domingo, 26 de fevereiro de 2012

14.02.2012
COMENDA MEMÓRIAS DE JUAZEIRO, 2012
 Como ocorre desde 2001, A AFAJ, Associação dos Filhos e Afilhados de Juazeiro do Norte, sediada em Fortaleza, concederá no dia 23 de março próximo a Comenda Memórias de Juazeiro a três personalidades que encerra a gratidão da instituição pela considerável folha de serviços que estas pessoas realizaram pelo desenvolvimento da Terra do Padre Cícero. Esta premiação se faz para coincidir com a homenagem que anualmente a associação presta ao Patriarca de Juazeiro, na data em que se celebra o seu aniversário. Em anos anteriores, foram homenageados os seguintes: 2001: José Geraldo da Cruz, Manoel Francisco Germano e Odílio Figueiredo; 2002: Antonio Fernandes Coimbra, Dário Maia Coimbra e José Monteiro de Macedo; 2003: Felipe Néri da Silva, Expedito Pereira e Francisco Erivano Cruz; 2004: Francisco Néri da Costa Morato, Mozart Cardoso de Alencar e José Bezerra de Menezes; 2005: Expedito Guedes, José Teófilo Machado e Antonio Corrêa Celestino; 2006: Samuel Wagner Marques de Almeida, Walter de Menezes Barbosa e Mons. Francisco Murilo de Sá Barreto; 2007: Amadeu de Carvalho Brito, Aureliano Pereira da Silva e Edgar Coelho de Alencar; 2008: Durval Aires de Menezes, Getúlio Grangeiro Pereira e Tarcila Cruz Alencar; 2009: Antonio Conserva Feitosa, Gumercindo Ferreira Lima e Francisca Pereira de Matos; 2010: José Perboyre Sampaio Sabiá, José Pereira Nobre e Teresinha Pereira de Sousa; e 2011: Luiz Gonçalves Casimiro, Orlando Bezerra de Menezes e Valdetário Pinheiro Mota. Para a nova Concessão, nesta versão de 2012, a Diretoria esteve reunida no último dia 7 e decidiu, por votação secreta, a escolha dos seguintes homenageados: Manuel Rodrigues Veloso (*Acarape, então Distrito de Redenção,CE: 04.06.1896; +Fortaleza,CE: 11.10.1986), José Feijó de Sá (*Salgueiro,PE: 20.03.1917; +Barbalha,CE: 31.01.1977), Raimundo Saraiva Coelho (Ten.) (*Iguatu,CE: 15.07.1927; +Juazeiro do Norte,CE: 24.09.2009). A solenidade de entrega da Comenda Memórias de Juazeiro acontecerá no Auditório e Espaço Mix do Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, na data 23 de março de 2012, às 19:00h, com coquetel para as famílias dos homenageados, associados e convidados.


13.02.2012
LOURIVAL DE MELO MARQUES
Alguns de nós que já tiveram a oportunidade de conhecer algo a respeito de Lourival de Melo Marques terão tido um enorme orgulho deste conterrâneo. Sua biografia está, ainda, para ser escrita. Infelizmente, dele pouco se sabe, para justificar o enorme sucesso de sua vida profissional. Ele é referido frequentemente, entre nós, por ter editado o Roulien Jornal (Folha semanal de interesses cinematográficos, ligado ao antigo Cine Roulien, da Rua São Pedro - periódico que veio em sua primeira edição, com 4 páginas, em 09.05.1936, com proposta de circulação semanal, na dimensão de 21,0cm x 32,0cm, cujo único exemplar conhecido está na Coleção de Oswaldo Araújo, na Associação Cearense de Imprensa-Fortaleza), e ser um dos veteranos fundadores do Centro Regional de Publicidade (30.10.1937). Depois destas experiências locais, Lourival foi para o Rio de Janeiro, onde integrou o cast da antiga Rádio Nacional. Na velha capital federal, constituiu família e trabalhou por toda a sua vida. Aí ele desenvolveu grande atividade como produtor de diversos programas e legou uma contribuição enorme para a grandeza e a memória da radiofonia brasileira. Sempre que se escreve alguma coisa a respeito, o nome de Lourival é exaltado como um profissional que marcou época no que realizou, escrevendo programas, novelas e reportagens. Ele escreveu o livro Seu Criado Obrigado, Rio de Janeiro: Editora Letras e Artes, 1963, 158p. O livro é a concretização da versão impressa de seu programa de sucesso no rádio – mesmo título, no qual ele respondia questionamentos, especialmente históricos, dos ouvintes. Na apresentação deste livro, Lourival revela que chegava a escrever cerca de 500 páginas de programas produzidos para o rádio, pasmem, a cada mês de trabalho. Este programa de sucesso, Lourival também credencia aos papeis do apresentador – o cearense César de Alencar, e da sua secretária, Daisy Lúcidi. Entre os programas também merecem destaque, "Clube das donas de casa" e o musical "A canção da lembrança". Por ter estado na Rádio Nacional, Lourival Marque diria em depoimento nos anos 70: "Todo mundo que foi alguém artisticamente nesse país, antes dos anos 60, obrigatoriamente passou pela Nacional". Daí porque o seu amplo relacionamento com o fino da arte brasileira e os frutos de sua genialidade como produtor. É dele um grande sucesso de radio-teatro brasileiro: a novela Três Homens sem Medo, que também foi um grande sucesso na velha Rádio Iracema de Juazeiro, nos anos 60, já que era reproduzida diariamente, em discos de acetato. Nos anos 50, Lourival escrevia perfis biográficos de grandes artistas do cenário musical brasileiro para a revista Radiolândia. Ele também produziu uma série de depoimentos que foram gravados na velha forma de discos de acetato, felizmente restaurados e hoje disponível para consulta. Abaixo, reproduzimos algumas informações constantes no site http://www.collectors.com.br/CS05/depoimentos.shtml
SÉRIE DEPOIMENTOS
Esta série inclui o que, a nosso ver, se constitui na melhor documentação jamais reunida para servir de subsidio a quem desejar contar a verdadeira história da Rádio Nacional em particular e a do rádio em geral. Todos os depoimentos constantes desta série foram obtidos por Lourival Marques para serem utilizados nos programas que ele escreveu por ocasião das comemorações do quadragésimo aniversário da emissora. Na época foram ouvidos: José Mauro, Haroldo Barbosa, Paulo Tapajós, Radamés Gnattali, Alberto Lazzoli, Maestro Chiquinho, Luciano Perrone, Amaral Gurgel, Ghiaroni, Floriano Faissal, Saint Clair Lopes, Edmo do Valle, Silvino Neto, Brandão Filho, César de Alencar, Manoel Barcelos, Antônio Cordeiro, Ruy Rey, Jorge Veiga e Jorge Fernandes. A todos Lourival pedia inicialmente que eles falassem de si mesmos, antes de chegar a Rádio Nacional e só na parte final cada um falava de sua participação na emissora. Há casos sensacionais e passagens da maior dramaticidade e também da maior hilariedade com os humoristas entrevistados. Veja a seguir as principais informações contidas em cada um deles.
DEPOIMENTO DE JOSÉ MAURO (00:44:45): José Mauro foi um dos primeiros diretores artísticos da Rádio Nacional. Mais precisamente o terceiro. O primeiro foi Oduwaldo Cozzi. O segundo Celso Guimarães e finalmente o terceiro José Mauro. Veio do jornal A noite onde trabalhava como redator. Ele se destacou logo na Rádio Nacional e acabou se transformando num dos mais dinâmicos diretores da Rádio Nacional. Foi em sua gestão que surgiu a novela Em busca da felicidade, o programa Um milhão de melodiasRádio Almanaque KolynosDona MúsicaO Repórter EssoNeguinho e JuracyAquarelas do BrasilAquarelas das Américas e Aquarelas do MundoInstantâneos sonoros do Brasil, de Almirante mas com texto de José Mauro. Enfim: o homem se revelou um gênio no Rádio e por isso o Rádio lhe deve muito. Ouçam com atenção o seu depoimento. Ele faz revelações muito importantes sobre a sua passagem pela Rádio Nacional.

DEPOIMENTO HAROLDO BARBOSA (01:27:41): Haroldo Barbosa se notabilizou como produtor de programas radiofônicos mas começou sua carreira como contra-regra do Programa Casé. Na Rádio Nacional foi discotecário e posteriormente produtor de programas como Cavalgada da AlegriaCasa da sograUm milhão de melodiasRádio Almanaque Kolynos (junto com José Mauro), Canção Romantica (Francisco Alves) onde ele fazia as versões dos sucessos internacionais para Chico cantar, além de escrever programas humorísticos e algumas novelas. Era, talvez, o mais versátil homem de rádio daquela época pois tocava todos os instrumentos. Em seu depoimento ele fala de sua participação no controle do Repórter Esso e na sua contribuição para a criação da famosa característica musical que anunciava as edições do famoso programa jornalístico. Haroldo nos conta também sua ida aos Estados Unidos para negociar a compra do equipamento que permitiria o lançamento dos discos Nacional, idéia que foi bombardeada pelas multi-nacionais do disco, o que levou Haroldo desgostoso a deixar a Rádio Nacional. Vale a pena conhecer esse talentoso homem de rádio que é reconhecido, em todos os depoimentos, como um dos mais completos que já passaram pela radiofonia nacional. No lado 2 da segunda fita incluímos uma audição integral do programa Rádio Almanaque Kolynos, escrito por ele.

DEPOIMENTO DE PAULO TAPAJÓS (01:30:25): Paulo Tapajós nos presta um dos mais inteligentes depoimentos sobre sua participação no rádio. Começa com sua infância e a influência musical sofrida por seu pai e suas tias. Um dia Paulo aprendeu a tocar violão. Os irmãos Haroldo e Osvaldo logo se interessaram em aprender também. Paulo ensinou-os e depois passaram a brincar no terreiro cantando em trio as melodias dos Turunas da Mauriceia. Um dia, receberam a visita do Sr. Colombiano Villares, diretor artístico da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro que ouvindo o trio tocar no terreiro solicitou ao pai permissão para apresenta-los na Rádio Sociedade. E assim, em 22 de abril de 1928 - Paulo com 15 anos, Haroldo com 13 e Oswaldo com 11 tornaram-se artistas de rádio. Paulo estudou música com o maestro Lourenço Fernandes e passou por todas as etapas do aprendizado só faltando regência. Por causa deste conhecimento musical, Paulo Tapajós foi um dos mais competentes diretores artísticos da Rádio Nacional. Como cantor, formou durante muitos anos a dupla Irmãos Tapajós com Haroldo. Com a desistência de Haroldo, por volta de 1939, ele continuou cantando ora com o Trio Melodia ora com a Turma do Sereno e muitas vezes sozinho em programas da Rádio Nacional e da Rádio Tupi onde esteve durante algum tempo. Na Rádio Nacional produziu dois programas de peso: Um milhão de melodias (depois que José Mauro e Haroldo Barbosa deixaram o programa) e Quando canta o Brasil que é uma espécie de continuação de Um milhão de melodias. Produziu também a série Quando os maestros se encontram. Seu depoimento é muito rico de informações sobre o ambiente musical da Rádio Nacional, no seu tempo de diretor artístico.

DEPOIMENTO DE RADAMÉS GNATTALI (00:58:16): Radamés Gnattali foi talvez o Maestro de maior prestígio na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Em seu depoimento ele conta detalhes de sua vida como músico, sua trajetória até chegar a Rádio Nacional onde conseguiu, graças ao grande poder de comunicação da emissora se projetar nacionalmente. Em seu depoimento ele cita os principais programas de que participou com destaque para Um milhão de melodiasAquarelas do BrasilAquarelas das Américas e Aquarelas do Mundo. Fala de suas excursões pelo mundo e de suas principais obras musicais. Durante mais de uma hora Radamés - que era avesso a dar entrevistas e a falar de si mesmo - nos fala sobre os espetáculos de que participou e dá sua opinião sobre o panorama musical brasileiro na época da entrevista. Trata-se, portanto, de um documento da maior importância cultural e que nenhum estudioso da música e do rádio no Brasil poderá deixar de ouvir.

DEPOIMENTO DE ALBERTO LAZZOLI (02:01:43): Alberto Lazzoli era paulista da capital. Nasceu a 3 de julho de 1906 mas só foi registrado em 1º de Setembro daquele ano. Fez seus estudos normais porém ao demonstrar pendores musicais foi encaminhado ao pai de Léo Peracchi para os primeiros ensinamentos. Prosperou na música e chegou a se destacar no Oboé. Como a música não era suficiente para seu sustento estudou comércio, se formando em contador na Escola de Comércio Álvares Penteado e passou então a exercer junto com suas incursões musicais, as funções de auxiliar de escritório. Como músico tocou em todos os lugares menos em circo de cavalinhos. Assim foi se aperfeiçoando até se tornar solista de oboé na Sociedade de Concertos Sinfônicos, organizada em São Paulo. Numa das últimas vindas da famosa bailarina Ana Pavlova ao Brasil, Lazzoli teve oportunidade de acompanhá-la em um solo onde a bailarina procurava demonstrar suas habilidades. Nesse dia, o maestro pediu a Lazzoli que acelerasse o ritmo para dar mais vida a demonstração da bailarina. No final Pavlova elogiou o virtuosismo de Lazzoli confessando que quase perdera o equilíbrio. Lazzoli foi professor do Conservatório de São Paulo. Em 1934 veio para o Rio a fim de integrar a Orquestra do Teatro Municipal. Como o dinheiro era pouco completava o ordenado com aulas de música em Escolas Municipais. Em julho de 1936 passou a professor catedrático da Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro, ocupando em várias oportunidades a direção da Escola. No Rádio foi diretor musical da Rádio Mayrink Veiga no tempo de César Ladeira. Em 1946 sai da Mayrink para a Nacional onde teve a oportunidade de dirigir, durante 10 anos consecutivos a orquestra que acompanhava Francisco Alves no seu famoso programa do meio-dia: Ao soar o carrilhão. Lazzoli informa que no seu tempo a Nacional possuía 199 músicos e 18 maestros. Os programas que participou foram: Honra ao méritoO lado claro da vidaFestivais GE substituindo o Léo Peracchi, Concertos PhilipsMomentos musicais FordQuando os maestros se encontramPaisagens de Portugal e Quando os ponteiros se encontram. Um rico depoimento.

DEPOIMENTO DO MAESTRO CHIQUINHO (01:01:31): Francisco Duarte era o seu nome de batismo, nascido aqui mesmo, na Gamboa, no Rio de Janeiro. Iniciou seus estudos de música com seu pai aos 8 anos de idade. Era muito brincalhão desde menino e isto fez dele, mais tarde, o Maestro da Simpatia Popular como era chamado por César de Alencar no seu programa semanal. Era o Maestro escalado para quase todos os programas de auditório não só pela sua alegria contagiante e sua comunicabilidade como porque era dono de uma risada engraçadíssima que era usada pelos animadores para puxar o riso do auditório. Começou como quase todos por baixo, tocando em circos, quermesses, gafieiras, etc. Participou em vários filmes brasileiros acompanhando os artistas da Rádio Nacional. Sua primeira estação de rádio foi a Rádio Club do Brasil onde se apresentava como Chiquinho e seu Ritmo. Foi lá que lançou o concurso Chiquinho a procura de alguém no qual saiu vencedora a Lenita Bruno que se tornou sua crooner em várias apresentações em boites e cassinos. Em 1 de julho de 1945 foi para o Rádio Nacional que, na época, estava associada a Rádio Guanabara e Chiquinho tocava nas duas estações. Além de Maestro e Regente de Orquestra era exímio trumpetista e como tal participava de outras orquestras da Rádio Nacional em programas como Um milhão de melodiasA lira de Xopotó e outros. Além disso era também compositor. É dele o famoso Mambo caçula gravado por Emilinha Borba. Tinha uma característica que era muito explorada por César de Alencar: o lenço. Por suar muito tinha sempre à mão um lenço e César às vezes o anunciava como o Maestro do Lenço. Por causa disso era obrigado a distribuir lenços entre as fãs tendo distribuído mais de mil deles. Fizeram até uma música com o nome de O lenço do Chiquinho que foi gravada pela Marlene com Chiquinho e sua Orquestra no acompanhamento. Além disso tudo participou de várias gravações da Columbia sendo a mais importante a de Orlando Silva cantando Lealdade. Foi, finalmente, convidado, em 1950, para chefiar o Arquivo Musical da Rádio Nacional e foi com lágrimas nos olhos que acompanhou a transferência desse arquivo para o Museu da Imagem e do Som. Segundo o depoimento de Chiquinho foram mais de cem mil músicas com suas partituras arquivadas em mais de 40.000 envelopes.

DEPOIMENTO DE LUCIANO PERRONE (01:58:27): Luciano Perrone nasceu no Rio de Janeiro em 1908. Filho do maestro Luis Perrone, chefe de bandas militares e diretor de várias orquestras do Rio de Janeiro entre 1908 e 1918. Luciano aprendeu música e canto tornando-se mais tarde baterista e como tal acabou sendo o mais famoso baterista do Brasil. Em 1927 já participava da Orquestra de Simon Bountman e fazia suas primeiras gravações na Odeon. Viajou mundo e foi muito laureado em todos os lugares onde teve oportunidade de apresentar suas habilidades. Ele mesmo conta quase tudo que fez em seu depoimento. Foi ele quem sugeriu a Radamés Gnattali aproveitar os outros instrumentos da orquestra para fazer a marcação do ritmo que antes era feita exclusivamente pelos instrumentos de percussão. Graças a esta sugestão nasceu a famosa introdução de Aquarela do Brasil criada por Radamés Gnattali. Luciano fez parte dos quadros da Rádio Nacional desde o primeiro dia da inauguração em 1936 e por isto tem muitas histórias para contar.

DEPOIMENTO DE AMARAL GURGEL (01:25:12): Amaral Gurgel era novelista. Veio de São Paulo onde nasceu na cidade de Araraquara. Filho de músico não se interessou muito pela carreira do pai. Preferiu a literatura pela qual logo se interessou passando ao atingir idade suficiente a escrever versos e mais tarde peças teatrais. Tornou-se um razoável teatrólogo e depois novelista de rádio. Começou escrevendo para o teatro, em São Paulo e quando veio para o Rio trabalhou na Rádio Nacional, tendo mesmo participado, como ator, na novela Em busca da felicidade. Seu depoimento não foi de improviso. Estava escrito e foi lido. Esse fato permitiu a Amaral Gurgel fazer um magnífico relato sobre a evolução do rádio no Brasil. É um dos depoimentos mais completos apresentados nesta série. Quem tiver interesse na história do rádio-teatro no Brasil, não pode deixar de ouvir esse minucioso relato de Amaral Gurgel.

DEPOIMENTO DE GHIARONI (01:02:38): O depoimento de Ghiaroni está sem o início que, por defeito na fita, se perdeu. Mas dá perfeitamente para conhecer o pensamento desse notável homem de rádio, autor de vários programas de grande valor e inclusive de livros de poesia. Ele fala sobre sua trajetória antes de ingressar no rádio e, depois, tudo que fez quando trabalhou na Rádio Nacional. Cita os companheiros que com ele conviveram dando uma visão ampla do momento cultural do Rio de Janeiro do seu tempo. Foi também um dos diretores do famoso departamento de Rádio da Sidney Ross. Entrou para a Rádio Nacional em 1943 com 24 anos. Sua primeira tarefa foi traduzir para o inglês, língua que dominava razoavelmente, os programas que a Rádio Nacional transmitia em ondas curtas. Mais tarde passou a produzir seus próprios programas podendo-se destacar, entre eles: Romance MusicalTancredo e TrancadoPrograma Paulo GracindoNão estamos só e as novelas Um raio de luzA gloriosa mentiraMãe e outras. Ghiaroni é natural de Paraíba do Sul, aqui mesmo no Estado do Rio. Seu depoimento é rico de informações sobre sua época no rádio e sobre as pessoas que com ele conviveu.

DEPOIMENTO DE FLORIANO FAISSAL (01:52:49): Começou assistindo a Companhia de Revistas do Teatro São José quando foi convidado para entrar com figurante de uma peça e foi assim que tomou contato com o meio teatral. Ali fez de tudo desde figurante até ator, ensaiador, contra-regra, ponto, diretor, cenógrafo, enfim, tudo que pudesse interessá-lo no teatro. Foi Victor Costa quem o levou para a Rádio Nacional e com o tempo entregou-lhe a direção do Departamento de rádio-teatro onde pôde aplicar, então, toda a sua sabedoria e talento. Além da direção era também rádio-ator, cujo começo foi bem curioso. Victor precisava de um ator, numa emergência, para ser selecionado por um patrocinador. O candidato faltou mas Floriano estava de visita ao Victor e ele agarrou Floriano para substituir o ator faltante. Floriano protestou dizendo que não tinha prática de rádio. Victor respondeu que não tinha importância porque ele queria mesmo que o candidato fosse recusado e isto daria tempo para ele, Victor, ensaiar melhor a peça e, com calma, indicar um novo ator. Floriano fez o teste e... o Cliente o aprovou. Não houve outro jeito: Floriano foi contratado. Essa e muitas outras histórias curiosíssimas estão contadas por Floriano nas duas fitas do seu depoimento. No final acrescentamos uma audição de Neguinho e Juracy (Floriano e Ismênia dos Santos), um quadro humorístico do programa Tabuleiro da Baiana. Seu depoimento é muito rico de informações não só sobre o teatro em geral, onde ele começou, e o rádio-teatro onde ele pontificou na Rádio Nacional juntamente com Victor Costa de quem conta histórias.

DEPOIMENTO DE SAINT CLAIR LOPES (00:55:47): Saint Clair Lopes foi diretor da Rádio Nacional mas atuava como locutor, narrador e rádio-ator. Seu início foi, como de quase todos eles, muito difícil. Era um estudioso da radio-difusão no Brasil tendo mesmo escrito dois livros sobre o assunto. Sobressaiu-se, entretanto, como rádio-ator e se consagrou como o português da novela Em busca da felicidade: Benjamim Prates. Mais tarde teve papel destacado como O Sombra, um teatro trazido dos Estados Unidos por Gilberto Martins e aqui adaptado. Saint Clair tentou o rádio pela Rádio Club do Brasil no programa Horas do outro mundo, de Renato Murce. Apesar de muito elogiada a sua atuação não conseguiu o lugar. Resolveu então fazer o mesmo que Renato Murce: alugar um espaço na Rádio Educadora do Brasil onde teve destacada atuação e lançou o Original Programa. Angariava os anúncios, pagava aos artista e apresentava o programa. Durou pouco sua aventura, mas como tinha muito boa voz foi contratado para ser o locutor chefe da Rádio Educadora do Brasil. Cada estação tinha, naquela época, seu locutor chefe que caracterizava a emissora e Saint Clair passou então a ser a marca registrada da sua emissora. Isto por volta de 1934. Saint Clair Lopes trás, com este seu depoimento, uma notável contribuição para a história da evolução da radiofonia brasileira e a sua importância como fator de integração nacional. Uma verdadeira aula sobre o rádio no Brasil.

DEPOIMENTO DE EDMO DO VALLE (01:56:33): Edmo do Valle foi um dos pioneiros da contra-regra da Rádio Nacional e devido a sua dedicação e amor a emissora chegou a Diretor Artístico por volta de 1947/48. Era uma dos quatro diretores de programação e muito contribuiu para que a emissora chegasse ao elevado ponto a que chegou. Era, como Oduwaldo Cozzi, um disciplinador. Exigente e muito criativo destacou-se pela inventividade na criação de ruídos para a contra-regra do rádio-teatro. Seu depoimento revela muitos detalhes sobre a vida de vários personagens que habitaram o mundo da Rádio Nacional, além de severas críticas ao modo como hoje se faz rádio no Brasil. É a opinião de um experimentado homem de Rádio.

DEPOIMENTO DE SILVINO NETO (01:17:29): Este é o mais divertido de todos os depoimentos. Como o leitor sabe, Silvino Neto era basicamente um humorista e como tal ele conduz seu depoimento sem, contudo, deixar de contar, com seriedade o seu difícil início profissional. Seu sonho era ser cantor e assim ele iniciou suas atividades em São Paulo pelas emissoras locais. Não fazia muito sucesso embora tivesse uma voz agradável como ele mesmo demonstra durante seu depoimento cantando vários trechos de tangos - seus preferidos. Em São Paulo conheceu Oduwaldo Cozzi e achou que vindo para o Rio receberia dele uma ajuda para ingressar no rádio carioca. Veio e aqui viveu, durante algum tempo, com muita dificuldade. Um dia, enfim, falou com Cozzi. Contou sua história e pediu uma chance. Cozzi era o diretor artístico da Rádio Nacional. Para surpresa sua Cozzi respondeu que como cantor não ajudaria Silvino Neto mas que se ele quisesse ser humorista, aí sim, havia uma vaga na Rádio. Silvino quase desmaiou. Humorista ? Mas ele nunca fora humorista na vida! Que história era aquela ? Cozzi então explicou que achava extraordinária a facilidade que Silvino tinha de imitar vozes pois em várias oportunidades o ouvira contando anedotas com as tais imitações. Que remédio. O jeito era aceitar pois estava morto de fome e precisava fazer alguma coisa. Foi assim que estreou na Rádio Nacional do Rio de Janeiro "o maior humorista do Brasil" no dizer dos textos de chamada para o seu programa de estréia. No primeiro programa imitou Lamartine Babo e foi um sucesso. Daí pra frente virou humorista. No seu depoimento Silvino conta de onde ele extraiu as vozes dos seus famosos personagens: Pimpinela, Seu Acacio, Doutor Januário, Anestésio, Waldemar e outros. Ele tinha facilidade, também, para imitar as vozes dos políticos. E ele demonstra isso no seu depoimento. O de Ademar de Barros é simplesmente sensacional. Ele conta, também, com muita graça, sua aventura como vereador na Gaiola de Ouro - a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Imperdível.

DEPOIMENTO DE BRANDÃO FILHO (02:04:12): Brandão veio do teatro tendo mesmo começado no circo onde atuou com Oscarito. Suas dificuldades eram tão grandes que teve de dormir em bancos de praça, local de onde Oscarito o tirou para dividir com ele um quarto. É uma das histórias de maior dramaticidade face a sua luta para chegar onde chegou. Seu primeiro grande sucesso no rádio foi, também como Saint Clair Lopes, na novela Em busca da felicidade onde fez o papel de um pequeno ladrão chamado "Mão leve". Segundo Brandão, foi Mão leve quem o projetou e seu sucesso, na novela foi tão grande que tiveram de aumentar sua participação para que ele aparecesse mais vezes. É um depoimento longo e tranqüilo dado por uma pessoa completamente diferente do Brandão Filho que conhecemos do Tancredo e Trancado e mesmo dos programas da Escolinha do Professor Raimundo onde ele figurava. Além de Tancredo e Trancado, Brandão participou com destaque em Casa da sogra, e no Balança mas não cai onde projetou-se mais ainda como o Primo Pobre. Em seu depoimento ele conta como nasceram todos os seus famosos personagens. Sua história é comovente e vale a pena ser escutada com todo carinho e respeito.

DEPOIMENTO DE MANOEL BARCELOS (01:17:41): Outro depoimento da maior importância para compreensão da história do Rádio. Manoel Barcelos, além de locutor e animador de programas de auditório, foi o presidente da ABR que deu ao radialista o seu Hospital. Ele conta sua luta para realizar este trabalho mas o mais importante é o que ele fazia em matéria de programas de rádio. A ousadia que empregava para animar seus programas, sendo mesmo um pioneiro do Aqui e Agora. No depoimento ele fala o que foram os Comandos Tupi chefiados por ele e assessorado por Edmar Morel e Edgar de Carvalho que invadia delegacias em busca da verdade da notícia. Ao falar dos Comandos Tupi ele ilustra com vários casos verídicos o que teve de enfrentar para desmascarar políticos, policiais e outros venais da época. Foi ele quem denunciou o Coice de Mula no famoso episódio do massacre do jornalista Nestor Moreira. Barcelos era gaúcho e foi lá, em Pelotas, que ele teve seu debut no Rádio. Começou fazendo reportagens na sua cidade natal sendo mesmo considerado, por Heron Domingues, como o pai da reportagem externa, ao vivo. De lá foi para Porto Alegre onde ficou um ano. Em seguida veio para o Rio de Janeiro tentar a vida. Aqui conseguiu um emprego mas no dia em que ia se apresentar viu em letras garrafais no Diário da Noite a notícias de um concurso para speakers da Rádio Tupi. Entrou em contato com o responsável pelo concurso e soube que seu número era o 153, total de candidatos inscritos. O concurso durou 8 dias e constou de várias provas. Foi aprovado e lá ficou quase 10 anos. Foi na Tupi que se tornou animador de auditório e criou o Programa Manoel Barcelos. Em 1944 foi para a Rádio Globo e de lá voltou para a Rádio Tupi onde ficou mais algum tempo. Desgostoso com ciumeiras ocupou o microfone e se despediu dizendo que estaria de volta, em breve, por outra emissora. Foi ouvido por Victor Costa que o convidou para a Rádio Nacional onde estreou como locutor comum. Só 6 meses depois ele se animou a fazer programas de auditório, tal o medo que a Rádio Nacional lhe inspirava. Lançou 6 meses depois o programa Variedades Manoel Baracelos e a partir daí seu sucesso não parou mais. Barcelos foi o principal competidor do Programa César de Alencar. Os dois dividiam a audiência dos programas de auditório da casa. No final da segunda fita há trechos de programas de auditório animados por ele.

DEPOIMENTOS DE AFRÂNIO RODRIGUES E RUBENS AMARAL (01:26:32 & 00:36:04): Afrânio Rodrigues e Rubens Amaral foram dois importantes locutores da Rádio Nacional. O primeiro lá permaneceu até o fim enquanto que o segundo esteve na BBC de Londres, na Rádio Globo e foi um dos primeiros diretores da TV-Globo. Afrânio era o locutor indicado para a maioria dos programas de auditório tendo trabalhado durante muito tempo com César de Alencar. Era o narrador oficial do programa Balança mas não cai. Era, também, o locutor enviado pela Rádio para apresentar fora da rádio os shows dos artistas da emissora pela sua facilidade de improvisação e sua simpatia. O depoimento de ambos tem várias informações preciosas para uma melhor compreensão do panorama radiofônica daquela época. Rubens Amaral, entre outras coisas, sustenta o galardão de ter sido o primeiro locutor a apresentar o Repórter Esso. É que no começo o programa era lido pelo locutor do horário e Rubens, na época, era o locutor do horário matutino da Rádio Nacional, cabendo-lhe, portanto, a leitura do primeiro Repórter Esso no horário de 8 horas da manhã. Há mais informações valiosas no depoimento desses dois expoentes da classe de locutores brasileiros.

DEPOIMENTO DE ANTÔNIO CORDEIRO (01:02:29): Antônio Cordeiro era o locutor esportivo da Rádio Nacional e por isso tinha grandes dificuldades de transmitir suas partidas de futebol face a programação de sábado, onde pontificava o Programa César de Alencar. Assim mesmo, devido as 4 estações de ondas curtas, era um dos locutores mais ouvidos do Brasil e muito respeitado entre os colegas. Em seu depoimento ele relata seus feitos à frente do Departamento Esportivo da Nacional e fala dos outros locutores da sua época.

DEPOIMENTO DE RUY REY (00:55:47): Ruy Rey era o intérprete das músicas latino-americanas na programação da Rádio Nacional. Veio de São Paulo e aqui chegou a organizar sua própria orquestra com a qual se apresentava vestido a caráter ou seja com maracas e aquela roupa enfeitada de babados usada pelos caribenhos. Fazia sucesso entre as fãs mas no seu depoimento revela que ganhava mais fazendo shows pelo interior do que como cantor da Rádio Nacional e por isso, freqüentemente faltava aos programas para ganhar mais dinheiro lá fora. Isto aborrecia, principalmente ao César de Alencar em cujo programa era anunciando como "o cantor de las Américas". É bem curioso o depoimento de Ruy Rey.

DEPOIMENTO DE JORGE VEIGA (01:25:29): Jorge Veiga era carioca e neste depoimento ele fala da sua vida, sua luta para chegar ao estrelato, sua trajetória musical, seus sucessos, suas gravadoras e seus sonhos. Ao longo do depoimento ele recorda, cantando, muitos dos seus grandes sucessos cuja relação é a seguinte: A última estrofe - Garota de Copacabana - Aviadores do Brasil - Quem chorou fui eu - Reza por nosso amor - Na China - Não posso mais - Bigurrilho- Bigu - Na cadência do samba - Garota de Saint Tropez - Café Soçaite - Hino a Santa Cecília - A mãe da Faustina - Iracema\- O que é que eu tenho com isso ? - Rosalina. Durante o depoimento ele contra como nasceu a história sobre a frase Alô, Alô aviadores do Brasil que resultou numa homenagem da Força Aérea Brasileira. É um depoimento cheio de bossa.

DEPOIMENTO DE JORGE FERNANDES (00:47:53): Nascido de família tradicional, Jorge Fernandes cresceu em ambiente artístico e desde pequeno cantava músicas francesas, aprendendo piano e violão com os pais. Quando iniciou na música brasileira deu preferência para a música folclórica tornando-se um dos maiores intérpretes brasileiro, no gênero. Por isso mesmo era um dos intérpretes preferidos de Waldemar Henrique com quem gravou um LP de 10 polegadas na Sinter. Também gravou para a Sinter outro LP com a música Essa nêga fulô, calcado no poema de Jorge de Lima com este nome e musicado por Waldemar Henrique. No final do seu depoimento dá um pequeno recital com as músicas de Waldemar Henrique: Minha terra - Coco peneruê - Tamba-tajá - Boi bumbá e Foi boto, sinhá. Declamou ainda o poema Sôdade, de autoria de Luiz Peixoto. Um depoimento de um homem fino para a sensibilidade daqueles que apreciam a nossa música folclórica.

DEPOIMENTO DE CÉSAR DE ALENCAR (02:08:34): Depoimento prestado pelo radialista mais famoso como animador de auditório a Lourival Marques por ocasião das comemorações do quadragésimo aniversário da Rádio Nacional. César de Alencar presta um longo depoimento que começa com a sua vida antes de entrar para o rádio. Fala depois como chegou ao Rádio Club do Brasil pelas mãos de Renato Murce e como candidato a locutor esportivo. Explica depois como chegou a animador de auditório e daí o seu pulo para a Rádio Nacional do Rio de Janeiro inicialmente como locutor comum. Termina o seu depoimento contando todos os sucessos alcançados com o Programa César de Alencar que se tornou o mais famoso programa de auditório do Brasil.



12.02.2012
QUE RUA É ESSA?

Em muitos anos de pesquisa e coleta de imagens, Daniel Walker e eu, obtivemos para o arquivo deste, hoje, Portal de Juazeiro, uma quantidade muito expressiva de fotos. Para muitas destas não temos a devida identificação. Abaixo vamos mostrar algumas destas e esperamos, se for possível, a colaboração de nossos atentos leitores para nos auxiliar a identificar as circunstâncias destas imagens e mais alguns dados. Nós temos uma preocupação de responder a pelo menos quatros indagações com respeito a cada imagem: 1. O que é... (o fato, por exemplo: edifício, via pública, cerimônia, etc); 2. Onde foi... (o local, por exemplo: no aeroporto, no colégio, na igreja, etc); 3. Quando foi... (a data, por exemplo: 1925, ou mais precisamente, se for 10.01.1925, etc); 4. Quem está... (as pessoas que figuram, citando nominalmente, de preferência nomes completos, observando formação, filas, planos, numa identificação regular, da frente para trás, da esquerda para a direita, etc.). Por não terem sido tomadas providências como estas, muitos registros ficaram no mais completo anonimato, quando até se tratavam de eventos de grande repercusssão histórica. Aliás, esta é uma providência esquecida da maioria, até mesmo dos que apreciam fotografia e até tem amplos arquivos. É conveniente identificar tudo. E não se deve escrever no verso, pois isto faz uma marcação inconveniente no original ou cópia. Por isso, muito se perdeu de imagem para contar nossa história. Evidentemente, ainda teríamos que acrescentar dois itens muito importantes: a-quem foi o fotógrafo que tomou aquela imagem (trata-se de garantir o crédito ao autor, que em certos casos assume uma importância muito expressiva, além da certificação de propriedade, para eventuais registros de direitos autorais); b-a que arquivo pertence esta imagem, pois os detentores, efetivamente pela guarda e preservação, estão prestando um grande serviço à cultura. Outras coisas poderiam ser anotadas, em razão da diversidade de mídias, pois mesmo estas imagens podem ter sido obtidas a partir de originais nas formas de papeis, negativos (até em vidro), daguerreótipos, filmes, ou de reproduções, etc. Dadas estas pequenas explicações, deixamos para nossos leitores este pequeno jogo com imagens do Juazeiro do Norte de alguns anos passados. Agradecemos, antecipadamente a atenção de nos oferecer alguns palpites. Para facilitar, a cada uma das imagens postas aqui, damos algumas pistas.   
Da esquerda para a direita, de cima para baixo:
Foto 1: Seria a antiga Rua São Sebastião, hoje Delmiro Gouveia? Que altura, que data?
Foto 2: Que rua é essa? Que cruzamento, que data?
Foto 3: Esta é a Rua Padre Cícero. Qual o trecho em primeiro plano? Que data?
Foto 4: Esta é uma rua que vai até o muro do Salesiano. Qual delas: São José, Santa Rosa...?
Foto 5: Em que rua ficava a Boite Paraibana, de Expedito Rodolfo?
Foto 6: Que pracinha é esta, que fica no cruzamento de quais ruas?
Foto 7: Parece o começo da Rua Santa Luzia, não?
Foto 8: A Rua Santa Cecília era assim. Aí um dia, na administração de Mauro Sampaio, Gumercindo Ferreira Lima chegou lá e começou a lhe dá jeito de rua.



11.02.2012
O CARNAVAL DE 67 E A FESTA DE CÉLIA MORAES

Quando me falam, ou algo me faz recordar o Carnaval de 1967 em Juazeiro do Norte, duas coisas me ocorrem: ou começo a cantarolar Máscara Negra (de Zé Kéti e Pereira Matos) (Tanto riso, oh quanta alegria / Mais de mil palhaços no salão / Arlequim está chorando pelo amor da Colombina / No meio da multidão. Foi bom te ver outra vez / Tá fazendo um ano / Foi no carnaval que passou / Eu sou aquele pierrô / Que te abraçou / Que te beijou, meu amor / A mesma máscara negra / Que esconde o teu rosto / Eu quero matar a saudade / Vou beijar-te agora / Não me leve a mal / Hoje é carnaval.) Ou me vem com muita alegria algumas imagens perdidas da festa nas Malvas, para celebrar a nova idade de Célia Moraes, em 11 de fevereiro daquele ano. Portanto, hoje é dia de novamente abraçar esta querida amiga e, para isto, trago do seu próprio Baú algumas lembranças desta juventude que continua a nos contagiar, pelo seu grande empenho de ser uma pessoa leve e solta, amiga e muito fraterna, e que nos irradia uma imensa felicidade pela graça de viver uma maturidade que só nos dá inveja, se não fazemos tal e qual. Felicidades Célia, um grande abraço e nossos “cheros” (lunáticos e tuneleiros).
Mas, ainda a respeito destes meus dois motivos, posso continuar dizendo. O carnaval de 1967 transcorreu entre o sábado (04.02) e a terça (07.02). Lembro que estava refugiado no Caldas, na guarda da família e alguns amigos que desfrutávamos as águas maravilhosas das fontes. Lembro de amigos como a prima Inês Casimiro, Plácido Melo, José Salatiel, e outros mais. Mas na terça à tarde já estava de volta a Juazeiro do Norte. Por isso, não faltei ao derradeiro grito no TAJ – Treze Atlético Juazeirense, na sua velha sede na av. Mons. Joviniano Barreto, para enfim, cantar com  toda a força, Máscara Negra. O que cantávamos, além de Máscara Negra, nas interpretações de Dalva de Oliveira e do próprio Zé Keti, se seguia com uma lista ótima, daquelas em que o tempo do carnaval se enchia de marchinhas e tantos ritmos maravilhosos ao sabor destas canções de 1967:
LINDA MASCARADA (João Dias); COLOMBINA IÊ IÊ IÊ (Roberto Audi); MÃE-IÊ (Osvaldo Nunes); A PATROA ME CONTOU (Emilinha Borba); BICHO CARPINTEIRO (Noel Carlos); EU COMPRO ESSA MULHER (Orlando Silva); TZAR E TZARINA (Angelita Martinez); ERA UMA BOA COMPANHEIRA (Ary Cordovil); NA BRASA DO IÊ IÊ IÊ (Emilinha Borba); BARRA LIMPA (Ângela Maria); CARNAVAL NA ONDA (Clara Nunes); SHEIK DE COPACABANA (Blackout); LELUIA DE UM IMENSO AMOR (Miltinho); ESTOU COM A CORDA TODA (4 Azes e 1 Coringa); EU APRENDI A VIVER (Ivete Garcia); SARONG (Gilberto Alves);
MARCHA DO OLÉ (Dircinha Batista); SAUDADE (Carlos Galhardo); SE CORRER O BICHO PEGA (Marlene ); LARANJA MADURA (Ataulfo Alves); TRISTE MADRUGADA (Jair Rodrigues); A BANDA (Nara Leão); O MUNDO ENCANTADO DE MONTEIRO LOBATO (Eliana Pitman) e PALMAS NO PORTÃO (Osvaldo Guedes).
Passado o Carnaval, no sábado, corria pelas rodas, que a noite estava reservada para a “festinha” de Célia Moraes. Eu não conhecia Célia, mas já era convidado por alguém que tinha esta prerrogativa de “subestabelecer”. E que festinha, que nada. As Malvas estavam um reboliço só. A velha e querida casa de Zuila e Alberto estava que era só alegria e festa, e o que se pudesse imaginar de gente desse Crajubar estava. Parecia que não faltara ninguém. Nesse dia, naquela festa, comecei a namorar Liana Maria (de famílias sobralense e barbalhense), com quem casaria seis anos depois. E deste, sobreviveram Vítor (jornalista, atualmente, RFB-Juazeiro do Norte) e Renata (arquiteta, atualmente, IBRAM-MinC-Rio de Janeiro). Célia, Célia, quantas lembranças daquele Carnaval e da sua festa de aniversário em 1967...  Por isso, você e o Carnaval de 1967 são as lembranças deste Baú de hoje, com imagens dos seus guardados, que nós mesmo roubamos – digitalmente,  sem lhe pedir permissão pela invasão de privacidade, com algumas cenas dos anos dourados e de outros carnavais:
Foto 1: Célia Maria e Silva Moraes, ginasiana;
Foto 2: Célia, “anos dourados”;
Foto 3: Célia, na loja Biboka, o “point” de 1967;
Foto 4: Carnaval no Treze Atlético Juazeirense, “mocinhas”, com Márcia e José Maurício;
Foto 5: Carnaval no Rio de Janeiro, com Sílvia e Angela, e “modelitos” de Juraci Saraiva;
Fotos 6 e 7: Carnaval no Treze Atlético Juazeirense, tirolesas, (além da família Moraes, Everardo van den Brule Matos), s.data.


10.02.2012
O SEPULTAMENTO DO BEATO JOSÉ LOURENÇO

José Lourenço Gomes da Silva era paraibano da cidade de Pilões de Dentro, nascido em 1870, filhos de escravos alforriados – Lourenço Gomes da Silva e Teresa Maria da Conceição. Muito jovem foi trabalhar na agricultura, afastado da família que migraria para Juazeiro. Aos vinte anos de idade, José Lourenço vem para Juazeiro, onde reencontra sua família e ser torna beato. Em 1894 José Lourenço e seus familiares foram morar no Sítio Baixa Dantas, arrendado do proprietário cratense João de Brito e arrendado anteriormente ao Padre Cícero. Aí em Baixa Dantas, Zé Lourenço constituiu a sua primeira comunidade, de cerca de duas mil pessoas que vivia da agricultura e da pecuária. Em 1921, o Pe. Cícero recebe de presente um exemplar bovino da raça zebu, oferecido pelo industrial Delmiro Gouveia. O animal foi entregue para o zelo de Zé Lourenço que o levou para Baixa Dantas. O animal foi alcunhado de Boi Mansinho, pela docilidade de seu trato. As atenções com o animal, pela raça exemplar e pelo destino que se dava para melhorar o plantel da região, fizeram crescer as histórias de práticas fanáticas de adoração ao animal, do uso de sua urina como pretenso medicamento, etc. Desde junho de 1920, Floro Bartholomeu da Costa já tinha manifestado a sua intolerância com as chamadas Cortes Celestes, tendo inclusive determinado atos de violência para a dissolução de uma comunidade nos arredores do Horto, sendo alguns presos na cadeia local. Floro, deputado estadual na época, foi por diversas vezes admoestado por críticas com respeito ao apoio que o Pe. Cícero dava ao beato Zé Lourenço. Não se contendo, determinou a captura do beato e a transferência do boi para Juazeiro, onde foi sacrificado. Zé Lourenço ficou prezo em Juazeiro por cerca de 17 dias, segundo se diz, sem nenhuma alimentação. A intervenção do Pe. Cícero e amigos influentes levou o beato à soltura, que saiu da prisão nos braços de membros de sua comunidade. Zé Lourenço ainda permaneceu em Baixa Dantas até 1926, quando o Sítio foi vendido. Com a saída de José Lourenço e sua gente, Pe. Cícero os encaminhou para uma outra sua propriedade, o Sítio Caldeirão dos Jesuitas, no município de Crato. No Caldeirão viveram 10 anos, até que em setembro de 1936 a comunidade foi tomada por uma ataque de forças policiais. Alguns foram presos e levados para Fortaleza, outros teriam sido vitimados por um discutido ataque aéreo. José Lourenço fugiu para nova propriedade, denominada Mata dos Cavalos. Em 1937 ainda teria acontecido alguns conflitos entre membros da comunidade e tropas militares. Falava-se com receios que o beato tivesse restaurando sua comunidade, como um novo Caldeirão. E a perseguição se tornou implacável. José Lourenço e remanescentes se refugiam em Pernambuco, no Sítio União, município de Exu, e aí tiveram algum sossego, pois não mais aconteceu qualquer perseguição por força policial. Entre 1938 e 1946, a comunidade experimentou ainda um período de reconstrução, até que em 12 de fevereiro de 1946 falece José Lourenço, aos setenta e seis anos de idade. A comunidade leva seu líder para ser sepultado em Juazeiro do Norte, a 70 quilometros de Juazeiro. Cerca de trinta e cinco homens da comunidade trouxeram o caixão com os restos mortais do beato, em uma caminhada extenuante, onde gastaram doze horas pelas veredas. Pelas duas horas da manhã o cortejo chegou ao Juazeiro. Encontraram naquela manhã de 13 de fevereiro de 1946 a proibição da acolhida do corpo do beato para cerimônias de exéquias, imposta pelo então vigário de Juazeiro, Mons. Joviniano da Costa Barreto. Os homens do Sítio União levaram, então, o corpo de José Lourenço para a Capela de São Miguel, hoje inexistente, onde também se verificava a mesma proibição. A solução foi realizar o velório no lado de fora da capela. Depois das orações realizadas pelos presentes, o cortejo seguiu para o cemitério do Socorro, onde, finalmente o beato José Lourenço descansa em paz.     
Ao relembrar a trajetória e estes últimos momentos da vida de José Lourenço Gomes da Silva, reproduzimos algumas imagens da figura do beato e flagrantes do velório e cortejo fúnebre.

































Foto 1 a 3: José Lourenço Lourenço Gomes da Silva;
Foto 4: Capela do Sítio Caldeirão;
Foto 5 e 6: Velório, à porta da antiga Capela de São Miguel;
Foto 7 a 10: Cortejo fúnebre pelas ruas de Juazeiro do Norte.


09.02.2012
BATALHÃO PATRIÓTICO

O chamado Batalhão Patriótico foi organizado pelo então deputado federal Floro Bartholomeu da Costa para conter o avanço da Coluna Prestes, chefiada por Luiz Carlos Prestes, quando da sua anunciada passagem pela fronteira dos estados do Ceará e Piauí. Floro, com poderes e dinheiro da República, organizou este Batalhão, constituído a partir de um alistamento de voluntários, chefiados por um Comando, com patentes nomeadas pelo próprio Floro. No início de 1926, o contingente estava formado, minimamente treinado, fardado e desfilava pelas ruas de Juazeiro. Daí, por veículos improvisados para o transporte de tropas, armas e munições, rumou para a cidade de Campos Sales. No início de 1926 aconteceram dois fatos que merecem destaque: 1. Pe. Cícero remeteu ao capitão Luiz Carlos Prestes, em 20.02.1926, uma carta que se tornou um documento muito importante para esta época, na qual iniciava com a saudação: “Caros Patrícios: Venho vos convidar à rendição...”; 2. Juazeiro “recebeu a visita” de Virgulino Ferreira da Silva, o cap. Lampião, que assim se tornaria patente militar assinada por Pedro Uchoa de Albuquerque, então funcionário do Ministério da Agricultura no Cariri. Lampião viria, a convite de Floro, para integrar este Batalhão, fato que terminou não se verificando. O Batalhão de voluntários do Cariri aquartelou-se no município de Campos Sales, reunido a outras forças que vieram da Bahia e de Minas Gerais. Na história desta referida Coluna Prestes, há muitos relatos de saques, estupros, assassinatos e outras atrocidades que deixavam a população aterrorizada. Na fronteira do Ceará aguardou-se a oportunidade de combate que, enfim, nunca aconteceu. Floro faleceria em 08.03.1926, sem ter presenciado estas providências e o resultado da campanha.
Trazemos do nosso Baú de hoje, alguns flagrantes desta época, em fotos que estão, na montagem, numeradas de cima a baixo, da esquerda para a direita.




Foto1: Estado Maior da Forças do Batalhão Patriótico, organizado em 1926, pelo deputado federal Floro Bartholomeu da Costa, para combater a Coluna Prestes. Da esquerda para a direita, na primeira fila: Major José Almeida Cavalcante, José Parente, Cel. Pedro Silvino de Alencar e o Major Júlio Gomes. Na segunda fila: Cap. Tobias Medeiros, Cap. Mário Rosal, João Evangelista, Loiola de Alencar e Cap. Antonio Souto. As patentes, com nomeação oficial, foram assinadas por Floro.
Fotos 2 a 4: Desfile do Batalhão pelas ruas de Juazeiro, em 1926.
Fotos 5 e 6: O Batalhão desembarca em Campos Sales, CE, em 1926.
Fotos 7 a 9: O Batalhão em ação, na linha de combate, em Campos Sales, em 1926.

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