sábado, 30 de janeiro de 2016

O CINEMA ALTERNATIVO NO CARIRI

CINEMARANA (SESC, CRATO)
O Cinemarana (Teatro Adalberto Vamozi, SESC, Rua André Cartaxo, 443, Crato), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 01.02, segunda feira, às 19 horas, o filme DANÇANDO NO ESCURO (Dancer in the dark). Direção de Lars von Trier.Elenco: Bjork (Selma Jezkova), Catherine Deneuve (Kathy), Vladica Kostic (Gene Jezkova), David Morse (Bill Houston), Peter Stormare (Jeff), Joel Grey (Oldrich Novy), Jean-Marc Barr (Norman), Cara Seymour (Linda Houston), Vincent Paterson (Samuel), Siobhan Fallon (Brenda), Zeljko Ivanek (advogado). Sinopse: O filme se passa nos EUA, no ano de 1964, e a protagonista é Selma Jezková (BJork)), uma imigrante tcheca que se mudou para aquele país com seu filho Gene (Vladica Kostic)). Selma aluga um trailer na propriedade do policial local Bill (David Morse) e sua esposa Linda (Clara Seymour)), onde vive muito humildemente. Para sobreviver, trabalha em uma fábrica de indústria metalúrgica pesada com sua melhor amiga Kathy (Catherine Deneuve)) e com Jeff (Peter Stormare) que quer ficar com Selma.
CINENINHO (SESC, CRATO)
O CineNINHO (Casa Ninho, do Grupo Ninho de Teatro, em frente a RFFSA, Crato), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 02.02, terça feira, às 19 horas, o filme A PELE DE VÊNUS (La Vénus a la fourrure, França/Polônia, 2013, 96min). Direção de Roman Polanski. Elenco: Emmanuelle Seigner (Vanda), Mathieu Amalric (Thomas). Sinopse: Um livro de 1870 que deu origem à história, sobre um homem que por paixão e fetiche se torna escravo de uma mulher, com direito a chicote e roupas de couro, já é notoriamente autobiográfico. O austríaco Leopold von Sacher-Masoch reproduziu em Venus im Pelz as relações de dominação que mantinha em sua vida íntima, e sua figura se tornou indissociável do elemento central da novela, o masoquismo (termo cunhado a partir do sobrenome do escritor). No filme de Polanski, adaptação ao cinema da peça off-Broadway homônima de David Ives, um diretor de teatro procura uma atriz principal para sua releitura de Venus im Pelz, e o processo também traz à tona suas idiossincrasias. No filme, Emmanuelle Seigner, esposa de Polanski, vive Vanda, a atriz aspirante que aparece numa noite chuvosa no teatro onde o diretor Thomas (Mathieu Amalric) passou o dia fazendo testes com atrizes para sua montagem. Na trilha sonora lúdica de Alexandre Desplat, que neste começo de filme sugere uma premissa de terror (acompanhada dos devidos efeitos de relâmpagos na tempestade), e na câmera de Polanski, que desliza do lado de fora do teatro como um fantasma, a figura de Vanda imediatamente pode ser confundida com uma projeção: vinda dos sonhos ela invadiria o espaço de Thomas como materialização dos desejos e das fraquezas do dramaturgo.

CINEMATÓGRAPHO (SESC, JN)
O Cinematógrapho (Teatro Patativa do Assaré, SESC, Rua da Matriz, 227, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com curadoria e mediação de Elvis Pinheiro, exibe no próximo dia 03.02, quarta feira, às 19 horas, o filme O MENINO E O MUNDO (Brasil, 2013, 80min). Direção de Alê Abreu.

Elenco: Alê Abreu, Vinicius Garcia, Emicida, Melissa Garcia, Nana Vasconcelos. Sinopse: Um garoto mora com o pai e a mãe, em uma pequena casa no campo. Diante da falta de trabalho, no entanto, o pai abandona o lar e parte para a cidade grande. Triste e desnorteado, o menino faz as malas, pega o trem e vai descobrir o novo mundo em que seu pai mora. Para a sua surpresa, a criança encontra uma sociedade marcada pela pobreza, exploração de trabalhadores e falta de perspectivas.
CINE ELDORADO (JN)
O Cine Eldorado (Cantina Zé Ferreira, Rua Padre Cícero, Juazeiro do Norte), com entrada gratuita e com a curadoria e mediação do prof. Edmilson Martins, exibe no próximo dia 05.02, sexta feira, às 20 horas, na programação de OSCAR de Melhor Filme, o filme AMOR SUBLIME AMOR (West side story, EUA, 1961, 152min). Direção de Jerome Robbins e Robert Wise. Elenco: Natalie Wood (Maria), Richard Beymer (Tony), Russ Tamblyn (Riff), Rita Moreno (Anita), George Chakiris (Bernardo), Simon Oakland (tenente Schrank), Ned Glass (medico), William Bramley (oficial Krupke), Tucker Smith (Ice), Tony Mordente (Action), David Winters (A-Rab), Eliot Feld (Baby John), Carole D'Andrea (Velma), Jay Norman (Pepe), Tommy Abbott (Gee-Tar). Sinopse: À semelhança do que acontece na peça Romeu e Julieta de Shakespeare, o filme apresenta Tony, antigo líder da gangue de brancos anglo-saxônicos chamados de Jets, apaixonado por María, irmã do líder da gangue rival, os Sharks, formada por imigrantes porto-riquenhos. O amor do casal protagonista floresce entre o ódio e a briga das duas gangues e seus códigos de honras, tal qual a desavença histórica entre os Capuletto e os Montechio mostrada em Romeu e Julieta.

COLUNA CIDADE & CIDADANIA
No Portal da Raio Padre Cícero, FM 104,9, de Juazeiro do Norte, está sendo publicada uma página semanal em que deverei continuar abordando questões de interesse de nossa cidade e de nossa cidadania. Nesta coluna estes textos serão reproduzidos, como faço agora com o quarto da série dedicado aos problemas do trânsito na cidade.
O TRÂNSITO (IV)
O propósito desta pequena série de argumentos para iniciar uma discussão sobre a questão do trânsito na cidade pode ser completado aqui com alguns elementos da nossa própria observação em torno das dificuldades que enfrentamos no cotidiano. Provavelmente elencaremos como a primeira delas a condição das vias de tráfego, sempre muito maltratadas em vista da má conservação, fruto de péssima manutenção dispensada pelo poder público. Já falamos brevemente sobre o péssimo estilo de abertura de vias e a construção dos leitos, com tal fragilidade que não resistem bem a esta temporada de chuvas, por exemplo. O nível de compactação também é precário para a diversidade da frota que já inclui no livre trânsito o uso por veículos de grande porte, pleno de cargas além da capacidade que se poderia estabelecer. Junte-se a isto o proselitismo político que sempre visualizamos pelos governos, como agora que estabelece um medíocre plano de pavimentação de vias, absolutamente secundárias diante do necessitado para o momento. Neste instante, por exemplo, as principais vias da cidade estão necessitando um grande reforço de manutenção, mas um passeio por um desses bairros de grande adensamento eleitoral está ganhando uma pavimentação horrorosa para o devido efeito populista do gestor. Outra coisa lamentável decorre da insuficiente sinalização, tanto vertical como horizontal, exatamente pela mesma demanda de manutenção que exige pronta atenção da engenharia de trânsito. Mas este cuidado parece não despertar muito interesse, pois o que vemos é o trivial, aquilo que normaliza o trânsito no básico como direções, uma certa sistemática de fluxo que privilegia apenas grosseiramente o tráfego. Veja por exemplo a falta de sensibilidade para com diversos cruzamentos importantes da cidade, nos quais, por absoluto desleixo não se produz algo mais em agilidade quando é possível. Relevo neste caso o exemplo do cruzamento das avenidas Castelo Branco com Padre Cícero, na altura do Shopping, onde não se sinaliza para as possibilidades de duas vias simultâneas de direção em decorrência do semáforo instalado. Não há sinalização adequada e o sentimento é de que as alternativas sensatas são proibidas, mesmo porque fortemente vigiadas por foto sensores. E isto se repete em outros locais. Aliás, a questão dos foto sensores ainda carece de uma melhor caracterização de sua aplicação. Do modo como são instalados eles cumprem eficazmente a função punitiva em detrimento da sua razão educativa para melhor utilização das vias. Neste particular, basta ver o engano cometido na péssima sinalização de um destes últimos instalados na Av. Ailton Gomes, que só avisa o limite de velocidade no exato momento em que é “flagrado”. A cidade cresce, e há a necessidade de estabelecer limites bem diversificados de velocidades. Por isso mesmo já não somos capazes de memorizar locais, limites e circunstâncias destas advertências se não for por uma sinalização adequada. Outra coisa que requer um disciplinamento e disso já tratamos brevemente aqui é a repercussão sobre as rampas de acesso para estacionamentos privativos, especialmente o das residências. A construção livre, sem qualquer licenciamento da prefeitura, se dá, geralmente, com duas rampas: uma na própria via de tráfego de veículos, por vezes com cerca de um metro de extensão, e outra sobre a calçada. Essas construções em muitas ruas chegam a provocar obstáculos de até dois metros no afunilamento da via que já é tão estreita para a necessidade local. Outro fato lamentável nos nossos espaços de trânsito é o que decorre de alguns serviços básicos, principalmente como a manutenção na distribuição de água, o péssimo serviço de esgoto a céu aberto e drenagem de águas pluviais, pessimamente estabelecida, como podemos ver agora na temporada de chuvas. Por estes dias mais uma romaria toma conta da cidade e as condições de trânsito são postas em cheque por serem elementos importantes. São impactos notáveis em poucos dias, é verdade, mas que trazem repercussões mais duradouras para todos os setores da cidade. Também por estes dias estamos novamente enfrentando o retorno às aulas e isto significa um trânsito mais frequente da nossa frota, est mais própria da cidade, em muitos locais críticos das proximidades de escolas, faculdades, universidades. Mas isto também é bem verdadeiro por um expressivo número dos chamados veículos alternativos vindos de dezenas de cidades do nosso entorno, da nossa área de influência. Todos estes são partes interessadas no equacionamento das questões e trânsito, na expectativa de melhoria continua para tais serviços. Enfim, por todos estes elementos mencionados, mais como observador do que como técnico, já nos indica para a devida oportunidade de tempo para que os órgãos competentes e tão comprometidos com estas questões promovam estudos para implementar melhorias neste setor. Fica a sugestão para que tanto estes segmentos quanto o da Câmara de Vereadores também assuma parte destas insatisfações, realizando audiências públicas para ouvir sugestões que orientem a aplicação de soluções eficientes para minimizar os transtornos decorrentes do caos urbano que nos aflige. (Coluna Cidade & Cidadania, postada para www.radiopadrecicero.org.br, na data de: 26.01.2016).

CÍCERO: DE ORADOR EM ROMA A GURU DO SEBRAE
Transcrevo com prazer o artigo abaixo, escrito por Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa (evn_advocacia@hotmail.com) publicado no Diário da Manhã, Goiânia (GO), edição de 27.01.2016. http://www.dm.com.br/opiniao/2016/01/cicero-de-orador-em-roma-a-guru-do-sebrae.html

“Há nomes que sugerem notoriedade, como por exemplo, Cícero, que lembra o célebre orador latino (106 a 43 a.C.), que se destacou em Roma antiga por sua eloquência forense e sobretudo quando se insurgiu no Senado romano contra a conspiração urdida por Catilina, pronunciando suas famosas Catilinariae Orationes e assim tornando-se reconhecido como salvador da república. A história parece repetir-se, sobretudo quando vemos agora grassar a corrupção no Parlamento brasileiro e então ouvimos o eco das palavras do célebre orador romano: “Oh tempora! Oh mores!” (Ó tempos! Ó costumes!). Essa impressão eu tive ao ouvir pela primeira vez o conferencista cearense, Cícero Sousa (foto), advogado e orador espírita, em recente palestra proferida na Irradiação Espírita de Goiânia, sobretudo quando se reportou aos tempos de sua formação jesuítica em Roma e traçou o panorama de sua experiência existencial e espiritual, agora com a missão assumida de iluminar a alma do povo. O título da palestra era, a propósito, “Alumeie”. Com diferença que o Cícero cearense (ao contrário do legendário padre Cícero de Juazeiro), não se interessa por política partidária e revelou-me que, embora convidado, jamais se dispôs a falar na Câmara dos deputados, porque ali eles mal ouvem a si mesmos e são cegos e surdos aos clamores do povo. Cícero Sousa hoje presta serviços ao Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) na condição de consultor e tutor (ou coordenador) do Projeto DET (Desenvolvimento Econômico Territorial). O trabalho que vem desenvolvendo em Goiás, como já o fez em outros estados, consiste no esforço de agregar em torno do Sebrae, entidades empresariais de classe, bancos oficiais, cooperativas, agências de desenvolvimento regional e até universidades, formando redes de cooperação entre a administração pública e a iniciativa privada, não agindo de cima para baixo, mas de baixo para cima, dialogando com as comunidades locais, a partir da mobilização dos pequenos produtores. O Projeto DET vem operando em Goiás nas regiões Oeste, Norte, Noroeste e Entorno de Brasília. E seu coordenador, Cícero de Sousa, desde agosto de 2015 já visitou todas essas regiões, que, segundo observa, destacam-se por diferenças impactantes.

Diferenças regionais
O nordeste goiano, que tem por cidades-polo, Posse e Campos Belos, ao olhar de Cícero, é a região mais rica em recursos naturais e a menos desenvolvida do ponto de vista socioeconômico. O norte, que tem por cidades-polo Uruaçu e Porangatu, é a região que melhor vem correspondendo às intervenções do Sebrae, até porque conta com grandes empreendimentos ligados inclusive a projetos de empresas multinacionais, principalmente no setor de mineração. O oeste goiano, tendo por cidade-polo São Luís de Montes Belos que abriga uma gerência regional, destaca-se pela agropecuária e pela presença de pequenas indústrias de confecções. A região noroeste, que tem Goianésia como sede de uma gerência regional que se estende ao município de Jaraguá, é o maior centro de confecções do Estado de Goiás. Já o entorno de Brasília, que se caracteriza pela densidade populacional das cidades circunvizinhas, tem por principal foco as atividades de comércio e serviços, sendo que as cidades-dormitório da circunvizinhança funcionam como fornecedoras de mão-de-obra à Capital federal. A principal preocupação do Sebrae nesta primeira etapa do Projeto DET, segundo Cícero, é fortalecer os pequenos negócios no sentido de aí reter a renda produzida e agregar valor à produção local. O projeto está previsto para durar até 2017 com recursos do Sebrae nacional, que nesta primeira fase já conseguiu envolver a sociedade civil numa rede de cooperação com o poder público. 

O guru do SEBRAE
O doutor Cícero, com seus dotes de orador (reencarnação romana?) e palestrante espírita, tornou-se uma espécie de guru do Sebrae, que em 1991 o descobriu no estado do Ceará, quando ali compareceu na condição de secretário do governo de Pernambuco (gestão de Joaquim Francisco), para acompanhar um encontro promovido em Fortaleza, com empresários e investidores que se mobilizavam para participar de ações do governo cearense. Apesar de suas constantes incursões na Europa, eis que viveu e estudou em centros cosmopolitas como Paris e Roma, o nobre cearense Cícero Sousa sempre acompanhou o processo de desenvolvimento de seu estado natal, que vê como um dos mais criativos estados nordestinos. Naquele encontro Cícero chegou à seguinte conclusão. O poder público pode, mas não pode tudo. A sociedade civil sabe, mas não sabe tudo. Era preciso somar esforços e então todos se movimentaram no sentido de criar, como de fato criaram um pacto de cooperação entre governo e empresários, admitindo-se que o estado poderia ser administrado na forma de uma grande empresa pública. O pacto cooperativo vingou e o estado do Ceará entrou numa fase de prosperidade servindo de modelo para outras unidades federativas que adotaram a mesma política participativa. Mais tarde, já como secretário Municipal de Juazeiro do Norte (1993-96), Cícero Sousa pensou também num pacto regional de desenvolvimento integrado da região do Cariri, à época uma das mais pobres do sertão cearense, tal como o nosso nordeste goiano, que era aqui estigmatizado como corredor da miséria. A questão seria descentralizar a administração pública da capital (lá Fortaleza, como aqui Goiânia), mediante um plano de desenvolvimento regional. E assim foi feito. A história é longa e, na explanação do doutor Cícero (já agora falando como tutor do Sebrae em Goiás), o que chama mais a atenção é a sua maneira de contar a história, que reflete sua maneira de dialogar com o povo, com a técnica do sim e do não, onde não cabe a palavra talvez. 

A técnica do sim e do não
Primeiro, uma pergunta (lá como aqui). De quem é esta região? É do governo? Não. É de Deus? Não. De quem é? É do povo? Sim. Então esta região é nossa. Sendo assim, paremos de reclamar de Deus pelo fato de que aqui não chove, e paremos de reclamar do governo, que “não chove nem molha”. O povo pode construir seu próprio destino quando se liberta da dependência governamental. Assim nasceu a ideia (lá como aqui) de que o pacto regional pode abranger todos os setores produtivos e não só os projetos dos grandes empresários. Quando a ideia pega, a notícia se espalha, o diálogo se estabelece efetivamente entre os agentes políticos e os representantes da comunidade: eis o que se chama pacto de cooperação. O papel do guru é conscientizar o povo de sua capacidade própria de criar soluções. Pobreza não existe só por falta de recursos financeiros, tecnológicos ou naturais. Pobreza é causada, sobretudo por questões culturais. As pessoas nascem e crescem admitindo ser pobres e nada fazem para mudar essa fatalidade. Como diria o poeta português, Bulhões Pato: “Ribeiros correm aos rios, os rios correm ao mar. São tudo leis deste mundo, que ninguém pode atalhar. Quem nasce para ser pobre, não lhe vale trabalhar.” Cícero reage a esse fatalismo, contando histórias que refletem experiências construtivas que levantam a autoestima das pessoas, mostrando exemplos de como devem reagir às situações adversas. Aqui entra novamente a sua técnica de dialogar. – Alguém aqui já levou uma carreira de boi? Sim ou não? Alguém responde: – Sim. – Então, se você já levou uma carreira de boi e se já saltou na altura de uma vara de dois metros, então você é capaz de saltar adiante na vida e sair de situações menos difíceis do que essa. E deduz que todos se enquadram na condição de saltar adiante na vida, quando acreditam em si mesmos. Cícero sabe levantar as expectativas da plateia, contando histórias em forma de parábolas das quais extrai lições de vida. Certa vez saiu viajando pelo Nordeste afora e, logo na entrada da cidadezinha de Monteiro, viu um monumento erguido em homenagem ao poeta popular da cidade, onde leu a curiosa inscrição: “Poeta é aquele que tira de onde não tem para botar onde não cabe.” Com a risada da plateia, Cícero conclui: – Vocês têm que fazer como o poeta: tirar de vocês mesmos e botar onde parece que não cabe. Interessante é que o povo entende o que Cícero cearense fala, seja no Nordeste como em Goiás (em Posse ou em Nova Roma), assim como o Cícero romano falava e era entendido pela classe dos plebeus na Roma antiga. Como é que esse povo, que tem tal sensibilidade, essa inteligência emocional, esse senso artístico, não é um povo civilizado? Ora, se é um povo civilizado, por que não utilizar seu potencial, mesmo no contexto da cultura popular? 

No nordeste goiano
Observei que Cícero consegue convencer as pessoas de que uma terra não é estéril quando elas têm a mente fértil. Mas como faz para ensinar que uma terra é fértil quando as pessoas têm a mente estéril? A resposta é positiva: “Mexendo no brio delas. Toda pessoa tem seu orgulho, mormente aquela que tem a mente menos fértil. Geralmente a pessoa mais orgulhosa pensa que vale mais do que as outras, então acha que todo mundo é responsável por ela, menos ela própria, inclusive Deus.”

Às vezes é preciso mexer com o brio dessa gente – enfatiza Cícero. – Como? Dando exemplos de como as pessoas de outros lugares reagem a situações mais adversas do que as delas. Mostrar, por exemplo, como aqui no cerrado goiano, há uma abundância de produção natural de pequizeiro e cajueiro nativos, prodigalizando seus frutos. Mostrar que cabe a essas pessoas, pelo menos colher o caju ou descascar o pequi para usufruírem daquilo que a natureza lhes oferece. Mostrar que há lugares piores onde as pessoas não têm outra alternativa, ou cultivam a terra e produzem o que comer, ou morrem de fome. Deus deu a vida, criou a natureza, mas as criaturas hão de produzir seus próprios alimentos com o suor de seus rostos. (Essas palavras aqui alinhadas na forma de discurso indireto livre foram extraídas de uma entrevista com Cícero, acompanhando-o em uma de suas andanças no município de Posse). E assim prossegue com a sua técnica de contar dessas histórias de vida, dar exemplos construtivos e concluir com a sua lógica do sim e do não, como na maiêutica de Sócrates, em que, dialogando com o povo, convence-o na base de perguntas e respostas. Cada história gera uma provocação do tipo: – Ninguém aqui é mendigo. É mendigo? Não. Pode até não ter as duas pernas e os dois braços, mas mendigo não é. Todos aqui têm uma mente sadia, não têm? Sim. Pois então vocês têm uma mente que é fértil, capaz de pensar e resolver seus problemas. Pergunta-se: Deus deu mais inteligência aos alemães? Não. Deus deu mais sabedoria aos japoneses? Não. No entanto, a Alemanha e o Japão, não são hoje potências mundiais? Sim. Mesmo tendo sofrido guerras, terremotos e até bomba atômica, pois não é? E assim arremata: “Nós somos um povo privilegiado, temos um país privilegiado. Goiás, coração do Brasil, é um estado privilegiado. Aqui há rios caudalosos, têm até nomes românticos: Rio Vermelho, Rio Verde, Rio das Almas.” Nessa tônica, o orador já prepara sua peroração: “Passarinho recebe de graça as coisas de Deus? Não. Mas o Pai Celestial se preocupa com eles? Sim. Os passarinhos buscam longe os gravetos para fazer os seus ninhos e nunca vão à prefeitura pedir ao prefeito um ninho popular: eles o constroem como nem a ciência faz igual. A ciência pode até inventar um ninho colorido, de plástico, mas nunca igual ao ninho que só o passarinho sabe construir. Basta olhar em derredor e ver que todos os entes da natureza trabalham para sobreviver, desde as avezinhas que se alimentam das sementes caídas no chão, até os insetos que saem do chão também em busca da própria sobrevivência.” As pessoas ouvem isso (palavras do Cícero), ficam silenciosas e depois se convencem de que têm mesmo que descruzar os braços. O homem do campo, que convive com a natureza e também acredita em Deus, precisa acreditar em si mesmo e ver que a pobreza material é antes de tudo uma pobreza mental. Dizendo essas coisas, o palestrante Cícero convence até as pedras a rolar dos morros, se necessário for, para o bem das comunidades assistidas pelo Sebrae.”

O PRIMEIRO DE 2016
Já está circulando o primeiro jornal editado no corrente ano de 2016. É o Jornal Ideia, jornalzinho impresso, versão das mídias eletrônicas do Grupo Cariri de Notícias, editado por MGM Artes Gráfica Rápida e Jr. Moral, impresso na mesma MGM Artes Gráfica Rápida, com primeiro número 
Saído em 06.01. http://grupocaririnoticias.blogspot.com.br/ ; https://www.facebook.com/Noticias-Cariri-620567057986669/ e https://www.facebook.com/Carirí-Notícias. Endereço: Rua 22 de Julho, esq. Rua Epitácio Pessoa; Periodicidade: semanal / quinzenal; Dimensões: 23,2cm x 31,4cm; Tiragem: 500 / 1000 exemplares. Edições iniciais: I(1):06.01.2016, 4p, I(2):13.01.2016, 4p, I(3):20.01.2016, 4p, I(4):27.01.2016, 4p.


ECOS DA RECONCILIAÇÃO


Transcrevo o artigo abaixo, de uma pessoa com a qual convivi esparsamente em Fortaleza. Ele hoje, ao que parece, vive em sua terra, Cajazeiras, depois que enviuvou há bastante tempo, perdendo sua esposa, nossa querida amiga Helena Cartaxo, uma das dirigentes da Associação Docente da UFC. Muito interessante seu artigo, publicado no jornal Diário do Sertão, de Cajazeiras (PB). Vejamos:


PADRE CÍCERO: POR QUE A IGREJA MUDOU?, por Francisco Cartaxo.

“Padre Cícero morreu amargurado. Punido pelo bispo do Ceará e pela Inquisição, cerceado no exercício de muitas funções sacerdotais. Durante mais de dois terços de seus 90 anos de vida, ele lutou para ser perdoado. Seu infortúnio começou quando se propagou o “milagre” da transformação da hóstia em sangue na boca da beata Maria de Araújo, em 1889, seguido da incontrolável atração de fiéis a Juazeiro, formando-se a onda de fanatismo. A luta de padre Cícero para provar sua inocência foi quase inócua. A reparação só chegou agora, após 81 anos de sua morte. Pelo menos é o que se deduz do anúncio e da leitura de trechos da carta, enviada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, ao bispo do Crato, dom Fernando Panico. A correspondência, de 20 de outubro de 2015, só foi divulgada em dezembro, de forma parcial, sem o inteiro teor. Segundo o jornal O Povo, de Fortaleza, 30 mil pessoas ouviram a leitura da carta-mensagem, feita por dom José González, ex-bispo de Cajazeiras, na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A mesma capela onde, em 21 de julho de 1934, foi sepultado o corpo do padre Cícero. Nada mais simbólico. Todas as tentativas de obter o perdão, antes e depois de 1934, foram frustradas. Agora ocorre a mudança. Fruto de grande mobilização intelectual e de massa, a diocese do Crato requereu a “reabilitação” do padre Cícero, requisito básico para a instauração do processo de beatificação, passo necessário à santificação. Equipe de especialistas do Vaticano interpretou que “reabilitação” equivale a recuperar as ordens suspensas, o que, à luz do direito canônico, seria ato jurídico-religioso impossível, posto que padre Cícero já havia falecido. Como solucionar o imbróglio? Promover a “reconciliação” da Igreja com o padre Cícero. Vale dizer, trazê-lo novamente ao seio da Igreja Católica Apostólica Romana, da qual foi marginalizado pela Sagrada Congregação do Santo Ofício, em 1894, em processo formal, instruído, em parte, pela hierarquia católica brasileira, fonte de informações e avaliações negativas. A história desse intrigante episódio histórico registra a influência decisiva de, pelo menos, duas autoridades eclesiásticas: dom Joaquim José Vieira, bispo do Ceará, e dom Joaquim Arcoverde. Este, contemporâneo de Cícero no colégio do padre Rolim, de Cajazeiras, na década de 1860. Então a Igreja mudou? Mudou. A Igreja oficial mudou. Demorou, mas fez o mea culpa. Veja-se este trecho da carta do chanceler do Vaticano: “Mas é sempre possível, com distanciado tempo e o evoluir das diversas circunstâncias, reavaliar e apreciar as várias dimensões que marcam a ação do Padre Cícero como sacerdote e, deixando à margem os pontos controversos, pôr em evidência aspectos positivos de sua vida e figura, tal como é atualmente percebida pelos fiéis. É inegável que o Padre Cícero Romão Batista, no arco de sua existência, viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo e, por isso mesmo, desde o início, foi compreendido e amado por este mesmo povo”. A longa carta, escrita por recomendação do Papa Francisco, ainda não foi divulgada na íntegra. Lamentável. Afinal, o documento mexe em fatos históricos que transcendem às fronteiras da Igreja. Mexe com as pessoas, fiéis ou não. Por isso, é preciso saber mais a respeito do olhar supremo, atual, da Igreja oficial, que mudou para ajustar-se ao sentimento e a fé do povo. Para este o padre Cícero já era santo. Desde sempre.”

PADRE MURILO (Por Geová Sobreira)
Em coluna anterior (19.12.2015) reproduzimos os oito artigos de Geová Sobreira, em depoimento sobre a vida e obra de Mons. Francisco Murilo de Sá Barreto. Através do Juanorte ele publicou mais um capítulo que aqui transcrevemos. 

PADRE MURILO (IX)
Por mais variadas que sejam as reações do visitante, do romeiro, do adventício, do turista, do pesquisador ao chegar pela primeira vez no Juazeiro a primeira delas e a mais marcante é uma constatação imediata e inevitável: o ambiente social do Juazeiro é atípico e diferente das demais cidades brasileiras. Dentro do registro histórico de recentes impressões de visitantes ilustres sobre a Terra do Padre Cícero, por julgá-la muito ilustrativa, escolho o espanto do senador por Santa Catarina, Jorge Konder Bornhausen, na época exercendo o cargo de Ministro da Educação: “nunca vi uma realidade social tão chocante quanto esta...” A comitiva de autoridades e de políticos que acompanhavam o Ministro da Educação ficou estarrecida com a inesperada reação...De fato, Juazeiro é um mundo. E um mundo diferente. Por essa razão não se é de estranhar que as autoridades eclesiásticas brasileiras e, de modo especial, do Ceará olhassem até com desprezo o movimento religioso popular do Juazeiro, as levas imensas de romeiros e os devotos do Padre Cícero. Adotando essa posição, o Seminário Arquidiocesano do Ceará, o Seminário da Prainha, a mais importante “casa de formação de sacerdotes e que desempenhou importante papel na formação cultural e intelectual do Ceará, até o ano 2000 inculcava sistematicamente em seus alunos de filosofia e teologia severas restrições e acerbas críticas ao Patriarca do Juazeiro, tendo-o por excomungado, embusteiro e aos romeiros e devotos do Padre Cícero taxava-os de analfabetos, jagunços e fanáticos. Foi nesse ambiente adverso que se deu a formação do jovem levita Francisco Murilo de Sá Barreto. Padre Murilo chegou ao Juazeiro, no dia 6 de fevereiro de 1958 como “vigário cooperador” do Mons. José Alves de Lima. Nesse período de quase 10 anos, em que foi vigário cooperador, o jovem sacerdote dedicou o seu tempo a estudar a vasta e complexa história do movimento religioso popular de Juazeiro, a vida do Padre Cícero e mergulhar a fundo na investigação do imaginário popular que fundamenta a romaria. Era um mundo fantástico, fascinante e de fé ardente e generosa que envolve todos os participantes da romaria. Foi nesse período que o Padre Murilo teve que aprimorar os dons de diplomata para não entrar em atritos nem com o vigário da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, Mons. José Alves de Lima, nem com a hierarquia da Diocese do Crato, que tinha como lema combater de maneira radical a memória do Padre Cícero e o que eles chamavam de movimento fanáticos dos devotos do Padre Cícero.Com a morte de Mons. José Alves de Lima, em 28 de fevereiro de 1967, Dom Vicente Paulo de Araújo Matos, sem alternativas aceitáveis para ocupar a Paróquia de Nossa das Dores, porque o clero da Diocese não sentia disposição em assumir os graves desafios que se apresentavam no Juazeiro como vigário dos romeiros. Sem opções disponíveis, Dom Vicente Paulo de Araújo Matos nomeou Padre Murilo vigário de Juazeiro. Para o clero do Crato, aquela foi uma opção amarga em razão das posições defendidas por Padre Murilo em favor de maior assistência espiritual aos romeiros e a criação de uma pastoral totalmente devotada às romarias. Era exigido um delicado equilíbrio ao Padre Murilo: ser obediente ao seu bispo, fiel ao voto de sua ordenação sacerdotal e ao seu dever de pastor de zelar pelos seus fiéis e não eram “ovelhas” tresmalhadas da parábola evangélica. Eram almas generosas em busca da palavra de Deus, dos santos sacramentos, vindo de longe, sofrendo por íngremes caminhos, sofrendo os romeiros o desconforto aboletados em paus-de-arara, e a Igreja não podia fechar as suas portas ao “povo de Deus”, que vinha ao Juazeiro visitar a Mãe de Deus. Padre Murilo conquistou toda a Nação Romeira. A pastoral das romarias passou a ser a atividade principal da Paróquia de Nossa Senhora das Dores. Em 1994, ano do sesquicentenário do nascimento do Padre Cícero, Padre Murilo movimentou os sertões para prestar uma grande homenagem ao Patriarca do Nordeste. Mais de 190 sacerdotes de diversos pontos do Brasil aderiram e confirmaram presença numa magnífica concelebração eucarística. 5 bispos confirmaram presença na cerimônia religiosa. Nesta euforia, havia nuvens negras que angustiavam a alma do Padre Murilo: o Bispo de sua Diocese, Dom Newton Holanda Gurgel, não confirmava sua presença na Celebração Eucarística. No dia 24 de março de 1994, pressionado e a contragosto, Dom Newton Holanda Gurgel se fez presente no Juazeiro e diante de quase 200 Sacerdotes, 5 bispos de outras dioceses, autoridades políticas e militares participou do maior acontecimento religioso em homenagem ao Patriarca de Juazeiro. Aquele foi um dos dias mais felizes da vida do Padre Murilo.

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