quinta-feira, 18 de dezembro de 2014



BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
096: (17.12.2014) Boa Tarde para Você, Vanderlúcio Lopes Pereira
A primeira coisa que desejo dizer-lhe, Vandinho Pereira, é que neste ano que estamos encerrando, frequentemente eu estive à frente da televisão para vê-lo conduzir, e com tal entusiasmo, o Ceará Diverso, e estas foram oportunidades de grande enlevo, a partir das quais me tornei seu admirador. Pouquíssima coisa desta nossa televisão, e lamentavelmente da produção local, se assemelha em cuidados e conteúdos como o programa que você vem apresentando na Tv Verde Vale, há pelo menos sete anos.  Isto necessita ser bem visto e assistido, pois não há como esconder que vivemos numa região de grandes predicados culturais e populares, algo que está permanentemente exigindo apoio e oportunidade de divulgação para fortalecê-los como legítimas e valiosas manifestações artísticas. O que mais me chama a atenção, Vandinho, é o modo como a partir da cantoria, especialmente, você tem feito uma grande animação cultural pela mídia televisiva, talvez a mais importante que ora se realize cotidianamente, dada a frequência de como ela acontece através do programa e de outras atividades como festivais de cantadores e noites de violas. Há na sua agitação, uma riqueza que se espalha pelos mais diversos ambientes, itinerante por tantas comunidades e centros culturais, para realizar programações que contemplam lançamentos de cordéis, CDs e DVDs, livros e apresentações de um sem número de cantadores e mestres desta cultura popular. Mas é isto mesmo, Vandinho, pois a cultura que você nos apresenta nesta diversidade de Ceará, que é um ótimo espelho de Nordeste e de Brasil, é a consequência inevitável da mais ampla interação entre o povo e o seu ambiente, e que se manifesta por crenças, pela arte, pela linguagem, pelos hábitos, pelas tradições, pelo folclore, pelo artesanato e por seus costumes. O seu programa é rico nesta diversidade, desde a boca de cena que o ambienta e segue pelo roteiro no qual se inserem personagens, artistas e circunstâncias da mais expressiva riqueza cultural de nossa gente. Assisti-lo, pelo menos para mim, é experimentar um sensação gratificante que nos coloca ao lado de um gênero que ainda padece de largo preconceito, como se o verso popular fosse a imagem do arcaico e do ultrapassado, algo como a arte de um analfabeto, como nos adverte Pedro Ernesto Filho, no seu mais recente e belo trabalho sobre a Cantoria. O seu notável esforço, Vandinho, é parte desta cruzada pela desmistificação destes conceitos e preconceitos, principalmente para não estender uma polêmica a partir de uma segregação desinteligente e que estabelece confrontos desnecessários, como se tivéssemos polos de cultura de elite e polos de cultura popular. O que o Ceará Diverso nos mostra a cada dia está verdadeiramente impregnado de uma genialidade construída por tradições e costumes e que resiste à mais leviana insinuação de que se trata de algo superficial, não deixando de contribuir para fortalecer tantos artistas na sua própria profissão. Desejo também enaltecer este espírito que sua ação exerce frente a este programa, promovendo em suas edições o esclarecimento, o conhecimento pedagogicamente apresentado para suportar uma mensagem que nos assegura o quanto esta cultura nos deleita, mas principalmente nos enriquece. Eu o cumprimento com entusiasmo, Vandinho Pereira, porque neste mister você também se tornou um  grande mestre.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 17.12.2014)


ARTIGO: CORONEL CÂNDIDO DO PAVÃO
 

João Tavares Calixto Junior
O Coronel Cândido Ribeiro Campos (Cândido Fernandes da Silva), conhecido em seu tempo por Cândido do Pavão, era natural do sítio Antas em Aurora. Filho de Matias Fernandes da Silva (pedreiro que trabalhou na ampliação da Capela do Senhor Menino Deus em 1864) e Antônia da Encarnação Monteiro, substituiu o sobrenome Fernandes da Silva por Ribeiro Campos, por ocasião de “qualificar-se”, para tirar o título eleitoral. Foi um dos mais importantes chefes políticos do Cariri em sua época, e pai de prole numerosa, sendo o Padre Januário Campos, o filho de atuação mais marcante. Casou-se com Ana Maria de Jesus (Naninha), instalando-se no sítio Martins, de seu tio materno João Monteiro. Transferiu-se em 1902 para o sítio Pavão, antiga propriedade do mosteiro de São Bento, de Olinda, à época, em poder do padre Cícero Romão Batista, que a havia comprado. Era encarregado da cobrança dos dízimos dos que ocupavam as terras sob o domínio eclesiástico, as quais mediam três léguas de comprimento por uma légua de largura, de ambos os lados do rio Salgado, estendendo-se do riacho dos Mocós até o riacho do Juiz. Tornou-se, por força da arrecadação das alíquotas, de grande confiança do Padre Cícero Romão Batista, o que lhe conferiu notoriedade, ocupando cargos importantes em Aurora, como o de suplente de Juiz substituto, presidente da Câmara e Prefeito Municipal, cargo, este último, ocupado em face aos fatídicos episódios de 1908, onde, com a deposição do coronel Totonho do Monte Alegre, assume ele, Cândido do Pavão, o cargo de Intendente Municipal de 1908 a 1914, e posteriormente, de 1921 a 1926. Em carta do Padre Cícero ao Cel. Cândido do Pavão, datada de 13 de outubro de 1916, observa-se referências sobre a situação de perda de seu rebanho bovino, ora localizado em suas terras em Aurora. Segue trecho do lançamento:
“... A paz de Deus o guarde e família. Tendo precisão de fazer minha criação de gado e animais nesta propriedade que comprei aos padres de S. Bento, mandei lá José Xavier e o meu vaqueiro e disseram-me eles que o lugar que presta é o Pavão. Havia passado procuração bastante ao Sr. José Xavier para tratar de qualquer negócio com qualquer um que estivesse no lugar mais apropriado, e resolver, como fosse justo. O Pavão foi o melhor que acharam. Portanto, não estranhe em exigir para estabelecer-me que boto aí, eu perco o resto da criação que está mal colocada. Portanto, lhe aviso que não posso mais arrendar aí, e em janeiro mandarei o José e o vaqueiro para aí. A respeito de sua casa, cercados, indenizo por preço razoável. Eu lhe digo com pena porque lhe desejo a si e a todos todo bem que posso desejar, porém não tenho outro lugar que se preste para a criação que já estou perdendo. É muito melhor que compre uma propriedade onde firme seus trabalhos e deixe sua família colocada em propriedade sua. Reflita bem que verá que é mais justo e melhor. De seu amigo e compadre. P. Cícero Romão Batista”.

Participante no famoso episódio do "Pacto dos Coronéis", representando o município de Aurora, Cândido atuou de forma ativa na truculenta briga pelo litígio do poder no Cariri, figurando em diversas cenas do coronelismo regional, como na "Questão do Coxá", Ataque de 8 em Aurora, Morte de Izaías Arruda, entre outros. Veio a falecer aos 24 de julho de 1936.

ARTIGO: BENJAMIN ABRAHÃO POR FREDERICO PERNAMBUCANO
Batista de Lima
Conheci Frederico Pernambucano de Mello através de seus escritos, especialmente, "Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil". Recentemente, no entanto, chegou-me às mãos e aos olhos "Benjamin Abrahão: entre anjos e cangaceiros". Esse recente contato livresco traz o prefácio com o crivo de Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, professor de Sociologia da Universidade Federal do Ceará. Nesse prefácio o professor da UFC lembra o "teor solene e heráldico" com que Frederico ilustra a escritura de seus livros, entre eles, "Estrelas de couro: a estética do cangaço", de 2010, minha próxima leitura. Para essas leituras é importante que nos transportemos para as décadas de 1920 e de 1930. Esse foi o período em que mais atuou no Nordeste o imigrante sírio Benjamin Abrahão. Mesmo não chegando a ir além dos 37 anos de idade, sua vida foi marcada por impressionante dinamismo. Foi da confiança do Padre Cícero. Tão próximo que chegou a cuidar das finanças do Padre. Isso o levou a cair na desconfiança da Beata Mocinha e de Floro Bartolomeu. Entretanto, sua grande façanha foi filmar Lampião. Para isso contou com o respaldo técnico da Aba-Film cearense, da família Albuquerque. Foi tão marcante esse Abrahão que a gente lamenta sua morte prematura. Esse livro de Frederico Pernambucano de Mello lança um olhar sobre um Nordeste brasileiro em que o Cangaço, a Coluna Prestes, as volantes policiais e o Batalhão Patriótico se tornaram tão contundentes para o nordestino do campo quanto as grandes secas que devastaram a região. O resultado dessas demandas foi o êxodo rural e o abandono das pequenas propriedades. As cidades cresceram e o campo passou para o domínio dos grandes proprietários que podiam manter verdadeiras milícias de jagunços sob sua proteção. Foi nesse contexto que Benjamin Abrahão Calil Botto teve seus dias de glória e sua decadência. Segundo Frederico Pernambucano de Mello, Benjamin Abrahão chegou ao Brasil pelo porto do Recife em 1915. Possuía parentes na Capital pernambucana. Nascera em 1901 na mesma região em que Jesus veio ao mundo. Disso se aproveitou em muitas ocasiões para fantasiar suas histórias como conterrâneo de Cristo e angariar a atenção dos nordestinos do Sertão. Com pouco tempo depois estava chegando a Juazeiro do Norte e conquistando a confiança do Padre Cícero, que lhe cedeu a máquina fotográfica que recebera de presente. A partir dessa aproximação do sírio com o Patriarca do Juazeiro, o pesquisador começa a mostrar a ascensão do conterrâneo de Jesus, e sua saga pelo Nordeste de fanáticos e cangaceiros. Daí que a figura do biografado passa a um segundo plano, e o personagem principal do livro chega a ser o Nordeste. Isso porque Frederico Pernambucano, como pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, tem estudado essa nossa região, rastreando os ingredientes principais que a tornam um caldeirão antropológico riquíssimo ainda não explorado suficientemente. Dessa mina de perfis humanos curiosos, vão desfilando Padre Cícero, Floro Bartolomeu, Beata Mocinha, Beato José Lourenço, Benjamin Abrahão, Lampião, Agamenon Magalhães, Severino Tavares, João Martins de Athayde e Getúlio Vargas. Essa apenas a relação principal, porque como coadjuvantes vão surgindo beatos, cangaceiros, fanáticos, coronéis, volantes, jagunços, penitentes, tudo assentado numa região em que há mais secas que invernos. Violeiros, mascates e comunistas também se misturam nessa fauna humana de tipos propícios a uma análise profunda para se entender essa convivência sociológica. Nesse palco de variadas personas, Benjamin prospecta uma ascensão social. Procura então contato com o tipo mais arisco e mais representativo, talvez, do choque dessas naturezas variadas. Lampião é seu objeto de pesquisa, montado que é numa problemática provocada pelo entrechoque dessas diferentes tendências. Daí conseguir entrevistar o Rei do Cangaço, fotografá-lo e filmá-lo nos seus momentos de descanso na caatinga. Consegue o que polícias de sete estados, por 20 anos, não conseguiram, prender Lampião e seus homens em imagens que nos chegam até hoje. Benjamin Abrahão conseguiu com seu grande feito, mexer com os brios do aparelho policial do Nordeste e com os políticos do mais alto escalão do País. Foi exatamente esse grande feito do sírio o ponto culminante da escritura de Frederico Pernambucano de Mello. Se não fossem as inexplicáveis subjetividades guardadas no coração, Benjamin Abrahão não teria sido assassinado na noite de 7 de maio de 1938, aos 37 anos de vida. Se não fora essa paixão não correspondida por uns olhos negros já compromissados, o irrequieto Benjamin muito ainda teria feito neste país de nordestinados, e Frederico Pernambucano de Mello ainda teria muito que garimpar de sua vida e de seus feitos.
(Diário do Nordeste, Fortaleza, 16.12.2014)


ESTACIONAMENTO ROTATIVO ELETRÔNICO
O Diário Oficial do Município de Juazeiro do Norte publicou no dia 16, ontem, um Aviso de Licitação para Concorrência Pública, como providência para a Implantação, Operação, Manutenção e Gerenciamento do Sistema de Estacionamento Rotativo Eletrônico Pago de Veículos Automotores nas Vias e Logradouros Públicos da Cidade, denominado de “Estacionamento Rotativo De Juazeiro Do Norte”. Eis os seus termos: AVISO DE LICITAÇÃO. CONCORRÊNCIA PÚBLICA Nº 2014.11.18.01. ESTADO DO CEARÁ – PREFEITURA MUNICIPAL DE JUAZEIRO DO NORTE – AVISO DE CONCORRÊNCIA PÚBLICA Nº 2014.11.18.01. O Presidente da CCL do Município de Juazeiro do Norte/CE torna público para conhecimento dos interessados que, no próximo dia 19 de Janeiro de 2015, às 09:00 hs na Sede da Comissão Central de Licitação localizada na Praça Dirceu de Figueiredo, s/n, Bairro Centro, Juazeiro do Norte/CE, estará realizando sessão para recebimento e abertura dos envelopes de Documentos de Habilitação e Propostas de Preços para o objeto: CONCESSÃO ONEROSA, PARA A IMPLANTAÇÃO, OPERAÇÃO, MANUTENÇÃO E GERENCIAMENTO DO SISTEMA DE ESTACIONAMENTO  ROTATIVO ELETRONICO PAGO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES NAS VIAS E LOGRADOUROS PÚBLICOS DA CIDADE, DENOMINADO DE “ESTACIONAMENTO ROTATIVO DE JUAZEIRO DO NORTE”. O edital e seus anexos encontram-se disponíveis no endereço acima, das 8:00 às 17:00 horas. Juazeiro do Norte/CE, 15 de Dezembro de 2014. José Wilson Marques Junior – Presidente da CCL.
(Obs.: A ilustração que pusemos é uma foto recente do jornal A Imprensa (Mato Grosso) divulgando a implantação deste serviço naquela capital. O sistema, sem dúvida alguma, é mais avançado do que o atual sistema de Zona Azul, e deverá ser totalmente automatizado, dispensando a comercialização de talões, por ser eletrônico. O serviço a ser terceirizado é, como diz o Aviso, na condição de Concessão Onerosa.)