quarta-feira, 17 de junho de 2015

BOA TARDE (I)
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
162: (15.06.2015) Boa Tarde para Você, Antonio José de Figueiredo Albuquerque
Aí pelo começo dos anos 70, eu era um estudante universitário, li e ensaiei pequena discussão em seminário em sala de aula, com o então projeto de instalação de uma usina de pasteurização de leite no Cariri que fora concretizado pelo funcionamento da CILCA-Companhia de Laticínios do Cariri, em anos anteriores, aqui em Juazeiro do Norte. Desde aquela época eu nutria uma expectativa de que a região do Cariri viesse a resolver satisfatoriamente a questão da comercialização e do consumo de leite cru, ainda sem pasteurização, e bem assim oferecesse oportunidades de industrialização para os seus derivados. E, realmente, por muitos anos, esta unidade funcionou entre nós aqui no Triângulo Crajubar, hoje inativa e deixando a região quase que totalmente refém das alternativas de consumo de leite longa vida, vindo de várias partes do país, da tradição dos leites em pó e os derivados vindos de fora. No ano passado eu tive a oportunidade de conhecer de perto a unidade industrial da Cooperativa Agroindustrial dos Pequenos Produtores do Sítio Malhada (CAIPEMA), no distrito de Ponta da Serra, em Crato. Essa Cooperativa montou uma planta de processamento de leite graças a mobilização da Associação dos Pequenos Produtores de Leite do Sítio Malhada, que havia sido fundada em 3 de março de 2007, e que em dezembro de 2008 passou à condição de Cooperativa Agroindustrial. Ao cumprimenta-lo nesta tarde, Antônio José, quero inicialmente manifestar-lhe o meu sincero agradecimento pela atenção com que tenho sido recebido, e aos meus alunos, ao visita-los algumas vezes, desde o ano passado, incluindo suas instalações no roteiro obrigatório de uma visão minuciosa por sobre a tecnologia de alimentos na região do Cariri. Anteriormente eu havia lido uma substanciosa notícia das atividades e da vida da CAIPEMA, através de um trabalho de professores da UFC e da URCA com o qual se fazia uma avaliação socioeconômica e tratava da viabilidade desta Cooperativa. Mais de perto, tem sido extremamente prazeroso, Antônio José, verificar como esta iniciativa, com o apoio de 22 cooperativados atualmente, firma um exemplar compromisso de crença e serviço em torno de pequena parcela do volume diário desta nossa bacia leiteira. Infelizmente, Antônio José, o Cariri pouco conhece do excelente trabalho que esta Cooperativa vem realizando, chegando ao mercado ainda timidamente, particularmente só em Crato, com diversos tipos de produtos derivados, como leite fluido pasteurizado, iogurte e bebida lática, queijos diversos, manteiga e creme. Esta é uma realidade bem administrada pela pequena disponibilidade de matéria prima entre os cooperativados, do entorno de poucos sítios como Palmeirinha dos Brito, Sítio Juá, Palmeirinha dos Vilar, Sítio Patos, Umburana, Malhada, Sítio Cipó e Sítio Macapá, dentre outros. Ninguém, em sã consciência, pode ignorar a grande relevância da produção leiteira para a economia local, fato que se amplia a mais que a simples visão econômica do negócio, para contribuir valiosamente para as questões da alimentação básica e para os índices de nutrição de seu povo. Lamentável, Antônio José, é verificar que em nosso meio a oferta de leite para a população carente ainda se faz sem a proteção mínima de tratamento técnico adequado, minimizando ao máximo as ocorrências de veiculação de doenças potencialmente transmissíveis pelo leite mal cuidado e frequentemente adulterado. Como a única instalação em operação com leite no Cariri, recai sobre esta unidade fabril uma grande responsabilidade social que reclama mais apoio financeiro e de incentivo e proteção técnica para a sua expansão e a dinamização de suas atividades, especialmente governamental. Desejo parabenizar-lhes, Antônio José, e a sua equipe pela excelência daquilo que não cansamos de admirar nestas visitas, particularmente pela qualidade de seus produtos e pela renitente resistência que esta Associação manifesta, acreditando no sucesso crescente de seus empreendimentos. Sem dúvida alguma, este é um exemplo magnífico que homens de visão dão ao setor produtivo, desde esta célula básica da agricultura familiar, e que impacta socialmente para a grandeza do pais. Vocês estão de parabéns pelo sucesso da CAIPEMA, porque vocês fazem esta diferença.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 15.06.2015)

CINE CAFÉ (CCBNB, JN)
O Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil, (Rua São Pedro, 337, Juazeiro do Norte), realizando sessões semanais de cinema no seu Cine Café, com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no dia 20.06, sábado, às 17:30 horas, o filme O pecado de todos nós (Reflections in a Golden Eye, EUA, 1967), um drama dirigido por John Huston, com roteiro de Carson McCullers, Chapman Mortimer e Gladys Hill. Elenco: Al Mulock (Private), Brian Keith ( Morris Langdon), Douglas Stark (Dr. Burgess), Elizabeth Taylor (Leonora Penderton), Fay Sparks (Susie), Frank Flanagan (General Sugar), Friedrich von Ledebur (Lieutenant at Garden Party),Gordon Mitchell (Stables Sergeant), Harvey Keitel (Soldado),Irvin Dugan (Cap. Murray Weincheck), Jed Curtis (Accordionist), John Callaghan (Private),Julie Harris (Alison Langdon), Marlon Brando (Maj. Weldon Penderton), Robert Forster (Pvt. L.G. Williams), Ted Beniades (Sergeant), Trent Gough (Soldado), Zorro David (Anacleto). Sinopse: Weldon Penderton (Marlon Brando) é um major que vê sua carreira em franca decadência, após o término da 2ª Guerra Mundial. Seus problemas na carreira terminam influenciando também seu casamento, que vive uma crise que é acompanhada atentamente por um casal de vizinhos e um recruta que nutre uma paixão platônica por sua esposa (Elizabeth Taylor). Crítica: Logo no começo de O pecado de todos nós, percebemos que não se trata de um filme para qualquer público. A narrativa, lenta, e o clima denso entre os personagens escondem muito mais do que o espectador possa supor. Na trama, Marlon Brandon é um major linha dura, Whedon, casado com uma bela esposa, Leonora (papel de Liz Taylor). Seria um casal, além de belo, perfeito aos olhos da sociedade norte-americana: ele é trabalhador, militar, e ela uma dona de casa comunicativa e simpática. Há, contudo, uma série de poréns que o filme vai expondo aos poucos nesse casal saído de um comercial de margarina, que leva o espectador até o limite do suportável e do bizarro. Vaidoso, não demora muito para que Whedon se mostre um narcisista, do tipo que não para de se olhar no espelho e de cuidar dos seus cabelos. Faz exercícios físicos, como se sentisse assim jovem e atraente, mas o espectador sabe que ele está ficando velho e seu casamento sobrevive de aparências. Não se relaciona mais com sua mulher e dorme até em camas separadas. Sua mulher, aliás, é o exemplo da futilidade. Passa o dia todo apenas a cavalgar, com um cavalo cuidado por um recruta chamado Williams e a pensar numa forma de convidar pessoas para uma das festas em sua casa. Williams, aliás, é tratado com certo desprezo por Whedon inicialmente, quando este manda o recruta limpar os matos da área e o repreende ao vê-lo fazer o serviço errado. Até que um problema do major surge nas entrelinhas: Whedon é um homossexual enrustido. Ao ver Williams completamente nu, cavalgando em uma égua negra, Whedon desperta sua louca obsessão pelo rapaz. O que ele não sabe é que Williams é igualmente obcecado pela sua bela esposa, chegando até a invadir seu quarto por várias noites e, pior, ela tem um caso com um coronel mais velho e casado que mora ao lado. O coronel perdeu uma filha e, mesmo depois de três anos passados, sua mulher Alison, que sofreu horas no trabalho de parto, está doente tendo ataques de pânico. Ela sabe da traição mas mantém o casamento de pé assim como Whedon. As coisas começam a piorar mais ainda quando Whedon, desequilibrado pela sua condição, desconta toda sua raiva no cavalo da esposa, provocando uma briga e o total afastamento um do outro. Em uma noite, Alison vê Williams invadir a casa de Whedon, acreditando ser o seu marido. Ela descobre o rapaz no quarto da mulher, o que lhe possibilita que peça o divórcio ao marido para que possa ir embora. Alison joga a merda no ventilador para atingir tanto Whedon quanto ao marido – o fato de que Leonora não está só traindo Whedon, mas também ele mesmo com o recruta, embora o que ela tenha visto no quarto destoe da realidade e o resultado é sua morte pouco depois. O final caminha para o trágico, envolto até mesmo em cenas de suspense e que nos remetem a filmes de horror, com direito a chuva, trovoadas e relâmpagos, uma casa de andar mal iluminada e um assassinato que fecha a bizarrice e choca o espectador. Baseado no livro de Carson McCullers, Reflections in a Golden Eye, o filme deveria ser estrelado por Montgomery Clift, que morreu durante a produção e precisou ser substituído. A abordagem e o tom do filme nos mostra que todos os personagens, por baixo da aparência, não são normais. Normalidade, aliás, é uma palavra que não se enquadra no filme e em nenhum dos personagens, e isso inclui também o filipino empregado de Alison, que parece viajar em drogas o tempo todo, como se estivesse eternamente em uma apresentação teatral. Williams é retratado como um homem que beira a psicopatia: ele invade a casa de Whedon e segue para o quarto da mulher apenas para observá-la e mexer em suas coisas como se procurasse por suvenir. Quanto a Whedon, notem, sua obsessão faz com que ele persiga o homem e guarde suvenirs que o fazem recordar e conviver com sua sexualidade, como se neles pudesse realizar suas fantasias. Nesse sentido, Brandon dá um show de interpretação, trabalhando toda a problemática sem parecer estereotipado. Aqui e ali, de frente para o espelho, passando seus cremes de beleza escondido, trocando olhares para o rapaz, sozinho em sua casa observando seus suvenirs, Brandon constrói um personagem complexo e intrigante, uma bomba relógio que está prestes a explodir. Ao final, ao perceber a invasão do recruta em sua casa, deixa transparecer o seu medo por ter seu segredo revelado, mas também o seu desejo por achar que o recruta o conhece. É um trabalho ainda crível até hoje, digno dos melhores atores do cinema, sem sombra de dúvidas. Por trás do rosto ríspido e do jeito machão, Brandon trabalha nos detalhes, como numa noite que discursa involuntariamente sobre a vida dos homens na base, diante de sua mulher e do coronel, transparecendo o seu desejo de estar com outro homem ao dizer que os “inveja”. Um degrau abaixo, mas ainda assim eficiente, está Liz Taylor, como a mulher bela, mas fútil e infiel do major, mas que tem clareza suficiente para perceber, após a morte de Alison, que as coisas mudaram entre todos eles. Como citado anteriormente, o filme não é para qualquer gosto. Tem ritmo lento, meio melancólico, áspero e rígido, mas o trabalho de Huston é perfeito ao expor as mazelas do casamento aparentemente impecável e as debilidades de pessoas tão desequilibradas. De quebra, Huston mira e atira um míssil na cultura machista americana, ao trazer, em plenos anos 60, um tema tão complicado e difícil como a homossexualidade para dentro da vida militar – afinal, Whedon é uma pessoa que todos respeitam e o filipino que trabalha na casa do coronel infiel é uma figura gay que contrapõe a macheza de Whedon. Tudo isso com distanciamento e sobriedade para ninguém botar defeito. Preste atenção: no final do filme e em Whedon. Ele parece se conectar com outro personagem enrustido, cuja repressão sexual leva a alienação e a violência, o também perturbado Coronel Frank Fitts, papel de Chris Cooper em Beleza Americana (1999).
(Fonte: http://www.ccine10.com.br/o-pecado-de-todos-nos-critica/)

DE JOSÉ MALTA FONTES NETO
Recebi o texto AURA DO JUAZEIRO DO NORTE – TERRA DO PADRE CÍCERO, de autoria do jornalista alagoano, com recente estada na cidade, e que com muito prazer transcrevo neste espaço.
“Já ouvi muitas histórias do Juazeiro do Norte, a terra do Padre Cícero Romão Batista, mas nunca havia sentido a aura daquela terra.
O meu avô Alfredo Rodrigues de Melo, Alfredo Labareda, fundador do município de Carneiros, terra em que vivi os meus primeiros anos de vida, ancião respeitado pela sua dureza terminou os seus dias, na sua última existência, na condição de evangélico, mas um fervoroso adepto e admirador dos milagres do fundador do Juazeiro. Não cabe aqui contar o porquê, pois a história é longa, mas quem sabe um dia contarei.
No período de 04 a 06 de junho de 2015, tive a oportunidade de visitar a terra do Padre Cícero, na companhia do Dr. José Arrais Onofre. Visita esta a trabalho, mas nela pude vivenciar diversas experiências que enriqueceram a minha vida. Uma, em especial, tratarei nesse texto.
Quando resolvi a nossa viagem ao Juazeiro, e sabendo que um amigo devoto do Padre Cícero passava por certos problemas, comuniquei a ele que faria essa viagem e o mesmo pediu que um dia antes o encontrasse para que levasse um bilhete ao “Padim Ciço”, com o que prontamente concordei e ele ainda fez um pedido: já que era analfabeto, que fosse ao seu local de trabalho para que redigisse o tal bilhete. 
Mas, por ironia do destino, esqueci da promessa e só lembrei do amigo quando estava na Igreja de Nossa Senhora do Socorro, onde está sepultado o corpo do Padre Cícero. Pedi licença ao meu companheiro de viagem e sai até um lugar que pudesse me comunicar com o amigo que deixei em Santana do Ipanema. Fiz uma ligação telefônica e no diálogo perguntei se ele sabia onde eu estava e ele prontamente respondeu: - E você, está no Juazeiro do “Padim Ciço” e esqueceu de mim. Eu, prontamente, disse-lhes que havia esquecido de ir fazer com ele o bilhete, mas estava ali para cumprir a minha promessa. Informei que estava comprando um rosário, uma imagem do Padre Cícero e um pequeno adorno da lapela. E também que iria à Igreja do Socorro, colocaria essas compras no local onde foi sepultado o corpo do Padre Cícero e faria um pedido para o amigo. Ele agradeceu e aceitou a nossa indicação.
Assim o fiz, coloquei os presentes do amigo e silenciosamente, a minha maneira,  coloquei as intenções do romeiro que estava no Sertão Alagoano.
Continuei as atividades para a qual nos propomos, visitamos amigos, ganhei presentes que acredito ser tesouros e que há bastante tempo procurava. Dentre os presentes estava o livro PADRE CÍCERO – A sabedoria do Conselheiro do Sertão de autoria do professor, historiador, jornalista e escritor Daniel Walker.
Assim que retornei à Santana do Ipanema comecei a ler essa obra e para minha surpresa,  encontrei um texto que me deixou arrepiado, o qual transcrevo na íntegra:
“No tempo do Padre Cícero, os comerciantes de artigos religiosos: Joaquim Mancinho, Pedro Magalhães, Dandão, Lourencinho e Beata Rita também eram proprietários de casas para hospedagem dos romeiros que chegavam a Juazeiro. Para os romeiros falarem com o Padre Cícero eram obrigados a fazer compras na loja do proprietário do rancho em que estavam hospedados.
Logo depois da morte do Padre Cícero, Joaquim Mancinho contou-me o seguinte fato: “Eu, disse ele, estava certo dia na sala de espera da casa do Padre Cícero, esperando chegar a minha vez para apresentar meus romeiros a ele, quando deu-se uma discussão entre a Beata Rita e Manoel Lucas (sócio de Lourencinho). Cada qual queria apresentar primeiro seus romeiros ao Padre Cícero. Da sala vizinha, onde o Padre Cícero recebia os visitantes, ele ouviu a discussão e levantando-se da rede aproximou-se dos dois e disse: – Vocês vão logo se acostumando porque está bem próximo de meus romeiros chegarem a Juazeiro, podendo se hospedar onde melhor achar conveniente, fazer suas compras onde bem lhes convém, me visitar a qualquer hora e eu atendo suas preces, benzo suas imagens, seus terços e rosários sem ser preciso a interferência de vocês. Disse mais: “Isso acontecerá três anos e meio depois da minha morte. “Estarei aqui em espírito e verdade para velar por esta cidade que será perseguida, mas não vencida”.
Em 20 de dezembro de 1937, decorridos 3 anos e meio de sua morte, que ocorreu em 20 de julho de 1934, os devotos do Padre Cícero observando a má vontade de alguns sacerdotes em benzer as imagens que compravam, quando entre elas estava o retrato do Padre Cícero, daí em diante, por conta própria, passaram a se dirigir à Capela do Socorro, onde o corpo do Padre Cícero está sepultado e põem em cima da lápide do túmulo, seus objetos religiosos para serem bentos, fazem suas preces e saem contentes e satisfeitos como se ele ali estivesse.” (WALKER Daniel 2009 p. 65 e 66).
Ao concluir essa leitura, parei um pouco e coloquei o meu senso crítico para funcionar, analisando todos os acontecimentos vividos, as coincidências e as vivências de tantas pessoas que se repetem ano a ano. 
No hotel, à noite, passei um e-mail para uma amiga que muito estimo e que tem uma longa ligação com o Juazeiro do Norte, a antropóloga santanense, Luitgarde Oliveira Cavalcanti de Barros, que me respondeu com a seguinte mensagem: “Muito bem, dê lembranças ao Daniel Walker e reze muito na Igreja do Socorro, que o Padre Cícero nos abençoa a todos. Bendito seja quem vai ao Juazeiro. Abração, Luitgarde”
Hoje escrever essas linhas, posso assegurar com a batuta de pesquisador,  que muito ainda teremos que conhecer daquela terra encravada no Vale do Cariri, mas que, na Aura do Juazeiro do Norte a presença forte do Padre Cícero e algo notável, até para os céticos.”