terça-feira, 2 de outubro de 2012

EXPOSIÇÃO DE LUCIANO FIGUEIREDO


O Artista
Luciano Henrique Pereira de Figueiredo nasceu em Fortaleza, em 1948. É filho da juazeirense Nazaré Pereira. Artista intermídia, designer gráfico, cenógrafo e pintor. Iniciou a vida profissional nos anos 1960 como cenógrafo, em Salvador. Em 1967, participou da 9ª Bienal Internacional de São Paulo. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1969, e passou a criar cenografias para shows musicais e peças de teatro e a desenvolver projetos gráficos para discos, livros e revistas, entre elas, a Navilouca, editada pelos poetas Torquato Neto (1944 - 1972) e Waly Salomão (1944 - 2003). Entre 1972 e 1978, viveu em Londres, onde estudou história da arte e literatura inglesa, interessou-se pelas possibilidades visuais da página impressa de jornal e, com base em pesquisas, desenvolveu pinturas e objetos tridimensionais com colagens, malhas de arames e relevos monocromáticos. De volta ao Brasil, no fim da década de 1970 e início da seguinte, trabalhou como diretor de arte em filmes do cineasta Júlio Bressane. Entre 1981 e 1995, atuou como diretor técnico do Projeto Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, e em 1994, foi o responsável pelas salas especiais Hélio Oiticica e Lygia Clark, na 22ª Bienal Internacional de São Paulo. Foi nomeado diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas, da Fundação Nacional de Arte – Funarte, em 1986 e fundou o Instituto Nacional de Artes Gráficas no mesmo órgão, dois anos depois. Paralelamente, realizou diversas exposições de pinturas e objetos em galerias do Rio de Janeiro e São Paulo. As mais recentes exposições individuais de Luciano foram realizadas no Musée Departamental de GAP (França, 2005), LURIXS Arte Contemporânea (Rio de Janeiro, 2004), Galeria Anna Maria Niemeyer (Rio de Janeiro, 2001), Galeria André Milan (São Paulo, 1999), Vila Costebelle (Nice, França, 1999) e no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 1998). As coletivas mais recentes foram Tudo é Brasil, Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2004), Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções do Rio, MAM/RJ, (Rio de Janeiro, 2004), Foto Arte, Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, 2002), Trajetória da Luz na Arte Brasileira, Itaú Cultural (São Paulo, 2001), Rio Trajetórias, Funarte (Rio de Janeiro, 2001) e Jornal Aberto, Museu do Telefone (Rio de Janeiro, 2000).

A Exposição
A mostra que chega a Fortaleza é uma evolução do que foi aprsentado no Rio de Janeiro, ainda em 2006. A este propósito, transcrevemos um texto do poeta e ensaísta Antonio Cícero, que pode ser consultado em http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/artes-visuais-luciano-figueiredo-do-jornal-a-pintura/
“A esplêndida exposição retrospectiva da obra de Luciano Figueiredo que o Paço Imperial abrigou entre 5 de setembro e 5 de novembro de 2006, no Rio de Janeiro, revelou uma trajetória ao mesmo tempo múltipla, complexa e singularmente consistente. O título “Do jornal à pintura”, não deixa de dar, por alto, uma descrição sumaríssima dessa trajetória. Caso se tratasse, porém, do título de um capítulo da biografia de Luciano, então – dado que, nos seus anos de formação, na Bahia, ele se dedicou à pintura – esse capítulo teria que ser precedido por outro, intitulado “Da pintura ao jornal”. Tudo somado, teríamos, portanto, “Da pintura ao jornal” e “Do jornal à pintura”: em suma, “Da pintura à pintura”. Posto isso, não pretendo, de maneira nenhuma, diminuir a importância do jornal na obra de Luciano. Ao contrário, ele é central no percurso que, muito esquematicamente, descreverei a seguir. No final da década de 1950 e de 1960, no Brasil, no campo das artes plásticas, a partir do Concretismo e do Neoconcretismo, os artistas de vanguarda, baseados em considerações e experimentações sob alguns aspectos semelhantes, mas, sob outros, diferentes das que haviam sido feitas na Europa pela vanguarda histórica, sentiram a necessidade de quebrar as compartimentações, as categorias e os gêneros artísticos. O Tropicalismo, por sua vez, levando a experimentação ao terreno da mídia (que estava então sendo repensada, de modo revolucionário, por Marshall McLuhan), ocasionou na prática o questionamento da própria distinção entre o erudito e o popular, entre a vanguarda e a indústria cultural. Ao pôr em xeque as hierarquias culturais tradicionais, bem como as formas convencionais de arte e de vida, a contracultura dos anos 60 e 70, não só no Brasil, mas em todo o mundo, abriu a perspectiva da produção de invenções, transformações e cruzamentos antes insuspeitados. Frente às possibilidades criativas então disponibilizadas e à atração da experimentação, Luciano – que, no entanto, já havia participado da Bienal Nacional de Artes Plásticas (1966) e da Bienal Internacional de São Paulo (1967) – perde o interesse pela carreira convencional de pintor. Em vez disso, a partir de 1969, quando decide morar no Rio de Janeiro, ele estabelece parcerias extremamente fecundas com artistas como o poeta Waly Salomão (fazendo, por exemplo, o cenário do show de “Fa-tal”, de Gal Costa, e, junto com Óscar Ramos, o layout da revista Navilouca) e Hélio Oiticica (fazendo o cenário do espetáculo “Gal deixa sangrar”). Fortemente atraído pelo Concretismo e pelo Neoconcretismo, ele dirige seus estudos, pesquisas e experimentos numa direção construtivista. Nessa mesma época, Luciano produz diversas capas de discos e livros. Em 1972, Luciano vai morar em Londres e, livre do fetichismo da pintura, deixa-se impregnar pela poesia, pelo cinema, pelo grafismo, elementos que estarão, a partir de então, presentes em quase todas as suas obras. Já nas colagens como “Solaris Compass”, “Noir” e “Chiaroscuro Sky” pode-se observar que ele não parte da natureza nem tenta encontrá-la. É no imaginário artificial de nossa época, produzido pelo cinema, pela canção, pela literatura, pelo jornal, que vai buscar os elementos heterogêneos – tais como sintagmas retirados de poemas de Ezra Pound ou trechos de diálogos de filmes de Nicholas Ray – que reúne ao construir ou editar obras que funcionam como verdadeiros ideogramas, em que sobreposições visuais e verbais surpreendentes e estimulantes solicitam a revitalização da nossa sensibilidade e do nosso intelecto. Ainda em Londres, Luciano descobre as possibilidades plásticas do jornal. “Todo jornal, da primeira linha à última, não passa de um tecido de horrores”, dizia Baudelaire, numa sentença que Luciano gosta de citar. Puramente instrumental, ele é diariamente lido, descartado e usado como papel (anti-)higiênico pelos mendigos. Para quem o lê, a notícia – a mensagem – é a única coisa que importa. Ora, invertendo a hierarquia que preside à lógica instrumental tanto do cotidiano quanto da sociedade que o produz, Luciano desinstrumentaliza o jornal. “Foi precisamente o que não era notícia no jornal que chamou minha atenção”, diz ele, já de volta ao Brasil, em 1984. “Comecei a ver as páginas como um mosaico, com todas as suas variações cromáticas: o chiaroscuro, as linhas, a qualidade das fotografias impressas. Tudo isso me fez consciente de uma espécie de natureza particular, não calculada, não destinada a fazer parte da notícia. As páginas começaram a agir como um resíduo muito excitante. À medida que me afastava da notícia em si, uma contra-leitura provocava novas relações de espaço-luz-sombras. As páginas tornavam-se vibrações óticas sugeridas pela realidade inesperada que continham.” É, portanto, de um dos produtos dos cálculos da indústria cultural que a arte de Luciano extrai uma espécie de natureza incalculável. É no mundo existente, no dado, no mediato, no midiático que ela mergulha para redescobrir o lugar (o topos, não a utopia) do espanto. A oportunidade de observar as etapas através das quais o desenvolvimento e o aprofundamento da experimentação com o jornal conduz à pintura é certamente o aspecto mais fascinante da presente exposição. Por volta de 1990, a cor que ele introduz nas obras intituladas “Relevo” realça as qualidades plásticas das dobras, dos cortes, dos caimentos do papel do jornal. Ou bem essas obras são inteiramente monocromáticas ou uma única cor contrasta com a cor original do jornal. Em 1998, ele declara que o que lhe interessa é “uma espécie de dinâmica de planos, produzida pela manipulação de páginas, folhas, pelo ato de virar as páginas, pelos volumes, pela luz e a sombra, peloschiaroscuros. Os movimentos das figuras retangulares demonstravam uma operação orgânica revelada pelo contato com as páginas”. A partir de 2000, ele produz a belíssima série “Diorama”, de obras retangulares que consistem em acrílico sobre jornal, papelão e/ou madeira. De modo fiel à etimologia da palavra (“aquilo que é visto através”), todos os elementos que compõem essas obras se encontram à mostra. Assim, vários planos transparentes de jornais e de cor se sobrepõem sem ocultar uns aos outros, e sem escamotear sequer o suporte sobre o qual se colam, de modo que este – a madeira, por exemplo – também funciona como um componente formal da obra. A partir de então, o jornal que, enquanto tal, passara a ser apenas um dos constituintes da obra total, é até capaz de desaparecer totalmente. É o que acontece nos “Muxarabiês” que, consistindo em acrílico sobre madeira, são pura pintura. Entretanto, como essas obras incorporam o que Luciano aprendeu com o jornal, a memória deste é, de certo modo, preservada por elas. A própria presença formal da madeira, a transparência dos planos, a sutileza cromática, a articulação construtiva da cor e do espaço, a exclusão de qualquer ilusionismo, em suma, a ambição de que todos os componentes da obra, sem mistificação alguma, se revelem e, ao se revelar, resplandeçam, tudo isso nos induz a uma espécie de arqueologia visual que remete, como a uma matriz, às experimentações de Luciano com o jornal. Da pintura à pintura: vê-se que foi necessário abandonar/perder a pintura para poder um dia reencontrá-la: ou melhor, reinventá-la.” 

O Serviço
A Exposição do artista Luciano Figueiredo, Do Jornal à Pintura,  estará sendo aberta, das 19:30 às 23:00h, no próximo dia 4 de outubro, na Galeria Multiarte, à Rua Barbosa de Freitas, 1727 – Aldeota. Para facilitar o acesso, a Galeria dispõe de estacionamento com manobristas. O período da Exposição é de 05.10 a 01.12.2012, com visitas no horário de 14 às 20h. 


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