segunda-feira, 26 de maio de 2014

BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
031: (26.05.2014) Boa Tarde para Você, Raimundo Rodrigues Araújo
Um compromisso importante e inadiável, me impediu que estivesse ao seu lado no lançamento do seu décimo sétimo livro. Lamentei porque não pude conciliar as duas coisas. Esse, particularmente, embora um tanto tímido para ser considerado Antologia, abre a possibilidade de que a literatura sobre sua prima em terceiro grau, a beata Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo, passe a encorpar mais ainda a extensa bibliografia dos estudos juazeirenses. Que ela se tornou um bom objeto de relevantes pesquisas, já não mais desconfiamos, pois são evidentes os interesses e, mais ainda, as edições se sucedem. Certamente, foi a duras penas que a academia foi aos poucos identificando predicados a serem vistos por diversos olhares e saberes. Realmente, a beatinha, como assim se referem tanto a esta sua parenta, caiu nas graças de um sem número de curiosos para conhecer um pouco mais sobre a figura central do milagre de março de 1889 e por mais de uma centena de repetições. A beata Maria de Araújo, meu caro Raimundo, passou a interessar mais quase simultaneamente às iniciativas de revisão do caso Padre Cícero perante Roma. E como emplacou a questão da reabilitação do sacerdote, até parece que isto eclipsou ou impossibilitou qualquer outra iniciativa para que a Igreja também dedique seus olhares sobre a Maria de Araújo. Como sabemos, ela foi conduzida a um ostracismo tão grande que os séculos já viraram e até parece que aos olhos da Igreja ela nem existiu. Puseram sobre ela uma carga social muito perversa, imposta por rótulos de discriminação e selvageria: negra, pobre, analfabeta, doente mental, feia, medíocre... Que mais, Raimundo, faltaria para reduzi-la a tanto? Contudo, parece não haver erro que, atriz de uma circunstância em descrédito, qual seja, aquela de que Nosso Senhor Jesus Cristo não deixaria a Europa para obrar milagres no miserável lugar do Joazeiro, a Maria não foi outra senão a Serva de Deus. Por iniciativas como esta que você tomou, Raimundo, penso que você é a pessoa ideal para conduzir algumas das preocupações remanescentes sobre a vida e o papel da beata no caso do milagre eucarístico de Juazeiro. O livrinho, ainda modesto para a grandeza da causa, tem que expandir suas atenções, registrando tanto as especulações já ocorridas, quanto a atualidade do debate.  Por exemplo, é necessário esclarecer a violência que o então vigário Zé de Lima cometeu, de moto próprio, já que é verdade que a Diocese de Crato era vacante. Ou será que a função de vigário da paróquia já era por si só suficiente para respaldar o ato de destruição do jazigo e a exumação do corpo? É necessário elaborar uma versão mais honesta sobre isto, para se saber o paradeiro dos restos mortais da beata. Onde foi que puseram? Onde está a nova sepultura? Pelo fato da beata ter morrido de morte natural, dezesseis anos depois, ocultar os seus restos mortais, não tem o agravante de ação criminosa? Ora, se a Santa Madre Igreja ainda vive procurando por paninhos ensanguentados das comunhões da beata, o que não faria para esclarecer o resto?  Assim, Raimundo, como diz o poeta, neste “Mundo, mundo, vasto mundo” assuma o que há para fazer. Quanto a mim, por especular estas coisas, só posso lhe dizer que “Se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução”.