quinta-feira, 30 de julho de 2015

BOA TARDE
Dou continuidade à publicação nesta página das pequenas crônicas que estão sendo lidas no Jornal da Tarde (FM Rádio Padre Cícero, 104,9 de Juazeiro do Norte) nos dias de segundas, quartas e sextas feiras, sob o título Boa Tarde para Você.
175: (29.07.2015) Boa Tarde para Você, Pe. Adalmiran Silva de Vasconcelos
Diz-se, há muito tempo, e em tom profético se tem espalhado, atribuindo-se a expressão ao Padre Cícero, que “No dia que a pedra da Batateira rolar, e o Cariri virar mar, tal a invasão das águas, o Pontal de Farias Brito será um porto de navio, junto com a Serra do Horto de Juazeiro”. Este fato se liga a uma lenda que encerra uma maldição que teria sido deixada pelos índios Cariris, e que no início do século XX vem com outra conotação, pela visita do Padre Cícero ao povoado de Araticum, na Serra do Quincuncá, para escolher e benzer o terreno do futuro cemitério local. Leio pela imprensa que o Pontal é o mais novo complexo turístico religioso da região do Cariri, construído nestes três últimos anos, com praça, acessibilidade, monumento ao Padre Cícero, lanchonete, lojinhas, banheiros, recinto para orações e um mirante com uma vista fantástica. Quem esteve à frente deste investimento de R$4 milhões e hoje coordena a sua funcionalidade é o Pe. Adalmiran Silva de Vasconcelos, pároco da Matriz da Imaculada Conceição de Farias Brito, e que acaba de realizar no último dia 20 a primeira Romaria da cidade ao Pontal do Padre Cícero. Antes de ir lá conhecer pessoalmente este grande empreendimento, me apresso em cumprimentá-lo Pe. Adalmiran, pois vejo com que empenho o senhor tem se dedicado inteiramente por esta inserção de Farias Brito, e muito bem justificada, no concerto de tantos destinos de romarias em nosso pais. Chamou-me a atenção o fato de que isto está mobilizando expressivo número de lideranças locais, e isto tudo articulado com os poderes sob a orientação de técnico especializado em Marketing Católico, que faz prospecção em potenciais e diagnósticos sobre esta nova vocação da localidade. E soube que não obstante o que foi possível realizar inicialmente, as preocupações se voltam para a complementação do equipamento, procurando dotá-lo com um Centro de Acolhimento ao Romeiro, bem como a construção de um Luzeiro para maior embelezamento da área. É bastante sintomático e muito promissor que o Pontal de Farias Brito já venha recebendo cerca de dois mil visitantes por mês, especialmente a partir da tradição que se procura construir com as missas do dia 20 de cada mês, além de outras promoções semanais da paróquia.Não há dúvidas, Pe. Adalmiran, que este é um bom sinal da presença viva do Padre Cícero em diversas comunidades do Cariri, a partir do que aconteceu entre nós, aqui no Juazeiro do Norte, pelo grito pioneiro do Pe. Murilo de Sá Barreto e que ressoou fundo no coração dos romeiros. Em verdade, ainda vemos com timidez esta realidade vivida por muitas localidades, por diversas paróquias desta nossa Diocese e outras, por este Nordeste a dentro, como se ainda sinalizassem com o clima detestável de intolerância religiosa, que há muito deveria ter ficado para trás. A longa e demoradíssima atitude que esperamos da hierarquia católica no reconhecimento destes valores nos deixam ainda mais ansiosos sobre esta pauta que trata da reabilitação histórico-eclesial necessária para o reconhecimento do valor do Padre Cícero para nossa Igreja. Dizem-nos os documentos da garimpagem histórica que um verdadeiro clima de terror foi implantado e prosseguiu com a perseguição a tantos padres que se antecipavam neste reconhecimento, falando das maravilhas que aqueles acontecimentos demonstravam.Felizmente, Pe. Adalmiran, hoje podemos vislumbrar um novo tempo, onde se pode reconhecer virtudes, milagres, graças, liderança, intercessão, dar vivas e fazer exaltação, coisas tão profundamente vividas por estes sertões que nem nos aventuramos ignorar. De outra sorte, só vejo com entusiasmo iniciativas como esta de Farias Brito, o velho Quixará dos idos do Padre Cícero, como uma marca autêntica de suas preocupações com o desenvolvimento que não guarda ansiedades rançosas e que o procura, principalmente, com o auxílio do povo de Deus. Desejo sucesso, Pe. Adalmiran, a sua paróquia, ao seu povo reunido em torno desta empreitada, para que o Pontal do Padre Cícero na Serra do Quincuncá, seja ainda mais, na esperança do povo, isso como o senhor reconhece, “o local de uma das mais belas vistas do Cariri do nascer do sol”. Afinal, como o senhor bem lembra, a profecia sobre o Pontal não guarda nada de apocalíptico, nada que nos mostre a antevéspera da catástrofe, do dilúvio e do final dos tempos, mas a visão atualizada do que cada um de nós busca quando se vive à deriva da vida, mas na esperança do Ressuscitado.
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero, Juazeiro do Norte, em 29.07.2015)

O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI

CINE ELDORADO (JN)
O Cine Eldorado (Rua Padre Cícero, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no próximo dia 31, sexta feira, às 20 horas, o filme UM CONTO DO DESTINO (Winter´s tale, EUA, 2014, Direção de Akiva Goldsman). Elenco: Colin Farrell (Peter Lake), Jessica Brown Findlay (como Jessica Brown-Findlay) (Beverly Penn), Russell Crowe (Pearly Soames), Jennifer Connelly (Virginia), William Hurt (Isaac Penn), Will Smith (Juiz), Matt Bomer (O jovem), Lucy Griffiths (II)(A jovem),  Romeo Tan (Kevin Corrigan), Cesar Tan (Kevin Durand), Willa (Adulta) (Eva Marie Saint), Humpstone John (Graham Greene (II), Gabriel (Finn Wittrock), Gravesman (Joshua Henry). Sinopse: Esta história fantástica, baseada em um romance literário, se desenvolve tanto na Manhattan dos dias atuais quanto no século XIX. Durante um inverno rigoroso, Peter Lake (Colin Farrell), um mecânico irlandês, decide roubar uma imensa mansão, fechada como uma fortaleza. Ele tem certeza que a casa está vazia, mas acaba encontrando uma garota (Jessica Brown Findlay) no interior. Quando ele descobre que ela está prestes a morrer, nasce uma história de amor entre os dois. Crítica: Magia por todos os lados (por Bruno Carmelo). “Antes de entrar na sala de cinema, deixe o cinismo do lado de fora”. Essas foram as palavras dos atores Colin Farrell e Jessica Brown Findlay em uma das entrevistas sobre Um Conto do Destino. Os dois provavelmente já previam alguma dificuldade para o público aceitar a história com um estranho cavalo alado, milagres às pencas, pessoas que não envelhecem e Will Smith no papel de Lúcifer, ou “Lu”, para os íntimos. De fato, apesar de o livro original ser popular e respeitado nos Estados Unidos, a versão cinematográfica adota tão cegamente o tom fantástico que só pode ser aceita por um espectador profunda e sinceramente romântico. Para todos os outros, o filme lembra uma dessas histórias doces, cheias de reviravoltas, que os pais contam aos filhos pequenos antes de dormir. O que importa é menos o sentido do que o brilho, o encantamento, os efeitos. A diferença, no caso, é que uma dessas historinhas foi ilustrada com um orçamento de US$60 milhões e, acima de tudo, contada aos adultos. Talvez esse seja o elemento mais perturbador desta produção: tentar vender ao público maduro um roteiro cujo maniqueísmo faria mais sentido nas histórias de princesas e dragões dos desenhos infantis. Não que o livro seja melhor, ou pior – o autor desta crítica não leu a obra de Mark Helprin -, mas incomoda a trama lisa, asséptica, em que a violência não tem sangue, o sexo não tem prazer, o amor não tem sedução. Tudo é entregue ao espectador como um fato: o mocinho se apaixona porque sim, o vilão quer matá-lo ao longo de um século inteiro porque sim, outra garotinha aparece em seu caminho porque sim. É o destino, com sugere o título nacional, ou então são milagres, como dizem os personagens. É preciso ter muita fé e credulidade para acatar tamanhas liberdades com a coerência narrativa. Os atores se esforçam, e neste sentido merecem respeito por conseguirem atribuir verossimilhança a frases como “Não me elogie mais, senão vou derreter toda a neve sob os meus pés” ou “Eu sou um ladrão, não posso roubar apenas uma vida?”. Para o bem ou para o mal, o demônio Russel Crowe torce o queixo, abaixa o olhar e transforma a voz de maneira exageradíssima, mostrando comprometimento com esta visão etérea e escapista do mundo. Já Jennifer Connelly e Eva Marie Saint, cujas personagens têm menor relação com a magia e os efeitos especiais, estão convincentes e emocionantes em seus papéis dramáticos. Por fim, Um Conto do Destino funciona como uma versão menos criativa visualmente de Amor Além da Vida, ou uma releitura menos romântica de Cidade dos Anjos. Certamente, ainda falta descobrir porque Colin Farrell usa esse corte de cabelo no começo dos anos 1910, e porque Will Smith interpreta Lúcifer com sua voz habitual e com trajes de hipster. Os conceitos elaborados pelo diretor Akiva Goldsman e sua equipe não ficam nada claros, mas se existe um verdadeiro mérito nesta história atípica, é nadar contra a norma de Hollywood e acreditar no sucesso de um tipo de magia e ilusionismo que a indústria abandonou há muito tempo.

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