quarta-feira, 2 de setembro de 2015

BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
185: (01.09.2015) Boa Tarde para Você, José Ivan 
Das mudanças experimentadas pelo comércio local está o desaparecimento de lojas de tecidos, a lembrar as Pernambucanas, a Alencar, a Rosada, a Branca, a Simpatia, o Primeiro de Maio, a Feijó, a Pessoa Filho, a Daher, a Abraão, a Celeste, a do Gumercindo, a Sampaio, a Cruzeiro, e outras. Ontem, a propósito de prazeroso encontro com um novo amigo, este José Ivan de que agora lhes falo, surgiu a interessantíssima conversa sobre uma destas nossas coisas mais antigas, nos remetendo ao encontro sentimental com as velhas alfaiatarias e seus mestres sempre lembrados. Ivan, ou pelo nome com o qual ninguém o reconhece, José Pereira Filho, está indo para os seus setenta e cinco anos, posto que nascido no antigo Junco, hoje o município de Grangeiro, em 05.05.1941, e que aos quinze anos de idade já era um aprendiz de alfaiate nesta cidade. Ao decidir-se por esta profissão, a primeira e única em sua vida, Ivan seguia uma vocação familiar, porquanto entre avós, pais, irmãos e tios, vários haviam se dedicado a costurar roupas sob encomenda, deixando para ele o gosto por esta tradição, a ponto de estimulá-lo profissionalmente. Em Juazeiro do Norte, a partir de 1956, Ivan foi aprendiz de um pequeno atelier, uma destas modestas alfaiatarias de antigamente, do mestre José Magalhães, na Rua São Pedro, endereço que frequentei muitas vezes para fazer minhas roupas, especialmente daquela fase de fardas escolares. Naquele tempo, além do Zé Mago, poderíamos, os rapazes e os senhores, encontrar pelas ruas da cidade um grande número de opções de oficinas de alfaiatarias que as reconheceríamos pelos nomes de seus mestres: Pedro Gomes, Expedito Vieira de Alcântara, Gilberto e José Catão, Expedito Ferreira Lima, Moura, Geraldo e João Martins, Heitor Sampaio, João Temóteo, Vicente Batista, José Soares e Lauro Alfaiate, para citar uns poucos, cometendo o pecado de graves omissões. Meu agora amigo José Ivan, me permitiu há poucos dias este reencontro com a velha tradição que se definha, porque hoje há uma prevalência enorme de consumo de confecções de etiquetas, frente este antigo gosto particular de comprar tecido e mandar fazer o que se deseja, por gente experimentada no exercício de profissão quase em extinção. Na geração de Ivan, a capacitação desta velha alfaiataria passava por bem maturada experiência diária das oficinas, com as tarefas importantes de medições, corte e costura, levando o profissional à prova maior de realizar o terno, com as peças mais importantes de paletó, smoking e jaquetão. Infelizmente, reconhece Ivan, não houve, como não há ainda hoje, uma iniciativa, senão na seara da confecção feminina para a formação de novos quadros, uma vez que também para esta demanda há ainda alguma saudade dos tempos de Juraci Marcolino, de dona Tudinha, de minha tia Etercília Pimentel e de Santinha Figueiredo. Seguramente, o grande desenvolvimento de novos materiais, como os tecidos sintéticos, contrapostos à tradição dos linhos e tropicais de marcas consagradas, como Aurora, Santista e Maracanã, dinamizaram a indústria nacional de confecções e retiraram as velhas oficinas da cena. Ao tempo em que novas máquinas e novas tecnologias agregaram grande versatilidade e modelos, padrões e acessórios, as velhas alfaiatarias foram perdendo espaço para o comércio intenso de confecções, que demonstra e assim se conserva e amplia na vitalidade do setor de moda e vestuário. Aqui entre nós, Ivan lembra que a ainda em meados dos anos 50, Expedito Vieira de Alcântara inovou por ser a primeira etiqueta de confecções local, iniciando com sua camisaria, vizinha ao antigo Cine Avenida, os negócios de confecções de medidas padronizadas, sucesso para a época.Enfim, o velho predicado buscado com simplicidade e a exigência de que a vestimenta lhe caia bem, continua animando os negócios de roupas prontas e com maior intensidade os serviços de  poucas alfaiatarias tradicionais da cidade que se conservam resistentes, sobrevivendo aos tempos. É o caso desta Alfaiataria Werlly, de José Ivan, situada na Clovis Beviláqua, ponto de parada obrigatório desta memória e destas conversas que se alongam em muitas histórias vividas, contadas e recontadas entre atores desta profissão e clientes que se confessam satisfeitos pelas encomendas. Nesta tarde, saúdo você, José Ivan, parte indissociável destas lembranças do comércio e dos serviços desta heróica cidade que o adotou e que hoje resiste e se impõe bravamente por uma competência construída com dignidade e que continua fazendo com brilho a sua arte de costura.   
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 01.09.2015)

O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI

CINEMATÓGRAPHO (SESC, JN)
O Cinematógrapho (SESC, Rua da Matriz, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, começa a exibir no próximo dia 2, quarta feira, às 19 horas, os diversos filmes sob o título global de Dekalog (O Decálogo), uma série cinematográfica polonesa, de 1989, originalmente produzida para uma minissérie de televisão, dirigida por Krzysztof Kieslowski e co-escrita por ele e por Krzysztof Piesiewicz, com trilha sonora d e Zbigniew Preisner. A série consiste em dez filmes de aproximadamente uma hora de duração, cada um representando um dos dez mandamentos, explorando possíveis significados dos mandamentos - considerados freqüentemente ambíguos e contraditórios - inserindo-os numa história ficcional ocorrida na Polônia moderna. É o trabalho mais conhecido e aclamado de Kieślowski, tendo recebido diversos prêmios internacionais. Embora cada filme seja independente, a maioria obedece o mesmo roteiro (um conjunto habitacional grande em Varsóvia), e alguns dos personagens estão familiarizados uns com os outros. O grande elenco inclui atores famosos e desconhecidos, muitos dos quais também foram utilizados em outros filmes de Kieślowski. Normalmente, para Kieślowski, o tom da maioria dos filmes é melancólico, com exceção do último filme, que, assim como Trois couleurs: Blanc é  uma comédia de humor negro, e apresenta dois dos mesmos atores, Jerzy Stuhr e Zbigniew Zamachowski. A série foi concebida quando Krzysztof Piesiewicz, que havia visto uma obra de arte do século 15 mostrando os Mandamentos em cenas desse período, sugeriu a ideia de um equivalente moderno. Krzysztof Kieslowski estava interessado no desafio filosófico e também queria usar a série como um retrato das dificuldades da sociedade polonesa, enquanto deliberadamente evitando as questões políticas de seus filmes anteriores. Ele originalmente tinha em mente contratar 10 diretores diferentes, mas decidiu que ele mesmo iria dirigir os filmes, embora utilizando uma fotografia diferente para cada, com exceção dos episódios III e IX, onde ambos tiveram ​​Piotr Sobocinski como diretor de fotografia. Uma obra monumental e indispensável que foi vencedora do Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, e que consagrou Kieslowski.

Dia 02/09/2015: AMARÁS A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS (Décalogo 1, Dekálog 1, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). Um professor universitário que acredita na razão e nas forças das leis da ciência, convive com seu filho de 10 anos, dividido entre a crença científica paterna e a fé religiosa de uma tia. NÃO INVOCARÁS O SANTO NOME DE DEUS EM VÃO (Décalogo 2, Dekálog 2, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). Mulher engravida de seu amante e resolve abortar, caso seu marido, gravemente enfermo, se recupere. Uma reflexão profunda sobre morte e uma nova vida, quando elas conflitam entre si e a visão do grande diretor polonês.

Dia 09/09/2015: GUARDARÁS DOMINGOS E FESTAS DE GUARDA (Décalogo 3, Dekálog 3, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). Para procurar seu marido, desaparecido durante a véspera do Natal, mulher pede ajuda a um antigo amante, relembrando durante o encontro, o relacionamento tumultuado que tiveram no passado. HONRARÁS PAI E MÃE (Décalogo 4, Dekálog 4, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). O relacionamento afetuoso entre um viúvo e sua filha de 20 anos sofre alterações quando esta descobre, por meio de cartas escritas pela mãe, que ele não é seu verdadeiro pai.

Dia 16/09/2015: NÃO MATARÁS (Décalogo 5, Dekálog 5, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). Um crime ocorrido em Varsóvia une três personagens: um desocupado, um taxista e um advogado em início de carreira. NÃO COMETERÁS ADULTÉRIO (Décalogo 6, Dekálog 6, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). Jovem tímido declara seu amor a uma vizinha e fica decepcionado ao descobrir que ela encara com extrema liberdade uma possível relação entre eles.

Dia 23/09/2015: NÃO ROUBARÁS (Décalogo 7, Dekálog 7, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). Garota entrega sua filha para a avó criar e se passa por sua irmã. Quando a criança está com 6 anos, a verdadeira mãe resolve aproximar-se, levantando antigas mágoas entre as duas mulheres. NÃO LEVANTARÁS FALSOS TESTEMUNHOS (Décalogo 8, Dekálog 8, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). Pesquisadora judia encontra-se com uma professora de Ética da universidade que, há 45 anos, negara-lhe ajuda durante a Segunda Guerra Mundial, pois sendo católica, não podia cometer falso testemunho.

Dia 30/09/2015: NÃO DESEJARÁS A MULHER DO PRÓXIMO (Décalogo 9, Dekálog 9, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). Ao descobrir que o marido é impotente, mulher envolve-se com um jovem amante, criando uma situação conflituosa para si e seu marido. NÃO COBIÇARÁS COISAS ALHEIAS (Décalogo 10, Dekálog 10, Dir. Krzysztof Kieslowski, Polônia, 1988, 60min). Com a morte de um filatelista que em vida mal se dedicava a sustentar a família, uma verdadeira fortuna em selos é descoberta. Seus dois filhos são obrigados a tomar medidas de segurança para proteger a inesperada herança.