sábado, 27 de dezembro de 2014



BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
099: (24.12.2014) Boa Tarde para Você, Francisco de Assis Sobreira Quintino
Quando lhe disse ontem à noite da minha imensa alegria em revê-lo, depois de várias décadas que passaram sem os nossos abraços fraternos, você me disse, quase filosofando: “Voltar é uma forma de renascer. E na volta, a gente nunca se perde...” Quem assim sentenciou, você mesmo me disse que nunca soube. Mas lhe asseguro que foi o notável José Américo de Almeida, aquele paraibano extraordinário, certamente em um destes momentos nos quais se sente que um filho pródigo retorna ao seu chão amado. Naquele instante, ao nos abraçarmos, eu estava com a edição mais recente do jornal Folha de Juazeiro, a de número 314, a tiragem deste mês de dezembro, em mais de 45 anos de existência, onde se lia na sua cabeça, “...fundado em 17.08.1969, por Jackson Pires Barbosa e Assis Sobreira”. Você estava ali, Assis, mais uma vez, na fidelidade irretocável deste jornal e no compromisso social de grande mérito, mantido a duras penas pela exemplar reverência de José Bernardo da Silva Neto e de sua mãe, Zuzinha Barbosa, e disso quase choramos juntos. Não deixa de ser um tanto melancólico ver suas edições mais recentes, tão minguadas em até somente Quatro páginas por mês, para ao lado disto sentir o conforto daquilo que é lutar bravamente para que esta terra continue tendo nele um dos seus porta-vozes. Fruto disto é encontrar na cena matutina deste dia de hoje, o Bernardo Neto, com enorme bolsa a tiracolo, amanhecendo no bairro de Santa Teresa, e distribuindo seus exemplares na mão de cada leitor, como se cada um fosse uma nova esperança no revigoramento ou na ressureição de tantos e permanentes ideias, e no fortalecimento de uma imprensa formadora de opinião.  É nesta paisagem que você, Assis, está de volta, na primeira página de um dos seus jornais e o tempo nos guardou você, e não se incomodou que daqui você tenha ido por aí, por São Paulo, por Viçosa, por Carnaíba, por Fortaleza, vencendo léguas tiranas e trabalhando firme e forte em anos sem fim. Cá o temos de volta, como herdeiro das memórias de seus pais, Edite e Amâncio Quintino, e dos seus irmãos, especialmente de Almery e do Alcely, nas graças do eterno, e a testemunho vivo de Aldemir e Célia, em Fortaleza, e de Amaury, em Russas, como parte das heranças da juventude que nos viu passar. Recebemos hoje a sua visita, no dia do seu aniversário, em data tão feliz desta nossa cristandade, para também nos dar a oportunidade de celebrar e darmos graças a Deus pelo dom de sua vida. É assim que nos cabe lembrar e reverenciar com tanto afeto todos aqueles de quem sabemos que daqui saíram e para cá voltaram um dia, nos dizendo, como você, com a alma lavada e enxaguada em tanto amor: “...quando fui embora, foi comigo o Juazeiro e tantos anos fora, mas o Juazeiro jamais saiu de dentro de mim...” Por isso, me avexei em lhe dar noticias breves destes tempos corridos, lembrando o Beco de Catarina, a saudade de tantos amigos, alguns dos quais exilados na eternidade, dos tempos da CELCA, dos velhos colégios, da praça e dos namoros, do Centro Estudantal Juazeirense, do Tibério, da AJI, daquela imprensa dos idos do Pioneiro, do Tribuna, de jornalistas e de oficinas. Parabéns, Assis, e que o dia de hoje, na mesma data em que sempre celebrávamos o dia dos seus anos, lhe reserve as gratas alegrias do reencontro com parte de sua família, com os amigos que nunca se esqueceram de você e lhe tributam um preito de afeto e gratidão, manifestando votos de um Feliz Natal e de um Ano Novo muito próspero. Seja bem vindo, Assis Sobreira, para este congraçamento tão ansiosamente aguardado e muito obrigado por parte de sua obra que aqui ficou a nos dizer que enquanto foi possível, um filho teu não fugiu à luta.
 (Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 24.12.2014)


100: (26.12.2014) Boa Tarde para Você, Aguinaldo Carlos de Sousa
Na última oportunidade em que nos encontramos, estávamos tristes pela memória dos nove anos da morte do nossos amigo Pe. Francisco Murilo Correia de Sá Barreto, e não deixamos de rememorar a grandeza moral e espiritual do amigo que perdemos. E tem sido assim, quando vez por outra, por estas lembranças, nos deixamos revelar impressões pessoais de nossa vivência pela fé que professamos, pelos missionários que admiramos, pela Igreja que vivemos. Deve ter sido impactante, também para você, Aguinaldo, este mais recente pronunciamento do Papa Francisco, diagnosticando perante a Cúria Romana, as quinze doenças que lhe parecem enfraquecer o serviço pastoral da nossa Santa e pecadora Igreja. Digo-lhe isto porque sei o quanto esta preocupação também lhe diz respeito, como receio daquilo que observamos à distância, em resposta aos escrúpulos que nos cabem na hora de duros juízos que fazemos. O Papa Francisco, como se tornou de hábito, nos surpreende ainda mais pela franqueza, pela determinação de não ser aquele morno que encontramos no capitulo 3 do Apocalipse: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.” Não é fácil reconhecer, Aguinaldo, mesmo por estes tempos de tantas surpresas, um pontífice vir à frente dos seus mais próximos para dizer que, feito o exame de consciência, quanto já seria belo pensar nesta Igreja, por sua Cúria, mas também por todos os cristãos, dioceses, comunidades, congregações, paróquias e movimentos eclesiais, em harmonia consigo próprios e com o próprio Cristo. Então, diz ele, padecemos todos, hierarquia e povo de Deus, de quinze mazelas, quantificadas sistematicamente, doenças ou tentações que até nos impedem de viver plenamente a data presente, deste grande sinal que foi o filho de Deus nascer pobre e humildemente para nos ensinar algo que corações duros insistem em não aprender. Recomendo a você, a leitura de todo este pronunciamento marcante que nos serve também para que não se estabeleça nenhuma dicotomia, nenhuma segregação ao juízo intempestivo de que somos uns, de outras doenças orgânicas e há, à margem disto, uma Igreja de ministros que sofre por outras angústias. O Papa Francisco também nos adverte, Aguinaldo, o quanto nos parece que somos suficientes a ponto de sequer fazer a sua própria autocrítica; o quanto mais nos preocupamos com o trabalho, sem tempo para ouvir a mensagem; o quanto somos homens de dura mentalidade e que se perdem sem serenidade interior; o quanto somos excessivamente pragmáticos no que planejamos e contabilizamos materialmente; o quanto nem parece, mas padecemos de uma certa diminuição progressiva das nossas faculdades espirituais, vivendo num estado de absoluta dependência de pontos de vista, muitas vezes imaginários; o quanto somos pelo excessivo valor da aparência, que nos leva a ser falsos e a viver uma falsa mística; o quanto estamos doentes e vitimados por uma vida dupla, fruto da hipocrisia e da vivencia de um progressivo vazio espiritual ao buscar em títulos o sentido de nossas vidas. É oportuna uma boa reflexão do que nos diz Francisco, Aguinaldo, especialmente para sinalizar com que indiferença reagimos à vida comunitária, pela perda da sinceridade e calor nas relações humanas; o quanto por medo ou insegurança deixamos de ser pessoas que se esforçam em cortesia, serenidade e entusiasmo; e o quanto por esta insegurança somos levados a acumular riquezas na tentativa de preencher um vazio existencial no coração, por vezes vivendo em pequenos grupos,  pelo exibicionismo da lucratividade mundana, absolutamente desonesta. Diante destas considerações de tão boa hora, espero logo reencontrá-lo para esticar esta conversa, ao tempo que a vida vai me proporcionar a agradabilíssima oportunidade de abraça-los, você Aguinaldo, Fátima e seus filhos e netos, exatamente porque, assim parece ser o plano de Deus.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 26.12.2014)