domingo, 15 de janeiro de 2017


BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que semanalmente estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de quartas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
243: (11.01.2017) Boa Tarde para Você, Maria das Dores Bernardino Santos (Dorinha do Horto)
Revendo um release do Geopark Araripe, ali encontro que o “Geossítio Colina do Horto compreende as rochas mais antigas da região do Cariri cearense, originadas no interior da Terra, há aproximadamente 650 milhões de anos. Repito: 650 milhões de anos!!! O Horto, na Serra do Catolé, para nós não tem mesmo essa idade, a tirar pelas notícias que falam quando da decisão do Pe. Cícero em fazer dali o local aprazível, com sua moradia de verão, a partir mesmo do início do século passado, conforme está no frontispício do casarão, escrito como 1907. O Horto para nós é como desses lugares sagrados que gostaríamos de ver longamente preservados como o conhecemos na meninice e na juventude, para que não se perca jamais essa ligação íntima, tão visceral com a nossa existência, pelo que inspira de religiosidade, de história e de cultura. E o Horto, convenhamos, é uma simplificação metafórica para nos poupar da mais inevitável citação de sua cena física, com rua, casario e acidentes, que abriga algo riquíssimo, antropologicamente, em sua cena humana, em ritos, crenças e singularidades. É neste cenário que quero reencontrar a minha querida amiga Dorinha do Horto, pelo quanto, e nesses dias, ela foi lembrada, como mestra da Lapinha da Vila Bom Jesus, coisa que a torna jovem e feliz por além do seu sexagenário existir, muito do qual dedicado a essa manifestação. Com imensa fidelidade e disponibilidade, a comunidade do Horto tem acompanhado essa missão de Dorinha, desde 1966, como ela a recebeu de sua mãe, dona Maria dos Benditos, também mestra e compositora de cânticos e formadora de grupos mais antigos. Portanto, Dorinha, não foi uma marca simples, essa recentemente conquistada, de cinquenta anos ininterruptos, fazendo com as próprias mãos, aos sofrimentos de contar quase sempre com a meninada da Vila do Horto e suas famílias, sempre solidárias à existência da arte. Recentemente, ouvidos pela nova equipe municipal, vários de nós, identificados generosamente com esses caminhos da cultura popular, nos posicionamos pelo fortalecimento desses grupos, institucionalmente, de uma forma mais regular para evitar o seu gradual desaparecimento. A burocracia deve ser a mínima para não estancarmos em obstáculos intransponíveis no tocante a esses subsídios, mas que eles não faltem, porque nenhuma ordem, nenhuma decisão, seria em si suficiente para prover o brilho, a disponibilidade e o entusiasmo para fazê-lo pelo povo. Por isso, Dorinha, é notável o que você consagrou em vida nesse trabalho pela permanência do seu grupo da Vila do Horto, cumprindo principalmente uma missão que tem a ver essencialmente com o seu encanto, a sua determinação, porque atrelou a sua própria vida a existência da Lapinha. Faz gosto ver a função desses grupos, entre igrejas, residências e lugares públicos a nos impregnar com a alegria própria do tempo natalino, o que está na liturgia entre o tempo do advento, a natalidade e a epifania, transmutado em festejo pela chegada do Divino Salvador. Recordo de minha infância, pelas ruas do Juazeiro nos anos 50-60, a presença desses grupos, participando em nossas casas, nas praças e nas igrejas, visitando os presépios montados e celebrados aos sons festivos, com a graça dos jovens, pastores, camponesas, caboclos, ciganas e anjos, e ao som inconfundível, tão melodioso na canção “Bate o Sino, pequenino, sino de Belém...” De longa data já se falava em família sobre as velhas lapinhas, como a Lapinha da Beata Angélica dos Santos (na Rua São Pedro), a Lapinha de Dona Cristina Almeida (na Rua da Conceição) e a Lapinha de Dona Tatai (na Rua Santa Clara). Houve tempo que eram umas trinta lapinhas, lembrando o entusiasmo de Pe. Murilo em fomentar suas atividades, naquilo que trata da perenidade e até da inovação pela inclusão de personagens aparentemente díspares à cena do presépio, como a beata Maria de Araújo e o Padre Cícero. Já não temos mais o incentivo do festival com o apoio municipal, mas elas resistem aos tempos e incertezas, como a d´O Menino Jesus, de Dona Têta (nos Salesianos), e as de Nossa Senhora Aparecida, de Dona Fátima e a d´Os três Reis Magos, de Dona Zefinha (no Romeirão). Por essas coisas todas, aqui tão pobremente relembradas, querida Dorinha do Horto, asseguro-lhe esse testemunho de quem escreve para acertar contas com a infância, como já ouvi dizer, mas principalmente para louvar a grandeza do seu gesto, em vida dedicada que se renova a cada ano.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 11.01.2017)

BOM DIA!
Continuo transcrevendo nesta coluna semanal o conjunto de sete textos que estão sendo publicados na minha página do Facebook, tratando de questões relacionadas com a atualidade da vida juazeirense, com o objetivo de fomentar uma ampla discussão sobre esses temas de nosso interesse. Os que desejarem contribuir com esse propósito, poderão dispor do espaço na rede social, ou encaminhando sua opinião para o nosso endereço. Muito grato.
BOM DIA! Por Renato Casimiro
No artigo anterior fizemos uma menção para analisar aqui a questão da frota de veículos que temos no município e como isto impacta sobre a desorganização do trânsito, de modo a exigir grande cuidado, redobrados esforços em planejamento, investimentos em engenharia de tráfego e gestão por parte do poder público. O Anuário do Cariri de 1949, ano em que nasci, registra para a cidade de Juazeiro do Norte os seguintes números de veículos em circulação: Automóveis (30); Caminhões (40); ônibus (3); Motocicletas (2); Bicicletas (18); Carros de bois (14); Carroças (14); Cabriolés (4), num total de 125 veículos. Bem mais recentemente, segundo as estatísticas do IBGE, de 2013, tínhamos naquela ocasião, os seguintes números: Automóveis (30.536); Caminhões (1.898); Caminhões-trator (129); Caminhonetes (6.463); Caminhonetas (1.117); Micro-ônibus (195); Motocicletas (45.928); Motonetas (7.953); Ônibus (231); Tratores (0); Utilitários (441), num total de 94.891 veículos. Os dados mais atuais são os do próprio DETRAN-CE que registram até outubro de 2015 os seguintes números: Automóveis (32.185), Caminhões Trator (142), Caminhões (1.958), Caminhonetes (7.094), Camionetas (1.048), Micro-ônibus (195), Motociclos (48.172), Motonetas (8.582), Ônibus (248), Reboques (1.023), Semi Reboques (1.023), Utilitários (499) e Outros (relacionando as seguintes categorias: Ciclomotor, Triciclo, Trator de Esteiras, Trator misto, Quadriciclo, Motor casa e Side-car), num total de 101.519 veículos registrados. A primeira coisa a considerar é evolução na diversidade desta frota, vista aqui historicamente pelos tipos de veículos e suas circunstâncias, tais como dimensões, potência, etc. Ora, qualquer gestão municipal veria obrigatoriamente, no seu planejamento, estes aspectos, de modo a minimizar elementos mais arrogantes da projeção que faríamos para o futuro, em vista do crescimento vegetativo desta frota ao clima tão pacato da cidade de então. Minimamente, isto requereria um novo olhar que aos poucos fosse contemplando algumas novas necessidades com respeito a dimensões de vias públicas, zoneamento para o trânsito e até mesmo as faixas exclusivas que iriam sendo necessárias. A realidade destes últimos anos, especialmente entre 2013 e 2015, demonstra que no período acumulamos uma variação de frota por volta de 7%, mas nela destacamos fatos relativamente novos como a variação na categoria de motos em 10%, observando que esta categoria, e assemelhados, numericamente já representa cerca de 56% do total da frota circulante. A frota de motociclos e assemelhados, espalhada por todo o município já demanda um estacionamento que ocuparia mais de 15 hectares e isto em parte é responsável por um dos componentes da pressão do trânsito sobre os problemas de mobilidade. Ultimamente tem-se tentado algumas estratégias para conter a desorganização inevitável por conta da excessiva frota, própria ou o total circulante, em razão do que ingressa na área central da cidade vindo de mais de uma centena de municípios. É o caso das centenas de vans e mini vans que chegam à cidade desde as primeiras horas da manhã, motivado pelos atrativos que a cidade exerce em sua área de influência, como pólos comercial, de educação e serviços em geral. Como a maioria aqui permanece por várias horas, a área mais central da cidade se reduz temporariamente em uns dois hectares. Algumas iniciativas tem minorado a questão, como o estabelecimento de zona azul, novos estacionamentos rotativos e algumas concessões do município, em áreas reservadas, particularmente nas romarias. Sobre as romarias, nota-se apenas um pequeno esforço concentrado nos períodos críticos e pouca coisa em termos de engenharia de tráfego. Veículos muito pesados trafegam danificando os leitos e este estado de coisas permanece sem uma reavaliação do problema que continua abrindo ruas juntando pedras para um capeamento dos mais medíocres e vagabundos. Ora, esse fluxo intenso de transporte coletivo é extremamente benéfico aos interesses do município, mas falta à municipalidade, como responsável pela organização destas atividades ligadas ao transporte intermunicipal um disciplinamento desejável e também a iniciativa de prover solução, inclusive com benefícios para a arrecadação. Agora mesmo, com o reinício da temporada chuvosa, já começamos a verificar como esta malha viária é precária. Alguém já usou a expressão sonrisal para qualificá-la muito bem, pois basta um pouco de água das primeiras chuvas e tudo se desfaz, como se solubilizasse todo o revestimento, restando montes de pedras a complicar mais ainda a vida dos motoristas. Quem anda pela periferia da cidade constata facilmente a estreiteza mental do gestor público em continuar repetindo os mesmo erros. A cidade se espalha e tudo acontece como se nada tivesse mudado neste tempo, pois as ruas continuam estreitas e se mostrarão incompatíveis com o trânsito mais denso e confuso que experimentaremos em anos futuros. Não vale a pena aqui discutir este aspecto, mas não podemos nos esconder diante da evidente irresponsabilidade dos gestores em não elaborar um novo plano diretor para a cidade, coerente com o momento que vivemos. Requeremos também uma revisão no código de posturas e o estabelecimento de novos e honestos critérios para a aprovação de novos loteamentos na área do município. Como podemos constatar com muita facilidade, estes loteamentos são barganhas que transitam com farta desonestidade entre os poderes do município e isto sem dúvida alguma compromete a qualidade de vida pela qual tanto lutamos e que à nossa revelia é negociado de forma infamante. Na etapa final destes modestos considerandos, vamos nos deter um pouco, mesmo superficialmente, sobre alguns pressupostos que a engenharia de trânsito preconiza, com o objetivo de agilizar soluções para este problema que já assume status de gravidade. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 08.01.2017)
BOM DIA! Por Renato Casimiro
O propósito desta pequena série de argumentos para iniciar uma discussão sobre a questão do trânsito na cidade pode ser completado aqui com alguns elementos da nossa própria observação em torno das dificuldades que enfrentamos no cotidiano. Provavelmente elencaremos como a primeira delas a condição das vias de tráfego, sempre muito maltratadas em vista da má conservação, fruto de péssima manutenção dispensada pelo poder público. Já falamos brevemente sobre o péssimo estilo de abertura de vias e a construção dos leitos, com tal fragilidade que não resistem bem a esta temporada de chuvas, por exemplo. O nível de compactação também é precário para a diversidade da frota que já inclui no livre trânsito o uso por veículos de grande porte, pleno de cargas além da capacidade que se poderia estabelecer. Junte-se a isto o proselitismo político que sempre visualizamos pelos governos, como agora que estabelece um medíocre plano de pavimentação de vias, absolutamente secundárias diante do necessitado para o momento. Neste instante, por exemplo, as principais vias da cidade estão necessitando um grande reforço de manutenção, mas um passeio por um desses bairros de grande adensamento eleitoral está ganhando uma pavimentação horrorosa para o devido efeito populista do gestor. Outra coisa lamentável decorre da insuficiente sinalização, tanto vertical como horizontal, exatamente pela mesma demanda de manutenção que exige pronta atenção da engenharia de trânsito. Mas este cuidado parece não despertar muito interesse, pois o que vemos é o trivial, aquilo que normaliza o trânsito no básico como direções, uma certa sistemática de fluxo que privilegia apenas grosseiramente o tráfego. Veja por exemplo a falta de sensibilidade para com diversos cruzamentos importantes da cidade, nos quais, por absoluto desleixo não se produz algo mais em agilidade quando é possível. Relevo neste caso o exemplo do cruzamento das avenidas Castelo Branco com Padre Cícero, na altura do Shopping, onde não se sinaliza para as possibilidades de duas vias simultâneas de direção em decorrência do semáforo instalado. Não há sinalização adequada e o sentimento é de que as alternativas sensatas são proibidas, mesmo porque fortemente vigiadas por foto sensores. E isto se repete em outros locais. Aliás, a questão dos foto sensores ainda carece de uma melhor caracterização de sua aplicação. Do modo como são instalados eles cumprem eficazmente a função punitiva em detrimento da sua razão educativa para melhor utilização das vias. Neste particular, basta ver o engano cometido na péssima sinalização de um destes últimos instalados na Av. Ailton Gomes, que só avisa o limite de velocidade no exato momento em que é “flagrado”. A cidade cresce, e há a necessidade de estabelecer limites bem diversificados de velocidades. Por isso mesmo já não somos capazes de memorizar locais, limites e circunstâncias destas advertências se não for por uma sinalização adequada. Outra coisa que requer um disciplinamento e disso já tratamos brevemente aqui é a repercussão sobre as rampas de acesso para estacionamentos privativos, especialmente o das residências. A construção livre, sem qualquer licenciamento da prefeitura, se dá, geralmente, com duas rampas: uma na própria via de tráfego de veículos, por vezes com cerca de um metro de extensão, e outra sobre a calçada. Essas construções em muitas ruas chegam a provocar obstáculos de até dois metros no afunilamento da via que já é tão estreita para a necessidade local. Outro fato lamentável nos nossos espaços de trânsito é o que decorre de alguns serviços básicos, principalmente como a manutenção na distribuição de água, o péssimo serviço de esgoto a céu aberto e drenagem de águas pluviais, pessimamente estabelecida, como podemos ver agora na temporada de chuvas. Por estes dias mais uma romaria toma conta da cidade e as condições de trânsito são postas em cheque por serem elementos importantes. São impactos notáveis em poucos dias, é verdade, mas que trazem repercussões mais duradouras para todos os setores da cidade. Também por estes dias estamos novamente enfrentando o retorno às aulas e isto significa um trânsito mais frequente da nossa frota, est mais própria da cidade, em muitos locais críticos das proximidades de escolas, faculdades, universidades. Mas isto também é bem verdadeiro por um expressivo número dos chamados veículos alternativos vindos de dezenas de cidades do nosso entorno, da nossa área de influência. Todos estes são partes interessadas no equacionamento das questões e trânsito, na expectativa de melhoria continua para tais serviços. Enfim, por todos estes elementos mencionados, mais como observador do que como técnico, já nos indica para a devida oportunidade de tempo para que os órgãos competentes e tão comprometidos com estas questões promovam estudos para implementar melhorias neste setor. Fica a sugestão para que tanto estes segmentos quanto o da Câmara de Vereadores também assuma parte destas insatisfações, realizando audiências públicas para ouvir sugestões que orientem a aplicação de soluções eficientes para minimizar os transtornos decorrentes do caos urbano que nos aflige. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 09.01.2017)
BOM DIA! Por Renato Casimiro
Sou grato ao comentário de Fátima Bezerra de Oliveira que lamenta o estado degradado da Rua São José, especialmente no seu trecho inicial, o mais antigo da via. E sobre ele eu tenho a considerar o seguinte. A Rua São José é das mais antigas da cidade. Era uma das oito projetadas ruas iniciais da vila. Ela nasce exatamente no local que se denominou Rua, ou Beco, do Sovaco (continuação da Rua dos Brejos, para usar a expressão de Octávio Aires de Menezes), iniciando-se estreita, e com pequena curva na altura do antigo Orfanato Jesus Maria José. Conforme se lê em Mário Bem Filho(Juazeiro e seu espaço físico), a Rua São José “é a primeira paralela oeste à Rua Padre Cícero, início da Rua do Brejo, sentido Norte/Sul, termino na Rua Leão XIII”, no Bairro dos Salesianos, com o CEP indicado pelos Correios como 63.010-421. Os primeiros registros desta rua parecem ser os que encontramos em dois documentos. O primeiro deles é uma planta elaborada pelo referido Octávio Aires de Menezes, a pedido do historiador Ralph della Cava, e que reproduz a Vila de Joaseiro, de 1875, pouco depois da chegada do Padre Cícero. A vila não tinha senão 32 casas, a maioria de taipa, e a nossa rua era tida como “Futura” Rua São José. Não havia qualquer casa neste trecho. A Rua São José era o limite para os Brejos, o que se denominava de terras de baixio, na direção do Salgadinho, o rio que passava pela aldeia, e que em tempos de chuvas, sobretudo de bom inverno, alagava e chegava a espalhar suas águas pela rua. O outro documento que faz parte dos Arquivos do Padre Cícero, é um recenseamento da Vila, feito em 1º de janeiro de 1909, certamente para encaminhar o pleito de emancipação, encomendado por Doutor Floro Bartholomeu da Costa. A Rua São José ali se apresenta com uma população de 1.100 habitantes, o que se depreende poderia conter por volta de 200 casas. A povoação de Joaseiro tinha naquela data, 18 ruas, e 4 travessas, com uma população de 15.050 habitantes. A Rua São José era a quarta mais populosa, ficando atrás das Ruas Padre Cícero(2.000 habitantes), Santa Luzia(1.538), e Grande do Salgadinho - hoje Av. Leandro Bezerra, (1.136). Concentrava, portanto, 7,3% da população da cidade. Alguns registros sobre a Rua São José indicam que ela foi configurada à semelhança de outras ruas, a partir dos anos 20. Rua estreita, calçada com pedra tosca, com coxia para escorrer águas pluviais, calçadas altas em tijolo aparente e fachadas de casas comuns, sem recuo. As casas eram quase sempre modestas, na maioria de porta e janela. Apesar desta ocorrência comum, a Rua apresentava muitos exemplos de ótimas construções que ao longo dos tempos serviram de residências e algumas instituições. Na sua primeira quadra, desde a Rua dos Brejos, ainda hoje constatamos a presença de parte daquele casario miúdo, em torno de 25 casas, na porção mais estreita da rua, até chegar ao Orfanato Jesus Maria José, em frente ao que chamávamos vulgarmente de Beco da Bosta, porque era a passagem de animais para o brejo e vivia constantemente sujo. Sobre o Orfanato, valho-me de ótimas referências de Generosa Alencar, Fátima Menezes, e Amália Xavier de Oliveira. O Orfanato tinha como finalidade o amparo de meninas desvalidas, pobres e órfãs, propiciando-lhes educação.  Ai, algumas beatas como Raimunda da Cruz Neves (Munda), Joana Tertulina de Jesus (Mocinha), e Cotinha, assim como a profa. Donata Bezerra, ensinavam catecismo, trabalhos manuais, educação e cultura. O prédio tinha o número 79 e tudo indica que logo foi construído, conforme fotografia estampada no livro do doutor Floro Bartholomeu da Costa, de 1923. Era bem larga, constando de duas portas e nove janelas nas laterais. Padre Cícero Romão Batista  o fundou no dia 08.04.1916, e entre esta data e 1934, quando ele morreu, foi seu mantenedor com doações financeiras voluntárias de romeiros e amigos. As filhas de Santa Tereza de Jesus, por interveniência do Padre Cícero junto ao Bispo da Diocese do Crato, Dom Francisco de Assis Pires, foram as sucessoras, assumindo a direção em 1935. Mas, antes disto, o Orfanato foi transferido para a velha casa de campo do Deputado Floro Bartholomeu da Costa, situando-se hoje na Rua Cel. Antonio Pereira, 64, Bairro de Santa Teresa. No prédio do Orfanato já funcionou a Escola Normal Rural, logo após fundada em 1934. A Escola se mudaria em 04.09.1934, daí para o local onde funcionou até sua extinção, na Rua Nova (depois Av. Dr. Floro). Com a morte do Padre Cícero, o prédio do Orfanato foi herdado pela Congregação Salesiana. Também funcionou neste endereço o Educandário São José, sob a direção das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, a partir de 02.10.1948. O Dispensário, como era conhecida a casa das freiras, existiu anexo, destacando-se a sua capelinha, sob a responsabilidade de vários capelães, dentre os quais eu me lembraria mais dos Padres Cícero Coutinho e Silvino Moreira Dias. Em frente, havia dois prédios de propriedade de "seu" Rochinha. Num deles funcionou a fábrica de doces de José Figueiredo - nosso compadre e grande amigo. Depois, ali existiu uma oficina mecânica na qual foi montado um avião da missão americana, sob direção do Mr. Harold. Vizinho, a casa de Rochinha, anteriormente, minha mãe -  Doralice Soares, e suas amigas, as professoras Zuila Belém e Nazaré Pereira, fundaram e mantiveram por alguns anos o Instituto Dom Vital, uma escola primária particular. No prédio seguinte, um edifício com dois pavimentos, se falava que havia sido construído para abrigar a futura Diocese do Cariri, sonho do Padre Cícero. Nele morou o prof. Agostinho Balmes Odísio e sua família – mulher e sete filhos, entre 1934 e 1940, quando se mudou para Fortaleza. Agostinho era italiano, escultor e arquiteto. Ele fora discípulo de Auguste Rodin, em Paris, em 1904. Veio para Juazeiro, saindo de Minas Gerais, atraído pela curiosidade em torno do Padre Cícero. Este prédio, pelos anos 50, serviu de morada para os primeiros frades Franciscanos que vieram para Juazeiro, a partir da pedra fundamental do Santuário de São Francisco, em 06.01.50, data fatídica em que foi assassinado o Mons. Joviniano Barreto. Junto a este prédio estava o Abrigo - ou Asilo Nossa Senhora. das Dores, sob a responsabilidade da Sociedade de Amparo aos Mendigos(SAM). Em frente, tínhamos os fundos da casa do primo José Teófilo Machado, ou mais precisamente de Zefa, a governanta da casa. Ainda vizinho, lado par, vinham duas casas onde também morou o Padre Cícero, e que nos anos 50-60 foi residência de nossos compadres Dolores e José Figueiredo. Embora ainda hoje se possa encontrar residindo famílias, ou seus descendentes, desde o começo do século, é natural que muitos dos imóveis tenham sido transacionados por compra e venda, doação ou permuta. Novamente recorro a Paulo Machado, aliás o autor é virtualmente um antigo morador da Rua São José, pelo fato de sua antiga residência da Rua Padre Cícero ter fundo correspondente com a São José. No seu excelente trabalho - Cartório como fonte de pesquisa, encontrei a súmula de transcrição destes negócios de imóveis, envolvendo 17 deles, no período de 24.10.24 a 04.08.42, onde figuravam como proprietário, ou adquirente, o Padre Cícero ou a Beata Mocinha. Dois destes imóveis são particularmente importantes. O primeiro, a casa de nº 29, hoje 79, já construído para o Orfanato Jesus, Maria e José, doado em 23.07.30 pelo Padre Cícero para a Congregação das Irmãs da Ordem Terceira Franciscana, freiras Capuchinhas, com a cláusula de obrigatoriedade de manutenção do estabelecimento. Isto acabou por não acontecer, motivando a transferência do estabelecimento para as Filhas de Santa Teresa de Jesus, conforme já mencionei. O segundo, envolvendo os prédios de números 242(onde o Padre Cícero residiu e hoje é o Museu) e 258, uma residência. A Beata Mocinha, em 04.08.42, portanto, já após a morte do Padre Cícero, doava à Congregação da Filhas de Maria Auxiliadora (Irmãs Salesianas) para que ai instalassem um colégio. Como no prazo de dois anos isto não aconteceu, a doação ficou incorporada ao patrimônio da Congregação Salesiana do Norte do Brasil, herdeiros universais do Padre Cícero e já instalados na cidade. Talvez ainda volte a esse assunto, pois a Rua São José é o meu xodó há muitos anos, com um acervo extraordinário em sua história. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 10.01.2017)
BOM DIA! Por Renato Casimiro
Estou aproveitando a mudança de endereço recente para ir completando a doação prometida à UFCA de boa parte do acervo histórico que Daniel Walker e eu temos reunido em mais de cinquenta anos de estudos e pesquisas. Isso se iniciou quando formalmente nós dois fizemos a entrega do primeiro lote, em 03.11.2009 com reunião pública, homenagem, pergaminho, pompa e circunstância. Tudo isso, à época, à sombra da generosidade de Fanka Santos e sua instituição para nos encher de orgulho pessoal pelo gesto e recepção. Depois, em duas outras ocasiões o material continuou a ser entregue, mas parou em virtude de pequenos obstáculos como a carência de espaço para abrigar o que tivemos tanto em empenho em reunir. Recentemente fomos convidados para ver de perto o LACIM (Laboratório de Ciência da Informação e Memória), sob a coordenação da professora Ariluci Goes Elliott. Ali estão realizando o projeto de pesquisa sob o título de Preservação e Dinamização da Memória Documental da Região do Cariri, que visa dar visibilidade ao acervo existente no LACIM, vinculado ao Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Para isso, conduzem a sistematização e a organização do acervo, a fim de preservar e dinamizar a memória documental para consulta e pesquisa da comunidade acadêmica e da comunidade externa. Nosso acervo é constituído basicamente de: Documentos Históricos, Livros, Opúsculos, Folhetos, Boletins, Jornais, Literatura de Cordel, Fotografias, Mapas, Vídeo, Áudio, Cinema, Xilogravura, Catálogos, Cartazes, Correspondência, Monografias, Dissertações, Teses, Arte Popular, Relatórios, Originais de livros (já impressos ou inéditos), etc. O acervo cobre, preferencialmente Juazeiro do Norte, mas há amplo material bibliográfico sobre quase todas as cidades do Ceará, e especialmente do Cariri. E nesses termos, são contempladas referências: 1. De autores juazeirenses (toda e qualquer obra escrita por um juazeirense nato, ou “adotivo”; 2. De temas juazeirenses (tais como religiosidade, história, literatura, etc; 3, Edições juazeirenses (publicações editadas localmente); 4. Coleções completas ou quase isso de grandes títulos cearenses, como a Revista do Instituto do Ceará, Academia Cearense de Letras, Hyhité, Itaytera, A Província, Aspectos, Boletim do ICVC, e muitas outras. Alguns destaques podem ser mencionados:  Documentos Históricos (quase todos os documentos do arquivo do Pe. Cícero (alguns originais e a maioria em digitalização); Livros, Opúsculos, Folhetos, Boletins, Catálogos, Monografias, Dissertações, Teses, Catálogos, Cartazes (milhares de peças que procuramos reunir, dando ênfase, especialmente a formação de uma autêntica biblioteca juazeirense; Jornais (mais de setecentos títulos, alguns dos quais completos, desde o nascimento da imprensa local, com o Rebate e tantos outros ainda hoje são mantidos ativos, e sobre os quais nos empenhamos, tanto realizando o inventário atualizado (2017), bem como coletando tudo o que vai saindo em novas edições; Literatura de Cordel (coleções as mais completas de diversos autores caririenses, bem como todas as edições dos clássicos da Lira Nordestina, novos autores, etc; Fotografias (amplo catálogo, com mais de 20 mil peças, todas digitalizadas, especialmente de Juazeiro do Norte, remontando ao século XIX; Mapas (antigos e atualizados, de Juazeiro e do Ceará), Vídeo (boa coleção de DVDs sobre fatos e personagens do Ceará), Áudio (CDs e gravações ainda em fita magnética de eventos, depoimentos, e música); Cinema (alguns filmes em super8 e 16mm, sendo a maior parte já telecinado para DVD); Xilogravura (uma das mais ricas coleções brasileiras de xilógrafos do Cariri, com cerca de 17 mil peças, já digitalizadas e catalogadas, de mais de setenta artistas regionais; Arte Popular (muitas peças de artistas, especialmente dedicados ao entalhe em madeira); Correspondência, diversa, particularmente a do Pe. Cícero e outros personagens (agora estamos tratando de digitalizar e catalogar a correspondência do Mons. Azarias Sobreira Lobo). Enfim, tanto Daniel Walker como eu podemos hoje olhar para isso tudo realizado e ter nitidamente a sensação agradável de ter cumprido uma missão que se fazia necessário, pois ainda hoje não temos arquivos estruturados que se façam a partir desse material mencionado. Infelizmente é isso, nenhuma cidade do Cariri pode ainda contar com um arquivo público, pois tudo é descartável. Tivemos sempre, e ainda hoje, muita tristeza em relatar o descaso das pessoas para com esses elementos primários. Por isso mesmo, esse acervo se enriqueceu ainda mais porque a ele dedicamos o melhor zelo para que tudo se conserve. O futuro ainda dirá melhor sobre o que fizemos. Justo é mencionar alguns esforços que vão sendo observados nesse mesmo sentido, como pçor exemplo, a dedicação do DHDPG (Departamento Histórico Diocesano Padre Gomes, sob a coordenação do Pe. Roserlândio, na Diocese de Crato, bem como o que está sendo feito na URCA com precioso arquivo cartorial de um tabelionato cratense, e outros mais que vão se somando para resgatar essas imensa dívida que cresceu, pois poucos tem a sensibilidade de conservar a “velharia”. O nosso mais sincero agradecimento, sempre renovado, vai para a UFCA (Universidade Federal do Cariri), através do curso de Biblioteconomia, e mais de perto pelo empenho da professora Ariluci Góes Elliot, que coordena a implantação do projeto que contempla essa doação que fizemos à instituição, acreditando nos seus propósitos, e feito como se estivéssemos entregando o nosso próprio coração. Bom dia!
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 11.01.2017)
BOM DIA! Por Renato Casimiro
Falando antes de ontem sobre a Rua São José, veio-me a vontade de reler o que há muito tenho escrito, e que formatado, um dia, será um livro denominado Memória da Rua São José. Nele conto histórias e relato fatos idos e vividos, do tempo em que, entre 1953 e 1963 ali residia. Num dos capítulos desse livro em elaboração, conto a história da existência de uma onça, pertencente ao então prefeito Antonio Conserva Feitosa, na casa de número 618, fato que assim relatei, exatamente motivado pela ambiência zoológica que se vivia na Rua São José. Vejamos: Um dos encantos que registro da minha existência como morador na Rua São José vem de um quase zoológico que se espalhava por diversas casas da Rua. Na casa de minha avó havia umas burguesas que vadiavam, com elegância, pela casa. E quando o tio Sizenando vinha de São Paulo, ele comprava pássaros e ali os mantinha em gaiolas durante suas férias. Bichos, muitos, eram os pássaros e aves na casa dos tios Silvanir e Ananias. Muitos pássaros, entre galos de campina, sabiás, canários belgas, corrupiões, graúnas, muitos mais, e uma grande criação de pombos. Quando queríamos ver bichos exóticos íamos ao Museu, pois a velha casa do Patriarca guardava uma larga coleção de insetos, borboletas lindas, animais empalhados e um enorme aquário no quintal, sob a sombra generosa de pés de cajaranas. Um Urubú-Rei havia na casa de Júlia, do doce, no número 200 da Rua. Júlia era a fiel zeladora do animal, trazido de não sabemos onde, por um romeiro, de presente para o padrinho. Recentemente, visitando o Parque do Macuco, em Foz do Iguaçu, Paraná, encontrei numa placa a menção que transcrevo: “Urubu-Rei (81cm). Sarcaramphus papa Linnaeus, 1758. Habita florestas virgens. Vive em sociedade. Possui um vôo majestoso e possante, atingindo grandes alturas. Alimenta-se de carniça de animais mortos, tanto de mamíferos, como de répteis e peixes. A maneira de buscar alimentos nas florestas é feita, inclusive, através do olfato. Em extinção no Paraná”. Há poucos dias, em 06.12.2001, um encontro casual com Marco Antonio Assunção Feitosa, trouxe-me de volta a lembrança deste animal. Marco tinha à mão uma foto do Urubu-Rei, de Júlia, que fora obtida de Nair Silva, tomada do bicho em sua jaula na casa da Rua São José. E me deu de presente a foto, pela coincidência agradável de ter-lhe lido este apontamento que guardava na carteira, tomado no Paraná, em outubro daquele ano, transcrito acima. E foi com Marco que relembrei um fato pitoresco daquela nossa infância na Rua São José. No quintal de sua casa havia parte deste zoológico que me referi, e se espalhava pela cidade. Lembro de anta, cobras, aves diversas, tartarugas, macacos, patos, pavões, gatos maracajás, e outros mais. Dr. Antonio Conserva Feitosa, o prefeito de então, tinha um gosto particular pelos animais e assim os mantinha em casa. Uns livres, e outros bem enjaulados. Ai pelo ano de 1961, ou 62, um romeiro trouxe para Juazeiro, a título de promessa a ser paga, uma bela onça, apanhada em terras de Mato Grosso. O vigário da paróquia, ao que consta, não quis receber a fera e indicou o prefeito, que a comprou do romeiro. O animal estava preso numa jaula de toros de madeira rústica, amarrados com arames. Ele foi colocado numa sala da casa de número 618, vizinho a dos meus padrinhos Maria Germano e José Magalhães, e que servia ao prefeito como seu consultório médico. Nós sabíamos das idas e vindas dos filhos de Dr. Feitosa, em visita à onça. O animal era tratado por João de Assis, um jardineiro da casa da família de Dona Heloisa e de Dr. Feitosa, a imensa morada no cruzamento das ruas São José e Sta. Luzia. Parte do seu ritual diário, João de Assis ia apanhar vitelos (fetos bovinos) no matadouro público, extraídos de animais abatidos, e os trazia para a alimentação da onça. Num desses dias, Frederico e Marco Feitosa acompanharam João de Assis para este serviço junto à jaula do animal. Abriram a porta da sala e constataram que a onça havia quebrado a jaula e tinha escapulido. No entanto, a onça estava ali, mesmo, na sala, bem atrás deles. Pense aí no clima de terror e a corrida louca que os três fizeram para chegar na porta e batê-la no focinho da fera. João de Assis ficou segurando a porta, enquanto o bicho empurrava de lá. Marco e Fred, em desabalada carreira, foram pedir socorro em casa. Felizmente logo vieram Dr. Feitosa, com uma arma de calibre 12, e seu filho Fernando, com um rifle. Subiram na casa e foram destelhando a coberta para localizar a posição da fera na sala. Enquanto isto, e a duras penas, João de Assis se esforçava para segurar a porta, ao som aterrorizante dos rugidos da onça. De cima, e com tiro certeiro, a fera foi abatida, não sem antes ter dado um salto para o alto, tentando alcançar os dois em cima da casa. Fernando ainda conseguiu dar uma coronhada na cabeça da onça, que caiu sem vida no chão da sala. A essa altura a rua estava cheia de curiosos, todos temendo um desfecho diferente. Depois, a história da morte da onça correu pela cidade e muita gente veio bater na porta do prefeito em busca da carne e das vísceras do animal. Infelizmente esta aventura não virou folheto de cordel, mas tinha tudo para ser. Dr. Feitosa ficou com a bela pele da onça, e segundo me disse o Marco, ainda hoje ela é mantida como troféu de suas aventuras e da onça que, pondo pânico em toda a Rua São José, e redondezas, quase mata João de Assis, que saiu dali todo urinado. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 12.01.2017)
BOM DIA! Por Renato Casimiro
Em seu livro “Os Construtores de Juazeiro”, o radialista, jornalista e escritor Dario Maia Coimbra, o Darim, conta que Aderson Borges de Carvalho nasceu em Caririaçu, no dia 29 de agosto de 1922. Ele passou a residir em Juazeiro a convite do então prefeito Antônio Conserva Feitosa. Depois de exercer a função de secretário municipal, ocupou o cargo de tesoureiro da Coletoria Especial Estadual. Como contador de destacada capacidade, integrou a equipe de contabilidade da Aliança de Ouro, então em plena ascensão, de onde saiu para gerenciar a Fábrica de Bebidas São Geraldo, de Luciano Teófilo. “Apegou-se ligeiro a Juazeiro e seus juazeirenses, dando uma louvável contribuição para o desenvolvimento da cidade”, afirma Darim. Dotado de larga visão de futuro e ciente da importância estratégica do setor secundário para a economia do município e da região, foi Aderson Borges de Carvalho o coordenador da equipe que promoveu a I Feira da Indústria do Cariri (FIC). Mesmo não tendo sido exclusivamente do segmento, a promoção foi um marco até hoje lembrado pelos cidadãos mais engajados na preservação da memória do município, e plantou a semente da Feira de Negócios do Cariri (Fenec), que teve dezenas de edições pelos anos seguintes. O próprio Aderson Borges de Carvalho falou sobre a primeira edição da FIC em seu livro “Crônicas do Cariri”. “Chegava do Rio e São Paulo e fui convidado para uma reunião no Clube dos Doze. Por iniciativa de João Barbosa, socialmente, sempre atuante, projetava-se a realização de uma festa naquele clube, precedida de disputa para a eleição da ‘Rainha’, entre seis jovens beldades de nossa terra, que teriam  patrocínio de indústrias locais”, conta. Apesar de considerar a ideia interessante, Aderson avaliou que não daria retorno aos patrocinadores em termos de eficiência publicitária, “por realizar-se num salão, que, elitista, seria inibidor da presença de pessoas, socialmente mais modestas”. Sugeriu então que se fizesse um evento de maior amplitude, “partindo para uma mostra onde os expositores fossem indústrias de toda a região, já que estávamos empolgados e ansiosos pelo sucesso do “Plano Asimov” em incipiente implantação”, relembrou. Designado presidente do Comitê de Organização, a ideia da FIC ganhou a adesão de diversas personalidades e instituições. “Tinha uma ideia geral do que seria um certame desse porte enquanto eficiente meio de publicidade, que muito visitara nas amiudadas viagens ao Sul do País e capitais nordestinas. Com as adesões que foram chegando, demos início a estruturação e adaptação de toda a área coberta ou não, do Treze Atlético Juazeirense, (antiga sede) na Praça São Vicente”. Os stands, de acordo com ele iam sendo preparados, os convites expedidos para as mais altas autoridades do país e do estado, Presidente, Ministros, Governador, Secretários, Deputados, com dia e hora marcados. Na última hora, a Feira da Indústria quase é impedida de ser realizada pelo Delegado do Ministério da Indústria e Comércio. “Por telegrama, o delegado avisava ao Prefeito Mauro Sampaio – que não participava da promoção, - e aos presidentes do Rotary, Lions e Câmara Júnior, que a feira estava proibida de funcionar, por descumprimento das exigências legais sobre feiras e exposições. Rápido, procurei os destinatários, para que nada divulgassem”. Era época de ditadura militar, e somente após um intenso esforço junto àquela autoridade e uma intervenção por meio de ofício junto ao ministro, o trabalho de promoção da FIC pôde ser levado adiante. Dario Maia Coimbra recorda também em seu livro que, em 1970, indicado pelo prefeito Mauro Sampaio, Aderson Borges coordenou a equipe que viajou ao Rio de Janeiro para uma exposição no Museu de Arte Moderna. “Seu prestígio fez com que, merecidamente, fosse eleito presidente da Associação Comercial, realizando profícua administração, deixando a elevada função por injunção política, que patrocinou a candidatura de um cidadão que não era sequer comerciário quanto mais comerciante. Prevaleceu a imposição político-econômica”, escreveu. Na vida social, Aderson Borges integrou o Rotary Club, onde exerceu vários cargos, incluindo o de presidente. Apesar de não ter sido militante desportista, presidiu a Liga Desportiva Juazeirense (LDJ). Enveredou ainda pela política, com eleições para dois mandatos de vereador e duas candidaturas para prefeito, sem entretanto obter êxito para chefias o Executivo Municipal. Segundo Darim, Aderson Borges de Carvalho atuou como farmacêutico e escreveu, também, crônicas carregadas de honestas críticas aos fatos do cotidiano regional. Trabalhou, ainda, no Jornal do Cariri, como redator-chefe. Por fim, sua visão empreendedora o levou a ser empresário do ramo de metalurgia e marmoraria, com maior sucesso na primeira delas. Participou das campanhas em prol da eletrificação e telefonia do Cariri, da construção do Aeroporto e das instalações da agência do Banco do Brasil, do Sesi e do Senai. Aderson Borges de Carvalho faleceu em 24 de abril de 1999. O Liceu de Juazeiro, uma escola estadual de ensino profissionalizante, leva seu nome como uma das poucas, mas justa homenagem a quem tanto se dedicou ao crescimento da terra do Padre Cícero. Bem recentemente foi criada em Juazeiro do Norte uma Organização Não Governamental denominada Casa do ABC (Aderson Borges de Carvalho) que agora está situada na Rua Santa Rosa, esquina de Pe. Pedro Ribeiro. É uma instituição voltada para a promoção humana, congregando jovens e adultos em diversas atividades de formação cidadã, como música, arte, clube do idoso, etc. É assim que se faz para perpetuar a vida e a obra de um dos mais completos exemplos de cidadania que me foi possível conhecer, e que estava entranhado na personalidade de Aderson Borges de Carvalho. Quem está à frente da ONG é o Danilo Abençoado, com uma grande equipe de trabalho. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 13.01.2017)
BOM DIA! Por Renato Casimiro
A história mais remota da vida religiosa de Juazeiro do Norte recorre cronologicamente ao instante marcante da pedra fundamental da primeira capelinha, em honra de Nossa Senhora das Dores, assentada no recuado 15 de setembro de 1827, encravada nas terras desse lado fértil do Cariri. Daí por diante, eclesiasticamente dependente da Freguesia de Nossa Senhora da Penha (Crato), e da Diocese de Olinda, sucederam-se alguns capelães, até que, já constituída uma nova Diocese, o primeiro Bispo do Ceará, D. Luiz, proclamou a provisão com a qual Cícero Romão Baptista, se tornaria em 11.04.1872 o seu sexto capelão. Amália Xavier, em seu relato sincero, registra que aquele foi um “apostolado fecundíssimo, com suas práticas religiosas e, sobretudo, com seu exemplo, conseguiu regenerar os habitantes, descendentes dos escravos do Pe. Pedro (Ribeiro), que após a sua morte se haviam entregues a toda a sorte de degenerescência, esquecidos dos ensinamentos recebidos.” O zelo exemplar de Pe. Cícero estendeu as bases para que aquela pequena capela, expandida em duas ocasiões, reformada em outras tantas, se constituísse no núcleo fundamental sobre o qual cresceria suas atenções sobre o fenômeno religioso e sobre todas as injunções que fizeram daqui o epicentro da religiosidade popular emanada da grande nação romeira e nordestina. Muito depois, 45 anos após, no dia 20 de janeiro de 1917 a Diocese de Crato criou a primeira Freguesia da Vila do Joaseiro, designando o seu primeiro vigário o Pe. Pedro Esmeraldo da Silva Gonçalves. Essa ficou conhecida como Paróquia-Matriz, ou Igreja-Matriz, uma longa primazia por outros longos 51 anos, até que fosse criada a segunda paróquia da cidade. Agora, depois de uma história memorável, através da qual abrigou todos os filhos desta heroica cidade, em congraçamento com a gente romeira dos sertões e elevada às dignidades de Santuário e de Basílica Menor, ela se prepara para celebrar o seu primeiro centenário, plena das graças da Igreja que está em Cristo e em cada um de nós. A celebração deste primeiro século de evangelização e de um intenso pastoreio se fará por uma ampla programação, para a qual estamos todos convidados a rememorar e a festejar tudo aquilo que se emanou da velha capelinha e que invadiu lares e oficinas, entre oração e trabalho, para ser entre nós o privilégio, na proximidade do Reino de Deus. Em toda a sua existência, a Paróquia-Matriz foi regida por dez vigários, na atualidade denominados de Párocos, enquanto vigários paroquiais são os coadjutores ou auxiliares. Revisei recentemente a relação desses vigários/párocos, para indicar abaixo os seus principais dados. Observe que dois deles (Monsenhores Pedro Esmeraldo da Silva Gonçalves e José Alves de Lima) foram vigários em dois períodos.
PRIMEIRO VIGÁRIO: Pe. Pedro Esmeraldo da Silva Gonçalves; Nascimento: 29.01.1879 (Crato, CE); Ordenação: 30.11.1898 (Fortaleza, CE); Vicariato (I): De 21.01.1917 a 16.09.1921; Falecimento: 01.10.1934 (Juazeiro do Norte, CE);
SEGUNDO VIGÁRIO: Pe. Dr. Manoel Correia de Macedo; Nascimento: 16.06.1894 (Barbalha, CE); Ordenação: 03.04.1920 (Roma, Itália); Vicariato: De 26.01.1923 a 06.01.1925; Falecimento: 06.07.1959 (Campinas, SP);
TERCEIRO VIGÁRIO: Pe. José Alves de Lima; Nascimento: 05.05.1889 (Crato, CE); Ordenação: 30.11.1912 (Fortaleza, CE); Vicariato (I): De 13.05.1927 a 06.06.1933; Falecimento: 30.08.1969 (Juazeiro do Norte, CE);
QUARTO VIGÁRIO: Mons. Pedro Esmeraldo da Silva Gonçalves; Nascimento: 29.01.1879 (Crato, CE); Ordenação: 30.11.1898 (Fortaleza, CE); Vicariato (II): De 17.04.1933 a 01.10.1934; Falecimento: 01.10.1934 (Juazeiro do Norte, CE);
QUINTO VIGÁRIO: Mons. Joviniano da Costa Barreto; Nascimento: 05.05.1889 (Tauá, CE); Ordenação: 21.12.1911 (Fortaleza, CE); Vicariato: De 26.03.1926 a 06.01.1950; Falecimento: 06.01.1950 (Juazeiro do Norte, CE);
SEXTO VIGÁRIO: Mons. José Alves de Lima; Nascimento: 05.05.1889 (Crato, CE); Ordenação: 30.11.1912 (Fortaleza, CE); Vicariato (II): De 07.01.1950 a 28.02.1967; Falecimento: 30.08.1969 (Juazeiro do Norte, CE);
SÉTIMO VIGÁRIO: Mons. Francisco Murilo de Sá Barreto; Nascimento: 30.10.1930 (Barbalha, CE); Ordenação: 15.12.1957 (Barbalha, CE); Vigário Cooperador: De 06.02.1958 a 28.02.1967; Vigário: De 28.02.1967 a 04.12.2005; Falecimento: 04.12.2005 (Fortaleza, CE);
OITAVO VIGÁRIO: Pe. Paulo Lemos Pereira; Nascimento: 25.09.1970 (Juazeiro do Norte, CE); Ordenação: 19.10.1999 (Crato, CE); Administrador Paroquial: De 06.02.2006 a 07.01.2011;
NONO VIGÁRIO: Pe. Joaquim Cláudio de Freitas; Nascimento: 15.07.???? (Santana do Cariri, CE); Ordenação: 08.06.2007 (Crato, CE); Vigário Paroquial: De 01.01.2008 a 01.01.2011; Pároco: De 08.01.2011 a 30.07.2015;
DÉCIMO VIGÁRIO: Pe. Cícero José da Silva; Nascimento: 15.01.1975 (Brejo Santo, CE); Ordenação: 04.08.2012 (Crato, CE); Vigário Paroquial: De 01.01.2011 a 31.07.2015; Pároco: desde 31.07.2015.
De amanhã até o dia 20 estarão concentrados os principais eventos com os quais será celebrado o primeiro centenário da Paróquia de Nossa Senhora das Dores. Em verdade, estendendo-se por todo o ano de 2017, em diversas outras ocasiões, ainda será a oportunidade para festejar esse grande momento. Bom dia.
(Postado em Facebook: https://www.facebook.com/renato.casimiro1, em 14.01.2017)

CARIRI REVISTA EM CARTAZ

Já está circulando a mais nova edição da Cariri Revista. Trata-se do número 28, uma edição especial contemplando uma ótima matéria sobre a relação da Romaria com Juazeiro do Norte. Vale a pena ler. A revista é distribuída gratuitamente em diversos pontos da cidade, do Cariri e em Fortaleza.