quinta-feira, 5 de novembro de 2015


BOA TARDE (I)
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
199: (26.10.2015) Boa Tarde para Você, Manoel Teixeira Barros Filho

Exatamente porque tenho algumas obras raras datadas da aquisição, quando mal começara a residir em Fortaleza, nos idos de um colégio interno, em 1965, é que carrego a lembrança agradável que iniciara, como ainda hoje me conservo, frequentando e comprando livros nos antiquarios. Isso, seguramente isso, que chamamos de livrarias de sebo, fez a minha rotina intransferível, por onde estivesse, em tantos anos, literalmente por Europa, França e Bahia, e nem se arrefece, mesmo com as tentações e as facilidades dos negócios pela internet, em estantes virtuais tão em voga. É assim que manifesto a pessoas como você, “Manel”, gente que assume esta vocação específica de livreiro para preservar livros à mancheia, obras de dificil acesso, coisas fora de catálogos, raridades imprescindíveis para as nossas mais diletantes elocubrações e devaneios intelectuais. Não é o mais barato, convenhamos, mas estas casas exercem uma sedução, algo que congrega e se faz de sala de reuniões, de memórias e grande entretenimento, simplesmente porque nem sempre encontramos o que se procura e a elas voltamos, na ânsia destes achados. Reconheço-me, Manoel, como alguém, caçador destas raridades, especialmente sobre esta produção livresca e ainda desaparecida do Cariri, apresentada em edições de pouca tiragem, livrinhos e por vezes opúsculos miúdos de grande valia, para que não nos falte nenhuma dessas boas referências. Encontro na sua Solaris da Rua Padre Cícero, essa mesma identidade de milhares, espalhadas pelo país, visitadas impenitentemente por gente estranha, ávida por “novidades antigas”, de onde se pode garimpar, lá metidos, um autografo, uma carta, um recorte, uma anotação, uma dedicatória, apontamentos, revelações, fotografias, postais, e o mais que seja. Habituei-me a ouvir nesses sebos, como o seu, histórias surpreendentes, como a que me contou Cid Carvalho noutro dia, daquele bibliófilo famoso em Fortaleza, que adoeceu e sendo desenganado pelos médicos, levou a quase viuva a se desfazer do acervo monumental para custear o tratamento. E não é que o inditoso, contrariando todas as expectativas de juntas médicas, ressuscitou lépido e fagueiro para em seguida quase sucumbir diante da descoberta chocante de que sua imensa biblioteca, uma das maiores do Ceará, havia sumido quase por encanto? 

A realidade é que há um fascínio pelo objeto direto destas livrarias, alimentado outrora por maior visitação daqueles que buscavam estas coisas raras, e eu mesmo, por uns 30 anos, até parece estranho, andei atarantado à procura de Beatos e Cangaceiros, livro raríssimo de Xavier de Oliveira.

Aliás, a produção em livro deste extraordinário autor juazeirense, Antonio Xavier de Oliveira, habitualmente impõe no seu garimpo duras penas, e a mim, particularmente, novo vexame aconteceu por mais anos quando procurava o seu famoso Album dos Doutorandos, de 1918. Antonio Xavier de Oliveira nasceu em 09.10.1892 e viveu aqui até os 18 anos, na vida familiar, e faleceu no Rio de Janeiro em 06.02.1953, sendo irmão de Amália Xavier de Oliveira e tendo colado grau na Faculdade de Medicina da antiga Universidade do Brasil, em 1918. Gradativamente os sebos vêm migrando da condição de livreiro de portas abertas, como ainda encontramos aos montes pelo sudeste, e particularmente na grande São Paulo, para ir se filiando a alguns portais como o estante virtual, o livronauta, o mercado livre, o sebosonline, e outros. Felizmente, nestes novos tempos de tantas facilidades pela rede mundial de computadores, também o mercado livresco de antiquários se agigantou no Brasil e a ele se filiou uma enormidade de pequenos estabelecimentos que faziam as vezes deste garimpo pelo interior do pais. Desejo parabenizá-lo porque agora sei que você, Manoel, faz parte dessa imensa rede, levando para o mercado de absoluta amplitude a listagem dos interesses regionais, principalmente, vitrine autêntica da produção regional, tão pouco percebida por suas edições de tiragens modestas. Destaco particularmente que ao lado do maior interesse por livros didáticos de segunda mão, sebos como este seu, Manoel, tem grande espaço para especializar-se em literatura regional, não apenas no universo mais limitado deste Cariri, mas da literatura nordestina. Além de felicitar lhe, desejo-lhe boa sorte, pois você já deve ter percebido a grande felicidade que se experimenta quando um livro que se lê nos ensina a encontrar a felicidade no cotidiano. 
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 26.10.2015)

BOA TARDE (II)
200: (04.11.2015) Boa Tarde para Você, Antonio Gonçalves da Silva
Nestes últimos e quase dois anos de um retorno prazeroso ao convívio de minha gente juazeirense, reaprendi o velho caminho da frequência à Praça Padre Cícero, não só na rotina diária através deste autêntico coração da cidade, mas principalmente nas manhãs de domingos em clima ameno. O mais encantador destas oportunidades é o reencontro com queridos amigos para uma conversa a mais descontraída possível, onde falamos de nós mesmos, desta cidade que nos alegra, mas que também inspira sérios cuidados e apreensões, porque, em suma ainda não é o que queremos. Das figuras emblemáticas da Praça em muitos tempos, e graças a Deus ainda hoje lá está na nossa companhia, é o Dr. Antonio Gonçalves da Silva veterano testemunha das muitas mutações desta cidade, velho conhecedor de tipos, de fatos, de datas e de histórias pitorescas que nos fazem felizes. Felicidade é, portanto, a nossa de ter no centro desta convivência a figura de Dr. Balbino, sempre muito discreto e bem humorado, a nos elucidar curiosidades manifestas sobre aquilo que habitualmente nem presenciamos e que retroagem à sua juventude, até no entorno da velha Praça. Ele faz parte deste acervo memorial de uma história que agora queremos repassar, por nós, por mim e por Daniel Walker, os que resolvemos recontar em livro a vida da Praça, desde quando nem sinal de sua geografia havia e era, por assim dizer, o lugar ermo e afastado do bulício da vila, o denominado Quadro Grande, um norme e aprazível lugar onde se desenhava o futuro desta cidade. Por isso mesmo, servimo-nos destes momentos gostosos e também das presenças acolitas de tantos outros, como o Ednaldo Dantas, o Expedito Costa, o Gilberto Sobreira, o Carlos Neri, o Manuel Sales, e tantos outros, para estarmos juntos de Balbino, bebendo com sofreguidão, aqueles momentos de uma narrativa descontraída, fiel e cheia de curiosidades na graça do seu contador. A verdade é que sentimos também, até por seu semblante, que a vida da cidade, transitada e julgada pelas rodas da Praça, também é plena de fatos que intranquilizam homens como Dr. Balbino, exatamente porque não se escondem os motivos de angústias que estes novos tempos registram. Como para Balbino, todos nós padecemos durante estas histórias contadas, principalmente, os lamentáveis descaminhos da atualidade, onde políticos dos piores perfis não têm honrado os compromissos que nos animaram a dar-lhes os votos desejados, convertidos sem escrúpulos no passe de mágica para o exercício desavergonhado da corrupção, do desrespeito e do roubo. Ao seu lado, Dr. Balbino, experimentamos solidários estas emoções, num sentimento quase único de que devemos continuar vigilantes, bem ativos, porque ainda não é o tempo de nos considerarmos os novos velhos da Praça, mas a gente sobre a qual ainda repousa parte desta responsabilidade que nos impõe uma atitude civil e amadurecida para reformar o que está na véspera de nossa felicidade. Cada manhã de domingo, quando nos encontramos ali, e por vezes nos visitam nomes destas agremiações políticas da região, como o sonhador Carlinhos Macedo, ou como o maluco do Geovani Sampaio, sentimos de perto a maior propriedade destes encontros e suas conversas. Às vezes enveredamos por trilhas e conversas tensas, áridas e bem acaloradas e por isso mesmo é pertinente a sua ponderada e amadurecida visão e sentimento, como daqueles que aconselham com propriedade, exatamente pela experiência de vida, a provação que nos serve de testemunho. Nosso Juazeirinho tão amado, como na sua expectativa, ainda sobreviverá às graves investidas desta apropriação indevida, pelo descalabro, pelo populismo desenfreado, pela ineficiência dos nossos homens públicos, e estará sempre altaneiro na grandeza de seu povo trabalhador. Por isso mesmo, meu caro amigo, não nos surpreenda morrendo tão cedo, pois nem saberíamos conciliar a desventura de uma notícia tão trágica, e sirvo-me daqui da chance de formular lhe votos por uma vida longa em nossa companhia, nas esperanças desta nossa querida cidade. A Praça, por gente como você, Balbino, vai continuar sendo este fórum circunstancial para que nosso entusiasmo nunca se perca, para que nosso bom humor sempre se manifeste, para que nossa responsabilidade e autocrítica sempre se exercitem na direção do bem comum. Neste sentido, lamentável é constatar que pelo menos para nós, nas ensolaradas manhãs dos domingos, a Praça, outrora a da Liberdade, a da Independência, a Almirante Alexandrino, mas sempre do Padre Cícero, continua sendo o mais autêntico cemitério das ilusões perdidas. 
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 04.11.2015)

AS DOENÇAS DO “PADIM”
Foi publicado no Diário do Nordeste (Fortaleza), no último dia 01.11 uma interessante reportagem que trata de uma questão ligada à saúde do Padre Cícero. Por isso vamos transcrevê-la, integralmente. Eis o texto: “Seria ele portador de uma doença reumática? Por meio da bio-história, médico cearense estuda os múltiplos aspectos da saúde do religioso. A história de vida de Padre Cícero Romão Batista (1844-1934), sobretudo a relacionada à saúde, suscitou um estudo aprofundado sobre a plausibilidade de essa figura mitológica do sertão nordestino ser portadora de espondilite anquilosante, doença inflamatória crônica que afeta as articulações do esqueleto axial (coluna, quadris, joelhos e ombros). O achado foi apresentado pelo reumatologista cearense Francisco Airton Castro da Rocha, professor e pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, realizado em outubro, em Curitiba, com o título "Padre Cícero teria uma doença reumática?"

Questionamentos
O interesse pelo tema, segundo o médico, ocorreu de forma fortuita, após ler a biografia "Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão" (Companhia das Letras), do escritor cearense Lira Neto. Mais que enxergar a figura do homem religioso por trás do líder popular, o médico se deteve a analisar e questionar a série de doenças e diagnósticos atribuídos ao Padim Cícero, nome pelo qual é reverenciado pelos milhares de romeiros que visitam Juazeiro do Norte. A curiosidade pelos achados o levou a levou a ler, ao todo, 12 obras sobre a vida do religioso, cujas imagens o retratam sempre com a cabeça inclinada para o lado direito, portando batina, chapéu e seu cajado. Em sua pesquisa, Dr. Airton Rocha também destaca as obras "Milagre de Juazeiro" (Ralph Della Cava), e "Padre Cícero que Conheci" (Amália de Oliveira), essenciais para elucidar a bio-história de seu objeto de estudo. Para o presidente da Sociedade Cearense de Reumatologia, Dr. José Eyorand Castelo Branco de Andrade, "a entidade vê com bons olhos, pois busca identificar uma doença para a qual não se tinha ainda chamado atenção. São propostas, indícios e tudo leva a crer que o religioso poderia ser portador de espondilite". Destaca que, ainda hoje, muitas pessoas acometidas dessa doença sequer o sabem e, em média, leva-se oito anos para o diagnóstico, após o início dos sintomas.

Histórico dos sintomas

No artigo "Padre Cícero Romão Cícero - Aspectos sobre a saúde do Patriarca de Juazeiro", o reumatologista enumera uma série de indícios, que, aos olhos de um leigo, podem passar despercebidos. A começar pelo fato de, apesar de sua vida longeva, Padre Cícero apresentar o pescoço inclinado, fato particularmente visível quando tinha 44 anos (como mostra uma foto ao lado de sua irmã), e em várias outras posteriores revelando a existência de um desvio cervical lateral. Outro ponto que chamou atenção foi o histórico de o religioso ter sofrido de dores lombares ao longo da vida, assim como de distúrbios do tubo digestivo (intestinos) e infecções de pele recorrentes (nos últimos anos de vida) e de manter uma posição anteriorizada (para frente) do tronco em relação à região lombar. "Em um vídeo da época, é claro observar que ele tem uma postura rígida e que se desloca em bloco, movendo toda a coluna", diz o reumatologista.

Justificativa do “achado”
A probabilidade de o quadro indicar que o religioso era portador de espondilite anquilosante, à luz da realidade diagnóstica de hoje, é justificada por Dr. Airton Rocha por uma série de fatores, sendo o genético uma delas. O componente hereditário - olhos azuis e cabelos louros de Padre Cícero (filho de pai português e mãe índia) - é um elemento a ser considerado, uma vez que a ocorrência de espondilite anquilosante está mais presente em indivíduos brancos caucasóides (do norte europeu). Em relação às fortes dores na coluna, Dr. Airton Rocha descarta a possibilidade de o padre ter escoliose (como é aventado em suas biografias), uma vez que, ao contrário do imaginário popular, a escoliose não é uma doença que provoca dor e raramente acomete a coluna cervical. Sobre Padre Cícero é relatado que ele sofria dores frequentes, em plena maturidade, que chegaram a prostrá-lo e indicavam não depender da realização de algum tipo de esforço físico. Isso sugere ter sido tratado de dor de caráter inflamatório, como é próprio desse grupo de doenças inflamatórias da coluna (como as espondiloartrites).

Patologia de base
O reumatologista cita outra passagem do histórico de saúde do religioso na qual, aos 60 anos, ele ter sido diagnosticado por seu médico, Dr. Antonio Mariz, como portador de gota. "Possivelmente, seria consequência da doença de base (espondilite), uma vez que Padre Cícero tinha dieta frugal e fazia jejuns prolongados, abstêmio de bebida alcoólica, um perfil muito diferente de quem tem gota (artrite associada à deposição de cristais de ácido úrico). Devido aos problemas intestinais, o religioso, por volta dos 70 anos - teve a dieta líquida restrita a chás e água de coco", relata o pesquisador. Esse recorte de evidência sugere que problemas digestivos, que estariam relacionados às espondiloartrites, lhe levaram a pensar que a "água-do-Juazeiro", por não estar adequadamente tratada, lhe prejudicasse. Na verdade, poderia se tratar de distúrbios intestinais que acometem pessoas com espondiloartrites, como a espondilite anquilosante. Sugere que o uso do cajado, além de sua função pastoral, tenha sido a forma encontrada pelo religioso para facilitar o apoio e permitir-lhe grandes marchas e trabalho incessante, para compensar a fragilidade de sua postura. Além de submeter seus achados à crítica de seus pares, junto à Sociedade Brasileira de Reumatologia, Dr. Airton Rocha finaliza artigo que será publicado, em breve, em revista científica da área de reumatologia.

Outro olhar
Para examinar a legitimidade desse achado, o reumatologista José Tupinambá Sousa Vasconcelos realizou análise sob o título "Padre Cícero teria reumatismo". Segundo ele, a pesquisa faz parte do campo da bio-história, que envolve diferentes áreas, desde a médica, passando pela genética, antropologia, química, psicologia e a própria história. "Não é uma questão de diagnóstico". "É possível admitir a plausibilidade nosológica para a fenotipia de espondiloartrite", afirma o reumatologista, para quem considera muito difícil o fato de o religioso - a quem são atribuídos vários milagres - ter sido acometido de escoliose. Outras possibilidades diagnósticas foram excluídas pelo Dr. Tupinambá, incluindo poliomielite, osteoartrite e osteoporose, além da gota, embora considere "ser razoável admitir que Padre Cícero teria sido portador de uma espondiloartrite".

O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI

BIBLIOCINE (FAP, JN) 
A Faculdade Paraiso do Ceará (FAPCE), está incluída no circuito alternativo de cinema do Cariri, embora seja restrito aos alunos desta Faculdade. As sessões são programadas para as terças e quintas feiras, de 12:00 às 14:00h, na Sala de Vídeo da Biblioteca, na Rua da Conceição, 1228, Bairro São Miguel. Informações pelo telefone: 3512.3299. Neste mês de Novembro, está em cartaz, o filme CURVAS DA VIDA (Trouble With The Curve, USA, 2012, 111min), direção de Robert Lorenz. Elenco: Clint Eastwood (Gus Lobel); Amy Adams (Mickey Lobel); Justin Timberlake (Johnny Flanagan); John Goodman (Pete Klein); Matthew Lillard (Phillip Snyder); Robert Patrick (Vince Freeman); Scott Eastwood (Billy Clark); Matt Bush (Danny); Bob Gunton (Watson); Ed Lauter (Max); Chelcie Ross (Smitty); Darren Le Gallo (Enfermeira); Rus Blackwell (Rick); Joe Massingill (Bo Gentry); Jay Galloway (Rigo Sanchez); Terry Wilson (Desportista); Peter Hermann (Greg). Sinopse: Gus Lobel (Clint Eastwood) é um veterano olheiro de baseball, daqueles que se recusam a trabalhar usando o computador e apostam todas as fichas em seu feeling sobre os jogadores. Restando apenas três meses para o fim de seu contrato, ele começa a ter problemas de visão devido a um glaucoma. Escondendo a doença de todos, Gus é enviado para analisar Bo Gentry (Joe Massingill), um promissor rebatedor que pode ser a escolha de sua equipe no próximo draft. Entretanto, ao desconfiar que há algo errado com o velho amigo, Pete Klein (John Goodman) pede à filha dele, Mickey (Amy Adams), que o acompanhe na viagem. Mickey trabalha como advogada e está prestes a se tornar sócia na empresa em que trabalha, mas passa por cima dos compromissos profissionais para acompanhar o pai, apesar deles terem um relacionamento problemático. Juntos, eles avaliam o potencial de Gentry e encontram Johnny Flanagan (Justin Timberlake), um ex-jogador de baseball que é agora olheiro de outra equipe. 


CINE ELDORADO (JN)
O Cine Eldorado (Rua Padre Cícero, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no próximo dia 06, sexta feira, às 20 horas, o filme GIGI (Gigi, EUA, 1958, 119min), direção de Vincent Minelli. Elenco: Leslie Caron (Gigi), Maurice Chevalier (Honore Lachaille), Louis Jourdan (Gaston Lachaille), Hermione Gingold (Madame Alvarez), Eva Gabor (Liane d'Exelmans), Jacques Bergerac (Sandomir), Isabel Jeans (tia Alicia), John Abbott (Manuel), Betty Wand (Gigi, voz nas canções). Sinopse: Na Paris da virada do século, uma garota chamada Gigi (Leslie Caron) é treinada por sua tia e avó para se tornar uma cortesã, o que a menina acha desnecessário. Enquanto isso, o mimado Gaston (Louis Jourdan) vive à caça de emoção. Ao se envolverem romanticamente, Gaston revela à Gigi o plano de torná-la sua amante, o que a menina se opõem, para desgosto de suas treinadoras. Com Maurice Chevalier como o tio de Gaston. Dirigido por Vicent Minelli, Gigi foi a maior bilheteria do cineasta. Produzido no auge dos musicais, Gigi é um filme puramente escapista, por isso muitas vezes criticado. Além disso, o longa causa "raiva" nos cinéfilos por ter ganho nove Oscars, todos aos quais concorreu, um recorde até então, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. O filme, na premiação, concorria com Gata em Teto de Zinco Quente. Merecendo ou não, Gigi hoje já é considerado um pequeno clássico tendo sido selecionado pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos como sendo "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo". O filme também é considerado o último grande musical da MGM, que após o recebimento dos prêmios, instruíram seus telefonistas a atenderem as ligações respondendo "Hello, M-Gigi-M". Baseado na novela de mesmo nome de Colette, Gigi também foi adaptado para a Brodway, tendo sido estrelado por Audrey Hepburn, primeira escolha para o elenco. As músicas que compõe a trilha sonora são de autoria de Lerner e Loewe, arranjadas por André Previn. Para poder adaptar a história para a tela, o produtor Arthur Fredd teve que lutar contra o Código Hays de que a história era condenando os amantes ao invés de glorificar a relação. Através da história de Gigi, nota-se o tratamento dos cavalheiros franceses destinado às damas de classe inferior e o que era esperado destas socialmente. Enquanto que para as classes altas, a dama deveria preocupar-se em ser culta e distinta a fim de casar-se bem, a de classe menos favorecida devia fazer o mesmo, mas para se tornar amante e ser cuidada pelos ricos cavalheiros. A situação da mulher no filme é retratada de modo divertido, porém sutil. O descaso dado ao suicídio da amante, o tratamento que as mulheres dão umas às outras, a ambição de conseguir a graça de um rico e o medo de perdê-lo para outra. A preocupação com idade e beleza, roupas e luxo. A moça Gigi porém demonstra uma independência e feminismo que já estava nascendo naquele começo de século. Ao recusar a proposta de Gaston, a garota manifesta não se contentar apenas em ser amante, tem ambição e dignidade diferente e à frente daquelas de seu círculo social.


CINE CAFÉ VOLANTE (NOVA OLINDA)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, promove sessões semanais de cinema no seu Cine Café, na cidade de Nova Olinda (Fundação Casa Grande) (alternando), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 6, sexta feira, às 19 horas, o filme O ESPELHO (Ayeh, Irã, 1997, 95min), direção de Jafar Panahi. Sinopse: Jafar Panahi faz grande evolução com O Espelho. O tema, a responsabilidade da criança, não difere muito da proposta de seu primeiro filme, O Balão Branco, mas toda a construção do filme, incluindo aí todos os riscos estéticos – o autorismo, o maneirismo que afeta um bocado o cinema de um, digamos, Makhmalbaf – procura fazer o espectador prestar atenção no caráter construtivo da imagem, para um fora – da imagem, do discurso – que constrói a compreensão do filme tanto quanto o seu dentro (o que realmente é mostrado). Proposta que é quase oposta à de seu primeiro filme: se em O Balão Branco o encanto do filme devia-se à adequação naturalista das situações – um acontecimento banal, atuação límpida como se estivéssemos na vida real, pouca ou nenhuma trilha de som –, o estatuto da imagem nesse segundo filme é absolutamente diferente. Em O Espelho, trata-se de realizar uma pedagogia do olhar, um ensinar a ver. A câmara passa a sustentar uma outra relação com aquilo que ela filma, não mais de submissão ou naturalismo; agora, a relação é de construção: eu, cineasta, passo a me relacionar com você, realidade, para construir o meudiscurso, para fazer a minha história. 


CINE CAFÉ (CCBNB, JN)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 7, sábado, às 17:30 horas, o filme APOCALYPSE NOW (Apocalypse Now, EUA, 1979, 153min), direção de Francis Ford Coppola. Elenco: Martin Sheen (Captain Benjamin L. Willard), Marlon Brando (Walter E Kurtz), Frederic Forrest (Jay 'Chef' Hicks), Robert Duvall (Lieutenant Colonel Bill Kilgore), Sam Bottoms (Lance), Albert Hall (Captain Phillips), Laurence Fishburne (Mr Clean), Dennis Hopper (Jornalista), Harrison Ford (Lucas). Crítica: Apocalypse Now" de Francis Ford Coppola (baseado no livro de Joseph Conrad) é desses filmes que surgem a cada 20, 30 anos tamanha é sua genialidade, portanto, se você ainda não viu o filme (você é um dos poucos!!) não perca essa oportunidade (o DVD da versão "Redux" está nas locadoras - alugue, adiante a seqüência dos franceses que foi incluída e assista ao resto com a maior atenção do mundo). Tudo neste filme é espetacular a começar pelo nome que é excelente. Existem lá certas pessoas que dizem que o final é fraco (eu li algum crítico dizendo isso) e a esse respeito só posso dizer que a insanidade foi além do filme e atingiu certos críticos. Também existem umas poucas pessoas que consideram "Nascido Para Matar" (de Stanley Kubrick) como um filme superior, mais uma vez, a insanidade paira no ar. Ok, isso dito, vamos a obra prima. "Apocalypse Now" (totalmente injustiçado pelo Oscar - levou apenas dois prêmios - fotografia e som) é muito mais do que um filme de guerra, é um filme sobre a influência que uma guerra gera nas pessoas, sobre o quão despropositados são os atos cometidos em uma guerra, é um filme surreal e - por mais contraditório que seja - ao mesmo tempo cruelmente real... O filme de Coppola se passa no Vietnã - mas poderia se passar em qualquer outra guerra - e é lá que o Capitão Willard (Martin Sheen - que teve um famoso ataque cardíaco durante as filmagens nas Filipinas - os bastidores da complicada filmagem são um filme a parte - atrasando assim, a produção de um filme que era visto por todos como uma loucura de Coppola) é encarregado de encontrar (e exterminar) o renegado Coronel Kurtz (Marlon Brando) que enlouqueceu e fundou uma seita no meio da selva. Desde a primeira seqüência do filme dá pra perceber a genialidade (estou voltando a essa palavra por não conseguir pensar em outra melhor...) pela qual Coppola e todo elenco estavam tomados durante as filmagens. A cena, com Martin Sheen bêbado no quarto, a música do Doors, o som dos helicópteros se confundindo com o som do ventilador de teto é simplesmente espetacular, e daí em diante não há um só momento de "Apocalypse Now" que não seja sensacional (não custa repetir que na versão "Redux" a maior seqüência incluída - a dos franceses - não condiz com o resto do filme, portanto se você assistir a essa versão, esqueça a seqüência citada). Um dos pontos altíssimos do filme é o personagem de Robert Duvall, o coronel surfista Bill Kilgore, que é (mais uma vez) genial (na versão "Redux" o personagem de Duvall ganha mais espaço para mostrar as suas maluquices). É dele a mais famosa frase do filme "adoro o cheiro de napalm pela manhã" e também se deve a ele uma das mais surreais seqüências de "Apocalypse Now", aquela em que ao som de "A Cavalgada das Valquírias", de Wagner, helicópteros americanos atacam uma vila vietcongue. Outro ótimo personagem é o seguidor alucinado do Coronel Kurtz feito por Dennis Hopper (que à época das filmagens vivia envolvido com drogas e eu arrisco dizer que a loucura vista na tela vai além de uma grande interpretação). Além das ótimas atuações de Duvall e Hopper o filme ainda tem Marlon Brando - sempre envolto por sombras na versão original (foi uma exigência do ator que começava em 79 a ganhar as formas arredondadas de hoje) e aparecendo no claro na versão "Redux" - que compõe o insano Coronel Kurtz magistralmente. Sem esquecer de Martin Sheen excelente - inesquecível a cena em que ele levanta da água. (ainda temos no filme Laurence Fishburne - adolescente - como um dos soldados que parte em missão com o Capitão Willard e uma rápida aparição de Harrison Ford). Contando com excelentes interpretações, direção excepcional e uma fotografia de chorar de tão boa (de Vittorio Storaro), "Apocalypse Now" é um filme estarrecedor e extremamente complexo, absolutamente obrigatório a todo fã de cinema. É sem dúvida um marco da sétima arte e dificilmente será superado algum dia. (Crítica por: Juliana de Paula, http://www.cinepop.com.br/criticas/apocalypse.htm)