segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016


BOA TARDE (I)
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
215: (10.02.2016) Boa Tarde para Você, José Galvão de Oliveira
No ano passado, em 9 de março, uma tardinha num auditório no Crato, em audiência com o ministro da Cultura, eu me assustei, e isto não me sai do juízo, quando um camarada esquisito se levantou para protestar sobre as enormes dificuldades da sobrevivência dos artistas locais. Foi a primeira vez que o vi de perto, José Galvão – Galvão do Juazeiro, bradando alto, forte e seguro, para que os recursos financeiros chegassem aos Pontos de Cultura, como única forma de reverter este estado de penúria, nesta nossa indigente e mendicante cultura regional. Quero, afinal, dizer-lhe que a surpresa daquele momento não foi exatamente pelo seu tipo, pelo que sua pessoa física demonstra, sertanejo forte e bravo, senão pela forma autêntica e contundente como você se propõe estar na linha de frente desta defesa intransigente pelo valor de suas ideias. Felizmente, se pôde ouvir ali, na sensibilidade do ministro, que os Pontos de Cultura são importantes para o reconhecimento da criatividade e do protagonismo social de instituições nacionais, para, enfim, contribuir para o fortalecimento cultural do país. O pronunciamento oficial acalmou a situação naquele momento, embora creia eu, que por conta do que lhe ouvi aqui noutro dia, nesta emissora, neste Jornal, você continua “brabo”, a propósito de que entre o verbo, o verso e o vil metal há distâncias continentais e os governos são os mesmos. Numa coisa, Galvão, declaro minha admiração a você, figura quixotesca da cultura regional, determinado a plantar aqui um Museu do Sertão, na sua propriedade da Vila Carité, sem um vintém de dinheiro público, qual esmoler itinerante, mendigando muito mais atenção que moedas. Pode não parecer, pois temos estratégias bem diferentes, mas as minhas aspirações guardam pequena distância com seus ideais de homem que pensa a memória de sua gente e a preservação de suas tradições através do tombamento, da preservação e da exposição de bens culturais importantes. Nos últimos cinquenta anos eu pesquisei e reuni uma quantidade enorme de mais de duas dezenas de categorias de objetos que reconhecidamente servem ao propósito da permanência da memória e isto poderia configurar pelo menos três equipamentos museais na mídia, na história e nas artes. No caso do seu pretendido Museu do Sertão, Galvão, não resta qualquer dúvida no fato de que você exorbitou admiravelmente no hábito de colecionar para preservar, na intensão de transferir este acervo para a sociedade que, a rigor, muito pouco disto reconhece como bem da humanidade. Lamentavelmente, este nosso Cariri, a partir mesmo do nosso CRAJUBAR, tem uma pequena convivência com esta atividade, embora se reconheça que dela seja tão carente, pois nossas cidades tem tristes histórias com respeito aos seus museus, entre os poucos que existem, “pobres de espírito”, os fechados pela irresponsabilidade, e os que ainda nem saíram do papel, pelo descaso. Destaco, Galvão, a figura de outro Quixote do nosso meio, em parte assemelhado a você, o cidadão Alemberg Quindins, que tanto admiro e tem feito coisas extraordinárias em pequenos museus que está projetando e executando, entre o significado e as tradições do couro, do algodão e do ferro. Seria bom que você o ouvisse, não para baratear seus custos intransferíveis, mas porque tenho certeza que ele agregaria ao seu propósito alguns elementos fundamentais na luta por uma instituição como esta que você pretende e para a qual já perdeu tanto suor e sangue. Oficialmente, ainda muito pouco, mas é animador, reconheçamos, o que tem sido objeto de uma atenção oficial, de governos, como o que já aconteceu em setembro passado na proclamação e registro da Festa do Pau da Bandeira de Santo Antonio de Barbalha, no patrimônio do Brasil. Agora, o IPHAN se volta para Juazeiro do Norte, desejando fazer um registro semelhante, dos lugares sagrado das romarias, em reconhecimento ao natural inventário de locais considerados como patrimônio da cultura nacional, imaterial ou material será definido pela comunidade e pelo próprio romeiro, principal protagonista do processo. Essa sua luta, Galvão do Juazeiro, deve ser a nossa também, de cada um dos que aqui estão e tem uma relação íntima com o que Guimarães Rosa já dizia, no “ser tão sertão”, que é para continuar fazendo história e contando esta mesma história para o mundo. Ora, se você mesmo nos diz que o Cariri que te abriga e até te maltrata é uma banda do mundo, o que não seria por este Museu do Sertão contar a história do Cariri para este outro resto de mundo?
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 10.02.2016)

BOA TARDE (II)
216: (12.02.2016) Boa Tarde para Você, Pedro Andrade
No dia de hoje haveremos de lembrar, na memória, no respeito e nas orações, os setenta anos do falecimento do beato José Lourenço Gomes da Silva, paraibano nascido em Pilões, em 12 de janeiro de 1872, notável figura histórica que chegou aqui no Juazeiro por volta de 1890. Em atenção ao seu convite, Pedro Andrade, em nome da ONG Beato José Lourenço, estarei ao lado de muitos outros convidados na missa que será celebrada para reverenciar o líder e todos os outros grandes heróis do Caldeirão, logo mais às 17 horas na Capela do Perpétuo Socorro. Como parte deste momento tão importante, é digno de menção a sensível homenagem que também será prestada a dez personalidades que contribuem para a cultura regional: Alice Alves de Araújo (remanescente do Caldeirão); Célia Camelo de Sousa (pedagoga e pesquisadora da UFC); João Hilário Coelho Correia (radialista e professor); José Bernardo da Silva Neto (jornalista da Folha de Juazeiro); José Carlos dos Santos (professor); José Roberto dos Santos Júnior (historiador e pesquisador); Leandro da Silva Freire (jornalista e responsável pelo Projeto Caldeirão Vivo); Maria Loureto de Lima (professora e coordenadora pedagógica da Universidade Patativa do Assaré); Raimundo Antonio de Macedo (médico e político) e a Universidade Patativa do Assaré (Instituição de ensino que atua no resgate e na promoção da cultura local). É desnecessário dizer, Pedro, mas Caldeirão está vivo, Zé Lourenço está vivo e estão vivos todos os ideais que fizeram a ideologia que sustentou esta experiência fascinante, permanentemente redescoberta segundo novos olhares, como os da Academia que hoje a enxerga menos rançosa. A Comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto é uma das nossas riquezas históricas e culturais porque sua trajetória ainda se nos apresenta plena, e cada mais fortalecida pelo heroísmo e pela trajetória redescoberta na narrativa de seus remanescentes. Essa riqueza, Pedro, na contemporaneidade é mais referendada quando a literatura popular não esquece o Caldeirão, Zé Lourenço e seu povo, como o fez meu amigo Jairo Costa no Rio de Janeiro, recentemente em sua primeira produção de literatura de cordel. Essa riqueza, na atualidade é avalizada pela transposição mais popular na festa carnavalesca, levando o Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraiso do Tuiuti a vencer com seu enredo, “A Farra do Boi”, o desfile que levou a Escola para o grupo especial do Rio de Janeiro. Essa riqueza nos dias atuais continua sendo vista quando a inteligência sensível deste pais, como a que representa Antonio Máspoli de Araújo Gomes, professor da USP e da Universidade Presbiteriana Mackenzie se debruça sobre o conflito religioso do Caldeirão em belíssimo artigo. Essa riqueza atualizada e revisitada, Pedro Andrade, é fruto do seu trabalho e de tantos outros, como Mazé Sales, Renato Dantas, Regis Lopes e Gilmar de Carvalho, no resgate da memória dos que viveram as angustias do massacre e herdaram no silêncio o nosso respeito. Essa riqueza que mais e mais experimentamos é revivida a cada nova Romaria ao Caldeirão, espaço sagrado deste sentimento coletivo que nos toma para a reverência devida e para o testemunho inequívoco de um novo entendimento sobre sua realidade social. Essa riqueza fortificada como a vemos hoje em dia é parte do papel magnífico das artes como fizeram o cinema, o teatro, a literatura e as artes plásticas, emprestando cada uma sua linguagem, sua estética e seus mestres que assumiram o Caldeirão como objeto de sua luta. Essa riqueza cotidiana, Pedro, passa diariamente pelo túmulo do beato José Lourenço, nos dias mais simples pela reverência de todos aqueles que enxergaram em seus gestos concretos de vida e obra, a iluminação radiante de um autêntico servo de Deus. Num dia como este de hoje, lembrar José Lourenço Gomes da Silva, também cidadão cearense reconhecido tantos anos depois, e em sua memória, já não é um dia triste como outro qualquer. Desnecessário é dizer, Pedro Andrade, que essa riqueza esteja viva e seja palpável porque Caldeirão está vivo, Zé Lourenço está vivo, como estão vivos Severino Tavares, Eleutério Tavares, Marina Gurgel, Maria de Maio, João Silva, Henrique Ferreira, Maria Lourença, e vivos estão todos os remanescentes e seus descendentes que continuam sem medo a sua jornada pela paz. Só as víboras, Pedro, essas sim, se não morreram todas, restam poucas e já não nos fazem medo.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 12.02.2016)
COLUNA CIDADE & CIDADANIA
No Portal da Raio Padre Cícero, FM 104,9, de Juazeiro do Norte, está sendo publicada uma página semanal em que deverei continuar abordando questões de interesse de nossa cidade e de nossa cidadania. Nesta coluna estes textos serão reproduzidos, como faço agora com o segundo sobre os problemas do lixo na cidade.
O LIXO (II)
Vale a pena inserir neste segundo texto sobre o assunto que tratamos, algo que nos discipline com respeito à coleta do lixo. Para trata-lo, será inicialmente necessário revisar quais os nossos procedimentos para minimizar a geração dos resíduos sólidos. Esta é parte insubstituível da responsabilidade social que nos cabe, pois a gravidade da questão se apresenta, significativamente, pelos quantitativos produzidos, inicialmente por conta do pouco que fazemos para gerar lixo. De tudo nós fazemos lixo, às vezes desnecessariamente e, pelas limitações que o sistema de coleta tem, cronicamente, este é o primeiro impacto que se verifica. Vejamos o caso primeiro, o mais antigo tipo de resíduo produzido pela humanidade, resíduos sólidos orgânicos, restos de comidas prontas, cascas, folhas e resíduos de alimentos básicos, durante os preparos e porções deterioradas. Países e comunidades mais desenvolvidos, mas principalmente mais conscientes, procuram reduzir estes volumes a partir de procedimentos domésticos com os quais os resíduos, por exemplo, devidamente liquefeitos e diluídos vão para a rede coletora de esgoto e passam ao sistema de esgotamento sanitário e tratamento de efluentes. Cidades como esta nossa que tem uma rede coletora cobrindo uma parte expressiva desta demanda bem poderiam dispor, estimulando para que esta estratégia muito simples servisse para auxiliar o esforço pela minimização do problema. Na prática, ainda não temos a consciência deste fato, a ligação com a rede de esgoto, pois de fato não somos sensíveis à necessidade de ligar as nossas descargas ao serviço público, optando pelo caminho menos acertado, de enterrar estes resíduos e excrementos para não pagar a devida taxa pelo serviço prestado. Água potável tem o seu custo bem relevado na atualidade pelas dificuldades de se manter mananciais em clima de crise climatérica e os problemas acelerados pela demanda crescente por parte da população. Mas, convenhamos, quando ela nos falta, tais são os transtornos que enfrentamos que por vezes concluímos que ainda é um produto barato. Muita gente não sabe que o tratamento de efluente é bem mais dispendioso, pois envolve processo bem mais demorado, instalações e procedimentos complexos. Muitos se recusam a pagar esta fatura sob o argumento de que aplicar a mesma tarifa do tratamento e serviço de distribuição de água à coleta de esgoto é algo extorsivo, incoerente, inconsistente. No geral, nossa postura mais direta é ensacar o resíduo sólido, nem sempre satisfatoriamente, e despachar para a coleta pública, às vezes incerta em dia e horário, de modo que aquele resíduo entra em putrefação e é objeto de manejo por catadores em busca de restos de alimentos ou de algo mais valioso que possa gerar renda. Enfim, um aspecto horroroso da miséria que existe nos centros urbanos. Junte-se a isto a presença de animais que fuçam estes depósitos, rasgam invólucros e espalham pela via pública aquilo que nem gostaríamos de ver em nossas portas. A segunda questão deste nosso esforço mínimo é o acondicionamento do lixo que produzimos, hoje quase todo acomodado em sacolas plásticas, a maior parte advinda das embalagens dos supermercados, a despeito do grande protesto que isto tem motivado pelo galopante crescimento do acumulado lixo plástico, especialmente em ambientes aquáticos. Outrora, nosso lixo era objeto de uma coleta única, mantido em depósitos feitos de pneus velhos, recipientes de combustíveis, caixas de madeiras, etc. Entra em cena, neste momento a nossa insensibilidade de não prover a respectiva separação do lixo, como produzimos. Ora, em casa, se pode ter uma diversidade de mais de uma dezena de categorias de materiais, como vidros, metais, papeis, plásticos, madeiras, sem falar dos mais raros como lâmpadas, pilhas, baterias, lixo eletrônico, e outras coisas que já mencionamos antes. Na prática, nós não realizamos a nossa coleta seletiva, indispensável para reduzir este flagrante atropelo do acumulo imenso dos servíveis e inservíveis que terminam por complicar a vida das cidades através dos lixões. Outra coisa importante e daí de corrente é que, quando circulamos pelas ruas de Juazeiro do Norte, temos a nítida impressão que o serviço público já é incapaz de recolher tudo que se põe nas ruas. E é que não estou considerando o fato de que esta coleta apressada termina por espalhar lixo pelas ruas, deixando parte do trabalho para a varrição. A despeito da gama variada de resíduos, já seria de bom tamanho a separação entre o orgânico e o restante reciclável. Não custa nada que cada um, cada residência, cada estabelecimento gerador de lixo promova uma “campanha” de esclarecimento dentre os seus, família e empregados, no sentido de sensibiliza-los para uma melhor conduta diante do lixo gerado. Quero crer que as escolas estejam neste momento realizando algum trabalho no sentido de plantar uma nova semente pela questão ambiental. Isoladamente, especialmente pela iniciativa privada na Educação, sabemos de fatos muito concretos. Mas é importante que isto se generalize, pois se não for por mudanças de hábitos, o que nos põe em cheque diante da nossa própria cultura, nada acontecerá e o caos, de vez, se estabelecerá. Mas, felizmente, cresce aos poucos esta iniciativa de cooperativas de catadores de lixo com verdadeiros batalhões de soldados do meio ambiente, apanhando de toda a sorte, estes materiais que vão sendo colocados, até aleatoriamente, em nossas portas. Exatamente porque eles agora são parte daquilo que queremos que cresça muito: emprego e renda. E de quebra, o meio ambiente agradece penhoradamente. 
(Coluna Cidade & Cidadania, postada para www.radiopadrecicero.org.br, na data de: 10.02.2016)

PADRE MURILO (XI)
GEOVÁ SOBREIRA

O atual capítulo da História de Juazeiro exige do analista e do historiador “de oficio” cuidados especiais e uma leitura mais abrangente das mudanças em gestação na cúpula da Igreja Católica diante da imensa evasão de fiéis, perdendo espaços e adeptos para as Igrejas Pentecostais, para compreender o novo posicionamento da Diocese do Crato, liderado pelo novo bispo, Dom Fernando Panico, desde sua chegada ao Cariri no sul do Estado do Ceará A população de Juazeiro e a “família romeira” estavam, de fato, realmente extasiadas de contentamento vendo, pela primeira vez, um Bispo do Crato enaltecendo publicamente as excelsas virtudes do Padre Cícero e dedicando grande parte do seu tempo às ações da pastoral aos romeiros. Nunca se tinha visto isso antes.Como já afirmaram muitos estudiosos de diversas áreas das Ciências Humanas “Juazeiro é um mundo” e o movimento religioso popular liderado pelo Padre Cícero é um dos mais complexos e ricos movimentos de sincretismo religioso e cultural da História do Brasil. Por essa razão, a população de Juazeiro ficou surpresa com as declarações do novo bispo diocesano, que era um italiano, que ainda jovem ingressou na Sociedade dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus, que fez seus estudos esclesiásticos na memorável, rígida e ultraordoxa Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, reduto mais conservador dominado pela Cúria Romana e com mestrado e doutorado em Teologia Litúrgica. Dona Assunção Gonçalves disse-me entusiasmada: só um bispo estrangeiro assumiria a defesa da causa de Juazeiro. Dom Fernando Panico chegou ao Brasil, em 1974, com vigário da cidade de Pinheiro (MA), logo em seguida foi nomeado Reitor do Seminário e chanceler da Cúria Diocesana. Em 1982, foi nomeado Reitor do Seminário Interdiocesano de São Luís (MA). Naquela época, muitos membros da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) viam com muita preocupação o crescimento vertiginoso do movimento eclesial de base, influenciado e dirigido por renomados teólogos adeptos, defensores e militantes da Teologia da Libertação e por isso a CNBB se empenhava em ter, principalmente no Nordeste, bispos de sólida formação eclesiástica e com fortes laços intelectuais com a . Cúria Romana. O sacerdote Fernando Panico, ex-aluno da Pontifícia Universidade Gregoriana, ex-Reitor do Seminário Diocesano de Pinheiro (MA) e do Seminário Interdiocesano de São Luís (MA) preenchia o perfil definido pela CNBB para ocupar uma diocese no semiárido sertão nordestino onde se tornavam cada vez mais tensas as relações sociais em razão da miséria em que viviam populações inteiras atingidas por secas inclementes. Assim, em 1993, foi eleito bispo da Diocese de Oeiras (PI), com uma imensa área de mais de 15 mil km², contando, no entanto, com apenas 7 paróquiaa e 12 sacerdotes. Em 2001, nomeado Bispo do Crato Dom Fernando Panico iniciou suas atividades pastorais em uma Diocese detentora da mais dramática, rica, densa, tensa história de todas as dioceses da Igreja Católica do Brasil com centenárias cicatrizes ainda sagrando e tendo como epicentro Juazeiro, cidade santa, com seu maravilhoso e fantástico sincretismo cultural e religioso e lugar sagrado para milhões de romeiros e devotos do Padre Cícero, santo do povo e grande patriarca de todo o nordeste. Seus primeiros atos, após tomar posse como Bispo da Diocese do Crato, foi permanecer o maior tempo possível em Juazeiro, não como Visita Pastoral e sim como assumisse as funções de Vigário da Matriz de Nossa Senhora das Dores, procurando imitar os gestos e as falas do Padre Murilo, inclusive diante dos romeiros usando um surrado chapéu de palha, numa imitação grotesca do Padre Murilo. Era fácil perceber que Dom Fernando Panico estava assumindo todas as funções do Vigário de Juazeiro, desestruturando o grupo de pesquisadores e estudiosos reunido em torno do Padre Murilo e procurando pessoalmente controlar e dirigir todas as romarias. O fato mais concreto desse objetivo de Dom Fernando Panico foi afastar o Padre Murilo da Capela do Socorro, que é o centro vivo da devoção romeira e onde está o túmulo do Padre Cícero. A Capela do Socorro foi desmembrada da Paróquia de Nossa Senhora das Dores e transformada em Reitoria, ligada à Cúria Diocesana e ao Conselho Presbiterial, com status de paróquia. O desmembramento da Capela do Socorro da Matriz de Nossa Senhora das Dores e o afastamento do Padre Murilo com a nomeação do Padre Bosco Lima, como seu vigário da Capela do Socorro foi um golpe horrível e doloroso para o Padre Murilo que, a partir da posse do Padre Bosco Lima, nunca mais foi convidado sequer para celebrar uma única Missa nos dia 20 “in memoria” do Padre Cícero. Essa decisão da Diocese do Crato foi o princípio da Via Crucis do Padre Murilo depois de mais de 40 anos servindo com dedicação total à Igreja e à Diocese do Crato. Iniciava-se sua caminhada para o Calvário.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

SEU LUNGA CONTINUA VIVO
Falecido recentemente, seu Lunga continua vivo. É o que se pode dizer, sem trocadilho e gozação porque tudo aquilo que gerou a sua enorme notoriedade na mídia de nosso país continua ainda repercutindo. Noutro dia, passando pelos aeroportos do Rio de Janeiro e de Recife encontrei folhetos de cordel falando do personagem. Como este aí de Zé do Jati que já tirou diversas edições muito alentadas. Este é o seu 6º volume, falando da chegada de Lunga no Céu. Penso que isto é absolutamente normal, pois muitas pessoas ganham este status. Uma vez mortas, divinizam-se e são elevadas a esta condição de pelo menos serem recebidas por São Pedro. Acredito que ninguém vai ousar falando de uma possível chegada ou discussão de Lunga com o satanás. Mas, nunca se sabe. Deste mesmo autor, Zé do Jati, há outros 5 volumes, alguns deles já na sua edição trigésima. Também, é digno de menção a realização de um programa de tv, na Tv Verdes Mares Cariri, nas manhãs de sábados, que é finalizado quando alguém conta histórias de seu Lunga. Enfim, uma figura que ficou e assim permanecerá eterna entre nós.

COLUNA CIDADE & CIDADANIA
No Portal da Raio Padre Cícero, FM 104,9, de Juazeiro do Norte, está sendo publicada uma página semanal em que deverei continuar abordando questões de interesse de nossa cidade e de nossa cidadania. Nesta coluna estes textos serão reproduzidos, como faço agora com o primeiro sobre os problemas do lixo na cidade.

O LIXO (I)
De maneira muito sintética, entende-se por lixo os resíduos produzidos por atividades humanas que não tenham utilidade. Pode ser uma visão muito simplista para um problema complexo, uma vez que, na prática, do lixo hoje em dia muitas atividades estão gerando emprego e renda, exatamente pelo caráter da reciclagem de diversos materiais que se acumulam e se descartam como inservíveis pela população em geral. Assim, o primeiro indivíduo que habitou a terra seguramente gerou o primeiro resíduo, feito lixo, a partir de sua alimentação, atividades fisiológicas e a luta pela sobrevivência, o que não lhe servia, e que deve ter sido depositado em algum lugar, ao acaso. Estamos falando de algo que é inerente à nossa existência, fato que já deveria ter sido resolvido há milênios, mas que nos dias de hoje se configura como um problema ambiental da maior gravidade. 
Historicamente, o primeiro grande impacto nos aparece com o advento da Revolução Industrial que introduziu a diversidade na geração de resíduos sólidos à cena que antes só comportava, praticamente, os resíduos orgânicos de alimentos e excrementos. Esse foi o fato gerador que aos poucos foi incrementando complexidade a partir da acumulação de materiais diversos, como restos de alimentos, resíduos agrícolas, papel, madeira, etc, para atingir hoje coisas mais complexas como plásticos, metais, vidros, produtos químicos tóxicos, medicamentos, pilhas, baterias, tintas, lixo eletrônico, lixo industrial, lixo hospitalar e até resíduos nucleares. Lamentavelmente, ao abordar este problema, temos que mencionar o nosso grande atraso no seu enfrentamento, pois se reconhece que muito pouco tem sido feito para reduzir seus efeitos sobre as comunidades. A questão do lixo urbano é algo tão grave na sociedade que o princípio de uma ação efetiva para seu equacionamento se inicia com a nossa consciência socioecológica, o que depende fundamentalmente do nosso esclarecimento e da educação das novas gerações. Em primeiro lugar relevamos que o acúmulo e os destinos equivocados do lixo trazem implicações sérias com a disseminação de insetos e outros animais, hospedeiros de agentes etiológicos de doenças, produção de odores extremamente desagradáveis e resíduo líquido que contamina o lençol freático, poluindo nossas reservas de água potável, além da contaminação de pessoas que estão em contato com estes resíduos em degradação, para sermos bem sumários. Estas coisas, todas, aparentemente, são do nosso pleno conhecimento, mas estranhamente não são capazes de produzir um efeito importante na nossa própria conduta como gerador deste lixo. Em um grande centro como este nosso, minimizar estes impactos requer uma drástica intervenção do poder público no tocante ao disciplinamento de toda a cadeia que pode resolver o problema do destino final dos resíduos. Nesta esfera, União, Estados e Municípios, geram aparatos legislativos com normas que estabelecem procedimentos para implementar soluções básicas na contenção com respeito a coleta, reciclagem e destino final dos resíduos. Depois de muitos anos de estudos e debates há hoje uma legislação que aos poucos vai sendo aprimorada, com vistas a solução dos complexos problemas da geração e destino de resíduos sólidos. Falamos da Lei nº 12.305, de 02.08.2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em, seus termos estão preconizados “princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.” Do corpo dessa legislação emerge o mais recente conceito sobre lixo, tecnicamente denominado de “resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d'água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.” Segundo o Ministério do Meio Ambiente, este instrumento visa também colocar “o Brasil em patamar de igualdade aos principais países desenvolvidos no que concerne ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa quanto na Coleta Seletiva. O Ministério também preconizou uma meta relativamente ambiciosa para alcançar o índice de reciclagem de resíduos de 20% em 2015. Ao lado deste fato, onde ficam explícitos direitos e deveres do cidadão comum, mas também de toda a sociedade, por todos os seus segmentos produtivos e geradores de resíduos, há um longo trabalho a ser concretizado a partir da escola, na vivência doméstica e comunitária, no sentido de formar uma consciência coletiva por práticas adequadas que mitiguem estes impactos do lançamento inadequado de resíduos no meio ambiente. Precisamos fortificar estes esforços para formar estas novas gerações com uma visão moderna sobre a geração de resíduos e o correto manejo no seu descarte. E isto é um trabalho longo, porque terá pela frente a mudança de comportamento, culturalmente sedimentado em séculos nos quais isto foi pouco questionado. No próximo texto vamos nos deter um pouco sobre o que deve ser o esforço da sociedade para aprimorar a sua educação ambiental de modo a formar a sua própria consciência ecológica 
(Coluna Cidade & Cidadania, postada para www.radiopadrecicero.org.br, na data de: 02.02.2016)