sábado, 30 de junho de 2018



O QUE PENSAR NESTA NOITE?...
Estamos aqui reunidos para cumprir uma das melhores recomendações que o tempo e o vento nos têm indicado: Pensar o futuro do Cariri. Que Cariri é esse? O CRAJUBAR do nosso encantamento? O JUABC do intempestivo jornalismo provocador? O Cariri segundo o argumento legislativo dessa Região Metropolitana? Ou o Cariri de mais amplas fronteiras para não excluir ninguém, diante da necessidade de estender o esforço de um povo, na pluralidade de suas composições para a grandeza longamente ansiada dos seus melhores dias? Desejamos Pensar o Cariri nesta noite, não apenas pela recente inauguração deste novo século, numa perspectiva de lições históricas, mas sobretudo por experiências vivenciadas por nós mesmos, através de interlocuções bem vivas e aqui presentes, merecedoras de admiração, de louvores e de atenções por conquistas efetivadas, algumas das quais, talvez, nem nos lembremos completamente. Assim, ouviremos aqui se falar de uma velha tradição de oração e trabalho, de fé, de crença, de determinação, ingredientes fundantes da nossa cidadania, especialmente para se fazer produtivo o labor entre campo e cidade, herança de velhos patriarcas desses sertões. Falaremos de urbanização e moradias, crescimento demográfico e emprego, de migrações e de romarias, de etnias e de culturas, de comércio e de serviços, de gestão e de serviços públicos, de associações e cooperativismo, de eletrificação e de matriz energética, de televisão e de telefonia, de industrialização e de Morris Asimow, de malha viária e de aeroporto, de bodegas e de shoppings, de colégios e de faculdades, de radiodifusão e de jornalismo impresso, de ouro e de pedra, de couro e de plástico, de madeira e de aço, e se não mais falarmos é porque pouco tempo é o que há. Pensar o Cariri, apenas para ilustrar o que nos tem aparecido, de mentes privilegiadas, especialmente das novas academias, é para não esquecer a necessária pauta alongada de muitos temas, como: 1. A nossa emergente metropolização; 2. A nossa convivência com Estado e União; 3. Os novos arranjos produtivos do Cariri; 4. A insustentável leveza do nosso Desenvolvimento; 5. O luxo da aldeia Cariri e o lixo de suas cidades; 6. Prioridades para poucos recursos, diante do essencial; e tanta coisa mais. Ditas e feitas essas boas lembranças, nos entreguemos de mentes abertas para a convivência salutar, entre convergências e divergências, entre o quase unânime e o contraditório, para que esta privilegiada reunião nos anime a continuar preparando as gerações sobre as quais tantas responsabilidades nos cabem. Afinal, o Cariri que queremos legar para os nossos filhos depende muito dos filhos que queremos deixar para o Cariri. 
(Texto introdutório, de autoria de Renato Casimiro, ao Painel sobre Pacto & Impacto, no lançamento da respectiva obra, de autoria de Cícero Pereira de Sousa, no I-UÁ Hotel, Cariri, em Juazeiro do Norte, na noite de 26.06.2018) 
JUANORTE: TRISTE FIM DE UMA TRINCHEIRA (VIII)
Continuamos nossas transcrições da colaboração como articulista ao jornal eletrônico Juanorte, editado a partir de Brasília-DF pelo jornalista J. Alcides. Como explicado anteriormente, esses textos foram para a rede mundial de computadores e bem recentemente hackers destruíram o arquivo do periódico. Daí a nossa iniciativa de republicá-los, como recorte de uma época. 
METROPOLIZAÇÃO
Repitamos, para começar esta modesta reflexão, a definição batida de região metropolitana que considera o conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com serviços públicos e infra-estrutura comuns. Como bons sucupiranos, não vamos nos perder com o “detalhe” que nos fala de uma cidade central. Vamos insistir na aceitação de alguns pressupostos implícitos nos serviços públicos e infra-estrutura. Encarar este desafio, o de tirar bom proveito para que à sombra do governo – e muito mais, para cobrar-lhe a atenção devida, à margem da demagogia, é o papel que se reserva às comunidades para que avancem um pouco mais, na direção de conquistas por uma melhor qualidade de vida. A metropolização de Juazeiro do Norte, por exemplo, nos chega no exato momento em que nos consagramos gente de uma orfandade política, gritante, de lideranças e de homens capazes para liderar as empreitadas desta batalha. Claro que muita gente só pensa na inutilidade total deste discurso, pois na contra mão de suas aspirações, caminham lépidos e fagueiros os boavidas do parasitismo parlamentarista descarado. Renovados pela desfaçatez, na falação destes dias, de que cumpriram o prometido, e como tal merecem ser perpetuados na sua sinecura às custas da viúva e do contribuinte espoliado. Se considerarmos o crescimento da urbanização, não só da vila de meu Padrinho, mas das cidades que integram a proposta de metropolização caririense, veremos que as cidades, despreparadas, incharam a mais do dobro do contingente populacional urbano nos últimos cinqüenta anos. A rigor, fomos todos apanhados de surpresa, e não houve tempo para melhor preparação, nem para estabelecer serviços públicos, e de infra-estrutura que respondesse à altura da demanda. Agora, nas promessas de campanha, por aqueles que vão continuar prometendo verbas estaduais e federais, os planos tangenciam o necessário. Fala-se de um tudo. Promessa é coisa boa pra político fazer em véspera de quermesse. Evidente que queremos do ungido, todo poderoso, a honra a um compromisso com a cidadania, com o cidadão e com as cidades. Evidentemente, não se mora na união. As cidades estão esmolando nos gabinetes das administrações centralizadas do Estado e da União. Essa é uma situação muito cômoda para quem tem chaves de cofre. Por qual propósito, senão eleitoreiro, se abriria mão disto? Pelo cidadão, quem olhará melhor para a vergonha de uma tributação escorchante, de mais de sessenta facadas? Pouco temos reparado para as soluções que vem de pactos solidários, coisa de que os governos pouco entendem. Desconfio que a nação teria uma enorme solução, na auto regulação de seus problemas. Mas, a bem da verdade, quando se substitui isto por palavrório fácil e balela de conselho comunitário, o resultado já se vê. À cidadania, mistifica-se a causa, atribuindo escala de valores que acintosamente se ensaia na troca de escalas injustificadas. A defesa de minorias, a legalização de drogas, as cotas raciais, etc. Tudo volta a uma pauta demagogicamente articulada, travestida de modernidade no discurso de candidato de ocasião. Esta metropolização do Joazeiro que é preocupante, passa ao largo. Este é o presente de uma cidade de médio porte, que se afirma como núcleo de um centro regional, a exemplo do que vem acontecendo em diversos estados brasileiros. Isso só foi possível porque a indústria se tornou o setor que domina, e dá sustentação à cidade como economicamente produtiva. Não há novidade. É a constatação de que se necessitava para daí apreender-se um pouco mais sobre os arranjos produtivos que poderiam integrar mais as ações de desenvolvimento. Às vezes é decepcionante saber que esta responsabilidade social que incide sobre o hegemônico, infelizmente, ainda não se cobra, não tem o menor exercício na hora de se tentar reverter as coisas graves do Cariri. “Problema deles. Nós, nem aí.” Lamentável. E o futuro desta metrópole, no botão do dia 4 de outubro? Aperte-o pra valer. 
(JUANORTE 22.08.2010)
ABUSOS DE CAMPANHA
Costuma-se dizer que os políticos, e não faz diferença se isto acontece onde o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é baixo ou alto, chegam a este tempo de campanha eleitoral como uns santinhos a implorar o voto do cidadão, como se fossem outros e não aqueles que nos habituamos a ver pela mídia. Alguns, até, através das folhas policiais em rumorosos casos onde não falta o flagrante delito, mostrado televisivamente em horário nobre, a ensinar o povo como se guarda dinheiro na roupa de baixo. E o que é pior, com a sensação da impunidade, qual crime perfeito. Em nome desta voragem pelo sufrágio, eles sempre apostam na obsolescência, inutilidade ou ineficiência de nossa legislação, seja do código de posturas nas cidades, seja do escopo eleitoral pertinente. Então, vão praticando toda sorte de infração. Para mencionar que o péssimo exemplo começa pela disputa de cargos majoritários, dias atrás deu raiva ouvir a enxurrada de multas – de valores insignificantes, aplicadas aos que se anteciparam na publicidade de suas propostas. Ocorre que esta gente conhece de sobra a formulação destas legislações, mas insiste em desconhecê-las, porque ninguém é otário o suficiente para não fazer o que os outros estão fazendo e para se ver que tudo dá em nada. Lamentável. Profundamente lamentável. Agora as cidades estão se enchendo desta gente barulhenta, de claques desrespeitosas contratadas a peso de dinheiro nem sempre explicado, que não sabem como agir com civilidade, pois a disputa pelo voto não é, pensam eles, exatamente o momento para este exercício. Por estes dias, até na nossa Assembléia Legislativa, diversos deputados usaram da palavra para protestar contra o abuso de valores praticados com os gastos de campanha, aplicados a material impresso, camisetas, bonés, pessoal de serviços diversos, veículos, carros de som, carreatas, comícios, comitês, etc, etc. Vejam lá a que desfaçatez chegam alguns dos nossos representantes, ao esbravejar contra o que denominam de violência e de abusos praticados em meio à campanha. Por isso mesmo ficamos perplexos com estas atitudes. Recai sobre a postura íntima de cada votante o protesto silencioso que até pode cassar esta gente de ficha suja, na origem. Numa hora como esta nos passam algumas questões atinentes ao problema e a necessidade de uma profunda reforma eleitoral. Mas, com este parlamento que aí temos, o que pode ser salvo no tocante a financiamento de campanha, código eleitoral e tudo aquilo que importa para que a nós a questão seja tratada num mínimo de decência. Nós não temos crença, não temos fé diante de tantas ameaças do que se ouve ou se presencia com respeito a casos de compra de votos, publicidade irregular e utilização de recursos públicos para beneficiar candidatos, para citar apenas alguns dos itens que lideram a lista de queixas. Lamentavelmente, é da nossa cultura a manutenção destas práticas viciadas e que grassam por este tempo, como se isto viesse em alento à própria miséria do povo que estimula estes comportamentos desonestos e criminosos. Demagogia é a palavra chave que reduz tudo ao caminho mais fácil de promessas que dificilmente se cumprirão. Ora direis, é muito difícil de se comprovar. Faz parte deste pacto espúrio as posturas de corruptor e corrompido que selam uma aparente regularidade do negócio em que naufraga mais ainda a nossa pobre democracia.
(JUANORTE 29.08.2010)
BIBLIOTECA PÚBLICA
Eu era um garoto de 14 anos quando fui punido exemplarmente pelo Pe. Mário Balbi, então prefeito de disciplina do Ginásio Salesiano, em 1963. O motivo até poderia falar aqui. Mas, vou me reservar para fazê-lo numa outra ocasião, pois aguardo o reencontro com uma peça chave, não mais em minha defesa, mas para corroborar e ilustrar o acerto da atitude da escola. A conseqüência inevitável seria o comunicado aos pais através da velha caderneta verde. Em verdade, eu não o fiz, escondendo a notificação e agindo como se nada tivesse acontecido, para fugir à punição doméstica. Era necessário simular a ida ao colégio e só me restou o refúgio na Biblioteca Pública Dr. Possidônio da Silva Bem, que à época funcionava no Bosque Luiz de Queiroz, em frente à Matriz de Nossa Senhora das Dores. Assim, por três dias seguidos, depois de uma passagem pela praça Pe. Cícero e, após o encontro com os colegas que seguiam para as aulas, eu ia para a biblioteca. Era pequena, mas muito acolhedora. Tinha, principalmente, um bom número de coleções, como Mundo da Criança, Tesouro da Juventude, Enciclopédia Delta Larousse, obras completas de Monteiro Lobato e coisas assim. Foi deste modo que me afeiçoei pela leitura e, especialmente, pela freqüência a bibliotecas. Um gosto que eu tenho procurado refinar na medida das minhas atenções por temas escolhidos, como esta mania de não se saciar nunca com o conhecimento da cultura e da história de minha terra. Lamentavelmente, tendo me afastado de Juazeiro perdi quase todas as oportunidades para acompanhar de perto a trajetória desta biblioteca pública, em que se reconhece uma folha inestimável de atenções, cuidados e serviços à estudantada da cidade, em diversas gerações. Por estes dias fui informado que a Prefeitura Municipal transferiu a sua Secretaria de Cultura para dentro do prédio da biblioteca, como se ali sobrasse espaço, sob a alegativa de “maior proximidade com os artistas, bem como facilitar a execução de projetos em parceria com a biblioteca pública municipal, como por exemplo, o das bibliotecas comunitárias, que prever (sic) instalação de vinte, até o centenário de Juazeiro.” Se havia ou há essa falsa impressão, quanto ao espaço, lamento muito e até me penitencio antecipadamente frente à sua coordenação, em quem reconheço dedicação e dinâmica bem situadas neste fazer, que provavelmente, não tem encontrado boa vontade e disponibilidade financeira para encher o seu estabelecimento com esta moçada irrequieta e sempre sensível às provocações que vem de promoções culturais. Bem sabemos: é só dar o mote e a coisa acontece. Mas, evidentemente, temos que ter uma retaguarda que cubra investimentos necessários. O que lamento é que, da mesma maneira como se abafou a possibilidade de crescimento do Memorial Padre Cícero, determinando que parte de suas dependências fosse, ainda ao tempo de sua fundação, ocupada por uma secretaria municipal, agora é a biblioteca que será abafada pela necessária reverência aos artistas. Esta reclamação sobre o espaço escasso deve ser feita no exata momento em que sabemos que em boa hora foram doadas para o nosso município dez toneladas de livros, pela Fundação Enoch Rodrigues, de Brasília. Uma festa para renovar o acervo. Em terras mais civilizadas, a biblioteca é o monumento nacional. Entre nós, um arremedo que nestas horas se presta a acomodar conveniências que indicam como estamos sendo negligentes em admitir que já é hora de se deixar de lado umas tantas baboseiras para investir num centro administrativo como a cidade reclama. E ir acabando com esta mania de que tudo se resolve com uma puxadinha. 
(JUANORTE 05.09.2010)
O REBATE DIGITAL
A mídia digital está na ordem do dia. Não se trata apenas de paginas, portais, blogs e miniblogs. Referimo-nos à adesão gradual da grande imprensa pela forma ágil e atualizada tecnologicamente que os principais jornais do mundo estão optando. Recentemente, foi o caso do velho Jornal do Brasil que deixou a forma impressa para continuar vigoroso na telinha da web. Juazeiro do Norte não tem ficado atrás, através dos jornais semanais, mensais ou até mesmo “ocasionais”. Na brincadeira, lembrando o bom humor de Jackson Pires Barbosa, vejam aí, o quanto ainda estamos por realizar. Para os jornais de folhas do nosso passado, houve um tempo em que, capitaneados por uma figura extraordinária, Dra. Ester Bertoletti (se não estou enganado, da Biblioteca Nacional) cumpriu-se verdadeira maratona para microfilmar periódicos nacionais. Isto foi feito com maestria e dele muito a pesquisa e os historiadores se beneficiaram. Não demorou muito, a tecnologia deu outro salto e a digitalização destes microfilmes passou a ser imperiosa para a mais ampla disponibilidade destes documentos. Ao propor à Comissão do Centenário de Juazeiro do Norte a fixação do momento inicial das celebrações coincidente com o centenário (18.07.1909-18.07.2009) da edição do primeiro número de O Rebate, fizemos a proclamação pública de que não só uma edição fac-similar destas primeiras quatro páginas voltaria à leitura dos interessados, mas que envidaríamos todo o empenho para que digitalmente o Rebate voltasse a ser folheado em suas 416 páginas. Isto está valendo e deste modo respondo com atenção à preocupação de Assis Ferreira e de outros amigos. Mais que isto, a releitura de O Rebate tem estimulado diversos esforços, como o recente livro de Daniel Walker a nos revelar a História da Independência de Juazeiro do Norte (HB, 2010), bem como o denso e novo livro de Paulo Machado, ora em revisão, denominado A Marcha da Insurreição - Joaseiro do Cariry, (1907/1911), que contém em grande estilo e abundância os textos deste jornal. Recentemente voltei à Biblioteca Nacional para um contato com a equipe de digitalização. Por intermédio da professora Luitgarde Barros, já foi possível obter as gravações digitais da maior parte destes exemplares. Contudo, estas gravações diferem, em quantidade, dos rolos de microfilmes que foram obtidos ainda nos anos 80. Efetivamente, diversos exemplares estão ilegíveis e outros contém páginas mutiladas. O Rebate, em suas páginas originais, não é mais possível de ser consultado na Biblioteca Nacional. Seria um desastre, pois o papel de mais cem anos está se dilacerando. Agora só pelo terminal do computador. Neste momento estamos fazendo uma conferência minuciosa para verificar o que nos falta. Provavelmente vamos voltar à Biblioteca Nacional para solicitar-lhe a restauração de preciosa coleção. Em Juazeiro há duas “meias” coleções, com as quais se pode colaborar nesta tarefa. Enquanto isto não acontece, estamos disponibilizando, ainda na forma precária, os exemplares que dispomos. Basta uma solicitação do interessado e o intuito é o de propagar ao máximo este trabalho, que é coletivo e tem contado com o apoio de muitos estudiosos. Por isto, a reedição de O Rebate não será na forma impressa, mas com este novo requinte de tecnologia, como os tempos recomendam, num CD. Evidente que isto não substituirá a emoção de se folhear este documento histórico de nossa cidadania, para sentir até no barulho do passar de suas páginas, o grito que se fazia ouvir dos heróis de cem anos atrás.
(JUANORTE 12.09.2010)
ROMEIROS MAL ACOLHIDOS
Juazeiro do Norte, com imenso atraso, tem muito o que aprender. Vejam a questão destes dias, com respeito a uma de suas maiores romarias anuais: a festa de nossa padroeira, Nossa Senhora das Dores. Nas ruas, nas reuniões da Pastoral da Romaria, pela imprensa, a queixa é uma só: o absurdo cometido por não saber receber, acolher e partilhar a grande dádiva desta irmandade que o povo da terra guarda com os nordestinos de todo o país. Aqui e acolá, encontramos fatos isolados que, felizmente negam isto: as melhorias nas instalações da Basílica, um ou outro “empresário” que resolve inovar para se estabelecer, a dedicação inexcedível da equipe da Sedetur e de setores, apenas alguns – lamentavelmente, da municipalidade. Quanto a esta última deve-se mencionar a falência financeira do erário público como boa justificativa para qualquer ação. E isto é até aceitável. Fazer o que ? Se foi assim que esta pobre consciência eleitoral prevalente escolheu, para hoje chorar desapontada. Romeiros mal acolhidos são, principalmente, os que são desrespeitados no gesto espontâneo de voltar à terra prometida, quando mal acabaram de ser provados na sua imensa resistência diante de calamidades entre Pernambuco e Alagoas, exatamente os que mais nos presenteiam. A péssima acolhida continua sendo o aprisionamento de grande massa em cubículos de ranchos improvisados, até nas casas de famílias. Lembrei-me outro dia da expressão simples e verdadeira de Mons. Murilo a nos advertir: “eu fico furioso quando um sujeito “bole” com um romeiro...” Isto me diz tudo. “Bole-se” com um romeiro quando a este se aplica tratamento de otário a quem traz o seu sofrido cofrinho para aplicar na conveniência de sua estada na parada utópica de sua existência. A sua fé não pode ser confundida com o gesto soberbo da mercantilizada hospedaria ao sabor da exploração descabida, injustificada, a valores aviltantes por água, prato de comida, canto para a rede. “Bole-se” com um romeiro quando pouco ou quase nada lhe é oferecido pelo poder público. Não é que eles venham para cá impondo tratamento mais humanitário. Nem lhes passa pela cabeça que estejam por além das exigências dignas de um tratamento civilizado, como até muitos de nós já recebeu desconfiado a revê-los em suas terras, gratos e generosos. Murilo, por exemplo, relatava isto conferido ao padre do Juazeiro, como se aí se encarnasse todo o afeto de uma nação romeira. Por isso mesmo, várias vezes ao ano ele voltava lá e lhes renovava as esperanças de que a cidade continuava aberta às suas esperanças e crenças. “Bole-se” com um romeiro quando ao seu silêncio e contrição se ajunta a barulhenta e estrepitosa algazarra da campanha política atual, em meio ao cortejo da santa, por gente que não professa nenhuma fé no que vê, mas insiste em querer convencê-los de que é verdade o que se demonstra. A romaria é importante na hora do voto. Disso falem os candidatos que não abrem mão de um palanque para 400 mil, num dia. Doutro lado, na economia da cidade, os que assim a tratam pragmaticamente, o município de Juazeiro do Norte vive na romaria a sua primeira e ainda hoje uma das mais importantes vocações. Aquilo que responde pela sustentabilidade do seu existir como comunidade que ora e trabalha. Enquanto não tivermos claramente declarado, com projeções anuais, fidedignas, o que importa dos diversos setores (indústria, comércio, serviços) e até fragmentado no que seriam novas atividades (pólo calçadista, ensino superior, etc) não teremos nos convencido da grande importância de se fazer investimentos para isto que nos permitiria receber bem esses quase dois milhões de peregrinos, especialmente em 3 grandes momentos do ano.
(JUANORTE 19.09.2010)
LOGRADOUROS E HOMENAGENS
Acabei de revisar para Raimundo Araújo a sua proposta de um novo livro denominado Rostos do Juazeiro. Em verdade, não é um livro na acepção da palavra. Poucos serão os textos ali inseridos. Talvez mesmo porque ao autor basta a boa imagem e o nome correto do personagem. É, outrossim, um álbum fotográfico, com mais de setecentas imagens que mostram pessoas, rostos, imagens de uma gente que habitou este Juazeiro, desde o Tabuleiro Grande, precursor da Vila emancipada, a esta data mais recente, especialmente para os que até acabam de nos deixar. Tão habituado a ver fotos antigas desse nosso Juazeiro, por gente, fatos e lugares, que até surpreendi pela beleza desta coletânea. Numa coisa o acervo me saltou aos olhos: porque tantos daqueles ali mostrados não foram ainda homenageados de forma mais permanente com uma menção em lugares desta cidade centenária ? Seria natural perpetuá-los, tal é o reconhecimento que devemos atribuir à vida e obra destas pessoas. Ocorreu-me também de lembrar que percorrendo os arredores da cidade em muitas idas e vindas, eu tenha encontrado já marcados nos becos as placas de muitos homenageados a quem não pude, por maior que tivesse sido o meu conhecimento da vida desta cidade, identificar o papel de relevo que tal figura emprestou ao chão de sua vida. Ora, dirão, foi um pai de família exemplar, um comerciante dinâmico, um brioso cabo da polícia militar, um tipo popular exótico, muito conhecido pelas ruas, e qualquer coisa assim, sem maior expressão de vínculo com a vida da cidade, naquilo que ela inspira o serviço comunitário, dedicado de cada um. Longe de mim imaginar que tais recomendações não sejam válidas ao sentimento dos proponentes ocupantes de cadeiras legislativas. O que me intriga é repassar páginas heróicas de nossa história, até muito recente, sem que a isto sejam feitas as menções de dever, ao direito desta memória compulsória que aos bons filhos, lembradores comunitários de sua existência, compete honrar, celebrar e preservar. Pe. Murilo de Sá Barreto cunhou a expressão feliz a nos lembrar a pouca geografia e a muita história do lugar. Hoje, onde quer que esteja a nos observar, verá quanto explodiu a fronteira urbana da cidade com ruelas, becos e pracinhas. É como se por encanto tivéssemos feito crescer esta geografia urbana que toma quase toda a extensão dos limites territoriais do município. Embora tenhamos tido a sensibilidade de aumentar os espaços urbanos, gerando uma infra-estrutura capaz de garantir-lhes um mínimo de qualidade de vida, eles ainda conservarão, de um lado, a necessária nomeação de uma homenagem sensata e cabível. Do outro, a voragem para se fazer a omissão dos nomes que construíram este lugar, e que só continuam lembrados nos guardados de família, nas empoeiradas e danificadas imagens fotográficas dos baús dos seus entes amados. Este resgate, necessariamente seria uma pauta deste Centenário, à vista. Exemplo simples de festejar a grandeza deste lugar que, se mais não tem o que lembrar pela paisagem pobre de suas ruas, onde se fez a golpes de picaretas o destroço da cena antiga de tantos heróis, terá nesta explosão do crescimento urbano, onde se constroem milhares de casas, com a abertura de novas ruas, o espaço ideal para ir semeando a lembrança de gente a quem somos tão agradecidos. Portanto, aqui fica a insinuação que eu e muitos daqueles que já me interpelaram a este respeito, para que os poderes municipais de prefeitura e de câmara aceitem de bom grado as sugestões que são propostas e que, em suma, se traduz por uma lista imensa de homens e mulheres com os quais esta cidade se encontra endividada até por século decorrido. A memória da cidade estará agradecida com o gesto concreto.
(JUANORTE 26.09.2010)
O FUTURO
Esta semana que passou, a minha pobre vila do Joazeiro foi sucupirada por um levante para se tentar desapear do poder o seu prefeito, sob a acusação grave de improbidade administrativa. Aquilo que nos faz pronunciar publicamente expressões como incompetente, desonesto, corrupto e ladrão e diversas outras expressões não publicáveis. Esse povo ordeiro e pacífico que nos aponta a militância do PT, numericamente, mais uma vez não levantou bandeiras que justificassem o índice consagrador do voto popular de 2008. Exatamente porque a maioria está perplexa, decepcionada, mergulhada numa dialética de acusações de todos os lados, confusa no seu raciocínio mais pragmático de que não era esta a situação que deveria experimentar para ser respeitada como ordeira, pacífica e cumpridora de suas obrigações cívicas. Isto acontece na exata vizinhança de nova ida à urna, no momento em que a cidade muito necessita destes governantes e da sua representação popular na Câmara. Com que ânimo estaremos hoje fazendo esta nossa opção? Com que certezas estaremos hoje diante da confusa conjuntura na qual não restou ninguém, senão todos como suspeitos pela formação de uma enorme quadrilha que nos assaltou na esperança, no nosso mais profundo sentimento cívico? Não é a minoria barulhenta de militantes pagos e de seus chefetes que me incomoda e me deixa pensativo. É, antes de tudo, este silêncio avassalador de uma maioria recatada, aparentemente omissa, denominada demagogicamente de ordeira e pacífica, que me inquieta. No íntimo sua tranqüilidade, aquilo que os faz produzir e cumprir obrigações tem na mente a cor da paz, não a cor da guerra urbana, atualizada no populismo revanchista. O Juazeiro do Norte, como um dos maiores colégios eleitorais deste Estado, ponto de paragem da encenação trágica de promessas e abusos, é quem reclama a demonstração de respeito. Logo mais, saberemos para onde quer ir este Juazeiro centenário, que talvez nem conheça e lembre a epopéia de outras lutas memoriais. Lamentável é que só nos resta entender este concerto desafinado da debilidade partidária que nos assiste, e que existe para se configurar como um projeto político que, falaciosamente, nos impulsione para o desenvolvimento. Já não nos cabe, a esta hora, a contemplação desta luta intestina, e como tal – tumultuosa e fedorenta, do projeto de poder personificado em lideranças de meia tigela, gente da pior qualidade que se revelou da noite para o dia por mente e práticas desonestas, a nos roubar em nossos critérios inegociáveis de cidadania e respeito. A administração pública de Juazeiro do Norte está mergulhada nessa vala comum em que nada é novidade, a não ser o pior revisto e ampliado. No sentimento do eleitor, o olhar triste por sobre a trincheira das disputas por este projeto político, falido no nascedouro, ele reflete: ninguém presta! Nem prefeito, nem vereador, nem ninguém. De repente, nem demorou tanto, ruiu tudo, de tão podre. Com isto, onde foi parar a esperança de que seu voto mude alguma coisa? Ah!, meus senhores, os militares - quem diria, fizeram escola neste país dando o tom da rota com a qual se deseja trafegar rumo a uma ditadura de esquerda, repetição medíocre e intolerável de um tempo que nos leva ao mesmo cenário do crime, da tortura e por cercear a nossa liberdade de expressão, até como se a América fosse una e glamourosa. Santa ingenuidade esta que consagra mitos estranhos à nossa nacionalidade, em detrimento do sonho mais simples do cidadão ordeiro e pacífico. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.” Assim cantávamos pelas ruas, enfrentando toda a sorte de adversidades durante os terríveis anos sessenta. Não faz muito tempo, estamos vivos, fazendo história. Parte desta história se escreve em Juazeiro do Norte, por estes dias. Como antes, ao povo desta cidade está reservado o direito e o dever supremo de construir esta página, o nosso legado. No futuro, o que os filhos de Juazeiro do Norte dirão de nós?
(JUANORTE 03.10.2010)
DEPOIS DO VOTO
Muitas pessoas, preocupadas com certos indicadores oriundos da recente eleição, estão se perguntando: qual é esta nova cara do Juazeiro, revelada pelas urnas? Alguns destes resultados são, verdadeiramente, desapontadores. No caso dos sufrágios para o parlamento federal, foram dados 73.109 votos, a 109 candidatos, a maior parte absolutamente desconhecida da população. A “utilidade” destes votos serviu na razão de 68.031 votos para os 22 eleitos. E destes, apenas dois justificam a sua identidade com o colégio local. Esta diferença de pouco mais de cinco mil votos ficou pulverizada e volatilizou sem consistência eleitoral. No caso da assembléia estadual, a situação foi mais vexatória. Foram dados 79.880 votos, a 224 candidatos, e a eficiência disto produziu apenas 25.497 votos para os 46 eleitos. Destes, apenas um se elegeu como candidato de maior simpatia com a terra, representando quase metade deste escore e deixando outros três em compasso de espera para a lista de segunda chamada, na dependência, não mais do voto popular, mas do conchavo para quem vai para junto do gabinete. Estes resultados estão embutindo algumas repetições de velho noticiário. Primeiro: já está aberta a campanha eleitoral para a sucessão municipal. E nisto aí, pouco a lamentar, pelo fato de que no atual mandato quase nada aconteceu que justificasse, senão, uma interinidade. Até mesmo porque o ocupante pode ser declarado passageiro. Bem exposto, qual flagrante delito, a cena revela planos de poder, nada de governo, como se do povo não emanasse nada, a não ser o que de poder se pode cumprir em planos de governo para este mesmo povo. Segundo: o território foi amplamente loteado à revelia dos interesses do cidadão comum que assistiu perplexo a invasão declarada de pára-quedistas em assalto de campanha. Terceiro: o povo ensaiou um basta às falsas e perversas lideranças falastronas que não honraram o compromisso de fazer mais digno o ambiente em que vivem. Quarto: ideologicamente, não é possível vislumbrar nada porque ao analisar as coligações que receberam a votação não se percebe qualquer tendência inovadora, reflexiva, que motive um entendimento para onde estamos indo. A polarização não é para quem está à direita ou à esquerda, senão do desafeto que encerra a briguinha de questões partidárias mal resolvidas, como ainda agora a coisa se repetiu. Juazeiro do Norte está a caminho de uma maturidade que se impõe pelo centro importante que é. Isto não pode ficar ao desconforto de um faz de conta. Nós temos que aprender o real significado de nossas opções políticas para que não renunciemos a decisão de gerir nosso futuro. Recai sobre mim mesmo, nesta hora em que faço estas reflexões, o que eu deleguei para esta gente que nos desaponta, como se ao confirmar voto na urna eu estivesse também transferindo esta responsabilidade que só volto a cobrar esporadicamente, ou noutra data quando de novo vierem implorar o voto. É muito bom e adequado falar de um dia no exercício da cidadania para a escolha acertada de um futuro que lhe seja promissor. No duro, mesmo, a amostra é tão ruim que habitualmente escolhemos o menos ruim. Um certo prêmio de consolação diante do expurgo recente dos chamados fichas sujas que estão de quarentena para voltarem lépidos e fagueiros, como se nada lhes fosse imputado, senão atecnias de tribunal, porque contrataram, sem permissão, digamos, gente que precisava de emprego. Aí, é muita falta de caridade, direis. Esta última eleição, enfim, trouxe uma grande oportunidade para que todos estes pretendentes repensem sua vocação de homem público. Como tais, uma vez eleitos, pelo manifesto compromisso com o seu povo, serão bem recompensados pelo erário que os premiará com generosos salários. Nem vai mais precisar desviar dinheiro, nem para si, nem para os amigos. Pouparão a existência de comissões processantes e terão muito mais tempo para trabalhar pelo eleitorado, tão necessitado. 
(JUANORTE 10.10.2010)
ORÇAMENTO DE JUAZEIRO, 2011
Diz-se que orçamento, em gestão municipal, é peça de ficção. Isto soa como grande heresia. Entre novembro de 2009 e junho de 2010, como usuário – presidente da Fundação Memorial Padre Cícero, de um orçamento que havia sido remetido pelo prefeito anterior, procurei me ajustar a esta fantasia que agora se confirma, claramente, pois não devo pôr em dúvida as expressões do atual secretário de finanças, quando nos assegura “coerência com a realidade atual”. E que realidade tão especial é esta que não havia em 2009/2010? Justo em orçamento já fabricado pela gestão democrática? A mensagem prevê arrecadar R$315mi; R$94mi a menos do que em 2010 quando eu questionava um secretário municipal: - Me diga, quanto seria a frustração desta receita? 30%?. Resposta instantânea: “- Você está louco? Como podemos administrar com tal frustração?” Fiquei na minha, pois na época eu só conseguia ordenar contas de folha de pessoal, água, luz e telefone. E isto ficava entre 20 a 25% do orçamento do Memorial. Tudo mais era negado por falta de fundos. Até que um dia, na administração, com melhor fonte de informações, nos surpreendemos porque não era mais possível esconder a quebradeira que, a rigor, ainda está para ser explicada aos munícipes. Agora há a ansiedade para saber como se restabelece a normalidade de contas de uma municipalidade que tem tudo a fazer, pressupondo-se que suas estejam como aquelas que a boa “economia doméstica” recomenda. Quando ouço falar de orçamento participativo, então, eu me “arrepio” todo. Começa a me dar uma sensação de urticária, coisa para antihistamínicos. Isto quer dizer, mais ou menos o seguinte. A gente faz proselitismo com a militância, convocamos reuniões para ouvir as queixas, aproveitamos para renovar as promessas. Depois, alguém procura quantificar os recursos necessários – o que não temos. De duas uma: ou vai para a conta das transferências ou vamos fazer projetos para captar. Na frustração, como agora, já temos a desculpa pronta pois a responsabilidade é dos governos, estadual e federal, que não aprovarão ou repassarão os dinheiros. Na gerência, tudo fica no gabinete e os benefícios, a barganha, ou como me diria aquele secretário, para o expediente do “venha aqui todo dia para gritar do que precisa”. Este é o final melancólico de um orçamento participativo. O populismo nefasto de quem não se sustenta em governo com esta demagogia, ad libitum, na tentativa de referendar o compromisso que não é autoaplicável. Compromisso de governo é coisa de gente de pouca fé: sempre necessita recitar muita reza. À margem de sumária apresentação do orçamento, no que li pela imprensa estes dias, relevo outro fato que colhi da publicação do demonstrativo das despesas a serem realizadas em 2011. É que ficou, aparentemente, de fora uma menção destacada para a área de Turismo e Romaria, agora assumidas pela nova SEDETUR, que engloba o espólio de desenvolvimento econômico. Como a conta fecha com o valor apresentado, só imaginei duas coisas: ou “esqueceram de mim, 2” ou ele está camuflado em alguma das funções ali descritas, cujo valor seja compatível. Uma fonte da administração me esclareceu indicando que a SEDETUR está contemplada com R$14mi e destes, cerca de R$6mi deverão ser aplicados na celebração do Centenário. Menos mal. Mas ainda vemos com preocupação o fato de que para esta chamada festa do século, se muito está reservado, corre-se o risco de não tê-lo a tempo, por conta da burocracia da máquina. 
(JUANORTE 17.10.2010)
CASA DE MILAGRES
Com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de outros organismos de fomento à pesquisa, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) está desenvolvendo o projeto Ex-votos do Brasil, com as seguintes metas: documentar os Ex-votos das salas de milagres e de museus que possuem acervos com ex-votos pelo Brasil; criar o Museu Digital dos Ex-votos, e dar suporte ao Núcleo de Pesquisa dos Ex-votos. Isto mostra como a existência destas casas assume relevância e motiva a busca de metas tão arrojadas. Casa, ou sala de Milagres, ou de ex-votos, comuns aos grandes centros de peregrinação, como os de Bom Jesus da Lapa (BA), de Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas do Campo (MG), de Aparecida do Norte (SP), de Canindé e de Juazeiro do Norte (CE), são parte do roteiro dos romeiros que vêm pagar promessas por benefícios e graças alcançadas. No Brasil, a tradição vem ainda do século XVIII. Em Juazeiro do Norte ela só aparece a partir de 1936, quase dois anos depois do falecimento do Pe. Cícero. Ele mesmo procurou fazer o possível para não estimular esta prática porquanto era alvo freqüente do juízo severo da diocese com respeito ao estímulo que era visto nesta prática, como se fanatismo religioso fosse. A família Monteiro, em 1936, portanto, cria a Casa de Milagres, no conjunto da Capela do Socorro e a partir daí começou a receber grande número de ex-votos. Conheci dona Sebastiana Monteiro, nossa vizinha na Rua Santa Luzia, como uma mulher de grande dedicação a esta Casa. Com o apoio dos romeiros e de boa gente vontadosa, dona Sebastiana, enquanto viveu, tratou da casa com grande desvelo. Agora, os herdeiros estão propondo a venda deste imóvel por um valor estimado em cento e sessenta mil reais. Alertado por Fábio Souza Tavares que “considera a Casa um símbolo de resistência do catolicismo popular à romanização elitista que bem conhecemos” ele me fala da necessária mobilização para resolver o problema. Por suas palavras e à margem das notícias saídas na imprensa me ocorrem três questões fundamentais: Primeiro: reconheço como sensatas as ponderações de Fábio que vê “esse pequeno equipamento como elemento de nossa história e nossa cultura”. E nisso ele está coberto de razão. Deste modo, é inimaginável o desaparecimento desta Casa. Pode ser até que, ingenuamente, alguém pense que por existirem outros espaços no Museu e no Horto, isto possa ser assimilado mais facilmente. Segundo: reconheço como pertinentes suas palavras ao asseverar que “é necessário criar um movimento para que o mesmo seja tombado e, assim, não desapareça um marco da simbologia popular que não é só do Juazeiro, mas de todos os lugares do Brasil que enviam seus romeiros para agradecer "as graças alcançadas". Neste momento se enxerga como fundamental a transformação da Casa num museu ou algo parecido, de modo a continuar o trabalho que vem sendo realizado. A constituição de um museu de ex-votos seria muito bem-vindo neste momento em que a cidade procura marcar o seu centenário com o resgate de suas próprias tradições e cultura. Terceiro: reconheço como inalienável o direito da família negociar o imóvel, mesmo quando ainda não foi objeto de tombamento pela municipalidade, o que evitaria a descaracterização do bem quanto aos seus elementos mais intrínsecos como o significado histórico-cultural e a sua própria arquitetura. Para tanto, antes que se tome qualquer medida antipática é necessário sentar em torno de boa mesa reunindo gente de paz e bem, tanto do governo, como do comércio / indústria / serviços e da igreja. Afinal, são estes que, em nosso nome, podem compreender do que falamos, os que avalizam e os que pagam a conta. É assim que esperamos que aconteça. 
(JUANORTE 24.10.2010)
O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI
SESSÃO CURUMIM 1 (ORFANATO, JN)
A Sessão Curumim, do projeto Arte Retirante também ocorre no próximo dia 3, terça feira, às 14 horas, no Orfanato Jesus Maria José (Rua Cel. Antonio Pereira, 64, Santa Tereza, em Juazeiro do Norte, o filme PONYO – UMA AMIZADE QUE VEIO DO MAR (Gake no eu no Ponyo, Japão, 2010, 111min). Direção de Hayao Miyazaki. Sinópse: Sosuke é um garoto de cinco anos que mora em um penhasco, com vista para o Mar Interior. Um dia, ao brincar na praia, encontra Ponyo, uma peixinha dourada cuja cabeça está presa em um pote de geleia. Ele salva a peixinha e a coloca em um balde verde. Trata-se de amor à primeira vista, já que Sosuke promete que cuidará dela. Só que Fujimoto, que um dia foi humano e hoje é feiticeiro no fundo do mar, exige que Ponyo retorne às profundezas do oceano. Para ficar ao lado de Sosuke, Ponyo toma a decisão de tornar-se humana. 
SESSÃO CURUMIM 2 (ORFANATO, JN)
A Sessão Curumim, do projeto Arte Retirante também ocorre no próximo dia 5, quinta feira, às 14 horas, no Orfanato Jesus Maria José (Rua Cel. Antonio Pereira, 64, Santa Tereza, em Juazeiro do Norte, o filme LUCAS, UM INTRUSO NO FORMIGUEIRO (título estrang, EUA, 2006, 89 min). Direção de John A. Davis. Sinopse: Lucas Nickle é um garotinho de dez anos que acaba de se mudar para uma nova vizinhança. Sem amigos e com uma família ausente, ele é constantemente atacado por uma gangue local. Certo dia, ele joga toda sua raiva para fora e afoga um formigueiro com sua pistola d’água. O menino tem seu tamanho misteriosamente diminuído, até ficar da mesma altura que uma formiga. Ele é então obrigado a trabalhar como escravo na reconstrução do formigueiro que ele mesmo destruiu. 
CINE CAFÉ VOLANTE (CASA GRANDE, NOVA OLINDA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Nova Olinda (Fundação Casa Grande), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 6, sexta feira, às 19 horas, o filme PONTE PARA TERABÍTIA (Bridge to Terabithia, EUA, 2007, 94 min). Direção de Gabor Csupo. Sinopse: Jess Aarons (Josh Hutcherson) sente-se um estranho na escola e até mesmo em sua família. Durante todo o verão, ele treinou para ser o garoto mais rápido da escola, mas seus planos são ameaçados por Leslie Burke (Anna Sophia Robb), que vence uma corrida que deveria ser apenas para garotos. Logo Jess e Leslie tornam-se grandes amigos e, juntos, criam o reino secreto de Terabítia, um lugar mágico onde apenas é possível chegar se pendurando em uma velha corda, que fica sobre um riacho perto de suas casas. Lá, eles lutam contra Dark Master (Matt Gibbons) e suas criaturas, além de conspirar contra as brincadeiras de mau gosto que são feitas na escola. 
CINE CAFÉ (CCBNB, JUAZEIRO DO NORTE)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no dia 7, sábado, às 17:30 horas, o filme VIVENDO NO ABANDONO (Living in oblivion, EUA, 1995, 90 min). Direção de Tom Di Cillo. Sinopse: Diretor e seu amalucado grupo de atores e técnicos tentam a missão impossível de realizar filme independente com baixo orçamento. O set é um manicômio amaldiçoado por todo tipo de acasos, desde ataques de atores neuróticos, até explosões de equipamentos. 
CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, 158, Centro, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe na quintas feira, dia 5, às 19:30 horas, dentro da Sessão GRANDES MUSICAIS, o filme MARY POPPINS (Mary Poppins, EUA, 1964, 134 min). Direção de Robert Stevenson. Sinopse: Londres, 1910. Um banqueiro, George Banks (David Tomlinson), resolve redigir um anúncio pedindo uma babá, após Michael (Matthew Garber) e Jane (Karen Dotrice), seus filhos, mais uma vez sumirem e fazerem Katie Nanna (Elsa Lanchester), a babá, pedir demissão. Tentando controlar a situação Winifred (Glynis Johns), a mulher de George, faz tudo para acalmar o marido, mas sua cabeça está voltada para a defesa dos direitos da mulher. As crianças também escreveram um anúncio, que difere bastante da babá que George pensa em contratar, tanto que depois de lê-lo o rasga em oito pedaços e joga na lareira, por tê-lo achado fantasioso demais. Porém, os pedaços de papel milagrosamente voam juntos até uma nuvem próxima, onde está uma pessoa muito especial: Mary Poppins (Julie Andrews). No outro dia chegam muitas candidatas para o cargo de babá, mas um vento misterioso as carrega antes de serem entrevistadas. Chega então Mary Poppins, que desce das nuvens até a casa dos Banks, usando um guarda-chuva mágico como pára-quedas. Ela conhece Mr. Banks e concorda em ficar com o trabalho. Michael e Jane ficam fascinados com Mary Poppins, pois ela é exatamente a babá que sempre sonharam. 
CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, 158, Centro, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe na sexta feira, dia 6 às 19:30 horas, dentro da Sessão OSCAR DE MELHOR FILME (1991), o filme DANÇA COM LOBOS (Dances with wolves, EUA, 1991, 234 min). Direção de Kevin Costner. Sinopse: Durante a Guerra Civil, um jovem soldado (Kevin Costner) pratica uma ato ousado, é considerado herói e vai servir por sua escolha em um lugar com forte predominância do povo Sioux. Com o tempo, ele assimila os costumes dos nativos, acontecendo uma aculturação às avessas.
IMAGENS ESQUECIDAS (XLVIII)
Entre 1959 e 1961 Neir Sobreira de Melo foi eleita três vezes miss em Juazeiro do Norte. A primeira, como mostra esse flagrante, numa festa na Escola Técnica de Comércio, em 30.10.1959, ela foi consagrada Miss Comercial. A segunda vez, em 1960, ela foi eleita Miss Juazeiro do Norte, e participou do Concurso anual de Miss Ceará. E a terceira vez, em julho de 1961 foi escolhida merecidamente Miss Cinquentenário, por ocasião da celebração dos 50 anos do município. Há ainda uma menção que não foi devidamente apurada, mas por ocasião da inauguração da energia elétrica de Paulo Afonso, em 28.12.1961, Neir Sobreira teria sido igualmente consagrada a beleza da festa, com a citação de Miss Eletrificação. (Foto do Arquivo da Família de Valter Barbosa)
IMAGENS ESQUECIDAS (XLIX)
Desfile de alunos da Escola Técnica de Comércio num evento realizado em 04.10.1961, sem maior identificação. O pelotão mostrado é uma alegoria a personagens históricos de Juazeiro do Norte, destacando-se Dr. Floro Bartholomeu da Costa (à esquerda, o aluno de nome José Ivo), Padre Cícero (ao centro, o aluno de nome Rui), e José Joaquim Telles Marrocos (à direita, o aluno Luiz Marques, radialista). (Foto do Arquivo da Família de Valter Barbosa)

IMAGENS ESQUECIDAS (L)
Início das obras para a construção da sede própria da Sociedade Padre Cícero, na antiga Praça da Bandeira, entre as ruas Todos os Santos e São Domingos; São Luiz e Santo Agostinho, em 14.07.1955. O arruamento que se vê é, à esquerda, o da então Rua Santo Agostinho e da direita, o da Rua São Luiz, cruzamento com a Rua Todos os Santos. As demais fotografias mostram a evolução das obras, até quase a conclusão, em 02.07.1956. (Foto do Arquivo da Família de Valter Barbosa)

IMAGENS ESQUECIDAS (LI)
Início das obras para a construção da sede própria da Sociedade Padre Cícero, na antiga Praça da Bandeira, entre as ruas Todos os Santos e São Domingos; São Luiz e Santo Agostinho, em 14.07.1955, com a demarcação da terra e as primeiras providências para o canteiro de obras.
IMAGENS ESQUECIDAS (LII)
Andamento das obras para a construção da sede própria da Sociedade Padre Cícero, na antiga Praça da Bandeira, entre as ruas Todos os Santos e São Domingos; São Luiz e Santo Agostinho, em 07.02.1956, próximo da finalização. Dentre os figurantes da imagem está Valter Barbosa e encarregados das obras. (Foto do Arquivo da Família de Valter Barbosa)






IMAGENS ESQUECIDAS (LIII)
Andamento das obras para a construção da sede própria da Sociedade Padre Cícero, na antiga Praça da Bandeira, entre as ruas Todos os Santos e São Domingos; São Luiz e Santo Agostinho, em 02.07.1956, próximo da finalização. Dentre os figurantes da imagem, na esquina da São Domingos, está Valter Barbosa e encarregados das obras. (Foto do Arquivo da Família de Valter Barbosa)

IMAGENS ESQUECIDAS (LIV)
Pe. Gino Moratelli, diretor do Ginásio Salesiano, fazendo a homilia durante a celebração da páscoa dos contabilistas, da União dos Contabilistas de Juazeiro do Norte, em 1959, na Escola Técnica de Comércio. (Foto do Arquivo da Família de Valter Barbosa)






A SEMANA NA HISTÓRIA DE JUAZEIRO (IV)
Estamos continuando a publicação de efemérides da história de Juazeiro do Norte, agora em sua segunda edição, referente aos dias 01 a 07 de julho.
01 de Julho de 1945: Instalação do Instituto das Missionárias de Jesus Crucificado em Juazeiro do Norte. Presidiu a cerimônia o Bispo Diocesano, D. Francisco de Assis Pires. Estiveram presentes: Mons. Manoel Correia de Macedo, assistente eclesiástico da Congregação; Madre Maria do Calvário, fundadora da Ordem e Madre-Geral, em Campinas, SP. Ficou como superiora da casa Madre Clotilde Maria do Bom Pastor. A sede da Comunidade ficou estabelecida na antiga casa do Capitão Domingos Martis, situada à Rua Pe. Cícero, doação feita pela sua filha, herdeira, Maria Martins Correia, vulgo Mariinha do Capitão Domingos.
02 de Julho de 1941: O Lavrador, jornal da Escola Normal Rural, na sua edição 54, Ano VIII, publica um artigo do Prof. Elias Rodrigues Sobral, noticiando a criação de “Uma Hora Ruralista”, pelo Centro Regional de Publicidade (CRP). O objetivo desta hora Rural era difundir conhecimentos agrícolas, úteis e necessários aos trabalhadores rurais e será semanal. 
03 de Julho de 1893: Chega a Juazeiro, vindo de Roma, o Pe. Francisco Ferreira Antero que, sem o consentimento de D. Joaquim, fôra a Roma, levando, entre outros documentos, a cópia do 1º Inquérito que ele tirara do Arquivo do Bispado, às ocultas. Para festejar o seu regresso, mais de mil pessoas, foram ao seu encontro, na saída do povoado, entre os quais estavam os Padres Cícero e Monteiro. As ruas foram decoradas com 200 arcos de folhas de palmeiras e iluminadas com velas que eram levadas pelos admiradores. Mocinhas, vestidas de branco, deram-lhes as boas vindas, fazendo discursos. Às 8 horas da noite, houve fogos de artifícios e efeitos pirotécnicos. Faixas proclamavam: “Viva o Padre Antero, viva o Padre Cícero”. No dia seguinte, 04 de julho foi celebrada a missa com assistência de 8 padres numa impressionante exibição. O Pe. Antero encerrou sua recepção com um eloquente discurso sobre os “Milagres do Juazeiro”. Um certo “Jornal do Norte” publicou o fato em 26 de setembro de 1893. No dia após a grande recepção, o Pe. Alexandrino, então vigário do Crato, comunicou a D. Joaquim o ocorrido.
04 de Julho de 1898: Pe. Cícero Romão Baptista escreve, ainda em Roma, ao seu amigo, Dr. M. Lima Borges, em Recife-PE, nos seguintes termos: “Quando eu pensava embarcar para aí no próximo vapor, um dos empregados do Santo Ofício, disse-me que eu ainda não podia ser despachado com tanta brevidade. E assim era obrigado a ficar mais tempo. Foi para mim uma dificuldade tão grande que dou graças a Deus me sair bem dela, pois já me faltam os recursos para eu continuar aqui a minha estada. Vejo-me na precisão de lançar mão de um empréstimo que me fez o meu amigo e compadre Sebastião Sampaio. Faça aí mesmo minhas vezes de modo que esta quantia me venha às mãos com o menor tempo possível. Muito espero na amizade sincera do meu bom amigo e nos sentimentos santos e generosos de D. Engracinha, que os tenho como pessoas minhas muito caras. A Santíssima Virgem os abençoe como aos seus meninos. Faça-me muito recomendado à senhora sua sogra e aos seus bons cunhados e disponha sempre. Do seu amigo sincero. Ass. Pe. Cícero Romão Batista.
05 de Julho de 1898: O Pe. Cícero graças à influência do Padre Vicenzo Bucceri, passou a residir no Palácio da Arcádia, quarto nº 437. (Observo que Pe. Murilo de Sá Barreto, eu e uma meia centena de juazeirenses visitamos esse endereço em 08.10.1898, quando celebramos os cem anos da estada do Pe. Cícero em Roma). É uma hospedaria vizinha a Igreja de São Carlos Al Corso, ainda hoje existente. Pe. Cícero havia chegado a Roma em 25 de fevereiro, e tinha se hospedado temporariamente, até 4 de julho no Albergo dell´Orso, na Via Monte Brizeno, 94. 
06 de Julho de 1894: Portaria do Bispo D. Joaquim, ordenando ao Revdmo. Pe. Vicente Sóter de Alencar, Vigário da Paróquia de Jardim, entregar dentro do prazo de 3 dias, ao Vigário, Pe. Antonio Alexandrino de Alencar, a cópia fiel do documento que o mesmo Pe. Sóter, forneceu ao Pe. Cícero Romão Batista ou a José Joaquim Teles Marrocos sobre o fato ocorrido em Barbalha com Maria da Solidade, conforme a seguinte transcrição: “D. Joaquim José Vieira, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica; Bispo desta Diocese de Fortaleza: Pela presente portaria ordenamos ao Pe. Vicente Sóter de Alencar, pároco da Freguesia de Jardim, entregue ao Revdo. pároco do Crato, Pe. Antonio Alexandrino de Alencar, a cópia do documento que o mesmo Pe. Sóter forneceu ao Revdmo. Pe. Cícero Romão Batista ou José Joaquim Teles Marrocos sobre o fato ocorrido em Barbalha, com Maria de Solidade, no tocante às partículas ensanguentadas, jurando no fim da cópia do dito documento, ser fiel à mencionada cópia. No caso de desobediência a esta nossa ordem, ficará o Revdmo. Vicente Sóter de Alencar incurso ipso facto na pena de suspensão do exercício de suas ordens, inclusive de celebrar o Santo Sacrifício da Missa. Cidade de Fortaleza, Comarca Episcopal, 6 de julho de 1894. Ass. + Joaquim, Bispo Diocesano.
07 de Julho de 1889: Primeira Romaria realizada a Juazeiro, organizada por Mons. Francisco Rodrigues Monteiro, a partir de Crato. O bispo de Fortaleza classificou o ato como manifestação de “entusiasmo imprudente”, “nova imprudência” do mesmo Mons. Monteiro, que na Capela de Juazeiro fez a “apresentação das toalhas manchadas de sangue, afirmando ser aquele o sangue de Jesus Cristo”. Por tal motivo, o bispo continuaria a impor sanções ao Pe. Cícero, por ele estar sendo conivente ou mesmo prestando culto público aos paninhos ensanguentados. 
ESTUDOS ACADÊMICOS (IV)

Estamos continuando a publicação de informações sobre a produção acadêmica enfocando problemas educacionais, culturais, religiosos e econômicos da cidade de Juazeiro do Norte. Desejamos dar um pouco mais divulgação sobre essas relevantes contribuições para nosso desenvolvimento.
Título: Entre Peças, Cantos, Danças e Memórias: O Reisado enquanto patrimônio cultural de Juazeiro do Norte; Autora: Vitória Gomes Almeida; Monografia apresentada ao Curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Aplicadas da Universidade Federal do Cariri, como requisito parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Biblioteconomia, 2016; Instituição: Universidade Federal do Cariri; Resumo: Aborda o Reisado como patrimônio cultural de Juazeiro do Norte e traça essa discussão a partir da Ciência da Informação. Esta pesquisa tem por objetivos: investigar, a partir da Ciência da Informação, as perspectivas de construção e preservação da memória no âmbito das peças de Reisado do Mestre Aldenir, considerando-as como um suporte para reconstrução/recuperação de experiências sociais e trajetórias de vida no contexto da Cidade de Juazeiro do Norte; realizar o registro de peças criadas pelo Mestre Aldenir, que se referem ou tem como tema a cidade de Juazeiro do Norte; identificar as políticas públicas existentes na região, relativas ao Reisado enquanto patrimônio cultural da cidade de Juazeiro do Norte. Para isso, trouxemos as origens do patrimônio cultural e suas diferentes concepções ao longo da história, fazendo o recorte para o contexto brasileiro. No âmbito da Ciência da Informação, abordamos o patrimônio enquanto documento, adotando a perspectiva defendida por Otlet (1934), Buckland (1991), Crippa (2010) e demais autores que colocam a capacidade informativa como a premissa básica para a definição do que seja um documento. Nesse sentido consideramos o patrimônio cultural como um documento de memória. Por último, reconhecemos o Reisado como patrimônio cultural de Juazeiro do Norte, devido sua expressiva presença na história e contexto da cidade, uma vez que a manifestação é uma referência em outros bens (cordel, xilogravura, pintura, músicas, entre outros) bem como para sua população. Constatamos a importância de se fazer o estudo e registro das peças de Reisado, pois delas é possível recuperar, tanto nas letras quanto nas memórias dos Mestres, parte da memória coletiva da cidade de Juazeiro do Norte. 
Título: A dinâmica do espaço devocional sertanejo – A devoção a Padre Cícero e sua contribuição na constituição da identidade do sertanejo; Autor: Wagner Lima Amaral; Tese de Doutorado, 2014; Instituição: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Resumo: A dinâmica do espaço devocional – A devoção a Padre Cícero e sua contribuição na constituição da identidade sertaneja tem como objeto de estudo a devoção sertaneja a Padre Cícero, sendo realizada através de ampla análise bibliográfica por meio de trabalhos historiográficos, analíticos e políticos. Parte da análise do lugar do sertanejo – o sertão, entendendo ser a difícil vivência em seu lugar a motivação para a invenção de um espaço particular, por meio de sua devoção, estabelecendo esperança de vida. Neste espaço cria uma dinâmica de transcendência x imanência em que ele transcende ao seu lugar, através de sua ligação com a referência de sua devoção – Padre Cícero, somando-se à sua ligação de convívio com os seus iguais – os devotos romeiros; e, desta forma, percebe a imanência do divino em seu lugar pela prática de sua fé, através de suas dimensões: coletiva, pela oralidade; performática, pelas romarias; e literária, pelos cordéis. A preservação desse espaço por meio de devoção, não somente estabelece novas dinâmicas para o sofrido sertanejo como influencia determinantemente em sua própria identidade, acrescentando ou acentuando características como uma visão poética da realidade, uma apropriação dos símbolos, uma resistência à desesperança, uma compreensão mística da vida. Tais características influenciam na formação de sua identidade, tornando-o autor e ator de sua própria realidade, inventor de uma dinâmica bela e esperança para a vida; na qual ressignifica antigos conhecimentos, tornando-os aplicáveis em seu novo contexto, criando uma resistente esperança na qual toda a realidade é entendida, interpretada e vivida em forte tonalidade mística cristã, trazendo significado para esta vida e a por vir, numa perspectiva escatológica triunfal. Assim, é o devoto que determina a preservação da vida ao sertanejo por meio de seu espaço. 
Título: Religião e Mercado em Juazeiro do Norte: Expressão do Sagrado e do Consumo Religioso na terra do meu “Padim”; Autor: Paulo César de Lima Andrelino; Dissertação de Mestrado, 2013; Instituição: Universidade Católica de Pernambuco; Resumo: O trabalho se propôs a fazer uma análise crítica acerca do envolvimento direto da pessoa do romeiro com uma realidade de comércio na cidade de Juazeiro do Norte, onde o visitante torna-se significativa moeda de valor. Acima de tudo, é buscado o lucro, o que se permite fazer uma leitura do romeiro não como uma criatura, mas como um referencial de valor monetário, enredado no mercado consumista que se entrelaça entre mercadorias e pessoas que visam apenas as vantagens financeiras. As lojas, hospedarias e todos os demais estabelecimentos comerciais almejam os tão esperados períodos de romaria, na certeza de garantir uma estabilidade econômica até o próximo evento que marca o calendário das idas à terra do Padre Cícero. Embora a fé e o mercado se misturem, o romeiro, devoto de fato, busca o sagrado utilizando-se de variados percursos e ritos para agradecer alguma graça alcançada em tempos precedentes. As igrejas da cidade favorecem os romeiros com celebrações ininterruptas, embora também elas abram seus cofres para que neles se materializem os sentimentos dos romeiros agradecidos. A pompa, muitas vezes presenciada nas missas celebradas com os romeiros, permite que eles percebam ser o templo-igreja o lugar onde de forma mais fácil Deus ouve suas preces e rogos. Por isso, a pesquisa se pautou por refletir tal realidade, analisando com prudência e lógica criteriosa, as posturas dos romeiros, do mercado e da Igreja Católica frente à relação entre o sagrado – manifesto na prática das romarias – e o profano – personificado no consumo dos objetos, sacros ou não, expostos no mercado da “cidade santa”.
Título: A cidade do Padre Cícero: trabalho e fé; Autora: Maria de Lourdes Araújo; Tese de Doutorado, 2005; Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro; Resumo: O Padre Cícero contribuiu para a formação e expansão da cidade do Juazeiro a partir de uma concepção de desenvolvimento pautada no trabalho e fé, modelando os espaços sagrados e econômicos de maneira articulada e indissociável. Das múltiplas vinculações entre o sagrado e o econômico emerge um conjunto de riquezas, contribuindo para transformar uma vila-santuário em uma cidade emergente, consolidando uma nova geografia na Região do Cariri e uma pulsante economia urbana.
A consolidação da economia de Juazeiro a partir da produção cultural de bens simbólicos é decorrente de três aspectos conjuntamente: a) concepção de desenvolvimento do Padre Cícero, a qual permite vinculações entre a imaterialidade e a materialidade; b) a construção de um espaço social de resistência: os devotos do Padre Cícero lutaram pelo direito de orar; e c) a emergência do indivíduo na cena cultural e na (re) valorização da fé, projetando os espaços sagrados em novos patamares de significado. Juazeiro, ‘Cidade Celeste’, ‘Cidade do Padre Cícero’, espaço sagrado, consolida a sua economia e assegura uma importante ocupação espacial, imaginando e (re) imaginando formas de apropriação do nome e da ‘imagem’ do ‘santo da casa’. De vila-santuário à cidade-oficina e às tentativas de reinvenção da cidade encontram-se presentes os aconselhamentos do Padre Cícero, pautados no trabalho e na fé.
Título: Formação do Professor de Arte do Ensino Público em Juazeiro do Norte: Reflexos no Ensino de Música; Autora: Isaura Rute Gino de Azevedo; Dissertação de Mestrado, 2013; Instituição: Universidade Federal do Ceará; Resumo: A presente pesquisa teve como propósito compreender como a formação do professor de Arte interfere no ensino de Música das escolas de Nível Médio público em Juazeiro do Norte-CE. A importância dessa pesquisa justificou-se frente à emergência da obrigatoriedade do ensino do conteúdo de Música nas aulas de Arte, no âmbito da Educação Básica, em decorrência da Lei n. 11.769/08. Pretendeu-se realizar uma pesquisa com abordagem qualitativa na modalidade de estudo de caso com aportes etnográficos e autobiográficos, baseada em obras de autores renomados no assunto, tais como: André (2008), Viégas (2007), Bogdan e Biklen (1994), dentre outros. As observações, os questionários semiestruturados e os relatos ampliados serviram como instrumentos para a coleta de dados. As reflexões sobre os relatos dos professores tiveram aporte em Tardif (2008), que trata do saber docente e a formação profissional, e Rodrigues (2010) e Bueno (2006), por abordarem a narrativa de si como estratégia de formação. Para análise das práticas musicais do professor em sala de aula foram levados em consideração os pressupostos estabelecidos por Swanwick (2003a e 2003b) para a Educação Musical. Os resultados da pesquisa apontaram que, para professores sem habilitação superior em Música, a formação continuada através de cursos livres e estudos autodidatas, configuram-se como possibilidades de efetivar a presença da Música na Escola Básica.
CIDADANIA JUAZEIRENSE
Quatro personalidades foram agraciadas com o título de Cidadão Juazeirense, em recentes atos do nosso Legislativo. Vejamos seus termos: Resolução N.º 907, de 07.06.2018: Art. 1.º - Fica concedido Título Honorífico de Cidadão Juazeirense ao Senhor FRANCISCO SANDOVAL BARRETO DE ALENCAR, pelos relevantes serviços prestados à nossa comunidade. Autoria: José Adauto Araújo Ramos; Coautoria: Paulo José de Macêdo; Subscrição: Rubens Darlan de Morais Lobo, José Barreto Couto Filho, José Tarso Magno Teixeira da Silva, Francisco Demontier Araújo Granjeiro, Antônio Vieira Neto, José David Araújo da Silva, Glêdson Lima Bezerra, José Nivaldo Cabral de Moura, Márcio André Lima de Menezes, Cícero Claudionor Lima Mota, Cícero José da Silva, Luciene Teles de Almeida, Jacqueline Ferreira Gouveia, Auricélia Bezerra, Rita de Cássia Monteiro Gomes.

Obs.: Francisco Sandoval Barreto de Alencar é nascido em Barbalha, em 11.01.1970. É técnico em Enfermagem. Recentemente, pela Portaria Nº 0 3 1 0 / 2 0 1 8, foi designado para o cargo de provimento em comissão de Secretário Interino da Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho – SEDEST, para exercer a função de ordenador de despesa do Fundo Municipal de Ações para a Infância e Adolescência, atribuindo-lhe as funções de superintender a arrecadação de tributos, guarda e aplicação da receita; observar e acompanhar a regularidade da execução orçamentária e extra orçamentária da receita; autorizar o pagamento de liquidação de Notas de Empenho; emitir portarias de concessão de suprimentos de fundos, ajuda de custos e diárias; reconhecer dívidas; autorizar, adjudicar e homologar demais atos pertinentes aos processos licitatórios; firmar contratos, acordos, ajustes, ordens de compras e serviços; observar a regularidade da execução orçamentária e extra orçamentária das despesas, acompanhando os repasses a quem de direito e os valores pertinentes às receitas de consignações

Resolução N.º 908, de 07.06.2018: Art. 1.º - Fica concedido o Título Honorífico de Cidadão Juazeirense ao Senhor JOÃO CORREIA SARAIVA, pelos relevantes serviços prestados à nossa comunidade. Autoria: José Nivaldo Cabral de Moura; Coautoria: Paulo José de Macêdo e José Tarso Magno Teixeira da Silva; Subscrição: Rubens Darlan de Morais Lobo, José Barreto Couto Filho, Francisco Demontier Araújo Granjeiro, Antônio Vieira Neto, José David Araújo da Silva, Glêdson Lima Bezerra, Márcio André Lima de Menezes, Cícero Claudionor Lima Mota, José Adauto Araújo Ramos, Rubens Darlan de Morais Lobo, Jacqueline Ferreira Gouveia, Auricélia Bezerra, Rita de Cássia Monteiro Gomes, Luciene Teles de Almeida.

Obs.: Dr. João Correia Saraiva nasceu em Barbalha, no dia 19 de novembro. Filho de Vicente Batista Saraiva e Otília Furtado Correia Saraiva. Casou-se em 3 de julho de 1979 com a Dra. Ártemis Helena Luna Saraiva, ambos médicos oftalmologistas e proprietários de moderna Clínica de Olhos em Crato. O casal tem três filhos: Isabel Cristina, Ana Cláudia e João Filho (também são médicos). 

Resolução N.º 909, de 21.06.2018: Art. 1.º - Fica concedido o Título Honorífico de Cidadão Juazeirense ao Ilustríssimo Senhor ARESKI DAMARA DE OMENA FREITAS JÚNIOR, pelos inestimáveis serviços prestados à comunidade juazeirense. Autoria: Damian Lima Calú; Coautoria: Francisco Demontier Araújo Granjeiro e Glêdson Lima Bezerra; Subscrição: Rubens Darlan de Morais Lobo, Márcio André Lima de Menezes, José Barreto Couto Filho, Paulo José de Macêdo, José Adauto Araújo Ramos, José Tarso Magno Teixeira da Silva, José Nivaldo Cabral de Moura, Cícero Claudionor Lima Mota, José David Araújo da Silva, Cícero José da Silva, Rosane Matos Macêdo, Rita de Cássia Monteiro Gomes, Jacqueline Ferreira Gouveia e Luciene Teles de Almeida. 

Obs.: Areski Damara de Omena Freitas Júnior é alagoano, nascido em Maceió, em 09.03.1965, advogado, e prefeito da cidade de União dos Palmares, Alagoas.

Resolução N.º 910, de 21.06.2018: Art. 1.º - Fica concedido o Título Honorífico de Cidadão Juazeirense ao Ilustre Senhor RONILDO ALVES DE OLIVEIRA, pelos inestimáveis serviços prestados à nossa comunidade. Autoria: José Nivaldo Cabral de Moura; Coautoria: Francisco Demontier Araújo Granjeiro e Damian Lima Calú; Subscrição: Glêdson Lima Bezerra, Antônio Vieira Neto, Rubens Darlan de Morais Lobo, José Barreto Couto Filho, José Adauto Araújo Ramos, José Tarso Magno Teixeira da Silva, Paulo José de Macêdo, Domingos Sávio Morais Borges, Herbert de Morais Bezerra, Cícero Claudionor Lima Mota, Cícero José da Silva, Auricélia Bezerra, Rita de Cássia Monteiro Gomes, Jacqueline Ferreira Gouveia e Luciene Teles de Almeida.

sábado, 23 de junho de 2018



JUANORTE: TRISTE FIM DE UMA TRINCHEIRA (VII)
Como a perda de qualquer registro que se torna histórico, um recorte de uma época de uma comunidade como a nossa representa, efetivamente uma grande perda. Assim encaro a destruição desses documentos de época, no relato da vida provinciana. Isso aconteceu com o JUANORTE que mereceu a colaboração de vários de nós, relatando sentimentos, fatos e circunstâncias aí pelo primeiro decênio desse novo século. Por isso mesmo, resolvi reapresentar as minhas colaborações naquele jornal que relevantes serviços prestou a Juazeiro do Norte. 

FELIZ AMBIENTE NOVO
Procurei durante toda esta semana um motivo a mais para exercitar o meu indisfarçável otimismo. Não que ele seja contagiante, senão comedido ao extremo para não me tornar, como até alguns podem pensar, no indesejável pessimista de plantão – um Assis Ferreira a mais na vida. Difícil tarefa. Parece que ao título permissivo de balanço de fim de ano, desfilam pelas páginas dos jornais, pelas ondas da radiofonia, nas imagens da tv e por esta web, os presságios menos oportunos para o nosso novo ano. Para fugir disto, talvez seja melhor dizer que o novo ano nos deve ensejar um necessário recolhimento para o nosso juízo implacável sobre o que nada presta, o que não convém, as pessoas que atrapalham, e tudo mais que vem na contra mão. Elegi a questão ambiental como alguma coisa que nos demanda maiores atenções, bem acima de certas circunstâncias, como esta que o ano terá copa do mundo, muita política, e todas as desavenças possíveis. Tudo isto irá acontecer, entre nós, num ambiente que não preparamos por todos estes anos. Enxergo, qual visionário, que não é possível esperar por mais nada, senão por nós mesmo. Antes que nos afoguemos no mar de lama dos esgotos da cidade e sejamos sufocados pelo lixo urbano que se avoluma pelas ruas, temos que reagir positivamente, fazendo cada um à maneira do que o bom senso recomenda, práticas indispensáveis para uma convivência saudável com o ambiente. Algumas constatações como estas já mencionadas saltam aos olhos. Talvez seja importante lhes falar da nossa imensa tolerância ao calor insuportável deste ambiente tão agredido. Antigamente nos preparávamos para resumir a vida em uma árvore, um filho e um livro. Como se vê, nesta ordem, ainda nem ultrapassamos a primeira meta. Cada um de nós é o agente deste horizonte. Não se pode transferir isto para o poder público. Inescrupuloso, freqüentemente, ele vai fazer proselitismo político em tarefa não simples a que cada cidadão deve se envolver, suficientemente. A prática é consagrada e eficiente. Isto reconstitui um microclima que permite a sensação confortável decorrente de uns poucos graus abaixo, com uma umidade equilibrada e menos secativa. Um segundo aspecto que necessita a nossa compreensão e esclarecimento diz respeito à geração de lixo que, neste instante, assume proporções assustadoras. Não é por acaso que é dos problemas mais sérios que enfrentamos atualmente. A questão administrativa é apenas uma ponta do embrulho. Por isto nossa postura deve ser o de esclarecimento, sobre tudo isto, especialmente com atitudes concretas na direção de uma coleta seletiva que minimizaria o impacto, até gerando resultados mais satisfatórios quanto a reciclagem, emprego e renda. Segmentos da sociedade, fora do Governo, são chamados a uma mediação, a começar com as crianças e jovens que tem um poder elevadíssimo de convencimento. Se em 2010 ainda não tivermos conseguido sensibilizar o prestador de serviço para a questão do saneamento básico da cidade, que precisa ser refeito, paciência – o sonho é tão grande, a vida é tão curta... Depois disto, e numa expectativa de que muitas coisas em contrário ainda possam ocorrer para nos impedir que tais gestos cidadãos vinguem, aí nos caberá, relembrando um colega de Seminário do Padre Cícero, o grande historiador Capistrano de Abreu: Restaure-se a moralidade e revoguem-se as disposições em contrário. A todos, em 2010, um feliz ambiente novo. 
(JUANORTE, 03.01.2010)
PRÁ LÁ DE BAGDÁ
A expressão veio para significar que só a distância importava: era muito longe. E ficou. Esta semana, a imprensa relevou a citação para dar uma nova conotação. Tratava-se de mencionar a eleição, sob diversos critérios, onde seria melhor viver, onde está uma real e ótima qualidade de vida. Na lista aparecem 221 cidades pelo mundo. Só das grandes cidades, Bagdá é a 221ª. Portanto, uma pior situação está para lá de Bagdá. E não há dúvida alguma que Juazeiro do Norte, tão miúda, tão frágil, tão indefesa, está para lá de Bagdá. Como justificativa, nem vale a pena dizer que São Paulo está na 117ª posição, depois de Rio de Janeiro, na 116ª; e Brasília, na 104ª. Os critérios para esta seleção foram a estabilidade política, a taxa de criminalidade, os serviços bancários, as liberdades individuais, os serviços de saúde, de educação, entretenimento, moradia e meio ambiente. Na semana em que isto é divulgado, só a título de referência, Juazeiro do Norte exibia um painel relevantemente eclético dos conflitos em cada um dos critérios mencionados. Eu ainda não tinha ouvido rádio e lido jornais, tanto como ultimamente. Até me habituei a sair pelas ruas, jornais debaixo do braço, e com os fones aos ouvidos, para não perder este ou aquele noticiário. Especialmente pela ordem social que está em cheque e nos causa mais temor. A instabilidade política da província leva a uma grande aglomeração na porta da antiga intendência. O que se faz ali? Alimenta-se o ódio, o rancor, a intolerância? A criminalidade assumiu posição tal que proliferaram programas de rádio e tv, e as páginas dos jornais se multiplicam. Não existe mais a página policial, restrita aos ladrões de galinha. Os bancos, praticando agiotagem oficial impõem juros escorchantes que beiram o surrealismo. As liberdades individuais são atentadas no dia-a-dia como coisa de animal que defende o território. O povo reclama dos péssimos atendimentos pelos serviços de saúde e os garotos que não vão para as escolas estão pelas ruas, multiplicando as crackolândias. Por isso, a banalização do entretenimento com a violência que invade as praças públicas, os estádios, os bares e espaços de convivência. Mas, se já é difícil viver, imagine-se não ter onde morar dignamente. Produzimos lixo e resíduos como se isto em nada afetasse nossa ambiente, jogamos na via pública os excrementos de nossa própria sobrevivência. Enfim, viver se tornou a coisa mais perigosa destes primeiros tempos, do que parecia um novo século. Construir a cidade que nos abrigue como povo civilizado é tarefa para mais que um mandato. O povo é o cliente, mas detesta o clientelismo. Não obstante este sentimento comum, insiste-se em manter velhas e perniciosas práticas de gestão pública. Uma ótima arma seria a transparência, real, das contas. O poder público está nos convocando para um orçamento participativo. Não é a primeira vez. Duas questões são fundamentais. Saibam todos que, aos que se dispuserem, a sociedade os louvará pela coragem de tentar produzir algo que ultrapasse os limites da ficção – um papel cheio de intenções e números pouco prováveis, pois para esta tarefa faltará, invariavelmente, a parte da vontade política centrada no governo central que, por vezes, na base aliada, se torna muito perverso, sem aviso. Como alguém que só tem quatro anos para resolver as misérias do mundo. 
(JUANORTE, 30.05.2010)
ROMEIROS SOLIDÁRIOS
A tragédia que está ocorrendo com muitos municípios de Alagoas e Pernambuco ensejou uma pronta resposta de toda a nação romeira, solidária aos seus irmãos. Em poucas oportunidades, na história sofrida deste Nordeste, vimos imagens tão chocantes. Emblematicamente, não podia deixar de acontecer uma reação tão pronta da comunidade, como a nossa. Juazeiro do Norte, nasceu e cresceu, e hoje é o que é graças ao devotamento e trabalho de todos estes nordestinos, especialmente destes dois estados que ainda hoje dão significado e a força maior de seu povo na relação com a terra do patriarca dos sertões. Felizmente, o nosso povo é generoso e tem sabido tomar uma postura de grande sensibilidade, ao socorro destes irmãos angustiados pela impiedosa reação da natureza. Logo, pelos caminhos dos velhos caminhões de romeiros, em demanda das zonas da mata de AL e PE, serão muitas toneladas de alimentos, roupas e medicamentos – imagens concretas de corações que nos recomendam com profunda identidade. Em ocasiões como esta, a tentação é muito grande para se saber o que poderia ter sido feito para mitigar os efeitos de uma tragédia como esta. É voz corrente de que não se pode minimizar a responsabilidade que cabe a cada um de nós e aos governos, especialmente, sobre os caminhos e descaminhos do uso e ocupação do solo. Nas situações mais diversas, mas prioritariamente, com a ocorrência de chuvas, as populações estabelecidas às margens dos rios são surpreendidas com grandes elevações de seus níveis – daí tanta angústia e sofrimento. A questão fundamental é a permissão que se dá para que esta ocupação ocorra, à margem dos códigos, contra estes códigos e aos aparatos da segurança que preconiza a defesa civil. No pós-tragédia, virão as providências, tantos anos adiadas, com o zoneamento da segurança, as proibições necessárias e tudo mais que parecem prevenir novas ocorrências. Na verdade, desta ilusão, nós e governos, continuaremos a alterar o curso das coisas, ao interesse menor da causa de cada um, preparando novo vexame diante de novas e traiçoeiras águas futuras. Recentemente, as recomendações do Pe. Cícero sobre a conservação da natureza voltaram a ser referidas, a ponto deste ter sido lembrado como um dos patronos do ambiente. Na essência, a tradição oral que recolheu tais recomendações, qual decálogo de boa convivência com a natureza, não teve uma preocupação restrita de sua aplicação ao campo e às matas. Como bem observa o prof. Daniel Walker, “...o homem urbano, mesmo aquele dotado de escolaridade apreciável e possuidor de sólida cultura, tem se mostrado indiferente à conscientização ecológica, comportando-se como um cruel depredador do seu ambiente, e personificando um péssimo exemplo de gerente e usuário da Natureza. Na verdade, ele fez tudo o que não devia: contaminou o ar, poluiu as águas, extinguiu espécies de seres vivos e empobreceu o solo, provocando, desta maneira, o surgimento de catástrofes que não pode evitar, de doenças que não pode curar, de alterações climáticas que não pode controlar, e, finalmente, pôs em risco sua própria sobrevivência. O homem urbano tornou seu planeta insuportável para se viver.” Na dura realidade destes momentos trágicos, gostaríamos de dizer a cada um dos que sofrem por este drama o quanto nós, romeiros de cá – somos solidários na sua dor, no seu infortúnio. E que meu padrinho nos proteja e guarde, nestas horas tão necessitadas. 
(JUANORTE, 27.06.2010)
A NACIONALIDADE DA COPA 2010
Quando, em raras vezes, tento escrever sobre futebol logo me ocorre a sensação de que trato de algo que não conheço. Que propriedade há, reconhecidamente, em alguém que não conseguiu, senão, chegar à condição de torcedor discreto, depois de medíocre passagem pelos campeonatos de futebol no campo dos Salesianos, nos anos 60 ? Sobre Copa do Mundo, então, o que dizer? Lembro que foi exatamente na de 58 que nasceu esta vibração de um menino que não chegara aos 9 anos de idade. Mas, pela Rua São José, a transmissão de rádio em velhos aparelhos a bateria de automóvel ou a audiência nos alto-falantes do velho CRP, retransmitindo, já inflamava esses nossos brios de nacionalidade pós 1950, na grande tragédia do Maracanã. Muito tempo depois eu pude compreender Nelson Rodrigues, ao cunhar a expressão “a pátria de chuteiras”. Foram muitas copas, para alegrias e tristezas, pois – afinal, nem sempre ganhamos. Mesmo assim, já chegamos ao penta. Nesta sul-africana de 2010, estou intrigado com a menção freqüente de que atletas que defendem a sua nacionalidade, em verdade, não estão no futebol do pais. Dirão, que bobagem, essa. Vivemos a globalização, e no esporte, especialmente, também não há mais fronteira e domínios. Só muito dinheiro. Pouco convencido, vou me lembrando que naquele 1958, o selecionado brasileiro, dirigido por Vicente Ítalo Feola (nascido em São Paulo), era composto pelos titulares: Gilmar, Djalma Santos e Bellini, Nilton Santos, Orlando, e Zito, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo. A garotada não se cansava de repetir, decorado, esta formação que se consagrou, segundo penso, na mais famosa da série Jules Rimet. E, freqüentemente, sabíamos quem era do Vasco, do Flamengo, e de outros times dos campeonatos regionais. Hoje é uma dificuldade. Só mesmo sendo do ramo. Vejam só alguns dados que recolho da página oficial da Fifa. O nosso Brasil, dos seus 23 inscritos, só tem mesmo 3 (Robinho- do Santos, Gilberto Melo – do Cruzeiro e Kleberson, do Flamengo). Quando a Copa se iniciou, dos seus 736 jogadores inscritos, apenas 296 (40,2%) vinham jogando em clubes dos seus paises, cerca de 533 (72,4%) estavam na Europa, e o Brasil só tinha o privilégio sobre 3 (0,4%). Observo que apenas Itália, Inglaterra e Alemanha levaram exclusivamente jogadores dos clubes nacionais. Não é difícil, pois, assegurar com muitos outros dados que estão se confirmando, como a evolução destes números, com a formação do grupo ainda mais restrito - das quartas, que a Copa do Mundo deixou de ter aquele charme especial da seleção dos seus melhores quadros, nos clubes de futebol dos próprios países participantes. Tornou-se um negócio muito maior, muito atraente financeiramente para grandes clubes, cujos torcedores pagam fortunas aos seus atletas. E, principalmente, converteu-se, não numa competição que guardasse este espírito, aliando tradição e modernidade, mas um torneio de clubes internacionais, especialmente europeus, cuja nacionalidade apresentada em bandeiras multicoloridas é, verdadeiramente, uma falácia. A Copa do Mundo, seguramente, vai continuar sendo este grande torneio de clubes europeus que, para não ficar muito feio, vai continua se permitindo convidar “outros clubes” dos demais quatro continentes. Nas oitavas já saiu Oceania, depois o que restou dos próprios donos da casa, a África do Sul. Ora, direis, muito natural, é a competição. Afinal não serão classificados pela nacionalidade, mas pela competência em jogar futebol. E é exatamente este o espetáculo que pagamos para ver. Quanto aos técnicos, também já não surpreende que apenas vinte deles (62,5%) tenham a sua própria nacionalidade comprometida com o selecionado que dirigem. Sobre as notas tristes do juizado, nem é bom falar. A Fifa cuidará, por certo. Tenho fé que esta vaca não vai direto para o brejo. 
(JUANORTE, 04.07.2010)
A CIDADE QUE QUEREMOS
A experiência recente de ter voltado a residir em Juazeiro do Norte, por sete meses, me trouxe uma melhor percepção de que vive-se aí com um sentimento magoado de que esta não é a cidade que queremos, nem para nós, nem para os que geramos, e muito menos para os que não nos conhecerão em vida. Não é que se deseje abrir espaço para um monólogo em torno das utopias, e se pretenda apresentar desculpas infundadas pela omissão que se perpetra. A discussão em torno das questões urbanas de Juazeiro do Norte tem sido criminosamente adiadas, sob um manto perverso e falacioso de que estamos sempre fazendo alguma coisa – assim tem dito as administrações públicas. Na arqueologia dos seus espaços, jazem resíduos de uma civilização que foi, gradativamente, sepultando o Juazeiro de uma luta entre a tradição e a modernidade. Isto encerra a sepultura comum de empenhos mal formulados e pouco resolvidos. Juazeiro do Norte padece nos nossos dias de graves problemas urbanos porque tem tardado soluções de grande envergadura, como já se recomenda pelo peso e papel que a urbe encerra. Recentemente, Daniel Walker abordou aqui a questão do esvaziamento do centro da cidade. Sua ótica ficou bem ponderada por um certo saudosismo, naturalmente preso aos condicionantes da época em que se vivia, diria, romanticamente, sem as grandes tribulações do agora. Sou forçado a divergir do seu posicionamento, especialmente porque me parece claro que se alguma coisa necessita ser feito urgentemente, começa pela descentralização dos equipamentos e serviços da cidade, o que representaria, inequivocamente, num certo esvaziamento do centro tradicional e histórico. Não custa nada relembrar que, numa visão profética, o patriarca firmara ainda em 1925 a idéia de um novo centro que, até hoje, não se viabilizou com planejamento. O centro da visão tradicional dos urbanistas, em se tratando de cidades com forte tonalidade histórica de sua origem, é hoje espaço de visitação turística, de ocorrências religiosas, de manifestações populares, de preservação da memória, de algumas áreas de moradias, de alguns serviços públicos, etc. Aí se reconhece pequena vocação para as demandas de negócios e serviços ao cidadão, no seu dia-a-dia. Exatamente porque melhor é facilitar a vida do povo, que paga a conta, levando mais para junto de si o que ele necessita. As cidade se “shoppinizaram”, a ocupação do solo gerou novos bairros, a urbanização cresce aos limites do município, o problemas se multiplicaram e o caos urbano está plantado. Povo, técnicos e administração necessita ter um entendimento urgente. É preciso sentar para discutir esta pauta. Uma atitude já foi tomada. Como parte dos eventos preconizados no Centenário de Juazeiro, e dentro de uma pauta aceita pela UFC-Cariri, trata-se agora de formalizar uma programação para um grande seminário que tomaria quatro dias para discutir o futuro da cidade centenária, sem esquecer a larga repercussão que o seu próprio desenvolvimento tem com relação ao seu papel como centro urbano hegemônico na Região Metropolitana do Cariri. Dentre os assuntos que poderão merecer destaque neste encontro, não nos livraremos de avaliar o impacto da globalização sobre nós, como analisamos a nossa condição entre uma economia baseada na indústria versus uma economia baseada nos serviços, e quais os novos papéis que devem e podem ser assumidos pelos diversos níveis de governo (município, estado, país), sem deixar de lado a experiência de quem já fez positivamente alguma coisa para nos permitir reinventar com sucesso o futuro desta grande cidade. 
(JUANORTE, 04.07.2010)
PESQUISA E INOVAÇÃO
“O Brasil produz pouca inovação tecnológica e perde mercado” é a reclamação que vez por outra encontro nos jornais. Há mais de 16 anos estamos estagnados no registro de patentes na Organização Mundial de Propriedade Intelectual. Ou seja, 0,06% do resto do mundo, nos deixando em 24º. Lugar. É a contramão do crescimento econômico de 7% ao ano. Citam-se, pelo menos, três razões: o país ainda está longe das fronteiras do conhecimento; a pesquisa ainda não é parte da estratégia empresarial brasileira; e o país não tem metas ambiciosas para a área. Mas, por conta de algumas ilhas de excelência, o país já é um participe recente deste time de inovadores. Especialmente na área de fármacos. Numa destas ilhas, a Universidade de Campinas (Unicamp), a própria imprensa descobriu dois jovens juazeirenses que estão trabalhando em fronteira de ciência para produção e aplicação de ácido hialurônico (AH) em novos usos estéticos e outras áreas médicas. São eles: André de Casimiro Macedo, Engenheiro Químico (UFC), Doutorando em Desenvolvimento de Processos Biotecnológicos, na Faculdade de Engenharia Química; e Eugênio Santana de Figueirêdo, Médico (UFRN), Doutorando em Oftalmologia, na Faculdade de Ciências Medicas. André está concluindo sua tese, relatando o desenvolvimento da produção desta substância por via fermentativa, utilizando microrganismos de elevado desempenho. Para tanto, ele usa como matéria prima o suco de caju, um elo forte com a sua própria cultura de cearense, resgatando um recurso que se refina com destino de elevada nobreza. Eugênio é especialista em retina pela Unicamp, e trabalha com pesquisas em genética aplicada à Oftalmologia, no Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM/Unicamp). Em seu trabalho de doutoramento, tem estudado a catarata congênita, que é a principal causa de cegueira reversível na infância, com prevalência de um a cinco casos por 10.000 nascidos vivos. O trabalho desenvolvido no CBMEG e no serviço ambulatorial de catarata congênita do Hospital das Clínicas (HC/FCM), tem por objetivo fundamental determinar as alterações estruturais de alguns genes em pacientes com catarata congênita bilateral, formas nuclear e lamelar. Em paralelo às suas pesquisas e estudos em catarata congênita, Eugênio vem se dedicando a pesquisas básicas na aplicação do AH em oftalmologia, com ênfase às suas aplicações cirúrgicas. Ele vem sendo testado em casos de olho seco, como lubrificante, e na plástica ocular, para preenchimento de espaços, pois pode ser usado para tratar retração de pálpebras. Recentemente publicou “Aplicações oftalmológicas do ácido hialurônico” (Arq. Bras. Oftalmol., 73(1), São Paulo, Jan./Feb. 2010). O AH é uma substância presente naturalmente nos tecidos conjuntivos do organismo, como pele, tendões, olhos e líquido sinovial (que banha as articulações), preenchendo espaços entre as células. Ali é responsável pela sustentação e manutenção. Sempre em pequeníssimas doses, o produto está ganhando terreno na correção do ângulo da mandíbula, na região malar (logo abaixo dos olhos) e nas laterais do rosto, como moldura. Também pode ser usado para corrigir o dorso do nariz. Mas não só a medicina estética vem tirando proveito do ácido. A ortopedia, que lança mão dele no tratamento da artrose, está investigando se o seu uso é capaz de regenerar a cartilagem das articulações. 
(JUANORTE, 18.07.2010)
GENTE CENTENÁRIA
Juazeiro entrou no seu ano centenário. Quando me lembro disto, me lembro também de tantos convidados que não estarão presentes para que os abracemos. Ora, me lembrem de Pe. Cícero, de Zé Marrocos, de Floro, de Alencar Peixoto, de Pelúsio, do beato Zé Lourenço, da Maria de Araújo, de dona Mocinha, de Pe. Macedinho, de Dr. Juvêncio, de Pe. Climério, de Pe. Azarias, de Dr. Mozart, de Dr. Dinis, de Dr. Edward, de Amália Xavier, de Maria Gonçalves, de Nair Silva, de Lauro Pereira, de Mascote, de Darim, de Odílio Figueiredo, de Gregório Calou, de Ney, de Hamilton, de Dona Guidinha, de Dade, de Otacílio Leandro, de Edgar Coelho, do Cel. Pereirinha, do Ananias Eleutério, do Elvídio Landim, de Letícia Amaral, de Irmã Alicantina, de Coelho Alves, de Possidônio Bem, de Mário Malzone, de Hildegardo Belém, do Pe. Jésu, de Estelita Silva, de Mestre Noza, de Dr. Perboyre, de Paizim Sabiá, de Sulino Duda, de Generosa Alencar, de Pe. Coutinho, de Tarcila Cruz, de Dr. Belém, de Zé Néri, de Heloisa Coelho, de Elias Rodrigues, de Zuleide Belém, de Irapuan Pimentel, de Mirian Cruz, de Sousa Menezes, de Zé Xandu, de Zé Geraldo, de Zé Monteiro, de Antonio Pita, de Felipe Néri, de Ângelo de Almeida, de Zé Bezerra, de Sebastião Teixeira, de Almino Loiola, de Dirceu Inácio, de Cel. Nery, de Zé de Matos, de Antonio Patu, de Propércio Nogueira, de Wilson Campos, de Mons. Lima, de Valdemar Barros, de Otacílio Almeida, de Currusco, de Celestino, de Aderson Borges, de Ferrer Almeida, de Zé Brasileiro, de Zé Machado, de Valdo Figueiredo, de Damiãozinho, de Orlando Bezerra, de Antonio Pinheiro, de Pe. Silvino, de Albis Sobreira, de Zé Figueiredo, de Genário Oliveira, de Lulu Pereira, de Zé Pedro, de Mestre Galdino, de Zequinha das bolsas, de Chico Trela, de Nino, do Vanja, do Príncipe Ribamar, do Faísca, de João Remexe Buxo, de Nena, de Tetê, de Alemão, de Beato, do 51, do Paixão, do Alcântara, de Zé Dias, do Toinho de Minu, de Pimpim, de Geso Almeida, de Fabião, de Manoel Germano, de Zé Viana, de Zé Xavier, de Antonio Calábria, de Afonso de Melo, de Harry Sabiá, de Tobias Ribeiro, de Mestre Chico, de Raimundo Gomes de Figueiredo, de Milton Sobreira, de Aurino Mendonça, de dona Santinha, de Zé Magalhães, do Yony Rodrigues, do Valdery Marques, do Dr. Hercílio, de Leandro Bezerra, de Luciano de Melo, de dona Maria Amélia, de Alencar, de Antonio do Café, de Zé do Sul, de Amália do Doce, de dona Naninha, de Senhorzinho e todos os amigos dos bancos da praça, de Piaba, de Tibério, do Cizinho, de dona Rosa, de Luiz Coimbra, de Né Cansanção, de Guimarães, de Firmino Teixeira, de Dalva Mendonça, de seu Deca, de Donata, de Preciosa, de Rafael Xavier, de Rochinha, do Gumercindo, do cabo Dídio, do Cabo Vieira, de seu Cândido Correia, de Doroteu Sobreira, de dona Doralice e de seu Luiz Casimiro... e de tantos que continuaremos lembrando, sempre, apesar da ilusão de que seria bom que estivessem aqui. O Juazeiro desse povo era outro.
(JUANORTE, 25.07.2010)
CINEMAS DO JUAZEIRO
Cresce no país o número de novas salas de cinema, com a inauguração ou ampliação de shopping centers. Há casos de 18 salas em um único endereço na Barra (RJ). Nesse bairro há 38 salas em apenas 4 endereços. No Rio a situação vem melhorando com 153 salas, das 178 de 2008. Serão reabertas 16, das 25 que foram perdidas neste período. No Brasil, entre 1971 e 1975, o número de salas passou de 2.154 para 3.276, devido ao início das operações de shoppings e a chegada de grupos estrangeiros para o negócio. Até 1995 este número foi caindo, até atingir um mínimo de 1.033, ocasionado por diversos fatores, dentre os quais uma maior preferência pelas salas melhor equipadas nos shoppings, estacionamento, praticidade, segurança, em detrimento da má qualidade dos cines de ruas que foram fechando, a ociosidade de grandes salas, o efeito do cinema pornô, etc. Os aparelhos de vídeo e a popularidade das vídeo-locadoras influíram consideravelmente. Compra-se hoje uma copia legal por R$12, menos que se paga por gasolina, estacionamento, ingresso, pipoca, etc. Essa conjuntura nacional, se o Rio é um bom espelho, me remete a Juazeiro do Norte, para considerar a involução de nossa cena, para daí enxergar alguma coisa que nos anime. E veio o que se esperava: o anúncio da ampliação das salas para a cidade centenária. Minhas lembranças para os últimos 55 anos remontam às sessões vespertinas, dominicais, do Avenida, na praça, a quarta sala, instalada em 1942. Antes dele, a primeira seria em 1916, na Rua Nova. Em março de 1921 veio o Iracema, de Pelúsio Macedo, na Rua Pe. Cícero. Benjamim Abraão utilizou esta sala, entre 1925 e 1935, para projetar os seus documentários sobre Juazeiro e Pe. Cícero. Completo a cronologia. Em 29.06.1935 Antonio e Olimpio Vieira de Almeida, Manoel Soares Couto e Antonio Pita fundam o Cine Teatro Roulien. Em 07.05.1936, as empresas Almeida & Cia. Ltda. e Lourenço Pontes & Cia. Ltda. passam a explorar os Cines Iracema e Roulien. O Iracema saíra das mãos de Pelúsio e ainda funcionaria mais alguns anos. Quanto ao Roulien, a empresa Almeida & Cia. Ltda., em 22.05.1946, agora integrada por Antonio e Olimpio Vieira de Almeida, Antonio Pita e Edmundo Morais. Ela inaugurará, em 07.09.1947, o maior, até então, de todos os cinemas de Juazeiro – o Cine Eldorado, na Rua Santa Luzia, com 800 lugares. Quando nasci em 1949, somente havia dois cinemas: o Roulien e o Eldorado. O Cine Teatro Roulien tinha 500 poltronas e seria fechado em 1958. Ainda sobre velhos cinemas, há a menção para os Cines Operário, Guri e Luz. O primeiro funcionaria a partir de Agosto de 1949, e o segundo em Junho de 1950, na rua São João, perto do Bar de Lêra. O terceiro, o Luz, ficava próximo aos Franciscanos. O Cine Capitólio, a oitava casa de exibição, dos irmãos Almeida, funcionaria na Rua Santa Luzia, 321, a partir de 1957. Finalmente, veio a fase do Plaza, inicialmente de Luiz Dantas e, depois, de Expedito Costa que se tornaria o herdeiro de toda esta tradição, centralizando na Rua Delmiro Gouveia o espólio das salas Capitólio e Eldorado, agora ampliado para 1.200 lugares, um dos maiores do Brasil. Juazeiro do Norte já chegou a ter 1.200 poltronas para uma população de 60 mil habitantes (1/50). Nos próximos meses, este número chegará a 1 para 250. Restará, como tento de honra, reinaugurar o Eldorado com Cine e Teatro, antes que vire estacionamento para este centro falido de Juazeiro do Norte.
(JUANORTE, 01.08.2010)
QUALIDADE NO RÁDIO
Com a transmissão de nossas emissoras pela rede mundial de computadores, venho diariamente tentando ouvir, especialmente seus noticiários. Por uma questão de gosto pessoal, sou exigente. E por azar, freqüentemente me encontro com o que há entre o ruim e o péssimo. Há exceções. Estas eu admiro e me fazem bem. O que fazer, nesta hora da busca de uma notícia mais fresca ? Nestas horas, talvez até por saudosismo, vou me lembrando de muitos profissionais que conheci, ou simplesmente ouvi no rádio. Escreviam, produziam, tinham dicção irrepreensível, falavam corretamente a sua própria língua, suas expressões não eram banais e não envelheceram, senão, merecedores de uma admiração que vinha na reciprocidade a este valor profissional que cada um carregava em si. Como lamento que o rádio, literalmente engolido pela Internet de hoje, está falindo em concessões perniciosas, com uma qualidade sofrível, e tendo tudo para superar-se diante do tempo real que lhe favorece. Historicamente, é a nossa empatia, o amor à primeira vista, já exposto magistralmente por Woody Allen, no A Era do Rádio, que vai se perdendo pela falta de competência. O improviso deixa a falsa impressão de um veículo ágil, agressivo e aparentemente único. Até se ouve dizer que o jornal não tem voz; sua voz é o rádio quem confere. Vejam, só. Quando o rádio esbraveja sobre a miséria do dia-a-dia, especialmente na praga dos programas policiais, ele até comove, para embutir a própria fraqueza e o temor a uma estrutura viciada que alimenta a crescente violência urbana. No rádio destes tempos se respira algo falacioso como o hi-tech desta instantaneidade que parece substituir o talento. Mas, é engano. O rádio não se civilizou o suficiente para dispensar a produção, a redação, o profissionalismo que se tenta mascarar por provisionamento interiorano, circunstancial e vitalício, na ausência de academia, substituída por cursinhos de reciclagem de fim de semana, cortesia da corporação sindicalista. Os valores continuam sendo reclamados por nossas aspirações, como ouvintes. Nós o queremos melhor, na opinião e na música, no texto e na voz, na técnica e no artesanato deste fazer radiofônico. Há pouco li sobre a história da Radio Nacional, e aí dados do papel inovador do nosso Lourival de Melo Marques, incansável, a ponto de ter deixado um verdadeiro monumento que contribui para o resgate da memória de páginas tão douradas. Lourival Marques não foi o único valor que saído de uma radiofonia interiorana impressionou e justificou a missão do rádio. Mas se tudo é o espelho desta sociedade, e o rádio não é exceção, o que pensar dos veículos que assumem esta pretensa formação de opinião, como instrumento medíocre do político sem escrúpulos, de um mercado de ilusão consumista, de atrativos de seitas e credos religiosos e dos modismos que não acrescentam nada, ética ou moralmente aos que o sustentam? É necessário pensar a importância do compromisso social deste veículo. Isso nos cabe. Deixar que a iniciativa se perca na encenação do próprio serviço é reduzir a importância do ouvinte como agente desta regulação e do disciplinamento de que tanto o rádio carece. Felizmente, nós temos esta habilidade mínima de saber o que presta ou o que não presta. E devemos fechar o rádio quando ele não presta. Ou ele nos serve, ou não serve para nada. 
(JUANORTE, 08.08.2010)
PATRIMÔNIO
Em muitos anos de convivência com preocupações, discussões e planos em torno das questões sobre preservação do patrimônio histórico de Juazeiro do Norte, digo-lhes, infelicitado, os resultados são decepcionantes. Nunca, e jamais, bastará o posicionamento e o sonho de uns poucos, diante da maré altamente negativa e obstaculante que vem da Igreja, do poder público, da iniciativa privada e do próprio povo que, em certos aspectos – até, e principalmente, pela ignorância, não aceita a intervenção e pouco faz para preservar valores de sua cultura, de sua história. Quero crer que esteja sendo realista e duro, como convém nestas horas. A idade, a maturação e, felizmente, o bom estado de minhas faculdades, parece-me, garantem a autoridade. Disto testemunharia, principalmente, a minha participação pessoal, pela deferência com que alguns me introduziram em momentos de interlocução, para assistir a sandice entronizada do alto da posse deste dito patrimônio. Algumas vezes me indagaram: o que você pensa que é e sabe? Nada, a rigor, nada. Apenas, desconfio de muita coisa. Como cidadão, honrava a escolha, a estima, a possibilidade de em qualquer fórum estabelecer um diálogo, não com minhas razões, mas com aquelas das quais afloram os argumentos, as necessidades imperiosas de fazer o que tem que ser feito, para não continuar lamentando o desastre. No Juazeiro destes dias fala-se da necessidade, sim – necessidade, de se intervir na Colina do Horto, com respeito à estátua do Pe. Cícero, para solucionar o problema de restauração do monumento deteriorado. Infelizmente, a causa é mais uma questão de aspecto legal do que, propriamente o de preservação de um monumento histórico. Penso que o que ali está não carece de refinamento para se rotular de elevado valor histórico, artístico e arquitetônico. Não é o caso. Apenas um grande emblema, o ícone da cidade amada. Falamos de um Juazeiro de mais de 180 anos e agora se vem referir a patrimônio histórico como a questão localizada, e menor, da estátua que se resolve entre cimento, esmalte e juízo. Esquece-se, portanto, o resto. É a coisa legal, de quem apenas espera o dinheiro para consertar os buracos, sem gastar o que se apura e se recusa a atender ao aspecto legítimo de um tombamento. Aí, sim, é intervenção, pois não poderão, mesmo, fazer nada sem a consulta ao governo, do qual cada um desconfia como pode. Mas, é muito justo. Afinal, me indagariam: porque esta “afuleimação”. É a regra que ainda não foi contestada judicialmente, nem pelo Parlamento, nem pelo judiciário. “E, vós amais o que é fácil? (...) E tendes regras, e tratados, e filósofos e sábios.” Neste pano de fundo, onde se trava a batalha inglória - sumiram, foram minimizadas outras coisas pendentes. Outras apareceram, de repente, como a que se perpetrou na calada da noite com a velha casa paroquial da Basílica Menor do Santuário de Nossa Senhora das Dores, cuja fachada, de uma das casas mais antigas do lugar (a outrora residência da família de Rosinha Esmeraldo), foi alterada para transformá-la, sem suporte qualquer de uma inteligência museal, num galpão, demolidas todas as paredes do seu interior, que se anuncia como futuro Memorial Mons. Murilo. Se é verdade o que sempre pensamos, quanto vexame se assistiria acontecer ao amigo que não consegue repousar em paz em seu jazigo, não bastassem tantas orações nossas. Mais cedo do que nunca, ainda se confirmou: “...muita História, pouca Geografia, pouca memória, pouco juízo...” Não há como se perdoar, a quem quer que seja, por tão leviano atentado. 
(JUANORTE, 15.08.2010)

A SEMANA NA HISTÓRIA DE JUAZEIRO (VI)
Estamos continuando a publicação de efemérides da história de Juazeiro do Norte, agora em sua segunda edição, referente aos dias 24 a 30 de junho.
24 de Junho de 1967: Anunciou-se nesse dia a instalação da filial de Juazeiro do Norte da Caixa Econômica Federal. O prefeito Mauro Sampaio recebeu questionário para ser respondido sobre alguns itens de significação para a CEF com respeito à localização física da agência. Na época, atuava como mediadores o então presidente da Assembléia Legislativa do Estado, deputado Adauto Bezerra, bem como o vereador local, Francisco Rocha da Silva.
25 de Junho de 1917: D. Quintino escreve ao Pe. Cícero, exigindo que o mesmo entregue ao Vigário de Freguesia os panos ensanguinhados e outros e outros objetos conforme a Suprema Congregação do Santo Ofício ordenou em abril de 1894. Refere-se ao fato dos referidos panos terem sido roubados da Matriz do Crato e terem sido encontrados em agosto de 1910 em Casa do Professor José Marrocos após seu falecimento. Diz ainda que o Pe. Cícero tem ciência onde os mesmos estão. Acrescenta na mesma carta: “Nós, por cumprimento do dever, determinamos que, logo que esta receber, entregue, ou mande entregar, ditos panos e objetos, todos ao Revdo. Vigário dessa Freguesia que no-los remeterá com reserva a fim de que seja da execussão completa ao Venerado Decreto do Santo Oficio.” Referiu-se ainda ao fato de o Pe. Cícero haver afirmado que ignorava o paradeiro desses panos e objetos e nem tinha recebido de ninguém aviso a respeito deles; pedia que informasse em que tempo recebeu. Citou ainda outros fatos em tom de censura, atribuindo ao Pe. Cícero e acrescentou que; “estranhando e lastimando o seu modo de proceder, não poderemos deixar de reprovar e proibir todas essas cousas, como Reprovamos e Proibimos como contrárias aos Decretos do Santo Ofício.”
26 de Junho de 1917: Conforme Irineu Pinheiro, no seu apreciado Efemérides do Cariri: o Pe. Cícero respondeu a D. Quintino nesta data, nos seguintes termos: “Exmo. Revmo. Sr. D. Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, Venerado Bispo do Crato. Em obediência às ordens contidas de 25 do corrente mês, a mim dirigida por V. Excia. Revma., tenho a honra de “informar o seguinte: 1°) Conforme V. Excia. disse quando aqui esteve em Visita Pastoral, com a mesma sinceridade afirmo absolutamente não sei “do paradeiro dos panos ensanguentados e outros objetos que a Suprema Congregação do Santo Ofício condenou em abril de 1894 Realmente constou-me que tinham desaparecido da Igreja-Matriz dessa cidade e que o falecido José Marrocos os tinha em seu Poder; mas apesar da nossa íntima amizade, afirmo sinceramente a V. Excia. Revma. dele nunca procurei saber se os possuía nem se era verdadeiro o boato que circulava a respeito. Após seu falecimento, constou-me ainda que as autoridades policiais e judiciárias dessa localidade, dos referidos panos se apossaram e o enviaram para Fortaleza a fim de serem entregues ao então Bispo D. Joaquim. Esta é a verdade única. Entretanto, se foram cair em outras mãos e, durante os meus dias de vida. Chegarem ao meu poder, V. Excia. Revma. ficar certo de que, com muita satisfação, cumprirei as determinações da Suprema Congregação do Santo Ofício. Ora, reiterados por V. Excia. Revma. 2°) Peço permissão a V. Excia. Revma. para afirmar que absolutamente não tenho fomentado, como nunca fomentei, as “Romarias” ou “Visitas” a este lugar, nem recebo os romeiros e visitantes com atenção proibidas pelos poderes competentes, nem com cerimonial de benção a modo episcopal. Efetivamente, força é confessar, tenho benzido objetos de piedade, como sejam, registro, imagens, rosários, medalhas, mas nunca retratos meus e assim mesmo sem ritual, simplesmente com o Sinal da Cruz. Garanto a V. Excia. Revma. que sempre me opus e protestei contra essa exploração de comerciantes de Fortaleza e Recife, fazendo cunhartais medalhas, e posso até invocar o testemunho do Padre Jerônimo, residente na capital a quem por carta em 1914, em resposta a que me dirigiu sobre o assunto, autorizei a protestar, em meu nome contra semelhante exploração que sempre repeli. Aqui mesmo, quando V. Excia. Revma. esteve em Visita Pastoral, concorri com a melhor boa vontade para a apreensão das que existiam expostas à venda e em poder das pessoas que as possuiam. E assim me tenho mantido e continuarei, esforçando-me para apreender as que chegarem ao meu conhecimento. Quanto à vinda de “romeiros” aqui, mas que os recebo como simples amigos, despensando-lhes “tão somente atenções de cordialidade, V. Excia., inteligente como é, e de espírito superior, como tem a felicidade de possuir, muito bem e melhor do que eu poderá compreender a impossibilidade de evitar. São fatos que só podem ser evitados ou mesmo desaparecer pela ação lenta do tempo. V. Excia. Revma. não ignora o que é sistematização do povo na prática de um ato qualquer. De modo que o que eu desejo é que V. Excia. Revma. se convença por ser verdade inconteste, que tão somente tenho benzido os citados objetos de piedade pela forma que declarei. E aproveito o ensejo para, com todo o respeito, pedir a V. Excia. Revma., se possível a faculdade de benzê-los. 3°) É inverídica a informação prestada a V. Excia. de que eu tenha batizado um menino de sete anos, de Picos, cidade do Piauí. Em um dos meses passados, me foram apresentados duas crianças dos sertões do Piauí, cujos pais, alegando os mesmos terem adoecido em caminho, pediram-me que os batizasse, mas em obediência às ordens estabelecidas, ponderei-lhes ser completamente impossível atender. Sendo ambos receitados pelo Dr. Floro e este declarado não ser difícil uma recaída e neste caso até a mesma morte, em caminho, aconselhei que fosse entender-se com V. Excia. a fim de ver se era possível aí no Crato, fornecendo-lhes até algum dinheiro para as espórtulas, pelo fato de serem pobres. E certo de assim o fazerem, seguiram viagem, não sabendo mais do resultado. Dias depois, aqui chegou outra criança do Piauí, limites com o Maranhão, também acometida de impaludismo e porque estava em estado grave, apesar das condições de melhora aparentemente reveladas, querendo os pais que eu o batizasse, mandei que se dirigissem ao Revmo. Vigário desta Paróquia. Este, porém supondo que não havia gravidade, cumprindo seu dever não quis batizá-la. No dia seguinte, sendo a mesma criança vítima de novo acesso, apresentando convulsões muito acentuadas, parecendo estar morrendo, e não se achando presente o Vigário que suponho tinha ido fazer uma confissão, para não morrer pagã, batizei-a. E fiz mais: Escrevi ao vigário da Paróquia de residência da criança, tudo explicando. Eis os fatos em toda a sua plenitude. 4°) Quanto ao que se refere às enfermas, ocorreu o seguinte: informado de que uma mulher, no ato da confissão da honra da morte obstinara-se a não entregar ao Revdo. Vigário uma das medalhas com meu retrato, e ele, cumprindo seu dever, conforme às ordens recebidas, não querendo absolvê-la, ordenei, por um recado que a enferma entregasse a medalha para poder ser absolvida. Quando se supunha estar tudo acabado, alta noite, chegou a enferma em uma rede à nossa casa, já nos últimos momentos de vida em vista do estado da enferma e da hora adiantada, tomei a medalha e absolvi-a, morrendo, logo após, em caminho para casa. Constando-me que uma outra mulher incidira na mesma falta, e por isso mesmo corria o risco de morrer, sem absolvição, dirigi-me à sua residência para conseguir apreender a medalha e poder ela receber os últimos recursos espirituais e lá chegando encontrei-a já sem fala, exalando o último suspiro. Reprovei o ato, aconselhando energicamente os presentes que assim não procedessem e, unicamente por sentimento de caridade cristã, na hora extrema da criatura, absolvi-a. Vê portanto V. Excia. Revma. que foram dois casos somente e em ambas procedi com regularidade, pois não foram com o fim de violar as ordens dos meus superiores hierárquicos e muito menos para aprovar o procedimento de enfermos recalcitrantes, e reprovar o do Revdo. Pároco que cumpria, estou certo, seu dever. Hoje mesmo apreendi uma medalha em poder de um noivo que se recusara a entregá-la no ato da confissão para casar. Concluindo, tenho a declarar que ainda não pus em dúvida a benevolência de V. Excia. Revma., para comigo e confio que V. Excia. Revdma., pela segura reflexão que possui, não prestará atenção a todas as informações que contra mim foram dadas, continuando completamente restabelecida a paz e a ordem entre todos os espíritos desta Paróquia, onde é verdade, tenho toda a história do meu ministério Sacerdotal e que tem a honra de fazer parte da Diocese que V. Excia. Revma. com muita elevação, dirige, fazendo jus a estima, a consideração e ao respeito de todos nós. Queria V. Excia. Revma. aceitar os protestos de sincera consideração do humilde servo em Jesus Cristo. Ass. Pe. Cícero Romão Batista
27 de Junho de 1915: O Pe. Cícero telegrafa ao Coronel Benjamim Barroso. Presidente Estado, em Fortaleza nos seguintes termos: Ciente informações dadas V. Excia. ter Juazeiro interferido deposição chefe Raimundo Cardoso por questões particulares e ter V. Excia. transmitido Rio tão descabidas informações, cumpre-me protestar contra semelhante ato, ponderando que tenho real compreensão minhas responsabilidades e meus atos não permitem tal conceito. Acho solução caso Porteiras pelo retardamento, providências oportunas merece segura reflexão a fim não ficar Cariri material e politicamente em piores condições do que se acha. Permita dizer devido maior conhecimento, tenho homens e coisas nosso caro Estado que Governo V. Excia. está sendo vítima arriscada orientação política interior. São ponderações de patrício e amigo que só deseja paz e ordem. Povo de Juazeiro bem como o do Sertão necessita unicamente auxílio definitivo e urgente para não morrer de fome e não de lutas. Neste sentido já telegrafei poderes República. Ass. Pe. Cícero Romão Batista
28 de Junho de 1864: Faleceu, em Crato, vítima de “cólera-morbus” Joaquim Romão Batista, pai do Pe. Cícero. Por este motivo, o moço Cícero deixa o Colégio de Cajazeiras, Paraíba, onde estava interno e vem para o Crato a fim de dar assistência à sua Mãe, D. Quinou e suas duas irmãs, Mariquinha e Angelica.
29 de Junho de 1930: Fundação oficial do Círculo Católico São José, também denomina depois como Círculo Opérário, pelo vigário Mons. José Alves de Lima. Estiverem presentes ao ato especialmente, convidados pelo vigário, os Revdmos. Padres Guilherme Wassen, Tobias Dequidit, ambos Lazaristas do Seminário da Prainha, Pedro Zingerler, José Barbosa Magalhães, Carlos Coelho, José Pelúsio, Cícero Fernandes Coutinho e Pe. Cícero Romão Batista. A Diretoria do Círculo Católico de Fortaleza, também se fez presente pelo seu presidente José Agostinho.
30 de Junho de 1897: O Pe. Cícero Romão Baptista viaja para Salgueiro, para cumprir o seu exílio, em obediência à intimação de Roma, datada de 19 de fevereiro de 1897, assinada pelo Cardeal Lucido Maria, recebida por D. Joaquim a 25 de março de 1897, e entregue ao Pe. Cícero pelo Vigário Alexandrino a mandado de D. Joaquim, no dia 21 de junho de 1897. Neste mesmo dia 30 o Pe. Alexandrino escreve ao Sr. Bispo comunicando que o Pe. Cícero não dera qualquer resposta e partiu para Salgueiro na noite de 29 de junho sem comunicar seu destino.