quinta-feira, 7 de setembro de 2017


BOM DIA!
A ESTRELA DO CEARÁ (I)
Por Renato Casimiro 
Maria Gonçalves da Rocha Leal, ou Maria Gonçalves, ou Dona Gonçalves, ou simplesmente Gonçalves, como vi diversas pessoas assim a tratarem, era uma juazeirense notável, aqui mesmo em sua terra, na juventude, e que se notabilizou mais ainda por galgar posições de grande relevo, tanto em sua terra, no Cariri, no Ceará e pelo Brasil. Talvez não seja estranho que reconheçamos que Maria Gonçalves, pela trajetória que cumpriu, especialmente como educadora, tenha ótimas referências em alguns setores pelo mundo. Conheci-a, pelos anos 70, e isso foi um enorme privilégio. Ficou por esses anos a imagem cristalina de uma mulher extraordinária, da qual o seu Estado muito deve se orgulhar. Vários anos depois de sua morte, seu nome estava fixado num edifício junto ao meu trabalho na UFC, nomeando o Centro Acadêmico (CA) do Curso de Economia Doméstica, do Centro de Ciências Agrárias, hoje extinto (na verdade, substituído pelo de Gastronomia). Para meu espanto, os que assim procederam, com esse batismo meritório, não conseguiam explicar mais fartamente a razão desse amadrinhamento, a não ser que ela tenha sido muito importante para a constituição daquele curso. E isso era muito pouco para seu perfil. Aliás, por minha iniciativa, já que tinha em arquivo, eu doei para uma parede do CA uma das duas fotos que tinha na época (essa que aí está encimando), em reprodução de grande tamanho, porque nem isso lá existia. Espero que ainda exista, pois a iniciativa visava também preparar a casa para a celebração do centenário de nascimento de sua madrinha, tão desconhecida. Terminaram por me fazer orador oficial da cerimônia, exatamente no dia 23.11.1999, uma terça feira à tardinha. E para não esquecer jamais, eu tive que deixar toda a assistência presa à leitura de minhas notas para exaltar a amiga que tivera por tão pouco tempo. Conheci Gonçalves em meados de 1973, mas somente até 1976 estive em visita à sua residência, diversas vezes, na Rua Joaquim Alves, 66, aprazível apartamento 122, do Ed. Tabajara, na Praia de Iracema. Como entre janeiro de 1977 e dezembro de 1980, eu passei a residir em São Paulo, estudando para o doutoramento na USP, perdi Gonçalves de vista, e essa amizade não se estendeu, me rendendo apenas, no início de 1980, exatamente no dia 17 de fevereiro, a triste notícia de seu falecimento. Na primeira visita que lhe fiz, num sábado à tarde, ingenuamente eu lhe pedi que me contasse sua história. Fez-se na sala um intervalo silencioso que se quebrou quando ela, visivelmente emocionada, me disse: “Eu nasci em Joazeiro, em 23 de novembro de 1899. Tenho 84, quase 85 anos, e sou um dos frutos do amor que houve entre Cândida da Rocha Leal Gonçalves e João Francisco Gonçalves...” À noitinha, saí dali carregando na mão papeis cheios de notas e na alma o sentimento de que seria necessário fazer de tudo para jamais esquecer aquele encontro. Na semana passada dois momentos me fizeram recordar a grandeza de sua existência. No primeiro deles, reencontro os apontamentos que tomei numa dessas visitas, aperreando lhe o juízo, para conhece-la ainda mais, pelo lado de uma biografia exemplar, e que tocava, especialmente a sua origem juazeirense, a sua formação educacional, a experiência profissional que recheara sua existência, as distinções que merecera, e um pouco de sua contribuição às letras, entre a prosa e o verso. Intrigava-lhe, na sua modéstia, que eu abrisse bloco de notas e fosse copiando as informações que me passava, com certa timidez, muito típica – diga-se, daquelas pessoas muito simples, característica bem vistosa de valores excepcionais. Gonçalves era isso, já me advertira Pe. Azarias Sobreira ao me encaminhar para esse encontro, e ao meu juízo mais superficial, alguém que não gostava de falar de si, não bastassem as evidências tão bem justificadas. As primeiras letras Maria Gonçalves conseguiu lê-las na escola da “beata Cotinha”, Maria Cristina de Jesus Castro, uma potiguar diplomada pela Escola Normal de Natal. Nessa época, Joazeiro tinha outras opções, como as escolas de José Marrocos (o Pedagógico, anexo da Capela), e as outras escolas particulares, como a de Josefa de Alcântara Leite (Dedé Leite), a do mestre Guilherme Ramos de Maria, a de Maria Luiza Furtado, a de Raimunda Lemos, etc. Mais objetivamente, principio por rememorar a sua formação mais relevante, assim me diria, a de um curso pedagógico. Sua primeira inclinação foi de escolher, dentro da escola pública a melhor opção. E ela estava na Escola Normal, em Fortaleza. Então, entre 1919 e 1923 ela cumpriu com brilhantismo esse início da sua formação profissional como educadora. Ao finalizar a jornada destacou-se como a primeira da classe, e ganhou o privilégio de ser a oradora da turma, paraninfada pelo grande cearense Antonio Theofilo da Justa Gaspar de Oliveira. Isso aconteceu na então Escola Normal Pedro II, que nessa época funcionava no pavimento térreo do então Fenix Caixeiral (Rua Guilherme Rocha esquina com Rua 24 de Maio). Ainda em 1921 Gonçalves conheceu o jovem Manoel Bergstrom Lourenço Filho, paulista que havia cursado Escola Normal, mas também cursaria Direito e Medicina. Brilhante, ele foi contratado pelo Estado do Ceará para dirigir a Instrução Pública do Estado e foi seu professor na Escola Normal. Seu trabalho durou dois anos e meio no Ceará, e uma ocasião veio a Juazeiro, e dessa incursão publicou um livro muito polêmico denominado Juazeiro do Padre Cícero. Esse prévio conhecimento com Lourenço Filho resultou noutra importante etapa da formação intelectual de Maria Gonçalves que ela viveria no Rio de Janeiro, entre 1932 e 1933, como ainda veremos. Bom dia.

(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 07.09.2017)

O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI

CINE JURIS (FAP, JUAZEIRO DO NORTE)
A Faculdade Paraiso do Ceará (FAPCE) está incluída no circuito alternativo de cinema do Cariri, embora seja restrito aos alunos desta Faculdade. As sessões são programadas pela Coordenação do Curso de Direito, para um sábado por mês, de 8:30 às 11:30h, na Sala de Vídeo da Biblioteca, na Rua da Conceição, 1228, Bairro São Miguel. Informações pelo telefone: 3512.3299. Neste mês de setembro, dia 9, estará em cartaz, o filme A CHEGADA (Arrival, EUA, 2016, 116min). Direção de Denis Villeneuve. Sinopse: Quando seres interplanetários deixam marcas na Terra, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista especialista no assunto, é procurada por militares para traduzir os sinais e desvendar se os alienígenas representam uma ameaça ou não. No entanto, a resposta para todas as perguntas e mistérios pode ameaçar a vida de Louise e a existência de toda a humanidade.
CINE GOURMET (FJN, JUAZEIRO DO NORTE)
A Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) agora também está incluída no circuito alternativo de cinema do Cariri. As sessões são programadas para as terças feiras, duas vezes ao mês, de 15:00 às 17:00h, no Auditório do Bloco I, na Rua São Francisco, 1224, Bairro São Miguel, dentro do seu Projeto de Extensão denominado Cine Gourmet, sob a curadoria de Renato Casimiro. Informações pelo telefone: 99794.1113. No próximo dia 12, estará em cartaz, o filme A FESTA DE BABETE (Babettes gæstebud; Dinamarca, 1987, 103min). Direção de Gabriel Axel. Sinopse: Em 1871, em noite de tempestade, Babette (Stéphane Audran) chega a um vilarejo na Dinamarca, fugindo da França durante a repressão à Comuna de Paris. Ela se emprega como faxineira e cozinheira na casa de duas solteironas Filippa (Bodil Kjer) e Martine (Birgitte Federspiel), filhas de um rigoroso pastor. Ali ela vive por doze anos, até que um dia fica sabendo que havia ganhado uma fortuna na loteria e, ao invés de voltar à França, ela pede permissão para preparar um jantar em comemoração aos centésimo aniversário do pastor. A princípio, os convidados ficam assustados, temendo ferir alguma lei divina ao aceitar um jantar francês, mas acabam comparecendo e se deliciam com a festa de Babette.
SESSÃO CURUMIM (CARIRIAÇÚ)
O Centro Cultural BNB promove de forma itinerante (Sessão Curumim) uma sessão de cinema para crianças, com entrada gratuita, exibe no dia 12, terça feira, às 8 horas, na E. E. F. Julita Farias, em Caririaçú, o filme O MÁGICO DE OZ (The Wizard of Oz, EUA, 1939, 101 min). Direção de Victor Fleming. Sinopse: Em Kansas, Dorothy (Judy Garland) vive em uma fazenda com seus tios. Quando um tornado ataca a região, ela se abriga dentro de casa. A menina e seu cachorro são carregados pelo ciclone e aterrisam na terra de Oz, caindo em cima da Bruxa Má do Leste e a matando. Dorothy é vista como uma heroína, mas o que ela quer é voltar para Kansas. Para isso, precisará da ajuda do Poderoso Mágico de Oz que mora na Cidade das Esmeraldas. No caminho, ela será ameaçada pela Bruxa Má do Oeste (Margaret Hamilton), que culpa Dorothy pela morte de sua irmã, e encontrará três companheiros: um Espantalho (Ray Bolger) que quer ter um cérebro, um Homem de Lata (Jack Haley) que anseia por um coração e um Leão covarde (Bert Lahr) que precisa de coragem. Será que o Mágico de Oz conseguirá ajudar todos eles?
SESSÃO CURUMIM (JUAZEIRO DO NORTE)
A Sessão Curumim também ocorre no próximo dia 14, quinta feira, às 14 horas, no Orfanato Jesus Maria José (Rua Cel. Antonio Pereira, 64, Santa Tereza, em Juazeiro do Norte, o mesmo filme 14h - O MÁGICO DE OZ (The Wizard of Oz, EUA, 1939, 101 min). Direção de Victor Fleming (mencionado antes)
CINE CAFÉ VOLANTE (URCA, MISSÃO VELHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Missão Velha (URCA, Campus Missão Velha, Rua Cel. José Dantas, 932 – Centro), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 14, quinta feira, às 19 horas, o filme TEMPOS MODERNOS (Modern Times, 1936, EUA, 83min). Direção de Charles Chaplin. Sinopse: Um operário de uma linha de montagem, que testou uma "máquina revolucionária" para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela "monotonia frenética" do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. Simultaneamente uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs famintas, que ainda são bem garotas. Elas não tem mãe e o pai delas está desempregado, mas o pior ainda está por vir, pois ele é morto em um conflito. A lei vai cuidar das órfãs, mas enquanto as menores são levadas a jovem consegue escapar.
CINE CAFÉ VOLANTE (CASA GRANDE, NOVA OLINDA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Nova Olinda (Fundação Casa Grande), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 15, sexta feira, às 19 horas, o filme A FRATERNIDADE É VERMELHA (Trois couleurs: Rouge, FRA, 1994, 100 min). Direção de Krzysztof Kieslowski. Sinopse: Uma modelo (Irène Jacob) atropela o cão de um juiz aposentado (Jean-Louis Trintignant), que tem o estranho hábito de ouvir as conversas telefônicas de outras pessoas. Este fato será o ponto de partida para uma singular amizade.
CINE CAFÉ VOLANTE (FAMED, BARBALHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Barbalha (Auditório da Faculdade de Medicina), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 15, sexta feira, às 19 horas, o filme DÚVIDA (Doubt, EUA, 2008, 104 min). Direção de John Patrick Shanley. Sinopse: 1964. O carismático padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) tenta acabar com os rígidos costumes da escola St. Nicholas, localizada no Bronx. A diretora do local é a irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), que acredita no poder do medo e da disciplina. A escola aceitou recentemente seu primeiro aluno negro, Donald Miller (Joseph Foster), devido às mudanças políticas da época. Um dia a irmã James (Amy Adams) conta à diretora suas suspeitas sobre o padre Flynn, de que esteja dando atenção demais a Donald. É o suficiente para que a irmã Aloysius inicie uma cruzada moral contra o padre, tentando a qualquer custo expulsá-lo da escola.
CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, 158, Centro, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no dia 16, sexta feira, às 19 horas, dentro do Festival Mazzaropi, o filme BETÃO RONCA FERRO (BRA, 1970, 100min). Direção de Geraldo Affonso Miranda. Sinopse: Betão (Mazzaropi) trabalha em um pequeno circo mambembe e tem seu emprego ameaçado depois que sua filha se casa e deixa o espetáculo.
CINE CAFÉ (CCBNB, JUAZEIRO DO NORTE)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no dia 16, sábado, às 17:30 horas, o filme AMADEUS (Amadeus, EUA, 1984, 160 min). Direção de Milos Forman. Sinopse: Após tentar se suicidar, Salieri (F. Murray Abraham) confessa a um padre que foi o responsável pela morte de Mozart (Tom Hulce) e relata como conheceu, conviveu e passou a odiar Mozart, que era um jovem irreverente mas compunha como se sua música tivesse sido abençoada por Deus.
CINE GOURMET
A partir do próximo dia 12 de setembro, a Faculdade de Juazeiro do Norte iniciará a execução do Projeto de Extensão denominado Cine Gourmet. São seus objetivos: Constituir no âmbito da FJN uma atividade de Cine Clube, aberto, e voltado para a sua missão de IES através dos seus cursos de Graduação e de Pós Graduação; Estender sua realização a estudantes, professores, funcionários e demais interessados nas áreas de gastronomia, história, cinema, educação, cultura e arte; Exibir 20 (vinte) filmes previamente selecionados, constante da programação 2017-2018 (vide abaixo), em 12 meses; Realizar debates tendo como base os filmes apresentados ao público, como oportunidade para a manifestação de opiniões, dúvidas e sugestões; Compor a atividade com uma degustação de preparos típicos apresentados no filme e produzidos por alunos de gastronomia sob a supervisão de seus professores. O Projeto se justifica pela grande valia que o cinema, como arte, estética, linguagem e recursos audiovisuais empresta ao aprendizado de conteúdos, tanto na sociedade, como atividade diversional e cultural, como também pela sua adequação e versatilidade na sala de aula. Desse modo, o Projeto pretende dinamizar e potencializar os esforços em torno da graduação específica, Nutrição e Farmácia, e brevemente, Gastronomia, levando, igualmente, a ser instrumento ágil e eficiente para ampliar os resultados sobre as atividades acadêmicas de ensino-aprendizagem para outras formações profissionais. A metodologia a ser utilizada assim se descreve: Apresentação das atividades: Seleção de filmes, Programação (calendário, datas, horários, locais); Divulgação das atividades, mediante a veiculação midiática (rádio, jornais, tv, redes sociais, sites na web, cartazes, textos e comentários, com a antecipação mínima de uma semana do evento; Composição prévia de uma mesa de debates organizada com a participação de docentes da instituição e outros convidados; Exibição de filmes previamente selecionados em espaço reservado da Faculdade de Juazeiro do Norte, em datas e horários estabelecidos; Debates sobre a gastronomia, a história, a cultura, a arte, a educação e o cinema tendo como base os filmes apresentados ao público e as leituras previamente sugeridas. A coordenação desse Projeto está a cargo de Renato Casimiro. As atividades acontecerão no Auditório da FJN, à Rua São Francisco, 1224, Bloco I, 1º andar, às terças feiras, de 15 às 17 horas. Veja a Programação prevista para as exibições de filmes

FESTA ALAGOANA PARA ANNETTE
A Câmara Municipal de Maceió concedeu no dia 5, passado, às 9h, a Medalha Padre Cícero à irmã Annette Dumoulin. A honraria foi proposta pelo vereador Francisco Sales (PPL) e aprovada por unanimidade pelo Plenário da Casa. A medalha foi instituída pelo Decreto Legislativo nº 605, de 8 de janeiro de 2017, e conferida aos cidadãos que possuírem relevantes serviços religiosos prestados à sociedade maceioense. Familiares, amigos e religiosos foram convidados a participar da homenagem. Anne Dumoulin nasceu no dia 14 de julho de 1935, na cidade de Liége, na Bélgica, um ano após a morte do padre Cícero. Em 1955, se formou em educação física, na Bélgica, e em 1958 graduou-se em Ciência da Religião, pela Universidade Católica de Louvain, seguida também da formação em Psicologia da Religião, obtendo os títulos de mestre e doutora em Ciência da Educação com especialidade em Psicologia da Religião pela mesma Universidade Católica de Louvain. Ela descobriu sua vocação para a vida religiosa, sendo consagrada no dia 1º de janeiro de 1960. Chegou ao Brasil para estudar e pesquisar as Comunidades Eclesiais de Base (CEBS) e foi morar na periferia do Recife (PE) sob os cuidados de Dom Helder Câmara. Na convivência com o povo, descobre a figura do padre Cícero, de Juazeiro do Norte. Em 1976, irmã Annette pediu exoneração como professora da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica e mudou-se para Juazeiro, onde há 41 anos dedica-se à causa da romaria e dos romeiros.
ANÁLISE DA OBRA DE IR. ANNETTE DUMOULIN
A propósito de Ir. Annette Dumoulin, recebemos e temos o prazer de aqui reproduzir uma belíssima análise do seu livro mais recente, “Padre Cícero, santo dos pobres, santo da Igreja: revisões históricas e reconciliação. Annette Dumoulin. – São Paulo: Paulinas, 2017”. Feita por Francisco Salatiel de Alencar Barbosa (Brasilia). 

Trata-se de uma obra atraente do começo ao fim e de fácil leitura, pois a autora mantém, em grande parte de seu texto, o tom de conversa, documentada na abundante correspondência do Padre Cícero ou nos diálogos fictícios com romeiros. Verdadeira peregrinação com subidas, descidas e paradas para descanso. Caminhada que exige fôlego. A irmã romeira tem um perfil vibrante e é capaz de, indignada, conter sua emoção numa explosão de protesto diante de aberrações. Foi o que percebi, quando do encontro das religiosas com o Cardeal João Braz de Aviz, no mosteiro das beneditinas, em Juazeiro (2014). E ela desabafa: “Prefiro não expressar aqui a reação que tive ante essa revelação”.

Adianto que meu comentário não é resenha da obra, mas impressões variadas. A Irmã Annette é muito mais que romeira. Seu papel, para mim fundamental, assemelha-se ao que foi exercido pelo bispo de Calama, Possídio, que – mesmo na atmosfera de terror com a invasão do Norte da África pelos Vândalos – teve o cuidado de organizar o Catálogo (Elenchus) das obras de Agostinho, já prostrado e à beira da morte (28-8-430). Verdadeira fortuna crítica, pois Agostinho é o único Padre da Igreja Latina, cuja obra chegou-nos quase completa e não cessa de crescer. Haja vista o achado estupendo, na década dos anos 80, de cerca de 26 sermões desaparecidos e de mais de 30 cartas perdidas nos acervos das municipalidades de Mogúncia (Mainz-Alemanha) e de Marselha (Françca) e já utilizado na revisão histórica de um Agostinho que não se revelava apenas o grande teólogo da graça, mas o pastor aflito e apegado a seu rebanho. De acordo com as monumentais biografias de Peter Brown (Santo Agostinho: uma biografia. Trad.inglês. RJ/SP: Ed. Record, 2005) e de Serge Lancel (Saint Augustin. Paris: Fayard, 1999), que já se serviram das coleções críticas desses achados, Agostinho de Hipona, como o Cícero do Juazeiro, recusou-se a fugir da sede de sua diocese, quando o cerco dos bárbaros se fazia iminente e ali permaneceu febril até o último suspiro. 

Um dia, quando se narrar com justiça a história da fortuna crítica do Padre Cícero, creio que a esta irmã romeira, que deixou a cátedra de Lovaina para se embrenhar no Vale do Cariri, aos pés da Serra do Catolé, dever-se-á o maior mérito, num trabalho conjunto com sua irmã de hábito Therezinha Stella Guimarães, fundadoras que foram do Centro de Psicologia da Religião (CPR), em Juazeiro do Norte (CE).

Sua obra coloca um foco bem franciscano, tanto na ênfase da tradição do poverello d´Assisi, como na recuperação da mesma pelo Papa Francisco, o Papa da Misericórdia e de uma Igreja pobre e para os pobres. Creio que essa nova luz faz toda a diferença – e esta obra o apresenta muito bem – para compreender o papel do Padre Cícero no Joaseiro da Mãe das Dores e sua atualidade para uma Igreja pós-conciliar que parecia sem rumo e desanimada. Não é o momento de chamar à colação o que o antecessor de Francisco, ainda como o Cardeal panzer da Congregação para a Defesa da Fé, Joseph Ratzinger, realizou nessa direção, chamada então de reabilitação e que, mais apropriadamente, com Dom Fernando Panico e, agora, com a mensagem do Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, vislumbra-se em termos de reconciliação. O foco pastoral, na esteira da nova evangelização proposta pela V Assembleia do CELAM, em Aparecida (SP- 2007) e, sobretudo, pela Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, não é de modo algum atitude de avestruz que não quer ver, ouvir ou reagir diante de momentosas “questões históricas, canônicas ou éticas do passado”. Contudo, uma Igreja em saída ao encontro das periferias existenciais tem sensibilidade mais aguçada para ouvir o clamor do Povo de Deus, para as necessidades de um rebanho sem pastor, sem se deixar enlinhar nas malhas do poder, cioso de privilégios e autoridade mundana, bem distante do seguimento do Mestre que exclamou: “não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45).

Peter Brown (op.cit.p.545) admira-se de que Possídio, ao concluir sua Biografia de Agostinho, cite esses versos colhidos do túmulo de um poeta pagão desconhecido: “Viajante, não sabes que o poeta pode viver além da sepultura?/ Aí estás e lês este verso: sou eu quem falo, portanto. / Ao leres em voz alta esta obra, tua voz viva é a minha”. 

No meu pobre entender, a irmã romeira de Lovaina, despindo-se de seu aparato acadêmico, expressou-se com a mesma sensibilidade poética dos bardos do cordel e da simplicidade dos devotos peregrinos dessa nova Jerusalém para dar vida à voz do Padre Cícero. Essa é a minha impressão mais viva e, quiçás, duradoura na retomada de um acervo imenso que precisa ser posto sob essa nova luz franciscana. E só uma pessoa, que há mais de 40 anos optou pelo serviço evangélico a esses mesmos pobres nordestinos, poderia ter a ousadia [o grego do NT dirá melhor com o termo parrêsía – coragem para falar com liberdade- cf. Mc 8,32] de recuperar as pérolas de uma história de vida muitas vezes lançadas na lama e emporcalhadas de modo irresponsável.

Olhando dessa maneira o seu belo trabalho, não deixo, porém, de me espantar com certas limitações que, salvo melhor juízo, poderiam ser eliminadas em futuras edições. Não pretendo ser exaustivo, ainda mais porque outros leitores mais competentes serão capazes de, fraternalmente, contribuir para o exame crítico de seu texto, por sinal muito claro e bem escrito. Refiro-me a certos direcionamentos que não caberiam numa narração sem a pretensão de interpretação e revisão histórica tout court, quando o texto chama a atenção para personagem oculto (pp.168-169), numa trama ou num jogo de poder, deixando no ar uma suspeita sem dar nome aos bois. A irmã romeira, capaz de se indignar com o vaivém das novelas interpretativas da vida do Padim, não deveria resvalar para o terreno da suspeição e das possíveis conjecturas, uma vez que ela, como o jornalista Lira Neto, tem em mãos o material colhido nos arquivos do Vaticano pelo Mons. Francisco de Assis Pereira, sob o título Padre Cícero no Santo Ofício (Natal 2004 – cópia xerox, também em minha biblioteca). O jornalista, como se fora autêntico pesquisador nas fontes romanas, não dá crédito ao autor do relatório e se utiliza abundantemente de um material de autoria (sic) anônima. A irmã romeira, felizmente, traz à luz citações do documento [ver notas n.4,p.114; n.10,p.131; n.1,p.155s; n.3, p.162; n.4,p.163; nn.5 e 6, p. 165; n.1, p.197] e, no capítulo Padre Cícero e a nova Diocese do Crato, faz – de alguma maneira – um paralelo antagônico entre a atuação positiva de reaproximação com o Padre Cícero do 1º. Bispo do Crato, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, e as sobreposições (by pass) negativas de Dom Manoel da Silva Gomes, sucessor de Dom Joaquim, que chegam ao cúmulo da excomunhão do Padre Cícero, sem consulta prévia a seu bispo diocesano. Esse imbroglio narrado à sua maneira por Floro Bartolomeu, em longo discurso na Câmara dos Deputados (RJ: 23-9-1923), mereceria, à luz das pesquisas do Mons.Pereira, uma revisão histórica que pusesse em destaque justamente o papel humano e cristão de Dom Quintino para com o Padre Cícero, seu amigo de longa data, e se eliminasse de uma vez a péssima impressão de muitos juazeirenses – filhos da terra ou ádvenas – que ainda têm no antístite Quintino o algoz do Padim. Assim, o papel da hierarquia junto dos negócios do Joaseiro não deveria permanecer na sombra ou nas trevas e, historicamente, não mais receber exclamações patéticas como as do Monsenhor Macedo, numa carta ao Padre Cícero sobre o seu encontro com o Núncio: “Mistério! Mistério! Mistério! Quem seria o culpado?” (op.cit.p.168) ou mencionar-se um terceiro que anda nas trevas a urdir intrigas e incompreensões (v.p.169 id). Sem dar nome aos bois, sem o aprofundamento do papel dos hierarcas coadjuvantes, como o Cardeal Arcoverde ou Dom Manoel, 3º. Bispo do Ceará, e não a partir de conjecturas ou suspeitas, mas à luz das provas, hoje abundantes, como as que nos chegaram às mãos graças à diligência (akribía) de um Mons. Pereira, a revisão histórica perde substância, torna-se capenga e não faz jus a tudo que foi acumulado nesses anos pelos pesquisadores, sendo uma das mais acuradas a irmã romeira.

Num encontro que mantive com Dom Fernando Panico em sua residência, logo que ele voltou de Roma, perguntei-lhe por que o relatório do Mons. Pereira ainda não tinha sido publicado, dada a relevância de suas irformações. Ele me passou essa confidência: “quando entregamos os 11 volumes com a petição dos bispos ao Secretário da Congregação, ele apontou para o texto do Mons.Pereira e falou expressamente: não deve ser divulgado”. E, então, insisti na pergunta: por que tanto sigilo? E Dom Fernando desconversou educadamente. Estava profundamente intrigado com a atitude de Lira Neto, em Padre Cícero: poder, fé e guerra no Sertão (Companhia das Letras, 2009), que se utilizara do relatório all´insaputa do autor, que – num encontro que mantivemos em fevereiro de 2010, em Natal – dizia-me ignorar como o seu texto vazara para o jornalista, sem que o mesmo lhe desse o mais ínfimo crédito. E, assim, os mistérios do Joaseiro não se restringiriam apenas à questão religiosa do milagre da hóstira, mas à imensa rede de intrigas, nas quais estavam implicados hierarcas de alta posição. Nesse sentido, entendo que o papel extraordinário de Dom Fernando Panico, desde os primeiros passos de seu ministério pastoral na diocese do Crato, não perderia o brilho inapagável que lhe pertende por direito, se também se revisse em detalhes as iniciativas pioneiras de Dom Quintino, sabotado - esse é o termo apropriado – por Dom Manoel da Silva Gomes, 3º. Bispo do Ceará. 

Gostaria de voltar ao depoimento do Cardeal João Braz de Aviz, na abadia beneditina, Nossa Senhora da Vitória, em Juazeiro do Norte: “Posso dizer a verdade?... O problema não está mais em Roma, mas na diocese do Crato, onde alguns padres não aceitam o pedido do diocesano”. E a irmã romeira acrescenta com sinceridade: “Prefiro não expressar aqui a reação que tive ante essa revelação! Mas essa resposta ficou martelando em minha cabeça: o problema não está mais em Roma...” (op.p.233).

Irmãzinha, a verdade expressa pelo Cardeal talvez deva ser aprofundada. Por que não averiguar a participação de Dom Newton Holanda Gurgel, antecessor de Dom Fernando, nessa não aceitação do pedido do diocesano? Consta que ele teria disbribuído entre o clero [a partir de cópia da Biblioteca do Palácio Eipiscopal do Crato, n. do Tombo 01] o opúculo Joazeiro do Cariry, do Padre Alencar Peixoto (1913), cuja virulência detrata de modo deprimente o Padre Cícero. Então, seria necessário, em nome da verdade, buscar, em nível mais elevado, a causação dessa atmosfera negativa na diocese, em vez de apenas atribuí-la de modo genérico e vago a um grupeto de alguns padres, transformados em bodes expiatórios. Se isso for verdade, a história se repete não como tragédia, mas como farsa e burla, vindo-nos à mente o mesmo que aconteceu entre Dom Manoel e Dom Quintino, nas primeiras tentativas de reconciliação do Padre Cícero com a Igreja.

Nesse ponto, creio eu, Dom Fernando Panico falhou redondamete ao não se cercar de pessoas, como o próprio Padre Murilo, o vigário romeiro, que o podia ter ajudado nesse trablho ingente de convencimento do clero. Essa teria sido uma meta-síntese – na linguagem de Juscelino ao construir Brasília – das metas pastorais de Dom Fernando no esforço de uma evangelização que engajasse todas as paróquias e comunidades de base da diocese. E isso expressei-lhe publicamente e ao clero reunido em Assembleia no Centro de Expansão. Mas, o dito ficou pela não dito, sobretudo em se tratando de alguém sem mais credibilidade para falar de modo aberto e sem temor – com parrêsía – como falei.

Longe de mim diminuir o mérito de seu belo trabalho, irmã romeira, mas me parece que o subtítulo revisões históricas foge de seu propósito luminoso de focar de modo apropriado o tema franciscano da reconciliação. A irmã romeira, com o enorme acervo de que dispõe hoje, ou entre para valer – de cabeça, diria – nessa seara tenebrosa, com parrêsía, ou não mencione hipóteses que não possam ser esclarecidas cabalmente, dando nome aos bois. Não vou sugerir alternativas para um trabalho de revisão e complementação de seu texto, mas esses comentários – um tanto apressados – nada mais são do que a voz de um amigo que a estima muito e lhe agradece por tanto bem que vem realizando no Joaseiro da Mãe das Dores. A título de post-scriptum faço notar que talvez a péssima avaliação (p.81) em relação ao Padre Ibiapina tenha sido mais de Dom Luiz Antônio dos Santos, que o perseguiu e o expulsou do Ceará. Quando Dom Joaquim chegava em 1883, Padre Ibiapina havia sete anos se afastara doente em seu retiro de Santa Fé (PB) e ali morria em fevereiro desse mesmo ano de 1883. Também não foi Leão XIII quem não atendeu, em 1922, o pedido de Dom Quintino para a reabilitação do Padre Cícero (cf.pp.200 e 229), mas Bento XV, sucessor de Pio X (1903-1914), por sua vez sucessor de Leão XIII (1878-1903). São pequenos detalhes que podem ser modificados numa próxima edição de sua obra.

Tenha o meu mais cordial apreço, na certeza de sincera amizade.

(Francisco Salatiel de Alencar Barbosa, ouvinte da Palavra e estudioso do Peregrinar humano. Brasília, em 20 de agosto de 2017: Festa da Assunção da Virgem Maria e 50º. Aniversário de minha primeira concelebração eucarística (Primícias Sacerdotais), na Matriz de Santo Antônio do Araripe (CE), sendo vigário Pe.José Alves de Oliveira.) 

PMJN APOIA INSTITUIÇÕES
A PMJN está apoiando nove instituições esportivas, da iniciativa privada, destinando recursos financeiros para os eventos que as mesmas desenvolvem, no valor total de R$273.940,00. Veja a relação publicada no Diário Oficial do Município: