segunda-feira, 27 de abril de 2015

BOA TARDE (I)
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
148: (27.04.2015) Boa Tarde para Você, Maria Gorete Couto Bem Mendonça
Bem imagino que também para você, caríssima, há dias em que bate uma saudade enorme de alguns daqueles que nos precederam, principalmente no sinal da fé, e que nos esforçamos para assimilar um grande conforto que nos vem pela crença no Ressuscitado e em todos aqueles que nele creem. Cada um de nós pode falar de entes queridos, amigos mais próximos, todos na graça da eternidade, cujas memórias procuramos honrar e propalar, às vezes pelo mínimo de quanto fomos agraciados com estas amizades, carinho e caminhos, zelo e preocupações, em grandes exemplos que ficaram. Já escrevi muito e certamente ainda não o bastante do que seria necessário para tentar dizer-lhes o quanto minha vida, certamente também a sua, Gorete, e igualmente de tantos por aqui, todos aqueles que foram muito bem marcados e impressionados com o trabalho pastoral de Pe. Murilo. Insisto na nomenclatura, Pe. Murilo, porque ele era destas pessoas que escapulia desta reverência, tão cabível, mas que de honorária, nesta hierarquia católica, parecia convicto de que isto era desnecessário para alguém que não queria deixar de viver a grande graça de ser um simples padre. Ele me disse um dia, e me perdoe a inconfidência, estranho já era conviver com esta honorabilidade decretada e que a homenagem que se queria lhe prestar terminou por contemplar outros e certos padres velhos, que sob sua censura eu tratei de bestas e ciumentos, que também reclamavam esta aparente dignidade. Triste, e você bem sabe e viveu, Gorete, foi assisti-lo na nossa completa impotência, o drama dos últimos dias abreviando uma vida grandiosa de cuidados a tantas causas, como a missão evangelizadora, a memória de nosso Patriarca, e o grande afeto pelas dores da Nação Romeira. Dois anos depois de seu sepultamento, exatamente em 04.12.2007, você viabilizou e assim se mantém com grande entusiasmo com a instituição do Terço, rezado às 18 horas do dia 4 de cada mês, junto ao seu túmulo, na Capela do Encontro, na Basílica Santuário de Nossa Senhora das Dores. Cada vez que participo destes momentos, a minha primeira invocação recai sobre a memória de tudo aquilo que me permitiu viver com grande privilégio a proximidade deste homem magnífico, o que me garantiu a certeza de alguns poucos acertos no caminho da minha própria humanidade. De fato, Gorete, Pe. Francisco Murilo Correia de Sá Barreto foi um paradigma de vida, um grande exemplo no seu ministério, um homem muito além do seu tempo, um cidadão sobre o qual seriam temerárias e absurdas as suspeições quaisquer sobre o seu perfil ético e moral. Ninguém pode ser um grande exemplo se não preenche corretamente este itinerário, reunindo em torno de si a grande adesão de um convívio que sempre foi marcado pelo serviço absolutamente desinteressado, voluntário e disponível intensamente entre as primeiras orações das madrugadas e as noites adiantadas onde o trabalho incansável escondia parte das canseiras dos dias. Eu o conheci em 1958, Gorete, logo que aqui chegou, e esta imagem eu pude resgatar concretamente ao assistir recentemente um pequeno documentário de um evento paroquial que já tinha à sua frente aquele jovem sacerdote cujo entusiasmo se media pela postura e agilidade. Chegou aqui, graças aos seminários que frequentou, aureolado por grandes predicados na sua formação eclesiástica, mas também vitima do que esta mesma Igreja lhe semeou de prevenção e desconfiança para com o Milagre Eucarístico de Juazeiro, em março de 1889. Quando visitávamos o museu do Milagre de Lanciano, na Itália, no ano 2000, ele me deixou esta indagação: O que há aqui de mais grandioso que também não tenha sido visto e vivido naquele miserável lugar do Joaseiro?  Foram mais de 47 anos de intensa dedicação neste ministério exemplar, com o qual ele realizou uma boa parte dos sonhos de tantos, dentre aqueles que o encontraram nas salas de aulas da Escola Normal, dentre os que receberam sua atenção nos sacramentos, dentre todos os que o viram servindo, digno e ereto, daqueles que hoje nos fazem falta. Esse homem, servo incondicional do Senhor, de Nossa Mãe das Dores, e do Padre Cícero Romão Baptista, passou a merecer por sua iniciativa e na recitação mensal do terço, mais esta dedicação, esta vigilância espiritual que nos permite uma sintonia fina com o seu exemplo de vida e aquilo que acreditamos media a nossa relação com Deus, Nosso Senhor. Desejo nesta tarde, Gorete Couto, elogiar e engrandecer o seu trabalho, sempre feito com tanto carinho, com tanto esmero, procurando reunir-nos durante a recitação deste terço, em torno da memória irretocável de Pe. Murilo de Sá Barreto.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 27.04.2015)

CINE ELDORADO
O Cine Eldorado estará exibindo no próximo dia 01.05, sexta feira, no seu endereço da Rua Pe. Cícero, às 20:00 horas, o filme O Maior Espetáculo da Terra ( The Greatest Show on Earth, USA, 1952), do gênero drama épico, com produção, narração e direção de Cecil B. DeMille. Elenco: Charlton Heston (Brad Braden); Cornel Wilde (The Great Sebastian); James Stewart (Buttons A Clown); Gloria Grahame (Angel ); Lawrence Tierney (Mr. Henderson); William Boyd; Bing Crosby; Bob Hope; Lyle Bettger (Klaus); John Ridgely  (Assistant Manager); Frank Wilcox (Circus Doctor) Robert Carson  (Ringmaster); Lee Aaker (Little Boy Spectator); Cecil B. DeMille  (Ator);
Kathleen Freeman (Spectator); Jimmy Hawkins (Little Boy Spectator); Van Johnson (Spectator); Noel Neill (Noel); Edmond O'Brien (Midway Barker at End). Sinopse: O enérgico gerente Brad contrata o trapezista internacional Sebastian para garantir os lucros e evitar que seu circo deixe de fazer uma temporada completa (e que inclui espetáculos em pequenas cidades). Mas a entrada de Sebastian acaba criando um conflito com Holly, apaixonada por Brad e também uma trapezista, que começa a competir perigosamente com o astro recém-contratado durante os números de trapézio. Mas este não é o único problema de Brad: além dos caprichos dos outros artistas, tem que lidar ainda com assaltantes, trapaceiros e animais selvagens doentes. Dentre seus artistas, o bondoso palhaço Buttons, que nunca retira maquiagem em função de um terrível segredo em seu passado. Crítica: Os circos existem desde a antiguidade, tendo merecido destaque à época do império romano. O formato que nos conhecemos, caracterizado por uma grande lona e picadeiro, para apresentação dos artistas, data do século XVIII, numa iniciativa de um militar inglês. O Brasil conheceria as atividades circenses no século XIX, graças aos emigrantes europeus que para aqui vieram. Apesar de toda tecnologia, do cinema, da TV de alta definição oferecendo centenas de opções, da internet, da vida diversificada nas grandes cidades, o circo ainda sobrevive, mesmo sem a força do passado. Há poucos anos mesmo, tivemos o lançamento do romance “Água para Elefantes”, depois adaptado para o cinema, uma tentativa de resgatar e homenagear a história dos circos. Muitos outros diretores e atores se envolveram em filmes com essa temática: temos o ótimo  "O Homem Elefante" (David Lynch), "Carrossel de Emoções (com Elvis Presley) e o brasileiríssimo "Saltibanco Trapalhões", com Renato Aragão. Esse registro histórico do glamour e do trabalho artístico embaixo da lona foi realizado com talento e suntuosidade raros em 1952, com O Maior Espetáculo da Terra, do cineasta americano Cecil B. DeMille, um mestre das grandes produções em seu país. Esse diretor realizou quase uma centena de filmes, dentre eles os conhecidos Sansão e Dalila,  Os Dez Mandamentos, O Rei dos Reis e Cleópatra. O Maior Espetáculo da Terra traz uma curiosidade: é considerado pela crítica especializada americana como “o pior longa a ganhar o Oscar de Melhor Filme”. Logicamente isso é discutível, devem existir filmes piores de que o clássico de B. DeMille que levaram a famosa estatueta. E se você avaliar o trabalho cinematográfico em questão como espetáculo, levando em conta atores, fotografia, música, figurinos e o objetivo de homenagear os artistas de circo, concordará que o filme é de boa qualidade, com momentos deliciosos de se ver. Em alguma resenhas que li os articulistas desdenhavam O Maior Espetáculo da Terra por conta do roteiro, criticavam o drama envolvendo os personagens principais. Assisti o filme recentemente (não lembro se vi a produção americana quando criança ou adolescente) e percebi facilmente que o triângulo amoroso envolvendo Braden, Holy e Sebastian é na verdade secundário. O que Cecil B. DeMille pretende mesmo é mostrar a grandiosidade do circo, com seus trapezistas, malabaristas, equilibristas, palhaços, mulheres bonitas, cantoras, dançarinas e domadores de animais diversos, como cavalos, macacos, tigres, leões e elefantes. Na história, um grande circo americano está em dificuldades. É preciso ter criatividade e contratar artistas que atraiam o público para evitar o pior. Uma das alternativas encontradas é limitar as apresentações só às grandes cidades, cortando do roteiro de viagens os centros menores. 
Os artistas discordam, querem estar com seu público em todos os lugares, principalmente nas cidades médias e pequenas. Fica subentendido que nesses locais o carinho ou a empatia com as pessoas que amam o circo é maior. O gerente do grande circo, Brad Braden (Charlton Heston) fica ao lado dos seus empregados e contrata o trapezista Sebastian, um astro capaz de garantir o público nas apresentações, inclusive nas cidades de pequeno e médio porte. Braden é viciado no trabalho, só pensa no circo, negligenciado o amor que sente por Holly (Betty Hutton) e aparentemente sem notar que a garota também o ama. A mocinha do filme é bastante ingênua, de uma inocência difícil de encontrar no mundo real. Sebastian, que chega para reforçar o elenco do circo, é bonitão, extremamente vaidoso e mulherengo, com um comportamento pessoal e profissional que beira a irresponsabilidade. Esses três personagens dominam a trama central, numa história meio bobinha que serve na verdade para expor tudo que está envolvido na vida de um grande circo. São mostrados os arriscados números de trapézio, os malabaristas e equilibristas, coreografias de diferentes regiões do planeta com mulheres belíssimas à frente, além dos animais presentes em qualquer grande espetáculo de picadeiro. Muitas vezes o olhar da câmera do diretor passeia pela platéia: um velho que se comporta como uma criança assistindo o circo, se divertindo muito, enquanto um menino ao seu lado é estranhamente sisudo. Casais de namorados, pessoas de meia idade e a meninada em peso em êxtase: acompanhando cada lance com atenção total, alguns emocionados, quase todos felizes, livres, sem tirar os olhos do picadeiro, mesmo quando têm em mãos um gostoso sorvete ou um saco de pipocas. Além dos atores citados, sendo o mais conhecido deles Charlton Heston (Os Dez Mandamentos, O Planeta dos Macacos, Aeroporto, Terremoto), o filme tem ainda dois ícones do cinema americano: Dorothy Lamour e James Stewart. Este último, que estrelaria depois alguns do melhores trabalhos de Alfred Hitchcock, interpreta um personagem curioso em O Maior Espetáculo da Terra: ele se “esconde” por trás de um palhaço, sempre maquiado, quando na verdade é um famoso cirurgião que matou a mulher por amor. Em O Maior Espetáculo da Terra não vemos apenas um filme. Durante quase três horas é como se estivéssemos também dentro de um verdadeiro circo, acompanhando não só os números belos e variados que são exibidos no palco ou picadeiro, mas também tomando conhecimento do que está por trás da vida de cada artista famoso. Cecil B. DeMille era um mestre nesses espetáculos majestosos, épicos e prova isso numa das grandes cenas do filme, quando dois trens com os artistas do circo se chocam deixando por alguns momentos a sensação de que “tudo vai acabar”. É bom lembrar que isso foi feito em 1952, sem os efeitos especiais de hoje. O realismo que o diretor conseguiu, porém, é impressionante. O título dessa obra cinematográfica é bastante significativo. O responsável pelo longa quis realmente proporcionar um grande espetáculo e conseguiu. Com o filme e o circo, os dois juntos na tela grande, um se ancorando no outro e formando um produto único que oferece arte, graça e diversão de primeira. (Fonte: http://robertoalmeidacsc.blogspot.com.br/) Curiosidades: A premiação do Oscar gerou críticas por muitos especialistas que o consideraram um dos piores ganhadores da história do prêmio. Neste ano concorrem como melhor filme os clássicos Matar ou Morrer e Cantando na Chuva. Em meio a platéia aparecem Bob Hope e Bring Crosby, parceiros da atriz Dorothy Lamour (que interpreta Phyllis e canta a canção que eles estão ouvindo) em muitas comédias. Outras participações especiais foram a de Edmund O´Brian e do cowboy do cinema e Tv Hapolong Cassidy, que desfila em uma cena de Parada. Os principais prêmios e indicações foram: No Oscar de 1953, venceu nas categorias de melhor filme e melhor história, e foi Indicado nas categorias de melhor diretor, melhor figurino colorido e melhor edição. No Globo de Ouro, em 1953, Venceu nas categorias de melhor filme - drama, melhor diretor e melhor fotografia colorida

sábado, 25 de abril de 2015

BOA TARDE (I)
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
147: (24.04.2015) Boa Tarde para Você, Rozelia Costa 
Celebro neste abril de 2015 os quarenta e nove anos de uma das mais prazerosas e fascinantes atividades que já pude encarar como hobby, colecionando compulsivamente, em todos estes anos, velhas fotografias que nos mostram pessoas, fatos e lugares desta mui amada cidade. Jamais imaginaria naquela época que chegaria hoje juntando mais de trinta mil imagens, a partir daquele presente simpático de Raymundo Gomes de Figueiredo, uma criatura muito amiga de meu pai, que me deixou este grande estímulo para constituir esse autêntico museu da imagem. Faço esta pequena revelação a você, Rozelia, porque vem desta data a minha mais completa admiração por fotógrafos, profissionais ou amadores, que tanto tem contribuído e muitíssimo com o registro histórico da nossa evolução, produzindo e guardando imagens que se eternizam. Quando recorro ao arquivo, vou relembrando nomes como Campello Júnior, o primeiro que talvez tenha aportado por aqui como fotógrafo ambulante, ainda no final do século XIX, para se seguir mencionando Lauro Cabral de Oliveira, Floro Bartholomeu da Costa, Adolphe Achille van den Brule, Benjamim Abraão Botto, Antonio Xavier de Oliveira, Edward McLain, Raymundo Gomes de Figueiredo, Francisco Targino, Raimundo Gonçalves, Roberto Piancó, Rosalvo de Souza, Roberto Bulhões, Demontier Tenório, Sérgio Bade, Tiago Santana, Nívia Uchoa, Elizângela Santos, Daniel Walker, Angela Moraes, Normando Sóracles, Serena Moraes, até chegar em você, Rozelia Costa. Em citar, pretensamente, todos a partir dos mais notórios, cometi seguramente algumas injustificadas omissões, fruto desta tentativa natural de não esquecer qualquer um destes quase anônimos que nos legaram lindas imagens desta terra surpreendente, captadas por suas lentes. Lindas e surpreendentes imagens desta terra, como as suas que encontro na rede social ou no site da nossa Basílica, algumas já figurando até com sua assinatura, personalizando esta modernidade do seu olhar por sobre o ambiente desta terra de milagres. Gostaria de lhe dizer, Rozelia, e agradecer principalmente, pelo quanto tem sido isto importante na contínua formação deste acervo que eu espero atravesse séculos, não apenas pela reportagem cotidiana do noticiário, mas pela documentação de uma época que isto encerra. Alguém já se antecipou ao que poderíamos dizer sobre seu trabalho, do que temos percebido em suas imagens, para dizer com muita fidelidade que como profissional, você é “gente que fotografa com amor”. Permita-me que lhe diga que apenas na superficialidade do meu sentimento mais incontido, eu enxergo o valor de seu trabalho como a demonstração sincera de que a sua lente capta e nos revela o quanto você se aproxima do fato, abrindo nossa imaginação e provocando emoções. E isso é tão importante, como no caso do seu registro sobre romarias, pois grande parte do valor destas fotografias está no quanto elas parecem congelar aquela realidade do momento, do tempo e do espaço, para que sigam comunicando e provocando interpretações. A fotografia é esse testemunho de uma época, algo que parece nos confundir entre realidade e ficção, uma arte que não depende essencialmente da tecnologia do momento, pois através dos tempos teremos com certeza uma fonte de luz, uma lente e uma superfície para revelar imagens. Das coisas que desconfio, Rozelia, uma destas é enxergar no seu trabalho essa ultrapassagem necessária do registro temporal para além do fato, do objeto fotografado, para que a imagem construa novas molduras e guarde o tempo em que se fez, na instantaneidade daquele clic. Vários dos velhos fotógrafos do Juazeiro tiveram a sensibilidade de por o seu olhar sobre o fato histórico que se vivia e terminaram por eternizar, por exemplo, preciosas imagens do nosso Patriarca e dos momentos mais relevantes que importaram na construção de nossa história. O que vejo no seu trabalho, Rozelia e com ele me emociono, não difere desta linguagem visual que parece se munir de todos os nossos sentimentos, pelos sons, pelas cores, para compor em cada imagem uma pequena obra de arte, com a mesma força com que gostaríamos de parar o tempo. Quero parabeniza-la por tamanha dedicação e zelo profissional, fatos que revelam a grande natureza de sua visão de mundo.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 24.04.2015)

A FARRA DO BOI: PARAÍSO DO TUIUTI, 2016
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraíso do Tuiuti (foto) é uma escola de samba sediada no município do Rio de Janeiro. Teve origem no Morro do Tuiuti, situada no bairro de São Cristovão. 
A Paraíso do Tuiuti anunciou o enredo que levará para o Carnaval 2016. "A Farra do Boi" vai contar a história do Brasil pitoresco, uma passagem da história no interior do Ceará, conhecida por poucos, onde o Padre Cícero ganha de presente um boi zebu, que foi batizado pelo nome de mansinho e ficou conhecido por ser um boi milagreiro. Através de seu mugido forte, ele trouxe a chuva ao sertão. Posteriormente, foi sacrificado em praça pública por conta da inveja de autoridades locais. O tema será desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. Eis a sinopse do enredo de A FARRA DO BOI, segundo o carnavalesco Jack Vasconcelos (foto): “Tão certo como com certeza que fé demais não cheira bem (isso o povaréu dos antigamente já dizia, mas nunca fez muita questão de praticar) e como história, causo e disse-me-disse são cousas que toda gente aprecia, quase sempre, a vida severina ao Deus dará, nos sertões cearenses, unia o útil ao agradável. A fé, que não costuma faiá, muito semeou a imaginação fértil daquelas terras secas e era o cajado fiel de toda boa alma e das nem tão boas assim também... Rezam os cordéis que o Cariri e vizinhança eram aperreados por lobisomens em noites pretas de lua cheia, mulas-sem-cabeça que trotavam encandecidas pelo Crato afora, flamejantes caiporas que zoavam Juazeiro adentro e por almas penadas que assombravam por todo canto, que nem reza braba de rezadeira feia e benzedeira véia dava jeito. Vixemaria! Nessa terra de crendices até quem não acredita, não duvida. Só mesmo Deus lá em riba e o Padim Ciço aqui em baixo pra acudir. E como Padre Cícero estava mais pertinho, era com ele que toda a gente se apegava nas horas de carecitude. O Padim era a fé do povo em pessoa. Um santo líder idolatrado pelos seus. Era comum o santo padre receber alguns presentes pelos pedidos atendidos, pois o que o povo tem de pidão, tem de agradecido. Entonce, por causo disso, certa vez, um importante industrial chamado Delmiro Gouveia regalou Padre Cícero com um mimo que deu muito pano pra manga. Diabéisso? Era um garrote diferente de todos já avistados por aquelas bandas. Um filhote de boi zebu branco, calminho por demais que o chamaram de Mansinho. Dizem que foi Deus quem alumiou a moleira do Padim, quando ele mandou o beato José Lourenço levar o boi Mansinho para o seu sítio, o Baixa Dantas. Com a nobre missão de escoltar o boizinho do santinho de Juazeiro até o Crato, o beato rendeiro arribou, avexado, estrada afora. No caminho, já com o quengo frito e o miolo amolecido por conta da quentura seca daquela estiagem que judiava dos viventes, proseou com o pequeno zebu. Pediu para que o novilho do santo Ciço ajudasse naquela situação, a qual já se imaginava até a casa do tinhoso ser mais fresquinha e prometeu lhe pagar botando o boi na sombra. Prontamente, os chifres do boi balangaram e seu mugido ecoou tão alto que até os zovido de São José escuitaram. O beato abilolado se arrupiou dos bicho-de-pé ao cocuruto, quando avistou a chuva banhar o sertão. Acreditando estar diante de uma visagem milagrosa, José Lourenço tratou ligeiro de fazer até surdo ouvir e cego ver que o boi manso fazia milagre acontecer. Arriégua! Começou o quiproquó! Nas terras do sítio Baixa Dantas, tudo o que se plantou, deu. O pomar abundou e as plantações cresceram. A fama do boi milagreiro se espaiou num pinote pelo sertão. O estábulo do próspero sítio virou local de peregrinação. Um bando de gente precisada chagava de todo canto em busca da bênção bovina. Juravam de pé junto que a reza pro zebu era um tiro certo contra toda sorte de urucas, urucubacas, quebrantos, gasturas, agouros, paúras, dor-nos-quarto e até espinhela caída. Das raspas dos cascos e chifres faziam unguentos que saravam o corpo das ziquiziras, curubas, lombrigas, bexigueiras e catipopéias. Santinhos, medalhinhas e relíquias eram ofertados a preços módicos pra ninguém voltar pra casa de mãos abanando. Mansinho era pajeado como um rei, ou melhor, como um santo. No conforto das almofadas que acomodavam seu sacrum fiofó, os fiéis bajulavam o bichinho com salamaleques, enchiam seu bucho com papinhas e faziam da hora de sua merenda um momento litúrgico. Os chifres eram enfeitados com fitas, flores e badulaques. Até um rico manto bordado ele ganhou dos devotos. Romeiros vinham adorar o "Boi Ápis do sertão" e a comparação com o boi sagrado egípcio ganhou fama inté na capital. Boi Mansinho se tornou uma divindade sertaneja. Porém, fé cega é faca amolada. Tamanho furdunço incomodou as autoridades. Dizem que profetizaram o rabo de seta do Sete Peles serpenteando meliantemente ao redor do santo boi antes de suceder a trairagem. Para acabar com a alegria do povo, o boizinho inocente e o beato José Lourenço foram mandados a pulso para o xilindró. Mas, foi pior a emenda que o soneto, pois o sacrifício do boi em praça publica foi bala saída pela culatra, ricocheteada no avesso da intenção. Para os zóio e coração dos fiéis a vaca tinha ido pro brejo, mas o boizinho foi pro céu. Mansinho se transformou em um mártir, um santo de fato. Ganhou o reino das alturas para pedir por eles pessoalmente, nem carecia mais do Padim. Oh, glória! Só para contrariar os que até tentaram negar sua existência, o boi santo pasta inté hoje na cultura brasileira. Causou um forrobodó em A Revolução dos Beatos, de Dias Gomes. Virou boi de barro nas mãos de Mestre Vitalino e dos artesãos populares. Também ainda vévi versado, talhado e gravado nos livrinhos de cordel. E para quem quiser dar uma de São Tomé, certamente o Boi Mansinho é encontrado multiplicado em arte bumbando pelos corredores do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas do Rio de Janeiro, a famosa Feira de São Cristóvão, às portas do paraíso... Do Paraíso do Tuiuti. (Fonte: http://www.sidneyrezende.com)

MEDALHA MESTRE NOZA
A municipalidade juazeirense acaba de criar uma comenda com o nome do grande artista Mestre Noza. Veja o ato formal: LEI Nº 4455, DE 15 DE ABRIL DE 2015. Cria a Medalha de Hora ao Mérito “ARTESÃO MESTRE NOZA” e dá outras providências. O PREFEITO DO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE, Estado do Ceará. FAÇO SABER que a CÂMARA MUNICIPAL aprovou e eu sanciono e promulgo a seguinte Lei: Art. 1º – Cria, a Medalha de Honra ao Mérito “ARTESÃO MESTRE NOZA”, pelo Município de Juazeiro do Norte, através da Secretaria Municipal de Cultura e Romaria do Município – SECROM, que será concedida anualmente, no dia 19 de março, às seguintes personalidades: I – 02 (dois) profissionais do artesanato juazeirense; II – 01 (uma) personalidade da sociedade civil; III – 01 (uma) instituição representante dos artesãos de Juazeiro do Norte. Parágrafo único – A medalha ora criada será confeccionada em bronze, com 8cm. (oito centímetros) de diâmetro, contendo numa face o brasão do Município de Juazeiro do Norte e na outra, a figura do Artesão Inocêncio Medeiros da Costa, o Mestre Noza. Art. 2º – O processo de escolha dos agraciados ficará a cargo uma Comissão a ser formada pelo Chefe do Poder Executivo, composta de cinco membros, a saber: I – 01 (um) representante da Secretaria Municipal de Cultura e Romaria; II – 01 (um) representante da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Trabalho – SEDEST; III – 01 (um) representante da Federação dos Artesãos; IV – 01 (um) representante da CEART CARIRI; V – 01 (um) representante do Poder Legislativo Municipal.                    Art. 3º – A despesa gerada por esta Lei será suportada através de recursos oriundos do Orçamento Público Municipal, suplementados, se necessário. Art. 4º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogam-se as disposições em contrário. Palácio Municipal José Geraldo da Cruz, em Juazeiro do Norte, Estado do Ceará, aos 15 (quinze) de abril de dois mil e quinze (2015). DR. RAIMUNDO MACEDO. PREFEITO DE JUAZEIRO DO NORTE

NOVOS CIDADÃOS JUAZEIRENSES
A Câmara Municipal de Juazeiro do Norte está atribuindo novos títulos de cidadania para o músico João Martins Gonçalves e para a senhora Maria Socorro Nunes Alcântara. Vejamos os atos:
RESOLUÇÃO N.º 751 DE 14 DE ABRIL. Concede Título Honorífico de Cidadão Juazeirense e adota outras providências. O Presidente do Poder Legislativo de Juazeiro do Norte, Estado do Ceará, faz saber que a Câmara Municipal aprovou, e eu promulgo, a seguinte Resolução: Art. 1.º - Fica concedido, nos termos do artigo 198 e seguintes, da Resolução n.º 297/2001 (Regimento Interno), o Título Honorífico de Cidadão Juazeirense ao Senhor JOÃO MARTINS GONÇALVES (foto). Autoria: João Alberto Morais Borges. Coautoria: Cláudio Sergei Luz e Silva e Danty Bezerra Silva. Subscrição: Antônio Cledmilson Vieira Pinheiro, Cícero Claudionor Lima Mota, Antônio Vieira Neto, Rubens Darlan de Morais Lobo, José Nivaldo Cabral de Moura, José Adauto Araújo Ramos, Firmino Neto Calú, José Ivan Beijamim de Moura, Gledson Lima Bezerra, Normando Sóracles Gonçalves Damascena, Maria Calisto de Brito Pequeno, Maria de Fátima Ferreira Torres e Rita de Cássia Monteiro Gomes.
Obs.: Este gesto generoso do vereador João Borges, com a adesão de todos os demais, é o resultado de sua sensibilidade para com o pedido que fiz em crônica dedicada ao músico João Martins, já divulgada nesta coluna e que foi lida na FM Pe. Cícero, durante o Jornal da Tarde, em 20.03 deste ano.
RESOLUÇÃO N.º 752 DE 14 DE ABRIL. Concede Título Honorífico de Cidadã Juazeirense e adota outras providências. O Presidente do Poder Legislativo de Juazeiro do Norte, Estado do Ceará, faz saber que a Câmara Municipal aprovou, e eu promulgo, a seguinte Resolução: Art. 1.º - Fica concedido o Título Honorífico de Cidadã Juazeirense a Senhora Maria Socorro Nunes de Alcântara, pelos inestimáveis serviços prestados a esta comunidade. Autoria: Maria de Fátima Ferreira Torres. Coautoria: Cláudio Sergei Luz e Silva e Paulo José de Macêdo. Subscrição: Pedro Bertrand Alencar Montezuma Rocha, Antônio Cledmilson Vieira Pinheiro, Cícero Claudionor Lima Mota, Antônio Alves de Almeida, Rubens Darlan de Morais Lobo, João Alberto Morais Borges, José Tarso Magno Teixeira da Silva, José Nivaldo Cabral de Moura, José Adauto Araújo Ramos, Firmino Neto Calú, José Ivan Beijamim de Moura, Maria Calisto de Brito Pequeno.

MOSTRA A DITADURA REVISITADA
O Cinematógrapho (SESC, Juazeiro do Norte), com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, dá prosseguimento a Mostra A Ditadura Militar Brasileira Revisitada, com a exibição de filmes sempre às 4as feiras, às 19 horas, no SESC Juazeiro do Norte-CE, com entrada gratuita. Já fizemos referência nesta Coluna sobre a excelente qualidade da seleção de títulos que integram a Mostra, e isto deverá ser acrescido com novas películas, como esta próxima, dia 29, sobre o ex-presidente João Goulart. Jango é um documentário brasileiro dirigido por Sílvio Tendler, que narra o governo de João Goulart enquanto presidente do Brasil (1961-1964). Lançado em março de 1984, o filme teve seu roteiro escrito por Maurício Dias e Sílvio Tendler, enquanto a trilha-sonora foi desenvolvida por Milton Nascimento e Wagner Tiso. A edição foi conduzida por Francisco Sérgio Moreira e os produtores associados foram Denise Goulart (filha do ex-presidente) e Hélio Paulo Ferraz. Jango levou mais de meio milhão de espectadores às salas de cinema, tornando-se o sexto documentário de maior bilheteria da história do cinema brasileiro. O primeiro e o quarto filmes da lista também foram dirigidos por Tendler: O Mundo Mágico dos Trapalhões, com um milhão e 800 mil espectadores, e Anos JK, com 800 mil espectadores. Sinopse:O filme refaz a trajetória política de João Goulart, o 24° presidente brasileiro, que foi deposto por um golpe militar nas primeiras horas de 1º de abril de 1964. Goulart era popularmente chamado de "Jango", daí o título do filme, lançado exatos vinte anos após o golpe. A reconstituição da trajetória de Goulart é feita através da utilização de imagens de arquivo e de entrevistas com importantes personalidades políticas como Afonso Arinos, Leonel Brizola, Celso Furtado, Frei Betto e Magalhães Pinto, entre outros. O sugestivo slogan do filme foi "Como, quando e por que se derruba um presidente". O documentário captura a efervescência da política brasileira durante a década de 1960 sob o contexto histórico da Guerra Fria. Jango narra exaustivamente os detalhes do golpe e se estende até os movimentos de resistências à ditadura, terminando com a morte do presidente no exílio e imagens de seu funeral, cuja divulgação foi censurada pelo regime militar. Foi premiado com o Troféu Margarida de Prata, da CNBB (1984), com o Prêmio especial do júri, prêmio do público e de melhor trilha-sonora do Festival de Gramado (1984) e com o Prêmio especial do júri no Festival de Havana (1984). 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

BOA TARDE (I)
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
145: (21.04.2015) Boa Tarde para Você, professora Maria Rosimar de Araújo
Desejo agradecer-lhe mais uma vez a sua grande gentileza de ter-me presenteado noutra noite, em grande festa para a literatura de cordel, regida por Vandinho Pereira e seu Ceará Diverso, com volumoso pacote de folhetos, alguns de sua autoria e outros tantos de novos e ainda quase anônimos poetas, promessas na renovação desta nossa cena cultural. Ainda em 2010, coordenando o Projeto Editorial do Centenário de Juazeiro do Norte, eu fui por Rosário Lustosa apresentado ao seu trabalho, pois era necessário fazer justiça incluindo um dos seus títulos em tão bem concebida Coleção Centenária, dentre os 50 poetas contemporâneos que se ocuparam da louvação desta terra, como no seu caso, com o folheto Sonho e Realidade. Na época fiz pequena anotação de seu trajeto de vida, registrando que você é missãovelhense, do distrito de Jamacaru, residente aqui entre nós, e depois de formada em História, fez sua pós-graduação em Planejamento Educacional, estando dedicada à grande e meritória tarefa de ser facilitadora em oficinas de cordel em salas de aulas de Escolas Municipais, como a Mons. Joviniano Barreto, Expedito Pereira, José Monteiro de Macedo, Vicente Pereira, Edward Teixeira Férrer, Dr. Leão Sampaio, José Ferreira de Menezes, Demóstenes Ratts Barbosa, José Marrocos e outras. Ao relembrar isto, fiquei muito feliz, pois não poderia deixar de dizer a tantos poetas e poetisas de cordel ali reunidos naquela noite o quanto estimo que esta produção deva chegar mais e mais à Escola, como já se faz com o Projeto Cordel em Sala de Aula, para que as novas gerações reconheçam o valor da literatura de cordel como linguagem e instrumento valioso para o seu próprio desenvolvimento. Felizmente há grande sensibilidade institucional, não só dos gestores destas escolas participantes, mas também de agentes de financiamento e fomento à atividade, como o BNB, que através do seu Centro Cultural estimula e mantém o Projeto de Cordel no Cariri, e das unidades do SESC, com o SESCordel. Os folhetos que estou lendo, na grande maioria, são o resultado concreto desta iniciativa de formar novos valores na poesia de cordel, para revitalizá-lo como parte substancial de nossas manifestações culturais, associado inclusive, de um prestígio crescente na simbiose com a xilogravura, por grandes mestres como Stênio Diniz, José Lourenço, Francorli e Maércio Lopes. Estes novos valores vão sendo estimulados na convivência com os mais expressivos poetas, onde se salienta a presença constante do cordel feminino, inclusive representado por expoentes notáveis como Bastinha Job, Josenir Lacerda, Anilda Figueiredo, Salete Maria, Fanka Santos, Rosário Lustosa, Esmeralda Batista, Nizete Arrais, Wiliana Brito, Mana Oliveira e Mazé Sales, dentre outras. Evidentemente, não se pode minimizar o papel que a literatura de cordel tem como ferramenta pedagógica, pois o seu formato, a sua estética e a sua construção são ingredientes que refletem a sua versatilidade para ser empregada em salas de ciências, de história, de geografia, sem esquecer a completa adequação com a cultura nordestina nas atividades de literatura e língua portuguesa abordando a estrutura do poema ou os fatores linguísticos utilizados na narrativa. E nisto, Rosimar, o seu trabalho está demonstrando como você vem realizando este trabalho focando questões como a história regional, grandes vultos de nossa cidadania, questões sociais relevantes como trabalho infantil, saúde e higiene, ecologia, e a arte dos grandes mestres na literatura, na música e noutros campos. Em verdade, o poeta de cordel é uma pessoa com sensibilidade para perceber e encarar um papel social diante da nacionalidade, não sendo apenas o cronista do cotidiano, mas alguém que esclarece e reivindica sobre as grandes preocupações do povo, como a qualidade da saúde pública, investimentos na educação, saneamento básico, ampliação de programas habitacionais, segurança pública, etc. Quero, portanto, Rosimar, parabenizá-la e exaltar esta sua completa dedicação pedagógica em estimular, formar e fomentar atividades educativas junto a estas novas gerações, para que esta fantástica literatura oral dos poetas populares cumpre mais esta função social de grande relevo. 

BOA TARDE (II)
146: (22.04.2015) Boa Tarde para Você, José Murilo Sousa de Siqueira
Há muitos meses passados, acho que ainda estava me iniciando nestas crônicas, abri um arquivo no computador, escrevi Boa Tarde para Você, Murilo Siqueira, e lembrando o folclórico vereador Assis Machado, fui indagando de mim mesmo: “...e o que é que eu tenho para dizer a Murilo Siqueira?” Não demorou muito e aquela pagininha engravidou, e foi se enchendo de observações que eu ia anotando aos montes, de acordo com as audiências diárias deste Jornal da Tarde, por suas intervenções sempre tão personalíssimas, ao som quase sempre deste “é o Murilo Siqueira que conhecemos”. De tudo o quanto ali anotei, Murilo, gerei muitas indignações a maioria convergente para esta realidade dolorosa como eu e você, cidadãos viventes nesta província, temos o nosso dia-a-dia pleno por este bombardeio que nos chega, martelando bem junto ao coração, os repetitivos “corrupção, corruptos, corruptores”, numa sinfonia macabra, perversa e deprimente. Às vezes eu penso, Murilo, que alguém mais esperto traduziu com terrível requinte a expressão do Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, de saudosa memória, ao dizer “Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!”, exatamente porque reconhecemos que pouquíssimos estão preocupados em restaurar a moralidade e no salve-se quem puder, nos locupletemos todos. Não há nenhuma evidência de que a crise contemporânea, Murilo, a que vivemos com grande sufoco nesta atualidade, seja algo que se abrigue em parcos e mais e mal reclamados recursos financeiros, na burocracia do Estado, ou nos desvios que a barganha política encerra, assentada no jogo intransferível do toma-lá-dá-cá dos parlamentos. A crise é ética e moral, porque procurou-se inovar através de um grande e horroroso exercício com o qual temos embarcado, até pela mídia, e aceitando que, no jogo da dialética, e do confronto das ideias,  nem sempre estão errados quando propõem a relativização do absoluto e o absolutismo dos relativos. Ética e Moral, como você bem o sabe meu caro Murilo, são predicados que somente se vive e se experimenta no domínio das liberdades individuais, para inexistir num indivíduo e numa sociedade que pauta suas relações em valores falsos e completamente invertidos, como o enriquecimento fácil, a certeza da impunidade, o descompromisso social, a falta de solidariedade, para descambar na vala comum de que honestidade é coisa de otário. Na verdade, tudo isto assim se apresenta porque o indivíduo não se põe, eticamente, diante da circunstância de eleger valores que definem o que cada um quer, pode e deve, porque “nem tudo que eu quero eu posso, nem tudo que eu posso eu devo, e nem tudo que eu devo eu quero”. E nisto, Murilo, suas noticias e seus comentários sempre tão ansiosamente aguardados, nos provocam aquela imersão diária num submundo cheio de todas as transgressões e isto só não nos anestesia ainda mais, numa passividade impressionante, porque somos homens, não somos máquinas, e nos regemos por um mínimo de decência. O caso específico deste Juazeiro do Norte, cujo descalabro administrativo de sua municipalidade é o prato cheio de nossos noticiosos, e a causa prevalente de nossa indignação, jamais imaginaríamos, alguns anos atrás, que nossa ânsia por melhores dias encontraria na contra mão desta história a formação de tantas quadrilhas. Enquanto não vemos muito sucesso na contundência da folha policial, no cumprimento dos deveres da força pública e no diligente serviço do ministério, vai esta imprensa da qual tão legitima e competentemente você faz parte, cumprindo sua missão de informar, de investigar, de esclarecer para que a calada da noite seja mais barulhenta e nos revele cara a cara o inimigo público. Saúdo você, Murilo Siqueira, como esta reserva necessária ao nosso jornalismo, aquilo que representa diariamente esta certeza minimamente realista de um profissional cuidadoso e responsável que não está disponível ao negócio fácil de ser confundido com a teia envolvente dos desmandos, da violência e da falta de respeito aos direitos do cidadão. 
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 22.04.2015)

DOM SÉRGIO, PRESIDENTE DA CNBB
Desde o último dia 20, quando soube da eleição de D. Sérgio da Rocha para presidir a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, eu tenho experimentado uma agradável sensação de bem estar porque sinto que a Conferência vai continuar sendo dirigida por um grande homem a serviço da causa de nossa Igreja. Conheci D. Sérgio em Roma, em fevereiro de 1996, quando passei uma semana hospedado no mesmo colégio em que ele estava, o Pontifício Colégio Pio Brasileiro, então aluno da Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense, onde obteria seu título de Doutor, no ano seguinte. Em 2001, ele foi ordenado bispo e logo depois por nomeação de João Paulo II, D. Sérgio veio para o Ceará, tornando-se bispo auxiliar na Arquidiocese de Fortaleza. Por diversas oportunidades tivemos juntos em encontros rápidos, sendo um homem bastante tímido mas de um carisma impressionante, especialmente quando participava como diretor espiritual de retiros com profissionais. Em 2007, o perdemos para o Piaui, porque o Papa Bento XVI o nomeou Arcebispo coadjutor da Arquidiocese de Teresina, para no ano seguinte tornar-se o titular desta Arquidiocese. Em 2011 o papa Bento XVI o nomeou Arcebispo Metropollitano de Brasilia, e no último dia 20 tornou-se o novo presidente da CNBB, com quase 80% dos votantes presentes na Assembléia em Aparecida. O primeiro contato que tive com ele foi por ocasião de uma conversa que mantive com os padres que ali residiam, após o almoço, a pedido do Mons. Manfredo Ramos, sobre os meus estudos sobre o Pe. Cícero. Falei a eles por uns 30 minutos e depois disto me fizeram perguntas e a conversa foi extremamente agradável. D. Sérgio estava ali, escutando atentamente (foto acima, à esquerda), e eu fui apresentado ao Pe. Sérgio da Rocha que me cumprimentou, agradeceu a iniciativa de ter tido aquela conversa que ele julgou muito interessante para o conhecimento de uns 50 padres ali presentes. Nos dias subsequentes, as conversas que tive com alguns padres fazia referência a alguns padres que ali se destacavam, como o Pe. Nei de Sousa e o Pe. Sérgio. Sobre ele, tanto o Mons. Manfredo quanto o Pe. Evaristo, me disseram a mesma coisa: “Este aí vai muito longe”. Hoje já não temos nenhuma dúvida de que D. Sérgio da Rocha será o próximo membvro brasileiro no Colégio Cardinalício.

terça-feira, 21 de abril de 2015

 BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
144: (16.04.2015) Boa Tarde para Você, Claudio Smalley Soares Pereira
Conclui a leitura da Dissertação de Mestrado de Cláudio Pereira, intitulada “Centro, centralidade e cidade média: o papel do comércio e serviços na reestruturação da cidade de Juazeiro do Norte, CE”, da sua Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Estadual Paulista - UNESP, em 2014. Claudio Pereira é licenciado em Geografia pela URCA, em 2011, e membro do Grupo de Pesquisa em Produção do Espaço e Redefinições Regionais, da Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias, com experiência em Geografia Urbana, com ênfase em reestruturação e produção do espaço urbano. O prof. Claudio já é Doutorando em Geografia pela UNESP, em Presidente Prudente, e está realizando estágio na Universitat de Lleida, na província da Catalunha, na Espanha, como bolsista com dupla orientação (Brasil/Espanha) pelas professoras Encarnação Sposito e Carmen Sanfeliu. No mestrado, o prof. Cláudio se voltou para a analise do processo de redefinição da centralidade urbana nas cidades médias brasileiras porque isto tem sido bastante investigado e uma grande preocupação para estudiosos do desenvolvimento de cidades emergentes nas últimas décadas. Ele e sua pesquisa buscaram contribuir para o estudo desta temática a partir de Juazeiro do Norte, considerada cidade média pelos seus papéis exercidos na escala da rede urbana, lançando mão de diversos procedimentos metodológicos, como entrevistas, enquetes, trabalhos de campo para o levantamento de uso do solo urbano, e a formação de um acervo documental. Gostaria de elogiar a riqueza de ilustrações que constam neste documento, pela inserção de 39 fotos, remissivas aos aspectos históricos da cidade e de seu comércio, ao qual juntaria mais 13 figuras, 14 quadros, 14 tabelas, 14 mapas, e 6 gráficos, todos de grande expressão e propriedade. Outro ponto de grande envergadura está concebido em entrevistas realizadas com executivos do comércio local, de grandes empresas do ramo varejista, para daí elaborar um histórico da organização, as suas lógicas espaciais, a estrutura da empresa, e o perfil dos seus consumidores. Outras pessoas foram ouvidas, como memorialistas, dentre os quais este seu criado, obrigado, pela matéria que eu escrevi no Jornal do Cariri, em 2011, afirmando que em 1925 o Padre Cícero alertava para a necessidade de Juazeiro ter outro centro comercial, o que se tornou muito verdadeiro, embora na época, ele foi pouco acreditado. Este rico roteiro de informações coletadas na pesquisa contemplou a audiência a diretores da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), representantes do poder público, “ex-políticos”, e cidadãos comuns, para ouvir impressões sobre comércio, transportes, serviços bancários e outros temas. Como conclusões importantes, o trabalho identifica relevantes e novas lógicas locacionais praticadas por agentes econômicos, de governo, comércio e serviços que estão produzindo uma reestruturação da cidade, fato em acentuado curso, em se tratando de atividades econômicas.
No foco das mudanças estão as lojas de eletrodomésticos, os serviços bancários e as grandes áreas comerciais, com super e hipermercados, shopping centers, que tem tido importantes funções no processo de desconcentração da atividade terciária do centro da cidade. A redefinição da centralidade na cidade de Juazeiro do Norte é vista nas práticas relativas ao consumo, mudando os espaços de compras tradicionais que estão acelerando a migração do centro principal da cidade, para novas áreas do Pirajá, Triângulo, e o eixo rodoviário Juazeiro-Crato. Na reflexão do prof. Cláudio, o centro urbano passou a ter uma conformação multi(poli)nucleada, com vários espaços expressando centralidade e possibilitando novos usos da cidade quanto ao consumo que se posiciona em novas áreas de fixação habitacional mais densa. Finalmente, ele conclui que contraditoriamente, algumas práticas espaciais permanecem, tendo ainda as áreas tradicionais de comércio e serviços, no velho centro da cidade, importância para algumas pessoas que convivem com alguns conflitos desta redefinição da centralidade diante do crescimento da cidade. Sem dúvida alguma, este é um precioso documento que deverá integrar a necessária revisão do planejamento urbano que temos que rever e reformular para melhor disciplinar as adversidades que nos puxam, sem que percebamos, para  momentos dramáticos de verdadeiro caos urbano. Claudio Smalley Soares Pereira continua dedicado a esta problemática de Juazeiro do Norte, agora confrontado com Presidente Prudente, no interior paulista, em novo e valioso estudo.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 16.03.2015)

AEROPORTO DE JUAZEIRO DO NORTE
Estamos voltando aos números informados pela Infraero, com respeito a movimentos de aeronaves, passageiros e cargas em nosso Aeroporto. Não há novidades relevantes. Pequenas variações ainda indicam o potencial seguro do equipamento, desde que resolvidas algumas questões pendentes como o parque de estacionamento, a definição de novos voos e destinos. Neste ponto, estamos ansiosos para o início das operações que trarão de volta a rota de Recife e o fortalecimento das que estão em exploração como Brasília e São Paulo. Voltamos também a registrar o movimento de cargas para construir uma série que nos permita fazer algumas avaliações. Por enquanto, o volume de carga no mês anterior estava em 48.663, acumulando em 2015 um valor de 100 toneladas. Agora com ligeiro acréscimo, passamos de 60 toneladas para acumular 160.631 quilos. Faz parte, necessariamente, uma melhor exploração do terminal para cargas, pois o aeroporto se conserva em boa posição, sendo dentre os seus congêneres, domésticos, o décimo quarto em vinte e nove aeroportos. No mais, não se tem nenhuma divulgação pública sobre a questão da remoção de obstáculos, como torres de telefonia, na área cônica das proximidades do aeroporto, como foi amplamente noticiado. Contudo, permanece o impedimento detectado pelo COMAER (Recife), especialmente com respeito ao conflito que se verificou em audiência quando foi notificado que a instalação de algumas destas torres teria sido objeto de aprovação pelo órgão. Depois disto, parece acintoso que na cabeça da pista do aeroporto tenha sido autorizada a construção de um posto para revenda de combustíveis. 













terça-feira, 14 de abril de 2015

BOA TARDE (I)
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
143: (13.04.2015) Boa Tarde para Você, Joaquim Felipe da Silva
Nosso personagem de hoje, um desses nordestinos fortes que nasceu em 12 de abril de 1935, a quem cumprimento com este simplório Boa Tarde, é um dos 11 filhos dos sertanejos paraibanos José Felipe da Silva e Joaquina Teodorina da Conceição, gente que nasceu e viveu no antigo Belém do Rio do Peixe, hoje município de Uiraúna. Joaquim Felipe da Silva, bem como seus outros 10 irmãos (Benu, João, Duca, Maria, Nega, Antônio, Manoel, Leandro, Vicente e Quininha) foram meninos e adolescentes que viveram em meio a uma ambiência rural, no Sítio Fazenda Nova, de agricultura familiar onde se criava gado, e se plantava e colhia, entre arroz, feijão, milho e o que mais a terra desse. Dessa gente, pessoas valorosas, mas de grande anonimato, sobressaíram com o orgulho familiar os irmãos Antônio que ocupara cargo de representação diplomática do corpo consular brasileiro em Berna, na Suíça, Manoel que foi vereador e presidente da câmara municipal, João Felipe que dirigiu o BIC em Juazeiro, e Maria que se entregou de corpo e alma ao serviço de Deus, dentre as Filhas de Jesus Crucificado. Na maior parte, pouco depois da morte de José Felipe, mãe e filhos vieram para Juazeiro e aqui se estabeleceram em 1957, com residência na Rua São Francisco, deixando que outros filhos ainda cuidassem do Fazenda Nova para o sustento da família.
Nesta época, Joaquim já tinha seus 14 anos, e como seus irmãos, fez os seus estudos até o velho ginásio em escola pública da cidade, para depois alguns se destinarem a negócios de vendedores ambulantes, enquanto Joaquim foi trabalhar na Durabel, a primeira fábrica de calçados plásticos de Juazeiro do Norte, de propriedade de Francisco José de Melo. Seu Chiquinho da Durabel, esse pioneiro que foi o primeiro a fabricar calçados plásticos, no estilo das famosas sandálias japonesas, tinha esta empresa na antiga Rua São João, e foi o mesmo que plantou a semente deste hoje polo calçadista, para anos depois transferir a empresa e seu acervo para o empresário Severino Gonçalves Duarte. Ainda muito cedo, Joaquim descobriu que além de grandes predicados de cidadania, seu Chiquinho tinha algo mais valioso para os seus interesses de um jovem de vinte e poucos anos, e se tratava de uma moça bonita e formosa, a Francisquinha, por quem se afeiçoara como destas coisas de amor à primeira vista. Foi um namoro de pouco mais de três anos, onde figuraram desde a benfazeja alcovitagem do irmão João Felipe, naquele leva e trás de recados e gracejos, os passeios na Praça, os instantes deliciosos na Sorveteria Rex, e os momentos da intimidade do casal, onde se jurava amor eterno. Num desses dias, Francisquinha entregou a Joaquim uma pequena imagem fotográfica, da formosura que era sua pessoa, escrevendo no verso com letra tão bonita: “Joaquim, se é que me queres, aqui me tens tua, eternamente”, e datou de 9 de janeiro de 1960. Pe. Murilo de Sá Barreto, aos pés de Nossa Mãe das Dores, selou este compromisso em 24 de dezembro de 1962, indo ele mesmo dirigindo sua rural, depois do casamento, entregar o casal de volta à casa dos pais da noiva, onde da porta mesmo foi gritando: “Chiquinho receba aqui estes dois irresponsáveis e depois me diga as consequências”. E as consequências foram aparecendo porque Joaquim e Francisquinha geraram Haydée, que é bióloga, técnica em radiologia e empresária; Solange, que é contadora e empresária do ramo de joalheria; Cícera Danielle, que é administradora de negócios de empreendimentos imobiliários; e Paulo Roberto, que é representante comercial na área de calçados, rapaziada bonita que se esmerou para legar a Joaquim e Francisquinha, entre o duro trabalho dos dias e o grande amor das noites, nove netos e um bisneto. Em 1961, Joaquim  e Francisquinha resolveram montar um Bar, como tantos que a cidade já tinha, mas que de um jeito particular ficou conhecido como O Pinga Certo, num batismo popular por seus fregueses que iam lá com tal religiosidade, mercê de algumas “especialidades”, como boteco que não tinha bagunça e nunca se quebrou um copo, e o trato dos donos da casa com bom atendimento. Mas, não era só isto o que reservava O Pinga Certo, podendo se falar das coisas bem cuidadas da cozinha, onde se destacavam rolinha assada, ova de curimatã, preá, aves diversas, a água de coco vinda da Paraíba, e o peixe na gordura de porco, num ambiente de tão boa frequência com clientes tradicionais como Darim e Zé Tavares, de grande cantoria, e de repente, se ouvir um inusitado recital de Patativa do Assaré. Como bom maçom que ingressara na Loja Cavaleiros Espartanos, em 1978, Joaquim reunia grande número de irmãos e muitos amigos nas noites de quintas feiras, e por isto mesmo o Pinga Certo foi uma casa que por muitos anos se fazia respeitar e onde ninguém se metia a besta para lhe tirar a tranquilidade de tantos frequentadores. O Pinga Certo existiu na Delmiro Gouveia com Alencar Peixoto até 1985 quando dona Francisquinha e a filha Haydée o encerraram, porque uns dois anos antes Joaquim, de comum acordo com a família, foi se aventurar no garimpo de Serra Pelada e aí ficou até 1994, numa história de grandes lances que talvez um dia a gente conte aqui. Em 1994, Joaquim e Francisquinha que ainda encararam juntos negócios ambulantes de confecções e joias pelo Maranhão, decidiram retornar ao convívio mais íntimo da família e reclamaram a merecida aposentadoria, vivendo as alegrias de suas vidas, saudáveis e amorosos, aos quase 53 anos de vida conjugal, como se estivessem nos dizendo que com isto descobriram como se faz a felicidade de um mundo inteiro. 
Parabéns a vocês, Joaquim, Francisquinha, e toda a família, mas parabéns especialmente a você Joaquim, que acaba de chegar a esta marca invejável dos seus 80 anos.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 13.03.2015)

MOSTRA A DITADURA REVISITADA
O Cinematógrapho (SESC, Juazeiro do Norte), com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, continua com a Mostra A Ditadura Militar Brasileira Revisitada, nesta quarta feira, 15 de abril, com a exibição do filme Diário de uma busca (Brasil, 2010), Direção de Flávia Castro, com duração de ;105 minutos. A mostra estará acontecendo sempre às 4as feiras, às 19 horas, no SESC Juazeiro do Norte-CE, com entrada gratuita. 
Sinopse: Outubro, 1984. Celso Castro, jornalista com uma longa história de militância de esquerda, é encontrado morto no apartamento de um ex-oficial nazista, onde entrou a força. A polícia sustenta que se trata de um suicídio. O episódio, digno de um filme de suspense, é o ponto de partida de Flavia, filha de Celso e diretora do filme que decide reconstruir a história da vida e da morte do homem singular que foi o seu pai. É uma viagem no tempo e na geografia: a diretora volta a Porto Alegre, Santiago, Buenos Aires, Caracas e Paris, cenários do exílio familiar, da ilusão e do fracasso de um projeto político. O resultado é um documentário poderoso e comovente que combina magistralmente a intriga policial, os testemunhos de familiares e companheiros e o relato na primeira pessoa de uma infância vivida entre o exílio e a luta armada.  As vozes imbricadas de Celso (de suas cartas) e de sua filha constroem um retrato íntimo de uma relação marcada pela história e pela ausência. Crítica: Se no poema de Drummond a pedra que estava no meio do caminho a quebrar a rotina era um colírio, para Diário de Uma Busca esse elemento de surpresa é um alívio e atende por um nome: infância. Não fossem os questionamentos infantis de quem não entende a seriedade adulta, teríamos apenas um documentário importante, com função social, a acompanhar a geração de exilados políticos da Ditadura Militar no Brasil (1964-85). Por existirem as crianças, temos um bom e terno filme. Sério, mas terno. “O que seus pais fazem da vida?”, pergunta uma colega de colégio à jovem Flávia. “Ah, eles fazem reunião”, responde a menina, sem nenhum pingo de ironia na afirmação. Para o espectador, uma resposta engraçada: seus pais fazem reunião? Quebra-se a sisudez com a perspectiva de uma criança que cresceu assistindo ao pais militantes escapando de golpes militares na América do Sul, morando em embaixadas, fugindo de batidas policiais de regimes ditatoriais. Pais, mães, casais e famílias de classe média que, quando o pau quebrou após a cessão de todas as liberdades no Ato Institucional nº5, passaram uma década fora do Brasil. Assistiram de longe ao tricampeonato da Seleção Brasileira, ao Milagre Econômico, ao desbunde de Caetano Veloso, à tortura e aos dribles de Zico. Mas é preciso conter a tentação de generalizar. Diário de Uma Busca, Melhor Documentário do Festival do Rio em 2010, não quer falar do mundo, mas de um pai: Celso Afonso Gay de Castro, pai da diretora Flavia Castro, que narra seu filme como um diário pessoal. Este documentário tem a interessante capacidade de centrar atenções em uma família e, com isso, jogar luzes em muitas outras que sequer conhecemos. Fala-se da História com uma pequena história. O enredo de Celso é uma saga cujo roteiro começa parecido com o de militantes que se opuseram à ditadura e termina com um estranhíssimo mistério: aos 41 anos, morreu ao invadir, com um amigo, o apartamento de um alemão que integrara o alto escalão nazista. A polícia alega suicídio. Um legista contesta a hipótese. Uma trajetória que sai de um nobre lugar-comum (militante reprimido pela ditadura) e se encerra com um acontecimento nem um pouco digno de nota. Existem pelo menos quatro filmes dentro de Diário de Uma Busca, restando apenas a escolha por acessar o que mais parecer interessante. O mais óbvio é a busca de uma filha que tenta entender as decisões de seu pai, o real motivo de sua morte e recuperar o que houve de belo na turbulência da infância. Cartas trocadas pela família são um poderoso e terno instrumento narrativo. Um espectador mais militante pode optar por observar a vida de Celso como a de milhares de exilados, procurando diferenças e semelhanças, por exemplo, entre ele e Vladimir Palmeira, ex-presidente da UNE. Outra leitura plausível é o esforço de um filme em resumir a trajetória de um homem. A última porta de leitura, e que considero mais interessante, é o filme que não houve e não haverá. Diário de Uma Busca, também laureado com o Prêmio da Crítica em Gramado, não só é dirigido por Flávia Castro, mas narrado e conduzido pelo olhar da irmã mais velha. Porém, existe o mais novo, Joca, que participa pelas beiradas. Enquanto Flávia, no começo do exílio no Chile já tinha 6 anos, Joca era um bebê. Enquanto a menina cresceu já compreendendo um pouco do que se passava, Joca nunca teve explicações. “Ele era muito pequeno, ninguém precisava explicar nada”, diz uma tia. Por que o pai foi preso quando, no Chile, Salvador Allende sofreu um golpe militar? Por que estavam na embaixada argentina aos montes sem poder ir para casa? Por que não frequentavam a escola? Indiretamente, o documentário não é apenas a busca de uma filha pelo pai, mas também da confusão de um filho injuriado pelas decisões desse mesmo pai. Um dos grandes documentários de um tema político desde Cidadão Boilesen. Com várias portas: escolha a sua e entre. (Por Heitor Augusto, http://www.cineclick.com.br/criticas/diario-de-uma-busca 

HOMENAGEM A CRATO
SAUDANDO ROSÁRIO LUSTOSA E O CRATO
Excelentíssimas autoridades,
Meus Senhores e minhas Senhoras.
Ao saudá-los nesta ocasião, permitam-me que enumere vários motivos me enchem de alegria, e diria, até de certo orgulho pessoal, ao participar nesta noite do lançamento deste mais novo livro de Maria do Rosário Lustosa da Cruz, a quem tenho o privilégio de suceder à frente do Instituto Cultural do Vale Caririense.
O primeiro deles me remete à consideração de que, a despeito de tantas solicitações que nos enchem o dia-a-dia, ainda é a literatura, e especialmente a poesia, uma das atividades humanísticas que mais nos congregam e nos animam para a superação das imensas dificuldades com as quais lidamos à procura de nossa felicidade. E isto é uma coisa para se pensar.
Outra coisa importante é que isto acontece, privilegiadamente, em meio a este congraçamento em que nossas cidades se sensibilizam para celebrar a sua convivência, outrora tão desarmônica, para reafirmar a sua maturidade em dias presentes e o faz particularmente na seara das letras e das artes, muito mais que em qualquer outro campo de atividades. E isto é uma coisa para se pensar.
É importante também mencionar e agradecer que isto se faça com o pano de fundo deste consagrado programa Ceará Diverso, mediado por este extraordinário agitador cultural, Vandinho Pereira e sua equipe, que reúne em torno de si e de sua proposta o que de melhor a cultura nordestina tem a oferecer aos nossos gostos cada vez mais refinados e exigentes.
Merece uma menção particular que esta noite reserve, não apenas uma constatação, mas um festejo com o qual essa cultura regional e universal, para lembrar o mote de Antônio Martins Filho, se refestela ao convívio de grandes mestres que aqui estão, cada um em particular às suas competências, todos em geral pelas manifestações que elegeram a literatura de cordel como estética, como linguagem regional e que universaliza o nosso sentimento, nesta noite. E isto é uma coisa para se pensar.
Mais ainda, estamos aqui diante da necessária comemoração, para a qual nos reunimos com afeto e admiração por esta gente cratense e que deve se estender até mais não se poder, com esta passagem comemorativa dos 250 anos da Vila Real do Crato, matriz desta constelação de comunidades, mercê de todos os predicados que se afirmaram no tempo e dos quais somos todos herdeiros, entre amados, amantes e desafetos. Salve o Crato, matriz desta identidade cultural e da força que esta região construiu em tantos anos do seu desenvolvimento social e econômico. E isto é uma coisa para se pensar.
A mim, particularmente, meus senhores, como dirigente de uma destas instituições da nossa cena cultural que tanto tem se empenhado para manter viva estas preocupações que alargam a nossa vivência regional, recai substantiva responsabilidade no sentido de honrar o esforço daqueles que nos precederam.
E me permitam que não deixe de proclamar aqui os imensos benefícios que herdamos de verdadeiras legendas que povoaram este Vale, e de muitos, não posso deixar de citar quatro deles, pessoas que conheci, mesmo que superficialmente, sem nenhum menosprezo ou indiferença a tantos outros, nas pessoas de J. de Figueiredo Filho, de Joaryvar Macedo, de Antônio Marchet Callou e do mestre Eloi Teles de Morais. 
Poderia ir mais adiante trazendo para esta oportunidade a consideração importante de que o momento que vive esta nossa região enseja motivos, preocupações e atitudes com as quais se faz necessário refletir um pouco mais sobre o que desejamos viver como agentes desta cultura, tão comprometida com os valores deste homem Cariri. E isto também é uma coisa para se pensar.
O livro que ora se lança, mais que uma homenagem que se impõe, é um grande painel que nos ajuda a revisitar heroicas páginas da construção desta civilização ao sabor de uma narrativa por versos de cordel, como linguagem de eleição, para espelhar de forma inequívoca como este povo escreveu sua própria história, como conviveu com seus sofrimentos, angústias e conflitos sociais, ao mesmo tempo que enriqueceu seu imaginário com sonhos e desejos.
Felizmente, ao tempo em que tantas associações e academias, como esta, a dos Cordelistas do Crato, venceram o anátema do “isto vai se acabar”, a literatura de cordel ressurgiu com grande força para que seus folhetos, sua produção, represente ainda a chama acesa dessa cultura que toma para si os ideais de preservar, valorizar e difundir o conhecimento que se produz, a caminho de uma universalização como patrimônio imaterial da humanidade.
Por isso mesmo, é de grande importância o papel que vem sendo desenvolvido por estas instituições, produtoras de valores culturais, e também por outras tantas, grandes entusiastas, financiadores e fomentadores que se juntam a este esforço continuado dos poetas, produtores e intelectuais, arrimados neste autêntico mecenato que em nossa região responde pelo trabalho benemérito do SESC e do BNB
E não seria demais pedir-lhes que possam ainda mais fomentar novos grupos de estudos, atenção para com novas gerações de poetas, a abertura de novos espaços para a comercialização de literatura popular e xilogravura, além de oficinas de iniciação ao cordel, e ao surgimento de tipografias e editoras.
Nesta oportunidade é conveniente lembrar, a propósito deste momento que vivenciamos nesta noite, com esta obra de Rosário Lustosa, a necessidade de estender o conhecimento desta produção à Escola para que as novas gerações reconheçam o valor da literatura de cordel como linguagem e instrumento valioso para o seu próprio desenvolvimento. Acredite quem quiser.
Como você pode perceber, minha caríssima Rosário Lustosa, seu trabalho, não obstante o grande valor intrínseco ao propósito de realizar esta homenagem, é também o mote indispensável para que não percamos a oportunidade para repensar caminhos e estratégias que nos animam pela permanência do cordel.
Relevo a felicidade com que Dane de Jade se refere a este livro, logo na introdução, para qualifica-lo como “uma tapeçaria poética da História do Crato”, exatamente porque sua autora esmerou-se em percorrer um itinerário que se exubera entre ricos personagens, fausto acontecimentos, e emblemáticas datas, para se sobressair como uma peça que enriquece a narrativa heroica de seu povo.
Gostaria também de registrar, com agradecimento, exatamente porque somos beneficiados com a iniciativa, a maneira com a qual a secretária de cultura, literalmente, danou-se ao conceber este Projeto Manuscritos Crato, que abriga esta primeira produção, abrindo espaço para um trabalho de grande mérito pela permanência de uma ação cultural exemplar, digna e honrada no propósito de preservar memória e difundir valores.   
O “Só no Crato”, conforme nos lembra Armando Lopes Rafael, em sua apreciação, não é o que abriga o pernóstico, o desabusado, senão tudo aquilo que há para referir com grande orgulho o que de fato aqui encontramos e só aqui encontramos. 
Esta especificidade histórico-cultural realçada nos versos de Rosário Lustosa é o maior sentido desta riqueza antropológica que permeia a luta de muitas gerações em respeito à construção desta civilização e em respeito a esta diversidade cultural que permite o diálogo e a convivência entre a tradição e a modernidade.
E não mais lhe digo, Rosário, porque nada mais me foi perguntado. Mas se o fosse, ainda diria da minha imensa alegria de ter lido seu trabalho, com grande encantamento, e de ter encontrado ali tanta coisa interessante, fatos idos e vividos, fatos que antecederam a nossa própria história de povo romeiro.
Muito obrigado e meus parabéns por esta homenagem à qual viemos aqui para nos associar prazerosamente.
(Discurso pronunciado em 10 de abril de 2015, por ocasião do lançamento do livro Crato na Literatura de Cordel: 250 anos de sua Vila Real, de Maria do Rosário Lustosa da Cruz, no auditório da Rádio Educadora do Cariri, em Crato)


sábado, 11 de abril de 2015

BOA TARDE (I)
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
141: (08.04.2015) Boa Tarde para Você, Antonia Alves dos Santos 
Já mencionei nestas crônicas a minha imensa admiração pelos serviços que a invenção do rádio provocou na civilização, e de modo particular o que encantou aquele menino solto feito moleque, enturmado em bandos pela Rua São José. Foi desta época, no começo dos anos 50, que eu fui conhecer a nossa primeira emissora de rádio, funcionando ainda aqui pelo Socorro, quase na antiga Praça São Vicente, num prédio de Afonso Dias, e com o nome de Rádio Anhanguera. Durou pouco, pois o nome não agradou e logo mudou para Rádio Iracema, filiando-se à então rede iracemista dos irmãos Parente, como nós conheceríamos a pioneira da radiodifusão, mudando também para o edifício do antigo Clube dos Doze, na Rua da Conceição. Três irmãos, pelo menos, pontificaram nesta emissora: Vicente Alves dos Santos (o mestre Coelho Alves, de várias gerações, entre o jornalismo e o rádio), Geraldo Alves e Antonia Alves dos Santos, a quem cumprimento nesta tarde, para reverenciar com muito carinho. Faço pequena memória de sua vida e trabalho, reconhecendo seu talento e dedicação como uma parte desta história que muito nos engrandeceu, pois não é tarefa simples inventariar resumidamente o que foram estes primeiros momentos de nossa radiofonia. Antonia Alves dos Santos, a querida Toinha Alves, nasceu em Missão Velha, aos 22 de maio de 1936, filha de Antonio e Alcina Alves dos Santos, este casal que gerou também Vicente, José (Dedi), Raimundo, Geraldo e Valdeni, e outros quatro filhos que não se criaram. No início dos anos 50, aos catorze anos de idade, Toinha, sua mãe e irmãos vieram morar em Juazeiro, depois que deixaram Icó, fixaram-se temporariamente em Missão Velha, e para cá vieram após o falecimento prematuro do pai, “seu” Antonio Alves. Nesta época, Coelho Alves já residia em Juazeiro, fora balconista na Casa Celeste, militara na imprensa, no jornal O Pioneiro, fazia parte do primeiro time do velho Centro Regional de Publicidade, ao lado de Lourival Marques, e se tornou o grande protetor da familia, especialmente encaminhando para a radiofonia os seus irmãos Geraldo e Toinha, que sempre o considerou um pai. Toinha fez seus estudos básicos na velha Escola Normal Rural, para em seguida dedicar-se à sua formação em contabilidade, concluida em 1963 na Escola Técnica de Comércio, estabelecimento que lhe garantiu também parte de seu sucesso profissional, exercendo função técnica no conceituadíssimo escritório de Antonio Teodorico Teles, da Praça Pe. Cícero. Profissionalmente, Toinha teve grandes mestres na sua formação em Contabilidade, como Helvídio Landim, Eliseu Damasceno, Geraldo e Valter Barbosa, e por cerca de quinze anos dedicou-se com afinco a assistir empresas do comércio juazeirense, também com escritório próprio de escrituração contábil. Na Rádio Iracema, Toinha se iniciou como controlista na mesa de som, para depois ir figurar no quadro de locutores, conduzindo o programa musical Apontando o Sucesso e participando também da fase aurea do rádio-teatro, no cast da novela Romeu e Julieta, dentre outras. Este era o rádio juazeirense naquele início dos anos 50, com nomes extraordinários como Edésio Oliveira, Robson Xavier, José de Sousa Menezes, Coelho Alves, Wilani Magalhães, Almeri Sobreira, Maciel Silva, Pedro Barbosa, Alceli Sobreira, Escurinho, Geraldo Alves, Irene Monteiro, Zermar Bernardes, e tantos outros. Quando Coelho Alves deixou a Rádio Iracema, fundando a Transcariri, primeira FM da cidade, Toinha também se aposentou do Rádio, tendo antes lhe prestado grande contribuição na sua administração, em substituição a Dalva Mendonça. Lembranças como estas, ainda hoje enchem o coração de Toinha Alves, rememorando sua vida no teatro, na locução, na secretaria e na mesa de som que rodava os grandes sucessos dos famosos desta geração, como Dalva de Oliveira, Alcides Gerardi, Nelson Gonçalves, Silvio Caldas, Emilinha Borba e Luiz Gonzaga, gente que ela conhecera pessoalmente na emissora em dias de festas, como o 15 de novembro, a data maior da inesquecível ZYH 21, a Rádio Iracema de Juazeiro. 
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 08.04.2015)

BOA TARDE (II)
142: (10.04.2015) Boa Tarde para Você, Cila Braz
Ela nasceu em 21 de fevereiro de 1945, no Baixio dos Popôs e foi registrada no cartório local como Maria Ferreira Mendes, mas poderia ter sido a Maria Auxiliadora, porque em casa a família lhe chamaria de Dora ou Cila, como terminou sendo conhecida até hoje. Aos vinte e um anos de idade, casou com Vanderlei Braz, filho de um grande ourives desta cidade, de nome Nivardo Braz, teve quatro filhos (Webert Janssen, Pedro Neto, Wanderlane e Lidiane), e desta relação ficou a identidade definitiva de Cila Braz que acabou de completar setenta anos de vida dedicada à família, 56 dos quais à sua eterna música. Cila descende de bisavós que já se fixavam no Tabuleiro ainda no século XIX, sendo um deles, o Hipólito Mendes, o seu Popô, exatamente este que terminou por atribuir nome a um dos aprazíveis sítios deste Juazeiro, os Popôs, onde também nasceram seus pais Beatriz e Pedro Ferreira Mendes. Aos cinco anos, Cila veio para a cidade, menina de vida simples e muito doméstica, e aos nove anos, aluna do Grupo Escolar Padre Cícero, participava das sessões musicais das sextas feiras, organizadas por Tudinha de Zé Bernardo, Balbina Garcia, Deceles Bezerra e Nair Silva. E nisto, registrem-se dois fatos marcantes na vida de Cila Braz: sua voz que já chamava a atenção de quem a ouvia naquelas festinhas da escola, e a grande amizade com a musicista Nair Silva, pelas mãos de quem Cila foi se aperfeiçoando e se vinculando com uma estima que se tornou eterna. Nair Silva foi uma destas pessoas extraordinárias na vida de Cila Braz, como hoje ela destaca sua grande amiga Ione Rocha, almas irmãs que se tornam grande alento, estímulo e exemplo de vida. Na primeira formação do Coral do Instituto Cultural do Vale Caririense, que eu presidia em 1988, Cila Braz participou com grande entusiasmo, fato que se manteria em anos posteriores com o Coral Fênix, ressurgido das cinzas, reorganizado no Memorial Padre Cícero. Na noite do dia 23 de março de 1988, Nair Silva reuniu Cila Braz, Débora Callou, Carlos Macedo, Francisca Teles, Irenilce Xavier, Nininha, Ana Célia Casimiro, José Brito e Valba Gondim, para fazer uma seresta comemorativa, naquela véspera de aniversário do Padre Cícero. Foi esta a primeira vez que se realizou o que o tempo consagrou como a Seresta do Padre Cícero que anualmente acontece aos pés da estátua do Socorro, puxada pelo saudosismo dos grandes mestres como Augusto Calheiros, Orlando Silva, Dolores Duran, Dalva de Oliveira, e tantos mais. Ainda no início de sua carreira, Cila Braz muito jovem foi apresentada ao grande violonista João Ferreira que se encantou com suas qualidades e muito a incentivou para que participasse de shows de calouros, em programas de rádio desta época, como o Domingo Alegre, com José Brasileiro e A Cidade se Diverte, com Alceli Sobreira. Brilhante e encantadora nestas apresentações, Cila Braz foi aos poucos se inserindo neste meio onde já se reconheciam vozes de grandes valores como Dunga, Socorro Alencar, José Brasileiro, Escurinho, Zé Tavares, Heleno Vieira, José Wellington Alencar e outros. O rádio destes anos 60 foi fundamental para o sucesso crescente de Cila, com sua presença num programa na Rádio Progresso, Uma Voz e um Violão, conduzido por seu marido, Vanderlei Braz, e que contava com as participações de Acilon (irmão do músico João Martins) e Horácio Fechine. Com a morte de Horácio, Cila e João Ferreira emplacaram um programa semanal na emissora, com o título sugestivo de Enquanto Houver Saudade, um grande sucesso de audiência no seu tempo, que se seguiria com outro, de nome Recordar é Viver, que durou 5 anos, para também não deixar de falar de apresentações nas TVs, festas e celebrações que não dispensavam a presença de Cila Braz. Só bem recentemente, por iniciativa conjunta com seu marido e empresário José Agostinho da Silva, o Zequinha, Cila Braz registrou em disco a sua marca inconfundível em memoráveis páginas do nosso cancioneiro, encontráveis nas gravações em CDs e DVD com os títulos: Cila Braz, a voz de ouro do Cariri (2002); Recordar é viver (DVD de 2002); Momento Marcante (2007); Um pouco de mim e canções que marcaram época (2009); Cantos Religiosos (2009); De volta ao passado (2012); e o mais recente, Cila Braz e J. Fernandes ao vivo (2015). Boa Tarde para Você, Cila Braz, notável e querida voz de ouro do Cariri, com o nosso carinho.       
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 10.04.2015)

PATRIMÔNIO
Cumprimentamos os senhores vereadores e o prefeito municipal pelo seguinte ato: LEI Nº 4451, DE 06 DE AGOSTO DE 2015, Declara Patrimônio Material, Cultural e Religioso do Povo Juazeirense, a Via Sacra do Caminho do Horto e adota outras providências. Art. 1º – Com fulcro no art. 23, inciso III da Constituição Federal e no art. 15, inciso III da Lei Orgânica Municipal de Juazeiro do Norte, fica declarado Patrimônio Material, Cultural e Religioso do Povo Juazeirense, as estações da VIA SACRA da Rua Caminho do Horto. Parágrafo único – O monumento a que se refere o caput deste artigo, fora construído em concreto armado e distribuído em quinze estações formato painel em alto relevo, recriando as  imagens da via crúcis (Via Sacra), trajeto seguido por Jesus Cristo carregando a cruz, do Pretório ao Calvário, encerrando com sua ressurreição e que se inicia na Avenida Leandro Bezerra, seguindo pela Rua Caminho do Horto até a colina próximo ao monumento do Padre Cícero Romão Batista. Art. 2º – Para fins do disposto nesta Lei, o Poder Executivo Municipal de Juazeiro do Norte, procederá aos registros necessários nos livros próprios do órgão competente. Art. 3º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Palácio Municipal José Geraldo da Cruz, em Juazeiro do Norte, Estado do Ceará, aos 06 (seis) de abril de dois mil e quinze (2015). DR. RAIMUNDO MACEDO, PREFEITO DE JUAZEIRO DO NORTE AUTORIA: Vereadora Maria de Fátima Ferreira Torres; COAUTORIA: Vereador Normando Sóracles Gonçalves Damascena.

NOVAS VIAS
A cidade continua crescendo e por isto mesmo novas ruas são abertas e nomeadas, como estas 3 últimas, pelos atos que foram aprovados e sancionados.
LEI Nº 4452, DE 06 DE ABRIL DE 2015, Fica denominada de RUA MARIA ASSUNÇÃO OLIVEIRA CRUZ, a primeira artéria paralela norte à rua Francisco Medeiros da Silva, localizada no Loteamento Green Parque, no bairro Campo Alegre, entre as quadras “A, B, C, D e E”, “G,H,I,J,K e L”, com início entre as quadras “A e L”, e término entre as quadras “F e G”, nesta cidade de Juazeiro do Norte, Estado do Ceará. Autoria: Vereador Ronaldo Gomes de Lira; Coautoria: Vereadores Cícero Claudionor Lima Mota e Danty Bezerra Silva.
LEI Nº 4453, DE 06 DE ABRIL DE 2015, Fica denominada de RUA SIMÃO NOBRE DA CRUZ, a artéria localizada no Loteamento Green Parque, no bairro Campo Alegre, entre as quadras “A, B, C, D e E”, com início na rua projetada e término a quadra “A”, sentido leste/oeste nesta cidade de Juazeiro do Norte, Estado do Ceará. Autoria: Vereador Ronaldo Gomes de Lira; Coautoria: Vereadores Cícero Claudionor Lima Mota e Danty Bezerra Silva.
LEI Nº 4454, DE 06 DE ABRIL DE 2015, Fica denominada de RUA VICENTE GAMA PEREIRA, a segunda rua paralela sul à Rodovia Major Gonçalo, início na Avenida Manoel Coelho Alencar e término entre as quadras09 e 11 do Loteamento Blandina Sobreira, sentido oeste/leste, no bairro Betolândia, nesta cidade. Autoria: Vereador Firmino Neto Calú.


MISSA DO PE. CÍCERO
A TVC, emissora estatal do Governo do Ceará, abrirá espaços, a partir do próximo dia 20, para transmissão da Missa do Padre Cícero Romão Batista, direto da Igreja do Socorro, em Juazeiro do Norte. Símbolo de religiosidade e fé dos nordestinos, Padre Cícero tem uma das missas mais prestigiadas no Interior do Ceará. A celebração, que começa às 6 horas da manhã, atrai a atenção de milhares de romeiros de diferentes estados brasileiros e,especialmente, do Nordeste. A transmissão da missa de Padre Cícero é uma das iniciativas do novo diretor-presidente da Fundação mantenedora da TVC, Tibico Brasil. A medida cria um elo maior entre a emissora e a população católica. A TVC, que, na Grande Fortaleza, pode ser sintonizada pelo Canal 5, tem também a sua imagem nos pacotes de TV paga e na internet. A emissora não irá se limitar à transmissão da missa do Padre Cícero e abrirá espaços para a missa de Fátima, celebrada a partir do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, na Avenida 13 de Maio em Fortaleza, e de eventos da área gospel. (Fonte: http://www.cearaagora.com.br/site/2015/04/tvc-transmitira-missa-do-padre-cicero/)