sábado, 11 de fevereiro de 2017


BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que semanalmente estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de quartas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
247: (09.02.2017) Boa Tarde para Você, José Yarley de Brito Gonçalves
É sempre com imensa alegria, Yarley, que nos encontramos em qualquer lugar desse nosso Cariri amado para perder a conta do tempo e esticarmos conversa proveitosa que tanto me enriquece, um curioso sobre as águas, e nisso em você a pessoa certa que me esclarece e me retira da ignorância. Assim, me conservo fiel a esta estima recíproca, frequentemente explorando o amigo que se manifesta generoso num caudal interminável de informações, de curiosidades e, sobretudo, de um conhecimento profundo acerca dessa problemática que nos deixa entre o fascínio e os temores. Habituei-me referenciá-lo com o saber notório e notável, de tanto vê-lo persistente em sua carreira profissional, ora ligado em gestão de recursos hídricos, ora focado em docência de ensino superior, ora como cientista que aprofundou enormemente o nosso conhecimento sobre essas matérias. Por isso mesmo, Yarley, revê-lo é sempre a oportunidade ímpar para retomar o nosso desejo comum por atualizações, como agora onde você se expõe com clareza e sem receios, tal é a firmeza de seu caráter e o exercício profissional à frente da Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato. Do que tenho lido pela imprensa e por sua viva voz, não posso deixar de considerar a maneira simples, correta, serena e convincente de como você trata a coisa pública, revelando o óbvio a que estão reservadas essas autarquias, sempre imersas no crônico das más e anteriores gestões. A SAEC pelo que você me diz, suportou uma longa jornada de omissões por inadimplência sobre as contas de usuários, bem como a contenção e a manutenção descabida de tarifas defasadas no tempo que não cobrem os custos operacionais do relevante serviço que a companhia presta. É preciso sacudir, de fato, as nossas comunidades que recorrem tão frequentemente aos motivos banais para a recusa sistemática à cobrança de tais serviços públicos, e ainda mais disso que se diz precioso, pois é necessário dizer que civilizado é reconhecer a honra sobre o custo de tal prestação. Se por um lado, e comungando com seu sentimento, é perverso esse alheamento quanto a água, o que não dizer sobre o esgotamento sanitário, geralmente mais caro, fato pouco reconhecido e valorizado pela população que prefere enterrar excrementos a pagar pela repercussão sanitária. A crise ética e moral que se aprofundou em nossa sociedade, encontra em meio aos serviços essenciais de água, esgoto, energia e telefonia, por exemplo, a vereda desonesta da recusa, do gato, da omissão, do roubo, como vala comum para tirar bom proveito de descuidos e má vigilância. Fica, realmente, muito fácil sugerir por um ato político e mesquinho algo como a inviabilidade econômica da instituição, com insinuações sobre rombos camuflados, por não compreender o trato mais simples de uma verdadeira economia doméstica onde se procura, minimamente, equilibrar e equacionar de modo sustentável as receitas com as despesas. Disso não tenhamos dúvida, os milhões necessários para prolongar a vida saudável da SAEC, financeira, econômica e técnica, ainda deverão sair do uso racional da água, da compreensão sobre seu valor como agente de saúde, e do seu significado como bem a serviço do desenvolvimento. Além disso, nós esperamos que você não sofra nenhuma restrição, nenhuma intimidação, de qualquer ordem, mas ao contrário, sobrem apoio e recursos para por em prática o que restaurará a saúde financeira da SAEC e o respeito à sua missão. Estimo, sinceramente, Yarley, que o curto prazo de que nos fala, para essa saudabilidade financeira, seja factível diante da absoluta necessidade de banir a noção de uma organização, de um serviço essencial em estado pré-falimentar, por mais surrealista que possa parecer. Penso que você responde sinceramente ao nos falar nessas horas sobre algo que a educação responde, e que isso não significa desviar a atenção do que se pretende simplificar tão sumariamente, como algo que ficou agudo pelo roubo e pela desonestidade das ocasiões. Não cabe a nenhum de nós por dúvida sobre o necessário gesto concreto, de apoio, de compreensão, para impor um trato mais que civilizado na superação dessas dificuldades, traduzidas para cada usuário, como algo que se vira a página e se planta uma cultura para não repeti-la. Você, Yarley, é merecedor de elogios pelo modo como o tenho visto na sua tranquila, competente e altiva postura diante dessa fase preocupante da SAEC, afinal, sem dúvida alguma, orgulhem-se seus concidadãos cratenses pois você é o homem certo, no lugar certo e no tempo certo.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 09.02.2017)

BOM DIA!
Continuo transcrevendo nesta coluna semanal o conjunto de sete textos que estão sendo publicados na minha página do Facebook, tratando de questões relacionadas com a atualidade da vida juazeirense, com o objetivo de fomentar uma ampla discussão sobre esses temas de nosso interesse. Os que desejarem contribuir com esse propósito, poderão dispor do espaço na rede social, ou encaminhando sua opinião para o nosso endereço. Muito grato.

BOM DIA! (36) Por Renato Casimiro
Ângelo de Almeida nasceu no distrito de Assequins, em Aveiro, Portugal, no dia 6 de janeiro de 1903. Ele era filho de Pedro de Almeida e Rosalina Maria de Jesus Almeida. Era o quinto dos sete filhos do casal, sendo os demais: Manuel, João, Mário, Antonio, Maria e Domingos. Na vila em que morava a família, os filhos de Pedro e Rosalina eram conhecidos como os Pedrinhos. Aí viveu Ângelo sua infância e juventude, entre a escola primária e as atividades da família, voltadas para a agricultura e as lavouras de oliva e parreirais, de onde produziam azeite e vinho. Dona Rosalina tinha duas outras irmãs, Maria e Ana. Maria, particularmente, seria muito importante na vida de Ângelo, pois sendo sua madrinha o convenceria a vir para o Brasil. Ângelo conheceu Maria Ferreira de Jesus com quem casou civilmente em Águeda, em 1923, com vinte anos de idade. Maria Ferreira de Almeida era a quarta dos seis filhos do casal Ana Maria Ferreira e João Marques de Figueiredo. Guilhermina, uma das suas irmãs, desposou Manuel que veio para o Brasil e trabalharia com Ângelo de Almeida na Padaria Luzitana, por muitos anos. Outra irmã, Lucília casou com Saul e foram residir, inicialmente, em Angola. Posteriormente, já viúva, viria a residir em Juazeiro do Norte com seus três filhos (Alberto, Lília e ?), estabelecendo-se como comerciante, numa bodega que fez grande sucesso na época, anos 60, no cruzamento das ruas Santa Rosa e São Francisco. Alguns meses após o casamento, na companhia dos tios e padrinhos Manuel Simões Loiro e Maria de Jesus Simões, Ângelo de Almeida resolveu vir para o Brasil. Sua mulher estava grávida da primeira filha, e passou a residir na casa dos pais. Simões Loiro, cidadão português de Central Grande, nascido em 18.01.1887, chegara ao Brasil em 1910 e fixara residência para desenvolver atividade comercial em Fortaleza. Em 1916 passou a residir em Crato, onde se tornou grande empresário no ramo de importação e exportação de gêneros alimentícios. Aliás, Simões Loiro tornou-se amigo de meu avô porque seu Antonio Soares, dono de padaria em Juazeiro, com ele se abastecia de matérias primas. A amizade evoluiu para o compadrio, pois Simões e sua esposa, Maria de Jesus (Marica) foram padrinhos de batismo de minha tia Silvanir. Este grande estabelecimento comercial e industrial de Simões Loiro, situado na rua Senador Pompeu, 59-69 foi a grande escola de formação profissional de Ângelo de Almeida , bem como de Manoel Dias Branco e de outros portugueses que vieram para o Ceará e passaram também pelo Cariri. Embora houvesse uma vocação primeira de negócios de importação e exportação, Simões produzia macarrão com bom índice de mecanização, processava beneficiamento de arroz, milho, sal, torrefação de café e fabricação de colorau e tinha uma conceituada panificadora.  Exatamente esta mesma linha de atividades e produtos Ângelo de Almeida desenvolveria nos seus primeiros empreendimentos em Juazeiro do Norte. Do casamento de Ângelo e Maria Ferreira de Almeida nasceu Ismênia Ferreira de Almeida, em 21.08.1924, na localidade de Gravanço, distrito de Aveiro, Portugal. Ângelo de Almeida foi conhecer sua primeira filha, Ismênia, aos quatro anos de idade, em 1928 quando voltou a Portugal, na companhia de seus tios Maria de Jesus e Manuel Simões Loiro. A este tempo, Maria e Ismênia já não residiam na companhia de seus pais e avós. Ana Maria Ferreira e João Marques de Figueiredo haviam vindo para o Brasil e se estabeleceram em Belém do Pará, onde a família tinha uma loja de variedades no comércio. Ângelo já decidira também trazer esposa e filha para residir no Brasil, em Crato. A viagem de volta, de navio, seguiu a rota Lisboa-Belém, onde a família se reencontrou por alguns dias. Prosseguindo viagem, a escala final foi em Fortaleza, quando chegaram em dezembro de 1928. Depois de alguns dias na capital cearense, a família de Ângelo de Almeida seguiu viagem, por trem, para o Crato. Estabelecido em Crato, entre 03.06.1924 e 1928, as atividades de Ângelo de Almeida junto a empresa de Manuel Simões Loiro, era o de distribuidor de produtos para os mercados das diversas cidades do Cariri, comercializando os produtos de panificação (pães, biscoitos e massas alimentícias) fabricados em Crato. Entre 1929 e 1931, Ângelo de Almeida continuou o seu trabalho junto às empresas de Simões Loiro. Ainda residindo no Crato, percorria várias cidades do Cariri transportando e comercializando, em lombo de animal. Fazia parte dos seus estoques outros materiais como colorau, sal refinado, farinhas, gorduras, etc. Como importador, Simões Loiro disponibilizava desde a tradicional “farinha do Reino”(trigo) a outros ingredientes para panificação e confeitaria. Ainda residindo em Crato, em 25.10.1929 nasceu sua segunda filha, Lídia. Cada vez mais entusiasmado com o desenvolvimento de Juazeiro, pois sua presença na cidade era rotina semanal, a família de Ângelo de Almeida decidiu por sua transferência domiciliar para a terra do Pe. Cícero. A cidade já era bem conhecida de Ângelo de Almeida.  Com isto, reuniu economias, conhecimento da atividade e apoio, tanto de seu tio Simões Loiro, quanto – estrategicamente, do Pe. Cícero Romão Batista, a quem recorreu para se aconselhar. Pe. Cícero o incentivou bastante, reforçando as suas convicções pela iniciativa que tomaria. Ângelo de Almeida comprou, então, uma modesta padaria que havia na cidade, de propriedade de Manuel Trajano. Naquele ano de 1931, a família se transferiu para Juazeiro. Ângelo assumiu seu próprio negócio, dinamizado-o gradualmente para novas atividades que contemplavam a torrefação de café, o beneficiamento de arroz, a moagem de milho e a fabricação de colorau. Nestes primeiros tempos a Padaria Luzitana já ia se consolidando com marcas próprias que iam sendo reconhecidas pelo mercado: Biscoitos São Tomé, Bolachas Bola de Ouro e Lídia, Café Luzitano, Macarrão, etc. Junto a sua padaria havia uma casa onde aí a família passou a residir. Somente em 1935 transferiram-se para o novo endereço, na mesma Rua São José, 453. Entre 1937 e 1938 Ângelo de Almeida decidiu construir uma espaçosa e bela casa na Rua São José, 509 – a Vila Luzitana, como passou a ser identificada pela placa no canto do cruzamento das ruas São José e Conceição. Sua concepção e construção foi de Maria e Ângelo de Almeida, que a fizeram como uma casa portuguesa, com certeza. Na arquitetura e no urbanismo do lugar era grande a inovação: casa recuada, escadas de acesso, fachada em arcada, jardins na frente e lateral, pavimento superior e amplo quintal. Quintal onde se cultivava figo e uva – coisas exóticas para uma cidade como aquela. Mas, também, romã, sapoti e siriguela. E junto a isto havia um viveiro para avoantes, um enorme galinheiro com poedeiras, um tanque para lavar garrafas que eram usadas na reembalagem do bom vinho português, importado em tonéis de madeira. À heráldica moradia se ajuntaria, com os anos, as duas garagens dos veículos, em prédios laterais, interligados pelo quintal à casa. Sem falar da estufa, instalação para defumar lingüiças, especialidade da senhora dona da casa. Na decoração, motivos portugueses com mosaicos que ficaram quase eternos. Neles se lêem, ainda hoje, frases tais como “Que Deus te dê em dobro o que me desejas”, “Quem vem que Deus o traga, quem parte que vá com Deus”, etc. Educou suas filhas, Ismênia e Lídia, no convívio da família e nos melhores colégios do Cariri e de Fortaleza. Casadas, respectivamente, com Francisco de Assis Abreu e José Adauto Bezerra, desfrutou de bons anos na convivência com seus catorze netos. Sua genealogia hoje se alarga para bisnetos e trinetos. Por muitos anos, depois da transferência da Padaria Luzitana para Gessi Maciel Lopes, Ângelo de Almeida se dedicaria a negócios agropecuários do pequeno sítio nos arredores de Juazeiro, de onde sabia bem cultivar fruteiras e hortaliças. De plantel bovino, era um dos fornecedores de leite no dia a dia de uma cidade ainda acanhada. Foi empreendedor imobiliário, destacando-se como construtor e locador de imóveis comerciais e residenciais em dezenas de pontos da cidade. Na lembrança deste desbravador do progresso de Juazeiro do Norte, não se pode deixar de considerar a grande importância de Ângelo de Almeida no desenvolvimento da panificação e no próprio crescimento da cidade. Ele era parte disto, pois empregou todas as suas forças com grande empenho e determinação. Devoto do Pe. Cícero, Ângelo de Almeida usava um rosário em seu peito. Sempre que tinha de se ausentar do Juazeiro ou voltando de alguma viagem, ia ao túmulo do Pe. Cícero, a quem agradecia pela proteção. Foi o português mais juazeirense que a cidade conheceu e reverenciou. Pessoa de firme caráter, esmerada educação, exemplo de grande dignidade e honestidade profissional nas atividades que exerceu. Homem forte, de grande disposição física desde a juventude, de exemplar vitalidade, Ângelo de Almeida viveu bem até que na maturidade foi acometido por diabetes. Aos setenta e cinco anos de idade, motivado pelo agravamento da doença, faleceu em Fortaleza em 16 de dezembro de 1978. Foi sepultado no jazigo da família, no cemitério do Perpétuo Socorro, em Juazeiro do Norte, onde aí também repousa sua esposa, após 54 anos de vida conjugal. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 05.02.2017)

BOM DIA! (37) Por Renato Casimiro
No bairro do Socorro, ligando a praça do Cemitério à av. Leandro Bezerra, há uma ruazinha estreita, a Rua da União. Na casa modesta e muito acolhedora do número 49 mora a família de Roldão, uma das lembranças mais reconhecidas sobre a memória da vida de Ângelo de Almeida. Roldão Manoel dos Santos nasceu em 15.04.1924 no distrito de Quipapá, município de São Benedito, na Serra da Ibiapaba, zona norte do Ceará. É filho de Manoel José dos Santos e Maria Madalena da Conceição. Toda a família de Roldão, que incluía mais 5 irmãos (José, Benedito, Antonio, Maria e Luiza) vivia da agricultura, plantando e colhendo gêneros de primeira necessidade como arroz, feijão, hortaliças e de pequenas criações. Em busca de melhores condições de vida, aos quatro anos de idade, Roldão e sua família migrou para a Paraíba e lá permaneceu até 1930, quando uma grande seca os obrigou, novamente, a pensar numa nova terra. Haviam plantado e perderam tudo, pois a estiagem daquele ano foi muito perversa. Atraídos pelo fenômeno do Pe. Cícero, em Juazeiro do Norte, seus pais vieram consultar o padrinho que lhes disse, sem arrodeios: - Venham, e tragam um saco de paciência, não tragam um saco de dinheiro. Com poucos recursos, chegaram a Juazeiro no final de 1930. Pela sábia expressão do Pe. Cícero, acabado o pouco dinheiro restou-lhes a paciência com a qual venceram as dificuldades, arranjando empregos para os filhos maiores. Quando Roldão começou a trabalhar, ajudando a família, sua idade já era de 13 para 14 anos, entre 1937 e 1938. Ele vendia cereais num ponto que montara no mercado central de Juazeiro do Norte. Nesta época, Ângelo de Almeida já tinha se estabelecido com a Padaria Luzitana, a partir da aquisição do negócio iniciado por Manoel Trajano, na Rua São José. Anteriormente, Ângelo de Almeida vinha semanalmente, às sextas feiras, ao Juazeiro, trazendo animais carregados de produtos fabricados no estabelecimento de Simões Loiro, em Crato. Através de um amigo da família, sr. Joaquim Nicolau, Roldão foi indicado para trabalhar na Padaria, atendendo a clientela no balcão. Um ano depois, já bem experimentado no serviço, e gozando da confiança do patrão, Roldão mudou-se para Fortaleza, e foi trabalhar na Padaria Duas Nações (Rua Barão do Rio Branco com Rua Castro e Silva), empresa que Ângelo de Almeida adquirira em sociedade. Aí permaneceu por três anos. Voltando a Juazeiro passou a cuidar do sítio que Ângelo de Almeida adquirira a Manoel Joaquim (avô de Burica) nas proximidades da Caixa d’ Água, junto à via férrea da Rede Viação Cearense. Era um sítio, não muito grande (25 braças por meia légua de fundos, indo até à beira do rio Carás) onde se cultivavam fruteiras, cereais, verduras e se criava gado, produzindo leite, além do criatório de aves. Por muito tempo, o sítio de Ângelo de Almeida teve a fama de produzir as frutas mais saborosas, conhecidas pelas famílias do centro da cidade de Juazeiro. Laranjas e bananas sem iguais. As mangas eram muito doces e a temporada era de grande disputa na passagem do Roldão, com grande balaio à cabeça. Sem falar de um leite que dava muita nata na fervura. Nem a conduta de Antonio, o leiteiro, que saia diariamente para vendê-lo, comprometia sua fama. Conta-se que Maria Leite, então secretária de Ângelo de Almeida, num dia ao filtrar o leite encontrou uma piabinha e ficou indignada com o achado. Interpelando o Antonio, ele se justificou que a vaca havia ido tomar água no Carás e engoliu a piabinha que, finalmente, saiu no leite, pela teta da vaca. No sítio tudo era bem cuidado. As fruteiras vinham de boa procedência, pois Ângelo e Roldão iam buscá-las no Campo de Sementes, em Barbalha e eram cuidadosamente plantadas e mantidas com bons tratos culturais que envolviam a capinação, a adubação, a irrigação e o combate às pragas. Nesta época, início dos anos 40, Ângelo de Almeida também já se destacava como empreendimentos imobiliários, alugando imóveis, cerca de uns 30. E Roldão, inicialmente, fazia a cobrança aos inquilinos. Esta atividade de Ângelo de Almeida persistiu até a sua morte, pois seu escritório manteve nos últimos dias uma carteira de mais de 60 imóveis. Nos primeiros tempos, Ângelo de Almeida e família moravam na Rua São José, 453. Estava sendo iniciada a construção da morada definitiva, na esquina da Rua da Conceição. Alguns anos depois, os dois imóveis vizinhos foram adquiridos e surgiram duas garagens que foram usadas pela família. Trabalhando com Ângelo de Almeida, Roldão conheceu Maria das Graça, eficiente empregada da fabricação de macarrão, no interior da padaria, sob a gerência de José Farias. Ela era a encarregada de pesar e embalar o produto. Namoraram e casaram em 31.12.1950. Foram morar na Rua Santa Rosa, esquina de Santo Antonio. Tiveram 7 filhos: Francisco, que infelizmente faleceu com dois meses de idade; Francisco Renato, hoje casado com Evilânia e pais de dois filhos: Renata Soraya e Reginalda; Maria Nazaré que está solteira; Roldãozinho, solteiro trabalhando nos Correios em São Paulo; Geralda Verônica, professora municipal em Juazeiro, solteira; Cícera, casada com Cléber, ainda sem filhos; e Geraldo, casado com Sandra, pais de Mateus. Ainda trabalhando na Padaria, Maria passou da fabricação de macarrão para o escritório, auxiliando Maria Leite, no caixa da empresa. Depois de algum tempo resolveu desligar-se, ficando apenas em casa, cuidando dos filhos que foram nascendo. No dia a dia, Roldão lembra que diariamente ia a pé para o sítio, numa caminhada de mais de 6 km. De lá voltava com um carrinho carregado de frutas para vendê-las aos costumeiros fregueses da Rua São José e das ruas por onde ia passando. O sítio era cuidado por uma pequena e dedicada equipe. Além de Roldão e de Antonio (o leiteiro), havia também o Manoel Alexandre, que era o vaqueiro e cuidava dos serviços gerais. Somente aos domingos Ângelo ia ao Sítio (que nunca teve um nome específico), ele mesmo dirigindo um jeep ou outro carro. Ângelo nunca teve motorista. Quando lembra do antigo patrão, Roldão se emociona, sente-se pelo olhar e o modo de como fala. Diz que nunca conheceu uma pessoa de tal integridade, homem que nunca ofendeu a quem quer que fosse, de grande serenidade, jamais tendo sido apanhado com o espírito alterado. Era caridoso, especialmente nas sextas feiras quando se formavam grupos de pessoas que mendigavam pela Rua São José, e a família distribuía pão, frutas e esmolas. Era devoto do Pe. Cícero, e tal qual um romeiro, usava um rosário no pescoço. Na sua religiosidade assistia à missa dominical e tinha uma relação muito próxima com os dois últimos vigários da paróquia matriz. Afinal, eram Mons. Lima e Pe. Murilo as raras pessoas admitidas ao convívio da família. Freqüentemente, diz Roldão, Ângelo ia ao túmulo do Pe. Cícero onde fazia suas orações. Especialmente diante de uma viagem que empreenderia, ele costumava fazer este roteiro, não esquecendo de voltar lá, quando do retorno da viagem, onde ia agradecer os benefícios que obtivera. Não era um homem de festas, e cultivava poucas amizades. Adorava beber com fidelidade um bom vinho português que importava. Na fase mais quente do ano recorria a uma boa cerveja, bem gelada. Costumeiramente era freqüentador do banco da praça que o povo denominara o “banco dos velhos”. Suas companhias em animadas conversas, desde a boca da noite, eram, quase sempre: Senhorzinho Ribeiro, Cap. Celso, José Viana de Sousa, Propércio de Castro Nogueira, Ginú Feitosa, Oliveiro Fontes, e tantos outros. Ainda em vida, Ângelo de Almeida vendeu o seu Sítio para o comerciante Manuel Sucupira. Após a morte de Ângelo de Almeida, Roldão permaneceu dedicado à residência de dona Maria. Acometida de cegueira, antes mesmo da morte do marido, era com Roldão e Severina que a casa era cuidada. Para referir a este sofrimento de sua patroa, ele lembra o que Dona Maria costumava-lhe dizer: “- Eu queria ser muito pobre, mas com a vista boa.” Para ele, era esta a justa medida de uma grande provação com a qual Dona Maria viveu até falecer. Roldão lembra que numa de suas viagens à Europa, Ângelo levou madeira para mandar esculpir uma estátua de Nossa Senhora das Dores, e esta imagem, ao que se sabe, teria composto o patrimônio da Capela de Nossa Senhora de Fátima, anexa ao então Instituto Santa Terezinha, de Amália Xavier de Oliveira. Ângelo de Almeida faleceu motivado pelo agravamento de sua diabetes. Percebendo o seu estado, enquanto estava no escritório, Roldão foi imediatamente ao consultório de Mozart Cardoso de Alencar, ao lado. Mozart atendeu ao chamado de emergência e prontamente contou com a atenção de Soledade (Dade) Magalhães para aplicar-lhe uma injeção. Infelizmente o estado de saúde de Ângelo agravou-se e ele foi levado nos braços por Roldão para sua casa. Depois foi transferido para Fortaleza, onde faleceu. Roldão, como parte da memória desses fatos e desses personagens, continua sua vida no recolhimento familiar da Rua da União. Quando ele me contou essas histórias, eu percebi que um brilho nos seus olhos se abriu, com a narrativa mais sincera de uma felicidade possível experimentada entre alegrias e tristezas com aquela família, no velho casarão da Rua São José. As lágrimas desceram, eu o abracei, nada mais lhe perguntei, nos despedimos, desci a rua, para um dia, quem sabe, voltar a ouvir novas histórias. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 06.02.2017)             
BOM DIA! (38) Por Renato Casimiro
Muitos anos passados, já chegando ao meio século de vida, cresceu em mim a curiosidade para conhecer um retrato da cidade em que nasci, a partir do ano da graça de 1949. Felizmente, as fontes bibliográficas, livros, folhetos, jornais, narrativas, memória oral, fotografias me permitiram reconstruir um esboço desta paisagem. Vou destacar este conhecimento em alguns tópicos que nos remetem à vida citadina nos aspectos urbanísticos, humanos, produtivos e em diversas outras atividades da vida. A população do município era estimada em mais de 66 mil habitantes, sendo que a sede representava 90%, com cerca de 59 mil habitantes. A pequena diferença de sete mil habitantes era devido aos pequenos aglomerados de vilas distantes, como os primeiros arruamentos em Marrocos e Palmeirinha. Na administração da cidade estava o prefeito, médico, Antonio Conserva Feitosa. Os auxiliares mais destacados do então prefeito eram: Espedito Cornélio de Miranda – secretário, José Bezerra de Melo – tesoureiro, auxiliado por Ana Pereira da Silva. Os escriturários eram: Afonso de Melo, Maria Neide Pereira, querida amiga – tantos anos depois, e Raimundo de Pinho. A Câmara Municipal era presidida por Antonio Braz e com os seguintes vereadores: Manuel Ferreira Neto, Dr. Mozart Cardoso de Alencar, Leandro Bezerra de Menezes, Luiz Matos Franca, Leônidas Temóteo, Dr. Jussier Sobreira de Figueiredo, Gumercindo Ferreira Lima, José Rodrigues Soares e Margarida Pereira Lima. A ordem pública era mantida através da Sexta Companhia do Segundo Batalhão da Força Pública do Estado do Ceará. E da Delegacia Regional Policial e de uma Delegacia de Trânsito. A vida religiosa da cidade era ativa por parte, apenas, da paróquia matriz, de Nossa Senhora das Dores, e atendia aos fiéis, também, nas capelas de São Miguel, São Vicente e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O vigário era o Mons. Joviniano da Costa Barreto. O movimento paroquiano contava com as seguintes associações religiosas: Apostolado da Oração, Congregação Mariana Masculina, Pia União das Filhas de Maria, Sociedade Vicentina, Senhoras de Caridade, Irmandade do Santíssimo Sacramento, Propagação da Fé, Liga Santa Terezinha e Obras das Vocações Sacerdotais.Já funcionava na cidade a Missão Batista, situada na Rua São Paulo, então dirigida pelo pastor Jim Wilson. Esta Missão era constituída de uma Escola Primária, de um Instituto Bíblico e da Primeira Igreja Batista. Algum tempo depois seria fundado o Seminário para formação de pastores. O judiciário no Juazeiro era assim constituído: O juiz da Comarca era o Dr. Juvêncio Joaquim de Santana, e os seus serventuários eram os tabeliães titulares dos primeiro e segundo cartórios, respectivamente, Expedito Pereira e João Teófilo Machado, auxiliados pelos escreventes, Maria Fernandes Magalhães (1º cartório) e José Teófilo Machado e Newton Machado (2º cartório). O Promotor público era o Dr. Edward Teixeira Férrer. A vida econômica do município assim se compunha: Na pecuária, dispunha de um rebanho de cerca de 16.700 animais, dentre bovinos, eqüinos, muares, suínos, asininos, ovinos e caprinos. O matadouro público, considerado modelo, era de propriedade de Almino Loiola de Alencar. A agricultura produzia arroz, milho, feijão, algodão em caroço, cana de açúcar, mandioca, batata doce, mamona, coco, laranja, manga, banana e abóbora que chegava a 70 mil toneladas por ano. No comércio destacavam-se as lojas de tecidos (M. Alencar, Celestino & Cia., Teixeira Sampaio & Cia., Lundgren & Cia., Feijó de Sá & Cia., Tobias Ribeiro, José Campos & Cia., Figueiredo, Teixeira & Cia., Arlindo Vieira, Bezerra & Cia., João Honorato da Silva, Irineu Ferreira Nobre, etc), de ferragens (Felipe Nery, José Raimundo Filho, João Anastácio da Silva, M. Oliveira, Martiniano Santana, Sebastião Teixeira Lima, Joaquim de Sousa Menezes, Severino Alves Sobrinho, Espedito Fernandes, João Ribeiro Costa, José Gomes de Moura, Jader Gomes da Silva, Rodrigues Moura, José Menezes Pereira, J. Oliveira, Irmãos Teixeira, principalmente. A indústria local era muito incipiente, e o maior destaque estava para as usinas de algodão (As usinas de Antonio Gonçalves Pita e da firma P. Machado, na Rua São Francisco, além da americana Anderson Clayton, junto a ferrovia da RVC (nessa época nem se falava ainda em Franciscanos, cuja pedra fundamental seria no ano seguinte). As rendas do município eram apuradas, de uma parte, pela Coletoria Federal, cujo titular era Antonio Stelita Silva, auxiliado por Aluízio Grangeiro Guimarães. Neste ano de 1949 a arrecadação federal já era superior a um milhão de cruzeiros. De outra parte, a Coletoria Estadual, cujo coletor era Orlando Rocha, auxiliado por Osvaldo Coelho de Moura, José Vitorino Sobrinho, Valdo Gomes de Figueiredo, Augusto de Castro Barbosa, José da Silva Moreira, José Macário Oliveira, Joaquim Norões, José Belizário e José Gomes Feitosa, tinha a responsabilidade da arrecadação de tributos estaduais, cujo montante era ligeiramente superior à federal, já referida. O sistema de transporte da cidade, para se dar uma idéia da tranqüilidade que se vivia, era composto, oficialmente, por 30 veículos automotores, 40 caminhões, 3 ônibus, 2 motocicletas, 18 bicicletas, 14 carros de bois, 14 carroças puxadas a animais e 4 cabriolés. A educação juazeirense era cuidada por diversos estabelecimentos. O Ginásio Salesiano Padre Cícero, que na época continha o curso primário, da 1ª à 5ª série, diurno, com 209 alunos, e o noturno, com 134 estudantes; o Ginasial somente diurno, com mais de duzentos alunos; a Escola Profissional, na área de fundição e mecânica;  o Aprendizado Agrícola, que era ministrado em terrenos que pertenceram ao Pe. Cícero; e o Oratório Festivo, instituição específica da Congregação Salesiana, com mais de 400 alunos.  O Ginásio Santa Terezinha, fundado pela educadora Amália Xavier de Oliveira, e dirigido na época por sua irmã Raimunda Xavier de Oliveira, destinado à educação das jovens, tinha um currículo equiparado ao das Escolas Domésticas. Dispunha de um internato, principalmente para as alunas que se destinavam à Escola Normal Rural. A Escola Normal Rural, dirigida por Amália Xavier de Oliveira, era a grande instituição de Instrução Pública de Juazeiro. Sua vocação era o ensino ruralista, principalmente dedicado à formação de professoras rurais. Entre 1934, data de sua fundação, e 1949, a Escola já formara mais de 250 professoras. Junto a ela, também, funcionava o Grupo Rural Modelo. A Escola Técnica de omércio, mantida pela Associação dos Emp´regados no Comércio de Juazeiro, era dirigida por Dr. Mário Malzone e tinha no seu quadro docente figuras notáveis como os Drs. Possidônio Bem, Edward Teixeira Férrer, Antonio Conserva Feitosa, Mons. Joviniano Barreto, Pe. Cícero Fernandes Coutinho, Isa Figueiredo, José Machado, Stela Nóbrega, Maria Menezes, Nair Silva, Espedito Cornélio, e tantos outros. O Grupo Escolar Pe. Cícero, dirigido por Lourdite Gondim Lucena era mantido pelo Estado e tinha a tradição de ser o pioneiro na cidade. No seu corpo docente havia uma elite da maior qualidade onde se incluía Adelaide de Sousa Melo, Maria Bezerra de Menezes, Helena Sobreira, Heloisa Sobreira, Neide Bezerra, Alzira de Oliveira, Deceles Bezerra, Iolanda Van Den Brule Matos, Alacoque Bezerra, etc. Na instrução primária, havia diversas escolas isoladas espalhadas por bairros, distritos e algumas instituições da cidade. Por exemplo, minha mãe, Doralice Soares Casimiro era a titular da escola que funcionava no Círculo Operário São José. Na escola de Comércio havia uma sob a direção de Maria Stela Pereira Nóbrega. Na União beneficiente a dirigente era Maria Lais Farias. No Sítio Brejo Seco a responsável era Cármen Costa Barreto. No Sítio São José, Maria Esmeraldina Pinheiro. No Arisco, Balbina Garcia. Nas Malvas, Alaíde Alves Bezerra. No Salgadinho, Doraci Sobreira Cruz. Na Estação, Querubina Mendonça Matos. E havia o Ensino Supletivo, em escolas noturnas, em diversos pontos da cidade e distritos, com as professoras Lavinha Melo Mais, Maria Alice Pereira, Maria Alacoque Gonçalves, Maria Alves Cruz, MARIA Elza Coelho Alencar, Maria Terezinha de Carvalho, Maria do Carmo Sirino, Antonio Ailton Calou, Alice Dourado Cabral, Odon Tavares de Souza, Francisca Teles, Nila Soares, Dina Sobreira da Cruz e Francisca Letícia do Amaral. Na Instrução Primária Municipal, as professoras eram: Maria do Carmo Pereira, Lais Linhares, Nair Silva, Suzete Pereira, Lavínia de Melo Maia, Adilânia Maria de Castro Nogueira, Ivone de Souza, Izaura Amorim de França, Stela Ribeiro, Maria Lisieux Xavier de Oliveira, Maria Eurizete Silva, Francisca Odete de Oliveira, Margarida Osir Moreira, Maria Carmelita Guimarães, Geraldina Monteiro, Gecelina Vieira, Maria Alice Pereira, Alzira Aguiar, Maria Dolores Oliveira, Maria Stelita Magalhães, Maria Nely Sobreira. Isto sem falar de diversas escolas isoladas, pela cidade, sítios e até nos distritos. Para se comprar livros e material escolar e de papelaria, havia três livrarias na cidade: A São João Bosco, de Rafael Xavier de Oliveira, a Maia, de Aldesiro Maia e a Bernardo, de José Bernardo da Silva. Aliás, estes estabelecimentos eram também tipografias, pois em cada um deles se publicava livros, folhetos, boletins e jornais. Na área da saúde, os médicos que cuidavam da cidade eram: Antonio Conserva Feitosa, Hildegardo Belém de Figueiredo, Jussier Sobreira de Figueiredo, Manuel Belém de Figueiredo, Mário Malzone, Mozart Cardoso de Alencar e Possidônio da Silva Bem. Maria Soledade Magalhães, Dona Dade, era a proprietária do único Ambulatório da cidade, funcionando na Praça Pe. Cícero. Na hora, assim se dizia, de aviar a receita, as farmácias com as quais nós contávamos eram: a Brasil, de Dr. Belém, a dos Pobres, de José Geraldo, a São José, de Pedro Carvalho e a Sousa, de Antonio Ferreira de Sousa. Quem necessitasse de tratamento odontológico tinha de recorrer a: José Silva Lima e Luiz Bezerra de Sousa. O Hospital São Lucas estava sendo construído, sob a direção de Mário Malzone. Dois postos de saúde já existiam na rua santa Rosa, um do lado do outro: o dito de Saúde (dirigido por Mário Malzone) e o outro de Tracoma (chefiado por Dr. Possidônio). Havia pousadas, pequenos hotéis, pensões e ranchos pela cidade, porque as romarias já davam sinais de que poderia ser o forte da cidade. Mas, neste ano e ainda por muitos anos adiante, quando recebíamos visitantes, comerciantes e representantes de empresas com as quais negociávamos, na maioria das vezes, o conveniente era indicar hotéis de melhor categoria que existiam no Crato. As casas de diversão em Juazeiro eram os Clubes (Doze e Treze) e os cinemas (Roulien e Eldorado). A imprensa escrita, conforme se poderá ver em melhor detalhamento em outro capítulo, era integrada apenas pelos jornais Correio de Juazeiro (editado por Geraldo Barbosa), O Lavrador (da Escola Normal Rural) e O Lutador (da Congregação Mariana Masculina). Uma semana após o meu nascimento, o Correio do Juazeiro, na sua edição de 02.10.1949 publicou num cantinho da última página as seguintes notas: CASAMENTO (Igreja Batista) - Oficiado pelo Rev. Mr. Edward Guy McLain, consorciaram-se a tarde de ontem, nesta cidade os jovens Rev. Mr. Thomas F. Wilson e Miss Evelyn Olsen, ambos norte-americanos e missionários ao Brasil da Mid-Missions com sede em Cleveland-Ohio. NASCIMENTO O lar do S. Luiz Gonçalves Casemiro e d. Doralice Soares foi enriquecido com o nascimento de um garoto, e no dia 26 de Outubro, que recebera o nome de Antônio Renato os parabéns desta folha. Doze anos depois, a família de Mr. Thomas e Mrs. Evelyn residia em frente a nossa casa na Rua São José e se tornaram parte dessa recordação que agora lhes conto. O jornal trocou Setembro por Outubro, mas isso acontece. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 07.02.2017)             

BOM DIA! (39) Por Renato Casimiro
Este relato, contendo pequenas histórias da Rua São José, não poderia ser feito com estas dimensões, não fosse a dedicação de tantos em oferecer-me seus depoimentos esclarecedores sobre fatos e personagens que habitaram a Rua São José. Pensei antes que isto tudo se circunscrevia ao meu universo mais limitado, a um período de não mais que 10 anos. Ledo engano. Com o passar do tempo, entusiasmo crescendo, eu fui colecionando muitas estórias que neste espaço reproduzo. Elas, mesmo que de forma tão sumária, me mostraram algumas facetas da vida urbana, que acreditamos, nem mais exista. Vamos a elas.
VIDA E MORTE DE ZÉ LOURENÇO...
Segundo Ananias Araújo, em depoimento em 01.12.2004, não se sabe ao certo porque a Polícia Militar do Ceará determinou a prisão do Beato José Lourenço, em data que não soube precisar, entre os anos 29-30. O fato é que o beato estava atendendo seus amigos, numa residência nas proximidades da baixa dos Salesianos. Era um domingo, pela manhã, e para lá se deslocaram, a mando do Cap. Moura Brasil, então Delegado, o sargento Assis Pereira (irmão de Expedito Pereira) e o soldado “Prainha”. Trazido para a delegacia que funcionava na Rua São José, 276, logo em frente à residência do Cap. Moura Brasil, no número 277. Poucas horas depois, populares armados chegaram à frente da delegacia, soltaram fogos e deram vivas (Viva Nossa Senhora das Dores...Viva !, Viva Padre Cícero... Viva !). Como alguns estavam armados, a única ação intempestiva foi do filho de Moura Brasil que ainda conseguiu dar um tiro para cima. Não havendo outra reação por parte da Polícia, os populares invadiram a Delegacia e da cela o beato foi retirado. Levaram-no, nos braços, para a casa de Pe. Cícero, então residente na casa de Floro, na esquina da Rua Nova com a Rua Grande. Aí o beato foi deixado e a turma se dispersou, por acreditar que ele não mais seria molestado, por estar em boa guarda. No mesmo dia, Moura Brasil foi procurar o Pe. Cícero, cobrando dele a entrega do beato para novamente ser levado a uma cela da Delegacia, pois se considerava desmoralizado. O Pe. Cícero se recusou a entregar Zé Lourenço e afirmou para o militar que ele não iría ficar desmoralizado, porquanto ia pedir ao beato para que nunca mais ele voltasse ao Juazeiro, sem uma autorização sua. Ananias lembra ainda que vários anos depois, numa manhã de domingo, ele estava fazendo a barba na barbearia de mestre Galdino dos Santos, na Praça Pe. Cícero, quando viu passar um cortejo de um defunto, levado em rede branca, seguido de diversos populares, todos vestidos de branco. Curioso, alguém lhe informou que se tratava de Zé Lourenço, que teria morrido para os lados do Leite (cercanias do Horto) e estava sendo levado para o velório em uma casa nas proximidades de São Miguel, mais ou menos em frente onde se construiu o Hospital São Lucas. À tarde aconteceu o velório, com uma massa de gente que não era fácil calcular. Pelo menos nestes dois momentos, a Rua São José se encontrou com esta grande figura da religiosidade do Cariri.      
A EMA GEMEU...
Por trás do velho casarão da Rua São José, número 170, onde funcionava a Usina de descaroçamento de Algodão do Pe. Cícero, havia um quintal de diversas árvores, aí se incluindo frondoso umbuzeiro. A garotada da época ia sempre por lá e ficava horas atirando pedras e derrubando frutos. Nesta mesma área o Pe. Cícero mantinha uns animais e destes se destacavam uma ema. Naquele dia, a ema gemeu... e levou a pior, pois uma das pedras atingiu-lhe a perna, fraturando-a. A molecada ainda tentou colocar umas palas e amarrar com barbante para tentar manter a ema de pé. Mas, não conseguiu. Correu a notícia que o autor do mal-feito tinha sido Ananias Araújo. Pe. Cícero, quando soube, mandou recado para o pai, Chico Araújo, dizendo que queria conversar com Ananias. Em sua casa, no número 242,  onde hoje é o Museu, Ananias falou que não fora ele mas que logo ia descobrir. Procurou saber pela Rua e por testemunho de Geraldo Granginha (???), identificou o culpado. Tinha sido Cazuza, um dos filhos de dona Virgínia e Pedro Flor, então residentes na Rua, nas casas de números 324 e 328. Ananias voltou ao Pe. Cícero e relatou o que descobrira. Pe. Cícero, então, pediu-lhe que chamasse dona Virgínia, que logo ficou sabendo da presepada. Dona Virginia procurou localizar o Cazuzinha, desaparecido, e o levou à presença de Pe. Cícero. Dizem que o mais que o Pe. Cicero pôde fazer foi dar uns conselhos ao moleque, ao tempo em que, por sobre sua cabeça, lhe traçava umas cruzes, benzendo o cabra.     
LEVANDO O PE. CÍCERO PARA A IGREJA...
Das muitas lembranças da Rua, Ananias não esquece de uma tarefa rotineira, em manhãs de domingos, auxiliar o Pe. Cícero a subir no veículo quando se destinava à celebração da missa, às 9 horas, por seu primo Pe. Juvenal Colares Maia. Um pouco antes, Ananias presenciava a sua saída de casa, no número..., onde hoje é o Museu, e dali, em automóvel Ford, dirigido por João Tenório, ele seguia para a Matriz. Uma particularidade era a sua opção de entrada, que segundo o depoimento, por presenciar muitas vezes, se fazia pela rua lateral, hoje denominada Isabel da Luz. Dali, com ajuda de populares, Pe. Cícero alcançava a sacristia e assistia a celebração do lado do altar. Depois do ofício, retornava pela mesma via, para sua casa.
A BODEGA DE GENTIL PEREIRA LIMA...
Procedente da cidade pernambucana de Triunfo, em 1930 chegou a Juazeiro o Sr. José Pereira do Nascimento e se instalou com a família à Rua São José, esquina com a Rua Santo Antonio. Ali, ele logo pintou na fachada da residência o letreiro “Casa Gentil”. Estava, então, fundada a primeira bodega do pai de Gentil Pereira Lima. A família permaneceu neste local até o ano de 1934. Em 1935, Gentil casou-se com Maria Suliano Lima e continuou com a sua bodega até 1944. Em l945 transferiu seus negócios para um outro imóvel, na mesma Rua São José, esquina com Rua do Cruzeiro, número 299, onde permaneceu até o ano seguinte,1946. Em 1947 Gentil voltou ao ponto inicial, Rua São José, 969, esquina com Rua Santo Antonio (hoje, Pe. Pedro Ribeiro). Neste endereço viu crescer a sua família, 9 dos seus 22 filhos. A bodega funcionou até 1980, quando seu Gentil se aposentou. Gentil Pereira Lima faleceu em Junho de 2000. Ainda hoje, sua esposa e suas filhas Ângela Lúcia e Tárcia permanecem residindo no mesmo e tradicional endereço que nós conhecíamos como a Bodega de Seu Gentil.
O CARTÓRIO DE VICENTE PEREIRA...
Procurei saber de Agenor Pereira por quanto tempo o Cartório do Primeiro Tabelionato funcionou na Rua São José. Ao que me respondeu: “Realmente, até 1936 o Primeiro Cartório funcionava em nossa casa, à Rua São José, 353. Minha mãe não agüentou o movimento desordenado das pessoas que procuravam os serviços do tabelionato e entravam casa a dentro, invadindo nossa privacidade. Alem disto, muitos ranchos de romeiros ficavam relativamente próximo à nossa casa e o resultado é que os romeiros "batiam palmas" pedindo água, ou pedindo para fazer as suas necessidades fisiológicas. Meu pai, então, alugou uma sala na rua do Cruzeiro, vizinho a residência de José Francisco das Graças (Zé das Graças). Por ser uma sala pequena, o Cartório foi, posteriormente, transferido para a Rua S.Pedro, em frente à Prefeitura. Finalmente, meu pai mudou o Cartório para a Praça Pe.Cicero, na Rua do Cruzeiro, onde está até hoje, depois  de uma grande reforma no prédio”.
SEU PRECIPÍCIO
Meu pai foi o editor por alguns anos do jornalzinho do Rotary Clube de Juazeiro. Recolho na edição de setembro de 1977 (Ano VX, nº L), exemplar de sua coleção, na palavra do presidente, Walter Menezes Barbosa, o seguinte texto que me serve para rechear de bons relatos, o humor que envolvia gente da Rua São José. Neste caso, os personagens são, sabidamente: Pe. Cícero, morador do casarão e um casal, ele afilhado do padrinho. Eis o que descreve Walter: “O casarão da rua São José apresentava o movimento de sempre. Uma quantidade considerável de pessoas se aglutinava em sua frente, aguardando o momento para falar com o Padre Cícero, naquela época, considerado o homem de maior prestígio pessoal do Brasil. Era gente vinda de todos os Estados do Nordeste brasileiro. Numa das salas de recepção, o Padre recebia um afilhado. O sacerdote tomara conhecimento de que o mesmo, como chefe de família que era, segundo informes da própria esposa, estava gastando todo salário, - como bom carpinteiro – no jogo, bebida e com mulheres, enquanto a família passava sérias privações. O Padre chamava a atenção do afilhado à razão com uma série de conselhos:
- Sim, senhor, seu camarada. Você em vez de trazer tranquilidade para o seu lar, está fazendo a sua esposa e filhos chorarem ! Em vez de dar a manutenção da casa, está gastando o salário com bebedeiras, mulheres e jogo ! Isso é proceder bem ? Será que você vai continuar levando tal vida ?!
Concluindo o diálogo, o Padre como bom psicólogo e conhecedor da têmpera do seu povo, chama a sua mordoma e diz:
- Joana, traga-me um rosário que está perto do meu breviário.
Ato contínuo, apanhando-o e colocando-o no pescoço do afilhado diz em tom grave:
- Se você tirar este rosário do pescoço para fazer o que não presta, você irá para o inferno; se fizer o que não presta com o rosário no pescoço, você irá o inferno.
A situação não era das melhores. O Padre com tais afirmações tinha fechadas todas as portas. Compreendendo o difícil momento, e sabendo que não iria se controlar, o afilhado, fitando o padrinho, tirando o rosário do pescoço, devolve-o, dizendo:
- Meu Padrinho, tome o seu PRECIPÍCIO.
(Obs. Esta historieta eu já havia transcrito, recolhendo da narrativa popular da Rua e a havia publicado num artigo de jornal, a propósito do livro Juazeiro Anedótico, de Raimundo Araújo. Na época, os identificados não eram marido e mulher, como aqui, mas um pai aflito e seu jovem filho, nas pessoas do Cel. Chita Fina e de João Tenório de Assis.)
UM CASO SINISTRO...
Numa das cartas que fiz a Senhorzinho Ribeiro, pedi-lhe que me contasse algo de pitoresco, ou estranho, acontecido na Rua São José. Em 02.04.2004 ele me respondeu contando o que denominou de “um caso sinistro na Rua São José”. Transcrevo o seu relato com fidelidade: “Na década de 30 aconteceu um fato que até hoje ninguém soube explicar. Esse acontecimento figurou muito tempo nas manchetes dos jornais. Chegou à cidade uma família vinda da Bahia constituída de cinco pessoas, ou seja, o casal e três filhos, uma garota e dois rapazes. Ele chamava-se Antonio de Sousa e era uma pessoa por demais sisuda, ensimesmada, de difícil relacionamento. A esposa, ao contrário, era simpática e muito delicada, atendia pelo nome de D. Toinha. Fixaram residência na rua São José, precisamente no trecho compreendido entre as ruas São Francisco e Cruzeiro. Ela logo fez amizade com os vizinhos e contava uma história que emocionava a todos. Dizia que eram rendeiros de uma fazenda no Estado da Bahia e, por desentendimento do esposo com o proprietário desta fazenda, foram despejados, sem direito a nenhuma indenização e ainda mais ameaçados de morte. Passados dois meses, desapareceu o Sr. Antônio, juntamente com seus dois filhos. A esposa ao ser interrogada sobre o paradeiro de seu marido e dos filhos justificava a ausência argumentando a necessidade imperiosa de fazerem uma viagem. Soube-se depois que o Sr. Antônio, juntamente com seus dois filhos, haviam tomado emprestado um caminhão de propriedade do Cel. Pedro Silvino de Alencar, que também morava na Rua São José. Juntaram alguns capangas e foram até a citada fazenda se vingar do antigo patrão. Soube-se também que desta emboscada resultou no assassinato do patrão, além de terem incendiado a fazenda. Posteriormente, o caminhão apareceu sem deixar nenhum rastro desse pessoal que sumiu assim por encanto. As polícias da Bahia, como a do Ceará, foram mobilizadas e tentaram fazer sua parte, mas foi em vão. Nenhuma pista foi vislumbrada que possibilitasse o esclarecimento desse mistério. D. Toinha e sua filha foram vigiadas noite e dia, causando temor aos moradores da Rua. Por conseguinte, passaram dificuldades de ordem financeira, no que foram ajudadas pelos seus vizinhos. Impossibilitadas de viver condignamente, resolveram buscar alento em seu Estado, ao lado da família. Este acontecimento ficou mentalizado na memória dos moradores da Rua São José, sem jamais ter sido desvendado.” Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 08.02.2017)             

BOM DIA! (40) Por Renato Casimiro
Infelizmente, já não consigo mais lembrar, se é que em algum tempo ele me referiu, as razões que levaram meu pai a ingressar no comércio. Sua atividade anterior, depois que deixara o Banco do Juazeiro, havia sido o negócio ambulante, vendendo joias, pelo interior da Bahia, mais precisamente, entre os municípios de Itabuna e Ilhéus até o norte do Espírito Santo. Era a zona forte da produção cacaueira e nisso corria muito dinheiro que atraia os fabricantes e vendedores de joias, dependentes das ourivesarias instaladas em Juazeiro que, dizem, chegou a 500 oficinas. Ele frequentava as festas pelo interior, visitando fazendas, das quais suas ricas proprietárias eram suas freguesas preferenciais. Não ia só. Minha mãe o acompanhava muito solidária à sua atividade comercial, porque ela se fez vendedora de produtos artesanais do Ceará, especialmente rendas vindas do Aracati. Periodicamente minha mãe ia até Fortaleza e aí se abastecia com alguém que fornecia produtos de altíssima qualidade, peças que eram disputadas pelas senhoras das fazendas de cacau. Inicialmente num velho jeep eles enfrentavam a viagem e o carro levava volumosa bagagem de malas contendo as rendas do Ceará. Foi esta atividade, sem dúvida, a que lhe ensejou os recursos financeiros e o primeiro traquejo para a nova empreitada. Aí por volta de julho de 1953, meu pai nos levou (minha mãe, Dida e eu) para umas férias na Paraíba, na Fazenda Carnaúba, do vovô Tonheiro. Ficamos, talvez, um mês inteiro. A viagem foi numa pequena camionete, de procedência francesa – Renault, cor de vinho, que meu pai adquirira na Bahia. Já quase decidido a deixar a vida de ambulante, que o levava a longas viagens afastado de casa, ele vendeu o carro no Recife e com o capital que havia reunido, desde a saída do Banco, aí fez as primeiras compras, tendo seguido depois para São Paulo.  Durante muitos anos meu pai cumpriu uma rotina de compras que incluía visitas aos centros de Campina Grande, Recife e São Paulo. Era por estas viagens que vinha a sua atualidade nos negócios, procurando renovar os estoques com o que se dizia mais moderno e da melhor procedência. O primeiro endereço do Centro Elétrico era Rua São Pedro, número 348. Isto ficava no que Dário Maia Coimbra denominava pelo CRP – Centro Regional de Publicidade, de quarteirão Sucesso. Era a quadra que ia da praça (Rua São Francisco) até a Rua da Conceição. O outro era o quarteirão Progresso, da Rua Conceição até à Rua Santa Luzia. Eu poderia descrever a vizinhança do Centro Elétrico pela citação dos estabelecimentos que existiam nos dois lados do quarteirão. Assim, no lado par estavam: As Pernambucanas (na esquina da Praça)(nº 330), Sinhá Augusto (Loja de Tecidos) (n° 346), Centro Elétrico (n°348), Casa Feijó (n°s 350/354), Casa Alencar (n° 360/368), Sorveteria Havaí (Guimarães) (n° 378), Aliança de Ouro (n° 390), Armazém 1º de Maio - Loja de Tecidos (Edinaldo Dantas Ribeiro)( n° 398), Casa Rosada (Vicente Teixeira de Macedo) (n° 402), Casa das Meias – Mário Vidal (n° 414), Casa Menezes (José Menezes Pereira) (n° 418) e Farmácia São Vicente (Manoel Gomes) (n° 424). No lado ímpar tínhamos: Farmácia Brasil (Belém & Cia – Dr. Manoel Belém de Figueiredo) (na esquina da Praça)( n° 333), Casa Sampaio (n° 337), (345), Uma loja (?), (n° 347) Casa Branca (Loja de tecidos de Antonio Ferreira Lima)( n° 353), A Simpatia (Loja de tecidos de José Gondim Lóssio) ( n°363), Sorveteria Rex (Manoel (Né) Pereira Cansanção, (nº 373) (depois Aliança de Ouro, nova loja), Salão Brasil (Sr. Manoel Alexandre) (n º379) Cine-Teatro Roulien, ( n° 389), (depois Casas Pessoa Filho, nos nºs 379/389), Sapataria Pe. Cícero (Loja de Material Esportivo (Seu Pereira) (n° 397), Expedito Ferreira Lima (Alfaiataria)/Loja de Confecções (“os Gregos” – Ulisses)( n° 401), Lateral do Armazém de Seu Eliseu Bispo (sem n°). 50 anos depois, eu comparei as alterações do quarteirão e constatei que do lado (par) do Centro Elétrico apareceram três novos imóveis, principalmente pela divisão do antigo endereço das Casas Pernambucanas. Do lado impar, ao contrário, desapareceram quatro imóveis, fundidos para o aparecimento de lojas maiores, como foi o caso mais notado da própria Pernambucanas, que foi para a esquina da Rua da Conceição. Os primeiros anos da vida do Centro Elétrico ainda foram tempos de descrença com o velho projeto de eletrificação do Cariri. Por esta época, com o entusiasmo de Hildegardo Belém de Figueiredo, Odílio Figueiredo, Antonio Corrêa Celestino e outros, foi criada a Soelca, Sociedade de Eletrificação do Cariri. Mais adiante, veio para substituí-la a Celca, Companhia de Eletrificação do Cariri. Então o sonho ficou mais próximo e ficamos todos imaginando o que seria do Cariri, não só com superação daquela fase em que tínhamos eletricidade até 9 da noite, nos dias de domingo, ou nos dias de aniversário do prefeito. Essa história da Eletrificação ainda vai ser revista, pois, seguramente, naquele tempo não houve mudança mais significativa nos destinos do nosso desenvolvimento. No ramo de material elétrico, meu pai tratou de dispor em sua loja de um amplo sortimento de tudo que se necessitava para instalar energia elétrica em uma residência, numa loja, escritório, em qualquer parte. Havia também considerável empenho em oferecer boas alternativas para iluminação decorativa, sobretudo de residências, com lustres, pendentes, arandelas, plafonds, apliques, refletores, etc. E havia também uma linha diversificada de eletrodomésticos, onde se incluía: enceradeiras, batedeiras, bombas para água, ferros de engomar, aspiradores, liquidificadores, ventiladores. E tinha até bicicletas. Às vezes, por sair um pouco do ramo de eletricidade, a gente brincava: isto aqui ainda vai virar uma outra casa de variedades, numa alusão ao sortido estoque do nosso primo, José Lopes de Oliveira, famoso Seu Oliveira por sua loja na esquina da Praça Pe. Cícero. Mesmo iniciante, meu pai tinha um conhecimento razoável da atividade que abraçara. Particularmente no tocante aos seus fornecedores, ele se esforçou sempre para dotar o seu estoque do que havia de melhor na praça. E isto foi reconhecido sempre pelos eletricistas que procuravam nossa loja. Lembraria por vários anos as “grifes” de material elétrico através de marcas famosas, na época: Arbame, Mallory, Ficap, Lorenzeti, Osram, GE, Eletromar, Cristaleria Portugal, Metalúrgica Codo, Metalúrgica Luminar, Philips, Arno, etc. Destas, ele se destacou como revendedor Philips, na área de iluminação. Lamentei sempre que ele não desejasse alargar estes interesses, por exemplo, incluindo a linha de eletrônicos da Philips. Mesmo quando começaram os primeiros testes para a chegada de imagens de tv no Cariri, meu pai relutou e terminou por recomendar outro comerciante. Durante um dia de funcionamento da loja, havia a necessidade de energia elétrica para diversas atividades: testar aparelhos, lâmpadas, fazer pequenos consertos, etc. No primeiro endereço, a energia elétrica que alimentava o Centro Elétrico vinha de um gerador situado na Sorveteria de Né Cansanção. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 09.02.2017)             

BOM DIA! (41) Por Renato Casimiro
(Continuando a falar da loja comercial de meu pai.) Em 1956 o Centro Elétrico mudou para outro ponto na Rua São Pedro, 619, onde ficou até o seu encerramento em 1994. Nessa oportunidade, a energia elétrica necessária para ligar aparelhos, testar equipamentos, iluminação, etc , vinha de um gerador numa pequena indústria de Seu Lunga, na Rua São Paulo, a Canjiquinha Paulista que dentre outras coisas fazia massa para cuscuz, colorau, etc. Neste endereço, então pertencente à família de minha avó, Neném Soares, funcionou a sapataria de meu avô, Antonio Soares da Silva. O prédio vizinho, alugado do Sr. Manoel Balbino, meu pai usava para depósito de mercadorias. Durante vários anos ele desejou adquirir este imóvel, mas não foi possível, tendo sido passado para trás nas suas pretensões por uma pessoa de sua grande estima. Uma grande decepção que amargou. Foi aí que ele decidiu ampliar a loja, construindo um pavimento superior e é como se encontra hoje ainda, o que ele mesmo batizou de Edifício Santo Antonio. Ainda tenho na lembrança a primeira visita que fiz ao Centro Elétrico, pouco depois da sua inauguração. Deslumbrado com tudo aquilo, pois tinha pouco mais que quatro anos, tratei de pegar no que foi possível, e fui metendo o dedo até onde não devia. Veio daí o primeiro choque elétrico, com o dedo metido numa tomada que se instalara baixinha na parede. Foi inesquecível. Quando se aproximava o fim do ano, meu pai realizava o inventário da loja. Era o balanço. Tínhamos que contar e escriturar tudo que havia nas prateleiras e no depósito. Eram dois ou três dias de intensa atividade, onde se fazia uma faxina grande e muita coisa era limpa e rearrumada, aproveitando que púnhamos a casa pelo avesso. Meu pai era muito rigoroso e exigia que contássemos tudo, com precisão. Fossem lá grosas (doze dúzias) de parafusos, fosse cada uma das muitas peças do estoque. Na escrituração enchíamos perto de vinte páginas de papel almaço, escritas em lápis cópia, um tipo de lápis especial que meu pai não abria mão. Normalmente, eram os dias 30 e 31 de dezembro, além do primeiro do ano, os dias em que estávamos inteiramente dedicados a isto. Por diversas vezes minha mãe tentou demover meu pai destas datas para que tivéssemos a tranquilidade de uns dias, encerrando o ano. Ela alegava que os primeiros dias do ano seriam mais tranquilos, e isto quase nada alteraria o inventário. Mas, ele, irredutível, conservava o hábito e assim foi até o último de que teria participado, em dezembro de 1988. Na verdade, constava no registro perante a Junta Comercial do Ceará este condicionante e ele o cumpria, desse no que desse. Os negócios de meu pai, numericamente falando, sempre foram bem protegidos. Não sabíamos os valores de nada. Por exemplo: qual foi o apurado do dia, quanto pagou de impostos, quanto tem em banco, e até quanto custou cada mercadoria? Nada, isto não era assunto para meninos. Nos objetos à venda, havia uma etiqueta, ou uma marca na caixa. Uma letra C indicava o preço de custo, uma letra V mostrava o preço de venda. Anos mais tarde eu soube que meu pai usava a codificação cuja origem era a palavra “imperando”. I era 1, M era 2 e assim por diante, até que O era 9. X era o zero. E aí pude decodificar o que interessava. Mas, não havia mistério na sua filosofia e estrutura de custos: o preço de custo era o valor da nota fiscal, acrescido proporcionalmente dos valores de impostos, taxas e frete. O preço de venda era o custo mais 30%, e nunca mais que isto. As anotações ficavam meses, até ano e ele não as corrigia. Minha mãe, mais financista, recomendava: “Luiz, corrija os valores, você está perdendo dinheiro”. Mas, ele, recalcitrante, não mudava o disco: “Dora, eu não tenho como justificar a mudança”. E assim ficava. Meu pai era uma pessoa que me enchia de exemplos de como se tornar uma pessoa correta e honrada. Lembro que nestas ocasiões do inventário, dávamos por conta de que alguns itens estavam em número inferior ao esperado. Ele não se abalava com aquilo e ao final do balanço o encontrávamos tirando notas fiscais do material desaparecido, por cujas notas ele recolhia ao fisco estadual o respectivo imposto, como se tivesse ocorrido uma venda, normalmente. Este mesmo comportamento era demonstrado quando falávamos que uma lâmpada em casa havia queimado. Ele não só tirava a nota, como exigia que a levássemos junto ao pacote, pois “pode ser que nos apareça um fiscal”. Eu sempre fui um menino de recados para o Centro Elétrico. Das muitas funções, tinha que realizar pagamentos na rede bancária, apesar de tão poucos àquela época (Banco de Crédito Comercial, Banco do Juazeiro, Banco do Nordeste do Brasil e Banco do Brasil). E não era coisa muito simples, pois dava-se entrada no documento (a chamada duplicata), ainda cedo, pela manhã, na abertura do expediente, e se ficava esperando a tramitação pela carteira de cobrança, a receber rubricas e carimbos. Aí pela hora do almoço, ou até depois, vinha a chamada do caixa, que nos cobrava uma chapa metálica, numerada. Outra coisa era ir cobrar as dívidas de dezenas de clientes que, felizmente pagavam no primeiro contato. Outros, como não podia deixar de ter, demoravam um pouco mais, me fazendo voltar várias vezes, sob as mais deslavadas desculpas. E houve quem até hoje continua a dever ao Centro Elétrico. Mas, ia também para auxiliar nas compras, fazendo medidas e levantando lista de material, pela simples solicitação que amigos de meu pai faziam pelo telefone 354, da nossa Companhia Telefônica. Certamente que foi deste primeiro estágio probatório no Centro Elétrico que veio o meu entusiasmo por algo que me ligasse à eletricidade. Aos poucos, com o auxilio de meu pai eu fui aprendendo a realizar pequenos serviços, tais como trocar lâmpadas, substituir resistências queimadas de ferros elétricos, consertar ou mesmo fazer séries de Natal, instalar lâmpadas fluorescentes, fazer antenas para rádios, montar lustres, sobretudo o que eram de cristal, cheios de muitos detalhes e pingentes, ornando os diversos braços de lâmpadas. Sonhava em fazer curso de eletricidade por correspondência, até por escola no exterior. Meu pai, inclusive, incentivava muito. Um dia me levou no Ginásio Batista para falar com seu amigo Mr. Jim Wilson, para que fizesse o câmbio referente ao pagamento de um destes cursos nos Estados Unidos, a cargo da Hemphill Schools, se não estou enganado. Mas, já era muito caro e terminou não dando certo, mesmo. Alguns anos depois eu me iniciei num curso de Eletricista Instalador, pela Escola Técnica do Ceará, como parte de um programa de capacitação de jovens pelo interior. Recebi diploma e carteirinha. No dia a dia do Centro Elétrico, meu pai se cercava de alguns profissionais, eletricistas, com os quais ele podia atender às solicitações dos clientes que o procuravam para instalações, desde as mais simples, até construções mais imponentes. Lembrarei sempre deles e que atendiam pelos nomes de: Caroba (um paraibano que viera de Campina Grande e teve grande estima com meu pai), João Balbino (compadre de meu pai, que o visitava sempre e não perdia a festa da renovação do santo), Luiz Tavares (pai de meu amigo Vital, um eletricista refinado e muito responsável), Alemão (dos mais antigos, amigo da família, desde os idos de nossa morada na São Francisco, em frente a sua casa), 51 (o veterano de todos eles, boa praça e muito dedicado, bastando que fosse buscá-lo em casa, na Rua São Paulo), Sr. Antônio, também paraibano, que gostava de uma conversa longa que até esquecia de trabalhar, Zé Ferreira que tinha como hábito explicar mastigadinho o que ia fazer no cliente, Domingos, e tantos outros. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 10.02.2017)             

BOM DIA! (42) Por Renato Casimiro
De certa maneira, eu não estava esquecido de que nesse roteiro, obviamente, um pouco do bom humor dos moradores da Rua São José viria a ser revelado nestas histórias do cotidiano de um logradouro, felizmente tão pacato. Ao expor essa vontade ao meu amigo Agenor Pereira, recebi dias depois uma carta onde me satisfaz com as histórias que vão contadas a seguir. Agenor Pereira era escrevente no 1º Cartório onde Luiz Casimiro compareceu em 1949 para fazer o meu registro civil. Tenho comigo, ainda hoje esse documento, no original, bem conservado. Agenor subscreveu esse documento como testemunha do ato. Mas eu só fui conhecer Agenor mais de 50 anos depois. Ficamos amigos e, felizmente ainda o somos, porque Agenor mora no Rio de Janeiro e vez por outra tenho o prazer de suas notícias. Veja só o que me contou.
“Meu pai, Vicente Pereira da Silva, tabelião do 1º. Cartório de Registro Civil, atravessava a Praça Pe.Cicero em direção à delegacia de policia, levando consigo uma marmita de almoço. Surge, no sentido contrario, a “corte celeste” como eram chamados, Capitão Manoel Gonçalves de Araújo (Delegado), Dr. Juvêncio Joaquim de Santana (Juiz de Direito), Dr. Edward Teixeira Férrer (Promotor de Justiça) e Mons. Joviniano da Costa Barreto (Vigário). Todos param diante daquele quadro inusitado e Monsenhor, então pergunta: - Vicente, pra quem você está levando esse almoço ?  Meu pai responde: - Pro Valmir, meu filho, que está preso. - Valmir ? Preso ? O que foi que ele fez ? Meu pai responde: - Ele deu uma surra na rapariga do Capitão Araújo.”
“O Treze Esporte Clube jogava com o Fortaleza Esporte Clube, cujo atacante Idalino,  era o terror das defesas. Sem levar nenhuma vantagem nos lances, Ananias Araújo, grande zagueiro, fala pro seus botões: “Esse caba vai arrasar nosso time e antes que isto aconteça eu vou tirar ele de campo...” No primeiro lance, entre Ananias e Idalino, Ananias dá uma porrada no Idalino, que fica sem condições de continuar no jogo. Resultado, o Treze ganhou por 3x1 e viva ANANIAS.”
“Sebastião Florentino da Gama, Oficial de Justiça, cheirava rapé e fumava cachimbo, e era pouco chegado a banho. O mau cheiro que exalava do seu corpo, de longe se sentia. Meu irmão Expedito Pereira, então tabelião, aconselhava-o sempre a vestir roupa limpa e banhar-se pelo menos duas vezes por dia. Querendo atender os conselhos do Expedito, mas com uma gripe e uma catarreira dos demônios, Sebastião encontra Dr. Mozart Cardoso de Alencar e resolve fazer esta consulta: - “Seu doutor, faz mal tomar banho com catarro ?  Dr. Mozart responde: - Mal não faz, Sebastião, mas que é uma grande porcaria, isso é.”
“Uma hora da madrugada e meu pai, aos gritos, acorda os moradores da Rua São José mais próximos, entre eles Ananias Araújo. Meu pai acordou com um ladrão descendo por uma corda para o interior da sala de nossa casa. Ananias, valentão, corajoso e prestimoso, conseguiu amarrar uma faca num cabo de vassoura e cutucava o bumbum do ladrão gritando: Desce, seu fí dua iégua. O cara se arrancou até hoje.”
“Pelas salas de aula o diretor do Ginásio Salesiano São João Bosco, Pe. Paulo Candido Moneta, consultava os alunos: - “Alguém aqui sabe fazer rede para as traves de futebol ? O nêgo Balbino (Dr. Antonio Balbino) levanta o braço e me obriga a fazer o mesmo gesto dizendo: - “Nós sabemos, Pe. Paulo”. Na diretoria, com o Pe. Paulo, fizemos um rápido levantamento das despesas e o padre nos entrega o dinheiro. Fomos ao campo de futebol (hoje igreja dos franciscanos) e com a ajuda do vigia tivemos as primeiras aulas de como se faz as redes. O vigia com toda sua boa vontade nos ajudou e no espaço de 40 dias as redes estavam prontas. No final do ano, depois das respectivas provas, eu e o Balbino fomos reprovados. Chamados à sala da diretoria o Pe. Paulo nos dá um cagaço e pergunta: - Vocês não trabalham, vocês só estudam, porque foram reprovados ? E o Balbino responde: - Passamos 40 dias fazendo a rede para as traves do campo de futebol. Resultado: FOMOS APROVADOS.”
“O rancho de romeiros de Joaquim Mancinho estava superlotado. Romeiros nas quase 100 redes armadas num galpão e outros tantos deitados no chão, debaixo das redes. Maridos, mulheres e crianças ajuntados sem nenhuma condição de conforto. Lá pela madrugada, a romeira sentindo algo estranho pergunta pro marido: ZÉ, TÚ TÁ NÊU ?  - Eu não, responde o marido. E a mulher completa: -  ENTÃO, TÃO...”
“Dorgival Mendonça, marceneiro de primeira água, auxiliava seu pai, Antonio Avelino, na marcenaria situada na praça S.Vicente. Aproveitava as sobras de madeira para fazer e vender pequenos caminhões para a gurizada. A coisa pegou e em meio ao sucesso surgiu um problema: onde arranjar flandres para fazer as cabines dos caminhões? Dorgival gritou: -  “EUREKA” ...e lançou a campanha: QUEM TROUXER 20 RECLAMES DE EMULSÃO DE SCOTT, SPALT OU ASSEPTOL, tem um desconto de 50%. A loja do Dorgival superlotou e as paredes das casas das esquinas ficaram esburacadas ...”
“Encontrei Lalá Mendonça no abrigo central da praça do Ferreira, em Fortaleza, gritando eufórico para mim:
- Agenor, tomei banho no Oceano Atlântico ...”
“Num sarau dançante no Treze Atlético Juazeirense, Dalva Mendonça aproxima-se de minha mesa e me pede para tirá-la pra dançar, pois queria provocar ciúmes no seu paquera. Dito e feito, Dalva dirigiu-se ao salão de dança levando-me para próximo ao fulano, que em tom zombeteiro exclamou: Dançando com vovô, Dalva ?  A resposta veio na hora: - É, tô sentindo nas coxas o que não sinto dançando contigo.”
“Uma queda de bicicleta na velha ponte do Rio Salgadinho, feriu estupidamente minha perna. Curativos e mais curativos feitos por Dade sem resultados, e o ferimento passou a exalar mau cheiro. Meu pai levou-me ao Dr. Mozart que, depois de um demorado exame foi taxativo: - “Vamos ter que amputar a perna do rapaz”. Minha irmã, Stela, morava em Fortaleza e veio me pegar em Juazeiro para tratamento em Fortaleza. Dr. Costa Araújo era o meu medico, cuja receita foi simplesmente tomar banho de mar todos os dias, de preferência pela manhã. Ao cabo de 60 dias eu estava curado e retornei a Juazeiro. Meu pai, louco de raiva com a opinião de Dr.Mozart leva-me ao seu consultório e solta os cachorro em cima do bom médico, que depois de ouvir meu relato vira-se para o meu pai e, tranquilamente, diz: - PEREIRA, JUAZEIRO NÃO TEM MAR...”
“Mr. Edward Mclain, pastor batista, chega a Juazeiro para lançamento de sua igreja e como falava muito mal nosso idioma, minha irmã Nazaré foi ser sua professora. As aulas eram em nossa casa. Mr. Edward percebeu que nossa casa era muito limpa e não tinha baratas, e que a casa que ele alugou tinha barata por todos os lados. Nazaré acrescentou que no quintal de nossa casa aparecia sempre sapos, que devoravam as baratas. Mr.Edward, então, ainda com dificuldade de se comunicar apelou: - Dona Nazaré manda sapo teu comer barata meu.” Bom dia.

O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI

BIBLIOCINE (FAP, JN)
A Faculdade Paraiso do Ceará (FAPCE) está incluída no circuito alternativo de cinema do Cariri, embora seja restrito aos alunos desta Faculdade. As sessões são programadas para as terças e quintas feiras, nos horários de 12:00h e 17:00h, na Sala de Vídeo da Biblioteca, na Rua da Conceição, 1228, Bairro São Miguel. Informações pelo telefone: 3512.3299. Neste mês de Fevereiro, nos dias 14 e 16, 21 e 23, estará em cartaz, o filme O CAVALEIRO SOLITÁRIO (The Lone Ranger, EUA, 2013, 149min). Direção de Gore Verbinski. Sinopse: Colby, Texas, 1869. John Reid (Armie Hammer) é um advogado que acaba de retornar à sua cidade-natal, onde vive seu irmão Dan (James Badge Dale), a cunhada Rebecca (Ruth Wilson) e o sobrinho Danny (Bryant Prince). John está disposto a cumprir a justiça ao pé da letra, levando os criminosos ao tribunal, apesar da resistência local. Ao acompanhar o irmão e outros Texas Rangers em uma patrulha pelo deserto, o grupo é atacado pelos capangas de Butch Cavendish (William Fichtner), um bandido que tem a fama de comer carne humana. Todos são assassinados, com exceção de John, que fica à beira da morte. O índio Tonto (Johnny Depp) o encontra e, ao perceber que um cavalo branco escolhe John, passa a ajudá-lo. Tonto acredita que John foi escolhido por um mensageiro espiritual e que, como voltou da morte, não pode mais ser morto. A partir de então John passa a usar uma máscara e, ao lado de Tonto, faz de tudo para reencontrar Cavendish.

CINE CAFÉ VOLANTE (MISSÃO VELHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Missão Velha (Auditório do Centro Social Urbano, CSU), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 16, quinta feira, às 19 horas, o filme AS HORAS (The Hours, EUA, 2002, 114min). Direção de Stephen Daldry. Sinopse: Em três períodos diferentes, vivem três mulheres ligadas ao livro Mrs. Dalloway. Em 1923, vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e ideias de suicídio. Em 1951, vive Laura Brown (Jullianne Moore)), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais, vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com AIDS e morrendo.  

CINE CAFÉ VOLANTE (BARBALHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Barbalha (Auditório da Faculdade de Medicina, FAMED-UFCA), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 17.02, sexta feira, às 19 horas, o filme A LULA E A BALEIA (The Squid and the whale, EUA, 2005, 81min). Direção de Noah Baumbac. Sinopse: Brooklyn, 1986. Bernard Berkman (Jeff Daniels) já foi um romancista de grande sucesso, sendo que sua esposa Joan (Laura Linney) começa a despontar na área. Tanto Bernard quanto Joan já desistiram de seu casamento, com ambos deixando seus filhos, Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline), à própria sorte. Para Walt esta situação serve como aprendizado e amadurecimento, mas para Frank trata-se de uma transição complicada pela qual será obrigado a passar.  

CINE CAFÉ VOLANTE (NOVA OLINDA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Nova Olinda (Fundação Casa Grande), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 17, sexta feira, às 19 horas, o filme O RESGATE DO SOLDADO RYAN (Saving Private Ryan, EUA, 1998, 169min). Direção de Steven Spielberg. Sinopse: Ao desembarcar na Normandia, no dia 6 de junho de 1944, capitão Miller (Tom Hanks) recebe a missão de comandar um grupo do segundo batalhão para o resgate do soldado James Ryan, caçula de quatro irmãos, dentre os quais três morreram em combate. Por ordens do chefe George C. Marshall, eles precisam procurar o soldado e garantir o seu retorno, com vida, para casa.   

CINE ELDORADO (JN)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no próximo dia 17, sexta feira, às 20 horas, dentro da programação, na Terceira Sexta Feira do mês, com Filmes Inesquecíveis; exibirá o filme DIO COME TI AMO (Dio, Come Ti Amo. Itália, 1966, 107min). Direção de Miguel Iglesias. Sinopse: Gigliola é uma jovem e humilde nadadora que concorre em uma competição na Espanha e acaba se apaixonando pelo noivo de sua melhor amiga. Mas quando eles vêm visitá-la na Itália, ela finge ser rica, com a cumplicidade dos pais.

CINE CAFÉ (CCBNB, JN)

O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 18, sábado, às 17:30 horas, o filme FEITIÇO da lua (Moonstruck, EUA, 1987, 102min). Direção de Norman Jewson. Sinopse: A viúva Loretta Castorini (Cher) concorda em se casar com o insosso Johnny Cammareri (Danny Aiello), mas quando conhece o futuro cunhado Ronny (Nicolas Cage), um temperamental padeiro, apaixona-se.