terça-feira, 17 de abril de 2012



HAROLD ELMER REINER-I

A primeira lembrança que guardo de Harold Elmer Reiner remonta, sem precisão, ao final dos anos 50, início dos anos 60. Foi quando se alardeou pela Rua São José que “uns americanos” estavam fabricando um avião na velha garagem do Sr. Rochinha, bem no começo da rua. A garotada correu lá e lá fui também para conhecer a fábrica do teco-teco que ocupava o galpão onde já funcionara a garagem dos ônibus (se dizia, sopas) de Rochinha, uma empresa que transportava passageiros entre Crato e Juazeiro. Ai, anteriormente ao hangar de mister Haroldo, havia funcionado a fábrica de balas e bombons de José Figueiredo, que produzia ali o maravilhoso Nêgo Bom. A garagem ficava na entrada do chamado beco da bosta, uma passagem para quem se dirigia para os Brejos e a Boca das Cobras. Lá encontramos o corpo do aviãozinho já montado, com as rodas já montadas, mas sem asa e hélice. Lembro de ter visto aí o mister Haroldo e algum ajudante. Satisfeita a curiosidade, voltamos e esquecemos da garagem. Até que dias mais tarde veio outra notícia, a de que o aviãozinho estava pronto e faria o seu primeiro voo. Ficamos curiosos para saber como aquilo aconteceria, como o avião alçaria vôo naquela rua. Um tanto frustrante foi não ver isto, mas apenas o desfile do aviãozinho pela Rua São José, puxado por um jipe, sem asa e hélice, anda, subindo em direção ao Salesiano. Aí se soube que o fato aconteceria a partir de um campo de pouso construído no terreno da Missão Batista, no Triângulo, onde hoje está o Cariri Shopping. Ainda assim, isto não seria possível de ver porque o terreno era protegido por inexpugnável cerca viva de aveloz.  Aí, nem pensar, pois como era do conhecimento, ao tentar ultrapassar, poderia se romper algum galhinho e caindo o leite na visão era cegueira na certa. Alguns anos depois, já trabalhando com meu pai no Centro Elétrico, aí, sim, conheci o mister Haroldo, nosso cliente, pessoa que meu pai distinguia com atenção, sempre que ia nos comprar alguma coisa para seus constantes empreendimentos. Era dos poucos clientes que poderia ter acesso direto ao estoque e procurar o que desejasse. Não é que não falasse bem o português. Não. Mister Haroldo era, provavelmente, de todos os americanos no Cariri, o que melhor expressão oral tinha. Na verdade, sua inteligência e competência técnica afloravam com inventivas e eu ouvia as conversas com respeito ao que estava tentando fazer, especialmente quando da construção do novo Seminário Batista, nesta área em que já me referi. Depois de 1964, quando sai de Juazeiro, nunca mais o vi e somente ouvia falar raramente, do seu continuado ministério, em Iguatu e na Bahia. Há pouco tempo, uma nota encontrada na internet me permitiu pesquisar sobre Harold Elmer Reiner.  Dizia a nota, oriunda da cidade de Remanso (BA): “Faleceu nessa segunda-feira (27/06/2011), nos Estados Unidos, o Missionário batista Haroldo E. Reiner, que por mais de 30 anos morou em nossa cidade, contribuindo de forma relevante para o desenvolvimento. Haroldo, apesar de circular por todo o país em suas atividades religiosas, escolheu Remanso como sua base, e não escondia o amor por esta terra. Por várias vezes apresentou idéias junto a políticos e lideranças, no sentido de melhorar as condições de vida dos remansenses, e de modo especial aqueles da zona rural, com quem tinha excelente relacionamento. Conhecido como Mister Haroldo, ou Os americanos (com sua esposa Joana), eram muito queridos pela comunidade, e ajudaram espiritualmente a muitos, sendo sua atuação fundamental do desenvolvimento da Igreja Batista Regular de Remanso, no começo dos anos 1980. Teve ainda uma participação decisiva na estruturação do Aeroporto de Remanso, e tentou por várias vezes trazer projetos de plantio para a região, impedido por questões técnicas ou políticas. Haroldo Reiner era exímio aviador, respeitado e reconhecido em todo o país, até mesmo por oficiais da Força Aérea Brasileira, que lhe prestavam continência. Chegou ao Brasil em 1949, construiu ou estruturou inúmeras igrejas, escolas, casas pastorais, acampamentos como a Ilha do Tesouro, no município de Casa Nova, e conhecia o Brasil como poucos. Mas por onde andava, falava de Remanso, com empolgação e afeto, tanto que resistiu muito em sair daqui. Ele e D. Joana diziam abertamente que preferiam Remanso aos EUA, pelo lugar e pelas pessoas. O Pr. Haroldo Reiner foi encontrado sem vida no banheiro de sua residência, na segunda-feira pela manhã. Além da Esposa, Joana Reiner, deixou filhos, netos, bisnetos, uma obra monumental e muito exemplo de vida. Hoje está com o pai no Reino Celeste.”
A partir desta informação, passei a acessar uma infinidade de sites na internet em busca de melhores informações sobre a vida deste homem que me deixou uma grande impressão na minha juventude.
Minha primeira preocupação foi traçar-lhe um perfil com sua origem de família, o que sumariamente está na nota funerária:

“Harold Elmer Reiner, falecido em 27 junho de 2011, em Boston, NY; marido de Joan (nascida Cook) Reiner e Ruth (primeira esposa) (nascida McCallister) Reiner; pai de Timóteo (Vicki), (Kent) Darlene Smith, Jo (Norm) Culver, Douglas (Renate) e dos falecidos Peter Douglas e Sandra Joanne Reiner; avô de Jason, Tim, Sandra, Melissa, Karyn, Peter, Nathaniel, Jane, Alex, Candice e James tarde; bisavô de Avery, Chloe, Benaia, Jocelyn, Trey, Krystal e Blake; amado irmão de Betty Bender e da falecida Alvina Madsen, Ralph e Reiner Raymond. A Família vai receber amigos sexta-feira, às 17-21:00h na casa funerária WURTZ, 9287 Boston Rd. State, Boston, NY. A Família e amigos são convidados para um serviço de funeral, sábado às 11:00h na Primeira Igreja Batista de Hamburgo. Em vez de flores, memoriais podem ser feitos às Missões Reiner Harold Student Scholarship Fund., na atenção da The Baptist Mid Missions de Ohio.” 

Aos poucos, minha curiosidade foi se enchendo de dados sobre Harold. Ele nasceu em 16.08.1927. Não foi possível saber o nome de seus pais, nem onde veio à luz. Há referências que não compreendi e que apontam o Estado de Ohio ou a cidade de Boston (NY). Na nota acima, a relação mais completa de seus parentes próximos. No final dos anos quarenta, Harold desposou Ruth McCallister. Ingressaram na Baptist Mid-Missions (BMM), em 1948. Decidiram vir para o Brasil e desembarcaram num cargueiro no porto de Belém, Pará, em 1949. Dai vieram para Juazeiro do Norte, onde os Reiners estudaram português, com professores particulares. Ainda em 1949, Harold e Ruth reuniram-se a Edward Guy McLain na Igreja Batista Regular, da vila de pescadores do Mucuripe, Fortaleza. Esta foi a primeira Igreja Batista Regular na cidade de Fortaleza, que havia sido fundada em 19.12.1934. Harold e Ruth trabalharam nesta igreja de 1949 a 1954. De 1950 a 1952, Harold e Ruth também missionaram na Igreja Batista de Barbalha, com Charles Hocking, Tom Willson, e outros. De 1952 a 1954, Harold e Ruth trabalharam com Edward Guy McLain na Igreja Batista de Parangaba, em Fortaleza. Mais uma vez ele ajudou com a pregação e ensinava na escola dominical. Enquanto estava trabalhando na igreja de Parangaba, Harold construiu o dormitório Casa Grande para a alunos do ensino fundamental estudar na escola nova MK, Fortaleza Academy. De 1955 a 1958, Harold trabalhou com Edward Guy McLain e Jim Willson na Primeira Igreja Batista Regular de Juazeiro do Norte. Ele ajudava com a pregação e ensinava na escola dominical. Em 1956, Harold e Ruth fundaram a Igreja Batista de Assaré, viajando de avão. Após a fundação da igreja, ele trabalhou lá de 1956 a 1960. Enquanto realizavam este ministério, Ruth travou uma batalha contra um câncer que durou 10 meses, falecendo em 1960. Viúvo, com quatro filhos (Timothy, Peter, Joan e Darlene), Harold conheceu Joan Cook que havia ingressado na BMM, em 1958. Em 01.04.1960, ela e Janet Roudybush chegaram ao Brasil e vieram residir em Juazeiro do Norte. Joan estudou Português durante seis meses com um professor particular. Harold e Joan casaram-se em 29 de abril de 1961. Em 1961, Harold e Joan começaram a trabalhar na Igreja Batista de Iguatu, e continuaram até 1980. Durante este tempo, eles fundaram a congregação da Campos Sales, sempre viajando de avião, expandindo o trabalho para outras comunidades como Bom Sucesso e Quixelô. Harold Reiner fez mais do que plantar igrejas. Ele foi pioneiro no campo de ministério BMM no Brasil e começou em dois campos: foi influente na fundação de um seminário, o maior programa de treinamento BMM no mundo e ajudou a organizar uma escola para crianças missionárias, que ao mesmo tempo era o maior do BMM. Durante décadas, Harold foi perenemente eleito líder do Nordeste BMM Brasil conselho de campo e foi ativo com o conselho All-Brasil também. Entre vários papéis de Harold como missionário era piloto. Ele aprendeu a voar, porque ele queria "levar o evangelho além de onde minha mula iria me levar." Harold deu liderança significativa para a expansão da aviação no Brasil, desenvolvendo o mais antigo programa da aviação continua missionária naquele país. E foi exatamente esta dedicação esmerada que foi reconhecida em 2008, quando Harold foi o primeiro missionário batista a ser distinguido com uma honraria por inteiros 60 anos de dedicação. Harold Reiner, como vimos, esteve envolvido longamente com a missão batista no Ceará. Foi com sua participação que as sedes da Rua São Paulo (Seminário, Escola e Igreja) foram construídas. Também, depois, quando a missão opta pela construção do Seminário Batista do Cariri nas terras do Bairro Triângulo, Harold e Joan foram de inteira dedicação, especialmente no acompanhamento de alunos no internato. Também deve-se a ele muitas gestões para a transferência deste Seminário para a nova sede que a missão construiu em Crato, onde está presentemente. O missionário fez ainda parte do Conselho Administrativo do Seminário Batista do Cariri até o ano de 2011, quando por questões de saúde, ausentou-se do Brasil. Mas, no dia 25.11.1962, ainda residindo na missão, em Juazeiro do Norte, aconteceu a tragédia do acidente em que um avião monomotor, pilotado por Harold, se chocou na pista da missão, no Triângulo e explodiu. (Este fato lamentável, que tanto marcou a vida da família Reiner será tratado amanhã.)