minha tia Ivaniza, numa de suas viagens, vindo visitar a família, ainda em 1958. A taça verdadeira, depois de conquistada definitivamente pelo Brasil, com o tricampeonato no México, em 1970, como sabemos, foi roubada da sede da CBF e, provavelmente derretida para descaracterizar sua origem. Segundo as más línguas, não seria surpresa se parte daquele ouro tiver circulado pelo Juazeiro e hoje esteja incorporado numa jóia feita por algum ourives da cidade. O fato mais desapontador daquela comemoração do campeonato mundial aconteceu pelo meio da tarde daquele dia. Meu pai chegou em casa completamente embriagado, com a camisa encharcada de cerveja, e os bolsos com restos de cigarro Astória – o seu preferido. Foi o porre que ele tomou com os amigos, no bar de Né Cansanção, na Rua São Pedro, para celebrar a vitória do jogo. Dobrando na esquina da Rua Conceição, já chegando à nossa casa, ele vinha cambaleante e alegre. Minha mãe o recebeu serenamente. Deu-lhe um banho de cuia (não tínhamos chuveiro, ainda), meteu-lhe um pijama e fê-lo dormir até o dia seguinte, quando não mais se falou do acontecido. Minha avó, Dona Neném, circulou lá por casa, comentou qualquer coisa ao ouvido de minha mãe e saiu silenciosa. Que eu me lembre, foi esta a primeira e única vez que meu pai se afetou com bebida. Nunca mais o vimos beber, senão Cajuína São Geraldo, Guaraná Champanhe e até cerveja, mas nas festinhas em família, ou nas casas dos compadres, e por insistência. Nos meses seguintes a junho de 58, pelos jornais da Atlântida, nos cinemas da cidade, assistíamos cenas de cada um dos jogos que nos emocionaram, revivendo aqueles momentos apoteóticos, onde sobressaiam cenas inesquecíveis, como o balé desconcertante das pernas tortas de Mané Garrincha, o “nascimento” deste grande ídolo Pelé – com 17 anos, apenas, a figura do capitão Hideraldo Luiz Bellini, erguendo a taça – gesto imortal, e felizmente tantas vezes repetido, os gols “pernambucanos” de Vavá, para nos encher de orgulho a nossa nordestinidade, e tantos outros momentos. Meu pai comprava a revista O Cruzeiro, na loja de Florentino, perto do Correio, e eu ficava dias e dias olhando aquelas fotografias e pondo a imaginação a mil. Anos depois, já passado o bicampeonato no Chile, em 1962, eu me aventurei a jogar futebol, como aluno do Ginásio Salesiano, no Onze Veloz, um dos times organizados pelo Pe. Luiz Marinho Falcão. Não passei, senão, de um grande vexame como goleiro. Nunca mais me meti nisto, mas ainda hoje, e de quatro em quatro anos, a Copa do Mundo de 1958 me vem à memória para me reencontrar com aquele menino que se perdia pela Rua São José, entre bombas e gritos da comemoração dos gols do selecionado brasileiro, pelos campos da Suécia. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 01.02.2017)
BOM DIA! (33) Por Renato Casimiro
Se por aqui alguém pode ser assim chamado, de filho pródigo, para mim este é o cônego José Jézu Flor, filho ilustrado do Juazeiro, nascido em 12.05.1921. Eu só fui conhecê-lo no dia 20 de julho de 1984, precisamente, estava aos 63 anos de idade, com grande dificuldade de mobilidade e disso tenho diversas fotografias desse momento. Isso aconteceu pouco depois da missa solene celebrada na praça da Capela de Nossa Senhora do Socorro, quando se lembrava os cinqüenta anos da morte do Padre Cícero Romão Batista. Sentada ao seu lado, a querida amiga Maria Assunção Gonçalves me fez um sinal, me aproximei, e aí nos cumprimentamos. Foi esta a única oportunidade em que nos falamos, e trocamos nossas impressões sobre aquele momento festivo que vivíamos. Não é que não soubesse de sua existência. Quando nas tardes de sábado acompanhava Dona Neném e descíamos a Rua São José para suas orações no Dispensário de Jesus Crucificado, no início da rua, uma das paradas obrigatórias era na casa da família de Antonio Temóteo do Nascimento Flor, onde minha avó se demorava para uma conversa com Dona Maria Flor. Essa velha casa nem mais existe, pois foi retirada para a abertura da extensão da Avenida Dr. Floro, através do antigo Beco de Catarina. Nestas prosas, tão do agrado de Neném e Maria Floro, nunca faltava uma perguntinha pelo Jézu, já sacerdote ordenado desde 27.05.1945 no Seminário da Prainha, em Fortaleza. Aprendi, portanto, a ter na mente a figura deste homem santo de Deus, principalmente quando assumiu a postura em defesa da reabilitação do nosso santo padrinho. Essa campanha foi encampada localmente pela Sociedade Padre Cícero, fundada em 24.03.1949, reconhecida de utilidade pública, que sintonizando com o anseio popular, passou a pedir a solidariedade dos devotos com a aposição de assinaturas em um abaixo assinado que foi encaminhado às autoridades eclesiásticas, no intento de reabilitar o Revmo. Padre Cícero Romão Batista perante a Igreja Católica, pela remissão da pena canônica da suspensão de ordens sacras. E quem foi até Roma para formalizar este pedido, com o volumoso documento assinado por milhares de romeiros, foi o Jézu, esse filho ilustrado da Rua São Jose. Sobre esta sua aventura, convém transcrever a carta que ele remeteu ao então presidente da Sociedade Padre Cícero, de Juazeiro do Norte, Getúlio Grangeiro Pereira, em 28.06.1985. Eis o texto, divulgado num impresso da época: “Ao Povo de Juazeiro. Deus seja louvado. Saudações. Missão cumprida. Já entreguei 14 volumes de documentos e assinaturas e mais dezenas de publicações sobre o meu querido e Santo Padrinho, por quem fiz o maior sacrifício da vida – pobre, velho, doente, sem poder mais andar, pois estou em cadeira de rodas – mas fiz o que quem quer que seja deixou de fazer em 100 anos. Ganhei a viagem. Participei da beatificação e como estava em cadeira de rodas, o Papa veio direto falar comigo, bateu em minha cabeça e beijei a mão dele e disse que só tinha ido pedir a Reabilitação do Padre Cícero. Ele escutou e fez SIM com a cabeça. Todo mundo ficou admirado. No outro dia, 24.06, audiência marcada para entregar os papéis. Mas, o vice-presidente dos Estados Unidos tomou a audiência e não foi possível. Dom Jaime, Arcebispo de Maringá, estando em Roma, me aconselhou a não desanimar e ir à Congregação do Clero. Mas, depois, vendo os documentos disse que era na Congregação da Doutrina da Fé, com o seu amigo Cardeal Ratzinger. Ora, o secretário do Cardeal é um irmão da Congregação do Beato Friedhofen. Então falamos com ele e ele arranjou audiência no dia 26. Fui lá e ele já esperava e disse que não conhecia nada do Padre Cícero. Dois Padres de Maringá me ajudaram. E o Padre Lino foi logo comigo buscar os documentos pra gente entregar naquele dia. Lavamos tudo à Congregação e todos já esperavam. Viram o processo e acharam completo e maravilhoso. Mas, faltava... uma coisa só. E assim mesmo ficaram com tudo até eu arranjar só uma coisa que falta. A resposta será depois que completar. Não digo o que é... mas, estamos loucamente providenciando. (Não havia um documento do Diocesano de Crato, encaminhando o pleito. Essa era a pendência, observo.). O Padre Lino, jesuíta, está me ajudando, e a gente espera resolver. Porque tudo do Padre Cícero é assim. Na última hora, azara tudo. Veja, eu estava até animado, no dia da viagem ia desistir, mas uma Senhora insistiu, e eu resolvi fazer a grande e louca aventura histórica e heróica. Cheguei em São Paulo para o embarque no aeroporto, não pude mais andar, nem com duas muletas, e nem carregado. E vim de cadeira de rodas com a maior vergonha em tudo que é aeroporto. Na hora de entregar os documentos foi cortada a audiência. Aí eu desesperei. Mas, a saída foi melhor ainda porque entreguei os documentos no mesmo lugar – Santo Ofício, que há cem anos condenou o Padre Cícero. E prometeu que o processo não fica arquivado – é sim ou não. E na hora da entrega faltou o principal documento (eu tinha distribuído pelos 17 que iam comigo para não pesar no avião, e se perdeu o melhor – a tese de doutorado da Irmã (Irmã Therezinha Stella Guimarães, observo). Eu fiquei doido. E finalmente falta uma coisa mais... Entretanto, no dia 26, quando a gente ia sair para Alemanha, aparece a tese das Irmãs (sic). E eu corri lá no Santo Ofício com o Padre Lino. Receberam e acharam ótima e ainda deram uma sugestão para a gente resolver o que falta. Tudo o que é do Padre Cícero tem sempre uma coisa atrapalhando. Mas eu confio em Nossa Senhora das Dores que tudo vai dar certo, no fim. Rezem, rezem, rezem. Eu estou autômato, estou sendo empurrado, levado por uma força que obriga, mesmo eu não querendo. Eu me sinto despedaçado – alegre e triste, animado e confuso. Estou avançando feito um cego, estou caminhando feito um louco. Acho que é a minha ajuda ao meu Padrinho, que é o meu tributo a Nossa Senhora das Dores, que é uma obrigação para o povo de Juazeiro do meu coração. Acho que fazendo isto eu trabalhei por Deus, pela Igreja e cumpri minha missão, desempenhei meu papel, fiz o que devia a duras penas. Se eu alcançar tudo isto, acho que apesar de todos os pesares, valeu a pena ter vivido e ter sofrido. Digo a todos, digo ao Sr. Prefeito, digo ao Presidente da Câmara, digo ao Vereadores, digo a parentes e amigos, digo ao povo – ao povo todo, todo povo que só no dia 29 de julho, no avião da Varig, 3 horas da tarde, estarei ai com a graça de Jesus Cristo, para dizer, falar, deixar uma esperança, dar uma benção, deixar um adeus, de minha missão cumprida. Guardo esta carta para mim, como lembrança, como saudade do Brasil, distante, escrita da Alemanha, com lagrimas, com amor, sem pensar, impulsionado pelo sentimento de amor, carinho, admiração, veneração pelo profeta de minha vocação, pelo Sacerdote mais maravilhoso da minha vida, pelo homem de oração, pelo mártir do silêncio, pelo padre humilde do sertão que me disse: “este menino nasceu para ser Padre e vai me ajudar no fim dos tempos”. Perdoem toda minha emoção, a emoção que Antonio Flor e Maria das Dores Flor plantaram no meu coração e que eu cultivo cada vez mais com cuidado e afeição. Pode xerocar esta carta, fazer cópias, gravar, para todos saberem e que a Sociedade Amigos do Padre Cícero, através do Presidente, meu amigo Sr. Manoel, fique ciente de que fiz o possível e o Santo Padre é mesmo Sócio porque entreguei o Diploma no Santo Ofício e ele vai receber, já que não recebe nada diretamente. Um abraço do Servo em Cristo e Maria, Cônego José Jézu Flor. Alemanha Ocidental, 28.06.1985, em Trier(Renânia).”Não se pode deixar de reconhecer uma grande identidade entre os termos desta carta de Jézu e a que Pe. Cícero escreveu, de Roma, para sua família, em 1898. Esta identidade era a fé e a esperança que havia nos dois, tantos anos distantes. É a mesma fé e a mesma esperança que continua reunindo o povo romeiro, em busca de sua libertação, à sombra de frondoso e generoso Joazeiro. A fé que animava Cícero e que, indiscutivelmente, também impregnou a alma de Jézu, é também a nossa, por esses tempos em que nos reconciliamos no Cristo. Anos depois, muito doente, o Pe. Jézu retornou ao convívio de sua família, agora reduzida a uma única irmã, Florzinha, residente na Rua São José, e foi confortado por um sem número de amigos e admiradores, até o instante final da sua morte, em 30.12.1987. Seu corpo foi sepultado no Cemitério do Socorro, junto aos seus amigos e parentes tão queridos - seus anjos, seus santos. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 02.02.2017)
BOM DIA! (34) Por Renato Casimiro
Ao longo de várias décadas, em mais de sessenta anos, constato a presença de missionários americanos residentes na Rua São José. Quando passei a habitar a Rua, talvez já não residisse aí Edward Mclain, o fundador da Primeira Igreja Batista de Juazeiro, chegado em 11 de setembro de 1936, conforme uma súmula histórica da missão que recolhi na Internet. Mister Eduardo, como era chamado, veio morar em Juazeiro, ainda solteiro, depois de uma permanência de alguns meses em Salvador, onde chegara dos Estados Unidos, em 30 de dezembro de 1935. Na Rua, talvez pelo início dos anos quarenta, conforme me relatou Agenor Pereira, ele, já casado, residia numa das casas entre o bangalô de Terezinha e José Pedro da Silva e a moradia de Izabel e Pedro Leandro, talvez, no mesmo número 444, onde residiu Miss Mary Elizabeth Mills, que chegou a Juazeiro em 28 de dezembro de 1938. Miss Elizabeth nasceu no Estado americano de Illinois, de uma família cristã de 7 irmãos. Numa resenha, pela Internet, recolho o depoimento segundo o qual “Desde cedo Elisabeth engajou-se no serviço cristão, tendo participação ativa na Escola Dominical e Acampamentos. E, em um destes retiros espirituais, aos 14 anos, consagrou sua vida a Cristo. Ainda no Instituto Bíblico Moody, ouviu falar sobre o Brasil pela esposa de um pastor que havia trabalhado e falecido aqui”. Daí a sua decisão de vir para nosso país. Muitos são os que ainda hoje lembram a obra de Miss Elizabeth. Reproduzo aqui uma destas expressões públicas: “Missionária incansável, disposta a contribuir para o engrandecimento do reino de Deus aqui na terra. Sua obra ministerial e de educadora foi uma sementeira cujos frutos enriquecem até hoje a região do Cariri. Por sua vida de oração, podemos ver ainda hoje, crentes firmes e obreiros atuantes na obra do Senhor. O incentivo à leitura e meditação diária na Palavra levou muitos ao crescimento e à comunhão constante no Senhor. Dos seus conselhos podemos lembrar: “Siga a Cristo, leia a Bíblia e seja obediente à Palavra de Deus; ore fielmente e diariamente e nunca perca uma oportunidade de evangelizar.” Outra missionária, Inês Hills, que se tornaria mulher de Eduardo, chegou ao Juazeiro em março de 1941, na companhia de Florence Sutter. Depois, vieram outros missionários: Jim Willson, que se casaria com Florence, Harold Elmer Reiner, Luisa e Pedro Brooks, Alberto Johnson, Evelyne e Thomas Wilson, dentre outros. Há, ainda, a menção de Agenor Pereira, que neste mesmo endereço da Rua também residiu um outro casal de missionários, cujos nomes eram Bertha e George (Jorge). Os missionários americanos que trabalharam para criar a primeira igreja Batista de Juazeiro do Norte sofreram nos primeiros tempos de suas permanências no Cariri muitos preconceitos, descriminações e perseguições. Evidente, tinha-se, como ainda hoje há, o ranço pelas igrejas evangélicas. Então, coisas como a que víamos na entrada da cidade de Barbalha, com a placa: “Alto lá, senhores protestantes, a Barbalha de Santo Antonio já está evangelizada”, indicavam o tratamento que lhes era imposto. Em Juazeiro, mesmo, diversas manifestações hostis foram verificadas durante estes primeiros momentos da ação da Missão Batista. Segundo um relato da própria Missão, “Os missionários pioneiros tiveram várias vezes cortados os seus fornecimentos de água e leite. A razão era que as autoridades religiosas proibiam que os vendedores passassem nas casas dos “bodes”. Aliás, esse apelido pejorativo foi aplicado aos crentes devido ao seu hábito de cantar quando faziam seus cultos. Era muito comum que tivessem os momentos de cultos interrompidos por dezenas de pessoas que passavam na frente do prédio “berrando” desordenadamente. Em 21 de abril de 1940 a cidade acordou com os alto-falantes dos líderes religiosos dando os endereços das casas dos missionários, a fim de que o povo fosse afrontá-los. Em 1948, época de eleições municipais, o lema de um dos candidatos era – “expulsar as prostitutas, os maçons e os missionários”. Esse candidato (pela indicação, tratava-se de Dr. Antonio Conserva Feitosa) venceu as eleições e empreendeu severas perseguições aos crentes. Em 1956 por ocasião das chamadas Santas Missões, os religiosos líderes desse movimento vieram a Juazeiro e convocaram homens com paus e pedras para uma passeata. A multidão percorreu algumas ruas gritando palavras de ordem contra os crentes batistas, erroneamente chamados de protestantes. Felizmente o governo proibiu os fanáticos de passarem nas ruas São Pedro e São Luis, evitando assim o quebra-quebra planejado. Por mais de uma vez os missionários precisaram comparecer perante autoridades civis e militares para pedir proteção contra as ameaças que sofriam. O temor de serem atacados repentinamente com paus, pedras e outras coisas era uma constante naqueles dias. Foi preciso muita coragem para os primeiros crentes.” Miss Elizabeth, segundo consta, residiu inicialmente no número 823 da Rua São José, pois com o início da Escola Primária, cujo objetivo era alfabetizar os filhos dos crentes batistas, vieram para Juazeiro diversos rapazes e moças para as atividades docentes. E eles se dividiam nas residências de Miss Elizabeth (as moças) e do pastor Mr. Jim, na Rua do Cruzeiro, 238, (os rapazes). Não sei precisar a partir de quando Miss Elizabeth se passou para a residência de número 444. Mas, pelas informações dos mais velhos, isto teria sido pelo início dos anos 40. Miss Elizabeth viveu aí na companhia de sua fiel governanta, Dona Severina. Muito caseiras, pouquíssimas pessoas se achegavam delas mais de perto. Vez por outra, ao passar por sua porta, a via de perto, nos cumprimentávamos – ela muito cordial com bonito sorriso. Muitas vezes as víamos saindo para o culto religioso, nas manhãs de domingos, e não era raro que preferissem ir a pé, talvez uns mil metros, até a igreja na confluência das ruas São Paulo e Boa Vista. Elegante e de fino trato, inúmeras vezes a vi chegar ou sair de sua casa num veículo da missão, dirigida sempre por um dos americanos. Freqüentemente observava que o tratamento dispensado era o para uma dama muito distinta, onde não faltava a gentileza do motorista em abrir e fechar a porta do veículo, usando sempre o banco traseiro. Além de Inês e Eduardo, Bertha e George, e Miss Elizabeth, não posso omitir a presença da família de Tomé Willson. Depois que o imóvel 477, em frente a nossa casa foi desocupado, sendo o inquilino anterior a família do Sr. Siqueira (e dona Alice), que se mudou para a Rua do Cruzeiro, o proprietário Ângelo de Almeida fez substancial reforma e alugou-o ao pastor Thomas (Tomé) Willson para ali residir com sua família, composta por Dona Evelyn (Eveline), suas filhas Martha e Deborah e três filhos, cujos nomes não recordo. Deborah era uma garota linda, talvez de 2 ou 3 anos, lourinha, uma boneca, com a qual muito nos afeiçoamos. Não foi longa a permanência da família, em frente a nossa casa. Mantínhamos com eles uma relação cordial. O imóvel, logo em seguida, passou a ser ocupado pela família de Líbia e Alberto Fabião de Assis, que estavam vindo de Guarabira, PB, e aí estão até os nossos dias. Depois de mais de cinqüenta e sete anos de dedicação ao seu ministério, Miss Elizabeth deixou a Rua São José e retornou ao convívio de seus familiares no Estado de Illinois, em 1995. Dois anos depois, no dia do seu aniversário, 01.10.1997, Miss Mary Elizabeth Mills faleceu. Desde a sua saída, a casa onde residiu por tantos anos permanece fechada. Sua proprietária é uma das herdeiras de Ângelo de Almeida, Sra. Ismênia Almeida Abreu. O imóvel, praticamente abandonado, conserva a mesma linha arquitetônica dos idos 50, quando conheci, e tem sido uma das poucas a não serem alteradas nestes anos. Pela lei n° 668, de 05.06.1978, o trabalho de Eduardo Mclain foi reconhecido publicamente pela municipalidade de Juazeiro do Norte nomeando uma rua do bairro Santa Tereza. Os americanos da Missão Batista eram nossos fregueses no Centro Elétrico. Meu pai dispensava a eles um tratamento especial, pois eram constantes as compras e a loja estava sempre franqueada para que entrassem livremente no estoque e ali procurassem o que desejavam. Na maioria deles, havia alguma dificuldade de expressão em português e deste modo se facilitava o entendimento e a compra. Ainda voltarei a falar dos americanos, falando especificamente sobre Harold Elmer Reiner.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 03.02.2017)
BOM DIA! (35) Por Renato Casimiro
No início de janeiro de 1963 a família de Líbia e Alberto Fabião chegou para morar em Juazeiro do Norte. Dona Líbia Moreira Lima, assim era seu nome de solteira, hoje Líbia Moreira de Assis, nascera em Guarabira (PB) em 15.06.1920, filha de Firmino Moreira Lima e de Tereza de Jesus Moreira Lima. Alberto Fabião de Assis nascera um pouco depois, também em Guarabira, em 21.01.1921, filho do casal Emílio Fabião de Araújo Lima e de Dina Maria de Assis Fabião. Foram vizinhos na juventude. Desde muito cedo, aos quinze anos de idade, em 1936, Alberto Fabião já era um exemplo digno de operário de grande envergadura, pois trabalhava na antiga Rede Ferroviária do Brasil. Com três anos de namoro e noivado, Líbia e Fabião casaram-se em cerimônia religiosa no dia 17.09.1939. Só no ano seguinte, já residente em Recife, o casal efetivou o seu casamento civil. A mudança para Recife se deu por um convite da firma Cunha Rego S.A., estabelecida nos ramos de estivas e tecidos. Posteriormente, a organização especializou-se apenas em tecidos. Algum tempo depois, enfrentando grandes dificuldades financeiras, a firma entrou em liquidação e um dos sócios proprietários, o Sr. Pessoa, convidou Fabião para gerenciar uma nova loja de Campina Grande. Nascia uma das mais tradicionais organizações comerciais do Nordeste, no ramo de tecidos, as Casas Pessoa & Filho. Na Borborema, a família de Líbia e Fabião demorou-se até 1957, quando se mudou para uma nova missão confiada a Alberto Fabião, a de gerenciar a loja recém aberta na cidade de Arcoverde. A este tempo a família já somava sete filhos na companhia do casal. O primeiro filho, Carlos Alberto, nascido três anos após o casamento, faleceu em tenra idade. Em seguida nasceram Maria José (Zita), Hildeberto (Bertinho), Severino Ramos (Raminho), José Alberto (Zezo), Dina, Tereza e Irma. Por que vieram para Juazeiro do Norte? A diretoria das Casas Pessoa & Filho, de grande prestígio em Pernambuco e Paraíba decidira explorar o mercado do Ceará, e determinara a abertura de uma loja em Juazeiro do Norte, na Rua São Pedro, no endereço em que funcionara por longos anos o Cine Teatro Roulien. Lembro de sua inauguração, uma grande festa, pois não se conhecia loja tão ampla em nosso mercado. Alberto Fabião foi chamado para esta nova empreitada. Ele já era um vitorioso. Já havia demonstrado a sua grande fibra de gerente de negócios e por onde passava deixava uma marca de sucesso profissional que o tornara reconhecido. Chegando ao Juazeiro do Norte, em 1962, ficou hospedado na pensão de Dona Bastinha por seis meses, oportunidade em que firmava a nova organização no mercado local e preparava a vinda da família, com a escolha da moradia. Seu contato com o empresário português Ângelo de Almeida, dos ramos imobiliário e de panificação, permitiu identificar a disponibilidade da casa nº 477 da Rua São José. Das minhas lembranças, esta casa fora a residência da família de Alice e “seu” Siqueira, um homem boníssimo e muito trabalhador que tinha uma carvoaria na Rua Santa Clara. Depois, quando a família Siqueira foi morar na rua do Cruzeiro, ela foi reformada pelo proprietário e foi alugada aos missionários batistas, Eveline e Thomas Wilson. A caçula dos filhos de Líbia e Fabião, Irma, nascida em Arcoverde, em 01.05.1961, tinha exatos 20 meses de idade quando sua família chegou à Rua São José. No início, a família encontrou uma situação um tanto inóspita, com muito calor e água que não era de boa qualidade. Foram inquilinos do proprietário Ângelo de Almeida por mais de 20 anos. Seu Ângelo os admirava porque era uma família que conservava muito bem o imóvel, e até tiveram autorização para reformá-lo, o que não era comum de sua parte. Seu Ângelo tinha muita estima por Líbia e Fabião, os tratava como “paraibano fino” e “dona paraibana”. Com a morte do português, a família viu aí a oportunidade de adquirir o imóvel e isto realmente aconteceu com a herdeira Lídia de Almeida Bezerra. Durante alguns anos a firma Casas Pessoa & Filho foi uma das lideranças do mercado de tecidos em Juazeiro do Norte. Isto não impediu que a organização fosse negociada e passasse ao controle de uma família estabelecida em Pernambuco. A loja tomou o nome do clã e passou a se chamar Casas Daher. Fabião, mercê de suas grandes qualidades de homem de comércio, gerente exemplar por excelência, continuou até o final de sua carreira e por além de cinco anos de sua aposentadoria regular. Também devido a este grande empenho do casal que, por vocação pessoal e com grande identidade ao meio em que passaram a viver, especialmente entre 1963 e 2004, ano em que a família perde o seu patriarca, os filhos de Líbia e Fabião cresceram e multiplicaram. Apareceram 25 netos: Zita gerou Isaac; Bertinho gerou Rosana, Roberta, Carlos Alberto, Cícero Antonio e Valério; Raminho gerou Douglas, Keops e Aítala; Zezo gerou Emílio Fabião, Jéferson, Cecília e Camila; Dina gerou Júlio, Juliana e Jordana; Tereza gerou Emanuel, Eliete, Eduardo e Elíbia; e Irma gerou Raicícero, Raila e Raimundo Alberto. Dos bisnetos, eu só contei até o décimo sexto. Todos residiram em Juazeiro do Norte, à exceção de Zita, que desde a saída de Campina Grande já era professora, mas desejava ir para a Universidade, onde de fato se tornou professora da Faculdade de Odontologia. Zita puxou Tereza que também concluiu Odontologia e ingressou como docente da mesma faculdade e hoje é proeminente liderança da classe junto ao Conselho Regional. Seu Fabião, como dona Líbia, sempre foram reconhecidos como pessoas de grande integridade moral e ética. Também na saúde era fortes e dispostos. Alberto Fabião era um grande admirador do Padre Cícero. Muito religioso, católico de testemunho diário de sua fé. Poderíamos encontrá-lo, diariamente, em dois horários na Capela do Perpétuo Socorro, fazendo suas orações junto ao túmulo do Pe. Cícero. Era de missa dominical sempre às nove horas, na Matriz, sempre na Capela do Sagrado Coração de Jesus. Era um homem metódico e rigoroso. Não era de fazer concessões que abalassem suas convicções. Servidor mais desprendido eu ainda estou por ver. Somente depois dos oitenta anos dona Líbia foi percebendo que seu companheiro começava a apresentar alguns sinais de como a velhice estava lhe maltratando. Discretamente ela ia percebendo seu esquecimento e desatenção. Os últimos meses foram muito dolorosos e algumas complicações orgânicas e mentais foram se acelerando. O sofrimento maior durou cerca de seis meses, com alguns internamentos hospitalares, sempre com o carinho da esposa, dos filhos e netos. Alberto Fabião de Assis veio a falecer em 04.10.2004, aos 83 anos de idade, depois de ter vivido 63 anos de casamento ao lado de sua Bibi e dos seus sete filhos. Está sepultado em Juazeiro do Norte, a terra para a qual ele contribuiu com a dedicação dos melhores anos de sua vida. Quando nós nos mudamos da Rua São José para a Rua Santa Luzia, em 1963, tínhamos vizinho a Líbia e Fabião a garagem do nosso carro. Algum tempo depois ela foi vendida a Fabião que assim pode expandir a sua morada para instalações mais confortáveis. Em todos esses anos nossas famílias se mantiveram com grande amizade, partilhando com o casal, seus filhos e netos de uma convivência verdadeiramente fraterna. A família hoje continua residindo na Rua São José, porque de certo modo ele continua transmitindo para ela o seu grande amor ao Ceará.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 04.02.2017)
O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI
CINE CAFÉ VOLANTE (MISSÃO VELHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Missão Velha (Auditório do Centro Social Urbano, CSU), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 9, quinta feira, às 19 horas, o filme ATRAÇÃO FATAL (Fatal Attraction, 1987, 118min). Direção de Adrien Lyne. Sinopse: Aproveitando o fato de Beth Gallagher (Anne Archer), sua mulher, estar viajando Dan Gallagher (Michael Douglas), um advogado, tem um rápido caso com Alex Forrest (Glenn Close), uma executiva que demostra ser desequilibrada emocionalmente e até mesmo perigosa, quando decide fazer parte da vida dele custe o que custar.
CINE CAFÉ VOLANTE (NOVA OLINDA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Nova Olinda (Fundação Casa Grande), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 10, sexta feira, às 19 horas, o filme A LENDA DO PIRATA DO MAR (La Leggenda del pianista sull'oceano, 1998, 170min). Direção de Giuseppe Tornatore. Sinopse: Um garoto nasce em pleno alto-mar, ganhando o nome do ano em que nasceu: 1900. A criança cresce num mundo encantado de fortes ventos tempestuosos e cobertas balançando, conhecendo toda a existência disponível a seu toque nos confins do transatlântico em que nasceu. Já crescido, seu talento natural no piano chama a atenção da lenda do jazz Jelly Roll Morton, que sobe a bordo para desafiar 1900 para um duelo. Indiferente com sua súbita notoriedade, 1900 mantém uma fixação pelo mar, sendo sempre seduzido pelos sons do oceano.
CINE ELDORADO (JN)
Durante o ano de 2017, o Cine Eldorado fará exibições com a seguinte Programação: Primeira Sexta Feira do mês: Projeto Oscar; Segunda Sexta Feira do mês: Festival Mazzaropi; Terceira Sexta Feira do mês: Filmes Inesquecíveis; Quarta Sexta Feira do mês: Sessão de Lançamentos; Quinta Sexta Feira do mês: A ser programado. O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no próximo dia 10, sexta feira, às 20 horas, dentro do Festival MAZZAROPI, o filme O LAMPARINA (Brasil, 1964, 104min). Direção de Glauco Mirko Laurelli. Sinopse: Bernardino Jabá (Mazzaropi), sua esposa Marcolina (Geny Prado) e os filhos do casal são confundidos com cangaceiros do bando de Zé do Candieiro. Bernardino ajuda a polícia a identificar os verdadeiros bandidos, mas acaba se perdendo da família. Um ano se passa e ele, considerado morto por todos, acaba retornando para casa, onde é confundido com uma alma penada.
CINE CAFÉ (CCBNB, JN)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 11, sábado, às 17:30 horas, o filme ALICE NÃO MORA MAIS AQUI (Alice Doesn't Live Here Anymore, EUA, 1974, 112min). Direção de . Sinopse: Alice Hyatt (Ellen Burstun) fica viúva após perder o marido, um motorista de caminhão, em um acidente. Como tem um filho, Tommy (Alfred Lutter III), para criar luta pela sobrevivência. Inicialmente trabalha como cantora mas, em virtude de um tumultuado envolvimento com Ben Everhart (Harvey Keitel), um homem casado e agressivo, foge da cidade, indo trabalhar como garçonete em outra localidade. Lá ela conhece Flo (Diane Ladd), uma colega de trabalho que não prima pela educação mas é a amiga que Alice precisava. Lá também se envolve com David (Kris Kristofferson), um fazendeiro divorciado.
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