sexta-feira, 21 de novembro de 2014



BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.

086: (20.11.2014) Boa Tarde para Você, Roldão Manoel dos Santos

No bairro do Socorro, na viazinha estreita, a Rua da União, há uma casa modesta e muito acolhedora onde mora Roldão, uma das lembranças mais queridas da minha meninice na Rua São José. Roldão Manoel dos Santos nasceu em 15.04.1924, em São Benedito, na Serra da Ibiapaba, filho de Manoel José dos Santos e Maria Madalena da Conceição. Toda a sua família, Roldão, pais e cinco irmãos (José, Benedito, Antonio, Maria e Luiza) vivia da agricultura, plantando e colhendo arroz, feijão, hortaliças e de pequenas criações. Aos quatro anos de idade, vocês foram para a Paraíba e permaneceram até 1930, quando uma grande seca os obrigou a pensar numa nova terra. Perderam tudo, pois a estiagem daquele ano foi muito perversa. Atraídos pelo fenômeno do Pe. Cícero, seus pais vieram consultar o padrinho que lhes disse, sem arrodeios: - Venham, e tragam um saco de paciência, não tragam um saco de dinheiro. Com poucos recursos, chegaram aqui no final de 1930. Pela sábia expressão do Pe. Cícero, acabado o pouco dinheiro restou-lhes a paciência com a qual venceram as dificuldades, arranjando empregos para os filhos maiores. Quando você, Roldão, começou a trabalhar, ajudando a família, sua idade já era de 13 para 14 anos, entre 1937 e 1938, e você vendia cereais num ponto que montara no mercado central. Nesta época o português Ângelo de Almeida já tinha a sua Padaria Luzitana, na Rua São José. Ele vinha semanalmente, trazendo animais carregados de produtos fabricados no estabelecimento de Simões Loiro, em Crato.

E você, Roldão, foi indicado para trabalhar na Padaria, atendendo a clientela no balcão. Um ano depois, você mudou-se para Fortaleza, e foi trabalhar na Padaria Duas Nações, empresa de Ângelo de Almeida, por três anos. Voltando a Juazeiro passou a cuidar do sítio que o patrão tinha na Caixa d’Água, onde cultivavam fruteiras, cereais, verduras e se criavam aves e gado produzindo leite. O sítio de Ângelo de Almeida teve a fama de produzir as frutas mais saborosas, conhecidas pelas famílias do centro da cidade, laranjas e bananas sem iguais. As mangas eram tão doces que aguardávamos ansiosos a sua passagem, Roldão, com um grande balaio na cabeça. No sítio tudo era bem cuidado, e as fruteiras vinham do Campo de Sementes, em Barbalha, e eram cuidadosamente plantadas e mantidas com bons tratos culturais. Ângelo de Almeida tinha imóveis alugados, uns 30, e você, Roldão, também era o homem de confiança neste negócio com inquilinos. Foi quando você conheceu Maria das Graças, eficiente empregada da fabricação de macarrão. Namoraram e casaram em 31.12.1950. Tiveram 7 filhos: Francisco, que infelizmente faleceu com dois meses de idade; Francisco Renato, hoje casado com Evilânia e pais de dois filhos: Renata Soraya e Reginalda; Maria Nazaré que está solteira; Roldãozinho, solteiro trabalhando nos Correios em São Paulo; Geralda Verônica, professora municipal em Juazeiro, solteira; Cícera, casada com Cléber; e Geraldo, casado com Sandra, pais de Mateus. Quando lembra do antigo patrão, lhe vi Roldão emocionado, pelo olhar e o modo de falar, para me dizer que nunca conheceu uma pessoa de tal integridade, homem que nunca ofendeu a quem quer que fosse, de grande serenidade, jamais tendo sido apanhado com o espírito alterado. Após a morte de Ângelo de Almeida, você Roldão permaneceu dedicado à viúva, dona Maria, acometida de cegueira, até falecer, anos depois. Hoje, recolhido ao convívio familiar, aos noventa anos de idade, quero dizer-lhe, Roldão, o quanto foi comovente para mim, reencontrá-lo, abraça-lo, e mesmo sabendo de seu frágil estado de saúde, gozar ainda com a sua lucidez para rememorar todos estes fatos que ao sabê-los com riqueza de detalhes mais ainda me fizeram admirá-lo por seu exemplar serviço na vida. Que Deus ainda o privilegie com vida muito mais longa, na simplicidade e na dignidade do seu viver.

(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 21.11.2014)

CIDADÃOS JUAZEIRENSES

A Câmara Municipal de Juazeiro do Norte aprovou a concessão de título de cidadania juazeirense aos senhores Pacífico Alves de Freitas, fotógrafo profissional, e Pe. José Gonçalves da Silva, pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Juazeiro do Norte.

VIAGEM DE PREFEITO
Um prefeito, como cidadão de grande importância na vida de uma comunidade, deve explicações sobre tudo o que necessita fazer no desempenho de sua atividade. De modo particular, quando ele se ausenta da municipalidade, isto deve ficar bem explicado perante seus munícipes. Particularmente, quando ele se retira para fora do país. A título de esclarecimento, reproduzimos abaixo um Laudo Técnico apresentado por uma empresa de Consultoria, com respeito a uma viagem internacional de um prefeito municipal. O texto foi retirado da internet.

LAUDO TÉCNICO DE CONSULTORIA (VIAGEM INTERNACIONAL DE PREFEITO MUNICIPAL)

INTRODUÇÃO: A Prefeitura Municipal, no uso de seus direitos a esta Consultoria Especializada, formula-nos a seguinte consulta:

DA CONSULTA: “Face  a matéria, o Prefeito Municipal solicita parecer ao questionamento a seguir: O Prefeito Municipal, em caso de viagem internacional, por período inferior a 20 dias, será legalmente substituído pelo Vice-Prefeito, tendo este plenos poderes para praticar os atos da Administração Pública.”

DA ANÁLISE TÉCNICA: A Constituição da República Federativa do Brasil determina:

“Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:

Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

...............................................................

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes.

§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.

Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente.

Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais”.

Lei Orgânica:

“Art. 67 O Prefeito e o Vice Prefeito, quando no exercício do cargo, não poderão, sem licença da Câmara Municipal, ausentar-se do Município por período superior a vinte dias, sob pena de perda do cargo ou de mandato.

Parágrafo único: O Prefeito regularmente licenciado terá direito a perceber a remuneração, quando:

I - impossibilitado de exercer o cargo, por motivo de doença devidamente comprovada;

II - em gozo de férias;

III - a serviço ou missão de representação do Município.

............................................................... ”.

CONSIDERAÇÕES GERAIS: Segundo o regramento constitucional que diz respeito à autonomia municipal, todo Município é regido por Lei Orgânica promulgada pela Câmara Municipal. As leis orgânicas municipais devem dispor sobre os assuntos de interesse local, inclusive acerca da possibilidade de o Prefeito se ausentar do território municipal, bem como o tempo pelo qual pode ser ausentar, como o fez lei orgânica deste Município em seu art. 67. Segundo a Lei Orgânica do Consulente, pode o Prefeito se licenciar ou por motivo de saúde, ou para gozo de férias, ou em missão autorizada pela Câmara Municipal, sem prejuízo de sua remuneração. Todavia, destacamos o que diz o professor José Nilo de Castro com relação a esse afastamento para fora do território do Município:

“O afastamento, porém, pressupõe a continuidade do exercício do mandato para o Prefeito tratar, fora do Município ou do Estado, de interesse de sua própria Municipalidade, mas repita-se, no país, com todas as vantagens do cargo. Para ausentar-se do país, mesmo dentro do prazo de ausência do Município estabelecido na Lei Orgânica, deve expressa e formalmente a Câmara Municipal autoriza-lo, sob pena do mandato, pois que não há como chefiar o Município, ultrapassados que foram pelo Prefeito, o espaço aéreo nacional, o mar territorial nacional e as divisas nacionais. Não importa o número de dias. Importa, sim, que o Município não fique acéfalo sem a chefia do Executivo, erxecitável pelo Prefeito ou substituo legal”. (Direito Municipal Positivo - 4ª Ed. Del Rey. 1999; p. 172) (Negritamos)

Nesse caso, a chefia do Município será exercitável pelo substituto legal do Prefeito, ou seja, o Vice-prefeito, que tem o direito constitucional de substitui-lo.

DO PARECER: Com base na consulta formulada pela Prefeitura Municipal e tendo em vista a análise técnica e as considerações acima, somos de parecer que:

1.O Prefeito Municipal não deverá pedir licença à Câmara Municipal, se for afastar do Município por período inferior a 20 dias, na forma do art. 67 da Lei Orgânica Municipal, salvo em caso de viagem internacional.

2.O Prefeito Municipal poderá ausentar-se do país, no interesse da Municipalidade, desde que devidamente autorizado pelo Legislativo Municipal, sendo que é o Plenário da Câmara Municipal que delibera soberanamente sobre o assunto.

3.Não há na Constituição Federal/88 determinação legal para que o Vice-Prefeito substitua o Prefeito no período em que este se encontre ausente do Município, vez que essa é uma das atribuições do cargo de Vice-prefeito.

4. O Prefeito em Exercício, no caso o Vice-prefeito, terá plenos poderes para praticar todos os atos inerentes e de competência do Prefeito eleito, fazendo jus, para tanto, a todas as vantagens do cargo, inclusive à remuneração do Prefeito eleito. Este é o nosso parecer.

NOVAS RUAS
Pela Lei Nº 4402, de 17.11.2014, Fica denominada de RUA MANOEL RODRIGUES SAMPAIO, a primeira rua paralela sul à rua projetada 17, sentido oeste/leste, com início na Avenida do Agricultor e término na rua projetada 02, no Loteamento Recanto do Horto, bairro Horto, em Juazeiro do Norte-Ceará. Autoria: Vereador Paulo José de Macedo;

Pela Lei Nº 4403, de 17.11.2014, Fica denominada de RUA MARIA RODRIGUES SAMPAIO, a primeira rua paralela norte à rua Manoel Tomé Sampaio, sentido oeste/leste, com início na Avenida do Agricultor e término na rua projetada 10, no Loteamento Recanto do Horto, bairro Horto, em Juazeiro do Norte-Ceará. Autoria: Vereador Paulo José de Macedo;

Pela Lei Nº 4406, de 17.11.2014, Fica o Chefe do Poder Executivo Municipal de Juazeiro do Norte, autorizado a denominar de RUA AUGUSTO DIAS DE OLIVEIRA, a rua projetada que fica localizada no Loteamento Parque Planalto, com início na Quadra “G”, passando pelas Quadras F, E, D, C, B e A, no sentido leste, ao longo de toda sua extensão, prolongando-se a partir da rua Maria  dos Santos Rodrigues, até a rua Jim Reay Willson, no bairro Novo Juazeiro”.  Autoria: Vereador Cícero Claudionor Lima Mota.

RECONHECIMENTO PÚBLICO
Pela Lei Nº 4404, de 17.11.2014, Fica reconhecido de utilidade pública a ASSOCIAÇÃO INSTITUTO TERAPÊUTICO VIDAS TRANSFORMADAS, constituído em 08 de novembro de 2013, Sociedade Civil de direito privado sem fins lucrativos, que tem por finalidade recuperar pessoas adultas de todas as idades, e de ambos os sextos viciadas em drogas, bebidas alcoólicas e dependentes de substâncias tóxicas de qualquer natureza, com duração indeterminada, com sede e foro à rua Deputado Duarte Júnior, nº 457, bairro Aeroporto, nesta cidade de Juazeiro do Norte, Estado do Ceará, regendo-se por seus estatutos sociais, bem como pelas leis, usos e costumes nacionais. Autoria: Vereadora Auricélia Bezerra; Coautoria: Vereadora Rita de Cássia Monteiro Gomes.

LIVRO: PEDRO, BANDEIRA DA CANTORIA
No próximo dia 27, na Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, o vereador de Natal, Aquino Neto estará lançando o seu livro Pedro, Bandeira da Cantoria. Natural de Pau dos Ferros (RN), o vereador Aquino Neto é radialista, apresentador de TV e Bacharel em Direito. Iniciou sua vida pública no movimento estudantil, nos anos 80, onde se projetou como figura pública. Participou da fundação da Associação Estadual dos Poetas Populares do RN - AEPP, instituição na qual é membro. Assumiu uma vaga na Câmara Municipal de Natal pela primeira vez em 1994. O vereador Aquino Neto, que é fundador e membro da Associação Estadual dos Poetas Populares do RN (AEPP), lançará o livro que conta um pouco da trajetória profissional do poeta repentista Pedro Bandeira. Segundo o próprio autor, “não é uma biografia ou livro de história, embora descreva a vida profissional desse ilustre cantador. É um livro que encanta, de reminiscência que canta e conta a existência do povo brasileiro e, por assim dizer, é um livro que de repente a repente dura a vida inteira”. O livro já foi lançado em Natal, no dia 21.08.2014.

AEROPORTO DE JUAZEIRO DO NORTE
Aos que consultam esta listagem periódica deixamos de informar que desde setembro, não constam a estatística com os movimentos operacionais dos aeroportos: Aeroporto Internacional de Confins (Belo Horizonte) e Aeroporto Internacional do Galeão (Rio de Janeiro), por terem sido concedidos a outros, não pertencendo mais a Infraero. Bem como o Aeroporto Internacional de Natal que teve suas operações encerradas, como aeroporto civil, passando apenas a ser aeródromo de operações militares. Em sua substituição está em operação o Aeroporto Internacional de São Gonçalo. Apenas para atualizar o conhecimento da última alteração (retirada do voo Juazeiro do Norte-Recife), reproduzimos abaixo os painéis de Desembarques (Arrivals) e Embarques (Departures). Estamos publicando, também a seguir, o movimento (estatisticas) dos aeroportos brasileiros, referente ao período de Janeiro a Outubro, a cargo da Infraero, e divulgado nesta manhã, para posicionar o Aeroporto de Juazeiro do Norte.  Como resultado, apesar da diminuição de operações (pousos e decolagens), embora com discreta elevação dos passageiros servidos (embarcados e desembarcados), o Aeroporto de Juazeiro do Norte se mantém nas mesmas posições que vinha ocupando, tanto no global (Brasil), com o na região Norte/Nordeste. Vejam os resultados.












quarta-feira, 19 de novembro de 2014

BOA TARDE
085: (19.11.2014) Boa Tarde para Você, Maria de Fátima Morais Pinho

Aos nossos olhos, recai sobre si na atualidade a grave responsabilidade de manter e dirigir o IPESC, Instituto José Marrocos de Pesquisas e Estudos Socioculturais, da Universidade Regional do Cariri.

Em novembro de 1987, professora Fátima Pinho, a Delegacia Regional de Ensino sediada em Juazeiro do Norte, promoveu o Seminário “URCA, seu Papel, seu Espaço”, tratando da Regionalização da Universidade, cuja preocupação emergia na sociedade caririense.

Convidado a participar do evento, eu me pronunciei sobre a nossa preocupação em tornar a URCA um forte instrumento de modernização e desenvolvimento do Cariri, a partir de uma maior presença nas demais cidades, além da sede da Reitoria.

Eu propus, por exemplo, que diversos órgãos suplementares fossem criados para estimular esta participação dos municípios, sobretudo por não se poder realizar naquele momento, e como se desejava, a implantação de cursos e faculdades nas diversas comunidades.

Deste modo, Fátima, havíamos pensado em criar em Juazeiro do Norte um Centro de Documentação, ou um Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais que encerrasse núcleos de preservação da memória histórica, arquivos, biblioteca, hemeroteca, salão de exposições e outras atividades correlatas para dinamizar o que tínhamos mais evidente como o folclore, o artesanato, a literatura de cordel e a religiosidade popular.

Em 12 de maio de 1989, perante o Conselho Universitário presidido pelo seu reitor, o Prof. Dr. José Teodoro Soares, apresentamos formalmente a proposta de criação do Instituto José Marrocos de Pesquisas e Estudos Socioculturais do Cariri - IPESC.

Entre 17 e 20 de abril de 1988, a URCA havia realizado com êxito o I Simpósio Internacional sobre Pe. Cícero e os Romeiros de Juazeiro do Norte.

E em vista do que já se consolidara desde o Seminário de 1987 e as recomendações da síntese conclusiva do I Simpósio Internacional, para nossa imensa alegria, Fátima, a Reitoria baixou uma Resolução do Conselho Universitário, em 23 de maio de 1989, criando o IPESC, com sede em Juazeiro do Norte.

Na mesma data, uma Portaria designava os professores José Boaventura de Sousa, Peterus Antonius Tegenbosch, Francisca Fernanda Anselmo, Edmilson Martins Lima, Daniel Walker Almeida Marques, Antonio Renato Soares de Casimiro, José Bendimar de Lima e Francisco Hélio Germano, para sob a presidência de Boaventura, formar a Comissão que efetivamente implantou o novo órgão.

Vinte e cinco anos decorridos, dos quais nos lembraremos eternamente, pelo imenso serviço prestado ao Cariri, o IPESC continua no nosso imaginário a representar uma grande esperança no nosso desenvolvimento continuado e sustentável, a partir de seus objetivos maiores.

E nisto, Fátima, em fase áurea, primamos pela realização de atividades científicas e culturais, pela recuperação e constituição de acervos documentais, pela produção e disseminação de conhecimentos; conjugamos suas atividades de pesquisa e extensão cultural às atividades implementadas pelos cursos ministrados na URCA; captamos recursos de fontes financiadoras para projetos de pesquisa; mantivemos as áreas de extensão cultural, de documentação e de editoração; realizamos cursos, seminários, simpósios e ciclos de estudos; firmamos convênios com entidades do país e do exterior para intercâmbio cultural e executamos programas de treinamento de pessoal nas áreas de pesquisa objetivando a melhor qualificação de graduados da URCA.

Finalmente, professora Fátima, reconhecemos em si esta responsabilidade histórica sobre o acervo que você herdou. Esperamos, sinceramente, que esta seja também uma permanente luta em sua vida profissional, como foi para cada um daqueles que um dia tiveram a ideia de criar o IPESC e mantê-lo até quando foi possível, pois já era uma grande missão.

(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 19.11.2014)


terça-feira, 18 de novembro de 2014



BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
082: (12.11.2014) Boa Tarde para Você, José Alcy Pinheiro
Você não imagina, meu caro amigo, a enorme alegria em tê-lo abraçado ontem, depois de vários anos, para saber que, finalmente você está concluindo o seu esperado depoimento sobre a eletrificação do Cariri. Eu penso que este é um capítulo de nossa história recente que de fato precisa ser bem contado por alguém que viveu esta saga por dentro, com você, o primeiro funcionário da então Companhia de Eletrificação do Cariri, e por muitos anos. A propósito desta eletrificação, Zé Alcy, eu já relembrei aqui, numa destas crônicas, que este fato teve diversos episódios memoráveis e importantíssimos. Num primeiro momento é oportuno lembrar a bravura de uns caririenses que lutaram contra a enviesada concepção da extensão das redes, desde Paulo Afonso, em flagrante confronto com os interesses do então ministro Virgílio Távora. Virgílio havia costurado um acordão que envolvia lideranças da Paraíba e do Rio Grande do Norte, e por ele a linha a ser construída passava por Campina Grande e Mossoró, para atingir Fortaleza. Os técnicos da CHESF, tendo a frente a extraordinária figura do engenheiro Antônio José Alves de Souza se opunham a esta obra, pois já tinham, se detido substancialmente sobre a viabilidade da rota Paulo Afonso-Milagres. Ganhamos isto, Zé Alcy, perante Getúlio Vargas, em 1953, também pelas vozes altivas de Felipe Neri da Silva, de Antônio Correa Celestino, de José Maria de Figueiredo e de Colombo de Sousa. Esta história é particularmente importante porque no caso do Ceará, como já muito bem referia o professor Antônio Martins Filho, de enorme e saudosa memória, toda a marca de desenvolvimento do Estado se assenta sobre duas coisas: a eletrificação e a sua universidade. E nisto ele tinha absoluta razão, pois se aplica com o uma luva no Cariri, pois os fios de Paulo Afonso chegaram primeiro, embora só 50 anos depois vimos um meio universitário pujante, fruto das atenções do poder público, e do grande esforço manifestado pela iniciativa privada, semeando cursos às dezenas em nossa terra. Por mais que tenha tentado, Zé Alcy, infelizmente eu não pude construir uma cronologia que me esclarecesse o passo a passo desta grande conquista. O mais que pude foi me debruçar sobre fatos isolados, e nisso aguardo a precisão do seu relato. Há alguns livros que tangenciam o caso do Cariri, pela situação mais emblemática de que ela iniciou o grande surto do Estado. No início desta história, com a determinação do governo federal, foi fundada a SOELCA – Sociedade de Eletrificação do Cariri, uma iniciativa de curta duração que logo foi substituída pela criação da CELCA – Companhia de Eletrificação do Cariri, constituída em 28.10.1960. Ela foi fundada como sociedade anônima de economia mista formada por capitais da União, através da CHESF, do Governo do Ceará, das Prefeituras e do povo do Cariri. Como você, Zé Alcy, tão bem sabe, sua criação foi determinada primordialmente para que houvesse um organismo responsável pela construção do sistema e a comercialização da energia gerada, depois de ter realizado a construção do sistema (estação abaixadora, posteamento, rede de distribuição). Tanto que a sede da Companhia, já funcionava a partir de 01.05.1960. Quero crer que aí você, Zé Alcy, já estava no batente e juntando fatos que desembarcarão em breve neste livro ansiosamente aguardado. O prof. Espedito Cornélio, o segundo superintendente da CELCA, entre 09.12.1966 e 14.08.1968, publicou um livro sobre a Saga da Eletrificação, mas infelizmente a obra não respondeu à maior parte de nossa ansiedade, não obstante a obra poética que legou. Enfim, José Alcy Pinheiro, estamos atentos e ansiosos para ler este livro a que você tem se dedicado e que é parte relevante de sua própria existência.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 12.11.2014)
083: (14.11.2014) Boa Tarde para Você, Célia Maria e Silva Morais.
Um pequeno desconforto, coisa natural de um transeunte apressado nas ruas de Juazeiro, me levou esta manhã a reler o poema As Calçadas de Juazeiro, de Célia Morais, a quem cumprimento nesta tarde.
Ai que saudades que eu tenho / Das calçadas de Juazeiro / Quando eu era bem pequena / E brincava o dia inteiro / Nas calçadas de tijolo / Sempre eu chegava primeiro;
Eram calçadas tão largas / Mais pareciam uma pista / Andava de bicicleta, patinete e patins / As da Rua Padre Cícero / Eram lindas de morrer / E nas Malvas nem se fala / Pois foi lá onde eu morei;
Calçadas também escutavam / Histórias de assombração / Depois vinham as brincadeiras / Camaleão olha o rabo dele / Noites passam depressa / Não tinha televisão;
Passou-se o tempo e eu passei / A ver o que não queria / A ver o que aconteceu / E acho que não gostei / Calçadas de Juazeiro / Não tem mais, desapareceu;
Tem calçada que sobe / Tem calçada que desce / De repente ela encurta / De repente ela cresce / E nesse vai e vem / A coluna é que padece;
Você acha isso certo? / Você acha isso bom? / Ver o povo na rua / Pois calçada não tem / E já se perguntou? / Porque isso acontece?
Só encontra a resposta / Quem dirige um transporte / Você acha isso grosseiro? / Falta de educação? / Pois isso só acontece / Pra quem mora em Juazeiro / E é coisa sem solução;
Eita terrinha sem lei / Terrinha sem urbanismo / Aqui não dá para cantar / “Se essa rua fosse minha…” / Pois se você for tentar / Você cai é num abismo;
Uma coisa vou lhe dizer / É uma pena que seja assim / Pois eu amo essa terrinha / Terrinha do meu Padim / E tomo a liberdade / De achar isso ruim;
Com calçada ou sem calçada / Vou ficando por aqui / Estou beirando os setenta / Não ando mais de patins / Pra que calçada tão grande? / Pra que calçada sem fim?
Você escreveu estes versos há uns seis anos passados, Célia, e a minha leitura me enseja um misto de sentimento saudosista em quase tom profético. Esse, sem dúvida é um dos inúmeros motes que podemos recolher de velhos moradores desta antiga vila para lamentar, mas, principalmente, para refletir sobre o que temos feito ou o que temos nos permitido que se faça com esta nossa cidade amada. Perdão, Célia, mas não vale a pena dizer que a cidade é mais errada pelos descaminhos de suas calçadas, mas nunca poderemos deixar de lado e nos conformar que tenhamos atravessado todo um século sem que merecêssemos a atenção de um plano diretor urbanístico. Hoje vivemos uma quase dicotomia entre a cidade velha e seu centro, e os largos e ainda promissores novos espaços da urbanização que repetem o vexame de sempre, com imóveis geminados e sem recuos, calçadas estreitas e acidentadas, lotes que fazem vexame até diante de casas populares e ruas que logo se saturam pela avassalagem de motos e carros. Não sei mesmo, Célia, onde nos distraímos para não ter cobrado com a veemência necessária que tantos gestores não passassem por aqui sem uma solução marcante e estruturante para este nosso crescimento e inchaço. Não sei mesmo como justificar que seja tão difícil rever os gabaritos das nossas premissas urbanísticas, como também não sei como justificar que seja tão difícil construir nesta cidade as avenidas e as praças que ela tanto reclama, para que respiremos mais aliviados. Aceito e louvo, Célia, a sua provocação poética, os versos simples de um coração magoado e carinhoso para com seu chão amado. Sempre que conto com suas reflexões sobre as postagens regulares da Memória Fotográfica de Juazeiro do Norte, em página do Facebook, quando ficamos muitas horas a admirar a riqueza arquitetônica que herdamos da velha cidade do Patriarca, logo me vem à cena o verso inesquecível de Maria Gonçalves da Rocha Leal: “Meu Juá, meu Juazeiro/ como te vejo hoje, e como te vi primeiro”. E olhando para aquelas imagens, Célia, também vou lembrando o verso inesquecível de Drumond, vivendo a mesma angústia e que me permite dizer, analogamente: “Juazeiro é apenas uma fotografia na parede. Mas, como doi...”
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 14.11.2014)

084: (17.11.2014) Boa Tarde para Você, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros
Como a 43 anos já passados e vividos, será muito prazeroso, logo mais, abraçá-la neste reencontro durante a abertura do IV Simpósio Internacional sobre Padre Cícero, aqui no Memorial. Será inevitável, Luitgarde, que me ocorram velhas lembranças desde aquele dia, numa manhã ensolarada de domingo, na residência de Mons. Azarias Sobreira, em Fortaleza, quando dele recebi a incumbência para protegê-la e facilitar-lhe a vida nas pesquisas a caminho do Juazeiro. O que foi possível fazer desde então, varou este novo século, carregando para a atualidade uma maravilhosa vivência de nossas famílias, de tantas outras famílias deste Cariri, em torno da memória e das histórias destas nossas terras. Pena que o tempo abateu do nosso convívio um grupo numeroso de gente maravilhosa que fazia este relacionamento, velhas e amadas criaturas, guardiãs da tradição e de afetos que marcaram definitivamente os nossos trajetos curiosos. Agora você está de volta, aos apelos intransferíveis dos que partilharam grandes emoções, trabalhos e reflexões acadêmicas, para revisitar os caminhos antigos. E aí, jagunça? (para lembrar-lhe o apelido posto e merecido, do seu velho colega docente de faculdade, Darci Ribeiro), que ânimo ainda lhe traz a esta santa terra do Tabuleiro Grande, em busca dos caminhos de nosso Patriarca? No começo de 1971, Luite, você era uma estudante na UFRJ e depois na PUC de São Paulo, e chegou aqui para realizar a pesquisa que redundaria no belíssimo A Terra da Mãe de Deus, sua dissertação de mestrado, depois tornada livro de leitura e menção obrigatórias a quem desejasse continuar-lhe a missão. Fazia pouco, mas você havia deixado a Fisioterapia, graduação anterior pela Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro, em 1966, para se tornar antropóloga, licenciando-se e bacharelando-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1968. Daí por diante, foi o que vimos e pelo qual tanto vibramos: Doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1980; Pós-Doutorado em Antropologia pela UNICAMP, em 1999 e, de novo, outro Pós Doutorado em Ciência da Literatura pela UFRJ, em 2008. Invejo-a, Luite, por vê-la sempre com tanto gás, agora, depois da aposentadoria na UFRJ, novamente professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), tanto em graduação quanto em pós-graduação, porque não é fácil, e seria temeroso, dispensar a sua larga experiência na área de Antropologia, com ênfase nos temas de pensamento social brasileiro, movimentos sociais, catolicismo popular, antropologia política, antropologia da violência, antropologia da literatura, memória e história oral. Tenho num canto especial da biblioteca aqui de casa, com grande afeição, o ajuntamento magnífico das leituras de quase tudo o que você produziu nestes anos em livros sobre Padre Cícero, Arthur Ramos, Lampião, Nelson Werneck Sodré, Octávio Brandão, Nise da Silveira, Guerra-Peixe e a memória e a história oral dos bairros portuários do Rio de Janeiro, bem como uma boa parte da mais de uma centena de capítulos de livros e artigos em periódicos e jornais, no Brasil e no exterior. Aí eu a encontro, firme, ereta, digna e competente para transitar leve e solta por conteúdos tão apaixonantes. Aí eu a encontro irredutível nas suas convicções, a não fazer concessões fáceis e a interpretações simplórias que nos ajudam a compreender esta realidade que ainda nos cerca, por exemplo, no contexto da grande nação romeira. Seja bem vinda a esta sua terra, professora Luitgarde Barros, você que é cidadã juazeirense de tantos méritos. Méritos estes lembrados por serviços continuados de permanente atenção a tantos quantos que se socorreram da sua competência em todos estes anos.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 17.11.2014)

PACTO DOS CORONÉIS
Lentamente estamos formando uma galeria para identificar todos os participantes do Pacto dos Coronéis, em Juazeiro do Norte. Agora nos é fornecida por João Tavares Calixto Júnior uma foto do representante da cidade de Aurora.  Agradeço e transcrevo abaixo a anotação que João Tavares Calixto Júnior fez na minha página do Facebook. “O Coronel Cândido Ribeiro Campos (Cândido Fernandes da Silva), conhecido em seu tempo por Cândido do Pavão, era natural do sítio Antas em Aurora. Filho de Matias Fernandes da Silva (pedreiro que trabalhou na ampliação da Capela do Senhor Menino Deus em 1864) e Antônia da Encarnação Monteiro, substituiu o sobrenome Fernandes da Silva por Ribeiro Campos, por ocasião de “qualificar-se”, para tirar o título eleitoral. Foi um dos mais importantes chefes políticos do Cariri em sua época, e pai de prole numerosa, sendo o Padre Januário Campos, o filho de atuação mais marcante. Casou-se com Ana Maria de Jesus (Naninha), instalando-se no sítio Martins, de seu tio materno João Monteiro. Transferiu-se em 1902 para o sítio Pavão, antiga propriedade do mosteiro de São Bento, de Olinda, à época, em poder do padre Cícero Romão Batista, que a havia comprado. Era encarregado da cobrança dos dízimos dos que ocupavam as terras sob o domínio eclesiástico, as quais mediam três léguas de comprimento por uma légua de largura, de ambos os lados do rio Salgado, estendendo-se do riacho dos Mocós até o riacho do Juiz. Tornou-se, por força da arrecadação das alíquotas, de grande confiança do Padre Cícero Romão Batista, o que lhe conferiu notoriedade, ocupando cargos importantes em Aurora, como o de suplente de Juiz substituto, presidente da Câmara e Prefeito Municipal, cargo, este último, ocupado em face aos fatídicos episódios de 1908, onde, com a deposição do coronel Totonho do Monte Alegre, assume ele, Cândido do Pavão, o cargo de Intendente Municipal de 1908 a 1914, e posteriormente, de 1921 a 1926. Em carta do Padre Cícero ao Cel. Cândido do Pavão, datada de 13 de outubro de 1916, observa-se referências sobre a situação de perda de seu rebanho bovino, ora localizado em suas terras em Aurora. Segue trecho do lançamento: “... A paz de Deus o guarde e família. Tendo precisão de fazer minha criação de gado e animais nesta propriedade que comprei aos padres de S. Bento, mandei lá José Xavier e o meu vaqueiro e disseram-me eles que o lugar que presta é o Pavão. Havia passado procuração bastante ao Sr. José Xavier para tratar de qualquer negócio com qualquer um que estivesse no lugar mais apropriado, e resolver, como fosse justo. O Pavão foi o melhor que acharam. Portanto, não estranhe em exigir para estabelecer-me que boto aí, eu perco o resto da criação que está mal colocada. Portanto, lhe aviso que não posso mais arrendar aí, e em janeiro mandarei o José e o vaqueiro para aí. A respeito de sua casa, cercados, indenizo por preço razoável. Eu lhe digo com pena porque lhe desejo a si e a todos todo bem que posso desejar, porém não tenho outro lugar que se preste para a criação que já estou perdendo. É muito melhor que compre uma propriedade onde firme seus trabalhos e deixe sua família colocada em propriedade sua. Reflita bem que verá que é mais justo e melhor. De seu amigo e compadre. P. Cícero Romão Batista”. Participante no famoso episódio do "Pacto dos Coronéis", representando o município de Aurora, Cândido atuou de forma ativa na truculenta briga pelo litígio do poder no Cariri, figurando em diversas cenas do coronelismo regional, como na "Questão do Coxá", Ataque de 8 em Aurora, Morte de Izaías Arruda, entre outros. Veio a falecer aos 24 de julho de 1936.
(Para rever a participação de Cândido Ribeiro Campos no Pacto dos Coronéis, consulte: