sexta-feira, 27 de julho de 2012

JUAZEIRO
Visitar juazeiro, como há pouco fiz, é uma graça. Tenho para mim que isto mais se justifica pelo amor enorme que venho nutrindo em minha existência, não só para rever a família, os amigos e os lugares que fazem o encanto desta memória, mas também para presenciar estes instantes em que o bulício da cidade denuncia o grande momento que se experimenta com “progresso” por todos os cantos. Juazeiro do Norte, para alguns, é a grande bola da vez. Esta é uma expressão muito sintética para significar que estamos com quase tudo para metas arrogantes, ambiciosas e promotoras de melhores dias. Será que estamos com tudo isto? Numa coisa bem já nos antecipamos: Juazeiro está entregue à iniciativa privada. O poder público trate de não atrapalhar para que a colheita, já que é obrigatória (o plantio foi opcional) seja boa e muito produtiva. Por toda biboca pipocam investimentos em novos negócios. Juazeiro do Norte é o endereço certo de parte desta emergente nova classe média, guindada de estratos D, E, e F, segundo a taxonomia econômica dos plantonistas, deslumbrados com os novos perfis de mercados espalhados, especialmente, pelo Nordeste do país. Viva nós, mas antes disto, será que o dever de casa já foi feito? Eu sei que não sei de quase nada (diria Riobaldo, do Guimarães Rosa). Mas, desconfio de muita coisa.

AEROPORTO
Estávamos chegando a Juazeiro do Norte na noite do dia 19, e já estávamos alinhados com a pista quando repentinamente o avião voltou a acelerar e arremeteu, passando por sobre o aeroporto. Quando isto aconteceu, fiquei imaginando muitas coisas, como algo de estranho na pista, um problema com o trem de pouso, alguma coisa que poderia nos devolver a Fortaleza, e outras coisas. Depois de uma circulada na periferia da cidade, sobrevoando o Horto, já estávamos novamente na cabeça da pista e a aeronave pousou normalmente. Alivio. No terminal, soubemos que no último instante da primeira tentativa apagaram-se todas as luzes do aeroporto, pela falta de energia na área. E, o que é pior, isto estava acontecendo por diversas vezes. Certamente que a direção do aeroporto já deve ter tomado a iniciativa pertinente para que a segurança dos voos não sofra qualquer percalço.

ALUÍSIO NERI FILHO
Atendi prazerosamente ao convite de Aluísio Neri Filho para comparecer a sua emissora – FM Juazeiro, para participar do seu programa sabadino, falando de algo que até não me agrada muito: de mim mesmo. Mas o amigo, cordial, cercou bem as circunstâncias e não me deixou espaço para uma recusa. Assim, por uns 60 minutos, eu falei de minhas origens romeiras, de fatos familiares que promoveram minha existência, a educação, os amigos, os mestres, a vida, até desembarcar nesta atualidade, de preocupações com a qualidade da cidade que respiramos, para que todos tenham direitos aos privilégios que me fizeram alguém para ser sensível aos impulsos da cidade amada. Deu-me, enfim, grata alegria ter respondido ao que se perguntou e ter feito este exercício memorial de repassar ideias e sonhos, com os quais eu continuo alimentando minha existência por um Juazeiro mais desenvolvido e fraterno. Nem sei se isto ainda será possível, tal a convulsão que experimentamos ultimamente, mormente em tempos de caça ao voto.

NOVOS JORNAIS
Indo a Juazeiro, não abro mão de vasculhar todos os cantos possíveis por onde se esconde a imprensa impressa de Juazeiro do Norte. Tenho que falar assim, pois me considero muito familiar a esta prática de que continuamos a produzir jornais que somem e deles nunca mais se sabe. Não vou entrar em detalhes sobre isto, apenas lamento. Estive no encalço de três deles, em vão. Paciência. Pelo menos, no inventário estarão registrados como existentes. Fica um gosto assemelhado àquele de quem matou a cobra e não pode mostrar o pau. Por último, degustando a maravilha que é o doce de goiaba do Madailton, encontro um certo Jornal do Onibus, um mural para ser afixado nos veículos e pontos de grande afluência, de responsabilidade da Empresa Lobo, que prontamente já foi indexado, já tendo saído dois números. 

PE. VENTURELI
Subi apressadamente a colina do Horto, com o tempo medido mas suficiente para me encontrar com Pe. José Ventureli. Como sempre acontece, o seu entusiasmo me levou a conhecer mais obras de infraestrutura que ele cuida para dar a aquele espaço uma maior dimensão de acolhimento para romeiros e a comunidade do Horto. Agora pude ver satisfatoriamente, não fora o ocaso do dia, uma expansão substancial de área anexa ao casarão, mais abaixo, limítrofe com a própria rua do Horto, que abrigará um salão do Oratório para os jovens do Horto, com posição privilegiadíssima para uma melhor visão das cidades da região. A visão, como enfatizo, é coisa que eu, pessoalmente, ainda não tinha visto. E de quebra, este novo espaço poderá abrigar mais um estacionamento privativo, com maior acessibilidade a todas as áreas do Horto.  

POETAS E XILÓGRAFOS
Um dos objetivos de minha última permanência em Juazeiro do Norte foi o encerramento do ano centenário, parte das celebrações dos 101 anos da cidade. Como coordenador editorial da Coleção do Centenário, tinha a responsabilidade, primordialmente, uma vez que a tarefa se completara, de trazer o agradecimento a tantos quantos participaram com seu trabalho, dedicação e entusiasmo na celebração de nossa data maior. No Memorial, palco admirável para este evento, reunimos poetas cordelistas e xilógrafos para entregar-lhes em feição gráfica, o resultado do esforço de cada um para marcar o acontecimento. Os 100 títulos de folhetos de cordéis, sendo 50 clássicos e 50 contemporâneos, foram apresentados em artísticas bolsas, cada uma contendo 25 folhetos. Ainda em Agosto este resultado chegará às escolas do município, a bibliotecas diversas, até espalhadas pelo pais, de modo que este momento fique eternizado como aquele em que o Centenário de Juazeiro elegeu a cultura popular, por seus mestres e poetas, como um dos marcos fundantes de nossa civilização romeira.

PEDRO BANDEIRA
No último fim de semana tive a oportunidade de estar com o Pedro Bandeira por três ocasiões: no Memorial, em homenagem que a Editora IMEPH prestou ao poeta, e em duas visitas na sua residência. Relembrei a ele o momento que nunca me saiu da cabeça, quando ainda no final dos anos 60 assistimos ao seu recital para o então gov. Plácido Castelo, no velho Treze, e que resultou na providência imediata para a publicação do seu primeiro livro, prontamente assumida pelo querido governador. Falamos de tantas coisas, incluindo a sua mais recente viagem para Serrita para a 42ª. Missa do Vaqueiro, evento que ele ajudou a fundar e a não perder, nenhum. Pedro deverá ainda neste ano ter sua biografia editada, alem de publicar um livro sobre os violeiros que visitaram e cantaram para o Pe. Cícero.

ABA CULTURAL
Se o tempo tivesse permitido, não tenho dúvida, teria corrido para ir conhecer o Aba Cultural, dirigido por Eridna e Filomeno Araruna. É que eles nos foram recentemente revelados pela imprensa (TV e jornal) como pessoas que tomaram para si a responsabilidade de preservar a memória de Juazeiro do Norte, constituindo um acervo precioso de jornais, livros, mídias eletrônicas, objetos e muitas outras coisas. Eu também procurei fazer coisa parecida, mais modestamente, e por isto eu tenho uma enorme admiração por quem o faz semelhantemente. A diferença é, primordialmente, aquilo que se põe de amor próprio no empreendimento, cumulando-o com uma dedicação exemplar. Assim, cada visitante, consulente, é recebido com imensa cordialidade e carinho, certamente encontrando aí as respostas às suas indagações com respeito a cultura, a história, a arte e a informações diversas de um primoroso banco de dados. Na próxima vez, vou por na agenda que visitar a Aba Cultural é a primeira providência. Parabéns.

CALÇADAS
Ao contabilizar o que vi ou o que não vi nesta última viagem a Juazeiro, devo mencionar a minha amiga Célia Maria e Silva Morais, por absoluta falta de tempo, se não tenho desculpa mais amarela para oferecer. Mas, não deixei de lembrar da Celinha vendo a tristeza das calçadas de minha terra. Cada vez piores e próximo da casa do sem jeito, tal a gravidade. É que Célia, sofredora mais impenitente, já havia nos alertado, tempos atrás, desta infelicidade que nos leva a conviver com uma cultura que não soube e não foi “educada” para estabelecer respeitosamente o limite que se faz tênue entre nós, entre o público e o privado. Temos a lamentar o zero redondo que nossa cidade merece no item de acessibilidade, pois alguém, desde o mais idoso, até o mais carente por deficiências várias, teria que padecer ao cruzar as estreitas e irregulares calçadas de quaisquer das nossas ruas. Isto é tão mais grave quanto trafegamos em ruas de planos inclinados e não vias bem horizontais. Esta omissão do poder público, pretensamente moderador destes hábitos, nos faz um mal enorme. E assim vamos sofrendo. Topando, caindo e levantando amargurado com o sobressalto que vem adiante. Uma lástima.

MISSA DO DIA 20
Acordei na hora adequada e segui para o Socorro. Mas os entornos da Capela do Socorro e do Memorial estavam já tão tomados pela assistência, impedidos de tráfego de pessoas e ocupação pelas obras do Roteiro da Fé, que dei de ré e voltei para casa para ver tudo mais confortavelmente, assistindo a missa dos 78 anos de morte do Pe. Cícero, pela televisão. Fico verdadeiramente impressionado com a fé deste homem sertanejo que manifesta tão espontaneamente a sua fidelidade e estes princípios e à sua religiosidade. Como este, ao seu santo padrinho, ao qual é tão obediente, e os trás de volta 78 vezes 12 vezes ao anos, quase sem um dia faltar. Por estes dias, o bispo diocesano, D. Fernando Panico, não deixou de recomendar que rezemos pela reabilitação do Pe. Cícero. Será que ele sabe de alguma coisa da qual já vimos desconfiando a tantos anos. Dizem que em Roma os estudiosos continuam lendo e refletindo sobre a vida de Pe. Cícero. É que o santo padre precisa ser esclarecido,m antes de fazer qualquer coisa. É para se recordar a indagação daquela romeira: - Será que o papa ainda não sabe que meu padrinho é santo?

MUSEU MONS. MURILO
Também faltou tempo para uma passadinha no Museu Paroquial Mons. Murilo, agora reinaugurado na velha casa paroquial. Nem sei do que se trata, o que foi melhorado ou piorado, uma vez que nem sempre concordamos com o que se faz, pretensamente, para guardar a memória. Mons. Murilo foi, por meu sentimento, um homem que procurou colaborar com estas iniciativas. Ao contemplar olhares sobre a Paróquia/Basílica, Pe. Cícero e Mons. Murilo, o Museu tem sobre si uma tarefa muito bonita e digna, para relevar o que de institucional e pessoal aconteceu nessa “pouca geografia, e muita história”. Muito de nossos anos centenários estiveram ao redor destes marcos e, portanto, nada como ter uma iniciativa desta assinalada por um equipamento versátil e pleno de acervo expressivo para nos lembrar permanentemente as lições que o tempo e estas pessoas nos legaram.



SHOPPING
Catedral de nosso consumismo, imerso na globalização que se vive, não poderia ter deixado de dar uma passada por lá. Então fui apressadamente ao shopping, para casar a curiosidade em ver os novos e grandiosos espaços construídos para lojas e serviços com um lanche ligeiro, entre um item e outro da pauta. Louvo a ampliação do Cariri Garden porque de fato gostei muito do que vi e do que está a caminho, pois ainda faltam ocupantes e os cinemas anunciados. Tão bom seria que igualmente no shopping aí se tivesse também um amplo espaço cultural com teatro e salão de exposições. 

ENTORNO DO MEMORIAL
O Memorial Padre Cícero passou por uma reforma recentemente. Inclusive o seu entorno foi melhorado pela restauração de sua iluminação. Contudo é uma tristeza constatar que tão pouco tempo depois alguns marginais promoveram a depredação dos postes dos jardins e deixaram marcas ao seu redor. Lamentável que o policiamento dos bens públicos de Juazeiro do Norte esteja refletido num equipamento como este, para nós tão precioso. Agora, por conta das obras do Roteiro da Fé, o entorno do Memorial está sendo discretamente alterado. Por exemplo, foi retirado um dos espelhos d’água e o edifício estará mais integrado a toda a área composta pelas praças. Uma coisa que é oportuna lembrar é a necessidade de ampliar o Memorial, dando-lhe mais espaço para seu acervo e outras salas para exposição e reuniões. Em breve, certamente, a Secretaria de Turismo e Romaria deverá deixar o Memorial e irá se instalar no Centro Multiuso. A liberação deste espaço é de pequena monta e deverá apenas abrigar a direção do Memorial. Assim, algumas salas serão disponibilizadas para esta expansão com o acesso do público. É o que esperamos.