sábado, 7 de abril de 2012

07.04.2012
A LIRA NORDESTINA

Por Renato Casimiro

Desde que a Lira Nordestina, a velha gráfica de folhetos de literatura de cordel do poeta José Bernardo da Silva, por último na gerência de suas filhas – Maria de Jesus Silva Diniz à frente, passou ao Governo do Estado do Ceará / Academia Brasileira de Cordel / Universidade Regional do Cariri, não paramos mais de reclamar pelas constantes ameaças à sua destruição. Tem sido assim, especialmente nesta última esfera – a da nossa Universidade, passando por diversos gestores, desde o prof. José Teodoro Soares, até hoje. Tem sido lamentável a conduta da URCA no tocante à preservação e dinamização daquele patrimônio. A Lira, bem explicado, representa a herança de uma fase histórica de nossa cultura popular, congregando poetas e xilógrafos, que nós não podemos renunciar, jamais. Em torno dela, por exemplo, reúnem-se ainda algumas dezenas de artistas que continuam produzindo e mantendo, a duras penas, a atividade de suas competências. O capítulo mais recente foi a decisão de romper o contrato (CLT) do xilógrafo Airton Laurindo (ligado à Lira desde 1988 e à URCA, desde 2004). Não recapitulo aqui a via crúcis de seu sofrimento – o que tenho assistido com muito pesar, pois a Lira mudou de endereços várias vezes, perdeu peças preciosas de seu acervo, ficou em muitas situações de vexame por gestores sem compromisso e terminou por dispersar parte de suas atividades, pela falta de uma diretriz que nos dissesse que a URCA, de fato, assumia o seu compromisso de agente cultural. Anteriormente havia sido rompido o contrato com o xilógrafo Cícero Lourenço (ligado à Lira desde 1988, e à URCA, desde 2005). E eram dois apenas, pelos quais, não a URCA, diretamente, mas por uma destas manobras de terceirização, que foram contratados por uma razão social, salvo engano, de nome Auxilio-Agenciamento de Recursos Humanos e Serviços Ltda., pessoa jurídica de direito privado, CNPJ 04.782.407/0001-79, com sede na Rua Rodrigues Júnior, 287-A, Centro, Fortaleza/CE. Há poucos dias, o Airton foi comunicado pela Pró Reitora de Administração da URCA, profa. Antonia Cileide de Araújo, que ele deveria assinar o aviso prévio, com o qual, no prazo legal, seria desligado. Uma das alegativas, apresentada pessoalmente ao servidor, por sua Pró Reitora, pasmem, é de que pessoas como ele não contribuem para nada na URCA. Aliás, no mesmo ambiente da Lira funciona o Curso de Artes da URCA, remanejado de Barbalha, e é no espaço da Lira que algumas atividades deste curso se desenvolvem. Pouca vergonha, esta, de uma autoridade universitária testemunhar deste modo. É cruel, até este tratamento pessoal. Evidentemente, a nova direção da Lira, agora sob nova direção, do prof. Fábio Rodrigues (Pró Reitor de Extensão da URCA, parece ser ineficiente até para que, de mal a pior, a Lira ainda continue a cumprir precariamente o que já foi, uma das glórias da matriz cultural de Juazeiro do Norte e do Cariri. Eu não me iludo: isto não é incompetência. Isto é má fé, é desrespeito. É ignorância que se associa a intenções que não se confessam publicamente e a serviço do que pior ainda se abriga na URCA, por ranços a fatos não superados, oriundos em espíritos prevenidos e medíocres que insistem em não entender a vocação, o compromisso e a responsabilidade social da instituição. Triste papel, este, o de uma universidade que não consegue resolver com clareza o que lhe serve, ao custo irrisório de um salário mínimo para cada um dos seus dois colaboradores e zeladores exemplares. Fica a indagação: conseguirá a URCA zelar por mais alguma coisa na Região do Cariri, se o preço for maior que o salário mínimo? É traduzir da forma mais barata possível, uma missão que engrandeceria o papel que a instituição assumiu historicamente com o desenvolvimento do Cariri.