sexta-feira, 29 de setembro de 2017


BOM DIA! (I)
A INDUSTRIALIZAÇÃO DO CARIRI (III)
Por Renato Casimiro

Tenho referido nesses textos muita coisa referente à Universidade do Ceará (UC). Convém breve explicação sobre essa nomenclatura. Interessante é observar que o primeiro posicionamento favorável à criação da UC vem de um médico juazeirense, residente no Rio de janeiro e deputado federal. Antonio Martins Filho afirma em suas memórias que, no ano de 1944, o Dr. Antônio Xavier de Oliveira encaminhou ao Ministério da Educação e Saúde (na época era assim), um relatório sobre a federalização da Faculdade de Direito do Ceará. Naquele documento foi mencionada a ideia da criação de uma universidade com sede em Fortaleza, sendo esta a primeira vez que o importante assunto foi ventilado em documento oficial. A UC nasceu em 1954 da federalização da Faculdades de Direito, Medicina, Agronomia e Engenharia. A Reforma Universitária de 1968 (Lei nº 5.540/1968), além de consolidar o novo nome, Universidade Federal do Ceará (UFC) pode ser referida, também, por substanciais alterações como: a abolição da cátedra vitalícia; a implantação do sistema de institutos em substituição a faculdades; a instituição do departamento como unidade mínima de ensino e pesquisa; a organização do currículo em etapas básica e de formação profissional; a flexibilidade do currículo e sistema de créditos; e a criação de colegiados horizontais nas faculdades institutos e departamentos. Antes disso, em meados de 1966, durante o I Encontro de Investidores do Nordeste, em Fortaleza, o reitor da Universidade do Ceará, prof. Antonio Martins Filho, fez uma ampla exposição acerca de como estava o Projeto Morris Asimow no Ceará, até aquela data. Historiou minuciosamente todas as etapas que contaram com o apoio incondicional da Universidade do Ceará, tanto para institucionalizar quanto para dinamizar suas ações, dentro do propósito filosófico da UC, que se constituía, aliás, ainda se constitui, em “...evoluir do e para o Universal pelo Regional”. Sobre as empresas industriais incluídas no Projeto Morris Asimow, Martins Filho relaciona os diversos status em que se encontram naquela oportunidade: 1. Projeto implantado, com assistência técnica, para as firmas: Cerâmica do Cariri S.A. – CECASA, em Barbalha, (já produzindo tijolos, telhas, manilhas e outros materiais cerâmicos vermelhos, adotando moderna tecnologia); Indústria Eletromáquinas S.A., em Juazeiro do Norte, (já produzindo rádios transistorizados, enquanto se prepara para a produção de pequenos motores); 2. Projeto econômico e assistência técnica para a LUNA S.A. Indústria de Calçados, em Juazeiro do Norte, (já produzindo sapatos e vendendo em todo o Nordeste); 3. Projeto de assistência técnica para a Indústria e Moagens do Cariri S.A. – IMOCASA, em Crato, (a ser inaugurada dentro de um mês); 4. Estudo de exequibilidade e anteprojeto para as seguintes empresas: Indústria Barbalhense de Cimento Portland S.A. – IBACIP, em Barbalha, (que produzirá cimento Portland comum); Indústria de Alimentos Enlatados S.A. – INAESA, em Juazeiro do Norte, para a industrialização de frutos da região; POLITEX – Indústria e Comércio S.A., em Juazeiro do Norte, para a fabricação de madeiras prensadas; Sociedade Agropecuária Ltda. – SAPEL, localizada em Capistrano-CE, já em funcionamento, para desenvolver a suinocultura, com abatedouro e duas outras unidades em Mangabeira (Lavras) e Sobral; Companhia Sobralense de Material de Construção – COSMAC, em instalação em Sobral-CE; Laticínios Sobralenses S.A. – LASSA, com projeto já concluído e assistência jurídica; e também uma indústria de beneficiamento de castanha de caju, em Sobral-CE. (que seria no futuro a Indústria Sobralense de Castanha de Caju S.A. – INCASSA). Ao lado desse folha imensa de realizações, a Universidade também contabilizava, não só o seu melhor equipamento com a criação de novos organismos, como o CETREDE (Centro de Treinamento em Desenvolvimento Econômico Regional (até hoje existente na UFC), com o apoio da Organização dos Estados Americanos – OEA, responsável pela realização de treinamentos, a nível superior, e de pós graduação, com técnicos brasileiros, especialmente vindos do interior, das regiões onde seriam instaladas as empresas, mas também dos EUA. Uma dessas atividades era o curso de Administração de Empresas destinado a mais de cinquenta empresários do Cariri e da zona Norte do Estado. Quase ao mesmo tempo da criação do CETREDE, a Universidade decidiu fundar também, em 1962, o Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste (CAEN), ligado à Faculdade de Ciências Econômicas que havia sido federalizada e anexa à UC. O CAEN recebeu apoio financeiro da Fundação Ford, da Sudene e da USAID e com isso foi possível apoiar o Projeto Morris Asimow com respeito a formação de pessoal local destinado à gestão das empresas que seriam implantadas. A Universidade também continuou realizando pesquisas de base voltadas para os condicionantes socioeconômicos e geoeconômicos das regiões onde atuava o Projeto Morris Asimow, bem como para a identificação de oportunidades industriais com cana de açúcar, palha de carnaúba, etc. Entre 1964 e 1966, pelo menos, o Projeto Morris Asimow tinha uma ampla repercussão no Estado do Ceará, especialmente, como vimos, nas zonas Sul (Cariri) e Norte (Sobral). Esse desempenho do Projeto era realizado com uma equipe formada por técnicos cearenses e por cinco professores da Universidade da Califórnia, todos com formação de pós-graduação, em nível de PhD, coordenados pelo prof. Asimow. O prof. Asimow, por exemplo, de tão notório, já havia sido homenageado com duas honrarias: Em 27.08.1964 foi agraciado com o título de Cidadão Cearense, pela Assembleia Legislativa do Estado, e em 18.05.1965 a UC lhe outorgara o título de Doutor Honoris Causa. Entre os meados dos anos 60 e o final da década, uma simples passagem de vista nos jornais do Cariri já seria suficiente para identificar a onda de desenvolvimento que a região já vinha experimentando intensamente. Nas páginas do principal periódico semanal de Juazeiro do Norte era comum a estampagem de convocações para assembleias das S.As., a publicação de seus balanços com resultados satisfatórios, a veiculação de publicidade de seus produtos e o noticiário sobre novos investimentos que iam se fazendo, além da presença de novas empresas entre comércio, indústria e serviços. Tudo era novidade, como a chegada de novas aeronaves tipo turbo-hélice, ligando o Cariri aos principais centros do pais, e o que já se falava da Universidade para a região, a chegada definitiva da imagem televisiva e tantas outras boas novas que enchiam de entusiasmo o povo esperançoso do Cariri. Afinal, como dizia o “reclame” na página de Tribuna de Juazeiro, por aquele tempo, ao ligar um rádio TRANSMAK, em sua casa era para se ter a sensação de que “O Mundo é todo seu, em música e em notícia.” 

Na foto: Publicidade das Industrias Eletromáquinas S.A. IESA, estampada no jornal Tribuna de Juazeiro, entre agosto e dezembro de 1967.

BOM DIA! (II)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (I)
Por Renato Casimiro
Já não é muito difícil encontrar informações sobre a vida e a obra de quem já foi considerado um dos gênios da radiofonia brasileira, Lourival Marques de Melo. Portais de buscas na web irão revelar um número crescente desses dados, ainda sendo a maioria resultado de uma garimpagem muito fina para retirar de textos diversos, especialmente sobre a radiodifusão, onde Lourival trabalhou longamente. Conveniente é localizá-lo inicialmente no Juazeiro onde tudo isso se iniciou. Minhas primeiras fontes foram Doralice Soares, minha mãe, e sua querida amiga, minha amiga também Assunção Gonçalves, que foram colegas em bancos escolares, no Grupo Escolar Pe. Cícero, aí pelo final dos anos 20 até muitos anos adiante, quando Lourival, já residente no Rio de Janeiro, voltava para visitar sua terra. Dessas poucas informações, mas sempre recheadas por depoimentos alegres, festivos, sobre uma mente brilhante, privilegiadíssima, de quem se iniciara aqui na radiofonia, pelo serviço de autofalantes do velho Cine Teatro Roulien, sequenciando-se no Centro Regional de Publicidade. Lourival Marques de Melo nasceu em Juazeiro do Norte, filho de Maria da Conceição de Melo Marques e Sebastião Marques dos Santos. Conheci ambos. Dona Conceição já muito idosa, então residente no endereço da Rua Pe. Cícero, na primeira, uma das poucas casas que havia entre o Círculo Operário e a Igreja-Matriz, todas hoje inexistentes, porque adquiridas pela Basílica foram modificadas para abrigar os diversos serviços da Paróquia. Lourival Marques de Melo nasceu no Joazeiro em 5 de novembro de 1915. Sua formação básica aconteceu como aluno de Amália Xavier de Oliveira, no Grupo Escolar Padre Cícero, quando em 1929 recebeu o certificado do Curso Primário, em solenidade presidida pelo Padre Cícero. Da relação familiar entre nós, bem depois que Lourival já estava residindo no Rio de Janeiro, havia a proximidade com Maria Alice, sua irmã, e mãe do amigo de juventude, Valderi Marques, com quem estivemos na Escola Normal, no final dos anos 50. Então era uma família muito pequena, entre dona Conceição, Maria Alice e seus dois filhos, Vânia e Valderi. Pelo final dos anos 60, residindo em Fortaleza, conheci Sebastião Marques, seu pai, que me foi apresentado por Ananias Eleutério de Figueiredo, de tradicional família juazeirense, então contador das empresas do grupo Jereissati. Ananias dispensava a Sebastião Marques o tratamento de grande jornalista. De fato, “Sebasto”, de quem me falaria Amália Xavier de Oliveira, em diversas ocasiões, tinha tido algumas incursões no jornalismo local, de onde depreendo que foi a fonte primeira de inspiração para Lourival seguir seu curso e vocação de comunicador. Nessa primeira vivência, é para se lembrar pelo menos uma dessas menções obrigatórias para Sebasto, através da editoração do jornal O Dia, periódico lítero-humorístico, noticioso e de propaganda do “Crédito Mútuo Predial”, cuja primeira circulação (Primeiro Número), é de 05.05.1924, dirigido por Sebastião Marques, que tinha sua redação na Rua São Pedro, 11, era de pequeno porte, em 4 páginas, nas dimensões de 22cm x 32cm, e tinha uma periodicidade quinzenal (circulava nos dias 6 e 20 de cada mês). Dele tenho apenas uma imagem fotográfica da primeira página da primeira edição, obtida na Coleção do jornalista Oswaldo Araújo, em Fortaleza, e hoje sob a guarda da hemeroteca da Associação Cearense de Imprensa. Contudo, há uma bela fotografia, provavelmente de 06.11.1921, de uma reunião no sítio das Malvas, da família de Josias da Franca, oportunidade na qual José Santino Xavier de Oliveira lança festivamente o jornal O Pharol (Humorístico-Littero-Noticioso. Colaboradores: diversos (aí incluindo Sebastião Marques e outros, que produziam as matérias), nas dimensões de 28,0cm x 38,0cm, com periodicidade semanal, aos domingos; “Acceitaremos collaboração que não excêda de trez tiras de papel almasso. Os collaboradores podem usar pseudonymos. Não se devolvem originaes, ainda mesmo não publicados. Toda correspondência deverá ser dirigida ao Director d' Pharol - Santino de Oliveira, em seu gabinete á Avenida dr. Floro, no Grêmio Littero José Marrocos. E' nosso representante, no Crato, o distincto moço José Gondim de Mattos, a quem está confiada a segunda página do nosso jornal, intitulada - O Pharol no Crato. Assignaturas: Anno (8$000); Semestre (5$000); avulso ($200). Sebasto era colaborador desse jornal, produzindo matérias. Infelizmente o jornal durou muito pouco, cumprindo apenas 5 edições, entre 06.11.1921 e 11.12.1921. Não se tem maiores informações sobre a vida de Lourival entre 1929 e 1934. Em 1934, com 19 anos, exatamente no dia 20 de julho, Lourival foi um dos habitantes de Joazeiro que sofreram duramente com a notícia e a realidade da morte do Padre Cícero, vivida com o desespero das pessoas na rua. Testemunhando isto, ele legou à posteridade um texto muito importante sobre esse momento, narrando o que observara da janela de sua casa, bem junto à igreja: “Acordei pelo tropel de gente que corria pela rua. Fiquei sem saber a que atribuir aquelas carreiras insólitas. Quando cheguei à janela tive a impressão de que alguma coisa monstruosa sucedia na cidade. Que espetáculo horroroso, esse de milhares de pessoas alucinadas, correndo pelas ruas afora, chorando, gritando, arrepelando-se... Foi então que se soube... O Padre Cícero falecera... Eu, sem ser fanático, senti uma vontade louca de chorar, de sair aos gritos, como toda aquela gente, em direção à casa desse homem, que não teve igual em bondade e nem teve igual em ser caluniado. Um caudal de mais de 40 mil pessoas atropelava-se, esmagava-se na ânsia de chegar à casa do reverendo. O telégrafo transbordava de pessoas com telegramas para expedição, destinados a todas as cidades do Brasil. Para fazer ideia, é bastante dizer que só em telegramas, calcula-se ter gasto alguns contos de réis. Logo que os telegramas mais próximos chegaram ao destino, uma verdadeira romaria de dezenas de caminhões superlotados, milhares e milhares de pessoas a pé, marcharam para aqui. Joaseiro viveu e está vivendo horas que nem Londres, nem Nova Iorque viverão jamais... O povo, uma onda enorme, invadiu tudo, derrubando quem se interpôs de permeio, quebrando portas, passando por cima de tudo. Pediu-se reforço à polícia, mas o delegado recusou, alegando que o Padre era do povo e continuava a ser do povo. Arranjaram, no entanto, um meio de colocar o cadáver exposto na janela, a uma altura que ninguém pudesse alcançar e, durante todo o dia, várias pessoas encarregaram-se de tocar com galhos de mato, rosários, medalhas e outros objetos religiosos, no corpo, a fim de serem guardados como relíquias. Milhares de pessoas continuavam a chegar de todos os pontos, a pé, a cavalo, de automóvel, caminhão, de todas as formas possíveis. Quatro horas da tarde... Surge no céu o primeiro avião do exército. Depois outro. Lançam-se de ponta para baixo, em voos arriscadíssimos, passando a dois metros do telhado da casa do Padre Velho. Duram muito tempo os voos. É a homenagem sentida que os aviadores prestam ao grande vulto brasileiro que cai... Desceram depois no nosso campo, vindo pessoalmente trazer uma riquíssima coroa, em nome da aviação militar. A cidade é uma colmeia imensa; colmeia de 60 mil almas, aumentada por mais de 20 mil, que chegaram de fora. Nenhuma casa de comércio, de gênero algum, barbearias, cafés, bares, nada abriu. A Prefeitura decretou luto oficial por três dias. O mesmo imitaram as cidades do Crato, Barbalha e outras. Todas as sociedades e sindicatos têm o pavilhão nacional hasteado a meio-pau com uma faixa negra, em funeral. (20 de julho de 1934).” 

BOM DIA! (III)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (II)
Por Renato Casimiro


Vimos que com o grande transe da morte do patriarca de Juazeiro, Lourival Marques de Melo deixou por escrito uma página que já prenunciava o brilho de sua competência para a comunicação, para as letras e para o jornalismo. Isso não ficou sem uma percepção local, apesar de ter sido publicado em local ignorado, talvez um dos jornais da época, e chegado a nós por inserção em livro. Tanto que em 24 de agosto de 1934 o Prefeito Municipal de Juazeiro, tenente Porfírio de Lima Filho nomeia Lourival Marques de Melo, secretário interino da prefeitura. Quanto tempo ele permaneceu nessa função, não se sabe. No ano seguinte, em 1935, a cidade de Juazeiro passou a contar com mais um cinema, o Cine Teatro Roulien, cujo nome era uma homenagem a um dos brilhos da cinematografia, Raul Pepe Acolti Gil, conhecido como Raul Roulien, nascido no Rio de Janeiro em 08.10.1905 e falecido em São Paulo em 08.09.2000. Ele foi um foi um ator e diretor de cinema e teatro brasileiros, um dos primeiros a atuar em Hollywood. Citados por Paulo Machado, há três registros nos arquivos do Cartório Machado de Juazeiro do Norte. O primeiro, de 29.07.1935, é um contrato entre os irmãos Antonio e Olímpio Vieira de Almeida (Pimpim Almeida), Manoel Soares Couto e Antonio Gonçalves Pita, e corresponde a fundação do Cine Teatro Roulien. O segundo é outro contrato assinado no dia 7 de maio de 1936, entre as empresas Almeida & Cia. Ltda. e Lourenço Pontes & Cia. Ltda. para a exploração dos Cines Iracema e Roulien. O Iracema teria saído das mãos de Pelúsio e ainda funcionaria mais alguns anos. Quanto ao Roulien, a empresa Almeida & Cia. Ltda., em 22.05.1946, agora integrada por Antonio e Olímpio Vieira de Almeida, Antonio Pita e Edmundo Morais, passou a ser designada de Sociedade Almeida & Cia. Ltda., que inaugurará em 07.09.1947, o maior de todos os cinemas de Juazeiro – o Cine Eldorado, que irá funcionar na Rua Santa Luzia, com cerca de 800 lugares. Quando nasci em 1949, somente havia dois cinemas: o Roulien e o Eldorado. O Cine Teatro Roulien tinha 500 poltronas e seria fechado em 1958. Ainda sobre o nome Roulien, pessoalmente eu tenho a forte impressão que esse batismo foi coisa de Lourival Marques. Tanto que ele mesmo editou um jornal, e nem sabemos ao certo por quanto tempo. Era o Roulien Jornal, folha semanal de interesse cinematográfico, que circulou a partir de 09.05.1936, de pequeno tamanho, 4 páginas, 21cm x 32cm, e de periodicidade semanal, distribuído aos frequentadores do cinema. Num depoimento que me deu recentemente, Luiz Almeida (Recife), filho do fundador, Olímpio Almeida, Lourival foi contratado para ser o “diretor artístico”, digamos o organizador da pauta do cine teatro. E, seguramente, Lourival fez um belo trabalho pois lhe cabia a programação das exibições, a utilização da sala para outros eventos, como montagens teatrais, eventos de conferências, eventos de colação de grau, etc. Essa organização, herança de Lourival, ainda é bem percebida através das páginas do Correio de Juazeiro, jornal que circulava em 1949, quando Lourival já se ausentara da cidade indo residir no Rio de Janeiro. O jornal, semanalmente, por um ano, sua duração, então editado por Geraldo Menezes Barbosa, refere-se minuciosamente sobre essa pauta diária do Roulien, no que acredito, tenha sido viabilizado por Lourival. No ano seguinte, em 30.10.1937, Juazeiro ganhou um dos mais importantes equipamentos de comunicação de sua vida, pois foi fundado e passou a funcionar na Praça Alm. Alexandrino (depois Pe. Cícero), lado da Rua São Francisco, o Centro Regional de Publicidade (CRP), embrião de toda a comunicação radiofônica da região. Seus idealizadores foram Raymundo Gomes de Figueiredo e José Monteiro de Macedo. Mas do empreendimento outros nomes brilhantes figuraram: Dário Maia Coimbra, Antonio Fernandes Coimbra, Vicente Alves dos Santos (Coelho Alves), José Alceli Sobreira, Aderson Braz de Oliveira, Geraldo Menezes Barbosa, José de Sousa Menezes, José Carlos Pimentel e Silva, Leofredo Pereira, e outros. Foi no CRP que efetivamente Lourival Marques começou sua carreira radiofônica nesse ano de 1937, somando com os fundadores, os pioneiros mencionados. No auge de seu prestígio, o CRP contou com uma rede de 18 alto-falantes instalados nas principais esquinas e praças de Juazeiro do Norte, se constituindo, sem dúvida, no primeiro organismo difusor de música, cultura, notícias, comerciais e de utilidade publica da região do Cariri. Num dos seus depoimentos para a história dessa fase da comunicação de Juazeiro do Norte, Dário Maia Coimbra assim se expressou sobre Lourival Marques: '"Criou programas dignos de emissoras de rádio. Homem nascido para o ramo, Lourival lançou os programas "Galo Duro" (perguntas e respostas), por sinal em estilo instrutivo, "Hora do Calouro", "Teatro pelo Microfone" (com a participação da juventude juazeirense), constituindo-se numa verdadeira escola-teatro, "Hora do Guri" e outros. Sua capacidade radiofônica foi logo vista pelos homens da capital, tanto assim que, em pouco tempo, foi chamado para a Ceará Rádio Clube de Fortaleza.” De fato, por seis anos Lourival se dividia entre o CRP, Cine Roulien e talvez a Prefeitura. A descoberta de seu valor pela radiofonia de Fortaleza o levou para a PRE-9. Lourival Marques foi encontrar no seu novo prefixo uma fase de grande emergência, pois a emissora estava em novo e moderno endereço, no centro da capital, com a direção artística de Dermival Costa Lima, egresso da radiofonia do sul do pais. Lourival fortaleceu a convicção local de que já poderiam implantar os primeiros programas de auditório da emissora, no então Edifício Diogo. A convivência de Lourival nessa época foi com grandes valores como Paulo Cabral de Araújo, Mozart Marinho, Eduardo Campos, João Ramos, Edson Martins e Antonio Maria de Araújo Moraes, que substituiria Dermival. Durante a permanência de Lourival na Ceará Radio Clube a emissora foi negociada com Assis Chateaubriand passando ao controle dos Diários Associados, em 11.01.1944. Antônio Maria juntamente com Lourival implantaram um alto padrão de qualidade na rádio, realizando um concurso de peças de radio teatro, com o tema "Os grandes processos da História", tendo como vencedor o texto Processo de Maria Antonieta, do jornalista Eduardo Campos. Aliás, Lourival e Antonio Maria já se conheciam, provavelmente ainda da Rádio Araripe do Crato, onde Maria trabalhou curto tempo. Eles voltariam a se encontrar em 1948 no Rio de Janeiro. Lourival na Mayrink Veiga e Maria na Radio Tupi. Maria ainda não era o grande compositor como se consagrou na música popular, mas era um extraordinário brasileiro, nascido em Pernambuco. Somente em 1952 viria o seu grande sucesso como compositor quando Nora Ney lançou o samba-canção Ninguém me ama, e o samba-acalanto Menino grande, que Antônio Maria produzira em parceria com Fernando Lobo. E tudo isso Lourival assistiria de camarote. Outro valor que veio a se reunir a Antonio Maria e Lourival Marques foi Aderson Braz que havia ficado substituindo Lourival no CRP. Na Ceará Radio Clube, Aderson Braz, face a sua experiência de locutor noticiarista no CRP, criou o famoso “Matutino PRE9” que ficou no ar religiosamente de segunda a sábado, por quase trinta anos. Em Fortaleza sua permanência não foi longa, talvez menos de dois anos, pois ele mesmo se determinou a vencer novos e maiores desafios, preferindo se transferir para o Rio de Janeiro em 1945. Tristemente, do que se tem escrito sobre a radiofonia do Ceará, pouco se menciona de Lourival Marques. Efetivamente, o reconhecimento ao seu grande valor estava ditado nas entrelinhas de que “ninguém é profeta em sua terra.” 
BOM DIA! (IV)
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (III)
Por Renato Casimiro
Lourival Marques chegou ao Rio de Janeiro em 1945. Egresso de uma emissora dos Diários Associados (Ceará Rádio Clube), esse foi o seu primeiro emprego que segundo notícias da própria imprensa não seria duradouro, pois logo lhe fizeram melhor proposta e ele mudou de prefixo, indo para a Rádio Globo, onde chegou a ocupar o cargo de Diretor Artístico. Mas em 1948 ele é contratado pela Rádio Mayrink Veiga. O estilo de Lourival era a do redator, do produtor, o criador de programas e escritor de novelas. Da Radio Mayrink Veiga, Lourival Marques passou para a Rádio Nacional. Numa breve e simplória entrevista concedida à Revista do Rádio, em 1949, Lourival se identifica por seu nome completo: Lourival Marques de Melo, nascido em Juazeiro do Padre Cícero, no Estado do Ceará, aos 05.11.1915. Relata brevemente que sua primeira produção radiofônica, já no Rio de Janeiro, foi Recordações em Desfile, que escreveu em 1945, dizendo também que já tinha escrito mais de vinte propostas de programas, dos quais o maior sucesso foi No Mundo da Carochinha, e a que teve menos sucesso foram várias, não sabia precisar. De tudo que fez, ele prefere A Enciclopédia pelo Som, que ainda está para ser concluída. Das pequenas curiosidades que procuram saber a seu respeito, diz que não tem hábito de fumar, preferia escrever sozinho, à maquina, não tendo secretária, sempre trabalhando bem durante o dia. Ao ser indagado se assistia os programas que produzia, afirma um prosaico: “Deus me livre”. Confessou que escrevia em todos os gêneros, como novela, musicais, variedades, etc. Não se considerava bem pago e continuava esperando que isso acontecesse. Citou José Mauro como um grande produtor. Afirmou que estava escrevendo a sua quarta novela e que escrevia diariamente para o Rádio, exclusivamente por dinheiro. Em 1953, a Rio Gráfica e Editora, dirigida por Roberto Marinho, Henrique Pongeti e Moisés Weltman começou a publicar a revista Radiolândia, em cujo primeiro número já constava Lourival Marques como colaborador. A revista era dirigida aos “radio-fans”. Nesse número se dá conta da intensa atividade de Lourival com a produção de programas como Radio Almanaque Kolynos, alternando-se com Haroldo Barbosa. Mas não era só. Lourival estava brilhando já na Rádio Nacional com o Seu Criado, Obrigado, recordista de correspondência em toda a emissora, além dos demais programas, Canção da Lembrança, De Conversa em Conversa, e vários outros. Polivalente em tudo que fazia pela comunicação, também nesse número se encontra a sua grande contribuição para o conhecimento dos melhores valores da radiofonia. A sua coluna na revista era Dicionário da Gente de Radio, com a qual, em substanciosa página ele ia biografando radio atores (como Telmo Avelar, Ribeiro Fortes e Manuel Brandão), radio atrizes (como Lúcia Delor), músicos (como Edu da Gaita), cantores (como Heleninha Costa), etc. A Radiolândia, inclusive, abria espaço para que Lourival transcrevesse textos do Seu Criado, Obrigado, uma seleção das mais interessantes perguntas dirigidas ao programa, na época conduzido por César Ladeira e Nilza Magrassi. Mas o trabalho de Lourival ia além, chegava a São Paulo, pois a Nacional Paulista que apresentava Seu Criado, Obrigado, nas vozes de Walter Forster e Iara Lins, passou também a apresentar seu programa De Conversa em Conversa. Nos bastidores era o que se comentava: Lourival era o homem que trabalhava como poucos. Nessa fase do início dos anos 50, Lourival Marques realizava muitos programas. Na memória da Radio Nacional, por exemplo, são citados: Bahia dos Meus Amores, A Música e o Dia, Gente que faz a Gente Cantar, Rádio Revista, Dicionário de Extremos, Brasil, Pais dos Mil Ritmos, Em Cima do Fato, etc. Mas dois deles se destacavam: A Canção da Lembrança, com o qual ele focalizava as músicas dos filmes famosos. Durante a apresentação eram comentados os filmes a que pertenciam cada música, dando alguma informação sobre os artistas. O programa era transmitido pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro às terças feiras, no horário de 21:35h, no período de 24.02.1953 a 09.02.1954. O outro era uma série denominada Depoimentos. Esta série incluía o que se constituiu na melhor documentação jamais reunida para servir de subsídios a quem desejar contar a verdadeira história da Rádio Nacional, em particular e a do rádio em geral. Todos os depoimentos constantes desta série foram obtidos por Lourival Marques para serem utilizados nos programas que ele escreveu por ocasião das comemorações do quadragésimo aniversário da emissora. Na época foram ouvidos: José Mauro, Haroldo Barbosa, Paulo Tapajós, Radamés Gnattali, Alberto Lazzoli, Maestro Chiquinho, Luciano Perrone, Amaral Gurgel, Giuseppe Ghiaroni, Floriano Faissal, Saint Clair Lopes, Edmo do Valle, Silvino Neto, Brandão Filho, César de Alencar, Manoel Barcelos, Antônio Cordeiro, Ruy Rey, Jorge Veiga e Jorge Fernandes. A todos, Lourival pedia inicialmente que eles falassem de si mesmos, antes de chegar a Rádio Nacional e só na parte final cada um falava de sua participação na emissora. Há casos sensacionais e passagens da maior dramaticidade e também da maior hilaridade com os humoristas entrevistados. No início de 1954 Lourival passou a escrever o programa Esso Agrícola, com variedade sobre a vida rural. Nesse ano, sintonizado com os interesses da radiofonia e principalmente dos fãs, Lourival passou a produzir um programa para os novos valores da canção, denominado “Em Primeira Audição”. Lourival continuava como um dos grandes campeões de correspondências, pois em 1953, sua média mensal era de quase 19 mil cartas recebidas. Lourival era um profissional generoso. Percebe-se isso nas edições do seu Dicionário da Gente do Rádio, quando biografa seus colegas, inclusive os cearenses com os quais ele privou intimamente. Vejamos o que ele diz sobre Coelho Alves, seu colega de CRP, na Radiolândia (edição 9, 1954): Alves, Coelho – Locutor e redator de rádio nascido em Crato, Estado do Ceará, a 11 de dezembro de 1924. Estreou no microfone em 1943 a convite de um amigo, como locutor-auxiliar no S.A.F. (Serviço de Anúncios Falados), amplificadora da cidade de Missão Velha, no interior cearense. Em 1944 transferiu-se para o Centro Regional de Anúncios Falados de Juazeiro do Norte. Em 1947 fez um teste na Ceará Radio Clube a convite de Paulo Cabral, sendo aprovado, mas não contratado, por questões financeiras. Em 1948 foi convidado pela Rádio Iracema de Fortaleza indo para a capital cearense fazer um estágio. Em 1951, inaugurada a Rádio Iracema de Juazeiro, nela ingressou como locutor-chefe e mais tarde como diretor artístico. Além de locutor é radio ator, desempenhando papéis dramáticos em novelas e peças de radio teatro. (Bem, pequena consideração ao que Lourival afirma. Serviço de Anúncios Falados era algo como o CRP, que ele havia fundado, tanto aqui como em Missão Velha.)

BOM DIA!
LOURIVAL MARQUES, SEU CRIADO, OBRIGADO! (IV)
Por Renato Casimiro
A Associação Brasileira do Rádio através da sua filiada Revista do Rádio, do Rio de Janeiro, promovia no início de cada ano um concurso para a escolha dos melhores do ano anterior. Em 1955, para a proclamação dos melhores de 1954, o certame envolveu cerca de 65 jornalistas num pleito sensacional e com uma disputa entre os melhores de várias categorias como nunca visto antes. O veredito foi dado por jornalistas muito conceituados, tais como Brício de Abreu, Nestor de Holanda, Jurandir Chamusca, Ari Gil, Manoel Sardinha, Manoel Barcelos, João Melo, Alziro Zarur e David Nasser, dentre outros. O resultado final para as diversas categorias foi o seguinte: Cantor: Nelson Gonçalves; Cantora: Angela Maria; Locutor: Heron Domingues; Locutora: Lúcia Helena; Radioator: Floriano Faissal; Radioatriz: Olga Nobre; Cômico: Antonio Carlos; Novelista: Moisés Weltman; Animador: César de Alencar; Locutor esportivo: Luis Mendes; Rádio repórter: Rubens Amaral; Compositor: Herivelto Martins e Produtor: LOURIVAL MARQUES. Mas ao lado dessa indicação e consagração pela crítica especializada, de dentro do setor, entre profissionais experimentados, a Revista do Rádio também fazia uma enquete pública e recebia muitos milhares de correspondências com os votos dos leitores, tanto do Rio de Janeiro, como de cidades do interior e até mesmo do exterior. Nesse ano, chegaram exatos 742.714 votos em cartas do Rio de Janeiro (338.798), do interior (402.773) e do estrangeiro (2.143). O resultado não é exatamente o mesmo do concurso anterior, pois não são as mesmas categorias da crítica profissional. Foi o seguintes: Cantor: Francisco Carlos; Cantora: Emilinha Borba; Locutor: César de Alencar; Radioator: Celso Guimarães; Radioatriz: Isis de Oliveira; Programa com Concurso: Gente que Brilha; Programa sem Concurso: Seu Criado, Obrigado, (escrito por Lourival Marques). No escrutínio para Produtor, todos os votados pela ordem foram: Paulo Roberto, Nestor de Holanda, Renato Murce, Fernando Lobo, LOURIVAL MARQUES, Oranice Franco, Amaral Gurgel, Ghiaroni, Hélio de Soveral e Carlos Gutemberg. As categorias: Cômico / Locutora / Novelista / Animador / Locutor esportivo / Rádio repórter e Compositor: não eram votados. Lourival Marques ficou em quinto lugar como produtor, mas o seu programa, Seu Criado Obrigado, foi o escolhido. Isso confirmava o favoritismo manifestado ao longo de todo o ano de 1954, quando o programa recebeu mais de 172 mil cartas de ouvintes. Após ter sido proclamado vencedor do concurso anual para a escolha dos melhore do rádio brasileiro, na categoria de Produtor, Lourival Marques de Melo foi procurado pelo repórter da Revista do Rádio e deu a seguinte entrevista:

De onde vem os discos voadores, na sua opinião? R: Acredito que sejam de outro planeta. Existem bilhões de mundos, não é verdade? Por que somente nós pensaríamos em viagens interplanetárias?

O que acha da poesia moderna? R: Não gosto.

Acredita na Evolução política do Brasil? R: Acredito, apesar de não acreditar nos homens.

Qual a maior personalidade atual de todo o mundo? R: Helen Keller.

Os Institutos de Previdência estão cumprindo suas finalidades? R: Jamais cumpriram.

Quais os escritores que mais aprecia? R: Entre os nacionais, Machado de Assis, Lima Barreto e Raquel de Queiroz. Entre os estrangeiros, prefiro Somerset Maugham.

Algum deles influiu na sua formação intelectual? R: Nenhum. Eu tenho sido, sobretudo, um leitor de almanaques...

Gosta da pintura moderna? R: Um pouco

Qual a sua opinião sobre Portinari? R: Portinari tem quadros magníficos e alguns abomináveis. Ou, se preferem, alguns são incompreensíveis para mim.

E em música, quais as suas preferências? R:Brahms, Chopin, Debussy e Grieg.

Qual a página musical mais triste que conhece? R: “Pavane Pour Une Infante défunte”, de Maurice Ravel.

E a mais alegre? R: O “Hino de Louvor ao Impoluto Doutor Políbio Carvalhedo, Defensor da Lira Pratense de Monte da Prata”.

Qual o melhor livro que já leu em toda sua vida? R: O “Don Quixote de la Mancha”, de Cervantes.

Acredita na eternidade da alma? R: Claro que acredito!

Entre os filósofos, qual o que mais o satisfaz? E: Não sou o que se pode chamar um “spinozista”, mas aprecio Spinoza mais do que outro qualquer.

A Religião é uma necessidade? R: Depende do que se entende por religião. Acredito na necessidade de ser cristão, porém jamais seria um carola.

Qual o maior invento humano? R: O alfabeto.

Quem é o mais inteligente: o homem ou a mulher? R: O homem.

Na sua opinião, qual a melhor maneira de morrer? R: Não sei. Penso apenas na melhor maneira de viver.

Qual é o maior defeito do Rádio brasileiro? R: No dia em que os que dirigem o rádio pensarem um pouco mais no Brasil e um pouco nos seus interesses pessoais, no dia em que houver menos programas pornográficos e mais programas educativos, o radio terá perdido o seu maior defeito.

Qual o político brasileiro que mais admira? R: Para responder, deveria antes sair, como Diógenes, lanterna em punho... Mesmo assim, voto em Juarez.

Assistiremos a uma nova guerra mundial? R: A uma só? A muitas! Basta passar os olhos pela História. Os homens, desde que o mundo é mundo, não fizeram outra coisa senão guerrear.

Acredita que o espiritismo afete o prestígio do catolicismo? E: Não. Não creio.

Qual sua opinião sobre a luta pela sucessão presidencial? R: Cada vez que penso na atual luta pela sucessão presidencial, eu, como qualquer brasileiro que apenas deseja um Brasil decente, sinto náuseas.

O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI

CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE) (I)


Há vários anos o Cine Eldorado, concepção de um novo-velho cinema para Juazeiro, na imaginação e no ato concreto e generoso de Humberto Menezes e Edmilson Martins, vem funcionando às sextas feiras, inicialmente às 20 goras e agora às 19 horas, cumprindo uma programação seleta que contempla a revisão de grandes filmes, semanalmente, com espetáculos dignos do Oscar, ou da cinematografia de astros brasileiros, como atualmente Amacio Mazzaropi, ou Filmes Inesquecíveis, e por aí. Recentemente os organizadores decidiram iniciar uma segunda exibição semanal, nas quintas feiras com uma escolha a ser feita pelos frequentadores, quando adentram à sala de exibição. Agora optaram, de fato, por estabelecer a programação prévia, bem divulgada para as quintas feiras também. Assim, na primeira quinta feira do mes a seleção contemplará Os Grandes Musicais; nas segundas quintas, serão Filmes Clássicos do Cinema Noir; nas terceiras quintas serão Os Grandes Faroestes; nas quartas quintas de cada mes serão produções do Cinema Europeu, e se houver uma quinta quinta feira no mes, serão os filmes de Romances Inesquecíveis. Quero me congratular com Humberto e Edmilson, bem como com os habituais frequentadores do Cine Eldorado pela excelente decisão que tanto nos agrada para continuar vendo grandes espetáculos. 

CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, 158, Centro, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no dia 5, quinta feira, às 19 horas, dentro da programação das quintas, contemplando OS GRANDES MUSICAIS, o filme VOANDO PARA O RIO (Flying down to Rio, EUA, 1933, 89min). Direção de Thornton Freeland. Sinopse: Roger Bond (Gene Raymond) e sua orquestra se apresentam em Miami; Honey Hale (Ginger Rogers) é a vocalista e Fred Ayres (Fred Astaire) é um dos instrumentistas. Roger vê a bela Belinha (Dolores del Rio) entre o público, encontro que provoca paixão à primeira vista no líder do grupo. Por isso, ele e sua orquestra a perseguem no Rio de Janeiro, onde vivem aventuras musicais. O filme também é estrelado por Raul Roulien, ator brasileiro que foi homenageado em Juazeiro com um dos primeiros cinemas da cidade, Cine Teatro Roulien.
CINE ELDORADO (JUAZEIRO DO NORTE)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, 158, Centro, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no dia 6, sexta feira, às 19 horas, dentro do Festival Oscar (1982), o filme CARRUAGENS DE FOGO (Chariots of fire, EUA/Reino Unido, 1981, 125min). Direção de Hugh Hudson. Sinopse: As Olimpíadas de 1924, em Paris, se aproximam. Eric Liddell (Ian Charleson) e Harold Abrahams (Ben Cross) pretendem disputá-la, mas seguem caminhos bem diferentes. Liddell é um missionário escocês que corre em devoção a Deus. Já Abrahams é filho de um judeu que enriqueceu recentemente e deseja provar sua capacidade para a sociedade de Cambridge. Liddell corre usando seu talento natural, enquanto que Abrahams resolve contratar um treinador. Ambos seguem as eliminatórias sem problemas, até que uma das classificatórias de Liddell é marcada para domingo. Ele se recusa a competir, por ser este um dia santo. Percebendo a situação, um nobre oferece a Liddell sua vaga na disputa dos 400 metros. Ele aceita e vence a corrida, assim como Abrahams. A partir de então, os dois integram a equipe do Reino Unido para as Olimpíadas.

CORDEIS DO ABRAÃO
É sempre bom reencontrar Abraão Batista em algum evento pelo Cariri, especialmente quando sua pessoa está bem acompanhada de suas produções em folhetos de cordel. Foi o que aconteceu recentemente em Barbalha, durante um grande acontecimento cultural para a Região e nela se instalou um ponto de venda de boa parte da produção de Abraão. Há mais de 46 anos eu venho lendo, colecionando e acompanhando essa sua carreira brilhante de cordelista e de xilógrafo. Devo me preocupar proximamente em estabelecer uma nova listagem do seu inventário de literatura de cordel, bem como de sua coleção de xilogravura, entre as ilustrações dos folhetos e álbuns que frequentemente vem lançando. Desejo a Abraão votos de felicidades, agradeço a ele essa enorme e e ativa existência,e especialmente como um dos mais dignos e produtivos dentre todos os artistas juazeirenses em todos os tempos. 
LIVRINHOS
Depois de ter escrito 4 livros de grande repercussão para os estudos e pesquisas sobre o Pe. Cícero, o Pe. Antenor Andrade, ex-diretor do Colégio Salesiano, tem dedicado a produzir pequenos livros para a melhor digestão desse conhecimento que flui acerca do Patriarca de Juazeiro, a partir de extensa documentação trabalhada pelo Pe. Antenor, e no acervo da Congregação Salesiana, sediada em Juazeiro do Norte. Os dois mais recentes, numerados como volumes 5 e 6 (anteriormente já demos publicidade aos quatro primeiros que saíram) estão à venda no Museu da Casa do Pe. Cícero, na Rua São José.
ANIVERSÁRIO DO ICVC
O Instituto Cultural do Vale Caririense completou 43 anos, uma vez que fundado por Joaryvar Macedo em setembro de 1974 juntamente com 10 outros sócios. Hoje o ICVC é constituído por cerca de 50 associados. Na oportunidade foi inaugurada uma nova sede, graças ao patrocínio da Faculdade de Juazeiro do Norte, no novo endereço de alguns setores da FJN, na Rua da Conceição. Ali o ICVC tem a sua sede, em comodato, abrigando sua biblioteca e com direito a espaços generosos para convivência, reuniões e trabalho para a realização dos objetivos culturais do Instituto. 

CARTÕES 3D
Em Juazeiro do Norte tudo se inventa e se vende. Agora é o caso desses cartões, até simpáticos, nomeados de 3D, com as imagens do Padrinho e de nossa Padroeira. Por trás há transcrita uma oração que foi escrita pelo Padre Cícero. “Mãe de Deus, Mãe Soberana, Mãe Poderosa, Nossa Senhora das Dores.De hoje para sempre eu me entrego a vós como filho e servo. Consagro ao vosso serviço o meu corpo, minha alma e tudo que me pertence. Abençoa a minha família, os meus trabalhos e meus haveres. Sede minha protetora na vida e conduzi-me ao céu para viver por toda a eternidade. Amém!” Aliás, a Academia Marial de Aparecida, através da internet fez uma Análise crítica sobre a Consagração composta pelo Padre Cícero Romão Batista a Nossa Senhora. Vale a pena ler em: http://www.a12.com/academia/artigos/analise-critica-sobre-a-consagracao-composta-celo-padre-cicero-romao-batista-a-nossa-senhora
HOMENAGEM PARA SEU LUNGA
Nosso conterrâneo José Leite de Sousa, domiciliado em Ilhéus, Bahia, e ali estabelecido como empresário do ramo hoteleiro, está patrocinando uma campanha para a construção de um monumento que abrigaria o busto de Joaquim Rodrigues dos Santos (Seu Lunga), encimando um pedestal que seria plantado na praça do Memorial. A sua iniciativa tem grande aceitação e espera a simpatia da municipalidade para que isto seja viabilizado. Da nossa parte, total apoio para continuar divulgando e sensibilizando para essa homenagem. É preciso resgatar a memória de muita gente nesta cidade, que como Lunga (Joaquim Rodrigues dos Santos) emprestaram toda a sua vitalidade para o nosso desenvolvimento. É a oportunidade de se falar sobre seus empreendimentos, pois a grande maioria das pessoas só imagina que ele foi uma figura apenas folclórica e isso é muito pouco, pois ele não era uma pessoa má, mas um cidadão cumpridor de suas obrigações cidadãs, exemplo muito apreciado de operoso trabalhador do comércio e da pequena indústria. Enfim, esperamos que esse busto seja uma reverência da cidadania desta comunidade, para honrar a iniciativa meritória do conterrâneo José Leite de Souza. 

ROMARIAS
Tivemos há pouco, com a grande festa da Padroeira, Nossa Senhora das Dores, a abertura do ciclo das grandes romarias que, em breve, no período de outubro-novembro, especialmente no dia de finados, terá sequência, para ser encerrado em 2 de fevereiro de 2018, com a grande romaria de Nossa Senhora das Candeias. Eu tenho uma velha queixa com respeito a essas afluências de peregrinos, pois nem prefeitura, nem lides empresariais, nem igreja, nem ninguém promove nada para tentar quantificar o que representa economicamente essas romarias, uma vez que é iquestionável a sua significância religiosa. Há poucos dias eu sondei algumas pessoas e estas se manifestaram favoravelmente a uma participação recente de cerca de 300 mil. Algumas dessas pessoas estima que a permanência média é de uns 3 dias, e que cada um, por dia deve deixar na cidade cerca de 100,00 reais. Ora, isso significa que repetindo apenas nas 3 maiores afluências, uma vez que há períodos em que o número é maior, como novembro, teríamos um aporte financeiro para a cidade, decorrente de romariasda ordem de uns 300 milhões de reais. Devemos também nos preocupar com o restante do ano onde não falta romeiro. Esse valor, provavelmente já é superior ao orçamento de município, e mais será se quantificarmos melhor. Logo, Juazeiro do Norte pode ter o maior polo calçadista do pais, o maior polo de ensino superior, o maior centro de mercado varejista deste interior nordestino, mas não deverá nunca ignorar a força que as peregrinações continuarão, ad aeternam, influindo sobre a economia do município.
1950?

Na dissertação de mestrado de Maria Yacê Carleial Feijó de Sá (Graduada em Arquitetura pela Universidade Federal da Bahia (1978), graduação em História pela Universidade Regional do Cariri (2003) e mestrado em História pela Universidade Federal do Ceará (2007).), sob o título Os Homens que faziam o Tupinambá Moer, tratando pela vida e atividades do Engenho Tupinambá em Barbalha, encontramos a foto acima, de um ato religioso, uma procissão, acontecido em Barbalha. A indicação é que seria de 1950. Pode ser, mas a chance é muito remota, pois nessa foto está bem vistoso o então pároco de Juazeiro do Norte, Mons. Joviniano da Costa Barreto. Monsenhor Joviniano seria assassinado em Juazeiro, em 06.01.1950. Portanto, se for, e a chance é muito remota, seria entre os dias 1º a 5 de janeiro daquele ano. Mais provável é que seja de 1949 ou menos um pouco. 

sexta-feira, 22 de setembro de 2017



BOM DIA! (1)
A INDUSTRIALIZAÇÃO DO CARIRI (I)
Por Renato Casimiro
A eletrificação do Nordeste brasileiro começou a ser executada com a constituição da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF) em 03.10.1945. Como sabemos, em 1953, um encontro providencial de lideranças do Cariri, membros atuantes dentre as classes produtoras da região e que integrariam no fim dos anos 50 o Comité Pró-Eletrificação do Cariri, com o então presidente da República, Getúlio Vargas, em Paulo Afonso, determinou o início do planejamento para a nossa eletrificação, tornada mais ágil a partir da constituição da Companhia de Eletrificação do Cariri, em 1960, inicialmente uma subsidiária da CHESF, e posteriormente da SUDENE. Uma excelente revisão desse histórico capítulo do desenvolvimento do Cariri está na Dissertação de Mestrado de Assis Daniel Gomes (UFC, 2016) que pode ser consultado na internet. Efetivamente, a eletrificação do Cariri foi o marco fundante da industrialização da região, pensada inicialmente entre a Universidade do Ceará (futura UFC) e a Universidade da Califórnia-UCLA, campus de Los Angeles. O professor Antonio Martins Filho, cratense muito ilustrado, fundador e reitor da Universidade do Ceará (UC), em 4 mandatos, em sua apreciada obra História Abreviada da UFC revela que a partir da criação das faculdades de Filosofia, em Crato e em Sobral, a UC pensou em concretamente realizar um projeto de interiorização da universidade, a partir de 1961. A Universidade havia sido criada em dezembro de 1954. Isso estava inserido na sua percepção de que teria de firmar acordos com organismos internacionais (Aliança para o Progresso, Usaid, universidades americanas) bem como organismos nacionais como BNB e o Ministério da Agricultura, para melhor capacitar seu pessoal docente, especialmente na área de ciências agrárias, além de investir ao mesmo tempo, tanto no Cariri como em Sobral, através de um plano de industrialização. Martins Filho tinha sido informado por Raul Barbosa (BNB) e Rubens Vaz da Costa (BID) que era do conhecimento deles que o prof. Morris Asimow, da UCLA (na foto), “estava coordenando um projeto que provavelmente seria destinado à Índia, no sentido da instalação de pequenas e médias indústrias que poderiam transformar uma zona-problema numa região industrializada.” A esse primeiro entusiasmo dos três, surgiu logo o convite para que Asimow viesse ao Ceará. De fato, em janeiro de 1962 o professor Asimow veio ao Ceará e entre reuniões em Fortaleza (UFC, BNB) e uma viagem para conhecer a região do Cariri, especialmente Crato, Juazeiro e Barbalha. Quem era Morris Asimow? Ele era um engenheiro metalúrgico formado pela Escola Superior Politécnica, da Universidade da Califórnia (UC), em Los Angeles. Nasceu na cidade de Milwaukee, estado de Wisconsin, EUA, em 27.11.1906, filho de Harry Asimow (*1880; +1975) e de Celia Slotnikow Asimow (*1885; +1951), imigrantes russos. Optou pelo campus de Berkeley, da mesma UC, onde obteve todos os seus graus acadêmicos (Bacharel, Mestre e Doutor), sempre na área de metalurgia, tanto no magistério como na pesquisa industrial, concomitantemente com uma sólida carreira de consultor industrial em empresas. Em 1972, com mais de 30 anos dedicadaos à UCLA, ele se aposentou e passou a se dedicar a outros trabalhos profissionais na sua área de competência em engenharia metalúrgica. Morris Asimow morreu acometido de um câncer aos 75 anos de idade, em 10.01.1982. O prof. Asimow deixou para a vida acadêmica uma obra clássica “Introdução ao Projeto de Engenharia”, editada no Brasil pela Editora Mestre Jou, São Paulo, 1968, traduzida da primeira edição americana (Introduction to Design Fundamentals of Engineering Design, Prentice-Hall, Inc., 1964.). É um texto que ainda hoje, segundo uma resenha “preenche a proverbial lacuna na bibliografia em cursos de escolas de engenharia e de administração de empresas. O projeto de engenharia muitas vezes traduzido erroneamente por "desenho", uma vez que design é o ato completo de concepção e projeto - ainda é ensinado no Brasil com base em preleções de arquitetos de projeto. Asimow apresenta a quantificação necessária para que o administrador e o engenheiro possam usar o que o arquiteto fez com a economia que o meio escasso (dinheiro) exige.” Em demorada permanência no Cariri, o prof. Asimow fez muitos contatos, reuniu-se com muita gente de governos municipais, lideranças empresariais, estabelecimentos de ensino, etc. Lembro muito bem quando no Ginásio Salesiano São João Bosco recebemos em nossa sala, do então segundo ano ginasial, início do ano letivo de 1962, todos de pé para cumprimentar o prof. Asimow. Alguém que traduzia a sua fala terminou por nos dizer que ele estava ali para realizar um projeto pela industrialização do Cariri e que nós seríamos chamados para participar, provavelmente trabalhando nas empresas que se instalariam. Foi um reboliço essa afirmativa, pois cada um de nós, no que imaginávamos para nossa vida futura, não tinha em mente uma perspectiva como aquela. De volta ao entendimento com BNB e UFC em Fortaleza, o prof. Asimow firmou a sua posição em alterar seus planos originais, destinando a concepção do seu projeto, agora destinado ao Cariri. As primeiras tratativas para assimilar as ideias do Projeto Morris Asimow, já agora denominado burocraticamente como “Programa de Implantação de Pequenas e Médias Indústrias e Capacitação de Recursos Humanos”, vieram com a objetividade de estabelecer os termos de um convênio que foi firmado entre a UCLA e UC que previas e bem definia as competências e as responsabilidades das partes, e resumidas em dois objetivos: 1) Treinamento de pessoal, envolvendo novos professores, formação de técnicos nas áreas de pesquisa e extensão, treinamento de estudantes universitários na aplicação prática de aprendizagem curricular e a formação e aperfeiçoamento de gerentes e diretores para as pequenas e médias empresas que seriam constituídas; e 2) Implantação das novas indústrias no interior do Nordeste, a começar pelo Cariri. Evidentemente, tudo isso se justificava pela perspectiva de fomentar uma nova mentalidade empresarial, elevar o nível de renda, mais oportunidades de emprego, diversificação da produção regional, aproveitamento de recursos naturais, poupança e oferta de bens industriais. Vários anos depois, por volta dos anos 80, a UFC ainda refletiu sobre os obstáculos e o final melancólico do Projeto Morris Asimow para o Cariri, fazendo uma análise sobre os seus erros e acertos. Para alguns, como o médico Newton Gonçalves, uma questão fundamental foi a visão enviesada do prof. Asimow de que o Cariri era uma região em desenvolvimento, quando na verdade o Cariri do princípio dos anos 60 ainda se mostrava decadente. Antevia-se com isso um impacto substancial sobre o que se desejava transformar a partir da introdução de tecnologias inovadoras. Essa série de textos irá detalhar o que foi possível realizar nesse Projeto e a sua repercussão até os dias atuais.

Na foto: Prof. Morris Asimow, (*27.11.1906; +10.01.1982).
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 20.09.2017)
BOM DIA! (2)
A INDUSTRIALIZAÇÃO DO CARIRI (II)
Por Renato Casimiro
Para fazer valer todos os sonhos que emanaram desses primeiros procedimento para viabilizar o Projeto Morris Asimow, a Universidade do Ceará procurou por à disposição toda a sua infraestrutura de apoio, não só através de cursos acadêmicos (especialmente nas áreas de Engenharia e Agronomia), de departamento (particularmente Economia, Zootecnia e Engenharia) e institutos, como o de Antropologia, sob a direção do extraordinário Thomaz Pompeu Sobrinho que já se dedicava a estudar o Cariri, através do Projeto Ceará, com olhares sobre muitos dos seus aspectos culturais, sociais e econômicos. A Reitoria tratou nesses primeiros momentos de formalizar uma equipe bipartite formada por técnicos da UCLA e da UC cujo empenho inicial era o da identificação de vocações e circunstâncias para abrigar os primeiros projetos que seriam formulados pela equipe. Inicialmente se tratava de levantar ocorrências e disponibilidades de recursos naturais bem como de lideranças que seriam capacitadas dentro das premissas do desenho industrial concebido na California. Em vista do avançado que se concebia com respeito a inovações em tecnologia e gerenciamento, não foram poucas as críticas que dominavam os bastidores das ações da equipe, em razão, especialmente, do arrojo e sobretudo do idealismo que se revestia o discurso do prof. Asimow. Mas isso, felizmente não contaminou negativamente o ânimo dos cearenses, porque depois de alguns meses de trabalho saiu a primeira proposta de uma lista de cinco empresas que seriam concebidas para alavancar o desenvolvimento do Cariri, através de sua industrialização em novo estilo. A partir da consideração sobre matérias primas e vocações por atividades incipientes existentes na industrialização de alimentos, materiais cerâmicos e em metal-mecânica, essas cinco empresas seriam destinadas a industrialização de: 1) milho; 2) cimento; 3) madeira prensada; 4) máquinas; e 5) cerâmica. Nesse particular, para produzir os perfis iniciais que gerariam os respectivos projetos, a UC designou o Instituto de Pesquisas Econômicas, na pessoa do engenheiro João José de Sá Parente. Aqui abro um parêntese para falar do meu sentimento sobre João Parente. Ele foi meu professor na antiga Escola de Engenharia da UFC, em 1970, na disciplina de Economia Industrial. Foi, seguramente, um professor extraordinário, alguém que nos deixou uma marca profunda de sensibilidade para as questões regionais. Aliás, essa marca se distribuiu por duas outras pessoas de sua família: sua mulher a química Letícia Tarquínio de Sousa Parente, minha professora de Química Inorgânica, e seu irmão, o engenheiro químico Expedito José de Sá Parente, pois eles foram muito importantes para a formação de profissionais químicos de uma valiosa geração, ainda hoje atuante no Ceará e pelo Brasil. João Parente foi peça importante para a definição específica dos projetos que determinaram a criação das empresas que o Projeto já concebia. Foram elas, as primeiras: 1. Cerâmica do Cariri S.A. – CECASA, com fábrica em Barbalha e sede administrativa em Crato, para a produção de materiais cerâmicos destinados à construção civil; 2. Indústria Eletromáquinas S.A. – IESA, com sede em Juazeiro do Norte, para a produção de máquinas de costura, motores industriais, aparelhos eletrodomésticos e a montagem de rádios transistorizados; 3. Politex – Comércio e Industrial S.A., com sede em Juazeiro do Norte, para a fabricação, de madeiras prensadas; 4. Indústria e Moagens do Cariri S.A. – IMOCASA, com sede em Crato, para a industrialização de milho e a fabricação de farinhas, óleo comestível e farelo; e 5. Indústria Barbalhense de Cimento Portland – IBACIP, com sede em Barbalha, face as reservas naturais de excelente calcáreo. Ainda como parte da assimilação e, particularmente da institucionalização do Projeto Asimow, no âmbito da UC, a Reitoria estabeleceu a criação do organismo denominado pela sigla PUDINE – Programa Universitário de Desenvolvimento Industrial. Dessa forma, embora se continuasse a falar de Projeto Morris Asimow, efetivamente o Pudine era a sua nova designação, sob a direção de João Parente. Muitas vezes, ainda como estudante na UFC eu fui ao Pudine para utilizar sua extraordinária biblioteca que contemplava um acervo fantástico, inclusive de textos básicos em engenharia e tecnologia química que muito nos atraia, estudantes. O Pudine foi criado porque isto se fazia necessário na medida que, adentrando o segundo ano de atividades, a UC grangeava a simpatia de grandes parceiros financeiros, como a Fundação Ford, o Banco do Nordeste e o Governo do Estado do Ceará. O Pudine teve, inclusive, um papel de grande relevância, pois o seu modelo de ação foi adotado em outros estados nordestinos, onde no âmbito das suas universidades foram criados organismos semelhantes, nos Estados do RN, PB, AL, PE e BA. Interessante é observar que nesses estados o Projeto foi denominado RITA, que é a sigla americana concebida na Califórnia para o conhecido Projeto Asimow, mas que originalmente era “Rural and Industrial Technical Assistance”, quando o pensamento era conduzi-lo para a Índia. Ao aporte financeiro já comentado, se seguiram intensos intercâmbios técnicos com organismo como USAID-Nordeste, SUDENE, Aliança para o Progresso, e outros. Convém também mencionar o relevante papel que foi cumprido pelo Instituto de Tecnologia Rural, então existente no organograma da Escola de Agronomia do Ceará, da então UC. Ele era dirigido por Dario Soares, emérita figura da docência e da pesquisa da instituição, um dos primeiros adeptos do Projeto Morris Asimow, tendo acompanhado o prof. Asimow desde a sua primeira viagem ao Cariri. Também é importante relembrar nessa resenha que o Projeto Morris Asimow, como de certa forma, também irradiou para outros Estados nordestinos, também internamente no Ceará, ele se fez sentir objetivamente na zona norte, tendo como polo a cidade de Sobral. Nessa fase e pelos estudos realizados, o Projeto contemplou dois empreendimentos industriais, com as empresas Companhia Sobralense de Material de Construção – COSMAC e Laticínios Sobralenses S.A. – LASSA. O entusiasmo na região Norte do Estado, Sobral, particularmente, era flagrante e já se falava em “uma dezena” de indústrias nas mais distintas áreas de processos, contemplando a manufatura de derivados de minerais, couro e pescados. Esses investimentos, convém relembrar, faziam parte do clima que havia na área da Sudene, a partir de 1961, com a criação dos incentivos do Sistema 34/18, com os quais se visava estimular a iniciativa privada, as inversões públicas em infraestrutura e os setores de base. O Sistema 34/18 correspondia “ao Artigo 34 do Decreto nº. 3.995, de 14 de dezembro de 1961, e as alterações introduzidas pelo Artigo 18, do Decreto nº. 4.239, de 27 de junho de 1963, que criaram e regulamentaram os incentivos para as inversões no Nordeste. Ele relacionava agentes: a empresa optante (ou depositante), a empresa beneficiária (ou investidor) e a SUDENE. A empresa optante era a pessoa jurídica, situada em território nacional, que poderia deduzir do seu imposto de renda, determinada parcela a ser investida no Nordeste. A beneficiária era responsável pela elaboração, implantação e desenvolvimento dos projetos a serem implantados no Nordeste. Já a SUDENE, era responsável pela aprovação e fiscalização da aplicação dos recursos, de acordo com os planos traçados para o desenvolvimento regional.” Isso me lembra muito o entusiasmo de meu pai, pequeno empresário do ramo de material elétrico na Rua São Pedro, colecionando comprovantes dessas aplicações perante a Receita Federal, agora sob forma de ações que passava a ter nessas empresas nas quais investia o seu modesto e rico dinheirinho.

Na foto: Cautelas de ações pertencentes a Luiz Gonçalves Casimiro, referentes a aplicações financeiras realizadas ao calor da industrialização do Cariri.

(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 21.09.2017)
O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI

CINEMA NORDESTE (CCBNB, JUAZEIRO DO NORTE)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), tem apresentado um panorama do cinema nordestino em sessões mensais, com entrada gratuita. Neste mês de setembro exibe no dia 27, quarta feira, às 18 horas, os seguintes filmes:

QUEM PASSOU PRIMEIRO FOI SÃO BENEDITO (Curta Metragem) (Doc., 2017. 14 min) Direção: Bicho d’ água. Sinopse: “Quem passou primeiro foi São Benedito” é um curta documental que retrata a história de Maria Luiza, coureira e mãe de santo, mostrando a trajetória de seus laços religiosos no tambor de crioula e no tambor de mina. Com 78 anos, quase todos dedicados à encantaria e à Punga, Dona Maria tece narrativas sobre suas experiências religiosas que se alargam em toda a sua história de vida. São apresentados seus movimentos cotidianos, seus afetos e um constante retorno à sua ancestralidade e trajetória familiar.

LUÍSES - SOLREALISMO MARANHENSE (Longa Mestragem) (Ficção, 2013, 75 min) Direção: Lucian Rosa. Sinopse: Enquanto uma serpente do tamanho de uma ilha cresce adormecida nas galerias subterrâneas da cidade de São Luís, os ludovicenses enfrentam situações surreais para seguirem vivendo em meio a um cotidiano bruto, e sem perceberem que estão passando por tal situação. O real e o imaginário caminham juntos nessa história que dá início a um movimento: o solrealismo.

CRIANÇA E ARTE

CINE CAFÉ VOLANTE (URCA, MISSÃO VELHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Missão Velha (URCA, Campus Missão Velha, Rua Cel. José Dantas, 932 – Centro), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 28, quinta feira, às 19 horas, o filme LUZES DA CIDADE (City Lights, eua, 1931, 87 min). Direção de Charles Chaplin. Sinopse: Um vagabundo (Charles Chaplin) impede um homem rico (Harry Myers), que está bêbado, de se matar. Grato, ele o convida até sua casa e se torna seu amigo. Só que ele esquece completamente o que aconteceu quando está sóbrio, o que faz com que o vagabundo seja tratado de forma bem diferente. Paralelamente, o vagabundo se interessa por uma florista cega (Virginia Cherrill), a quem tenta ajudar a pagar o aluguel atrasado e a restaurar a visão. Só que ela pensa que seu benfeitor é, na verdade, um milionário.
CINE CAFÉ VOLANTE (FAMED, BARBALHA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Barbalha (Auditório da Faculdade de Medicina), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 29, sexta feira, às 19 horas, o filme A FAMILIA SAVAGE (The Savages, EUA, 2007, 114 min). Direção de Tamara Jenkins. Sinopse: Wendy (Laura Linney) e Jon Savage (Philip Seymour Hoffman) sempre buscaram escapar do jeito dominador de seu pai (Philip Bosco), sendo que agora lidam apenas com suas próprias vidas. Wendy trabalha como dramaturga no East Village e passa seus dias buscando doações, namorando o vizinho casado e roubando material de escritório. Já Jon trabalha como professor universitário em Buffalo, tendo escrito alguns livros sobre assuntos obscuros. Um dia eles recebem um telefonema que os informa que seu pai, Lenny, está aos poucos sendo consumido pela demência e que apenas eles podem ajudá-lo. Isto faz com que Jon e Wendy voltem a morar juntos, o que não ocorria desde a infância, com ambos tendo que lidar com as excentricidades do outro. 
CINE GOURMET (FJN, JUAZEIRO DO NORTE)
A Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) agora também está incluída no circuito alternativo de cinema do Cariri. As sessões são programadas para as terças feiras, duas vezes ao mês, de 15:00 às 17:00h, no Auditório do Bloco I, na Rua São Francisco, 1224, Bairro São Miguel, dentro do seu Projeto de Extensão denominado Cine Gourmet, sob a curadoria de Renato Casimiro. Informações pelo telefone: 99794.1113. No próximo dia 29, estará em cartaz, o filme OS SABORES DO PALÁCIO (Les Saveurs du palais, França, 2012, 95min). Direção de Christian Vincent. Sinopse: Hortense Laborie (Catherine Frot) é uma respeitada chef que é pega de surpresa ao ser escolhida pelo presidente da França para trabalhar no Palácio de Eliseu. Inicialmente, ela se torna objeto de inveja, sendo mal-vista pelos outros cozinheiros do local. Com o tempo, no entanto, Hortense consegue mudar a situação. Seus pratos conquistam o presidente, mas terá sempre que se manter atenta, afinal os bastidores do poder estarão cheios de armadilhas.
CINE CAFÉ VOLANTE (CASA GRANDE, NOVA OLINDA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Nova Olinda (Fundação Casa Grande), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 29, sexta feira, às 19 horas, o filme FONTE DA JUVENTUDE (BRA, 2017, 58min). Direção de Estevão Ciavatta. Sinopse: A partir de uma série de entrevistas com especialistas das áreas de agricultura, saúde e culinária, "Fonte da Juventude" aborda a obesidade e a má alimentação da população brasileira. Além disso, o documentário traz a proposta de uma plataforma de conscientizaão a partir da mostra da biodiversidade como resposta para superar a má nutricão no país. 
CINE CAFÉ (CCBNB, JUAZEIRO DO NORTE)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no dia 30, sábado, às 17:30 horas, o filme O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? (What Ever Happened to Baby Jane?, EUA, 1962, 134 min). Direção de Robert Aldrich. Sinopse: Em uma mansão de Hollywood vivem Jane Hudson (Bette Davis) e sua irmã Blanche (Joan Crawford). Jane foi uma famosa atriz-mirim e hoje vive em decadência; Blanche é obrigada a suportá-la por estar em uma cadeira de rodas por conta de um acidente trágico.
MUDANÇAS NA CERTIDÃO DE NASCIMENTO
O texto permite que a certidão de nascimento indique como naturalidade do filho o município de residência da mãe na data do nascimento, se localizado no País. O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (5) proposta que altera a Lei de Registros Públicos para permitir que a certidão de nascimento indique como naturalidade do filho o município de residência da mãe na data do nascimento, se localizado no País. Atualmente, a lei prevê apenas o registro de onde ocorreu o parto como naturalidade da criança. O texto aprovado, que segue para a sanção presidencial, é um projeto de lei de conversão da senadora Regina Souza para a Medida Provisória 776/17, com duas emendas aprovadas pelos senadores. Uma das emendas aprovadas pelos senadores prevê que os cartórios poderão prestar, mediante convênio, outros serviços remunerados à população em credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas. A emenda foi mantida pelos deputados, mesmo após alguns partidos terem se manifestado contra o que chamaram de “cheque em branco” aos cartórios. “Quando a gente passa a emissão de documentos para os cartórios, teremos uma dupla cobrança para o cidadão, além de tirar a responsabilidade do Estado”, criticou Ságuas Moraes (PT-MT). “Alguns documentos, como o passaporte, já são pagos para o órgão público emissor e, com essa emenda, a pessoa terá que pagar também pelo serviço realizado pelo cartório”, completou. Favorável à medida, o deputado Júlio Lopes (PP-RJ), autor de emenda inicialmente rejeitada pela Câmara e aprovada pelo Senado, disse que atualmente as prefeituras já podem emitir a Carteira de Trabalho e Previdência Social, o Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e outros documentos, mas, por questões de organização e de custo, acabam obrigando os cidadãos a se deslocarem por longas distâncias até agências do Ministério do Trabalho ou da Receita Federal. “Queremos maior capilaridade aos serviços prestados ao cidadão, desburocratizar. Ninguém está querendo avançar nas competências dos cartórios, nem dar a eles qualquer atribuição estranha às suas atribuições originárias”, rebateu. A outra emenda aprovada pelos senadores mantém no atual texto da Lei de Registros Públicos dispositivo que torna obrigatório o registro de nascimento de criança de menos de um ano mesmo diante de óbito. A mesma emenda também mantém regras específicas para a cremação, como manifestação de vontade ou interesse público, além de atestado de óbito firmado por dois médicos ou por médico legista e, no caso de morte violenta, manifestação favorável da autoridade judiciária. O texto aprovado promove outras mudanças na lei para adequar a norma ao novo conceito de naturalidade. Uma das adequações determina que o registro (assento) e a certidão de nascimento farão menção à naturalidade, e não mais ao local de nascimento. No registro de matrimônio, também constará a naturalidade dos cônjuges em substituição ao lugar de nascimento. De acordo com o texto aprovado, o Ministério Público não precisará mais ser ouvido antes da averbação de documentos em cartórios e seu parecer será solicitado pelo oficial do cartório apenas se ele suspeitar de fraude, falsidade ou má-fé nas declarações ou na documentação apresentada. Terá ainda de indicar, por escrito, os motivos da suspeita. As averbações são observações de mudanças determinadas por juiz ou por ocorrência de fatos nas vidas das pessoas, como casamento e divórcio, por exemplo. O Ministério Público também não precisará mais ser consultado pelo oficial do cartório de registro no caso de correção de erros que não precisem de questionamentos para a constatação imediata dessa necessidade. A mudança poderá ser de ofício ou a pedido do interessado e abrangerá ainda erros na transcrição de termos constantes em ordens e mandados judiciais e outros títulos; erros de inexatidão da ordem cronológica e sucessiva na numeração do livro ou folha e da data do registro; ausência de indicação do município de nascimento ou naturalidade do registrado; ou em casos de elevação de distrito a município ou alteração de suas nomenclaturas por força de lei. Por fim, o texto aprovado permite o registro do falecimento na cidade de residência da pessoa, facilitando o processo de obtenção do atestado quando o óbito ocorrer em cidade diferente. Hoje, a lei prevê que apenas o oficial de registro do lugar do falecimento poderá emitir o atestado necessário ao sepultamento. A íntegra da proposta pode ser acessada aqui MPV-776/2017