sexta-feira, 25 de julho de 2014

 BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
056: (25.07.2014) Boa Tarde para Você, Wilton Bezerra
Quando faleceu Francisco de Assis Silva, o Foguinho, eu fiquei muito angustiado porque alguns amigos já haviam sugerido que não o esquecesse naqueles dias de copa do mundo. Lamentável é que, de fato, não o fiz prontamente e fiquei aguardando um momento para saudá-lo, pensando até mesmo que o melhor resultado estava para vir. Penso que ainda seja oportuno dizer-lhe, meu caro amigo Wilton Bezerra, que este cumprimento que lhe faço hoje se deve à permanência da grande impressão que tive e pela forte emoção que senti por suas palavras na despedida de seu compadre Foguinho. Ao vê-lo assumir esta missão dolorosa, no altar da capela, à hora amarga do pranto e da saudade de seus familiares, eu senti que aquele instante não era exatamente o momento de uma quase formalidade que por vezes pensamos que seja quando muitos se ajuntam para prantear alguém cuja morte é muito sentida e lamentada. E não era, mesmo. Quem quer que tenha prestado atenção, Wilton, ao conteúdo de sua mensagem de conforto à família e aos amigos de Foguinho, terá ouvido como sua sensibilidade havia tocado muito fundo no nosso sentimento para revelar um pouco da alma do amigo morto, para daí considerar um lado pouco lembrado de sua felicidade. Na sua simplicidade, e era com isto que você, Wilton, nos confortava, Foguinho foi precisamente o que você perfilou: um homem simples que soube construir sua felicidade pessoal e a de sua família, ao sabor das coisas mais comuns, o que não lhe sofisticou a vida, o que não o fez um homem fútil e afetado pelas oportunidades que a vida lhe conferiu. Você, e bem assim também outros da radiofonia, desde os tempos de Foguinho, controlista da Iracema, mas especialmente na área do esporte, sabiam por sobejas razões o que fazia diariamente aquele camarada trabalhador, competente, sincero, leal e divertido. Esse era o Foguinho que vocês lembravam, às lágrimas, nas maravilhosas jornadas das copas de que participou, narrando para nós algumas das campanhas vitoriosas do selecionado brasileiro. Também concordo consigo, Wilton, que Foguinho não era um homem frio e insensível à grande frustração desta copa mais recente. Não há como não relacionar sua morte à sua angústia dupla, de ausência do microfone, exatamente quando o certame estava em nossa terra, e bem assim pela decepção dos resultados, fosse por quais motivos alegados. Seguramente, nesta angústia, vimos o querido Foguinho sucumbir, porque seu coração afetuoso não resistira às emoções. Somos, por estes pequenos argumentos, mas também pela forma elegante e humanitária como você, Wilton, chegou junto a esta família, por seus eternos laços de compadrio, gratos pela sua sensibilidade e por suas palavras sobre o amigo, nesta hora derradeira. No nosso imaginário, Foguinho vai continuar fazendo falta. Ainda lamentaremos muito a sua ausência no rádio, um encontro casual nas ruas para ouvir-lhes em deliciosas histórias contadas com bom humor, a repetir muitas delas, sempre com uma nova motivação e grande graça. Enfim, Wilton, esta é a vida que nos cabe, a que tem de incluir no nosso sofrimento a perda de amigos, como este Foguinho, dentre tantos outros que nos deixam saudosos.

CINE ELDORADO
O Cine Eldorado (Rua Pe. Cícero, esq. Floro Bartolomeu) estará apresentando nesta sexta feira, às 20 horas a película Deu a Louca no Mundo (It's a Mad, Mad, Mad, Mad World), EUA, 1963. Esta comédia será projetada em 192 min, e na direção o festejado diretor Stanley Kramer. Elenco: Spencer Tracy (Capt. T. G. Culpepper), Milton Berle (J. Russell Finch), Sid Caesar (Melville Crump), Buddy Hackett (Benjy Benjamin), Ethel Merman (Sra. Marcus), Mickey Rooney (Ding Bell), Dick Shawn (Sylvester Marcus), Phil Silvers (Otto Meyer), Terry-Thomas (J. Algernon Hawthorne), Jonathan Winters (Lennie Pike), Edie Adams (Monica Crump), Dorothy Provine (Emeline Marcus-Finch), Eddie 'Rochester' Anderson (Second Cab Driver), Jim Backus (Tyler Fitzgerald), Ben Blue (Biplane Pilot), Joe E. Brown (Union Official), Alan Carney (Police Sergeant), Chick Chandler (Detective Outside Chinese Laundromat), Barrie Chase (Sylvester's Girlfriend), Lloyd Corrigan (The Mayor), William Demarest (Police Chief Aloysius), Andy Devine (Sheriff of Crockett County), Selma Diamond (Ginger Culpepper (voz), Peter Falk (Third Cab Driver), Norman Fell (Detective at Grogan's Crash Site), Paul Ford (Col. Wilberforce), Stan Freberg (Deputy Sheriff), Louise Glenn (Billie Sue Culpepper (voz), Leo Gorcey (First Cab Driver), Sterling Holloway (Fire Chief), Marvin Kaplan (Irwin), Edward Everett Horton (Sr. Dinckler), Buster Keaton (Jimmy the Crook), Don Knotts (Nervous Motorist), Charles Lane (Airport Manager), Mike Mazurki (Miner), Charles McGraw (Lt. Matthews), Cliff Norton (Reporter), Zasu Pitts (Gertie - Switchboard Operator), Carl Reiner (Tower Controller at Rancho Conejo), Madlyn Rhue (Secretary Schwartz), Roy Roberts (Policeman Outside Irwin & Ray's Garage), Arnold Stang (Ray), Nick Stewart (Migrant Truck Driver), The Three Stooges (Bombeiro), Sammee Tong (Chinese Laundryman), Jesse White (Radio Tower Operator at Rancho Conejo), Jimmy Durante (Smiler Grogan), Joe DeRita (Bombeiro), Larry Fine (Bombeiro), Moe Howard (Bombeiro), Wayne Anderson (Extra (não creditado), Phil Arnold (Garage Mechanic (não creditado), Jack Benny (Man in Car in Desert (não creditado), Paul Birch (Policeman (não creditado), Wally Brown (Policeman (não creditado), John Clarke (Helicoper Pilot (não creditado), 
Stanley Clements (Detective in Squad Room (não creditado), Minta Durfee (Woman in Final Crowd (não creditado), Roy Engel (Patrolman / Police Radio voz Unit F-14 (não creditado), James Flavin (Patrolman (não creditado), Nicholas Georgiade (Detective at Grogan's Crash Site (não creditado), Stacy Harris (Police Radio Unit F-7 (voz) (não creditado), Don C. Harvey (Policeman in Helicopter (não creditado), John Indrisano (Hard Hat in Crowd (não creditado), Allen Jenkins (Cop (não creditado), Robert Karnes (Officer Simmy (não creditado), Tom Kennedy (Traffic Cop (não creditado), Harry Lauter (Police Dispatcher (não creditado), Ben Lessy (George (não creditado), Bobo Lewis (Pilot's Wife (não creditado), Jerry Lewis (Driver Running Over Hat (não creditado), Bob Mazurki (Eddie (não creditado), Ralph Moratz (Spectator (não creditado),  Barbara Pepper (não creditado), Eddie Rosson (Eddie, The Miner's Son (não creditado), Eddie Ryder (Air Traffic Control Tower Staffer (não creditado), Jean Sewell (Woman in Migrant Truck (não creditado), Charles Sherlock (Crowd Member (não creditado), Eddie Smith (não creditado), Paul Sorenson (Hardhat in crowd next to Joe E Brown. (não creditado), Doodles Weaver (Hardware Store Clerk (não creditado), Danele (Extra (não creditado). Sinopse Spencer Tracy comanda um hilariante elenco de grandes estrelas da comédia de Hollywood (Milton Berle, Sid Caesar, Buddy Hackett, Ethel Merman, Mickey Rooney, Dick Shawn, Phil Silver, Terry-Thomas e Jonathan Winters) e filme a aparições muito especiais de vários comediantes famosos, de Bom Knotts e Jerry Lewis aos Três Patetas. Indicado a seus prêmios Oscar, Deu a Louca no Mundo é uma explosiva experiência cinematográfica. Em uma tortuosa estrada deserta, oito motoristas viajando em férias, dividem uma experiência que muda seus planos...e suas vidas! Depois de um misterioso desconhecido, lhes informar a localização de uma fortuna em dinheiro roubado, cada um deles apressa-se para entrar em uma louca e atropelada corrida, para colocar as mãos no fruto do assalto, na mais eletrizante festa do riso da história.

CINE CAFÉ NO CCBNB
O Cine Café exibirá amanhã, dia 26.07, às 19:00, o filme A Excêntrica Família de Antonia (Antonia,1995). Elenco: Willeke van Ammelrooy – Antonia, Els Dottermans – Danielle, Veerle van Overloop – Thérèse, Jan Decleir – Bas, Mil Seghers - Kromme Vinger (Dedo Torto), Dora van der Groen – Allegonde, Thyrza Ravesteijn – Sarah, Esther Vriesendorp - Thérèse (13 anos), Carolien Spoor - Thérèse (6 anos), Leo Hogenboom – padre. Sinopse: O filme A excêntrica família de Antonia da diretora holandesa Marleen Gorris apresenta a vida em uma pequena cidade no interior da Holanda após segunda guerra, onde a volta de Antonia depois de vinte anos é vista de diversas formas: algumas positivas e outras negativas. Em torno da personagem principal percebemos a vida e a morte, as vitórias e as perdas. A obra traz um universo feminino, onde as ações dos homens estão envolta de um poder e mostra eles agindo de forma impulsiva e irracional, como exemplo: o incesto onde o irmão usa a irmã, o filho que volta para receber a herança e impondo medo na família, dessa forma a diretora faz uma critica a sociedade machista e patriarcal e esboça uma defesa ao universo feminino mostrando que as mulheres do filme são independentes no mundo exterior; tocando em assuntos que ainda geram conflitos de ideias no período e algumas até hoje como: a independência feminina, aborto, a capacidade de decisão de ser mãe, sexualidade, homossexualismo, desejo. Ainda reforça a capacidade da mulher de trabalhar em diversas áreas. E referindo sobre as reflexões apresentada no filme sobre a educação mostrando uma menina gênio, levando para o mundo da filosofia nos apresentando questões sobre o tempo, o raciocínio, a vida, a morte e questões existenciais. A Excêntrica Família de Antonia traz também questões sociais como a violência sexual (essa tem maior destaques), as doenças psicológicas, as relações de vizinhança, os boatos na cidade (fofocas) e fazer justiça com as próprias mãos. Um fator relevante a ser considerado é as experiências e de cada personagem, pois Antonia realmente tem uma família excêntrica, família essa criada de forma generosa devida a nem todos os personagens terem laços consanguíneos e todos se aceitam e se cativam, aceitando as diferenças entre eles dando maior importância aos laços afetivos. O filme faz jus ao Oscar recebido 1995 por retratar uma realidade pós-guerra que não é contada nos livros de história convencional. 


ARIANO SUASSUNA NO CÉU
O cordel, com certeza, foi a linguagem por excelência da vida literária de Ariano Vilar Suassuna, há pouco falecido. Em sua homenagem os poetas e cantadores já se manifestam num preito de saudade ao grande mestre. É o caso deste folheto que já deve estar ao alcance do público, feito ao calor da hora, como o cordel sempre cuidou de grandes personagens como este criador de Chicó e João Grilo. Ariano esteve há alguns anos atrás em Juazeiro do Norte e fez magistral aula-espetáculo, tão ao seu gosto. A máquina fotográfica de Célia Morais flagrou um instante quando ao lado de Ariano estavam José Carlos dos Santos e Walmi Paiva. A seguir, reproduzimos o texto que acaba de nos ser enviado, de autoria de Klevisson Viana (Fortaleza) e Bule-Bule (Salvador), com o título de A Chegada de Ariano Suassuna no Céu.
A CHEGADA DE ARIANO SUASSUNA NO CÉU
Autores: Klévisson Viana e Bule-Bule

Nos palcos do firmamento
Jesus concebeu um plano
De montar um espetáculo
Para Deus Pai Soberano
E, ao lembrar de um dramaturgo,
Mandou buscar Ariano.

Jesus mandou-lhe um convite,
Mas Ariano não leu.
Estava noutro idioma,
Ele num canto esqueceu,
Nem sequer observou
Quem foi que lhe escreveu.

Depois de um tempo, mandou
Uma segunda missiva.
A secretária do artista
Logo a dita carta arquiva,
Dizendo: — Viagem longa
A meu mestre não cativa.

Jesus sem ter a resposta
Disse torcendo o bigode:
— Eu vejo que Suassuna
É teimoso igual a um bode.
Não pode, mas ele pensa
Que é soberano e pode!

Jesus, já perdendo a calma,
Apelou pra outro suporte.
Para cumprir a missão,
Autorizou Dona Morte:
— Vá buscar o escritor,
Mas vê se não erra o corte!

A morte veio ao País
Como turista estrangeiro, 
Achando que o Brasil
Era só Rio de Janeiro.
No rastro de Suassuna,
Sobrou pra Ubaldo Ribeiro.

Porém, antes de encontrá-lo,
Sofreu um constrangimento
Passando em Copacabana,
Um malfazejo elemento
Assaltou ela levando
Sua foice e documento.

A morte ficou sem rumo
E murmurou dessa vez:
— Pra não perder a viagem
Vou vender meu picinez
Para comprar outra foice
Na loja de algum chinês.

Por um e noventa e nove
A dita foice comprou.
Passando a mão pelo aço,
Viu que ela enferrujou
E disse: — Vai essa mesma,
Pois comprar outra eu não vou!

A morte saiu bolando,
Sem direção e sem tino,
Perguntando a um e a outro
Pelo escritor nordestino,
Obteve informação,
Gratificando um menino.

Ao encontrar João Ubaldo,
Viu naufragar o seu plano,
Se lembrando da imagem
Disse: — Aqui há um engano.
Perguntou para João
Onde é que estava Ariano.

Nessa hora João Ubaldo,
Quase ficando maluco,
Tomou um susto arretado,
Quando ali tocou um cuco,
Mas, gaguejando, falou:
—Ele mora em Pernambuco!

A morte disse: — Danou-se
Dinheiro não tenho mais
Para viajar tão longe,
Mas Ariano é sagaz.
Escapou mais uma vez,
Vai você mesmo, rapaz!

Quando chegou lá no Céu
Com o escritor baiano,
Cristo lhe deu uma bronca:
— Já foi baldado o meu plano.
Pedi um da Paraíba
E você trouxe um baiano.

João Ubaldo é talentoso,
Porém não escreve tudo.
“Viva o Povo Brasileiro”
É sua obra de estudo,
Mas quero peça de humor,
Que o Céu tá muito sisudo.

Foi consultar os arquivos
Pra ressuscitar João,
Mas achou desnecessário,
Pois já era ocasião
Pra ele vir prestar contas
Ali na Santa Mansão.

Jesus olhou para a Morte 
E disse assim: — Serafina,
Vejo não és mais a mesma.
Tu já foste mais malina,
Tá com pena ou tá com medo,
Responda logo, menina?!

— Jesus, eu vou lhe falar
Que preciso de dinheiro.
Ariano mora bem
No Nordeste brasileiro.
Disse o Cristo: —Tenho pressa,
Passe lá no financeiro!

— Só faço que é pra o Senhor.
Pra outro, juro não ia.
Ele que se conformasse
Com o escritor da Bahia.
Se dependesse de mim,
Ariano não morria.

A morte na internet
Comprou passagem barata.
Quase morria de susto
Naquela viagem ingrata.
De vez em quando dizia:
— Eita que viagem chata!

Uma aeromoça lhe trouxe
Duas barras de cereais.
Diz ela: — Estou de regime.
Por favor, não traga mais,
Porque se vier eu como,
Meu apetite é voraz!

Quando chegou no Recife,
Ficou ela de plantão
Na porta de Ariano
Com sua foice na mão,
Resmungando: — Qualquer hora
Ele cai no alçapão!

A morte colonizada,
Pensando em lhe agradar,
Uma faixa com uma frase
Ela mandou preparar,
Dizendo: “Welcome Ariano”,
Mas ele não quis entrar.

Vendo a tal faixa, Ariano
Ficou muito revoltado.
Começou a passar mal,
Pediu pra ser internado
E a morte foi lhe seguindo
Para ver o resultado.

Eu não sei se Ariano
Morreu de raiva ou de medo.
Que era contra estrangeirismos,
Isso nunca foi segredo.
Certo é que a morte o matou
Sem lhe tocar com um dedo.

Chegou no Céu Ariano,
Tava a porta escancarada.
São Pedro quando o avistou
Resmungando na calçada,
Correu logo pra o portão,
Louvando a sua chegada.

Um anjinho de recado
Foi chamar o Soberano,
Dizendo: - O Senhor agora
Vai concretizar seu plano.
São Pedro mandou dizer
Que aqui chegou Ariano.

Jesus saiu apressado,
Apertando o nó da manta
E disse assim: — Vou lembrar
Dessa data como santa
Que a arte de Ariano
Em toda parte ela encanta.

São Pedro lá no portão
Recebeu bem Ariano,
Que chegou meio areado,
Meio confuso e sem plano.
Ao perceber que morreu,
Se valeu do Soberano.

Com um chapelão de palha
Chegou Ascenso Ferreira,
O grande Câmara Cascudo,
Zé Pacheco e Zé Limeira.
João Firmino Cabral
Veio engrossar a fileira.

E o próprio João Ubaldo
(Que foi pra lá por engano)
Veio de braços abertos
Para abraçar Ariano.
E esse falou: - Ubaldo,
Morrer não tava em meu plano!

Logo chegou Jorge Amado
E o ator Paulo Goulart.
Veio também Chico Anysio
Que começou a contar
Uma anedota engraçada
Descontraindo o lugar.

Logo chegou Jesus Cristo,
Com seu rosto bronzeado.
Veio de braços abertos,
Suassuna emocionado
Disse assim: — Esse é o Mestre,
O resto é papo furado!

Suassuna que, na vida,
Sonhou em ser imortal,
Entrou para Academia,
Mas percebeu, afinal,
Que imortal é a vida
No plano celestial.

Jesus explicou seus planos
De fazer uma companhia
De teatro e ele era
O escritor que queria
Para escrever suas peças,
Enchendo o Céu de alegria.

Nisso Ariano responde:
— Senhor, eu me sinto honrado,
Porém escrever uma obra
É serviço demorado.
Às vezes gasto dez anos
Para obter resultado.

Nisso Jesus gargalhou
E disse: — Fique à vontade.
Tempo aqui não é problema,
Estamos na eternidade
E você pode criar
Na maior tranquilidade.

Um homem bem pequenino
Com chapeuzinho banzeiro,
Com um singelo instrumento,
Tocou um coco ligeiro
Falando da Paraíba:
Era Jackson do Pandeiro.

Logo chegou Luiz Gonzaga,
Lindu do Trio Nordestino,
E apontou Dominguinhos
Junto a José Clementino
E o grande Humberto Teixeira,
Raul e Zé Marcolino.

Depois chegou Marinês
Com Abdias de lado
E Waldick Soriano,
Com um vozeirão impostado,
Cantou “Torturas de Amor”,
Como sempre apaixonado.

Veio então Silvio Romero
Com Catulo da Paixão,
Suassuna enxugou 
As lágrimas de emoção
E Catulo, com seu pinho,
Cantou “Luar do Sertão”.

Leandro Gomes de Barros
Junto a Leonardo Mota,
Chegou Juvenal Galeno,
Otacílio Patriota.
Até Rui Barbosa veio
Com título de poliglota.

Chegou Regina Dourado,
Tocada de emoção,
Juntinho de Ariano,
Veio e beijou sua mão
E disse: — Na sua peça
Quero participação.

Ariano dedicou-se
Àquele projeto novo.
Ao concluir sua peça,
Jesus deu o seu aprovo
E a peça foi encenada
Finalmente para o povo.

Na peça de Ariano
Só participa alma pura.
Ariano virou santo,
Corrigiu sua postura.
Lá no Céu ganhou o título
Padroeiro da cultura.

Os artistas que por ele
Já nutriam grande encanto
Agora estando em apuros,
Residindo em qualquer canto,
Lembra de Santo Ariano
E acende vela pro santo.

Ariano foi Quixote 
Que lutou de alma pura.
Contra a arte descartável
Vestiu a sua armadura
Em qualquer dia do ano
Eu digo: viva Ariano
Padroeiro da Cultura!

FIM