sábado, 23 de junho de 2018



JUANORTE: TRISTE FIM DE UMA TRINCHEIRA (VII)
Como a perda de qualquer registro que se torna histórico, um recorte de uma época de uma comunidade como a nossa representa, efetivamente uma grande perda. Assim encaro a destruição desses documentos de época, no relato da vida provinciana. Isso aconteceu com o JUANORTE que mereceu a colaboração de vários de nós, relatando sentimentos, fatos e circunstâncias aí pelo primeiro decênio desse novo século. Por isso mesmo, resolvi reapresentar as minhas colaborações naquele jornal que relevantes serviços prestou a Juazeiro do Norte. 

FELIZ AMBIENTE NOVO
Procurei durante toda esta semana um motivo a mais para exercitar o meu indisfarçável otimismo. Não que ele seja contagiante, senão comedido ao extremo para não me tornar, como até alguns podem pensar, no indesejável pessimista de plantão – um Assis Ferreira a mais na vida. Difícil tarefa. Parece que ao título permissivo de balanço de fim de ano, desfilam pelas páginas dos jornais, pelas ondas da radiofonia, nas imagens da tv e por esta web, os presságios menos oportunos para o nosso novo ano. Para fugir disto, talvez seja melhor dizer que o novo ano nos deve ensejar um necessário recolhimento para o nosso juízo implacável sobre o que nada presta, o que não convém, as pessoas que atrapalham, e tudo mais que vem na contra mão. Elegi a questão ambiental como alguma coisa que nos demanda maiores atenções, bem acima de certas circunstâncias, como esta que o ano terá copa do mundo, muita política, e todas as desavenças possíveis. Tudo isto irá acontecer, entre nós, num ambiente que não preparamos por todos estes anos. Enxergo, qual visionário, que não é possível esperar por mais nada, senão por nós mesmo. Antes que nos afoguemos no mar de lama dos esgotos da cidade e sejamos sufocados pelo lixo urbano que se avoluma pelas ruas, temos que reagir positivamente, fazendo cada um à maneira do que o bom senso recomenda, práticas indispensáveis para uma convivência saudável com o ambiente. Algumas constatações como estas já mencionadas saltam aos olhos. Talvez seja importante lhes falar da nossa imensa tolerância ao calor insuportável deste ambiente tão agredido. Antigamente nos preparávamos para resumir a vida em uma árvore, um filho e um livro. Como se vê, nesta ordem, ainda nem ultrapassamos a primeira meta. Cada um de nós é o agente deste horizonte. Não se pode transferir isto para o poder público. Inescrupuloso, freqüentemente, ele vai fazer proselitismo político em tarefa não simples a que cada cidadão deve se envolver, suficientemente. A prática é consagrada e eficiente. Isto reconstitui um microclima que permite a sensação confortável decorrente de uns poucos graus abaixo, com uma umidade equilibrada e menos secativa. Um segundo aspecto que necessita a nossa compreensão e esclarecimento diz respeito à geração de lixo que, neste instante, assume proporções assustadoras. Não é por acaso que é dos problemas mais sérios que enfrentamos atualmente. A questão administrativa é apenas uma ponta do embrulho. Por isto nossa postura deve ser o de esclarecimento, sobre tudo isto, especialmente com atitudes concretas na direção de uma coleta seletiva que minimizaria o impacto, até gerando resultados mais satisfatórios quanto a reciclagem, emprego e renda. Segmentos da sociedade, fora do Governo, são chamados a uma mediação, a começar com as crianças e jovens que tem um poder elevadíssimo de convencimento. Se em 2010 ainda não tivermos conseguido sensibilizar o prestador de serviço para a questão do saneamento básico da cidade, que precisa ser refeito, paciência – o sonho é tão grande, a vida é tão curta... Depois disto, e numa expectativa de que muitas coisas em contrário ainda possam ocorrer para nos impedir que tais gestos cidadãos vinguem, aí nos caberá, relembrando um colega de Seminário do Padre Cícero, o grande historiador Capistrano de Abreu: Restaure-se a moralidade e revoguem-se as disposições em contrário. A todos, em 2010, um feliz ambiente novo. 
(JUANORTE, 03.01.2010)
PRÁ LÁ DE BAGDÁ
A expressão veio para significar que só a distância importava: era muito longe. E ficou. Esta semana, a imprensa relevou a citação para dar uma nova conotação. Tratava-se de mencionar a eleição, sob diversos critérios, onde seria melhor viver, onde está uma real e ótima qualidade de vida. Na lista aparecem 221 cidades pelo mundo. Só das grandes cidades, Bagdá é a 221ª. Portanto, uma pior situação está para lá de Bagdá. E não há dúvida alguma que Juazeiro do Norte, tão miúda, tão frágil, tão indefesa, está para lá de Bagdá. Como justificativa, nem vale a pena dizer que São Paulo está na 117ª posição, depois de Rio de Janeiro, na 116ª; e Brasília, na 104ª. Os critérios para esta seleção foram a estabilidade política, a taxa de criminalidade, os serviços bancários, as liberdades individuais, os serviços de saúde, de educação, entretenimento, moradia e meio ambiente. Na semana em que isto é divulgado, só a título de referência, Juazeiro do Norte exibia um painel relevantemente eclético dos conflitos em cada um dos critérios mencionados. Eu ainda não tinha ouvido rádio e lido jornais, tanto como ultimamente. Até me habituei a sair pelas ruas, jornais debaixo do braço, e com os fones aos ouvidos, para não perder este ou aquele noticiário. Especialmente pela ordem social que está em cheque e nos causa mais temor. A instabilidade política da província leva a uma grande aglomeração na porta da antiga intendência. O que se faz ali? Alimenta-se o ódio, o rancor, a intolerância? A criminalidade assumiu posição tal que proliferaram programas de rádio e tv, e as páginas dos jornais se multiplicam. Não existe mais a página policial, restrita aos ladrões de galinha. Os bancos, praticando agiotagem oficial impõem juros escorchantes que beiram o surrealismo. As liberdades individuais são atentadas no dia-a-dia como coisa de animal que defende o território. O povo reclama dos péssimos atendimentos pelos serviços de saúde e os garotos que não vão para as escolas estão pelas ruas, multiplicando as crackolândias. Por isso, a banalização do entretenimento com a violência que invade as praças públicas, os estádios, os bares e espaços de convivência. Mas, se já é difícil viver, imagine-se não ter onde morar dignamente. Produzimos lixo e resíduos como se isto em nada afetasse nossa ambiente, jogamos na via pública os excrementos de nossa própria sobrevivência. Enfim, viver se tornou a coisa mais perigosa destes primeiros tempos, do que parecia um novo século. Construir a cidade que nos abrigue como povo civilizado é tarefa para mais que um mandato. O povo é o cliente, mas detesta o clientelismo. Não obstante este sentimento comum, insiste-se em manter velhas e perniciosas práticas de gestão pública. Uma ótima arma seria a transparência, real, das contas. O poder público está nos convocando para um orçamento participativo. Não é a primeira vez. Duas questões são fundamentais. Saibam todos que, aos que se dispuserem, a sociedade os louvará pela coragem de tentar produzir algo que ultrapasse os limites da ficção – um papel cheio de intenções e números pouco prováveis, pois para esta tarefa faltará, invariavelmente, a parte da vontade política centrada no governo central que, por vezes, na base aliada, se torna muito perverso, sem aviso. Como alguém que só tem quatro anos para resolver as misérias do mundo. 
(JUANORTE, 30.05.2010)
ROMEIROS SOLIDÁRIOS
A tragédia que está ocorrendo com muitos municípios de Alagoas e Pernambuco ensejou uma pronta resposta de toda a nação romeira, solidária aos seus irmãos. Em poucas oportunidades, na história sofrida deste Nordeste, vimos imagens tão chocantes. Emblematicamente, não podia deixar de acontecer uma reação tão pronta da comunidade, como a nossa. Juazeiro do Norte, nasceu e cresceu, e hoje é o que é graças ao devotamento e trabalho de todos estes nordestinos, especialmente destes dois estados que ainda hoje dão significado e a força maior de seu povo na relação com a terra do patriarca dos sertões. Felizmente, o nosso povo é generoso e tem sabido tomar uma postura de grande sensibilidade, ao socorro destes irmãos angustiados pela impiedosa reação da natureza. Logo, pelos caminhos dos velhos caminhões de romeiros, em demanda das zonas da mata de AL e PE, serão muitas toneladas de alimentos, roupas e medicamentos – imagens concretas de corações que nos recomendam com profunda identidade. Em ocasiões como esta, a tentação é muito grande para se saber o que poderia ter sido feito para mitigar os efeitos de uma tragédia como esta. É voz corrente de que não se pode minimizar a responsabilidade que cabe a cada um de nós e aos governos, especialmente, sobre os caminhos e descaminhos do uso e ocupação do solo. Nas situações mais diversas, mas prioritariamente, com a ocorrência de chuvas, as populações estabelecidas às margens dos rios são surpreendidas com grandes elevações de seus níveis – daí tanta angústia e sofrimento. A questão fundamental é a permissão que se dá para que esta ocupação ocorra, à margem dos códigos, contra estes códigos e aos aparatos da segurança que preconiza a defesa civil. No pós-tragédia, virão as providências, tantos anos adiadas, com o zoneamento da segurança, as proibições necessárias e tudo mais que parecem prevenir novas ocorrências. Na verdade, desta ilusão, nós e governos, continuaremos a alterar o curso das coisas, ao interesse menor da causa de cada um, preparando novo vexame diante de novas e traiçoeiras águas futuras. Recentemente, as recomendações do Pe. Cícero sobre a conservação da natureza voltaram a ser referidas, a ponto deste ter sido lembrado como um dos patronos do ambiente. Na essência, a tradição oral que recolheu tais recomendações, qual decálogo de boa convivência com a natureza, não teve uma preocupação restrita de sua aplicação ao campo e às matas. Como bem observa o prof. Daniel Walker, “...o homem urbano, mesmo aquele dotado de escolaridade apreciável e possuidor de sólida cultura, tem se mostrado indiferente à conscientização ecológica, comportando-se como um cruel depredador do seu ambiente, e personificando um péssimo exemplo de gerente e usuário da Natureza. Na verdade, ele fez tudo o que não devia: contaminou o ar, poluiu as águas, extinguiu espécies de seres vivos e empobreceu o solo, provocando, desta maneira, o surgimento de catástrofes que não pode evitar, de doenças que não pode curar, de alterações climáticas que não pode controlar, e, finalmente, pôs em risco sua própria sobrevivência. O homem urbano tornou seu planeta insuportável para se viver.” Na dura realidade destes momentos trágicos, gostaríamos de dizer a cada um dos que sofrem por este drama o quanto nós, romeiros de cá – somos solidários na sua dor, no seu infortúnio. E que meu padrinho nos proteja e guarde, nestas horas tão necessitadas. 
(JUANORTE, 27.06.2010)
A NACIONALIDADE DA COPA 2010
Quando, em raras vezes, tento escrever sobre futebol logo me ocorre a sensação de que trato de algo que não conheço. Que propriedade há, reconhecidamente, em alguém que não conseguiu, senão, chegar à condição de torcedor discreto, depois de medíocre passagem pelos campeonatos de futebol no campo dos Salesianos, nos anos 60 ? Sobre Copa do Mundo, então, o que dizer? Lembro que foi exatamente na de 58 que nasceu esta vibração de um menino que não chegara aos 9 anos de idade. Mas, pela Rua São José, a transmissão de rádio em velhos aparelhos a bateria de automóvel ou a audiência nos alto-falantes do velho CRP, retransmitindo, já inflamava esses nossos brios de nacionalidade pós 1950, na grande tragédia do Maracanã. Muito tempo depois eu pude compreender Nelson Rodrigues, ao cunhar a expressão “a pátria de chuteiras”. Foram muitas copas, para alegrias e tristezas, pois – afinal, nem sempre ganhamos. Mesmo assim, já chegamos ao penta. Nesta sul-africana de 2010, estou intrigado com a menção freqüente de que atletas que defendem a sua nacionalidade, em verdade, não estão no futebol do pais. Dirão, que bobagem, essa. Vivemos a globalização, e no esporte, especialmente, também não há mais fronteira e domínios. Só muito dinheiro. Pouco convencido, vou me lembrando que naquele 1958, o selecionado brasileiro, dirigido por Vicente Ítalo Feola (nascido em São Paulo), era composto pelos titulares: Gilmar, Djalma Santos e Bellini, Nilton Santos, Orlando, e Zito, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo. A garotada não se cansava de repetir, decorado, esta formação que se consagrou, segundo penso, na mais famosa da série Jules Rimet. E, freqüentemente, sabíamos quem era do Vasco, do Flamengo, e de outros times dos campeonatos regionais. Hoje é uma dificuldade. Só mesmo sendo do ramo. Vejam só alguns dados que recolho da página oficial da Fifa. O nosso Brasil, dos seus 23 inscritos, só tem mesmo 3 (Robinho- do Santos, Gilberto Melo – do Cruzeiro e Kleberson, do Flamengo). Quando a Copa se iniciou, dos seus 736 jogadores inscritos, apenas 296 (40,2%) vinham jogando em clubes dos seus paises, cerca de 533 (72,4%) estavam na Europa, e o Brasil só tinha o privilégio sobre 3 (0,4%). Observo que apenas Itália, Inglaterra e Alemanha levaram exclusivamente jogadores dos clubes nacionais. Não é difícil, pois, assegurar com muitos outros dados que estão se confirmando, como a evolução destes números, com a formação do grupo ainda mais restrito - das quartas, que a Copa do Mundo deixou de ter aquele charme especial da seleção dos seus melhores quadros, nos clubes de futebol dos próprios países participantes. Tornou-se um negócio muito maior, muito atraente financeiramente para grandes clubes, cujos torcedores pagam fortunas aos seus atletas. E, principalmente, converteu-se, não numa competição que guardasse este espírito, aliando tradição e modernidade, mas um torneio de clubes internacionais, especialmente europeus, cuja nacionalidade apresentada em bandeiras multicoloridas é, verdadeiramente, uma falácia. A Copa do Mundo, seguramente, vai continuar sendo este grande torneio de clubes europeus que, para não ficar muito feio, vai continua se permitindo convidar “outros clubes” dos demais quatro continentes. Nas oitavas já saiu Oceania, depois o que restou dos próprios donos da casa, a África do Sul. Ora, direis, muito natural, é a competição. Afinal não serão classificados pela nacionalidade, mas pela competência em jogar futebol. E é exatamente este o espetáculo que pagamos para ver. Quanto aos técnicos, também já não surpreende que apenas vinte deles (62,5%) tenham a sua própria nacionalidade comprometida com o selecionado que dirigem. Sobre as notas tristes do juizado, nem é bom falar. A Fifa cuidará, por certo. Tenho fé que esta vaca não vai direto para o brejo. 
(JUANORTE, 04.07.2010)
A CIDADE QUE QUEREMOS
A experiência recente de ter voltado a residir em Juazeiro do Norte, por sete meses, me trouxe uma melhor percepção de que vive-se aí com um sentimento magoado de que esta não é a cidade que queremos, nem para nós, nem para os que geramos, e muito menos para os que não nos conhecerão em vida. Não é que se deseje abrir espaço para um monólogo em torno das utopias, e se pretenda apresentar desculpas infundadas pela omissão que se perpetra. A discussão em torno das questões urbanas de Juazeiro do Norte tem sido criminosamente adiadas, sob um manto perverso e falacioso de que estamos sempre fazendo alguma coisa – assim tem dito as administrações públicas. Na arqueologia dos seus espaços, jazem resíduos de uma civilização que foi, gradativamente, sepultando o Juazeiro de uma luta entre a tradição e a modernidade. Isto encerra a sepultura comum de empenhos mal formulados e pouco resolvidos. Juazeiro do Norte padece nos nossos dias de graves problemas urbanos porque tem tardado soluções de grande envergadura, como já se recomenda pelo peso e papel que a urbe encerra. Recentemente, Daniel Walker abordou aqui a questão do esvaziamento do centro da cidade. Sua ótica ficou bem ponderada por um certo saudosismo, naturalmente preso aos condicionantes da época em que se vivia, diria, romanticamente, sem as grandes tribulações do agora. Sou forçado a divergir do seu posicionamento, especialmente porque me parece claro que se alguma coisa necessita ser feito urgentemente, começa pela descentralização dos equipamentos e serviços da cidade, o que representaria, inequivocamente, num certo esvaziamento do centro tradicional e histórico. Não custa nada relembrar que, numa visão profética, o patriarca firmara ainda em 1925 a idéia de um novo centro que, até hoje, não se viabilizou com planejamento. O centro da visão tradicional dos urbanistas, em se tratando de cidades com forte tonalidade histórica de sua origem, é hoje espaço de visitação turística, de ocorrências religiosas, de manifestações populares, de preservação da memória, de algumas áreas de moradias, de alguns serviços públicos, etc. Aí se reconhece pequena vocação para as demandas de negócios e serviços ao cidadão, no seu dia-a-dia. Exatamente porque melhor é facilitar a vida do povo, que paga a conta, levando mais para junto de si o que ele necessita. As cidade se “shoppinizaram”, a ocupação do solo gerou novos bairros, a urbanização cresce aos limites do município, o problemas se multiplicaram e o caos urbano está plantado. Povo, técnicos e administração necessita ter um entendimento urgente. É preciso sentar para discutir esta pauta. Uma atitude já foi tomada. Como parte dos eventos preconizados no Centenário de Juazeiro, e dentro de uma pauta aceita pela UFC-Cariri, trata-se agora de formalizar uma programação para um grande seminário que tomaria quatro dias para discutir o futuro da cidade centenária, sem esquecer a larga repercussão que o seu próprio desenvolvimento tem com relação ao seu papel como centro urbano hegemônico na Região Metropolitana do Cariri. Dentre os assuntos que poderão merecer destaque neste encontro, não nos livraremos de avaliar o impacto da globalização sobre nós, como analisamos a nossa condição entre uma economia baseada na indústria versus uma economia baseada nos serviços, e quais os novos papéis que devem e podem ser assumidos pelos diversos níveis de governo (município, estado, país), sem deixar de lado a experiência de quem já fez positivamente alguma coisa para nos permitir reinventar com sucesso o futuro desta grande cidade. 
(JUANORTE, 04.07.2010)
PESQUISA E INOVAÇÃO
“O Brasil produz pouca inovação tecnológica e perde mercado” é a reclamação que vez por outra encontro nos jornais. Há mais de 16 anos estamos estagnados no registro de patentes na Organização Mundial de Propriedade Intelectual. Ou seja, 0,06% do resto do mundo, nos deixando em 24º. Lugar. É a contramão do crescimento econômico de 7% ao ano. Citam-se, pelo menos, três razões: o país ainda está longe das fronteiras do conhecimento; a pesquisa ainda não é parte da estratégia empresarial brasileira; e o país não tem metas ambiciosas para a área. Mas, por conta de algumas ilhas de excelência, o país já é um participe recente deste time de inovadores. Especialmente na área de fármacos. Numa destas ilhas, a Universidade de Campinas (Unicamp), a própria imprensa descobriu dois jovens juazeirenses que estão trabalhando em fronteira de ciência para produção e aplicação de ácido hialurônico (AH) em novos usos estéticos e outras áreas médicas. São eles: André de Casimiro Macedo, Engenheiro Químico (UFC), Doutorando em Desenvolvimento de Processos Biotecnológicos, na Faculdade de Engenharia Química; e Eugênio Santana de Figueirêdo, Médico (UFRN), Doutorando em Oftalmologia, na Faculdade de Ciências Medicas. André está concluindo sua tese, relatando o desenvolvimento da produção desta substância por via fermentativa, utilizando microrganismos de elevado desempenho. Para tanto, ele usa como matéria prima o suco de caju, um elo forte com a sua própria cultura de cearense, resgatando um recurso que se refina com destino de elevada nobreza. Eugênio é especialista em retina pela Unicamp, e trabalha com pesquisas em genética aplicada à Oftalmologia, no Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM/Unicamp). Em seu trabalho de doutoramento, tem estudado a catarata congênita, que é a principal causa de cegueira reversível na infância, com prevalência de um a cinco casos por 10.000 nascidos vivos. O trabalho desenvolvido no CBMEG e no serviço ambulatorial de catarata congênita do Hospital das Clínicas (HC/FCM), tem por objetivo fundamental determinar as alterações estruturais de alguns genes em pacientes com catarata congênita bilateral, formas nuclear e lamelar. Em paralelo às suas pesquisas e estudos em catarata congênita, Eugênio vem se dedicando a pesquisas básicas na aplicação do AH em oftalmologia, com ênfase às suas aplicações cirúrgicas. Ele vem sendo testado em casos de olho seco, como lubrificante, e na plástica ocular, para preenchimento de espaços, pois pode ser usado para tratar retração de pálpebras. Recentemente publicou “Aplicações oftalmológicas do ácido hialurônico” (Arq. Bras. Oftalmol., 73(1), São Paulo, Jan./Feb. 2010). O AH é uma substância presente naturalmente nos tecidos conjuntivos do organismo, como pele, tendões, olhos e líquido sinovial (que banha as articulações), preenchendo espaços entre as células. Ali é responsável pela sustentação e manutenção. Sempre em pequeníssimas doses, o produto está ganhando terreno na correção do ângulo da mandíbula, na região malar (logo abaixo dos olhos) e nas laterais do rosto, como moldura. Também pode ser usado para corrigir o dorso do nariz. Mas não só a medicina estética vem tirando proveito do ácido. A ortopedia, que lança mão dele no tratamento da artrose, está investigando se o seu uso é capaz de regenerar a cartilagem das articulações. 
(JUANORTE, 18.07.2010)
GENTE CENTENÁRIA
Juazeiro entrou no seu ano centenário. Quando me lembro disto, me lembro também de tantos convidados que não estarão presentes para que os abracemos. Ora, me lembrem de Pe. Cícero, de Zé Marrocos, de Floro, de Alencar Peixoto, de Pelúsio, do beato Zé Lourenço, da Maria de Araújo, de dona Mocinha, de Pe. Macedinho, de Dr. Juvêncio, de Pe. Climério, de Pe. Azarias, de Dr. Mozart, de Dr. Dinis, de Dr. Edward, de Amália Xavier, de Maria Gonçalves, de Nair Silva, de Lauro Pereira, de Mascote, de Darim, de Odílio Figueiredo, de Gregório Calou, de Ney, de Hamilton, de Dona Guidinha, de Dade, de Otacílio Leandro, de Edgar Coelho, do Cel. Pereirinha, do Ananias Eleutério, do Elvídio Landim, de Letícia Amaral, de Irmã Alicantina, de Coelho Alves, de Possidônio Bem, de Mário Malzone, de Hildegardo Belém, do Pe. Jésu, de Estelita Silva, de Mestre Noza, de Dr. Perboyre, de Paizim Sabiá, de Sulino Duda, de Generosa Alencar, de Pe. Coutinho, de Tarcila Cruz, de Dr. Belém, de Zé Néri, de Heloisa Coelho, de Elias Rodrigues, de Zuleide Belém, de Irapuan Pimentel, de Mirian Cruz, de Sousa Menezes, de Zé Xandu, de Zé Geraldo, de Zé Monteiro, de Antonio Pita, de Felipe Néri, de Ângelo de Almeida, de Zé Bezerra, de Sebastião Teixeira, de Almino Loiola, de Dirceu Inácio, de Cel. Nery, de Zé de Matos, de Antonio Patu, de Propércio Nogueira, de Wilson Campos, de Mons. Lima, de Valdemar Barros, de Otacílio Almeida, de Currusco, de Celestino, de Aderson Borges, de Ferrer Almeida, de Zé Brasileiro, de Zé Machado, de Valdo Figueiredo, de Damiãozinho, de Orlando Bezerra, de Antonio Pinheiro, de Pe. Silvino, de Albis Sobreira, de Zé Figueiredo, de Genário Oliveira, de Lulu Pereira, de Zé Pedro, de Mestre Galdino, de Zequinha das bolsas, de Chico Trela, de Nino, do Vanja, do Príncipe Ribamar, do Faísca, de João Remexe Buxo, de Nena, de Tetê, de Alemão, de Beato, do 51, do Paixão, do Alcântara, de Zé Dias, do Toinho de Minu, de Pimpim, de Geso Almeida, de Fabião, de Manoel Germano, de Zé Viana, de Zé Xavier, de Antonio Calábria, de Afonso de Melo, de Harry Sabiá, de Tobias Ribeiro, de Mestre Chico, de Raimundo Gomes de Figueiredo, de Milton Sobreira, de Aurino Mendonça, de dona Santinha, de Zé Magalhães, do Yony Rodrigues, do Valdery Marques, do Dr. Hercílio, de Leandro Bezerra, de Luciano de Melo, de dona Maria Amélia, de Alencar, de Antonio do Café, de Zé do Sul, de Amália do Doce, de dona Naninha, de Senhorzinho e todos os amigos dos bancos da praça, de Piaba, de Tibério, do Cizinho, de dona Rosa, de Luiz Coimbra, de Né Cansanção, de Guimarães, de Firmino Teixeira, de Dalva Mendonça, de seu Deca, de Donata, de Preciosa, de Rafael Xavier, de Rochinha, do Gumercindo, do cabo Dídio, do Cabo Vieira, de seu Cândido Correia, de Doroteu Sobreira, de dona Doralice e de seu Luiz Casimiro... e de tantos que continuaremos lembrando, sempre, apesar da ilusão de que seria bom que estivessem aqui. O Juazeiro desse povo era outro.
(JUANORTE, 25.07.2010)
CINEMAS DO JUAZEIRO
Cresce no país o número de novas salas de cinema, com a inauguração ou ampliação de shopping centers. Há casos de 18 salas em um único endereço na Barra (RJ). Nesse bairro há 38 salas em apenas 4 endereços. No Rio a situação vem melhorando com 153 salas, das 178 de 2008. Serão reabertas 16, das 25 que foram perdidas neste período. No Brasil, entre 1971 e 1975, o número de salas passou de 2.154 para 3.276, devido ao início das operações de shoppings e a chegada de grupos estrangeiros para o negócio. Até 1995 este número foi caindo, até atingir um mínimo de 1.033, ocasionado por diversos fatores, dentre os quais uma maior preferência pelas salas melhor equipadas nos shoppings, estacionamento, praticidade, segurança, em detrimento da má qualidade dos cines de ruas que foram fechando, a ociosidade de grandes salas, o efeito do cinema pornô, etc. Os aparelhos de vídeo e a popularidade das vídeo-locadoras influíram consideravelmente. Compra-se hoje uma copia legal por R$12, menos que se paga por gasolina, estacionamento, ingresso, pipoca, etc. Essa conjuntura nacional, se o Rio é um bom espelho, me remete a Juazeiro do Norte, para considerar a involução de nossa cena, para daí enxergar alguma coisa que nos anime. E veio o que se esperava: o anúncio da ampliação das salas para a cidade centenária. Minhas lembranças para os últimos 55 anos remontam às sessões vespertinas, dominicais, do Avenida, na praça, a quarta sala, instalada em 1942. Antes dele, a primeira seria em 1916, na Rua Nova. Em março de 1921 veio o Iracema, de Pelúsio Macedo, na Rua Pe. Cícero. Benjamim Abraão utilizou esta sala, entre 1925 e 1935, para projetar os seus documentários sobre Juazeiro e Pe. Cícero. Completo a cronologia. Em 29.06.1935 Antonio e Olimpio Vieira de Almeida, Manoel Soares Couto e Antonio Pita fundam o Cine Teatro Roulien. Em 07.05.1936, as empresas Almeida & Cia. Ltda. e Lourenço Pontes & Cia. Ltda. passam a explorar os Cines Iracema e Roulien. O Iracema saíra das mãos de Pelúsio e ainda funcionaria mais alguns anos. Quanto ao Roulien, a empresa Almeida & Cia. Ltda., em 22.05.1946, agora integrada por Antonio e Olimpio Vieira de Almeida, Antonio Pita e Edmundo Morais. Ela inaugurará, em 07.09.1947, o maior, até então, de todos os cinemas de Juazeiro – o Cine Eldorado, na Rua Santa Luzia, com 800 lugares. Quando nasci em 1949, somente havia dois cinemas: o Roulien e o Eldorado. O Cine Teatro Roulien tinha 500 poltronas e seria fechado em 1958. Ainda sobre velhos cinemas, há a menção para os Cines Operário, Guri e Luz. O primeiro funcionaria a partir de Agosto de 1949, e o segundo em Junho de 1950, na rua São João, perto do Bar de Lêra. O terceiro, o Luz, ficava próximo aos Franciscanos. O Cine Capitólio, a oitava casa de exibição, dos irmãos Almeida, funcionaria na Rua Santa Luzia, 321, a partir de 1957. Finalmente, veio a fase do Plaza, inicialmente de Luiz Dantas e, depois, de Expedito Costa que se tornaria o herdeiro de toda esta tradição, centralizando na Rua Delmiro Gouveia o espólio das salas Capitólio e Eldorado, agora ampliado para 1.200 lugares, um dos maiores do Brasil. Juazeiro do Norte já chegou a ter 1.200 poltronas para uma população de 60 mil habitantes (1/50). Nos próximos meses, este número chegará a 1 para 250. Restará, como tento de honra, reinaugurar o Eldorado com Cine e Teatro, antes que vire estacionamento para este centro falido de Juazeiro do Norte.
(JUANORTE, 01.08.2010)
QUALIDADE NO RÁDIO
Com a transmissão de nossas emissoras pela rede mundial de computadores, venho diariamente tentando ouvir, especialmente seus noticiários. Por uma questão de gosto pessoal, sou exigente. E por azar, freqüentemente me encontro com o que há entre o ruim e o péssimo. Há exceções. Estas eu admiro e me fazem bem. O que fazer, nesta hora da busca de uma notícia mais fresca ? Nestas horas, talvez até por saudosismo, vou me lembrando de muitos profissionais que conheci, ou simplesmente ouvi no rádio. Escreviam, produziam, tinham dicção irrepreensível, falavam corretamente a sua própria língua, suas expressões não eram banais e não envelheceram, senão, merecedores de uma admiração que vinha na reciprocidade a este valor profissional que cada um carregava em si. Como lamento que o rádio, literalmente engolido pela Internet de hoje, está falindo em concessões perniciosas, com uma qualidade sofrível, e tendo tudo para superar-se diante do tempo real que lhe favorece. Historicamente, é a nossa empatia, o amor à primeira vista, já exposto magistralmente por Woody Allen, no A Era do Rádio, que vai se perdendo pela falta de competência. O improviso deixa a falsa impressão de um veículo ágil, agressivo e aparentemente único. Até se ouve dizer que o jornal não tem voz; sua voz é o rádio quem confere. Vejam, só. Quando o rádio esbraveja sobre a miséria do dia-a-dia, especialmente na praga dos programas policiais, ele até comove, para embutir a própria fraqueza e o temor a uma estrutura viciada que alimenta a crescente violência urbana. No rádio destes tempos se respira algo falacioso como o hi-tech desta instantaneidade que parece substituir o talento. Mas, é engano. O rádio não se civilizou o suficiente para dispensar a produção, a redação, o profissionalismo que se tenta mascarar por provisionamento interiorano, circunstancial e vitalício, na ausência de academia, substituída por cursinhos de reciclagem de fim de semana, cortesia da corporação sindicalista. Os valores continuam sendo reclamados por nossas aspirações, como ouvintes. Nós o queremos melhor, na opinião e na música, no texto e na voz, na técnica e no artesanato deste fazer radiofônico. Há pouco li sobre a história da Radio Nacional, e aí dados do papel inovador do nosso Lourival de Melo Marques, incansável, a ponto de ter deixado um verdadeiro monumento que contribui para o resgate da memória de páginas tão douradas. Lourival Marques não foi o único valor que saído de uma radiofonia interiorana impressionou e justificou a missão do rádio. Mas se tudo é o espelho desta sociedade, e o rádio não é exceção, o que pensar dos veículos que assumem esta pretensa formação de opinião, como instrumento medíocre do político sem escrúpulos, de um mercado de ilusão consumista, de atrativos de seitas e credos religiosos e dos modismos que não acrescentam nada, ética ou moralmente aos que o sustentam? É necessário pensar a importância do compromisso social deste veículo. Isso nos cabe. Deixar que a iniciativa se perca na encenação do próprio serviço é reduzir a importância do ouvinte como agente desta regulação e do disciplinamento de que tanto o rádio carece. Felizmente, nós temos esta habilidade mínima de saber o que presta ou o que não presta. E devemos fechar o rádio quando ele não presta. Ou ele nos serve, ou não serve para nada. 
(JUANORTE, 08.08.2010)
PATRIMÔNIO
Em muitos anos de convivência com preocupações, discussões e planos em torno das questões sobre preservação do patrimônio histórico de Juazeiro do Norte, digo-lhes, infelicitado, os resultados são decepcionantes. Nunca, e jamais, bastará o posicionamento e o sonho de uns poucos, diante da maré altamente negativa e obstaculante que vem da Igreja, do poder público, da iniciativa privada e do próprio povo que, em certos aspectos – até, e principalmente, pela ignorância, não aceita a intervenção e pouco faz para preservar valores de sua cultura, de sua história. Quero crer que esteja sendo realista e duro, como convém nestas horas. A idade, a maturação e, felizmente, o bom estado de minhas faculdades, parece-me, garantem a autoridade. Disto testemunharia, principalmente, a minha participação pessoal, pela deferência com que alguns me introduziram em momentos de interlocução, para assistir a sandice entronizada do alto da posse deste dito patrimônio. Algumas vezes me indagaram: o que você pensa que é e sabe? Nada, a rigor, nada. Apenas, desconfio de muita coisa. Como cidadão, honrava a escolha, a estima, a possibilidade de em qualquer fórum estabelecer um diálogo, não com minhas razões, mas com aquelas das quais afloram os argumentos, as necessidades imperiosas de fazer o que tem que ser feito, para não continuar lamentando o desastre. No Juazeiro destes dias fala-se da necessidade, sim – necessidade, de se intervir na Colina do Horto, com respeito à estátua do Pe. Cícero, para solucionar o problema de restauração do monumento deteriorado. Infelizmente, a causa é mais uma questão de aspecto legal do que, propriamente o de preservação de um monumento histórico. Penso que o que ali está não carece de refinamento para se rotular de elevado valor histórico, artístico e arquitetônico. Não é o caso. Apenas um grande emblema, o ícone da cidade amada. Falamos de um Juazeiro de mais de 180 anos e agora se vem referir a patrimônio histórico como a questão localizada, e menor, da estátua que se resolve entre cimento, esmalte e juízo. Esquece-se, portanto, o resto. É a coisa legal, de quem apenas espera o dinheiro para consertar os buracos, sem gastar o que se apura e se recusa a atender ao aspecto legítimo de um tombamento. Aí, sim, é intervenção, pois não poderão, mesmo, fazer nada sem a consulta ao governo, do qual cada um desconfia como pode. Mas, é muito justo. Afinal, me indagariam: porque esta “afuleimação”. É a regra que ainda não foi contestada judicialmente, nem pelo Parlamento, nem pelo judiciário. “E, vós amais o que é fácil? (...) E tendes regras, e tratados, e filósofos e sábios.” Neste pano de fundo, onde se trava a batalha inglória - sumiram, foram minimizadas outras coisas pendentes. Outras apareceram, de repente, como a que se perpetrou na calada da noite com a velha casa paroquial da Basílica Menor do Santuário de Nossa Senhora das Dores, cuja fachada, de uma das casas mais antigas do lugar (a outrora residência da família de Rosinha Esmeraldo), foi alterada para transformá-la, sem suporte qualquer de uma inteligência museal, num galpão, demolidas todas as paredes do seu interior, que se anuncia como futuro Memorial Mons. Murilo. Se é verdade o que sempre pensamos, quanto vexame se assistiria acontecer ao amigo que não consegue repousar em paz em seu jazigo, não bastassem tantas orações nossas. Mais cedo do que nunca, ainda se confirmou: “...muita História, pouca Geografia, pouca memória, pouco juízo...” Não há como se perdoar, a quem quer que seja, por tão leviano atentado. 
(JUANORTE, 15.08.2010)

A SEMANA NA HISTÓRIA DE JUAZEIRO (VI)
Estamos continuando a publicação de efemérides da história de Juazeiro do Norte, agora em sua segunda edição, referente aos dias 24 a 30 de junho.
24 de Junho de 1967: Anunciou-se nesse dia a instalação da filial de Juazeiro do Norte da Caixa Econômica Federal. O prefeito Mauro Sampaio recebeu questionário para ser respondido sobre alguns itens de significação para a CEF com respeito à localização física da agência. Na época, atuava como mediadores o então presidente da Assembléia Legislativa do Estado, deputado Adauto Bezerra, bem como o vereador local, Francisco Rocha da Silva.
25 de Junho de 1917: D. Quintino escreve ao Pe. Cícero, exigindo que o mesmo entregue ao Vigário de Freguesia os panos ensanguinhados e outros e outros objetos conforme a Suprema Congregação do Santo Ofício ordenou em abril de 1894. Refere-se ao fato dos referidos panos terem sido roubados da Matriz do Crato e terem sido encontrados em agosto de 1910 em Casa do Professor José Marrocos após seu falecimento. Diz ainda que o Pe. Cícero tem ciência onde os mesmos estão. Acrescenta na mesma carta: “Nós, por cumprimento do dever, determinamos que, logo que esta receber, entregue, ou mande entregar, ditos panos e objetos, todos ao Revdo. Vigário dessa Freguesia que no-los remeterá com reserva a fim de que seja da execussão completa ao Venerado Decreto do Santo Oficio.” Referiu-se ainda ao fato de o Pe. Cícero haver afirmado que ignorava o paradeiro desses panos e objetos e nem tinha recebido de ninguém aviso a respeito deles; pedia que informasse em que tempo recebeu. Citou ainda outros fatos em tom de censura, atribuindo ao Pe. Cícero e acrescentou que; “estranhando e lastimando o seu modo de proceder, não poderemos deixar de reprovar e proibir todas essas cousas, como Reprovamos e Proibimos como contrárias aos Decretos do Santo Ofício.”
26 de Junho de 1917: Conforme Irineu Pinheiro, no seu apreciado Efemérides do Cariri: o Pe. Cícero respondeu a D. Quintino nesta data, nos seguintes termos: “Exmo. Revmo. Sr. D. Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, Venerado Bispo do Crato. Em obediência às ordens contidas de 25 do corrente mês, a mim dirigida por V. Excia. Revma., tenho a honra de “informar o seguinte: 1°) Conforme V. Excia. disse quando aqui esteve em Visita Pastoral, com a mesma sinceridade afirmo absolutamente não sei “do paradeiro dos panos ensanguentados e outros objetos que a Suprema Congregação do Santo Ofício condenou em abril de 1894 Realmente constou-me que tinham desaparecido da Igreja-Matriz dessa cidade e que o falecido José Marrocos os tinha em seu Poder; mas apesar da nossa íntima amizade, afirmo sinceramente a V. Excia. Revma. dele nunca procurei saber se os possuía nem se era verdadeiro o boato que circulava a respeito. Após seu falecimento, constou-me ainda que as autoridades policiais e judiciárias dessa localidade, dos referidos panos se apossaram e o enviaram para Fortaleza a fim de serem entregues ao então Bispo D. Joaquim. Esta é a verdade única. Entretanto, se foram cair em outras mãos e, durante os meus dias de vida. Chegarem ao meu poder, V. Excia. Revma. ficar certo de que, com muita satisfação, cumprirei as determinações da Suprema Congregação do Santo Ofício. Ora, reiterados por V. Excia. Revma. 2°) Peço permissão a V. Excia. Revma. para afirmar que absolutamente não tenho fomentado, como nunca fomentei, as “Romarias” ou “Visitas” a este lugar, nem recebo os romeiros e visitantes com atenção proibidas pelos poderes competentes, nem com cerimonial de benção a modo episcopal. Efetivamente, força é confessar, tenho benzido objetos de piedade, como sejam, registro, imagens, rosários, medalhas, mas nunca retratos meus e assim mesmo sem ritual, simplesmente com o Sinal da Cruz. Garanto a V. Excia. Revma. que sempre me opus e protestei contra essa exploração de comerciantes de Fortaleza e Recife, fazendo cunhartais medalhas, e posso até invocar o testemunho do Padre Jerônimo, residente na capital a quem por carta em 1914, em resposta a que me dirigiu sobre o assunto, autorizei a protestar, em meu nome contra semelhante exploração que sempre repeli. Aqui mesmo, quando V. Excia. Revma. esteve em Visita Pastoral, concorri com a melhor boa vontade para a apreensão das que existiam expostas à venda e em poder das pessoas que as possuiam. E assim me tenho mantido e continuarei, esforçando-me para apreender as que chegarem ao meu conhecimento. Quanto à vinda de “romeiros” aqui, mas que os recebo como simples amigos, despensando-lhes “tão somente atenções de cordialidade, V. Excia., inteligente como é, e de espírito superior, como tem a felicidade de possuir, muito bem e melhor do que eu poderá compreender a impossibilidade de evitar. São fatos que só podem ser evitados ou mesmo desaparecer pela ação lenta do tempo. V. Excia. Revma. não ignora o que é sistematização do povo na prática de um ato qualquer. De modo que o que eu desejo é que V. Excia. Revma. se convença por ser verdade inconteste, que tão somente tenho benzido os citados objetos de piedade pela forma que declarei. E aproveito o ensejo para, com todo o respeito, pedir a V. Excia. Revma., se possível a faculdade de benzê-los. 3°) É inverídica a informação prestada a V. Excia. de que eu tenha batizado um menino de sete anos, de Picos, cidade do Piauí. Em um dos meses passados, me foram apresentados duas crianças dos sertões do Piauí, cujos pais, alegando os mesmos terem adoecido em caminho, pediram-me que os batizasse, mas em obediência às ordens estabelecidas, ponderei-lhes ser completamente impossível atender. Sendo ambos receitados pelo Dr. Floro e este declarado não ser difícil uma recaída e neste caso até a mesma morte, em caminho, aconselhei que fosse entender-se com V. Excia. a fim de ver se era possível aí no Crato, fornecendo-lhes até algum dinheiro para as espórtulas, pelo fato de serem pobres. E certo de assim o fazerem, seguiram viagem, não sabendo mais do resultado. Dias depois, aqui chegou outra criança do Piauí, limites com o Maranhão, também acometida de impaludismo e porque estava em estado grave, apesar das condições de melhora aparentemente reveladas, querendo os pais que eu o batizasse, mandei que se dirigissem ao Revmo. Vigário desta Paróquia. Este, porém supondo que não havia gravidade, cumprindo seu dever não quis batizá-la. No dia seguinte, sendo a mesma criança vítima de novo acesso, apresentando convulsões muito acentuadas, parecendo estar morrendo, e não se achando presente o Vigário que suponho tinha ido fazer uma confissão, para não morrer pagã, batizei-a. E fiz mais: Escrevi ao vigário da Paróquia de residência da criança, tudo explicando. Eis os fatos em toda a sua plenitude. 4°) Quanto ao que se refere às enfermas, ocorreu o seguinte: informado de que uma mulher, no ato da confissão da honra da morte obstinara-se a não entregar ao Revdo. Vigário uma das medalhas com meu retrato, e ele, cumprindo seu dever, conforme às ordens recebidas, não querendo absolvê-la, ordenei, por um recado que a enferma entregasse a medalha para poder ser absolvida. Quando se supunha estar tudo acabado, alta noite, chegou a enferma em uma rede à nossa casa, já nos últimos momentos de vida em vista do estado da enferma e da hora adiantada, tomei a medalha e absolvi-a, morrendo, logo após, em caminho para casa. Constando-me que uma outra mulher incidira na mesma falta, e por isso mesmo corria o risco de morrer, sem absolvição, dirigi-me à sua residência para conseguir apreender a medalha e poder ela receber os últimos recursos espirituais e lá chegando encontrei-a já sem fala, exalando o último suspiro. Reprovei o ato, aconselhando energicamente os presentes que assim não procedessem e, unicamente por sentimento de caridade cristã, na hora extrema da criatura, absolvi-a. Vê portanto V. Excia. Revma. que foram dois casos somente e em ambas procedi com regularidade, pois não foram com o fim de violar as ordens dos meus superiores hierárquicos e muito menos para aprovar o procedimento de enfermos recalcitrantes, e reprovar o do Revdo. Pároco que cumpria, estou certo, seu dever. Hoje mesmo apreendi uma medalha em poder de um noivo que se recusara a entregá-la no ato da confissão para casar. Concluindo, tenho a declarar que ainda não pus em dúvida a benevolência de V. Excia. Revma., para comigo e confio que V. Excia. Revdma., pela segura reflexão que possui, não prestará atenção a todas as informações que contra mim foram dadas, continuando completamente restabelecida a paz e a ordem entre todos os espíritos desta Paróquia, onde é verdade, tenho toda a história do meu ministério Sacerdotal e que tem a honra de fazer parte da Diocese que V. Excia. Revma. com muita elevação, dirige, fazendo jus a estima, a consideração e ao respeito de todos nós. Queria V. Excia. Revma. aceitar os protestos de sincera consideração do humilde servo em Jesus Cristo. Ass. Pe. Cícero Romão Batista
27 de Junho de 1915: O Pe. Cícero telegrafa ao Coronel Benjamim Barroso. Presidente Estado, em Fortaleza nos seguintes termos: Ciente informações dadas V. Excia. ter Juazeiro interferido deposição chefe Raimundo Cardoso por questões particulares e ter V. Excia. transmitido Rio tão descabidas informações, cumpre-me protestar contra semelhante ato, ponderando que tenho real compreensão minhas responsabilidades e meus atos não permitem tal conceito. Acho solução caso Porteiras pelo retardamento, providências oportunas merece segura reflexão a fim não ficar Cariri material e politicamente em piores condições do que se acha. Permita dizer devido maior conhecimento, tenho homens e coisas nosso caro Estado que Governo V. Excia. está sendo vítima arriscada orientação política interior. São ponderações de patrício e amigo que só deseja paz e ordem. Povo de Juazeiro bem como o do Sertão necessita unicamente auxílio definitivo e urgente para não morrer de fome e não de lutas. Neste sentido já telegrafei poderes República. Ass. Pe. Cícero Romão Batista
28 de Junho de 1864: Faleceu, em Crato, vítima de “cólera-morbus” Joaquim Romão Batista, pai do Pe. Cícero. Por este motivo, o moço Cícero deixa o Colégio de Cajazeiras, Paraíba, onde estava interno e vem para o Crato a fim de dar assistência à sua Mãe, D. Quinou e suas duas irmãs, Mariquinha e Angelica.
29 de Junho de 1930: Fundação oficial do Círculo Católico São José, também denomina depois como Círculo Opérário, pelo vigário Mons. José Alves de Lima. Estiverem presentes ao ato especialmente, convidados pelo vigário, os Revdmos. Padres Guilherme Wassen, Tobias Dequidit, ambos Lazaristas do Seminário da Prainha, Pedro Zingerler, José Barbosa Magalhães, Carlos Coelho, José Pelúsio, Cícero Fernandes Coutinho e Pe. Cícero Romão Batista. A Diretoria do Círculo Católico de Fortaleza, também se fez presente pelo seu presidente José Agostinho.
30 de Junho de 1897: O Pe. Cícero Romão Baptista viaja para Salgueiro, para cumprir o seu exílio, em obediência à intimação de Roma, datada de 19 de fevereiro de 1897, assinada pelo Cardeal Lucido Maria, recebida por D. Joaquim a 25 de março de 1897, e entregue ao Pe. Cícero pelo Vigário Alexandrino a mandado de D. Joaquim, no dia 21 de junho de 1897. Neste mesmo dia 30 o Pe. Alexandrino escreve ao Sr. Bispo comunicando que o Pe. Cícero não dera qualquer resposta e partiu para Salgueiro na noite de 29 de junho sem comunicar seu destino.