quarta-feira, 22 de abril de 2015

BOA TARDE (I)
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
145: (21.04.2015) Boa Tarde para Você, professora Maria Rosimar de Araújo
Desejo agradecer-lhe mais uma vez a sua grande gentileza de ter-me presenteado noutra noite, em grande festa para a literatura de cordel, regida por Vandinho Pereira e seu Ceará Diverso, com volumoso pacote de folhetos, alguns de sua autoria e outros tantos de novos e ainda quase anônimos poetas, promessas na renovação desta nossa cena cultural. Ainda em 2010, coordenando o Projeto Editorial do Centenário de Juazeiro do Norte, eu fui por Rosário Lustosa apresentado ao seu trabalho, pois era necessário fazer justiça incluindo um dos seus títulos em tão bem concebida Coleção Centenária, dentre os 50 poetas contemporâneos que se ocuparam da louvação desta terra, como no seu caso, com o folheto Sonho e Realidade. Na época fiz pequena anotação de seu trajeto de vida, registrando que você é missãovelhense, do distrito de Jamacaru, residente aqui entre nós, e depois de formada em História, fez sua pós-graduação em Planejamento Educacional, estando dedicada à grande e meritória tarefa de ser facilitadora em oficinas de cordel em salas de aulas de Escolas Municipais, como a Mons. Joviniano Barreto, Expedito Pereira, José Monteiro de Macedo, Vicente Pereira, Edward Teixeira Férrer, Dr. Leão Sampaio, José Ferreira de Menezes, Demóstenes Ratts Barbosa, José Marrocos e outras. Ao relembrar isto, fiquei muito feliz, pois não poderia deixar de dizer a tantos poetas e poetisas de cordel ali reunidos naquela noite o quanto estimo que esta produção deva chegar mais e mais à Escola, como já se faz com o Projeto Cordel em Sala de Aula, para que as novas gerações reconheçam o valor da literatura de cordel como linguagem e instrumento valioso para o seu próprio desenvolvimento. Felizmente há grande sensibilidade institucional, não só dos gestores destas escolas participantes, mas também de agentes de financiamento e fomento à atividade, como o BNB, que através do seu Centro Cultural estimula e mantém o Projeto de Cordel no Cariri, e das unidades do SESC, com o SESCordel. Os folhetos que estou lendo, na grande maioria, são o resultado concreto desta iniciativa de formar novos valores na poesia de cordel, para revitalizá-lo como parte substancial de nossas manifestações culturais, associado inclusive, de um prestígio crescente na simbiose com a xilogravura, por grandes mestres como Stênio Diniz, José Lourenço, Francorli e Maércio Lopes. Estes novos valores vão sendo estimulados na convivência com os mais expressivos poetas, onde se salienta a presença constante do cordel feminino, inclusive representado por expoentes notáveis como Bastinha Job, Josenir Lacerda, Anilda Figueiredo, Salete Maria, Fanka Santos, Rosário Lustosa, Esmeralda Batista, Nizete Arrais, Wiliana Brito, Mana Oliveira e Mazé Sales, dentre outras. Evidentemente, não se pode minimizar o papel que a literatura de cordel tem como ferramenta pedagógica, pois o seu formato, a sua estética e a sua construção são ingredientes que refletem a sua versatilidade para ser empregada em salas de ciências, de história, de geografia, sem esquecer a completa adequação com a cultura nordestina nas atividades de literatura e língua portuguesa abordando a estrutura do poema ou os fatores linguísticos utilizados na narrativa. E nisto, Rosimar, o seu trabalho está demonstrando como você vem realizando este trabalho focando questões como a história regional, grandes vultos de nossa cidadania, questões sociais relevantes como trabalho infantil, saúde e higiene, ecologia, e a arte dos grandes mestres na literatura, na música e noutros campos. Em verdade, o poeta de cordel é uma pessoa com sensibilidade para perceber e encarar um papel social diante da nacionalidade, não sendo apenas o cronista do cotidiano, mas alguém que esclarece e reivindica sobre as grandes preocupações do povo, como a qualidade da saúde pública, investimentos na educação, saneamento básico, ampliação de programas habitacionais, segurança pública, etc. Quero, portanto, Rosimar, parabenizá-la e exaltar esta sua completa dedicação pedagógica em estimular, formar e fomentar atividades educativas junto a estas novas gerações, para que esta fantástica literatura oral dos poetas populares cumpre mais esta função social de grande relevo. 

BOA TARDE (II)
146: (22.04.2015) Boa Tarde para Você, José Murilo Sousa de Siqueira
Há muitos meses passados, acho que ainda estava me iniciando nestas crônicas, abri um arquivo no computador, escrevi Boa Tarde para Você, Murilo Siqueira, e lembrando o folclórico vereador Assis Machado, fui indagando de mim mesmo: “...e o que é que eu tenho para dizer a Murilo Siqueira?” Não demorou muito e aquela pagininha engravidou, e foi se enchendo de observações que eu ia anotando aos montes, de acordo com as audiências diárias deste Jornal da Tarde, por suas intervenções sempre tão personalíssimas, ao som quase sempre deste “é o Murilo Siqueira que conhecemos”. De tudo o quanto ali anotei, Murilo, gerei muitas indignações a maioria convergente para esta realidade dolorosa como eu e você, cidadãos viventes nesta província, temos o nosso dia-a-dia pleno por este bombardeio que nos chega, martelando bem junto ao coração, os repetitivos “corrupção, corruptos, corruptores”, numa sinfonia macabra, perversa e deprimente. Às vezes eu penso, Murilo, que alguém mais esperto traduziu com terrível requinte a expressão do Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, de saudosa memória, ao dizer “Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!”, exatamente porque reconhecemos que pouquíssimos estão preocupados em restaurar a moralidade e no salve-se quem puder, nos locupletemos todos. Não há nenhuma evidência de que a crise contemporânea, Murilo, a que vivemos com grande sufoco nesta atualidade, seja algo que se abrigue em parcos e mais e mal reclamados recursos financeiros, na burocracia do Estado, ou nos desvios que a barganha política encerra, assentada no jogo intransferível do toma-lá-dá-cá dos parlamentos. A crise é ética e moral, porque procurou-se inovar através de um grande e horroroso exercício com o qual temos embarcado, até pela mídia, e aceitando que, no jogo da dialética, e do confronto das ideias,  nem sempre estão errados quando propõem a relativização do absoluto e o absolutismo dos relativos. Ética e Moral, como você bem o sabe meu caro Murilo, são predicados que somente se vive e se experimenta no domínio das liberdades individuais, para inexistir num indivíduo e numa sociedade que pauta suas relações em valores falsos e completamente invertidos, como o enriquecimento fácil, a certeza da impunidade, o descompromisso social, a falta de solidariedade, para descambar na vala comum de que honestidade é coisa de otário. Na verdade, tudo isto assim se apresenta porque o indivíduo não se põe, eticamente, diante da circunstância de eleger valores que definem o que cada um quer, pode e deve, porque “nem tudo que eu quero eu posso, nem tudo que eu posso eu devo, e nem tudo que eu devo eu quero”. E nisto, Murilo, suas noticias e seus comentários sempre tão ansiosamente aguardados, nos provocam aquela imersão diária num submundo cheio de todas as transgressões e isto só não nos anestesia ainda mais, numa passividade impressionante, porque somos homens, não somos máquinas, e nos regemos por um mínimo de decência. O caso específico deste Juazeiro do Norte, cujo descalabro administrativo de sua municipalidade é o prato cheio de nossos noticiosos, e a causa prevalente de nossa indignação, jamais imaginaríamos, alguns anos atrás, que nossa ânsia por melhores dias encontraria na contra mão desta história a formação de tantas quadrilhas. Enquanto não vemos muito sucesso na contundência da folha policial, no cumprimento dos deveres da força pública e no diligente serviço do ministério, vai esta imprensa da qual tão legitima e competentemente você faz parte, cumprindo sua missão de informar, de investigar, de esclarecer para que a calada da noite seja mais barulhenta e nos revele cara a cara o inimigo público. Saúdo você, Murilo Siqueira, como esta reserva necessária ao nosso jornalismo, aquilo que representa diariamente esta certeza minimamente realista de um profissional cuidadoso e responsável que não está disponível ao negócio fácil de ser confundido com a teia envolvente dos desmandos, da violência e da falta de respeito aos direitos do cidadão. 
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 22.04.2015)

DOM SÉRGIO, PRESIDENTE DA CNBB
Desde o último dia 20, quando soube da eleição de D. Sérgio da Rocha para presidir a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, eu tenho experimentado uma agradável sensação de bem estar porque sinto que a Conferência vai continuar sendo dirigida por um grande homem a serviço da causa de nossa Igreja. Conheci D. Sérgio em Roma, em fevereiro de 1996, quando passei uma semana hospedado no mesmo colégio em que ele estava, o Pontifício Colégio Pio Brasileiro, então aluno da Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense, onde obteria seu título de Doutor, no ano seguinte. Em 2001, ele foi ordenado bispo e logo depois por nomeação de João Paulo II, D. Sérgio veio para o Ceará, tornando-se bispo auxiliar na Arquidiocese de Fortaleza. Por diversas oportunidades tivemos juntos em encontros rápidos, sendo um homem bastante tímido mas de um carisma impressionante, especialmente quando participava como diretor espiritual de retiros com profissionais. Em 2007, o perdemos para o Piaui, porque o Papa Bento XVI o nomeou Arcebispo coadjutor da Arquidiocese de Teresina, para no ano seguinte tornar-se o titular desta Arquidiocese. Em 2011 o papa Bento XVI o nomeou Arcebispo Metropollitano de Brasilia, e no último dia 20 tornou-se o novo presidente da CNBB, com quase 80% dos votantes presentes na Assembléia em Aparecida. O primeiro contato que tive com ele foi por ocasião de uma conversa que mantive com os padres que ali residiam, após o almoço, a pedido do Mons. Manfredo Ramos, sobre os meus estudos sobre o Pe. Cícero. Falei a eles por uns 30 minutos e depois disto me fizeram perguntas e a conversa foi extremamente agradável. D. Sérgio estava ali, escutando atentamente (foto acima, à esquerda), e eu fui apresentado ao Pe. Sérgio da Rocha que me cumprimentou, agradeceu a iniciativa de ter tido aquela conversa que ele julgou muito interessante para o conhecimento de uns 50 padres ali presentes. Nos dias subsequentes, as conversas que tive com alguns padres fazia referência a alguns padres que ali se destacavam, como o Pe. Nei de Sousa e o Pe. Sérgio. Sobre ele, tanto o Mons. Manfredo quanto o Pe. Evaristo, me disseram a mesma coisa: “Este aí vai muito longe”. Hoje já não temos nenhuma dúvida de que D. Sérgio da Rocha será o próximo membvro brasileiro no Colégio Cardinalício.