sábado, 25 de fevereiro de 2017


BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que semanalmente estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de quartas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
249: (22.02.2017) Boa Tarde para Você, Anibal Couto Gondim
Semana passada, no Facebook, Anibal Couto Gondim comentava: “Decepcionado e ao mesmo tempo revoltado com os serviços prestados pelos Correios. Não entregam as correspondências. E nós que arquemos com as consequências. Pior que não temos a quem reclamar. Uma vergonha.” Cada um de nós, meu caro Anibal, sabe contar no geral e no particular inúmeras histórias que engradecem, mas que ultimamente só contribuem para denegrir a instituição que outrora era mais reverenciada pelo povo brasileiro, tendo se constituído por anos, aliás, séculos, como algo absolutamente unânime na simpatia de nossa gente, a Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos. Mas, vou lhe contar, Anibal, uma bela história, à margem dos Correios que envolveu um juazeirense pouco conhecido, hoje em dia muito menos lembrado, Hilton de Sá e Silva, filho de um empresário muito referido nessa cidade dos anos 30-50, na pessoa de Jonas Anastácio da Silva. Ainda jovem, Hilton foi residir no sul do pais e se tornou muito conhecido pela empresa que constituiu, a Servencin, que dentre outras coisas explorava serviços de malotes para empresas, mas que também realizava transporte de encomendas e correspondência, ao abrigo da lei. Eu fui conhecer a Servencin em 1971, estudante universitário, bolsista do Conselho Nacional de Pesquisas, que necessitava frequentemente remeter relatórios para o órgão, dando cumprimento a exigências sobre a minha condição de iniciante de pesquisa, pela bolsa a mim concedida. Os relatórios que fazíamos estavam próximos dos prazos estipulados e nessas circunstâncias remetíamos para o Rio de Janeiro para cumprir a exigência, entregando a Servencin de Fortaleza, até às 17 horas do dia anterior ao prazo para que ela protocolasse no CNPq na hora exata. Quero dizer com isso, Anibal, que a empresa, 46 anos atrás, cumpria exemplarmente a sua proposta de ser eficiente no trato com as nossas encomendas honrando a entrega de correspondências e encomendas em prazos restritos, sem as facilidades que hoje temos em transporte e comunicações. No dia 4 de janeiro eu postei um envelope pelo Sedex, com um Aviso de Recepção e a encomenda foi entregue no dia seguinte, mas o AR somente me chegou de volta no dia 15.02, depois que eu mesmo rastreei o objeto e verifiquei, vários dias antes, que ele de fato havia sido entregue. Nesse mesmo dia 15 passado, com o que acabo de mencionar, depois de quase um mês que nenhuma correspondência eu recebia, chegaram para mim 18 envelopes, sendo que em 3 deles havia contas a pagar, ainda de meados de janeiro. E se não é tripudiar, Aníbal, ainda fui comemorar essa entrega, pois quanta coisa eu perdi nesses últimos anos quando mudei de endereço e vários envelopes não foram entregues, apesar do meu cuidado de ter procedido a mudança de domicilio junto aos habituais remetentes. Tenho particular estima e consideração com os carteiros que são esses heróis anônimos, tendo mesmo já homenageado um deles numa dessas minhas croniquetas, mas não se pode dizer o mesmo sobre a alta direção, para falar daqueles que de fato decidem e nem sempre a nosso favor. Estou torrando sua paciência, Aníbal, e a rigor sem finalidade, pois solidários, nós sentimos profundamente como os Correios foram mergulhar nessa infinidade de desacertos que só tem paralelo com a calamidade das operadoras de telefonia e outras coisas vexatórias das privatizações. Não é de hoje que se fala em entregar esse serviço do Correio brasileiro a algum aventureiro, um bilionário imundo e desonesto desses que emporcam e não ornam o mundo velho em que vivemos, falsos empresários que um dia, a exemplos de outros tantos, vem negociar delações premiadas. Tem razão os sindicatos de operários dos Correios quando bradam pela sobrecarga de trabalho e pela escassez de braços no quadro, inchado por terceirizações sem instrução, sem competência, em contratos que bem sabemos não são os filiados às reais finalidades da empresa. Diz-se que a internet deve assumir parte dessa culpa pois já não nos anima escrever carta em papel e cumprir um ritual de remeter e esperar resposta, sendo essa mesma culpa distribuída por coisas como a rede bancária e outros serviços onde a informática e a comunicação são fundamentais. Associo-me, Anibal, ao seu clamor e ao de tantos mais sobre esse descalabro, afinal, cobrando R$1,70 por apenas 20 gramas, o Correio devia honrar esse serviço, mas lamentamos, pois seu interesse é por um produto que é muito melhor remunerado. É a lógica do mercado, negando o serviço público.  
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 23.02.2017)

BOM DIA!
Continuo transcrevendo nesta coluna semanal o conjunto de sete textos que estão sendo publicados na minha página do Facebook, tratando de questões relacionadas com a atualidade da vida juazeirense, com o objetivo de fomentar uma ampla discussão sobre esses temas de nosso interesse. Os que desejarem contribuir com esse propósito, poderão dispor do espaço na rede social, ou encaminhando sua opinião para o nosso endereço. Muito grato.
BOM DIA! (50)  Por Renato Casimiro
OS CIRCOS. “O palhaço, o que é? É ladrão de mulher...” Um dos meus encantamentos, entre a infância e a juventude, foram os circos. Talvez não me lembre de muitos, mas do Garcia, do Orlando Orfei, e do Nerino, pelo menos, e esse último, então, algo que merece sem dúvida uma imensa memória nessas páginas. Entre 1913 e 1964, o Circo Nerino foi um dos mais emblemáticos no Brasil, pois era dotado de uma competência pela reunião de diversas famílias circenses, com atrizes e atores fantásticos. O Nerino teve a sua estreia na cidade de Curitiba, em 01.01.1913, e com mais de 50 anos de existência, como se diz, “baixou a lona” na cidade de Cruzeiro (SP), em setembro de 1964, oferecendo o último espetáculo. Naquela fase, dos anos 50-60, o circo era parte do nosso imaginário, na pluralidade de seus espetáculos, na diversidade de suas atrações que incluía até teatro (os mais dotados), pois o circo era o encanto. Quando um deles entrava na cidade e víamos o desfile de astros, animais, equipamentos, acrobatas, palhaços, nós corríamos atrás para não perder nada, desde esse momento inaugural. Com o Nerino também não foi diferente. Era o maior espetáculo da terra, para lembrar o belo filme de Cecil B. DeMille que assistimos no Cine Eldorado, no começo dos anos 60. Os líderes do Nerino eram o casal Armandine e Nerino Avanzi. O Nerino, em verdade, era uma grande família, pois congregava diversas famílias de tradição circense, como os Ribolá, os Bouglione, os Garcia, os Avanzi, os De Vielmond, dentre outros. Mas o grande astro era o seu filho, Roger Avanzi, uma espécie de galã cinematográfico, ao vivo, a encantar por suas figurações, como ator, acrobata, trapezista e, principalmente como o palhaço Picolino. O Circo Nerino, segundo seus próprios documentos em arquivo bem preservado, realizou pelo Brasil doze grandes excursões, que era como tratava as suas temporadas ininterruptas em todos os estados brasileiros. Juazeiro do Norte fez parte de duas dessas temporadas, as de números VIII e IX. Na primeira vez, que correspondia uma jornada entre 1948 e 1951, o circo se instalou em Juazeiro entre 02.12.1948 e 02.02.1949, depois de ter passado pelo Crato e a seguir, indo para Missão Velha. Na segunda excursão, entre os anos 1952 e 1953, o Nerino foi montado em Juazeiro entre os dias 15.07.1953 e 05.08.1953, depois de vindo do Crato, seguindo posteriormente para Barbalha e Missão Velha. Quando um circo chegava à cidade, certamente o extrato mais sensível e entusiasmado era o nosso, das crianças, que só ao desfile dos caminhões carregando toda a parafernália de equipamentos, sem falar do mais evidente como animais e atores, quase sempre em posição de desfile, descendo a Rua São Pedro, vibrávamos com a perspectiva da festa que se instalaria na Pracinha do Socorro. Esse local, a velha pracinha, foi o local prevalente das temporadas circenses. Houve outros, entre o São Miguel, o quadro hoje denominado Praça Juvêncio Santana, ou os Franciscanos. No ritual, alguns dias para montagem da grande tenda. Caminhões enfileirados dava o tom da “vila”, a morada de todo o pessoal, com destaques para as estrelas e as famílias. Concluída a montagem chegava-se ao grande dia da estreia. Os circos habitualmente tinha um só espetáculo de terça a sexta. A segunda feira era repouso ou manutenção para reparos. Nos sábados eram duas sessões, à tarde e noite. E aos domingos poderíamos ter até três “funções”. As noites eram sempre às 20 horas. Nosso maior envolvimento com o circo, já que a Pracinha não era tão longe da Rua São José, se dava em seu entorno, até que conseguíamos penetrar-lhe um pouco mais, chegar à grande tenda, onde o espaço comportava camarotes reservados, umas 4 pessoas, cadeiras numeradas, outra parte de cadeiras não numeradas e o velho poleiro, as gerais com a arquibancada de tábuas corridas. Nas manhãs e às tardes podíamos arriscar a ver um pouco da convivência das famílias que sempre estavam nos ofertando pequenos souvenirs, como fotos do circo em espetáculos, e fotos dos astros e atrizes, especialmente as que estavam em comedidos maiôs (hoje podemos dizer isso). O que o Nerino tinha de melhor? De um tudo, para que não fique a impressão de um modesto circo de interior. Havia teatro, um condensado de peças famosas como O Ébrio, A Mestiça, Deus lhe pague, Compra-se um marido, etc, que se destinava ao público adulto. Para as matinais e vesperais, a função era preferencialmente de acrobatas em cima de belíssimos cavalos amestrados, trapezistas arrojadíssimos, apesar da rede de proteção, um grupo de palhaços que era a maior farra, especialmente pela liderança do Picolino, anões que faziam a comédia mímica e satírica, corpo de dança com belíssimas coristas. Enfim, o maior espetáculo que poderíamos desejar, particularmente pela permanência em tantos dias, o que nos permitia retornar e ver coisas novas a cada vez. Encontrei na imprensa local de então, no jornal Correio do Juazeiro, na sua primeira edição, de 16 de janeiro de 1949 uma matéria sobre a presença do Nerino entre nós. Com o título, jargão muito apreciado: “Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor..., Antonio Taumaturgo Nogueira faz ótima matéria sobre o Circo, entrevistando o líder Gaetan Ribolá, e colhe daí a satisfação de que a temporada juazeirense estava acima das expectativas, diante do que se reservava para grandes cidades do interior do pais. A previsão era de 30 espetáculos, mas esse sucesso esticaria a temporada para quase o dobro da permanência, anteriormente estimada. Nessa temporada, a comunidade circense teve dois sobressaltos. Na época, o palhaço Picolino (Nerino Avanzi) teve que realizar num hospital em Crato uma cirurgia de varises. Nessa temporada em Juazeiro, o Picolino foi desempenhado pelo filho Roger Avanzi. Outro fato foi que a polícia local capturou o famoso marginal João Leandro, tido e havido como exímio descuidista pela crônica policial, que havia furtado dias antes, a quantia de 800 cruzeiros da bilheteria do Circo. O dinheiro foi devolvido ao Circo. Mas, em dias subsequentes, pelo menos uma vez, na edição de 13.02.1949, quando o Circo já estava montado em Missão Velha, o Correio do Juazeiro faz duras críticas sobre a atenção que a população deu ao espetáculo, em detrimento da celebração do dia de Nossa Senhora das Candeias. Três textos estão nessa edição e dois deles, com pseudônimos (Zé Mutuca e Vileido Mildan) e um outro escrito por Odílio (Figueiredo). Zé Mutuca, com o título de Pantomima, escreve: “Nossa Senhora das Candeias, tanto, a Senhora da Luz, e, portanto das damas celestiais, a de cérebro mais iluminado, a santa, por excelência, clarividente e apolítica da corte celeste, percebendo que a parada do acendimento e benzimento das velas, planejada para a sua noite, no dia dois do corrente, em frente à Matriz, como fora anunciada pelo microfone maçônico do "Circo Nerino”, não passava de um movimento político, leigo-clerical, um juvinodillhada em preparativos para as futuras eleições, ela a terrível Nossa Senhora das Candeias, mandou logo, de véspera, o que os miltrados e bargados figurões não precisavam e, hipocritamente iam lhe pedir: chuva, chuva e muita chuva...” (Um texto forte e contundente, que esconde no anonimato uma inteligência brilhante, sem dúvida.) Já Vileido Mildan, na coluna Caleidoscópio, redigiu: “Sento-me e conversamos enquanto ''Pascolino" de cara caiada, grotesco, com trejeitos aparvalhados arranca aplausos dos habitués ele interiormente rir da plateia que parodeia pois que a humanidade é um palhaço, ora de circo, ora de comédia e ora de tragédia depende do palco e cenário.” Odílio (Figueiredo) por sua vez, no texto Eduque-se lendo... escreveu: “Passou, por aqui, o Circo Nerino, companhia de teatro, aliás, a melhor que tem visitado o Cariri. desde todos os tempos. Em todos os lugares onde armou sua tenda de espetáculos, muito agradou. Crato, como a mais civilizada da Zona, naturalmente soube valorizar as representações, e, por isto, além de ter assistido todas as exibições em seu próprio meio, não esqueceu de mandar, todas as noites, o que tinha de melhor do seu povo. O valor do Circo era de tal expressão artística que mesmo sendo, como é, constituído de uma verdadeira ''loja maçônica", os senhores Padres, de Crato, não perderam senão algumas noitadas. Houve noite de se contar nove ilustres sacerdotes em redor do picadeiro. O povo delirava.../ Tudo passou... E, ontem, estava saindo de uma casa comercial quando apareceu uma comissão de fora na próxima esquina e o meu companheiro, que estava falando do assunto e defendendo a coerência dos dirigentes das nossas almas, com um gesto interessante, falou: "E hoje tem espetáculo ? !...” Como se pode depreender, nessa época as tensões sociais em Juazeiro do Norte eram bem relevantes e, lamentavelmente, isso vai desembocar no assassinado do Mons. Joviniano da Costa Barreto, em 06.01.1950, no ato da pedra fundamental do Santuário Franciscano.
Um detalhe que apreciei, especialmente lendo o belíssimo livro Circo Nerino, de Roger Avanzi e Verônica Tamaoki, foi algo que não está explícito na narrativa, mas que por indicações, de fato, parece-me, aconteceu. Dessa temporada em que o Circo Nerino se instalou em Juazeiro do Norte, há um registro fotográfico de Gaetan Ribolá, Armandine Avanzi que tem em seus braços uma garotinha de uns dois anos, de nome Renée, nascida em julho de 1953, filha do sobrinho Georges Le Blum de Vielmond e da mãe Lourdes Maria de Vielmond, que estava grávida quando passou por Juazeiro, já que a família tin há se juntado ao circo em desde 1949. Essa garota que tinha o mesmo nome da avó, Reneé de Vielmond é na maturidade uma grande atriz que brilhou em novelas da Rede Globo, porque, de certo modo, estreou como figurante numa manjedoura num auto de Natal, no Circo Nerino, com cinco meses de idade, em dezembro de 1953, em Feira de Santana (BA). Em 1976, no auge da sua carreira de atriz, Renée casou-se com o juazeirense José Wilker Almeida, em relacionamento que durou até 1984, e no qual tiveram uma filha, Mariana Wilker. Mãe e filha vivem atualmente no Rio de Janeiro. Renée recusa convites para voltar à Tv, tendo recentemente amargado uma dura notícia falsa de seu falecimento. Mariana cuida do extraordinário acervo deixado por seu pai, entre bibliografia, hemeroteca, arquivo de cinema, teatro e televisão. Seu pai, José Wilker, é aquele mesmo que um dia qualquer em 1953, aos sete anos de idade, muito possivelmente deve ter saído da casa da tia Dade, na Rua Pe. Cícero, para assistir uma daquelas inesquecíveis vesperais domingueiras do Circo Nerino, sem a menor noção do que a vida lhe reservaria a partir daquele circo, na Pracinha do Socorro. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 19.02.2017)             
BOM DIA! (51) Por Renato Casimiro
VIZINHOS... A ambiência na Rua São José, enquanto lá vivi entre 1953 e 1963, foi extremamente agradável. Havia amigos de íntima relação e alguns, felizmente poucos, de apenas um conhecimento superficial, trato respeitoso, cordialidade. Ainda hoje, por esses primeiros, com os quais mais proximamente vivíamos posso falar com saudades de muitas particularidades. Dos nossos vizinhos na Rua São José, começo por relatar os que estiveram na casa de número 488, à nossa direita. Ali, conforme relato da minha família, residiram Rosa (Rosinha) Pereira Muniz e seus filhos Graziela, Grauber, Mundinha, Dircíola, Maria, Euticiano, Alberico e Sófocles. Pouco tempo depois, talvez em 1953, a família se mudou para Fortaleza e eu só me lembro de ter contato com as filhas, Grauber e Graziela, numa visita que fizemos, no fim dos anos 50. Na década de 30, como me narrou Agenor Pereira, “Era “moda” em Juazeiro os rapazes com suas namoradas ou não, irem à estação ferroviária esperar o trem, a Maria Fumaça que vinha de Fortaleza. O calçadão ficava apinhado de passageiros, bagagens e visitantes. Era uma festa. O trem apitava, procedente da Timbaúba, última parada – denominada Caixa d´Água (uma grande caixa em ferro, que guardava a água de qualidade para a caldeira da locomotiva), para abastecer o trem. Sob aplausos e vivas a composição aproximava-se da estação, enquanto as pessoas se precipitam, querendo ver de perto o luxuoso carro de 1ª. classe, com o trem ainda em movimento. No empurra-empurra, meu primo, Alberico Pereira Muniz, que pra variar estava cheio da “tiúba” (cachaça), desequilibrou-se e caiu entre os trilhos. As rodas do último vagão passaram por cima de suas pernas, esmagando-as.  Socorrido na Farmácia Brasil, do Dr. Belém, o pronto socorro da época, sua perna esquerda foi amputada na altura do joelho, e a direita na altura da canela. Exímio ourives, tendo como sócio da oficina seu irmão Sófocles, depois desse acidente preferiu enveredar pelo caminho da cachaça, que o levou à morte”. Eu não me lembro de Alberico, mas ouvi muitas estórias de como Dona Rosinha Muniz e de suas irmãs lidavam com Beriquinho, como o chamavam em família. Nesta casa, nossa vizinha, de propriedade de Ângelo de Almeida, depois reformada (aí, sim, eu me lembro da reforma) onde foram morar Socorro Cansanção e Geraldo Militão. Aí nasceram suas filhas Geni, Jane e Enia. Fruto desta amizade com nossa família, até hoje, minha tia Zuleica foi madrinha de batismo de Jane, enquanto minha irmã Ana Célia foi a madrinha de “apresentação”. Nessa casa residiram depois Ceilde (Maria Cleide Germano), seu marido João Pedro de Oliveira e os filhos, dentre estes me aproximei mais de D´Arc (Joana DÁrc Germano Macedo), Lúcia e Everardo (Vevé). O imóvel hoje está literalmente abandonado, decadente, pertencente ao espólio de Ismênia Almeida Abreu, filha de Angelo de Almeida. Na casa em frente, a de número 477, morava a família de Alice Macedo e Raimundo Siqueira, os filhos Djalma (do primeiro casamento de seu Siqueira), Ivanildo, Ivoneide, João Bosco, Liduina (afilhada de meu pai, na sua formatura de professora) e Demontieux. Seu Siqueira tinha um comércio de carvoaria, na Rua Santa Clara. Freqüentemente íamos lá, eu e o Bosco, para apreciar o movimento. Às vezes íamos para providenciar compra de carvão para nossa casa, e um empregado vinha deixar num carrinho os sacos de carvão, “bem pesados”, conforme dizia Seu Siqueira, para alimentar os fogões, sob o comando de Nana (na casa de minha avó) e da Dina (em nossa casa). As animadas tertúlias promovidas por Djalma, que também era funcionária do nosso primo Cipriano Casimiro de Oliveira, na sua Movelaria Casimiro, com loja na Rua da Conceição e oficinas na Rua São Paulo. Nestas tertúlias ouvíamos os últimos lançamentos de discos de todos os cantores da época, como Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Orlando Silva, Orlando Dias, Anísio Silva, Caubi Peixoto, o pessoal da jovem guarda que começava a despontar. Até acompanhava as idas e vindas de um vendedor que trazia estes discos, das lojas de Fortaleza – Aequitas e Vox, e que eram comprados, avidamente por Djalma. Em sua casa havia uma radiola, em móvel bonito e caixas de som separadas, e potentes. Nos fins de semanas uma boa turma se reunia aí para dançar. Acho que foi por aí que passei a ter muito gosto pela música. Nós, os moleques, ficávamos a ver todo aquele movimento que acontecia na sala, de olho nos casais que se formavam e iam pela noite dançando naquela salinha apertada. A casa dos Siqueira era de livre acesso. Não havia cerimônia para se chegar ao quintal onde sempre se arrumava uma boa brincadeira com Ivonildo e Bosco. Com a mudança da família de Siqueira, o proprietário – Ângelo de Almeida a reformou e vieram ocupa-la o casal de missionários americanos Eveline e Thomas Wilson, e as duas filhas menores. Demoraram-se pouco, talvez um ano. Veio, então, o Alberto Fabião de Assis, e a família, ainda hoje residente com dona Bibi, filhos, netos e bisnetos, ocupando a casa que adquiriram. À nossa esquerda, na casa 478 aí vivia a família de meus avós, desde 1938. Seu Antonio Soares faleceu precocemente em 1948. Essa casa que ainda hoje conserva boa parte de sua arquitetura tem sido para nós o centro das atenções da família, depois que por tantos anos continuou servindo de sede da família, com a matriarca Eudócia (Neném) e seus filhos Doralice, Ivaniza, Maria dos Anjos (Dosanjos), Maria Silvanir, Maria (Babá), Francisca (Zuleica), José e Edmilson. Ainda falarei demoradamente sobre esse endereço, afetivo e amoroso. Mais à esquerda havia a grande casa 466, do empresário José Pedro da Silva e sua senhora, dona Terezinha, do ramo de curtume, instalado no Salgadinho. Aí viveram também os filhos Paulo, João Pedro, Valdo, Maria José, Isaura, Doralice, Maria e Ivone que fomos vendo sair aos poucos pelos casamentos que contraíram. Será ainda prazeroso rememorar cada uma dessas casas, dessas famílias e o farei com muito gosto. Apresento a seguir uma pequena lista dessas moradias, citando os residentes, naquele que, para mim, foi o retrato mais fiel dessa querida Rua São José. Minha preocupação aqui é flagrar a maior parte daqueles que aí estavam entre 1953 e 1963. Por isso, muitos que residiram nesse trecho não serão citados, por o terem sido em outras épocas. Casa 426: Izabel e Pedro Leandro Menezes (filhos Alice, Otacílio e Valdelice); Alice Xavier do Vale (Irenilce); Irenilce Xavier do Vale (Maria Tereza, Maria Isabel); Casa 432: Adalgisa (Santinha) Gomes de Figueiredo (Paulo Herialdo, Alceu, Audízio, Maria do Socorro (Manina) e Luci); Casa 435: Stael Coelho Alencar; Casa 438: Luizinha Almeida (Auricélio, Célia, Célio); Casa 441/445: Alice e Vicente Xavier do Vale (Irenilce, Girleno e Pedro Sérgio); Casa 444: Miss Mary Elizabeth Mills / Dona Severina; Casa 449: Eridan e Gessi Maciel Lopes (Deusimar, irmãos); Sr. e Sra. Ramalho (William, irmãos); Casa 454: Maria e Izidro Bezerra de Menezes (Cícero Hércules, Robério, Rogério e Marta); Casa 455: Isaura e Olívio Barbosa (Francisco Samuel, José Daniel, Maria do Socorro, Maria de Fátima, Maria Auxiliadora, e Tereza Neuma); Maria Moreira da Silva (Pretinha) e Galdino dos Santos (Francisco Moreira da Silva); Maristela e José Rodrigues (Faber, Fátima, Fabiano, Flavilene, Flávia); e atualmente residência de minha irmã Ana Célia, seu marido Francisco Fechine e dos filhos André e Alexandre; Casa 461: Filomena (Lôzinha) e Raimundo José da Silva (Francisco, Adalio, Ribamar, Carlos, José Pedro, Renato, Ilário, Elizabeth, Ana Cláudia, Tereza Neuma, Adelice e Alice); Casa 465: Cel.  Fausto Guimarães (Adautiva, José Fausto, Maria da Paz, Maria das Mercedes, Maria do Céu, Maria dos Remédios, Evangelista, Maria de Lourdes, Aloísio, Demóstenes); Casa 471/473: Rosa e José Monteiro de Macedo (Garagem, fundos da casa da Rua Pe. Cícero); Casa 496: Otília e Zuza Cafezeiro (Adonias(Tetê), Zuza, Creuza, Nair, Valdênia); Casa 502: João Pedro da Silva; Maristela e José Rodrigues (Faber, Fátima, Fabiano, Flavilene, Flávia); Maria Moreira da Silva (Pretinha) e Galdino dos Santos (Francisco Moreira da Silva); Casa 506: Maria das Dores e Antonio Avelino Mendonça (Dorgival, Carlos Alberto(Lalá), Dário, Darival e Dalva); e, finalmente, na Casa 509: Maria e Ângelo de Almeida (Lídia e Ismênia). Essa era a cena humana das minhas lembranças pela Rua São José. Hoje, o meu sentimento é como se ainda uma parte de mim aí continue residindo. No ir e vir, por vezes até parece que vou encontrando os retratos dessas saudades. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 20.02.2017)             
BOM DIA! (52) Por Renato Casimiro
A FAMILIA CASIMIRO (I). Preciso de um tempo para lhes falar da família Casimiro, como assim eu escrevo. Mas, Casemiro, Cassemiro, Cacimiro, Cascimiro, Cazemiro, Cazimiro, Kazimiro, Kazemiro, Kasemiro, Kasimiro, Kacimiro, Cashimiro, Cashemiro, Casymiro, Cazymiro, Cassymyro, Cascimiro, Cascemiro, Cazzimiro e Cassimiro são algumas das grafias diversas do que me parece seja a família Casimiro, como me assino. Não é um exercício de ficção, estes nomes existem, de fato. Passei anos verificando listas telefônicas pelo Brasil. Ainda estudante no Ginásio Salesiano São João Bosco, em Juazeiro, no começo dos anos 60, eu fui chamado, um dia, perante o zeloso secretário Pe. Mário Balbi, para ouvir dele que, tanto meu pai quanto eu, vínhamos assinando errado o nosso sobrenome.  De fato, naquela época, eu e ele grafávamos Casemiro em nossos nomes. A simples constatação no original de minha certidão de nascimento revelara o equívoco. De lá pára cá, não mais incorri no erro. E meu pai, também, pois a evidência era flagrante. A família Casimiro, e bem assim outras que se associaram por matrimônios nos últimos 100 anos, ou que dela tenham sido geradas, se espalhou largamente pelo país, embora conserve as suas notas de clã sertanejo, nordestino. Ouvi em família, muitas vezes, de suspeitas não comprovadas, as nossas prováveis origens portuguesas, espanholas, ou mesmo polacas. Aliás, segundo uma pesquisa de Raimundo Araújo, Casimiro significa, em idioma polonês, “pregador da paz”. Na verdade, o que se denuncia acima pela grafia do sobrenome, pode ser encontrado fartamente pela Europa, sobretudo na península ibérica, mas também no leste europeu. Pela Internet, constato que o modo de escrever acima é ainda muito mais ampliado, pela introdução de k, z e y. Convém salientar: o acima referido é de informações de pessoas físicas, nascidas e residentes no Brasil. Tenho por hábito, quando viajo, verificar nas listas telefônicas o espalhamento enorme desta velha família do sertão. O núcleo original parece ser o município de Sousa, no alto sertão da Paraíba. Aí, por então distritos (São Francisco, Aparecida, Ramada), fazendas (Carnaúba, Chabocão, São Paulo, Saco de Cavalos), e tantos outros cantos, a família fincou raízes e se conservou dona destes sítios e lugares, povoando estes recantos, provavelmente, desde os meados do século XIX, para se consolidar na propriedade mais importante, a Fazenda Carnaúba, as prósperas terras do Major José Alves Casimiro, brioso oficial da Guarda Nacional. Este meu bisavô, de seu casamento com Josina Maria da Conceição, depois Alves Casimiro, teve 21 filhos, dos quais se criaram, apenas, 16. O primogênito era Antonio, meu avô. Os demais eram: Joaquim, Manuel, Francisco, José, Cândida, Cecília, Soledade, Regina, Joaquina (Quinô), Luiza, Paulina, Rita, Josina, Ana e Maria. José Alves Casimiro e Josina faleceram, respectivamente, em 12.02.1897 e 21.03.1916 e estão sepultados no cemitério da Ramada, nas proximidades do hoje município de São Francisco, outrora distrito de Sousa. Todos os anos, em 2 de novembro, o lugar enche-se de almas vivas, em busca de outras tantas almas, do relicário saudoso da família, para um reencontro emocionado e a assistência à celebração da missa dos finados, às nove da manhã, pontualmente, pelo abusado padre Dagmar. Vez por outra, vamos eu, minha irmã, Fechine e seus filhos, repetir a visita que meu pai fazia e nos levava. Em Julho de 1968 eu fui à Fazenda Carnaúba, levado por meu pai, e visitando os parentes, ele me apresentou ao seu tio, irmão de sua mãe, Manoel Casimiro Pordeus. O tio Pordeus tinha este nome por ser um caso típico da prática muito comum de atribuição de nomes e sobrenomes aos filhos, por famílias cristãs, sobretudo no interior do país, baseada nas referências mais populares do seu devocional religioso. Dentre os Casimiros, principalmente entre as mulheres, sobressaem a homenagens através dos nomes “da Conceição, de Jesus, dos Remédios, das Neves, das Dores, de Lourdes. Assim, o tio Pordeus, que originalmente se assinava por Deus, foi uma primeira referência que tive, a partir desta visita, com relação à minha pretensão de conhecer mais de perto os diversos ramos da família. Sentado junto à sua rede, pois já vivia bem adoentado, eu pude colher os primeiros e preciosos apontamentos que me tem permitido fazer um longo inventário da família Casimiro, entre os séculos XIX e XX, com a intenção de ainda escrever-lhe uma volumosa nota genealógica. Mas, sobre a família Casimiro, não é minha intenção aqui descer a particularidades da sua existência e de sua genealogia, tarefa que já vem sendo cumprida e reservada para uma outra publicação exclusiva, no futuro. Desejo, tão somente, referir ao que desta família permeou as minhas memórias da Rua São José, com a aproximação de familiares muito queridos. De início, uma primeira questão: quando os Casimiros chegaram ao Juazeiro ? Meus avós paternos, Antonio Alves Casimiro (Tonhêro), filho do Major José Alves Casimiro, e Ana Gonçalves (da Silva) Casimiro (Sant´Ana) chegaram ao Juazeiro em 1922, consoantes as estórias da família, uma delas reproduzida por Luitgarde Oliveira Cavalcante Barros, em seu livro A Derradeira Gesta – Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão, p.279, (Mauad/Faperj, 2000), pela narrativa de meu tio, José Gonçalves Casimiro, irmão de meu pai. Meu avô e sua família deixaram a Fazenda Carnaúba para vir morar em Juazeiro depois de um grande desgosto que foi o casamento de seu irmão, José, com a tia Maria Gonçalves da Conceição, sua prima. Não era a única estória de família. Falava-se também de um outro desgosto que viera com a frustração de que o tio Francisco, irmão de meu avô, não seguira o ministério sacerdotal. A casa grande da Carnaúba ainda hoje guarda em seu interior uma capela autorizada pelo bispo da diocese de Cajazeiras, com muitos paramentos e objetos litúrgicos para as celebrações. Por trás, curiosamente, há um quarto onde o Major José Alves Casimiro teria desenterrado uma botija. Mais uma das estórias de família. Mas, a família de Tonhêro foi residir na Rua da Matriz, outrora lugar muito aprazível e recanto de preferência para a moradia de muitas famílias. Meu avô serviu a Floro Bartholomeu da Costa e ao Pe. Cícero Romão Batista. Ele dispunha de veículos e fazia transporte de pessoas e cargas. Meu tio José, neste dito depoimento à profa. Luitgarde, narra um pouco desta atividade da família, particularmente aquela em que envolvia estes dois líderes da política juazeirense, quando da passagem da Coluna Prestes pelo Cariri, nas proximidades de Campos Sales. Depois da morte de Floro, em março de 1926, meu avô retornou à Paraíba com a família. Mas, diversos membros da família permaneceram e continuaram vindo residir em Juazeiro. Sumariamente, vejamos alguns dos Casimiros que alcancei residindo na terra do Pe. Cícero. Cândida Alves Casimiro, Tia Candinha, que conheci já viúva de João (Joca) Lopes Pamplona, residindo na rua São Francisco, já próximo da rua São Jorge. Fumava feito uma caipora. Corpulenta, era uma simpatia. Voz de timbre forte e grave. Dos seus quatro filhos (Noé, José, Luiza e Hermínia), apenas José Lopes de Oliveira, o “seu” Oliveira, próspero comerciante, era estabelecido na Rua São Pedro, com a conhecidíssima Casa das Variedades, onde se encontrava “de um tudo”. Cecília Josina Casimiro, Tia Cecília, que também conheci viúva de Manoel Alves Casimiro, ou Casimiro do Nascimento. Aliás, o nome Nascimento vem da circunstância de que Manoel nasceu no dia do Nascimento do Cristo, 25 de dezembro. Daí a mudança do nome. Os contatos mais freqüentes com tia Cecília eram através de visitas que fazíamos a sua casa, também na Rua São Francisco, vivendo em companhia do filho José, casado com Ubaldina. Luiz, outro filho de tia Cecília, casado com Rita Trajano, veio residir na Rua São José, já nos anos 70. Soledade Alves Casimiro, Tia Soledade, (antes Maria Soledade de Jesus), também já viúva de Domingos Teodósio de Oliveira, residia no começo da Rua Santa Luzia, próximo do Cemitério do Socorro. Dos seus filhos, a nossa aproximação era maior com José Teodósio Casimiro (José de Domingos, como era mais conhecido), casado com Maria Casimiro Chagas. Dos seus filhos, a minha amizade maior era com José Chagas Casimiro (Cimar), meu colega de Ginásio Salesiano. Continuaremos. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 21.02.2017)             
BOM DIA! (53) Por Renato Casimiro
Continuando a falar dos Casimiros que residiam ou ainda residem em Juazeiro, relembro Cipriano Casimiro de Oliveira, filho de Ana Alves Casimiro (Tia Aninha) e de Secundo Alves de Oliveira. Cipriano era um primo muito querido nosso. Empresário muito destacado no ramo de móveis, tinha uma fábrica na Rua São Paulo, e loja na Rua da Conceição. Casado com Nadir Alves Casimiro, tiveram 12 filhos e residiram na Rua São Paulo. Sua Movelaria Casimiro era uma empresa muito bem sucedida. A família de Nadir e Cipriano, puxada pelos filhos mais velhos, como Cícero Ivanildo, foi residir no Rio de Janeiro. Cipriano faleceu, de infarto do miocárdio, aos 74 anos, em 04.12.1984. Francisco Gonçalves Casimiro, Chichico, filho de tio Antonio (irmão de meu pai) e tia de Jesus era exímio carpinteiro e tinha oficina na Rua São Francisco. Foi lá que aprendi a manejar um serrote e a fazer pequenos brinquedos de madeira. Nos fins de tarde, quando voltava da Escola Normal Rural, era para lá que ia, freqüentemente. Quando não estava aprendendo alguma coisa com as ferramentas da oficina, ele me permitia sair pela rua usando sua bicicleta. Foi nela que aprendi a pedalar. Era um deslumbramento. Chichico era dos sobrinhos mais queridos de meu pai e estávamos sempre próximos. Alguns anos depois foi residir em Brasília, pois suas habilidades de artesão o qualificaram soberbamente para aquele momento em que a Capital Federal nascia. E lá, já aposentado, faleceu em 21.08.1997, deixando filhos e netos. Roldão, Creuza e Carlos (Carrim) Casimiro de Lima, três irmãos, são filhos de tia Maria Gonçalves Casimiro e Cícero Firmino de Lima. Dos três, apenas Carrim ainda mora em Juazeiro. Creuza morou conosco na Rua São José por uns tantos anos. Roldão, também, como Carlos, era artesão de carpintaria e ficou bons anos no Juazeiro. Depois voltou para a Paraíba. Com o falecimento de meu avô Tonhêro e de outros parentes mais próximos, ficou “herdeiro” da Carnaúba e até hoje está cuidando daquelas terras, residindo na casa de Tonhêro. Meu pai nunca aceitou a posse das terras que lhe cabiam por herança, preferindo que elas ficassem para os que ali residiam, inclusive Roldão. Um problema que ficou, pois com a morte de meu pai, nenhum papel ficou assinado para esta sucessão. Entre nós, em nossa casa da Rua São José, outros dois sobrinhos de meu pai, vindos da Paraíba, residiram conosco por uns anos. Idelzuito era filho de José, irmão de meu pai, e tia Custódia. Veio para estudar e também nos ajudou muito no Centro Elétrico. Depois foi embora para Brasília. Lúcia era filha de Ivani, irmã de Roldão, Creuza e Carlos, e de Chateubriand Pereira Ramos, ainda hoje residentes em Sousa, PB, gente querida que visitamos vez por outra. Lúcia também veio estudar e só voltou para a Paraíba depois de concluído o curso pedagógico. Hoje, com marido e filhos reside em Brasília. Outros vinham e voltavam rapidamente. Era o caso de Juvino e Santa Gonçalves Casimiro. Vinham da Paraíba, em viagens quase mensais. Eles eram filhos dos tios Rita Gonçalves Casimiro e Manoel Gonçalves da Silva. Também não posso deixar de mencionar José Gonçalves Casimiro, o José de Anísio, filho dos tios Josina e Anísio Gonçalves da Silva. Quando decidiu ir morar em São Paulo, passou uns dias conosco e depois sumiu na poeira das estradas. Levou consigo um livrinho de orações com o qual minha avó Neném Soares lhe presenteou e recomendando leitura nas horas certas do dia, nunca e somente nas aflições. Já no final dos anos 70 fui reencontrá-lo empregado na Tv Record, de São Paulo, como comediante apelidado de Bimbim. Preciso falar também de Moisés e Mimosa. Quantas vezes fomos e viemos à Paraíba no caminhão de Moisés? Foram várias viagens por um roteiro que incluía Sousa, Marisópolis, Divinópolis, Cajazeiras, Lavras da Mangabeira, São Pedro da Serra (hoje Caririaçú). O carro era do tipo meio ônibus, meio caminhão, dispondo de duas ou mais cabines para passageiros e uma parte de carroceria para transportar compras. Moisés e Mimosa eram daqueles que “faziam a feira”. Prestavam este serviço em tempos difíceis de estradas empoeiradas. Bem cedinho de um sábado saiam de casa, onde ainda hoje moram, em São Francisco, e já nos pegavam junto a porta de Maria e Abdias, na saída da Carnaúba. Já de tardinha chegávamos ao Juazeiro, passando pela curva da morte da serra de São Pedro. De longe, o coração batendo forte. Era o Juazeiro chegando. De novo na Rua São José.  Por último, foram os tios José (irmão de meu pai) e Custódia que se mudaram para o Juazeiro, indo morar na Rua São Francisco. Ambos viveram aqui até falecer. Os filhos foram deixando o convívio com os pais, casaram-se e a maioria foi para Brasília e São Paulo. Por último foi o primo Luizinho que hoje leciona numa escola do Tocantins. Mas, eu também não posso deixar de considerar que outros “Casimiros” já estavam na cidade algum tempo antes. É o caso da minha tia-avó, Joaquina (Canã) Gonçalves Alves Casimiro, irmã de minha avó paterna, Ana Gonçalves Casimiro, filha de Antonio Gonçalves da Silva e Custódia Gonçalves da Silva. De certa maneira foi a tia Canã a responsável pela vinda de suas várias irmãs para Juazeiro, com os motivos maiores para reunir a família, além de viver na terra do Patriarca dos Sertões. A tia Canã casou-se com Luiz Teóphilo Machado e viveram inicialmente em Lavras da Mangabeira. Tiveram os seguintes filhos: João Machado, Newton Gonçalves Machado, Antonio Machado, Geni Machado Amorim, Virgílio Gonçalves Machado e José Teóphilo Machado. Canã e Luiz Teóphilo Machado passaram a residir em Juazeiro e ele se tornaria, inicialmente interino, depois o titular, do segundo tabelionato de Juazeiro, fato referido por seu neto, Paulo Machado, na obra “Cartório como Fonte de Pesquisa”, como ocorrido em 19.12.1921. Amigo pessoal do Pe. Cícero Romão Batista, Luis Teóphilo Machado foi o responsável pela lavratura do famoso Testamento do Pe. Cícero, de 4 de outubro de 1923. É também na obra de Paulo Machado que se registra a presença de um certo João Casimiro do Livramento Piancó, como suplente de delegado de Polícia da Vila do Joazeiro, entre os anos de 1911 e 1914. No dito Testamento do Pe. Cícero, aparece uma citação de um certo Casimiro, que nunca soube quem seria. É provável que mais gente tenha vindo em período anterior a este. Na Rua São José, depois na Rua Santa Luzia, assim como, novamente na mesma São José, nossa casa, afinal, era um recanto de acolhimento de todas estas pessoas da família que nos traziam notícias e sentimentos. E também, por gestos fraternos de generosidade, as coisas boas das terras da Paraiba, bastasse um bom inverno. Lembranças do canavial e do engenho da fazenda Carnaúba, como as rapaduras, batidas e os alfinins, dulcíssimos, envoltos em palhas de bananeiras ou mergulhados em goma de mandioca. Lembranças da casa de farinha, de imorredouras farinhadas e do fabricamento de saborosíssima farinha torrada. Lembranças dos roçados, das primeiras vagens do feijão das águas, gerimuns da horta e ovos das poedeiras do quintal da casa. Presentes que nos chegavam pela estima cativante dos que não esqueciam de Didi, Nato, Dora e Luiz, de Tonhêro. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 22.02.2017)             
BOM DIA! (54) Por Renato Casimiro
ENERGIA ELÉTRICA EM JUAZEIRO (I) ANTECEDENTES... Foi, provavelmente, no final do ano de 1925, entre outubro e novembro, que os lampiões de rua começaram a entrar em desuso. A cidade estava ganhando um serviço, privado, de iluminação, para residências, estabelecimentos comerciais e residências. Limitado, é verdade, ao período noturno, entre as 18 e 21 horas, inicialmente. Há poucas informações sobre esta operação, a não ser as que encontramos transcritas por Paulo Machado, em “Cartório como fonte de pesquisa” (1994), um dos seus mais preciosos livros. E é exatamente aí que vamos iniciando este relato, ao sabor desta lembrança de quase 85 anos que a cidade começou a experimentar este progresso. A primeira referência parece ser esta de 01.10.1925, quando o Dr. Audálio Costa e a dona Joana Tertulina de Jesus (beata Mocinha) registram em cartório o contrato da sociedade que visava a exploração desta Usina Elétrica, para fornecimento de luz e força, e que compreendia também os beneficiamentos de arroz e algodão. O equipamento gerador de energia estava instalado na Rua São José, próximo à casa do Pe. Cícero, coincidentemente, onde funcionaria muitos anos depois a CELCA – Companhia de Eletrificação do Cariri. Em verdade, por ser a ecônoma da família, pode-se dizer sem medo de errar que este foi uma dos investimentos que o Pe. Cícero bancou com recursos próprios, mesmo ocupando o cargo de prefeito. Daí por diante, anoto uma sucessão de fatos: Sem data, a empresa A. Costa & Cia. É sucedida por Alencar & Cia, com a entrada do sócio Pedro Silvino de Alencar; 10.03.1928: Arrendamento da Empresa Elétrica para Alencar & Cia. para José Hermínio Amorim; Sem data, a empresa Alencar & Cia se desfaz e a beata se torna sua proprietária única; 03.09.1929: Joana Tertulina de Jesus firma contrato com a Prefeitura Municipal de Juazeiro, representada pelo prefeito Alfeu Ribeiro Aboim, para a iluminação pública. O contrato tem algumas clausulas bem interessantes, como a obrigação da Prefeitura consumir um mínimo de 6.700 “velas” (wats), a Usina funcionaria de 18 às 24 horas, e tinha o monopólio do serviço, etc, etc; 22.01.1931: Novo arrendamento da Empresa Elétrica para José Hermínio Amorim; 05.06.1933: Renovação do arrendamento da Empresa Elétrica para José Hermínio Amorim; 21.02.1935: Promessa de venda da Empresa Elétrica a Antonio Gonçalves Pita, por 60 contos reis; 07.06.1935: Joana Tertulina de Jesus reafirma a sua promessa de venda a Antonio Pita e lhe dá mais 120 dias de prazo; 25.07.1935: Ao que se deduz, Antonio Pita teria desistido da compra e Joana Tertulina de Jesus contrata José Hermínio Amorim para gerir sua Empresa por 3 anos; 21.12.1935: Prorrogação do contrato da Empresa com a Prefeitura, representada pelo prefeito Francisco Néri da Costa Morato; 24.05.1937: O governo estadual autoriza a prorrogação do contrato da Empresa com a Prefeitura, representada pelo prefeito José Geraldo da Cruz; 12.08.1938: Joana Tertulina de Jesus vende a Empresa Elétrica a Antonio Gonçalves Pita; Sem data, a Empresa Elétrica volta ao controle de Joana Tertulina de Jesus, e se instala na Rua do Cruzeiro, anteriormente denominada São Vicente (atualmente, trecho entre rua São José e Av. Leandro Bezerra); 25.01.1940: A Empresa Elétrica é arrendada pelo Dr. Expedito Pita; 11.11.1948: A Empresa Elétrica é adquirida pela Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, na administração do prefeito Dr. Antonio Conserva Feitosa. A partir desta data, o serviço agora municipal, passou por alguns investimentos para ampliar sua capacidade de atendimento e pelos anos 50 já está instalado nas proximidades do Mercado Público. Somente em fins de 1961 nos chega a energia de Paulo Afonso. Vasculhando arquivos disponíveis na Internet, encontro no acervo do presidente Getúlio Vargas o seguinte: Telegrama do prefeito José Monteiro de Macedo ao presidente da república Getúlio Vargas sobre o projeto que determina a subordinação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco à Comissão do Vale do São Francisco. Joazeiro, 07.11.1952: “Solicitamos a atenção de V. Excia. no sentido de impedir que seja aprovado o substitutivo do projeto nr. 1057/50 de autoria do Deputado Manoel Novaes, principalmente o artigo 16 e seus parágrafos porque a subordinação do sistema de burocracia visa integrar a atividade da hidroelétrica de São Francisco que tem dado amostras de maior eficiência em gerir o patrimônio da mesma companhia, demonstrando incontestável capacidade de trabalho aos fatos reconhecidos por autoridades nacionais e estrangeiras que tem visitado as obras de Paulo Afonso. Atenciosas saudações. José Monteiro de Macedo - prefeito municipal, José Maria de Figueiredo - presidente da câmara, Francisco Dias Guimarães - presidente do PTB, Antonio Braz de Oliveira - presidente da UDN, Dr. Mozart Cardoso Alencar - presidente do PSD.” Não vejo dúvida qualquer em afirmar que a eletrificação de Juazeiro do Norte com a rede vinda de Paulo Afonso foi a obra pública do século XX em nossa cidade. Quando o Cariri entrou nos planos da CHESF, outra batalha se travou: de um lado as ponderações técnicas de engenheiros e diretoria da CHESF, pelo chamado Sistema Cariri; de outro o Plano Távora, assim chamado, patrocinado por Virgílio, que previa a eletrificação de Fortaleza, através de um linhão via Campina Grande, muito mais caro e demorado. Venceu, por empenho dos engenheiros da CHESF, Antonio José Alves de Souza e Octávio Marcondes Ferraz, o Sistema Cariri. (Aqui, no nosso relato, há uma enorme simplificação, pois todo este processo somente caberia num denso volume de livro. Restrinjo-me a apontamentos, não sou historiador). Não vamos muito longe para considerar o marco desta vitória, em jornada memorável de alguns “juazeirenses” (Edmundo Morais - Presidente da Associação Comercial de Juazeiro do Norte, José Monteiro de Macedo - prefeito de Juazeiro do Norte, Hildegardo Belém de Figueiredo, Antônio Corrêa Celestino, Felipe Neri da Silva, José Maria de Figueiredo e José Colombo de Souza) que decidiram ir juntos ao então presidente da república, Getúlio Vargas, em dezembro de 1954, para conseguir a extensão das linhas para o Cariri. Vargas estava em Paulo Afonso para inaugurar as duas primeiras turbinas do complexo, e através de José Colombo de Souza foram recebidos e a ele expuseram o seu intento. Edmundo Morais contou, em entrevista a Ary Bezerra Leite (livro História da Energia no Ceará), “a boa acolhida que a caravana teve em Paulo Afonso. Alojados na casa de hóspedes da CHESF, passaram a uma visita à usina e, logo pela manhã, tiveram o primeiro contato com o Presidente Vargas, que ao ser apresentado à caravana do Cariri, sorriu e disse: “Depois do almoço vou soltar uma bomba para o Cariri". No período da tarde, Vargas recebeu as representações dos Estados, reservando uma revelação especial para o Ceará. As declarações do Presidente da República, segundo Hildegardo Belém de Figueiredo, foram: “Já estão bem adiantados os estudos e providências para a pronta realização de uma linha de transmissão que, no sentido norte, atingirá o coração do Ceará na região densamente povoada do Cariri, cujo desenvolvimento econômico e capacidade industrial têm sido testemunhados pelo progresso do artesanato ali existente". O Cariri recebia então o sinal verde e a motivação para entrar na luta pela energia da CHESF, e o mais cedo possível. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 23.02.2017)
BOM DIA! (55) Por Renato Casimiro
ENERGIA ELÉTRICA EM JUAZEIRO (II) COMITÊ, POSTE E CELCA... Em 1956, ante essa nova situação, a confirmação do Presidente Vargas, é reativado o Comitê Pró-Eletrificação do Cariri, compondo-se uma diretoria integrada por representantes de Juazeiro, Crato e Barbalha: Presidente, Dr. Hildegardo Belém de Figueiredo; 1º Vice, Dr. Décio Teles Cartaxo; 2º Vice, Ernani Brígido Silva; 1º Secretário, Dr. Geraldo Menezes Barbosa; 2º Secretário, Zilberto Fernandes Telles; 1º Tesoureiro, Odílio Figueiredo; 2º Tesoureiro, Elony Sampaio; Comissão de Propaganda: Wilson Machado (Rádio Araripe); Coelho Alves (Rádio Iracema); J. Lindemberg de Aquino (Rádio Araripe); Espedito Cornélio (Rádio Iracema); Dr. Antonio Fernandes Telles (Associação Comercial do Crato); Edmundo Morais (Associação Comercial de Juazeiro); Comissão de Defesa: Prefeitos do Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, Dr. Derval Peixoto, Dr. Geraldo Menezes Barbosa e Sr. Neroly Filgueira. De todos os eventos desta jornada, muitos dias de trabalho intenso montando a infra-estrutura, plantando postes, esticando fios, dois deles foram particularmente simbólicos: a chamada Festa do Poste (a instalação do primeiro poste de eletricidade), em 25.07.1959, e a Festa do Século (inauguração da Eletrificação do Cariri), em 28.12.1961. Falemos, inicialmente, do primeiro, a Festa do Poste. A estrela desta festividade foi o então Ministro da Guerra, General Henrique Duffles Baptista Teixeira Lott (*Sítio,MG: 16.11.1894 / +Rio de Janeiro,RJ: 19.05.1984). Uma publicação do Governo do Ceará, editada em 1965, transcreve o discurso que o então deputado Guilherme Gouveia fez na Assembleia, em 1960, com os seguintes comentários sobre a vinda de Lott ao Juazeiro: “Certo, conseguiu o chefe do Executivo sobredoirar uma derrota evidente com ribombos festivos no vergel do Cariri. E até como atração central conseguiu-se a presença do Senhor Marechal Teixeira Lott, Ministro da Guerra e candidato do situacionismo federal à presidência da República. (...) O show do Cariri procurou atingir várias "metas", segundo se diz, agora, na novíssima gíria administrativa da República. Uma delas, a principal, por certo, terá sido a de derivar a atenção pública desse espetáculo de alarmante inoperância, que tão bem define o atual governo, através do pano de amostra de quatro meses de desorientação e esterilidade. (...) A Festa do Poste deve ser traduzida como comemoração de um nítido triunfo das administrações Paulo Sarasate e Flávio Marcílio, a cujo crédito deve levar-se, ainda, a abertura da concorrência para o estudo do Plano de Eletrificação do Ceará... O ilustre General Lott, a sua comitiva, o governador, os turistas da República que foram visitar o túmulo do Pe. Cícero, diante do qual ainda se ajoelham legiões da plebe sem terra do Nordeste, vindas em romarias, dos mais longínquos feudos,  - toda essa gente, Senhor Presidente, foi assistir ao atual governo do Ceará fazer cortesia com o chapéu alheio.” Por ocasião da Festa do Poste, uma placa comemorativa foi fixada para marcar a instalação do primeiro poste que ligou a energia de Paulo Afonso a Juazeiro do Norte. Este monumento ficava na Av. Pe. Cícero, cruzamento com a via férrea, ao lado onde funcionou Cariri Industrial e hoje se constrói um shopping center. Infelizmente, esta placa sumiu e até hoje não foi identificado o seu paradeiro. Felizmente, em nosso arquivo temos uma foto desta placa e por ela vemos os dizeres, aos quais acrescento alguns dados (locais, datas de nascimento e falecimento de cada): “Marco comemorativo da instalação do primeiro poste que ligará a energia elétrica de Paulo Afonso ao Cariri. 25 de Julho de 1959. Presidente da República: Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira; Ministro da Viação e Obras Públicas: Almirante Lúcio Meira; Governador do Estado: Dr. José Parsifal Barroso; Vice-Governador do Estado: Wilson Gonçalves; Presidente da CHESF: Eng. Antonio José Alves de Sousa; Executor do Plano de Eletrificação: Eng. Bernardo Bichucher; Prefeito Municipal de Juazeiro do Norte: Dr. Antonio Conserva Feitosa.” As personalidades citadas na placa comemorativa da Festa do Poste, à exceção do presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, estavam presentes ao ato. Nesta ocasião, em nome da comunidade, especialmente representada pelo Comitê Pró Eletrificação e Industrialização do Cariri, que reunia lideranças das cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, usou da palavra, visivelmente emocionado, o Dr. Hildegardo Belém de Figueiredo, Presidente do Comitê, que termina seu discurso com as palavras seguintes: "Meus senhores: Encimado da verde flâmula que simboliza a luta, uma causa, um ideal, aqui ficará, marginando a estrada, este primeiro poste, sentinela de esperança. No alto, verão quantos por aqui passarem, o verde retângulo desfraldado ao beijo suave de todas as brisas do Nordeste, simbolizando a fé cívica de um povo em eterna vigília, marchando das trevas para a luz. Símbolo de uma parcela do Brasil Nordeste que deseja conduzir o seu próprio destino e construir também o progresso da pátria. Um dia, este frio corpo de cimento perderá a verde bandeira que o engalana. Nesse dia, meus senhores, a paisagem sertaneja que nos cerca terá rutilantes cintilações de esplêndida alvorada. Nesse dia, o Cariri estará recebendo através das artérias metálicas dos fios condutores, a vibrante energia que, ora, tumultua, em cada sístole, o dadivoso e turbulento coração de Paulo Afonso." Antonio Martins Filho, de enorme e saudosa memória, costumava dizer que toda a marca de desenvolvimento do Ceará se assentava sobre duas coisas: a eletrificação e a sua universidade. E nisto ele tinha absoluta razão. Também no Cariri isto é real. Os fios de Paulo Afonso chegaram primeiro e hoje, 50 anos depois pode-se falar de um meio universitário pujante, fruto das atenções do poder público, e do grande esforço manifestado pela iniciativa do ensino privado, semeando cursos às dezenas em nossa terra. No início desta história, com a determinação do governo federal para a eletrificação do Ceará, foi constituída a Soelca – Sociedade de Eletrificação do Cariri, uma iniciativa de curta duração que logo foi substituída pela criação da CELCA – Companhia de Eletricidade do Cariri. Infelizmente não disponho de uma cronologia mais adequada a este respeito. Posso informar que José Alcy Pinheiro, dos primeiros empregados da Companhia está escrevendo um livro a respeito e deverá dar com precisão os detalhes destes primeiros momentos. O prof. Espedito Cornélio que foi o segundo superintendente da CELCA, entre 09.12.1966 e 14.08.1968, mas tendo ingressado no serviço a partir de 1963, já publicou um livro sobre a Saga da Eletrificação. Infelizmente esta cronologia que me falta não foi possível encontrar em sua obra, mais poética que histórica. Consta que a CELCA foi constituída em 28.10.1960. Ela foi fundada como sociedade anônima de economia mista formada por capitais da União (pela participação da CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco), do Governo do Estado do Ceará, das Prefeituras e do povo do Cariri. Sua criação foi determinada primordialmente para que houvesse um organismo responsável pela construção do sistema e a comercialização da energia gerada pela CHESF. Ela foi autorizada a funcionar bem próximo da inauguração da energia em Juazeiro do Norte. O Decreto federal, de número 212, foi assinado em 23.11.1961. Juridicamente, não sei indicar como isto foi contornado, pois nesta data, a construção do sistema (estação abaixadora, posteamento, rede de distribuição) de boa parte do Juazeiro de então já estava pronta. Tanto que a sede da Companhia, já funcionava a partir de 01.05.1960. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 24.02.2017)
BOM DIA! (56) Por Renato Casimiro
ENERGIA ELÉTRICA EM JUAZEIRO (III) A FESTA DO SÉCULO... A inauguração da chegada da Energia de Paulo Afonso, transcorrida em 28.12.1961 foi uma grande festa. Pela porta do Cariri, o Ceará estava sendo energizado. A imprensa da capital registrou: “Com a presença do Ministro Virgílio Távora, representante do Presidente João Goulart, do governador do Estado, Sr. Parsifal Barroso; do superintendente da SUDENE, economista Celso Furtado, do prefeito de Recife, Sr. Miguel Arraes, dos deputados federais Ernesto Sabóia e Dáger Serra, dos comandantes da 10ª Região Militar, Base Aérea e Escola de Aprendizes Marinheiros, de pelo menos 25 deputados estaduais, de dezenas de prefeitos municipais e milhares de pessoas de Juazeiro, Crato, do Cariri e de outras regiões do Estado, realizaram-se ontem à noite, na Praça do Cinqüentenário, em Juazeiro do Norte, sob um ambiente de intensa alegria, as solenidades que marcaram a inauguração oficial da energia de Paulo Afonso no Cariri, juntamente com as festas relativas ao cinqüentenário do município de Juazeiro. Desde a manhã de ontem tornou-se intenso o movimento na cidade, agitada com a presença das duas maiores figuras políticas em evidência no Estado, bem como milhares de pessoas que, por terra ou pelo ar, queriam presenciar o que se convencionou chamar de "Festa do Século". O Ministro Virgílio Távora chegou às 8:30 horas, e o Governador Parsifal Barroso duas horas depois, tendo sido ambos recebidos por centenas de pessoas que se organizaram em cortejo pelas ruas da cidade, até às residências onde esses dois homens públicos se hospedaram. As solenidades propriamente ditas, da eletrificação do Cariri, tiveram início às 17 horas de ontem, quando o Bispo do Crato, D. Vicente de Araújo Matos, sobre um altar erguido defronte ao pavilhão de exposição situado no centro da Praça do Cinqüentenário, oficiou a. "missa do cinqüentenário", assistida por todas as autoridades presentes, inclusive o Ministro Virgílio Távora e o Governador Parsifal Barroso. Logo após o ofício religioso, às 18 horas e 30 minutos, o ministro da Viação, em nome do Presidente da República, descerrou a placa de bronze, fincada no pavilhão da Praça do Cinqüentenário, onde estão gravados os nomes daqueles que mais se bateram pela eletrificação do Vale, destacando-se os nomes dos engenheiros Antonio José Alves de Souza, Carlos Berenhauser Jr. e Nicodemos Lopes Pereira, o ministro da Viação, o Governador Parsifal Barroso, o Prefeito Antonio Conserva Feitosa e os Deputados José Colombo de Souza e Wilson Roriz. Estava oficialmente inaugurada a eletrificação. Após o descerramento da placa, coberta com a bandeira nacional, o Ministro Virgílio Távora pronunciou um discurso no qual, depois de augurar um futuro de progresso para o Vale eletrificado, assegurou o seu empenho de estender a energia até o litoral bem como a promessa do BNDE, de financiar as indústrias básicas da região. Falaram, ainda por ordem, o Prefeito Conserva Feitosa, o Deputado Wilson Roriz e o Governador Parsifal Barroso, além do engenheiro Nicodemos Lopes Pereira, que fez a entrega ao prefeito de Juazeiro das chaves simbólicas da eletrificação da cidade. O governador e o seu líder na Assembleia evocaram as figuras dos que eles chamaram de "grandes ausentes mais presentes do que nunca", que foram o presidente da CHESF, engenheiro Antonio José Alves de Souza, (Obs.: O Eng. Alves de Souza foi o primeiro presidente da CHESF, de 1948 a 1961. Era engenheiro de minas e civil, formado pela Escola de Minas e Metalurgia de Ouro Preto, MG), o “General” Carlos Berenhauser Júnior e o Deputado Colombo de Sousa. Sobre a placa, uma coroa de flores, em homenagem póstuma ao presidente da CHESF, falecido 10 dias antes de ver concretizado o sonho por que tanto batalhou, que foi a eletrificação do Cariri. Em seguida, o Ministro Virgílio Távora, o Governador Parsifal Barroso e os demais membros de suas respectivas comitivas, inauguraram o pavilhão da Exposição Permanente dos produtos da indústria artesanal de Cariri. (Obs.: Este Pavilhão fazia parte do complexo construído sobre a Praça do Cinqüentenário, que também estava sendo inaugurada nesta data). Eles admiraram particularmente o funcionamento de um gigantesco relógio, construído em Juazeiro e que domina o panorama da exposição. Logo após deixarem o recinto da Exposição, as autoridades, com exceção do Ministro Virgílio Távora, dirigiram-se ao palanque armado defronte à Praça Padre Cícero e apreciaram o desfile de carros alegóricos com motivos ligados à eletrificação e à vida de Juazeiro. Despertaram particular atenção os carros da CELCA (Companhia de Eletricidade do Cariri) e a alegoria ao Padre Cícero." Nesta mesma noite, em festa no Treze Atlético Juazeirense, foi feita a escolha da Miss Cinqüentenário de Juazeiro, sendo vencedora a senhorita Neir Sobreira Melo. Como de costume, tanto o evento anterior – a festa do poste, como esta dita festa do século, elas teriam sido perpetuadas através de placas comemorativas, em bronze. E aqui uma outra coincidência desagradável para nossa memória: a segunda placa, referente a Festa do Século, também sumiu. Por uns anos ainda a víamos na parede frontal do pavilhão da Praça do Cinqüentenário (onde funcionou o Tiro de Guerra 210, a Lira Nordestina, etc). Quando a praça foi destruída, para a construção do Memorial Padre Cícero, ela foi retirada e não mais se teve notícia de seu destino. Seria desejável que tanto uma como outra fossem repostas para continuar assinalando este grande marco de nosso desenvolvimento. No caso da placa da Festa do Século, não temos ideia sobre seus dizeres. Mas, fica a sugestão para que, em se tratando de uma justa homenagem para perpetuar o trabalho de tantos homens, a sua redação bem poderia ser, assemelhada a anterior, com homenagens às seguintes personalidades: “Marco Comemorativo da Inauguração da Energia Elétrica de Paulo Afonso. Juazeiro do Norte, 28 de Dezembro de 1961. Presidente da República: Dr. João Belchior Marques Goulart; Homenagem: Dr. Getúlio Dorneles Vargas (In memoriam); Ministro da Viação e Obras Públicas: Virgilio de Moraes Fernandes Távora; Governador do Estado: Dr. José Parsifal Barroso; Vice-Governador do Estado: Wilson Gonçalves; Superintendente da SUDENE: Celso Monteiro Furtado; Presidente da CHESF (1948/1961): Engo. Antonio José Alves de Sousa (In memoriam); Presidente da CHESF (1961): Engo. Amaury Alves de Menezes; Diretores da CHESF: Engo. Apolônio Jorge de Farias Sales; Engo. Octávio Marcondes Ferraz; Engo. Carlos Berenhauser Junior; Superintendente da CELCA: Nicodemus Lopes Pereira; Chefe da Div. Técnica da CELCA: Walter Gomes de Matos; Chefe da Div. Administrativa da CELCA: Gileno Ferreira Gomes; Chefe da Div. Comercial da CELCA: José Izidro Gomes; Executor do Plano de Eletrificação: Engo. Bernardo Bichucher; Deputado Federal José Colombo de Sousa; Deputado Estadual Wilson Roriz; Prefeito Municipal de Juazeiro do Norte: Dr. Antonio Conserva Feitosa; Prefeito Municipal de Crato: Dr. José Horácio Pequeno; Prefeito Municipal de Barbalha: Dr. João Filgueiras Teles; Comitê Pró Eletrificação do Cariri: Hildegardo Belém de Figueiredo; Antonio Corrêa Celestino; Antonio Costa Sampaio; Ernani Silva; Felipe Néri da Silva; Geraldo Menezes Barbosa; Gregório Callou de Sá Barreto; João Lindemberg de Aquino; José Maria de Figueiredo; Neroly Filgueiras; Odílio Figueiredo; Raimundo de Oliveira Borges e Tomaz Osterne de Alencar.” Depois da festa, o que se viu foi uma intensa movimentação da CELCA para estender as redes a todas as demais cidades do Cariri e além, na sua área de influência. E haja postes, saídos da Cavan. A empresa fabricante de postes de concreto,  conhecida como Cavan, nasceu em 14 de Março de 1924, com o nome de Poteaux Cavan, constituída em Anvers, Bélgica. Com a expansão de negócios chega a Portugal, em 23.06.1932, com o nome de Sociedade Portuguesa Cavan S.A. De Portugal, a empresa veio para o Brasil, em 1940, como Postes Cavan S.A. Com a Eletrificação do Ceará sendo iniciada, especialmente com a passagem pelo Cariri, a empresa optou pela montagem de uma unidade fabril em Juazeiro do Norte, a meio caminho da meta Fortaleza, remetendo postes pela via férrea. Depois da Festa do Século há um sem número de obras e gestões que se prolongaram por vários anos até à energização de todas as cidades, distritos e demais localidades, o que já foi acontecer até ao final da gestão de Espedito Cornélio, à frente da CELCA e a sua consequente encampação pela COELCE. Um dos primeiros funcionários da CELCA, José Alcy Pinheiro, está escrevendo densa obra com respeito ao aprofundamento deste importante capítulo da história do Cariri. Por último, convém notar que, por uma coincidência muito feliz, a eletrificação de Juazeiro do Norte aconteceu em meio às festas do Cinqüentenário, em 1961, portanto, o divisor de dois períodos de cinco décadas, para 1911 (Criação do Município) e para cá, 2011 (Centenário do Município). Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 25.02.2017)

FRENTE NA ALCE: BEATIFICAÇÃO DE PE. CÍCERO

A proposta ocorre depois do “perdão” da igreja ao Padre Cícero. A deputada estadual Fernanda Pessoa (PR) (Foto: Máximo Moura/ALCE) quer uma Frente Parlamentar, na Assembleia Legislativa do Ceará (ALCE), para reunir documentos e depoimentos que levem à beatificação do padre Cícero. O movimento da Casa que pode levar o padre a ser considerado santo ocorre depois que a igreja se “reconciliou” com o cearense ainda no final de 2015. A intenção é buscar fatos históricos da vida do padre, demonstrando como ele praticou as chamadas “virtudes cristãs”, além de mostrar de que maneira os fiéis o consideram “santo”. “Padim Cícero continua fazendo história mesmo depois de 83 anos de seu falecimento e com o perdão da igreja nada mais do que justo com os seus fiéis darmos início a Beatificação”, disse a deputada Fernanda Pessoa. A Frente pretende realizar audiências públicas na região do Cariri, ouvir as autoridades locais, a população e reunir representantes da Igreja católica, deputados, pesquisadores e firmar parcerias com a Universidade Estadual do Ceará e a Urca.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que semanalmente estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de quartas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
248: (15.02.2017) Boa Tarde para Você, Maria do Socorro Ribeiro de Oliveira
Recebi com satisfação a notícia que você, Socorro, está de volta ao Cariri para um novo encargo e grande responsabilidade para sua competência, integrando a equipe da nova gestão municipal barbalhense, à frente da comunicação social na prefeitura. Você está trazendo para cá, seguramente, uma performance amadurecida ao longo de sua carreira profissional, para cobrir jornalisticamente a vida política e administrativa de municípios que desafiaram suas habilidades, tornando-se conhecida pela determinação de fazê-lo primorosamente. Quero me congratular com a administração barbalhense por este empenho em buscar o melhor também nesse setor, tão importante para a vinculação mais imediata de povo e gestores e que não pode ser visto como instrumento fácil do proselitismo político dos chefes da municipalidade. Há um tempo atrás, procurando uma notícia sua, sempre lamentando que o tempo nos distanciou, me disseram na Assembleia Legislativa: - A Socorro se aposentou! E eu pensei comigo, será o “impossível”, nós que sabemos daquela menina irrequieta, dinâmica e nunca desocupada? Mas, enfim, você está aqui nesse Cariri para trabalhar por ele, pois certamente você bem sabe que estando a trabalho de um ou outro município, felizmente os tempos nos indicam que é pelo Cariri que o fazemos, pois temos em comum essa esperança por essa metropolização de nossa região. Penso, sinceramente, Socorro, que para profissionais como você, com o seu perfil, recai parte expressiva desse trabalho, na sua esfera cidadã, para reforçar a corrente que nos levará a gestos amadurecidos para tratar desses nossos interesses comuns, antes das divisões paroquiais. O conceito de metropolização não é tão antigo, mas ele encerra o que se inova em torno de um processo eficiente para o crescimento urbano de uma cidade, numa área em que vários municípios podem perseguir a interligação necessária, a solução comum ao sucesso da região. Lutamos por sua implementação, procurando evitar, ao contrário, que isso produza um efeito negativo, o que os técnicos chamam de desmetropolização, frustrando o avanço que se pretende na melhoria da qualidade de vida, na ocupação plena do cidadão e o crescimento da renda. E nisso, longe de mim adiantar qualquer coisa, pois sou lembrado que você há vinte anos fez parte dessa história, tendo aqui sido peça chave para a implantação do jornal diário, a nova fase de um velho título, Jornal do Cariri, casualmente nascido em Barbalha, aí pelo ano de 1904. Naquela época, veja só, nasceu esse jornal atrelado a uma carta de princípios – não uma peça de retórica, mas um código para procedimentos que se alicerçavam em ética e moral, indicando o serviço a ser prestado quanto à visão de desenvolvimento que se preconizava. Quando o Jornal do Cariri renasceu em 1997, lembro o notável trabalho daquela primeira fase, especialmente, entre as edições primeira e a de número 489, ainda em Crato, e que contava com você, Socorro Ribeiro, à frente da Editoria, além dos notórios valores de Cícero Pereira, Elisete Cardoso, Fabíola Nascimento e Elizângela Santos. Tive o privilégio de ver isso de perto, na prática, vivendo essa experiência maravilhosa, integrando o seu Conselho Editorial, o que ainda hoje me conserva fiel à sua leitura semanal, na convicção da maior valia que esse instrumento nos trás, na sua sucessão com grandes valores. Se não me engano, esse primeiro desafio que você enfrentou, tinha essa cara, o de que por num jornal diário, nunca antes experimentado com essa dimensão, aí se tinha uma ferramenta factível para se aliar às forças que queriam um Cariri mais forte e solidário. Lamentável é que no concerto das comunidades emergentes em nosso pais, o Cariri cearense nesse particular, talvez pela forte influência das novas mídias eletrônicas, não tem uma boa convivência com o jornalismo impresso e isso tem uma grave repercussão sobre nossa vida. De outra sorte, felizmente, o jornalismo dedicado às atenções com os nossos municípios, e através das novas equipes de comunicação social, com renovação de valores egressos das academias, tem contribuído de fato para uma nova feição e eficiência do serviço dedicado à comunidade. Seja bem vinda ao Cariri, Socorro Ribeiro, pois essa é também parte da sua terra, do seu território de luta, ávida por um desbravamento de novas ideias, e ao saudá-la, faço com os votos sinceros para que esses novos desafios confirmem as marcas indeléveis da sua competência e de seus valores.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 18.02.2017)

BOM DIA!
Continuo transcrevendo nesta coluna semanal o conjunto de sete textos que estão sendo publicados na minha página do Facebook, tratando de questões relacionadas com a atualidade da vida juazeirense, com o objetivo de fomentar uma ampla discussão sobre esses temas de nosso interesse. Os que desejarem contribuir com esse propósito, poderão dispor do espaço na rede social, ou encaminhando sua opinião para o nosso endereço. Muito grato.
BOM DIA! (43) Por Renato Casimiro
HISTÓRIAS DE UM CINEMEIRO: I) VELHOS CINEMAS.
Descobri o cinema em meados dos anos 50, através das sessões vespertinas, dominicais, do Cine Avenida, funcionando na praça Pe. Cícero, lado da Rua São Francisco, onde hoje está o Hotel Municipal. Ao que me parece, seria a nossa quarta sala de projeção, instalada em 1942. Antes dele, conforme relata Senhorzinho Ribeiro, sem oferecer maiores detalhes, o primeiro cinema pode ter sido em 1916, na então Rua Nova, para depois se mudar para a Rua São Pedro. Depois, em março de 1921 veio o Cine Iracema, de Pelúsio Correia de Macedo, na Rua Pe.Cícero, ainda como cinema mudo, embora em Fortaleza já estivesse preste a funcionar o Cine Moderno, o primeiro cinema falado do Estado. Generosa Alencar e Fátima Menezes, utilizando um velho caderno de apontamentos de Pelúsio, assim se referem ao velho cinema: “A referida casa de diversões funciona em prédio próprio construído para este fim. Ficava situado na rua Pe. Cícero. Tinha piso inclinado e cadeiras convencionais. Possuía uma sala de espera, bilheteria, cabine de projeção, tela e palco conjugados, permitindo apresentações teatrais e iluminação própria com corrente elétrica gerada no local. Nesta época a cidade ainda não dispunha de luz elétrica”. Há indícios de que Benjamim Abraão tenha utilizado esta sala de exibição, entre os anos 1925 e 1935, para projetar os seus documentários sobre Juazeiro e Pe. Cícero. Nessa cronologia cinematográfica, encontramos, citados por Paulo Machado, três registros nos arquivos do Cartório Machado. O primeiro, de 29 de julho de 1935, é um contrato entre os irmãos Antonio Vieira de Almeida e Olimpio Vieira de Almeida, Manoel Soares Couto e Antonio Pita, e corresponde à fundação do Cine Teatro Roulien.  O segundo é outro contrato assinado no dia 7 de maio de 1936, entre as empresas Almeida & Cia. Ltda. e Lourenço Pontes & Cia. Ltda. para a exploração dos Cines Iracema e Roulien. O Iracema teria saído das mãos de Pelúsio e ainda funcionaria mais alguns anos. Quanto ao Roulien, a empresa Almeida & Cia. Ltda., em 22 de maio de 1946, agora integrada por Antonio Vieira de Almeida, Olimpio Vieira de Almeida, Antonio Pita e Edmundo Morais, passou a ser designada de Sociedade Almeida & Cia. Ltda. É esta Sociedade que inaugurará, em 07.09.1947, o maior de todos os cinemas de Juazeiro – o Cine Eldorado, que irá funcionar na Rua Santa Luzia, com cerca de 800 lugares. Quando nasci em 1949, somente havia dois cinemas: o Roulien e o Eldorado. O Cine Teatro Roulien tinha 500 poltronas e seria fechado em 1958. O Almanaque do Cariri, de 1949, referencia que estas salas exibiam a mesma programação da capital, distribuída por Luiz Severiano Ribeiro, e elas eram consideradas como das melhores no interior do Estado. Ainda sobre velhos cinemas, há a menção de Senhorzinho Ribeiro para os Cines Operário, Guri e Luz. O primeiro funcionaria a partir de Agosto de 1949, e o segundo seria inaugurado em Junho de 1950, e funcionaria na rua São João, perto do Bar de Lêra. Quanto ao terceiro, o Luz, pertencente a Luiz Dantas de Macedo, sei apenas que funcionava no bairro dos Franciscanos, na Rua São Bento. Ressalvo que havia uma designação de empresa Guri, como a proprietária do Eldorado e do Capitólio, ainda nos anos 60. O Cine Capitólio, a oitava casa de exibição, pertencente aos irmãos Almeida, funcionaria na Rua Santa Luzia, 321, a partir de 1957. Alguns anos depois, assistiria de perto a sua adaptação para exibição em CinemaScope. Meu pai, que fornecia material elétrico, era amigo de Luiz Ferreira de França, o reconhecido técnico em eletrônica, encarregado da reforma da sala de projeção, e isto me permitia, freqüentemente, ir ver a montagem das novas máquinas e os testes para a exibição da primeira película: Vikings, os conquistadores  (The Vikings, 1958), produção americana, dirigida por Richard Fleischer, um elenco notável para a época, com Tony Curtis, Ernest Borgnine, Janet Leigh, dentre outros. O CinemaScope tinha uma tela quase 3 vezes maior que a original e, por sua curvatura, nos dava uma sensação nova muito envolvente às cenas, sobretudo de filmes de aventuras. A última sala de cinema de rua que tivemos foi o Cine Plaza, então pertencente a Luiz Dantas de Macedo, e que foi inaugurado em 30 de maio de 1965, exibindo o filme Três almas Danadas (The Three Outlaws, EUA, 1956, 74min), dirigido por Sam Newfield, do gênero western.
Nessa época, aproximadamente, também havia uma pequena sala de projeção instalada, na hoje denominada av. Carlos Cruz, de propriedade do sr. Aragão, que era mentor de um terreiro de umbanda e aí tinha projeções semanais. Mas, as oportunidades de ver cinema não eram restritas apenas ao circuito comercial. Entre os anos 50 e 60, o Departamento Diocesano de Cinema promovia nas paróquias a exibição de películas religiosas, documentários, desenhos e curtas metragens, com máquinas em 16 mm. Lembro bem da figura querida do padre Argemiro, dirigindo um veículo com todo o equipamento. Em frente à Matriz, do lado do Dispensário de Jesus Crucificado, se instalava a tela e se fazia a projeção. A programação se estendia por vários dias, depois da função religiosa. Sua programação era constituída de documentários, filmes religiosos, desenhos animados e comédias do Gordo e o Magro. No auditório do Ginásio Salesiano instalou-se, no começo dos anos 60, uma sala de cinema, para sábados e domingos, com a frequência dos alunos e de gente do bairro. O operador era o querido amigo Vital Tavares, que contava conosco para auxiliá-lo em pequenas tarefas, antes e durante as exibições. Desta fase, tornou-se inesquecível para mim o filme “A Balada do Soldado”, filme russo, de 1960. Os cinemas eram as casas de espetáculo da cidade, por excelência, os únicos auditórios para certas ocasiões. Por exemplo, foi no Cine-Teatro Roulien que a antiga Escola Normal Rural realizou quatro sessões de colação de grau de suas professorandas, nos finais dos anos 1937 a 1940. Numa destas ocasiões, em 1938, minha mãe, Doralice Soares, integrava a segunda turma de professoras rurais. A partir de 1941 o Roulien não mais foi usado, pois a Escola passou a contar com moderno Auditorium. Lembro de ter reconhecido o mesmo Roulien, como palco de temporada de notável pastor protestante, em excursão pela cidade. No cine Eldorado, em 15.11.1951 realizou-se o show de inauguração da Rádio Iracema, com as presenças de Nelson Gonçalves, Carmem Costa e Luiz Gonzaga. O cinema também existia no nosso artesanato criativo. Com fotogramas de filmes rompidos durante as exibições, montávamos projetores usando lentes improvisadas com lâmpadas incandescentes e água cristalina. Era uma lente maravilhosa para se projetar com lanterna de mão. Tudo instalado num caixote, feito máquina de projeção. A imagem, dependendo do escuro da sala, assumia dimensões de mais de metro. Também havia pelas redondezas os pequenos projetores, fixos, brinquedos comprados em lojas, um deles em forma de pistola que pelo gatilho acendia lâmpada e projetava imagem, com filmes diversos. E havia os mais sofisticados, animados, já de 16mm. Lembro de um, particularmente, de Flávio e Aécio Germano, exibindo películas de uns 5 minutos, como “Caça ao Jacaré” e “Doma do Cavalo”. Originalmente, o aparelho funcionava a manivela, mas eles trataram de adaptar pequeno motor, e a projeção se tornou um grande espetáculo. Víamos os filmes, inúmeras vezes. E os sabíamos de cor, cada cena. Fazíamos também pequenos ensaios com grossos cadernos, em cujas extremidades desenhávamos bonecos e assim produzíamos desenhos animados, ao correr os dedos para a passagem sequenciada das páginas, gerando efeitos, como andamentos rápidos ou em câmara lenta. Bom dia. (Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 12.02.2017)             
BOM DIA! (44) Por Renato Casimiro
HISTÓRIAS DE UM CINEMEIRO: II) OLHANDO OS CARTAZES...
Vou tentar fazer um breve exercício de memória para falar de um programa de cinema, antes mesmo de comprar o ingresso. O que orientava o nosso conhecimento sobre o cinema vinha de programas de rádio e da leitura de revistas nacionais, especializadas, como Filmelândia. Cine Romance, Cine Revelação, Cinelândia, e outras que chegavam para a loja do Florentino. Já nos anos 60, pela Rádio Educadora do Cariri, Pe. Gonçalo Farias Filho conduzia nas manhãs de domingos um programa elaborado pelo Departamento Diocesano de Cinema, em que se falava do cinema como arte e tecnicamente. Ouviamos trilhas sonoras e comentários. Através de uma transmissão regular, durante a semana, a Voz da América divulgava a Crônica de Hollywood, com notícias, comentários, lançamentos e o dia a dia da Meca do Cinema. Este era o pano de fundo da nossa iniciação. O Cine Roulien chegou a ter um jornalzinho, Roulien Jornal, para a divulgação de programação e matérias relativas à sétima arte. A divulgação da programação cinematográfica se fazia, principalmente, pelos grandes cartazes e por fotos que eram arrumados em painéis, protegidos por uma porta de vidro, nas paredes do hall de entrada. Pelas esquinas das ruas da cidade havia as tabuletas, com letreiros em tinta d´água, multicolorida. Havia faixas em tecido ao longo dos corredores de maior movimentação (Ruas Pe. Cícero e São Pedro). O noticiário de rádio e serviços de auto-falantes dava o tom mais dinâmico da informação com a inclusão de alguns comentários que orientavam o conhecimento dos fãs. Era o caso de se ouvir o Cinetom, ao que me parece de propriedade da Empresa Guri, dos Almeida, com um auto-falante em cima do Eldorado, e sob a direção de Pompílio de Castro Medeiros, até 1958, quando o Roulien fecha as portas. Muitas vezes era a própria empresa cinematográfica que mandava imprimir e distribuir boletins com a programação. Tanto mais o cinema expusesse cartazes e fotografias, mais se freqüentava. Havia o programa que se dizia: estou indo ao cinema só para ver os cartazes.  A abundância dos cartazes era uma atração a mais para se fazer, antecipadamente, uma boa programação para, até, semanas seguintes. Na frente dos cinemas havia sempre um grande aglomerado de cinemeiros nas horas dos espetáculos. Muitos chegavam com bastante antecedência porque ali se estabeleciam oportunidades para todos os gostos. Em dias muito concorridos, não faltavam os atravessadores que vendiam os ingressos com ágio. Havia os baleiros e ambulantes. Mas, havia uma categoria que o tempo se encarregou de extinguir, os vendedores de gibis. Nesta fase, muitos eram os títulos da nossa predileção. Alguns viviam deste comércio de compra-vende-troca revistas, fazendo bons negócios. Os títulos mais conhecidos eram: Roy Rogers, Tarzan, Antar, Zorro e Tonto, Bill Elliott, Cavaleiro Negro, Rocky Lane, Flecha Ligeira, Don Chicote, Família Marvel, Capitão América, Homem Morcego & Robin, Hopalong Cassidy, Nick Holmes, Kid Colt, Jerônimo & Moleque Sacy, O Anjo & Metralha, Super Homem, Mandrake, Sobrinhos do Capitão, Fantasma, Flash Gordon, Pimentinha, Bolinha, Luluzinha, Charlie Chan, Pato Donald, Mickey, Batman, Rin-Tin-Tin, e tantos títulos inesquecíveis. E tinha, também, as rodas de cinema. Não eram muito elaboradas, mas se falava de um tudo. Dos astros e atrizes, de mocinhos e de mocinhas, de bandidos e de “doidinhos”, de cavalos e de índios, dos novos filmes, das estórias e enredos, das aventuras mirabolantes dos mocinhos, matando bandido aos montes, com revolveres cheios de balas que nunca acabavam. Evidente que nestas rodas havia o fascínio pelos gêneros particulares, sobretudo os que mais constavam nas programações desta fase: filmes de caubóis, épicos, policiais, chanchadas da Atlântida, filmes de vampiros, e os seriados, principalmente. Se alguém queria juntar o útil ao agradável, quero dizer, ir à praça e ver o filme em cartaz, tinha que optar pela segunda sessão, das 20:30 horas. Primeiro vinha o agradável footing pelo miolo da praça, o namoro, as rodas, os bancos, ao som da seleção musical do CRP, elaborada por Dário Maia Coimbra, para depois, aí pelas 20 horas, ir rumando, Rua São Pedro acima até quebrar na Santa Luzia, à esquerda ou à direita, onde estivesse a melhor opção. Os cinemas, como os conheci em Juazeiro, funcionavam todos os dias nos horários noturnos de 18:30 e 20:30. Encontrei, em jornal de 1949, citação da programação cinematográfica, por quase todo o ano, que excluía as segundas feiras, fazendo-me crer que era um dia de folga. Nos sábados, havia as sessões das 14 horas, com exibição de um seriado que ficava sempre para depois do filme. Nos domingos eram até cinco sessões: 10:00, 13:00 15:00, 18:30 e 20:30. Era comum que neste dia, tão reservado ao cinema pelas famílias, se dispusesse até 3 filmes distintos em cartaz. Houve um momento que se instituiu a programação em Sessões Contínuas, no período noturno. Ou seja, entre uma sessão e outra não havia intervalo. Quem não queria perder, “nem o jornal”, assim se dizia, chegava mais cedo. Aguardávamos na sala de espera a hora de entrar rapidamente, escolher um lugar e ver o filme. Freqüentemente a confusão era grande, com este entrar e sair dos espectadores. A censura imposta classificava os espetáculos como livres, ou permitidos apenas para maiores de 10, 14 ou 18 anos. Algumas vezes eu tentei entrar em filmes de censura superior à minha idade e, na maioria, era barrado pela vigilância do Juizado de Menores, alternada nas pessoas de Nair Silva, Mestre Noza, Cabo Dídio, Zeca Marques, Gumercindo Ferreira Lima, dentre outros. Usava-se a estratégia de não pagar a meia entrada para não ter que apresentar o documento do Centro Estudantal Juazeirense, onde se revelaria claramente a idade do penetra. Uma das poucas oportunidades de sucesso foi a exibição de Estrela de Fogo (Flaming Star, 1960) com Elvis Presley, em que fui levado por José Machado, na companhia dos filhos Anchieta e Paulo. Algumas vezes tinha a motivação de ir a um bom filme fora de Juazeiro. As opções eram os Cines Moderno e Cassino (depois veio o Educadora), em Crato, e o Cine Neroli, em Barbalha. O fato marcante desta fase, certamente, foi a programação de Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, 1956), primeira experiência na região de uma longuíssima metragem, dividida em dois períodos de quase duas horas cada, já que o filme tinha duração de 229 minutos, e para o qual quase todo o Cariri acorreu em sessões memoráveis no Cine Moderno. A ida ao Crato se justificava, também, porque havia alguma diferença entre as programações reservadas ao Juazeiro. Por exemplo, durante muitos anos não tínhamos a exibição de filmes da Metro Goldwin Mayer, nem os distribuídos pela Art Filmes. Para nós, face a dependência do acerto comercial dos irmãos Almeida e a Luiz Severiano Ribeiro, os selos mais comuns eram Paramount, Republic, Condor, United Artists, 20Th Century Fox, RKO, Columbia, a mexicana Pelmex, além das nacionais Vera Cruz, Cinédia Atlântida e Cinedistri. Películas de origem francesa, italiana, espanhola, então, eram raridades. Bom dia. (Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 13.02.2017)             
BOM DIA! (45) Por Renato Casimiro
HISTÓRIAS DE UM CINEMEIRO: III) VAI COMEÇAR A SESSÃO...
Nos cinemas mais antigos, como Roulien e Avenida, havia chamadas programadas com uma sirene que percebíamos, principalmente nas tardes de domingo, de meia em meia hora. Era hora de tomar banho e se preparar para o melhor. No velho Cine Avenida (na Praça Pe. Cícero, ou Alm. Alexandrino de Alencar) havia um serviço de auto-falantes que também começava a funcionar nas tardes de domingo. Foi por ele que conheci as primeiras canções de Caubi Peixoto, como Tarde Fria, A Pérola e o Rubi, Conceição...e outras. Quando se chegava à sala de cinema, e antes que o filme começasse a ser projetado, havia algumas coisas a fazer, ou pelo menos a aguçar nossa curiosidade, e que também nos dava algum prazer. No Eldorado, por exemplo, bastava que alguém guardasse o seu lugar para se dar uma circulada ao redor da sala. Havia alguns cartazes que só se tinha acesso de dentro do cinema. Então era hora de ir vê-los, pois eram geralmente os que estavam com o cartaz de Breve, e demorariam a serem transferidos para os expositores de fora. Na lateral esquerda estava a saída para o sanitário masculino. Aí se formava uma roda interessante, sobretudo para “assuntos masculinos”, relativos ao cinema proibido para menores. No fundo era a instalação do gerador que fornecia energia, também para o Capitólio. Ia lá de vez em quando para ver o trabalho de “Seu” Zé Viana, e seus filhos, pondo o gerador em funcionamento. Era a manivela. Acendiam o que para mim era um pequeno cigarro, para proporcionar a combustão do óleo diesel. Em seguida, aliviavam a pressão dos pistons e moviam com muita dificuldade a volante do gerador. Quando a velocidade era suficiente, soltavam a manivela e fechavam a válvula. O gerador iniciava a queimar (tum, tum, tum, tum...) e daí por diante era ajustar as condições da geração de energia e ligar a chave para o cinema. Também era hora de correr para o lugar reservado, se é que um engraçadinho não havia tomado. Já era para ir começando a projeção. Primeiro, havia a pressão dos assistentes: tá na hora, tá na hora, tá na hora... Para o início de uma sessão havia um ritual. Lembro que havia uma campainha (cigarra) que era acionada por alguém da administração do cinema. No Eldorado já sabíamos que ficava por trás da cortina da entrada da sala, do lado direito. Era a nossa primeira observação. Havia questões que determinavam o acionamento. Freqüentemente era o cumprimento do horário. Outras vezes eram as longas filas para ingresso e entrada, e as tentativas para conciliar o empurra-empurra para se conseguir, mesmo com a advertência da bilheteria (Só tem em pé...!) entrar no cinema. Quando a sessão era autorizada, iniciava o ritual. Começavam a fechar as portas e cortinas. Ligavam os ventiladores, soava um sinal eletrônico de gongo, as lâmpadas da sala iam se apagando sequenciadamente, até aceder as coloridas da cortina da tela. E a projeção se iniciava, até mesmo se a cortina não estava totalmente aberta. O cara no palco cochilara e perdera o ritmo. E já era motivo para muita vaia. Os ventiladores eram motivo de preocupação. Geralmente eram barulhentos e era preferível tê-los desligados. Quantas vezes não tivemos que correr com defeitos elétricos nestes aparelhos. De repente era uma daquelas hélices que começava a bater na tela protetora e ateirar pequenas centelhas. Um perigo medonho. Outras vezes um começava a feder e a sair fumaça, com a queima do sistema elétrico. Sem falar de caso em que o suporte da parede não agüentou a vibração e o peso e o ventilador arriou quase em cima da assistência. Algumas vezes presenciamos correria e quebra de cadeiras na sala. Era um sufoco. Para o dia do estudante, em 11 de agosto, o Centro Estudantal Juazeirense (CEJ) fazia um acordo com o exibidor e, geralmente havia uma sessão comemorativa, muito festiva, no Eldorado. Era parte da programação ansiosamente aguardada. Do cinema, nada em especial, era o que estivesse em cartaz. Os associados, de carterinha em punho tinham que ir retirar o ingresso na sede da Rua da Conceição, com a antecipação devida. Era cinema gratuito, item fundamental na programação do dia consagrado, fosse quem fosse o presidente. Lembro que Manoelito Vitorino, Cesinho Luiz de Brito e, por último, Francisco Rocha da Silva, cumpriam fielmente este desejo da estudantada. Pelo menos neste dia. Noutros dias, o privilégio era pagar a meia. O CEJ sempre estava presente na entrada dos cinemas através de um fiscal, seu delegado, devidamente identificado, para verificar, tanto o cumprimento do acordo com o exibidor, bem como a regularidade do associado, se estava em dia com a mensalidade que aparecia na carteirinha com um pequeno selo rubricado pelo tesoureiro da agremiação. Privilégio só para quem cumprisse fielmente a sua obrigação. Quando íamos entrando, já apresentávamos o documento que era conferido. Se o cara não tivesse em dia, voltava para comprar a outra metade, pagando o ingresso inteiro. Dali mesmo, às vezes, se voltava para casa, pois a verba da família era para ingresso de estudante. Os ingressos poderiam ser usados para outra sessão. Não havia reserva especial para esta ou aquela sessão. Depois do cinema, para permanecer um pouco mais na rua, havia as opções de uma boa sorveteria, como as de Né Cansanção e Guimarães, ambas na São Pedro, em torno do Roulien, ou Beira Fresca, mais próximo do Eldorado. Também podíamos dar uma passadinha na feirinha do cruzamento das Ruas São Pedro e Conceição, onde havia cocada, amendoim torradinho, castanha e roletes de cana. Bom dia. (Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 14.02.2017)             
BOM DIA! (46) Por Renato Casimiro
HISTÓRIAS DE UM CINEMEIRO: IV) NO ESCURINHO DO CINEMA...
Era comum o amplo conhecimento dos cinemeiros sobre os cartazes expostos nos anúncios dos próximos filmes. Alguns ficavam muito tempo com a plaqueta de Breve. E haja esperar. Nós, realmente, curtíamos a espera de uma exibição e tínhamos boa memória das fotografias em 18x24, em preto e branco, ou coloridas, que eram mostradas nos painéis, nos halls dos cinemas. De modo que a certa altura do filme alguém gritava: cartaz, cartaz, cartaz... Era a chamada de que aquela cena já era antevista pelas fotografias. Nos filmes de faroeste, as reações eram muito entusiasmadas: batíamos palmas para o mocinho em disparada com seu cavalo, sempre belíssimo, dávamos vaia para o índio que morria, ríamos a valer das traquinagens dos “doidinhos”, auxiliares dos mocinhos, que sempre trapalhões. Não nos furtávamos de “avisar” alguém quando estava na iminência de um perigo, uma emboscada, ou coisa assim, e batíamos fortemente nas cadeiras quando havia uma cena de cavalaria, acelerada ao sabor dos clarins. E muitas palmas para os mocinhos que usando de revolveres com muitas balas, balas intermináveis, iam abatendo índios e bandidos, aos montes. Randolph Scott era destes mocinhos que matavam centenas de índios sem carregar o revolver. Mas, não era somente para o gênero faroeste que as reações eram mais freqüentes. De repente, na sala havia conversa perturbadora, então, pedíamos silêncio com psiu muito longo, ou os chamávamos de matutos, abestados. Quando não resolvia, alguém dava assobios estridentes. A vaia comia de esmola quando o filme ficava com a projeção fraca (o carvão estava acabando), ou a película quebrava ou queimava. Se o operador trocasse a seqüência dos rolos e começasse a rodar uma seqüência que logo víamos que não era a correta, o cinema vinha abaixo. Isso acontecia porque em alguns casos dois cinemas exibiam o mesmo filme. E como não dispunham de duas cópias, um empregado era responsável por levar e trazer rolo entre um cinema e outro. Daí a confusão. O filme quebra, queima o filme, ou rolo é trocado. Baderna (abre a luz e interrompe o filme). Era necessário acender logo as luzes do salão. Às vezes, o pessoal de serviço do cinema, já estava tão precavido que as luzes eram acesas e apagadas ao menor barulho, como medida preventiva. Quando passava um trailer, e havia a informação: na próxima 4ª. Feira, por exemplo, a gargalhada ia solta porque alguém dizia: “Se mamãe deixar, eu venho”. Bandido era para ser vaiado. Nos filmes nacionais conhecíamos os vilões, eternos, como José Lewgoy, Roberto Duval, Wilson Grey, Jece Valadão, Carlos Imperial, Renato Restier, Rafael de Carvalho, Carlos Tovar, etc, etc. Outra pilantragem era espantar o condor na apresentação da Condor Filmes. Era infalível. Só quando a ave deixava o penhasco, voava e desaparecia da cena com o efeito no qual se convertia na palavra apresenta, ou presents, era que nos acalmávamos. Havia aqueles que assistiam os filmes pela segunda ou terceira vez e ficavam falando alto sobre o que ia acontecer. Eram os estraga prazeres de plantão. Nem sempre líamos tudo que aparecia na apresentação do filme, principalmente porque antigamente era mais usual toda a ficha técnica vir no início do filme. O mais comum era ler os títulos maiores, como a citação dos atores principais, com forte exclamação: o filme vai começar. Mas, as Legendas de João Branco não passavam em... Outro capítulo à parte eram as reações com as diversas matérias dos jornais, como o Atualidades Atlântida, de Luiz Severiano Ribeiro Júnior. Quase sempre o noticiário se encerrava com uma badalada partida de futebol, principalmente pelo campeonato carioca. E havia dentro do cinema, como não podia deixar de ter, a velha rivalidade entre os torcedores dos times maiores, como Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo. Só pintava Bangu, Madureira, América, etc, se fosse com um destes maiores. Nas horas mais críticas como faltas, penalidades máximas, expulsões e os momentos dos gols, a bagunça era geral, ninguém se entendia. Silêncio mesmo só para as calamidades. Inundações, incêndios, mortes, coisas assim. Aí o nosso coração silenciava e nos abatíamos ao sabor de uma narrativa primorosa, quase sempre de Heron Domingues. Gente estranha era a classe política. Tanto mais evidentes no cenário nacional, mais vaiados. Não importava se era o presidente da república ou um simples vereador. Era gente antipática e só merecia desprezo. Havia os que tinham um frenesi para cantar todas as modinhas de carnaval nas chanchadas da Atlântida. E em alguns casos, era só o que o filme trazia. O mais comum era ver gente fumando fora da sala de projeção, nas laterais, ou nos mictórios. Aliás, não eram, de fato, toaletes respeitáveis, eram umas espeluncas, fedidas, muito mal cuidadas. Mas, ocorria, vez por outra que alguém resolvia fazê-lo escondido da vigilância dos lanterninhas. Então, alguém mais incomodado gritava de lá: Tão fumando... Era o suficiente para a bagunça recomeçar. O lanterninha vinha armado e na maior moral bradava de lá: “não quero nem saber, eu boto pra fora...” Eu encontrei muita identidade em fatos pitorescos como estes na obra extraordinária de Giuseppe Tornatore, Cinema Paradiso. Os cinemas antigamente, sobretudo os que estavam em meio a este clima provinciano do interior do país eram o cenário apropriado para todas estas manifestações, tão espontâneas de espectadores que se fascinavam com a magia do cinema e podiam, a cada espetáculo viver um sonho que tornava a vida mais encantadora. Bom dia. (Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 15.02.2017)             
BOM DIA! (47) Por Renato Casimiro
HISTÓRIAS DE UM CINEMEIRO: V) O PERIGO DA SÉRIE
A crônica cinematográfica especializada registra que entre as décadas de 1920 e 1960 os freqüentadores de cinema não perdiam as exibições dos seriados. Os seriados eram filmes em capítulos semanais, de uma mesma história, que se caracterizavam por intensa ação e poucos diálogos, muitas emoções vividas por mocinhos e mocinhas, enfrentando perigos de toda sorte. A seqüência era mais ou menos a seguinte: no primeiro capítulo, geralmente o mais longo, de até 30 minutos, situava-se a história e ela ia se desenvolvendo com pelo menos um dos protagonistas se encaminhando para o primeiro embaraço. Era o perigo. Com duração de 15 a 20 minutos, o capítulo se encerrava abruptamente, quando se antevia a morte do personagem. Era, portanto, sempre, um perigo de morte. A imagem era congelada e aparecia o indefectível aviso: “Continua na próxima semana”. Às vezes, o seriado incluía um curtíssimo trailer do próximo capítulo. E a história ia se desenvolvendo capítulo a capítulo, até o desfecho final, num flagrante atestado do triunfo do bem sobre o mal. As dificuldades, às vezes, eram muito grandes. Nem sempre acertávamos como o(a) “artista” ia sair daquele “perigo da série”. Por vezes era decepcionante, digamos. Um simples e rápido gesto o fazia livre daquele perigo mortal. Nossos nervos ficavam à flor da pele. A agitação na sala era tremenda e o que se roia de unhas, não estava no gibi. Diversos seriados marcaram os anos 50-60 em Juazeiro. E eu os via no Eldorado, ou no Capitólio. Destes, três ficaram na minha lembrança: Império Submarino (Undersea Kingdom), Os Perigos de Nyoka (Perils of Nyoka) e O Chicote do Zorro (Zorro´s Black Whip). Império Submarino foi um seriado com 12 capítulos, cujos títulos eram: 1. No Fundo do Mar (Beneath the Ocean Floor); 2. A Cidade Sob o Mar (The Undersea City); 3. A Arena da Morte (Arena of Death); 4. A Vingança dos Volkites (Revenge of the Volkites); 5. Prisioneiros de Atlântida (Prisoners of Atlantis); 6. O Juggernaut Ataca (The Juggernaut Strikes); 7. Armadilha Submarina (The Submarine Trap); 8. Dentro da Torre de Metal (Into the Metal Tower); 9. Morte no Ar (Death in the Air); 10. Atlântida Destruída (Atlantis Destroyed); 11. Chama da Morte (Flaming Death);12. Retorno à Superfície (Ascent to the Upper World). Produzido pela Republic Pictures Corporation, em 1936, e estrelado por Roy Crash Corrigan. O primeiro capítulo durou 30 minutos e os demais tinham duração entre 17 e 19 minutos. O seriado narrava as aventuras do tenente Ray "Crash" Corrigan, recém formado na Academia Naval de Anapolis e da ambiciosa repórter Diana (Lois Wilde) em acompanharem o Prof. Norton (C. Montague Shaw) na procura do hipocentro dos terremotos que assolavam e devastavam as cidades americanas. A origem do sismo era a lendária Atlântida que se encontrava dentro de uma redoma no fundo do Oceano Atlântico. O Prof. Norton, Corrigan e Diana partiam no submarino - foguete criado pelo professor, acompanhados pelo filho Billy Norton (Lee Van Atta) e por uma dupla cômica de marujos, Briny (Smiley Burnette) e Salty (Frankie Marvin). Quando a expedição chegava à Atlântida eram pegos numa guerra entre os "capas brancas" (obviamente os bons), liderados pelo alto sacerdote Sharad (William Farnum) e os malvados de "capas pretas", sob o comando do tirano Unga Kahn (Monte Blue). Os atlantes possuiam uma tecnologia avançada com o uso de robôs (Volkites), naves, mísseis, armas atômicas, etc. Estranhamente, apesar de todas essas maravilhas tecnológicas, os dois oponentes ainda lutavam com espadas, cavalos e carruagens. Depois de passarem por várias aventuras, os membros da expedição escaparam para a superfície, seguidos por Unga Khan através de sua torre, munido com foguetes criados pelo Prof. Norton que esteve sob seu domínio, em sua tentativa de dominar os povos da superfície. Mas, acaba sendo impedido pela marinha americana com a ajuda de Corrigan. O segundo seriado, Os Perigos de Nyoka, também era da Republic Pictures Corporation, de 1942, protagonizado pela dupla Kay Aldridge (Nyoka Gordon) e Clayton Moore (Larry Groyson). O seriado tinha 14 episódios: 1. (Desert Intrigue); 2. (Death´s Chariot); 3. (The Devil´s Crucible); 4. (Ascending Doom); 5. (Fatal Second); 6. (Human Sacrifice); 7. (The Monter´s Clutch); 8. (Tuareg Vengeance); 9. (Buried Alive); 10. (Treacherous trail); 11. (Unknown Peril); 12. (Underground Tornado); 13. (Blazing Barrier); 14. (Satans´s Fury). Na Internet encontrei referência ao seriado, em cópia em VHS, com 15 episódios, em 261 minutos de exibição, no total. Mas, no cinema, os capítulos eram exibidos, em média, com duração de uns 19 minutos. Nyoka e os integrantes de uma expedição às montanhas da Líbia, entram em combate com Vultura, a Rainha do Deserto, na busca das Tábuas Douradas de Hipócrates. A série se inicia com a chegada da expedição, sob a chefia do prof. Douglas Campbell à pequena cidade de Wadi Bartha. Ele havia encontrado um papiro que poderia revelar o local onde se encontrariam escondidas as Tábuas que contém indicações de remédios para a cura de doenças graves, incluindo o câncer. Mas, também, com respeito a rico tesouro em jóias e pedras.  O Dr. Larry Grayson (o legendário Clayton Moore, que encarnou o personagem Zorro noutro conhecido seriado) é um médico interessado no aspecto científico da busca. Nyoka também procura por seu pai que viera para a região em expedição anterior. Ela acredita e, efetivamente, o encontra ainda vivo, embora com amnésia, e vivendo no Vale dos Tuaregs, uma tribo árabe do deserto. Isto enseja muitos perigos aos membros da expedição, particularmente a Nyoka. Ao final ele recupera a memória e auxilia a expedição a encontrar as Tábuas e o tesouro, sem que falte aquele final feliz, onde mais uma vez o bem vence o mal. Por último, O Chicote do Zorro foi um seriado também produzido pela Republic em 1944, e tendo como papel principal Linda Stirling.  Seus episódios, em número de 12 foram: 1. (The Masked Avenger); 2. (The Tomb of Terror); 3. (Mob Murder); 4. (Detour of Death); 5. (Take Off That Mask); 6. (Fatal Gold); 7. (Wolf Pack); 8. (The Invisible Victim); 9. (Avalanche); 10. (Fangs of Death); 11. (Flaming Juggenaut); 12. (Trail of Tyranny). O primeiro capítulo durou 23 minutos e todos os demais duraram 14 minutos. No seriado desenvolveu-se a seguinte trama: A série, ambientada em 1889, era sobre uma linda garota, Bárbara Meredith (Linda Stirling), que passava a usar roupa preta, máscara e chicote de seu irmão assassinado, para continuar a luta contra bandidos no oeste americano. Por isso mesmo o personagem mascarado passou a ser conhecido como Chicote Negro. Seu irmão, Randolph Meredith, era editor de um jornal em Crescente City, no Idaho. Ele defendia a transformação do seu território em Estado da União, e era fortemente combatido por um empresário que agia secretamente, como líder de uma quadrilha. Na trama, entra em cena um agente federal que vai tentar capturar o misterioso vilão e o mascarado Chicote Negro. Eles todos são os vitoriosos no 12° capítulo quando o seriado se encerra, com a derrota dos bandidos. Certamente esta idéia de uma heroína mascarada foi o elemento mais importante do seriado, uma inovação que fez muito sucesso. Convém salientar que este Zorro não tinha nada a ver com o famoso personagem californiano, tão mais conhecido no cinema. O andamento dos seriados nos permitia, freqüentemente, na Rua, realizar a sua teatralização. Era como se vivêssemos “o perigo da série”. Quando não fosse possível reproduzir a cena, o mais próximo do que nos parecia o real, criávamos outra cena. Era o clima, de cima do muro, trepado numa árvore, correndo pela rua e nos becos, perseguindo aventuras e driblando situações, a qualquer modo, tudo contribuía para a permanência desta atmosfera por 12 ou 15 semanas seguidas. Houve casos em que o seriado em cartaz não foi exibido num fim de semana. Prevendo esta frustração, estabeleceu-se uma rede de espionagem preocupada em confirmar se o capítulo seriado havia mesmo desembarcado pela ferrovia. Então a conversa se espalhava: a série chegou, a série chegou, corria de boca em boca. Recentemente, um amigo que percorria o interior do Ceará, em nome da distribuidora, me informou que era inadimplência do exibidor. Então, o distribuidor não mandava a série, pois sabia da repercussão. Na semana seguinte o débito estava liquidado. Vi muitas vezes o carrinho descendo a Rua São Pedro com uma porção de latas contendo rolos de filmes. Corria para ver de perto, e aí estava o rolo da série. Alegria geral. Os seriados eram exibidos aos sábados e domingos. Era a última parte da sessão. Depois do jornal, dos trailers, e do filme. Eram habitualmente, os vinte minutos mais eletrizantes do espetáculo.Muitas destas séries exibidas nos cinemas entre os anos 20 e 60 chegaram a ser reapresentadas em programas de Tv aberta, ou em canais por assinatura. A maioria delas ainda pode ser encontrada em VHS, ou mesmo já em DVD, para compra. Um amigo já me advertiu: - não queria vê-las mais, você não vai achar graça nenhuma. Bom dia. (Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 16.02.2017)             
BOM DIA! (48) Por Renato Casimiro
HISTÓRIAS DE UM CINEMEIRO: VI) FILMES INESQUECÍVEIS
Frequentemente, tenho lido seleções e listas elaboradas por críticos de arte com o melhor da produção cinematográfica mundial, onde se incluem os filmes de maior sucesso todos os tempos Quase não encontro nelas o que via por aqueles idos anos 50-60. E me parecem óbvios os motivos. Em primeiro lugar, a questão da distribuição impedia que certos tipos de filmes chegassem ao interior. Lembro, particularmente, que não conhecíamos, ou pouco, o que saia dos estúdios da Metro (MGM) e outros, principalmente do cinema europeu. O que era distribuído pela Art filmes também se resumia a Stan Laurel e Oliver Hardy (O Gordo e o Magro). Outra coisa era o posicionamento do exibidor local em selecionar filmes de bilheteria fácil. Também é importante salientar que falo de um tempo para um menino limitado à censura de sua faixa etária, em que se incluíam filmes de 10 a 14 anos, e freqüentador das programações de fins de semanas, onde quase tudo era livre. Talvez porque havia a complementação dos seriados, para qualquer idade. Hoje posso compreender mais facilmente não ter acompanhado o melhor do cinema e coisas preciosas só terem chegado ao meu conhecimento já na fase da universidade, freqüentando sessões exclusivas do chamado cinema de arte. Foi aí que conheci extraordinários marcos daquela época, dentre os quais Casablanca, O ano passado em Mariembad, Cidadão Kane, Hiroshima meu amor, e tantos outros. Recorro ao belíssimo trabalho de Sávio Leite Pereira (Volta ao mundo dos Filmes em 50 Anos) para completar estas relembranças. Assim, vou me permitir, neste caminho, recordar as minhas grandes emoções, permeando estórias, enredos, atrizes e atores, músicas, fotografia e os encantos não traduzíveis desta arte, ainda hoje resgatados nas sessões domésticas, muito cômodas, proporcionadas pelas videolocadoras, canais de Tv aberta ou por assinatura. Foi o que ficou na memória, talvez apenas para indicar os gêneros e algumas circunstâncias do aprendizado de um cinemeiro, ainda hoje pouco qualificado. Os primeiros momento vividos ainda no velho Cine Avenida, eram marcados por filmes de cowboys e aventuras de Tarzan. O herói teve uma larga permanência através dos estrelatos de Johnny Weissmuller, Gordon Scott e Lex Baxter. Nesta época as grandes vedetes dos bang-bangs eram Hopalong Cassidy, interpretado por William Boyd, montado em cavalo branco, maravilhoso. Elegância no vestir e na postura charmosa de um ator requintado. Era também a fase de mocinhos inesquecíveis como Gene Autry, Roy Rogers, Tom Mix, Durango Kid, Rocky Lane, Johnny Mack Brown, Bill Elliott, Rex Allen, Tim Holt, Buck Jones e tantos outros. No capítulo dos cowboy, impossível não lembrar a filmografia de inesquecíveis mocinhos como James Stewart, John Wayne, Audie Murphy, Randolph Scott, e tantos. O Renegado do Forte Peticoat(1957) representou para mim uma marca inesquecível da longa filmografia de Audie Murphy. Seus filmes eram muito freqüentes na programação do Eldorado, em manhãs de domingos. Alguns destes foram: Tambores da Morte, Traição Cruel e Antro de Perdição, todos de 1954, Terrível como o Inferno (1955), Honra de Selvagens (1956), Na Rota dos Proscritos (1958), Antro de Desalmados e Balas que não erram (1959), Com o Dedo no Gatilho (1960), para citar uns poucos, nas domingueiras do Eldorado. Marcelino Pão e Vinho foi um dos espetáculos mais emocionantes que assisti. O filme contava a história de um garoto, órfão, que havia sido encontrado na porta de um mosteiro, e era criado por frades; Um dia, enquanto fazia uma refeição, ele tomou um pedaço de pão e ofereceu a Jesus, crucificado, à sua frente. O Cristo aceita a oferta e aí se estabelece um diálogo e uma amizade inusitada. O filme é uma produção ítalo-espanhola, de 1955, estrelado por Pablito Calvo. Foi premiado em Cannes e Berlim, e ainda hoje é visto, pois é comercializado em vídeo. Foi este filme o primeiro a me provocar a mais comovida reação de choro e lágrimas, pelo sofrimento e a as fortes emoções da vida daquela criança. Cito, ao acaso, alguns destes filmes inesquecíveis em breve listagem: Trapézio, Bichinho de Estimação, Os Brutos Também Amam (1953) com Allan Ladd e Jack Palance, A ponte do Rio Kwai (1957) com William Holden e Alec Guiness, Matar ou Morrer (1952) com Gary Cooper e Grace Kelly, Branca de Neve e os Sete Anões, Fantasia, Ben Hur (1959) com Chalton Heston e Stephen Boyd, Sete Noivas para Sete Irmãos (1954) com Jane Powell, Depois do Vendaval (1952) com John Wayne e Maureen O´Hara, O Ladrão de Bagdá (1940) com Sabu, Spartacus (1960) com Lawrence Olivier e Kirk Douglas, A Balada do Soldado (1960) com Vladimir Ivashov, Os Dez Mandamentos (1956) com Chalton Heston e Yul Brinner, O Vento Não Sabe Ler, Por Quem os Sinos Dobram (1943) com Gary Cooper e Ingrid Bergman, O Manto Sagrado , Comanche, O Maior Espetáculo da Terra (1952) com Chalton Heston e James Stewart, Helena de Tróia. Além destes, e para não ir muito longe, vamos mencionar alguns dos astros e atrizes do nosso gosto particular por estes tempos: Cantinflas e Tintan, dois comediantes mexicanos (nos velhos filmes da Pelmex), Jerry Lewis (quase sempre sob a direção de Frank Talshin, o garoto trapalhão), Kirk Douglas (entre os épicos e os cowboys), Victor Mature (fantástico, em Sansão e Dalila), Steeve Reves (com um personagem chamado Maciste que se tornou a febre da garotada), Sofia Loren, Gina Lolobrígida (extraordinária no Corcunda de Notre Dame), Burt Lancaster, Tony Curtis, Elvis Presley (desde a grande promessa de Estrela de Fogo até os musicais que nos faziam comprar todos os discos), Ivone de Carlo (belíssima, e que era a paixão recolhida do tio Ananias), Debra Paget (Sepulcro Indiano, 1957), Ava Gardner, Mauren O´Hara, Audrey Hepburn (magnífica em a Princesa e e Plebeu, até Bonequinha de Luxo), Romy Schneider (na trilogia de Sissi). Paramos por aqui, pois a saudade mata a gente. Bom dia. (Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 17.02.2017)             
BOM DIA! (49) Por Renato Casimiro
HISTÓRIAS DE UM CINEMEIRO: VII) NO TEMPO DAS CHANCHADAS...
Como já fiz referência, a distribuição realizada por Luiz Severiano Ribeiro era a principal responsável pela programação dos cinemas em Juazeiro. Ele começou o seu empreendimento cinematográfico em Fortaleza, no dia 14 de julho de 1917, quando arrendou o Majestic-Palace, primeiro cinema importante construído em Fortaleza. Bem sucedido no negócio, comprou outras salas e construiu o Moderno, inaugurando-o em 21.09.1921. Luiz Severiano Ribeiro se mudou com a família para o Rio de Janeiro, arrendou o Cinema Atlântico (em Copacabana/RJ) em 1926. Associou-se à Metro Goldwin Mayer, em 1927, que forneceria filmes a Severiano até 1930. Em 18.09.1941, Moacir Fenelon e José Carlos Burle fundaram a Atlântida Cinematográfica com um objetivo bem definido: promover o desenvolvimento industrial do cinema brasileiro. Em 1947 Luiz Severiano Ribeiro Jr. torna-se sócio-majoritário da empresa, integrando-se a um mercado que já dominava nos setores de distribuição e exibição. Estava aberto o caminho para a chanchada. O ano de 1949 marca definitivamente a forma em que o gênero atingiria o clímax e atravessaria toda a década de 50. A Atlântida descobriu que os filmes ditos carnavalescos, por incluir cantores de reconhecida projeção e os seus sucessos tocados no rádio brasileiro, principalmente nas ondas da velha Rádio Nacional, e através de programas de auditório, com o repertório de temas carnavalescos daqueles anos, era um grande filão. Os atores principais vinham do teatro e do circo, como foi o caso da dupla mais famosa, entre 1935 e 1965. Oscarito saiu de circo e Grande Otelo veio do Cassino da Urca. Os dois atuaram juntos em 17 filmes. As histórias eram ingênuas, muito românticas, bem adocicadas. Um homem rico, uma moça pobre e pelo menos um vilão para atrapalhar. No final feliz, a polícia tomava conta do bandido e o casal era feliz para sempre. A crítica cinematográfica nunca viu nada de interessante neste tipo de filme e passou a denominá-lo de chanchada, um termo pejorativo para explicitar o que era mal feito, grosseiro e sem valor. Relaciono, a seguir, filmes da Atlântida que foram exibidos no Capitólio e no Eldorado, entre os anos 50 e 60. As datas que aí constam são as de lançamento nacional. Em Juazeiro, de um modo geral os filmes estrangeiros demoravam de 5 a 6 anos para chegarem às nossas telas. Mas para os filmes nacionais o tempo era bem menor, embora não tenha visto nada no mesmo ano de lançamento. Uma das apelações frequentes era o carnaval ou lançamento de canções por cantores famosos e nisso o filme cumpria esse merchandising importante. Eis o que pude relembrar: Aviso aos Navegantes (1951) com Oscarito e Grande Otelo; Aí Vem o Barão (1951) com Oscarito; Barnabé, Tu És Meu (1952) com Oscarito e Grande Otelo; Três Vagabundos (1952) com Oscarito e Grande Otelo; Amei um Bicheiro (1952) com Cyll Farney, Eliana e Grande Otelo; Carnaval Atlântida (1953) com Oscarito e Grande Otelo; A Dupla do Barulho (1953) com Oscarito e Grande Otelo; Nem Sansão Nem Dalila (1954) com Oscarito, Eliana e Cyll Farney; Matar ou Correr (1954) com Oscarito e Grande Otelo; Guerra ao Samba (1955) com Oscarito, Cyll Farney e Eliana; Colégio de Brotos (1956) com Oscarito, Cyll Farney e Margot Louro; Vamos Com Calma (1956) com Oscarito, Cyll Farney e Eliana; Papai Fanfarrão (1956) com Oscarito, Cyll Farney e Margot Louro; Garotas e Samba (1957) com Renata Fronzi, Adelaide Chiozzo, Sonia Mamede e Zé Trindade; Treze Cadeiras (1957) com Oscarito, Renata Fronzi, Zé Trindade e Zezé Macedo; De Vento em Popa (1957) com Oscarito, Cyll Farney, Sonia Mamede, Zezé Macedo, Margot Louro; Esse Milhão é Meu (1958)  com Oscarito, Sonia Mamede, Margot Louro, e Zezé Macedo; O Homem do Sputnik (1959) com Oscarito, Zezé Macedo, Cyll Farney, Neide Aparecida, Jô Soares, Norma Bengel, Alberto Peres; Cacareco Vem Aí (1960) com Oscarito, Cyll Farney, Sonia Mamede, Odete Lara, Jaime Filho, Francisco Anísio; Os Dois Ladrões (1960) com Oscarito, Cyll Farney e Eva Todor; Pintando o Sete (1961) com Oscarito, Cyll Farney e Sonia Mamede. Depois da Atlântida, foi criada a Cinedistri, que também explorou o filão das chanchadas. A Companhia Produtora e Distribuidora de Filmes Nacionais foi fundada em 1949 por Oswaldo Massaini, e encerrou suas atividades no início dos anos 80, sendo substituída pela CINEARTE, do produtor Aníbal Massaíni Neto (filho de Oswaldo Massaini). Nos filmes da Cinedistri Ankito "substitui" Oscarito na parceria com Grande Otelo. Continuo relacionando, a seguir, filmes da Cinedistri da programação dos cines Capitólio e Eldorado, nos anos 50 e 60: Angu de Caroço (1955) com Ankito, Consuelo Leandro, Costinha e Agildo Ribeiro; Metido a Bacana (1957) com Ankito e Grande Otelo; Absolutamente Certo (1957) com Anselmo Duarte, Dercy Gonçalves, Odete Lara; De Pernas Pro Ar (1957) com Ankito e Grande Otelo; O Barbeiro que se Vira (1957) com Waldemar Seyssel (Arrelia), Eliana Macedo, Paulo Goulart, Carlos Tovar, Berta Loran, Roberto Duval, Wilson Grey; A Baronesa Transviada  (1957) com  Dercy Gonçalves, Grande Otelo e Humberto Catalano; Com Jeito Vai (Soldados Do Fogo) (1957) com Carequinha, Fred e Grande Otelo; É de Chuá!  (1957) com Ankito e Grande Otelo; O Camelô da Rua Larga (1958) com Zé Trindade, Nancy Wanderley e Zezé Macedo; Na Corda Bamba (1958) com Waldemar Seyssel (Arrelia), Zé Trindade, Ema D’ávila, Roberto Duval, Wilson Grey; Quem Roubou meu Samba ? (1958) com Ankito, Nancy Wanderley, Pituca, Humberto Catalano, Wilson Grey; Cala a Boca, Etelvina (1958) com  Dercy Gonçalves, Humberto Catalano, Paulo Goulart, Zezé Macedo, Otelo Zeloni; Minervina Vem Aí ! (1959) com Dercy Gonçalves, Zezé Macedo, Norma Blum, Humberto Catalano, Wilson Grey; Dona Xepa (1959) com Alda Garrido, Odete Lara, Colé Santana, Zezé Macedo, Herval Rossano; Titio Não é Sopa (1959) com Procópio Ferreira, Eliana Macedo, Ronaldo Lupo, Herval Rossano, Afonso Stuart; Eu Sou o Tal (1960) com Vagareza, Jorge Murad, Mara Di Carlo, Daniel Filho, Nancy Wanderley, Francisco Anizio, Herval Rossano, Rodolfo Arena, Paulo Celestino, Wilson Grey, Moacyr Derriquem; Samba em Brasília (1960) com  Eliana Macedo, Herval Rossano, Geraldo Mayer, Nancy Wanderley, Humberto Catalano, Paulo Celestino, Henriqueta Brieba; A Viúva Valentina (1960) com Dercy Gonçalves, Humberto Catalano, Herval Rossano, Wilson Grey; Sai Dessa... Recruta!  (1960) com Ankito, Consuelo Leandro, Mário Tupinambá, Renato Restier, Jorge Loredo, Martim Francisco, Rafael De Carvalho. Aliás, Ankito permaneceria mais tempo na telona e dele ainda posso me lembrar dos seguintes filmes: É Fogo na Roupa (1952); Os Três Recrutas (1953); Marujo Por Acaso (1954); O Grande Pintor (1955); Rei do Movimento (1955); Boca de Ouro (1956); Feijão é Nosso (1956); Metido a Bacana (1957); E o Bicho Não Deu (1958); Pé na Tábua (1958); Garota Enxuta (1959); Quem Roubou Meu Samba ? (1959); Um Candango na Belacap (1960); Sai Dessa, Recruta (1960); Vai Que é Mole (1960); Pistoleiro Bossa Nova (1960); Os Três Cangaceiros (1961).  Mas, não foram apenas estes dois estúdios os responsáveis pela presença do cinema nacional nas telas de Juazeiro. Da Cinédia veio, pelo menos, O Ébrio (1946) com Vicente Celestino, Alice Archambeau, Rodolfo Arena, Victor Drummond, Walter D'Ávila, César de Alencar, Ademilde Fonseca, Oswaldo Loureiro. Da Vera Cruz merece menção os primeiros filmes de Mazzaroppi: Sai da frente (1952), Nadando em Dinheiro (1952) e Candinho (1954). Na verdade, Amacio Mazzaroppi fundou a sua própria produtora e diversos outros filmes vieram para nossas telas, como: A Carrocinha (1955); O Gato de Madame (1956); Fuzileiro do Amor (1956); O Noivo da Girafa (1957); Chico Fumaça (1958); Chofer de Praça (1958); Jeca Tatu (1959); As Aventuras de Pedro Malasartes (1960). E era isso, o cinema da minha infância, certamente de muitos garotos daquela fase da Rua São José, e antes que alguém dissesse, já era a maior diversão. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 18.02.2017)             

TELEFÉRICO DO HORTO


O governador Camilo Santana aprovou o projeto e garantiu recursos do Tesouro Estadual para a construção do teleférico e urbanização do Horto do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, no Cariri. Tradicional ponto de turismo religioso na região, o local recebe milhões de visitantes durante o ano. "Essa será uma obra importantíssima para o Horto. Vai melhorar a acessibilidade, trazer mais conforto e segurança para os romeiros e alavancar ainda mais o turismo em toda a região do Cariri", citou o governador do Ceará, sobre a importância do teleférico e de reurbanizar a Colina do Horto. O percurso do teleférico tem aproximadamente 2 mil metros, com tempo total de 12 minutos. A expectativa é receber cerca de 400 pessoas por hora. Construída em 1969 na Colina do Horto, a estátua de Padre Cícero tem 27 metros e está entre as três maiores de concreto do mundo. O monumento representa a presença do patriarca no coração dos fiéis e tornou-se símbolo sagrado do romeiro. Nas fotos que ilustram a notícia, temos de cima para baixo: 1. A estação que ficará no Horto, situada na extremidade mais distante da Rua dos Pombos; 2. A estação que ficará na cidade, na altura do Vapt-Vupt; 3. Uma visão aérea do traçado das duas linhas retas do teleférico, sendo a primeira, horizontal, entre a estação da cidade, no Vapt-Vupt e a rotatória do Anel Viário na confluência com a Av. do Agricultor, e a segunda linha, a partir daí até o Horto, ascendente-descendente. A instalação desse equipamento vem de encontro ao nosso desejo de ver ações que implementem o turismo na cidade, ampliando o que as romarias já fazem. Resta agora saber como isso será tocado. O governo ainda não se manifestou, salvo melhor juízo sobre a sustentabilidade desse investimento. É mais provável que ele seja terceirizado porque a sua manutenção será problemática uma vez que ele não contempla a Vila do Horto, ou mais propriamente a Rua do Horto, o que seria a sua mais frequente usuária, na ligação mais estreita com a cidade. Mas, seguramente, na justificativa do investimento, o Estado deve ter elementos que melhor recomendem o seu traçado como está proposto, e disso não discutimos. Aplaudimos a decisão e aguardamos sua instalação.